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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE DIREITO

Apontamentos acerca da aplicabilidade do


instituto da estabilização à Tutela de Evidência

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação em
Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais pelo Graduando Marcelo Henrique de
Oliveira como exigência parcial para
obtenção de grau de bacharel em Direito, sob
orientação da Professora Ester Camila
Gomes Norato.

BELO HORIZONTE
2022

1
MARCELO HENRIQUE DE OLIVEIRA

Apontamentos acerca da aplicabilidade do


instituto da estabilização à Tutela de Evidência

BELO HORIZONTE
2022

2
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4
2. ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA DE EVIDÊNCIA................................................. 6
2.1. Omissão do CPC quando a possibilidade de estabilização ................. 6
2.2. Controvérsia acerca da estabilização da tutela de evidência............... 7
3. ANALISE DO INSTITUTO DA ESTABILIZAÇÃO NO CPC DE 2015 ................. 10
3.1. Condições para estabilização ............................................................... 13
3.2. A estabilização da tutela e o procedimento monitório........................... 14
4. A APLICAÇÃO DA ESTABILIZAÇÃO À TUTELA DE EVIDÊNCIA..................... 17
4.1. Tutela de evidência antecedente........................................................... 17
4.2 A ampliação do sentido da norma e a aplicação de analogia................ 19
5. FUNDAMENTAÇÃO DESSE ENTENDIMENTO................................................. 23
5.1. Experiência do référé provision na França ........................................... 23
5.2. Ônus do tempo no processo ................................................................. 25
5.3. Similaridade da tutela de evidência e urgência..................................... 26
5.4. Estabilização da tutela de evidência no procedimento monitório.......... 27
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 28
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 31

3
1. INTRODUÇÃO

O processo civil, assim como qualquer outra práxis humana, demanda certo
tempo para ser finalizado. Contudo, particularmente no processo civil, esse tempo está
diretamente relacionado às normas, às técnicas e ao procedimento que será adotado
no caso concreto. Desse modo, o período de tempo que um processo leva para ser
finalizado não é sempre o mesmo, apesar de existirem certos padrões.
A demora para se chegar a uma definição no litígio pode causar danos a quem
tem o direito inicialmente impedido de gozo. O periculum in mora ("perigo na demora")
significa que, se o magistrado não prestar a tutela logo, haverá danos à parte
irreversíveis ou de difícil reparação. O risco ao resultado útil do processo justifica um
procedimento mais célere e eficiente.
Para além disso, existindo alto grau de probabilidade e credibilidade da prova
documental apresentada pelo autor com a demonstração prima facie da existência de
seu direito, ainda que a demora não represente um perigo útil ao processo, é razoável
que de imediato se resguarde esse aparente direito. De modo que a morosidade
judiciária não favoreça a parte a quem não assiste razão em detrimento daquela que
a tem, transformando o processo em um óbice ao detentor de direito evidente.
Dessa forma, o Código de Processo Civil (CPC) de 2015 trouxe uma novidade
em relação à legislação anterior ao prever expressamente a tutela de evidência, de
forma específica, como espécie de tutela provisória, inclusive ampliando suas
hipóteses de cabimento em relação ao regime anterior.
A tutela de evidência visa antecipar a tutela do direito provável acelerando o
andamento do feito nos casos em que o direito do autor se revestir de plausibilidade,
impedindo que a dilação do processo – quer por omissão ou desídia do Poder
Judiciário, quer por contribuição da parte ré, ou até mesmo pela morosidade comum
atrelada ao rito processual – prejudique o gozo imediato, ainda que precário, de direito
incontestável ou inconteste.
A concessão da tutela de evidência, desse modo, demanda a comprovação de
alto grau de plausibilidade do direito material da parte autora, fundamentado em
qualquer das quatro circunstâncias de evidência elencadas nos incisos dos art. 311
do Código de Processo Civil, quais sejam:
“Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da
demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo,
quando:

4
I- ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito
protelatório da parte;
II- as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente
e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula
vinculante; III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova
documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada
a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa;
IV- a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos
constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar
dúvida razoável.”1

Como os incisos trazem hipóteses autônomas, eles não são cumulativos,


bastando a configuração de qualquer das situações descritas para que seja deferida
a tutela de evidência, o que deverá ser feito mediante decisão fundamentada, em
observância ao dever constitucional previsto no artigo 93, IX da CRFB/88.
Como outros exemplos de tutela de evidência, temos: as liminares do processo
possessório (art. 562 do CPC), os embargos de terceiro (art. 678 do CPC), o mandado
injuntivo nas ações monitórias para cumprimento imediato da obrigação (art. 700 e
seguintes), a liminar em ação de despejo (Lei n.8.245/1991, art. 59, § 1º), a tutela de
evidência no âmbito do inventário (art. 647 do CPC), dentre outras previsões; que
também fazem parte do rol de hipóteses geradoras de concessão de tutela de
evidência que é taxativo, mas não limitado ao art. 311. Assim, somente poderá o juiz
conceder tutela de evidência estando diante de hipótese prevista no art. 311, do
CPC/2015, ou de outra também prevista expressamente em lei.
Noutro giro, o CPC/2015 trouxe consigo o instituto da estabilização de tutela
antecipada requerida em caráter antecedente (artigo 303 CPC/2015), de modo que,
concedida mencionada medida, a decisão tornar-se-á estável caso a parte
demandada não interponha recurso2. O instituto da estabilização se encontra previsto
no artigo 304 do CPC/2015, que estabelece, em seu caput: “a tutela antecipada,

1
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015. Brasília, DF:Senado
Federal.
2
“É de se observar, porém, que, embora o caput do art. 304 do CPC/2015 determine que "a tutela
antecipada, concedida nos termos do art. 303 do CPC/2015, torna-se estável se da decisão que a
conceder não for interposto o respectivo recurso", a leitura que deve ser feita do dispositivo legal,
tomando como base uma interpretação sistemática e teleológica do instituto, é que a estabilização
somente ocorrerá se não houver qualquer tipo de impugnação pela parte contrária, sob pena de se
estimular a interposição de agravos de instrumento, sobrecarregando desnecessariamente os
Tribunais, além do ajuizamento da ação autônoma, prevista no art. 304, § 2º, do CPC/2015, a fim de
rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada.” (STJ, REsp 1760966/SP, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, 3ª T., j. 04/12/2018, DJe 07/12/2018).

5
concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão que a conceder não
for interposto o respectivo recurso”3.
Assim, uma vez caracterizada a situação que reúna todos os elementos
necessários, o legislador, com o fim de garantir a duração razoável do processo,
princípio resguardado pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXXVIII e pelo
Código de Processo Civil de 2015 no artigo 4º, garantiu a estabilização da tutela
provisória sem que fosse necessário exaurir todo o rito processual comum.
Com isso, temos que, em uma primeira análise, surge uma dúvida razoável
quanto a possibilidade de estabilização, em se tratando de tutela de evidência, ao
passo que a antiga nomenclatura dada pelo código de 1973 de “tutela antecipada de
evidência”, a priori, considerava a tutela de evidência também como tutela antecipada.
Nessa medida, o presente estudo tem como foco principal analisar e discutir a
viabilidade da aplicação na tutela de evidência da estabilização dos seus efeitos e a
opção do legislador em, a princípio, não o fazer; restringindo-a à tutela de urgência
antecipada. Esse tema é ainda pouco debatido na doutrina, o que reforça ainda mais
a necessidade de estudo acerca do assunto.

2. ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA DE EVIDÊNCIA

2.1. Omissão do CPC quando a possibilidade de estabilização

O legislador brasileiro poderia ter dissociado o efeito estabilizador da avaliação


de urgência e ampliado seu âmbito de incidência de modo abarcar ambas as tutelas:
de urgência e evidência. Esse, porém, não foi o caso quando o novo código entrou
em vigor. A estabilização da tutela ficou circunscrita àquela concedida nos termos dos
artigos 303 e 304 do CPC/2015, em uma análise literal.
Esses artigos estão inseridos, topograficamente, no Capítulo II (que versa
justamente sobre o “procedimento da tutela antecipada requerida em caráter
antecedente”) do Título II (“Da Tutela de Urgência) do Livro V (“Da Tutela Provisória).
Portanto, apenas em caso de urgência e desde que a proteção tenha um conteúdo

3
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015.

6
satisfatório e não se limite a assegurar a utilidade da última disposição jurisdicional
(tutela cautelar), é que seria possível estabilizar a proteção provisória.
De toda forma, é necessário ressaltar que, embora o texto normativo não tenha
explicitamente demonstrado, a tutela de evidência e a tutela de urgência antecipada
são pertencentes a um mesmo segmento: “tutelas provisórias satisfativas4”. Isso
deriva de ambas terem como objetivo assegurar desde o início o direito subjetivo
pleiteado em juízo. Ao contrário da tutela de urgência cautelar, que visa garantir a
eficácia e a autoridade das decisões judiciais, assegurando que haja tempo hábil para
realizar a devida e adequada prestação jurisdicional sem a deterioração do direito que
se pleiteia (segurança da execução).
Assim, tutelas provisórias de natureza satisfativa são intrinsicamente afins por
tentarem prevenir ou extinguir o perigo de dano pela realização do direito requerido
em juízo, garantindo provisoriamente ao interessado a garantia imediata das
vantagens reclamadas no pedido (execução para segurança). Com isso, conforme já
mencionado, a tutela de evidência, embora não pressuponha a urgência, visa também
afastar os efeitos nefastos do tempo no processo.
Nesse ponto, importante destacar que há outras situações nas quais,
aparentemente, o legislador disse menos do que deveria quanto à tutela de evidência.
Omissões, como por exemplo, quanto as regras sobre a responsabilidade civil
processual pelos danos causados em decorrência da concessão da medida (art. 302)
e sobre a possibilidade de exigir a prestação de caução para a concessão da medida
(art. 300, § 1º) as quais estão previstas, no texto legal, na parte dedicada à tutela de
urgência. Assim, numa interpretação literal, elas não seriam aplicáveis às tutelas de
evidência. Porém, a aplicação das regras da tutela de urgência às tutelas de evidência,
de maneira supletiva, parece ser um caminho natural para o funcionamento sistêmico
do CPC/2015 de modo a preencher as lacunas deixadas pelo legislador.

2.2. Controvérsia acerca da estabilização da tutela de evidência

A escolha legislativa em não possibilitar, pelo menos expressamente, a


estabilização da tutela provisória de evidência é objeto de controvérsias. Isso porque,

4
Registro aqui que há opiniões divergentes quanto à possibilidade de uma tutela de evidência “cautelar”
as quais reconheço, mas não compactuo. De modo que, em minha opinião, embasada por autores
como: Fernando Gajardoni, Daniel Assunpção e Leonardo Ferres, não existe essa possibilidade.

7
apesar da ausência de disposição legal, a tutela de evidência para alguns autores é
compatível com o instituto jurídico da estabilização dos feitos da tutela provisória
antecipada.
Por uma interpretação ampliativa do cabimento da estabilização tanto para
tutelas antecipadas de urgência quanto evidentes5, destaca-se Leonardo Ferres da
Silva Ribeiro:
“A melhor interpretação, segundo pensamos, é aquela que confere a maior
eficácia possível ao instituto, admitindo-se, assim, a estabilização mesmo no
caso da tutela antecipada deferida incidentalmente, desde que requerida (e
concedida) liminarmente. O que não faz sentido é permitir a estabilização
quando a tutela antecipada é deferida após o exercício do contraditório e
tendo prosseguido o processo. Ainda nesse contexto, deve-se admitir a
estabilização da tutela de evidência (que é antecipada), desde que,
obviamente, tenha sido deferida liminarmente. Na tutela de evidência, em
razão da grande probabilidade do direito em favor do autor, também deve ser
permitida a técnica da estabilização, evitando-se com isso o prosseguimento
do processo, caso não haja um recurso contra a decisão que a concede.”6

Bruno Garcia Redondo, após uma breve crítica ao legislador, defende este
mesmo entendimento, no sentido de que se permita a adoção da técnica da
estabilização de forma mais ampla, alcançando a tutela de evidência:
“O legislador de 2015 perdeu uma excelente oportunidade de consagrar,
expressamente, a possibilidade de utilização da técnica da estabilização (com
extinção do processo) em duas outras esferas: (i) para a tutela antecipada
que, concedida incidentalmente, não viesse a ser impugnada
tempestivamente, tal como ocorre nos Direitos italiano e francês; e (ii) para a
tutela da evidência, que deveria ser passível de requerimento em caráter
antecedente. Consideramos que, com as necessárias adaptações
procedimentais, é possível – de lege lata, em interpretação sistemática – a
adoção da técnica da estabilização (com eventual extinção do processo) para
a tutela antecipada incidental e a formulação de requerimento antecedente
de tutela da evidência, com possibilidade de estabilização de efeitos e
extinção da demanda.”7

Ainda nesse sentido, Daniel Assunpção entende que:

Quanto a “tutela provisória da evidência, que a exemplo da tutela antecipada


tem natureza satisfativa. Nesse caso o legislador parece ter dito menos do

5
Registra-se a existência do Enunciado 420 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “Não
cabe estabilização de tutela cautelar”
6
RIBEIRO, Leonardo Ferres da Silva. Tutela provisória. In: TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Teresa
Arruda Alvim. (Orgs.). Temas essenciais do novo CPC: Análise das principais alterações do sistema
processual civil brasileiro. São Paulo: RT, 2016, p.204.
7
REDONDO, Bruno Garcia. Estabilização, modificação e negociação da tutela de urgência
antecipada antecedente: principais controvérsias. Revista de Processo 2015. RePro vol. 244.,
Junho 2015, p. 08.

8
que deveria, porque as mesmas razões que o levaram a criar a estabilização
da tutela antecipada indiscutivelmente aplicam-se à tutela de evidência.”8

Em opinião parcialmente contrária, Daniel Mitidiero reconhece a possibilidade


apresentada na legislação francesa, contudo, entende que o legislador no Brasil optou
por limitar a tutela antecipada antecedente e possível estabilização aos casos de
urgência:
“o pedido de tutela antecipada antecedente está limitado à urgência à
propositura da ação, estando excluída a possibilidade de tutela antecipada
antecedente – e, portanto, estável– nos casos de tutela da evidência. Embora
tecnicamente possível, como mostra a experiência do référé provision francês
(artigo 809, Code de Procédure Civile), nosso legislador optou por limitar a
tutela antecipada antecedente aos casos de urgência.”9

Na mesma medida, Fernando Gajardoni faz uma importante reflexão sobre o


tema em seus comentários ao CPC/2015:

“Não se pode negar, assim, que, de certo modo, a tutela de evidência é uma
espécie de tutela antecipada satisfativa, embora sem o requisito da
urgência. Essa compreensão é fundamental para se admitir a
possibilidade de estabilização da tutela da evidência, [...]. É possível
encontrar situações em que o direito se mostra tão evidente que, pela lógica
do Sistema, não faz sentido privar o autor de tutela imediata. Com a
concessão da tutela da evidência, o tempo do processo é distribuído com
mais Justiça entre as partes, fazendo com que aquele que aparenta não ter
razão acabe por suportá-lo (e não o autor, como é a regra). Não se pode
negar, por isso, certo caráter de prevenção de litígios na tutela da evidência
[...]. Como, na essência, tem-se na tutela da evidência coincidência entre
os objetos buscados de modo antecipado e final, seria razoável que,
também para ela, se dispensasse a formulação do pedido principal se
as partes optassem pela preservação da solução dada provisoriamente,
em cognição sumária[..]. Não foi, todavia, essa a opção política do
CPC/2015. Não se aplicam às tutelas de evidência, só requeríveis
incidentalmente, as disposições relativas à estabilização dos efeitos da
tutela, uma vez que o CPC/2015 previu a estabilização no capítulo relativo,
exclusivamente, às tutelas antecipadas antecedentes. Entendeu o legislador
que, já estando o pleito principal formulado, implícito está o pedido da parte
pelo prosseguimento do processo nos moldes tradicionais, com eventual
instrução e prolação de sentença definitiva sobre o conflito (com coisa
julgada), em cognição exauriente.”10

8
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil – 10° edição. Ed.
Juspodivm, Salvador, 2018. p. 522.
9
MITIDIERO, Daniel. Autonomização e estabilização da antecipação da tutela no novo Código
de processo civil. Revista eletrônica [do] Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, Curitiba, v. 4,
n. 39, p. 15-19, abr. 2015. Edição especial. p. 15-16
10
FERREIRA. Fernando da Fonseca Gajardoni et. al. Teoria geral do processo: comentários ao
CPC 2015: parte geral [et. al.] 2. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2018. p. 1671-1672.

9
Elaine Harzheim Macedo vai além e mais do que não reconhecer a
possibilidade, ainda argumenta desfavoravelmente à aplicação da estabilização para
as tutelas de evidência:

“A estabilização da decisão provisória está atrelada a uma pretensão que


ainda não se classificou como definitiva, diferentemente da tutela de
evidência que já nasce, desde a instauração do processo, como pretensão
vocacionada à definitividade. [...] qualquer tentativa de tornar tais tutelas
híbridas entre si correm o risco da ordinarização e abstração do processo e
da prestação jurisdicional.”11

Assim, os autores que defendem a aplicação da estabilização também à tutela


de evidência invocam a experiência francesa, o caráter satisfativo dessa espécie de
tutela antecipada (diferente da tutela cautelar) e, ainda, a sistematicidade do
CPC/2015 que tecnicamente não obstaria essa possibilidade, visto que não ocorreria
conflitos de normas.
Por outro lado, aqueles que entendem que não caberia estabilização da tutela
de evidência assim concluem por conta, principalmente, da falta de disposição legal
expressa e pela alegada falta de compatibilidade entre os institutos.
Em vista desses posicionamentos, os tópicos seguintes servirão como
norteadores para analisar a viabilidade da estabilização da tutela de evidência.

3. ANÁLISE DO INSTITUTO DA ESTABILIZAÇÃO NO CPC DE 2015

Segundo o ordenamento jurídico vigente, adota-se a estabilização quando,


antes da propositura da ação principal, a parte demandante aciona o juízo requerendo,
em sede de liminar, a concessão da tutela, tratando-se, portanto, de tutela provisória
antecipada requerida em caráter antecedente. Em tais casos, se o magistrado deferir
a tutela provisória antes de ouvir o réu, e se este, citado, quedar-se inerte (diga-se,
não recorrer) – em conformidade com o “status quo bias, ou seja, a tendência à inércia
que os seres humanos apresentam como natural ao seu comportamento” 12 -, haverá

11
MACEDO, Elaine Harzheim. Prestação Jurisdicional em sede de tutela antecedente:
procedimento, estabilização da decisão e decurso do prazo de 2 (dois) anos: um novo caso de
perempção? Revista de Processo. Vol. 250. Ano 40. P. 189-215. São Paulo – dez. 2015. p. 213
12
REGGIANI, Gustavo Mattedi; ZANETI JR., Hermes. Estabilização da tutela antecipada
antecedente e incidental: sugestões pragmáticas para respeitar a ideologia de efetividade do
CPC/15. Revista de Processo, v. 284, ano 43, pp. 213-235. São Paulo: Ed. RT, outubro 2018, p. 215.

10
a estabilização da medida outrora concedida em caráter emergencial e precário, nos
termos do artigo 304, caput do Código de Processo Civil.
A doutrina de Reggiani e Zaneti ensina que
“A estabilização da tutela antecipada é um mecanismo de solução dos
conflitos com estímulo à manutenção de uma decisão com a qual as partes
estão potencialmente de acordo quanto aos efeitos de fato, sendo irrelevante
a definitividade do comando judicial para esses fins pragmáticos.”13

Com o fim de garantir a duração razoável do processo, acautelada pela


Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXXVIII e pelo Código de Processo Civil
de 2015 no artigo 4º, e desestimular a parte ré a empreender atos protelatórios,
possibilitou a estabilização da tutela provisória sem que fosse o demandado ouvido.
Assim, se executada a decisão sumária, esta não for impugnada pelo réu, possibilita-
se que continue produzindo efeitos mesmo após findo o processo, sendo referido
instituto jurídico, por conseguinte, dotado de ultratividade14 .
Importante ressaltar, noutro giro, que a justa divisão do ônus do tempo no
processo autoriza o exercício diferido ou eventual do contraditório – o que se dá em
consonância com a roupagem “dinâmica, cooperativa, colaborativa ou
comparticipativa”15 que mencionado princípio assume desde o Código de 2015 –,
sendo facultado à parte ré transmudar a matéria em causa de pedir de uma nova ação
de cognição exauriente. Em verdade, o CPC/2015 concede a ambas as partes o direito
de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada em autos apartados (§2º do artigo
304), requerendo o desarquivamento dos autos em que concedida a medida para
instruir a petição inicial (§4º do art. 304 do CPC/2015).
Neste ponto, importante destacar que tutela estabilizada não atinge o status de
coisa julgada próprio aos procedimentos de cognição exauriente (§6º do art. 304 do
CPC/15), visto que “a estabilidade recai sobre os efeitos da decisão, não sobre a
declaração judicial”16.
Em assim sendo, a estabilidade dos efeitos da decisão somente será afastada
por decisão que a revir, reformar ou invalidar, proferida na nova ação instaurada nos

13
REGGIANI, Gustavo Mattedi; ZANETI JR., Hermes. Op. Cit. p. 216.

14
MEDINA, José Miguel Garcia. Direito processual civil moderno [livro eletrônico]. 3. Ed. – São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. p.152.
15
REGGIANI, Gustavo Mattedi; ZANETI JR., Hermes. Op. Cit. p. 223.
16
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito
Processual Civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias, decisão, precedente,
coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. 11. ed. – Salvador: JusPodivm, 2016. p.436.

11
termos do §6º do artigo 304 do CPC/2015. Persiste, nesse sentido, a possibilidade de
exaurimento da cognição até que haja eventual incidência do interregno de dois anos,
a teor do artigo 304, §5º do CPC/15, ou dos prazos previstos no direito material para
a prescrição, a decadência e a supressio.
Há, todavia, quem critique a estabilização da tutela antecipada no Código de
Processo Civil, sob o fundamento de que as disposições legais sobre a matéria
apresentam incongruências de ordem processual e procedimental que, caso mal
interpretadas pela comunidade jurídica, poderão anular toda a praticidade,
simplificação e celeridade que a estabilização da tutela visou a implementar no
sistema processual brasileiro.17
Com efeito, ainda que se concorde com a necessidade de aclarar os termos
das disposições legais relativas à estabilização da tutela, retificando-se os prazos
procedimentais em relação ao aditamento da inicial, estabelecendo-se limites quanto
aos direitos indisponíveis e esclarecendo-se a incidência do instituto jurídico sobre as
demandas contra a Fazenda Pública18, isso não obsta, por si só, a extensão do
instituto da estabilização para além da tutela antecipada antecedente, mas pelo
contrário reafirma a necessidade do preenchimento das lacunas presentes na lei.
Entende-se, a propósito, que tais dilemas e imprecisões – cujo exame
ultrapassa o objetivo do presente trabalho – não são suficientes para descaracterizar
a importância da estabilização de tutela no que diz respeito à garantia da “efetividade,
celeridade e simplificação procedimentais, tratando-se de importante contribuição
para a desjudicialização e para a diminuição de volume de processos que avassala o
Poder Judiciário”19.
Aliás, impele ressaltar que a estabilização da tutela provisória é instituto jurídico
recente, que, como tal, possui diversos meandros a serem debatidos com cautela.
Reggiani e Zaneti Jr.20, ao comentarem a inovação legislativa, pontuam a necessidade
de entendê-la como janela que se abre para o futuro, isto é, medida que traz consigo
novas possibilidades que demandam exame escorreito, o que oportuniza

17
JAYME, Fernando Gonzaga; SOUSA, Alexandre Rodrigues de. Tutela sumária no Código de
Processo Civil: apontamentos acerca da estabilização da tutela antecipada. Capítulo 18. In:
LUCON, Paulo Henrique dos Santos; FARIA, Juliana Cordeiro; MARX NETO, Edgar Audomar;
NORATO REZENDE, Ester Camila Gomes (org.). Processo Civil Contemporâneo: Homenagem aos 80
anos do professor Humberto Theodoro Júnior. Belo Horizonte: Editora Forense, 1ª ed. 2018. p. 316.
18
JAYME, Fernando Gonzaga; SOUSA, Alexandre Rodrigues de. Op cit, p. 317-320.
19
JAYME, Fernando Gonzaga; SOUSA, Alexandre Rodrigues de. Op cit, p. 325.
20
REGGIANI, Gustavo Mattedi; ZANETI JR., Hermes. Op. Cit. p. 215.

12
modificações adequadas que se amoldem à sistemática processual-constitucional
vigente.

3.1. Condições para estabilização

Como dito no tópico anterior, a adoção da estabilização da antecipação da


tutela provisória permite ao juiz decidir com base em cognição sumária, sendo que
essa decisão passa a ter um alto grau de estabilidade, de forma que só pode ser
revogada se for proposta uma ação definitiva no prazo de até dois anos. Significa isso
que a cognição sumária já não, necessariamente, aguarda a confirmação da decisão
final, que seria proferida no mesmo procedimento, pois o exaurimento da cognição,
uma vez deferida a tutela antecipada, dependerá de ato positivo do réu.
Desse modo, a partir de uma leitura inicial dos artigos 303 e 304 é possível
constatar quatro condicionantes necessárias que devem ser observadas
conjuntamente para a aplicação do instituto da estabilização: (i) que o pedido deferido
pelo juiz trate de uma tutela antecipada, requerida em caráter antecedente e
autônomo; (ii) que o autor tenha solicitado expressamente o uso desse instituto; (iii)
que a decisão concessiva tenha sido proferida liminarmente, sem a oitiva da parte
contrária; e (iv) que o réu, após notificação da decisão, não interponha recurso, cada
um destes aspectos serão analisado a seguir.
A primeira condição trata-se de uma análise literal do texto legal. Isto porque, o
procedimento de estabilização da tutela está localizado dentro do Título II – Da Tutela
de Urgência, e menção apenas a tutela antecipada requerida em caráter
antecedente21.
Em seguida, a segunda condição, pode de maneira simples ser retirada do
CPC/2015. Isso porque, apesar implícita, é sabido que o juiz não poderá beneficiar
nenhuma das partes sem que seja provocado para tal, em respeito ao princípio da
imparcialidade. Sendo desse modo, necessário que o autor venha a pedir na peça
inaugural do processo determinado benefício.
Outra consequência da interpretação do artigo 303, terceira condição, é a de
que a tutela provisória passível de estabilização deve ser a concedida a título de
liminar, sem a manifestação do réu de modo antecedente.

21
Caput do art. 304: “A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da
decisão que conceder não for interposto o respectivo recurso” (BRASIL, 2015)

13
Por fim, como quarta e última condição, o réu deve permanecer inerte e não
recorrer da decisão a qual foi proferida em juízo. Em se tratando de decisão proferida
em 1º grau de jurisdição, o recurso cabível é o agravo de instrumento (art. 1.015, I)22.

3.2. A estabilização da tutela e o procedimento monitório

No debate acadêmico sobre a natureza jurídica do fenômeno da estabilização,


a doutrina converge no sentido de que a técnica da estabilização guarda marcante
semelhança com a técnica usada na ação monitória23, em que a decisão que
concedida em sede de cognição sumária com base na tutela da evidência torna-se
estável24 quando não impugnada. A estabilização da tutela provisória desse modo é,
sem dúvidas, relacionada ao processo monitório, sendo até mesmo denominada por
alguns autores como “técnica de monitorização do processo”25.
A estabilização é um instituto que visa a monitorização do processo civil, isso
porque desenvolve um aparato que, em razão da inércia do réu, resolve o litígio em
sede de cognição sumária, propiciando a tutela jurisdicional ao direito material
tutelado26.
No processo monitório, com base na prova escrita, o juiz estabelece a
expedição de mandado monitório para pagamento (concede a tutela de evidência) 27.
Na hipótese em que o réu não impugna o mandado e o cumpre no prazo estabelecido,
o processo é extinto. Em contrapartida se o réu não se contrapõe ao mandado inicial
e ao mesmo tempo não o cumpre, converte-se em título executivo judicial, de maneira

22
O tema ainda é bastante controverso. Para uma apreciação geral, cf. Ravi Peixoto. Por uma análise
dos remédios jurídicos processuais aptos a impedir a estabilização da tutela antecipada antecedente
de urgência. COSTA, Eduardo José da Fonseca; PEREIRA, Mateus Costa; Roberto P. GOUVEIA
FILHO, Campos. Tutela provisória, pp. 243-56.
23
TALAMINI, Eduardo. Tutela de urgência no projeto de novo código de processo civil: a
estabilização da medida urgente e a ‘monitorização’ do processo civil brasileiro. Revista de
Processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, n. 209.
24
Estável no sentido de que o processo se extingue.
25
De acordo, Fredie Didier Jr. (2016): “é uma generalização da técnica monitória para situações de
urgência e para a tutela satisfativa, na medida em que viabiliza a obtenção de resultados práticos a
partir da inércia do réu”.
26
BONNA, A. P.; SEGATTO, T. M. A estabilização da tutela provisória e a problemática em torno
da hipolegislação do Novo Código de Processo Civil. De Jure, Belo Horizonte, v. 17, 2018, p. 336-
368.
27
Tanto no CPC/73 quanto no novo Código há procedimento especial que prevê a concessão de tutela
provisória com base na evidencia do direito do autor. Referindo-se à ação monitória (art. 700), pela qual
viabiliza ao autor obter um mandado de pagamento, de entrega de coisa ou de obrigação de fazer ou
não fazer, desde que apresente prova escrita da qual decorra o direito de exigir uma obrigação em face
do réu.

14
que o autor terá direito ao cumprimento definitivo de sentença. Por outro lado, o réu
pode opor os embargos monitórios, passando-se a se observar o procedimento
ordinário de cognição exauriente28.
Dessa forma, a proposta da ação monitória é, principalmente, remediar o perigo
da demora e evitar a inutilidade da cobrança da dívida, embora a urgência não seja
um requisito, visto que com fundamento na cognição sumária da tutela de evidência
(com base em prova documental) determina o pagamento da dívida, transferindo para
o devedor o ônus da propositura dos embargos monitórios, instrumento processual
esse capaz de processar a cognição plena.
É possível inferir que a técnica monitória específica, por depender de robusta
prova documental, tem fundamento na tutela da evidência, uma vez que a prova que
a instrui é “dotada de probabilidade máxima”29 do direito reclamado pelo requerente.
Assim sendo, as características mais notáveis do procedimento monitório são,
então, a cognição sumária, a inversão do ônus de iniciativa do contraditório de caráter
preclusivo e a rapidez na obtenção do título executivo judicial quando a pretensão
monitória não for resistida.
Há, contudo, debate doutrinário a respeito da produção de coisa julgada
material em sede de ação monitória, o que caminha pela mesma via do debate sobre
a impossibilidade de formação de coisa julgada em sede de tutela de urgência
concedida em caráter antecedente que tenha se estabilizado após o decurso do prazo
para propositura da ação de revisão.
Isso porque, a coisa julgada material, tradicionalmente, relaciona-se ao extenso
debate em contraditório, possível apenas em sede de cognição plena. Da mesma
forma, a decisão proferida na ação monitória para expedição do mandado monitório
tem natureza de tutela provisória da evidência, não haveria formação de coisa julgada
material:
“O instituto da coisa julgada é constitucionalmente incompatível com decisão
proferida com base em cognição superficial e, por isso mesmo, provisória,
sujeita à confirmação. Há uma vinculação constitucional da coisa julgada à
cognição exauriente. Ainda que não exista disposição expressa nesse
sentido, isso é uma imposição da proporcionalidade e da razoabilidade
extraíveis inclusive da cláusula do devido processo (art. 5º, LIV, da CF/1988).
A imutabilidade da coisa julgada – qualidade excepcional no quadro da

28
SICA, H. V. M. Doze problemas e onze soluções quanto à chamada “estabilização da tutela
antecipada”. In: BUENO, C. S. Tutela provisória no CPC: dos 20 anos de vigência do art. 273 do
CPC/1973 ao CPC/2015. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 416-437.
29
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2015, p.
169.

15
função pública – não pode ser atribuída indistintamente a qualquer ato
jurisdicional. O que confere idoneidade para o ato ficar imune à revisão não
é só a circunstância de ele ter sido precedido da oportunidade de
manifestação das partes, mas, sobretudo a profundidade da cognição que se
pôde desenvolver.”30

Nessa medida, a estabilização da medida urgente antecedente guarda as


seguintes características em comum com a tutela monitória:
(a)há o emprego da cognição sumária com o escopo de rápida produção de
resultados concretos em prol do autor; (b) a falta de impugnação da medida
urgente pelo réu acarreta-lhe imediata e intensa conseqüência desfavorável;
(c) nessa hipótese, a medida urgente permanecerá em vigor por tempo
indeterminado – de modo que, para subtrair-se de seus efeitos, o réu terá o
ônus de promover ação de cognição exauriente. Ou seja, sob essa
perspectiva, inverte-se o ônus da instauração do processo de cognição
exauriente; (d) não haverá coisa julgada material.31

Fredie Didier Jr. defende, ainda, que o regramento da ação monitória deve ser
aplicado, por analogia, à estabilização da tutela antecipada nas situações não
definidas pelos artigos específicos destinados a essa nova técnica. Como por
exemplo, se o réu não opuser resistência “não pagará as custas processuais
(aplicação analógica do disposto no §1º do art. 701 do CPC) e pagará apenas 5% de
honorários advocatícios de sucumbência (art. 701, caput, CPC, também aplicado por
analogia)”32
Haja vista tais pontos acerca da relação entre o instituto da estabilização e o
provimento monitório, parece bastante plausível a utilização do regramento deste tipo
de ação, subsidiariamente, para resolver questões em que a lei foi omissa ou não
clara ao regulamentar a estabilização e vice-versa. Assim, ao passo que a técnica
monitória é um exemplo de tutela de evidência, estar-se-ia ao mesmo tempo
consagrando a aplicação subsidiária entre os regramentos da tutela de evidência e da
tutela antecipada de urgência na medida em que se teria uma uniformização também
entre o procedimento destinado a todas as tutelas de evidência.

30
TALAMINI, Eduardo.Op. cit. p. 28.
31
TALAMINI, Eduardo.Op. cit. p. 24.
32
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. CIT. p. 618.

16
4. A APLICAÇÃO DA ESTABILIZAÇÃO À TUTELA DE EVIDÊNCIA

A questão que se impõe, portanto, é saber se seria possível ampliar o sentido


das normas ou aplicar, por analogia, as regras previstas para o pedido de tutela
requerido em caráter antecedente (arts. 303 e 304 do CPC/2015) às tutelas de
evidência. Dito de outra forma, é necessário perquirir se a tutela de evidência poderia
ser postulada em caráter antecedente e, neste caso, se estabilizar. Destarte, os
tópicos seguintes servirão de base para responder tal questionamento.

4.1. Tutela de evidência antecedente e incidental

Existe uma divisão com relação ao momento do requerimento da tutela


provisória: conforme o parágrafo único do art. 294, ela pode ser requerida em caráter
antecedente ou incidental. Quando antecedente, o pedido da tutela provisória ocorre
antes da propositura do pedido principal; quando incidentalmente, o pedido da tutela
provisória ocorre juntamente com o pedido principal ou no decorrer do processo.
Em paralelo, o artigo 294 e seguintes do CPC/2015 denominam de tutela
provisória a extensa categoria que abarca as tutelas de urgência (cautelar e
antecipada) e da evidência, artigos esses os quais sistematizaram e unificaram, o que,
anteriormente o CPC de 1973 denominava de tutela antecipada de urgência (art. 273,
I), tutela cautelar (arts. 796 ao 888) e tutela antecipada de evidência (art. 273, II, e §
6º).
Ao fazer essa separação, o CPC/2015 aparentemente restringe a possibilidade
de requerimento de forma antecedente e a possível estabilização à tutela de urgência
satisfativa, levando em conta meramente a urgência. Isso porque, os artigos 303 e
304 estão inseridos, topograficamente, no Capítulo II (que versa justamente sobre o
“procedimento da tutela antecipada requerida em caráter antecedente”) 33 e visto que
a tutela de evidência não mais é chamada de tutela antecipada.
Nesse ponto, há uma divergência doutrinária em relação a possibilidade de
requerimento da tutela de evidência em caráter antecedente. Prepondera a
compreensão de que a tutela de evidência tratada no art. 311 do Código de Processo

33
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015.

17
Civil de 2015 é sempre incidental pela simples interpretação literal da lei, tendo em
vista a disposição apresentada no parágrafo anterior34.
Contudo, quanto à possibilidade da tutela de evidência ser requerida em caráter
antecedente, Luiz Guilherme Marinoni cita que

“[...]do ponto de vista técnico, nada obstaria a possibilidade de tutela da


evidência antecedente, como mostra a experiência do référé provision
francês (art. 809, Code de Procédure Civile); porém, intencionalmente ou não,
nosso legislador parece ter optado por limitar a tutela antecipada antecedente
aos casos de urgência. A opção, por óbvio, não merece respaldo. O ônus do
tempo do processo não pode ser atribuído àquele que aparentemente tem
razão. Por isso, examinando o regime da tutela antecipada antecedente à luz
da garantia fundamental da tempestividade da jurisdição, evidencia-se a
necessidade de se interpretar extensivamente o contido no art. 303, do CPC,
de modo a abarcar também, por analogia, as tutelas de evidência.”35

Ainda no mesmo sentido, segundo Bruno Bodart36, somente as hipóteses de


tutela de evidência dos incisos I e IV do artigo 311 são incompatíveis com a
possibilidade de concessão em caráter antecedente (antes da ação principal), porque
a concessão de ambas somente pode ocorrer após o exercício do contraditório pelo
réu, momento no qual é possível verificar a ocorrência de má-fé processual ou abuso
do direito de defesa (inciso I), bem como a apresentação de provas aptas a
desacreditar aquelas apresentadas pelo autor (inciso IV).
Por outro lado, as hipóteses do artigo 311, incisos II e III são compatíveis com
o procedimento autônomo, por serem situações nas quais o julgador pode decidir na
forma inaudita altera parte, de modo que poderiam ser pleiteadas de forma
antecedente, porque a verdadeira missão do instituto é garantir uma prestação
jurisdicional mais eficaz e célere.37 Da mesma forma que outras possibilidades de
concessão de tutela de evidência previstas de forma esparsa, fora do artigo 311, se
compatíveis com o requerimento antecedente, devem dele lograr.
Isso porque, havendo a permissão da concessão da medida inaudita altera
parte, já se postergando, portanto, o exercício do contraditório, não haveria razão para

34
Nesse sentido, contra a possibilidade de tutela de evidência requerida de modo antecedente temos:
Freddie Didier, Guilherme Rizzo, Leonardo Greco, dentre outros.
35
MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. MITIERO, Daniel. Novo curso de processo
civil: tutela de direitos mediante procedimento comum. Volume II – 2ª Ed. – São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2016, p. 223.
36
BODART, Bruno Vinícius da Rós. Tutela de Evidência: Teoria da cognição, análise econômica
do direito processual e comentários sobre o novo CPC. 2a Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2015, p. 139-147.
37
BODART, Bruno Vinícius da Rós. Op. cit. p. 139-147.

18
não se admitir o procedimento antecedente nestas hipóteses de tutela provisória de
evidência. Assim, ao se admitir a tutela de evidência, requerida de modo antecedente,
torná-la-á, nesse aspecto, ainda mais afim ao instituto da estabilização que tem
consigo essa exigência quanto ao momento de concessão da tutela para ser aplicado.

4.2 A ampliação do sentido da norma e a aplicação de analogia

A princípio, é importante justificar a relação proposta entre os institutos da


analogia e da interpretação extensiva para analisar o tema proposto. De forma breve,
temos que, em ambos os institutos se encontram meios de realização do direito, dando
eficácia normativa às regras prescritivas postas. Nos dois, existe elemento de conexão
entre um fato e outro que toma por alicerce um fator de semelhança, embora essa
semelhança seja também fundamento e limitação de tais técnicas interpretativas.
Essa conexão entre institutos semelhantes realizada a partir do juízo de
compatibilidade tem, antes de qualquer outra, o próprio direito como fonte. Isso
porque, é o sistema normativo o local no qual é possível identificar e imputar
competência para se interpretar analógica ou extensivamente. Daí, baseando-se na
ordem jurídica positivada, é fundamentada toda a base cognoscitiva doravante
exposta.
Assim sendo, a presença no direito brasileiro da analogia e da interpretação
extensiva, inclusive de forma expressa em artigos de diferentes diplomas legais (art.
4º da LINDB e art. 140 do CPC/2015, por exemplo), demonstra que a ordem brasileira
requer uma completude, isto é, institui um ordenamento completo e, para realizar tal
inteireza e autossuficiência, recorre a mecanismos como os dois acima indicados.
Por outro lado, embora a literalidade da norma consista um elemento
indispensável à sua compreensão, não significa que seu sentido deva se esgotar
necessariamente na sua análise literal, tendo em vista que é apenas por meio dos
diferentes métodos de interpretação que se pode verificar seu significado, sua
finalidade e por quais motivos surgiu e foi elaborada, independentemente da aparente
clareza que nela possa estar incutida.
Em paralelo a isso, cabe afirmar que onde há o ser humano, há interpretação.
Esse processo faz parte do próprio ato essencial a partir do qual o homem se identifica
ontologicamente como o ser pensante e atuante no mundo em que vive capaz de

19
conhecê-lo e transformá-lo, já que a capacidade racional do ser humano se manifesta
de forma mais expressiva exatamente na atividade interpretativa.
Interpretar é desse modo: o “ato de explicar, esclarecer, dar o significado do
vocábulo, atitude ou gesto, produzir por outras palavras um pensamento exteriorizado;
mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão; extrair de frase, sentença ou norma,
tudo o que na mesma se contém”38.
Ao trazer esse conceito para o Direito, Friede afirma que:
“Se interpretar é conhecer, não há norma jurídica que, de uma forma ou de
outra, possa escapar à interpretação. Algumas, sem a menor dúvida,
conhecem-se facilmente; outras, no entanto, são conhecidas com maior
dificuldade. O somatório de todas, entretanto, é passível, sem qualquer
exceção, de interpretação. Esta é, justamente, a razão que nos obriga a
afastar a crença errônea de que somente se interpretam as normas jurídicas
cujo conhecimento envolva necessariamente dificuldades. É totalmente falso
o princípio segundo o qual ‘in claris non fit interpretatio’ – quando a norma é
clara não se procede à interpretação, ou, em outras palavras, as normas
claras, as leis claras, não se interpretam ou dispensam a teoria hermenêutica.
A afirmação de clareza de uma lei, muito pelo contrário, é, apenas, um estágio
obrigatório de sua interpretação.”39

Todavia, a escassez de previsão legal pelo legislador de um procedimento


antecedente para a tutela de evidência e sua possível estabilização posterior pode, a
priori, parecer clara vedação. Contudo, posta a norma sob um prisma sistemático,
histórico e teleológico, visualizando-a no contexto das inspirações/motivações para o
surgimento das tutelas provisórias e das suas finalidades, pode-se ampliar seu sentido
a fim de que se contemple tal possibilidade.
Por intermédio da interpretação sistemática, conforme Manzotti40, que em um
primeiro momento é voltada à resolução de antinomias e lacunas na legislação, busca-
se também o sentido da norma através de sua observação à luz de todo o
ordenamento jurídico, a fim de manter a coerência e integridade da legislação, além
de, atualmente, admitir-se a leitura sistemática com vistas à obtenção da ideia do justo
e de um Direito harmônico e integral.
Posto isso, significa que as regras atinentes as tutelas provisórias precisam
dialogar entre si, independentemente da indicação topográfica em que estiverem
localizadas no CPC. Dessa forma, a utilização da interpretação permite que seja dada

38
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica E Aplicação Do Direito. 19ª ed. - Rio de Janeiro: Forense,
2002, p.7.
39
FRIEDE, Reis. Ciência do Direito, norma, interpretação e hermenêutica jurídica. 9. ed. Barueri,
São Paulo: Manole, 2015. p. 160
40
MAZOTTI, Marcelo. As escolas hermenêuticas e os métodos de interpretação da lei. Barueri,
São Paulo: Manole, 2010. p. 59-63

20
à codificação a coerência interna necessária para garantir a higidez desse sistema.
Não se justificaria, portanto, a distinção entre a tutela provisória satisfativa com base
na grande probabilidade do direito e aquela com base na urgência face à possibilidade
do procedimento antecedente e possível estabilização a posteriori.
Levando-se em consideração o previsto no parágrafo único do art. 311 do
CPC/2015, que já permite a concessão da tutela de evidência liminarmente nas
hipóteses dos incisos II e III41 e a similaridade entre esse procedimento e o
requerimento de forma antecedente, (sendo basicamente a forma de preencher o
pedido inicial a diferença), já é possível reconhecer a compatibilidade da tutela de
evidência com o pedido de forma antecedente, utilizando-se da analogia ao aplicar o
artigo 303 do CPC42, referente a tutela de urgência antecipada, sobre as hipóteses da
tutela de evidência que são passíveis de pedido liminar.
No mesmo sentido, quanto a sistematicidade do CPC/2015, a condição de
requerimento antecedente para a tutela de evidência, como argumenta Bodart 43, pode
ser justificada pela instrumentalidade de que se reveste, atualmente, o Direito
Processual, priorizando-se a efetividade do provimento jurisdicional nos casos em que
pode haver a conformação das partes com a cognição sumária.
Junto a isso, existindo a necessidade de uma resposta rápida e eficiente da
justiça independente do risco de perecimento do direito. Nesse sentido, temos que
embora, aparentemente, a urgência seja um requisito do art. 303 do CPC/2015, a
própria demora para obtenção de uma tutela definitiva é capaz de configurar novo
dano à parte que busca o auxílio do judiciário, sendo desse modo sempre importante
a proteção imediata do direito evidente.

41
Respectivamente: quando as alegações de fato do demandante puderem ser comprovadas
documentalmente e estiverem apoiadas em orientação jurisprudencial consolidada e; caso tratar-se de
demanda reipersecutória com prova documental adequada do contrato de depósito.
42
[...] intencionalmente ou não, nosso legislador parece ter optado por limitar a tutela antecipada
antecedente aos casos de urgência. A opção, por óbvio, não merece respaldo. O ônus do tempo do
processo não pode ser atribuído àquele que aparentemente tem razão. Por isso, examinando o regime
da tutela antecipada antecedente à luz da garantia fundamental da tempestividade da jurisdição,
evidencia-se a necessidade de se interpretar extensivamente o contido no art. 303, do CPC, de
modo a abarcar também, por analogia, as tutelas da evidência.
(MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo Curso de Processo
Civil. v. 2, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017. p.143)
43
BODART, Bruno Vinícius da Rós; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coord.); TALAMINI, Eduardo
(coord.). Tutela de evidência – teoria da cognição, análise econômica do direito processual e
comentários sobre o novo CPC. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. p. 145.

21
Dessa maneira, sendo a tutela de evidência requerida em caráter antecedente
nos moldes do art. 303 do CPC/2015, basta uma interpretação extensiva do artigo 304
do CPC para que abarque também a tutela de evidência conforme segue:
“Art. 304. A tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se
estável se da decisão que a conceder não for interposto o respectivo recurso.
§ 1º No caso previsto no caput, o processo será extinto.
§ 2º Qualquer das partes poderá demandar a outra com o intuito de rever,
reformar ou invalidar a tutela antecipada estabilizada nos termos do caput .
§ 3º A tutela antecipada conservará seus efeitos enquanto não revista,
reformada ou invalidada por decisão de mérito proferida na ação de que trata
o § 2º.
§ 4º Qualquer das partes poderá requerer o desarquivamento dos autos em
que foi concedida a medida, para instruir a petição inicial da ação a que se
refere o § 2º, prevento o juízo em que a tutela antecipada foi concedida.
§ 5º O direito de rever, reformar ou invalidar a tutela antecipada, previsto no
§ 2º deste artigo, extingue-se após 2 (dois) anos, contados da ciência da
decisão que extinguiu o processo, nos termos do § 1º.
§ 6º A decisão que concede a tutela não fará coisa julgada, mas a
estabilidade dos respectivos efeitos só será afastada por decisão que a revir,
reformar ou invalidar, proferida em ação ajuizada por uma das partes, nos
termos do § 2º deste artigo.”44

Mais especificamente, interpretar extensivamente o sentido do termo “tutela


antecipada”, que, como visto anteriormente, pode também se referir a tutela de
evidência por esta também ser uma tutela que antecipa a fruição do direito alegado
em juízo.
Em relação à aplicação analógica das normas da ação monitória a estabilização
da tutela de urgência antecipada, conforme já mencionado e agora retomado, é
interessante perceber que o instrumento da estabilização representa, de certo modo,
um aperfeiçoamento da técnica monitória para situações de urgência da tutela
satisfativa, na medida em que viabiliza a obtenção de resultados práticos diante da
inércia do réu45 .
Estabelecer tal premissa é de fundamental importância para que se legitime a
aplicação do regramento da ação monitória como uma ferramenta adicional e
ferramenta subsidiária, a fim de resolver lacunas no procedimento de estabilização,
levando em conta uma hiporregulamentação específica do CPC quanto ao tema. É
possível afirmar, sem excessos, que a técnica monitória está presente na essência da
estabilização, sendo esta apontada por parte da doutrina “como um mecanismo geral,
que aparentemente seria apto a ‘monitorizar’ o processo brasileiro como um todo”46.

44
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015.
45
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. CIT. p. 604.
46
TALAMINI, Eduardo.Op. cit. p. 25.

22
Ante todo o exposto, é possível estabelecer o seguinte raciocínio: a ação
monitória, conforme dito anteriormente, é um exemplo de tutela de evidência que
preserva sua eficácia e mantém seus efeitos na hipótese de o réu dela não recorrer.
E ainda, como apresentado é a base para o procedimento da estabilização. Ou seja,
aplicar analogicamente as regras da ação monitória à estabilização seria, ao mesmo
tempo, legitimar a aplicação de tal instituto à tutela de evidência e consolidar o
CPC/2015 como regramento uniforme e coeso.

5. FUNDAMENTAÇÃO DESSE ENTENDIMENTO

Admitindo-se a possibilidade de aplicação por analogia do requerimento


antecedente previsto pelo art. 303 e da interpretação extensiva do benefício da
estabilização disciplinado no art. 304 ambos do CPC/2015, de modo a aplicá-los ao
pleito da tutela provisória de evidência, faz-se necessário, agora, expor mais
detalhadamente algumas razões para tal.

5.1. Experiência do référé provision na França

Nos limites dessa pesquisa, não é o objetivo analisar de maneira


exaustiva o instituto francês do référé47, de modo que a sua abordagem tem a única
finalidade de elucidar alguns aspectos essenciais que podem ser úteis para
compreender a técnica brasileira da estabilização da tutela provisória.
O surgimento oficial do instituto em análise remonta ao Édito Real de 22 de
janeiro de 1685 do Châtelet de Paris. O instituto do référé foi, sucessivamente,
disciplinado no CPC de 1806 e depois no vigente CPC francês de 1975, em cujo
primeiro livro encontramos a definição e as regras gerais sobre a demanda, o
procedimento, as decisões e sua recorribilidade, enquanto no segundo livro estão
disciplinadas as diversas figuras dos référés, entre os quais vale mencionar: o référé
classique do art. 808, baseado na urgência; o référé de remise en état do art. 809, §

47
Será utilizada, portanto, uma das finalidades do direito comparado, qual seja, analisar um sistema
estrangeiro com o objetivo de entender e interpretar melhor um instituto de direito interno. Sobre as
diferentes finalidades da comparação jurídica, veja-se: DINAMARCO, Cândido Rangel. Fundamentos
do processo civil moderno. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 2010. v. I. p. 159 ss.; GAMBARO, Antonio;
SACCO, Rodolfo; VOGEL, Louis. Le droit de l’occident et d’ailleurs. Paris: LGDJ, 2014. p. 1 ss.

23
1º; o référé provision do art. 809, § 2º, baseado na evidência; o référé préventif o
probatorie do art. 145, com natureza cautelar.
No Código de Processo Civil brasileiro em vigor, influenciado pelo código
francês48, o instituto da estabilização é inspirado nas medidas francesas de
autonomização da cognição49 , conforme denominadas acima que permitem a
estabilização e autonomização de tutelas sem que haja urgência. Trata-se de
provimento que é tornado estável ante a ausência de oposição do réu à decisão liminar
concessiva, de forma que se caracterizada a sumarização do procedimento
(abreviação do processo e da cognição) em decisão liminar proferida em sede de
cognição sumária.
Contudo, encontra-se ainda pendente de uma maior discussão, aqui no Brasil,
as tutelas provisórias com potencial de efeito estabilizador, sendo que, como visto
anteriormente ainda não existe uma definição quanto ao tema.
Uma situação semelhante também já foi debatida no sistema jurídico francês.
O instituto do référé era, em suas origens, intrinsicamente ligado à noção de urgência,
analisando a origem histórica da ordonnance de référé, o référé era um procedimento
especial, sempre atrelado a urgência. Porém, nas discussões em relação a atual
codificação, a Corte de Cassação, em precedente paradigmático, estabeleceu a ideia
de que, embora tenha nascido como juízo de urgência, o référé também pode ser
concedido nas hipóteses de tutela de evidência.
A decisão no procedimento do référé é provisória, no sentido de não fazer coisa
julgada, mas temporalmente ilimitada, dotada de ampla executoriedade. A inércia das
partes em face dessa decisão fará que ela continue produzindo efeitos, até se tornar
definitiva em razão do decurso do prazo prescricional para propositura de ação para
aprofundar a questão em sede de cognição plena.
A parte final da redação do artigo 809 do Código de Processo Civil francês
destaca a possibilidade de conceder uma tutela provisória para a cessação de uma
desordem manifestamente ilegal. Assim, quando houvesse uma evidente violação de

48
Na própria exposição de motivos do anteprojeto do Novo Código de Processo Civil (BRASIL, 2010)
há declaração expressa no sentido de que há inspiração direta do sistema francês.
49
“Autonomização da cognição” no sentido de desvinculação da cognição sumária em relação à
cognição exauriente para resolver a problemática submetida à jurisdição, isto é, a tutela provisória
estabilizada concedida em sede de cognição sumária é autônoma e suficiente para resolver o mérito
da questão, sendo desnecessária a sentença de cognição exauriente para solucionar a crise de direito
material.

24
uma regra de direito, ainda que não associada à ideia de urgência no provimento
jurisdicional, seria possível a concessão da ordonnance de référé.
Em paralelo, isso pode também ser identificado nos variados tipos de référés
disciplinados no código francês que subsistem por meio de outros fundamentos,
notando-se que, atualmente, o référé classique é o único provimento ainda baseado
principalmente na urgência. Daniel Mitidiero faz um importante esclarecimento em seu
estudo sobre o tema:
“A ordonnance de référé pode servir para regulação antecipada do litígio em
face da urgência (dans tous les cas d'urgence, art. 808; pour prevenir um
dommage imminent, soit pour faire cesser un trouble manifestement illicite,
art. 809) ou da evidência (l'existence de l'obligation n'est pas sérieusement
contestable, art. 809). No primeiro caso, a doutrina fala em référé urgence;
no segundo, référé provision. As ordonnances de référé servem tanto para
conservação (purê sauvegarde, mesures conservatoires) como para
satisfação do direito debatido em juízo (satisfaction anticipée). Em ambos os
casos, o emprego da técnica antecipatória em que se consubstancia o référé
dá lugar a tutelas provisórias atípicas.”50

Desse modo, o sistema francês permite a possibilidade de concessão de tutela


sumária pautada em evidência, dispensando o requisito da urgência para que possa
ser proferido provimento sumário com efeitos estabilizatórios51.

5.2. Ônus do tempo no processo

A tutela de evidência, tal qual a tutela de urgência, são, em última análise,


baseadas na efetividade processual, haja vista que o procedimento comum, com toda
sua demora característica, acarretará em um grande período de tempo para a
satisfação da pretensão do possuidor do direto de fato. Sendo, nesse aspecto,
necessário que o ônus do tempo seja desde o início do processo dividido de forma
justa e lógica.
Junto a isso, a própria morosidade para obtenção de uma tutela definitiva é
apta a configurar novo prejuízo à parte que busca o auxílio do judiciário, não apenas
em casos de urgência contemporânea à ação, mas, também, nas hipóteses em que a

50
MITIDIERO, Daniel. Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil. A técnica Antecipatória
na Perspectiva do Direito Comparado. Ano 10, n. 57, nov/dez 2013.
51
Os référés franceses se estabilizam, mas sempre de modo precário, podendo novamente ser
provocada discussão em sede de ação de cognição plena exauriente, cuja propositura não é limitada
por qualquer prazo de natureza processual, diferente do sistema brasileiro, por sua vez inspirado nos
instrumentos franceses (BONATO, Giovanni. Os référés no ordenamento francês. Revista de
Processo, São Paulo, v. 255, 2016.)

25
situação jurídica da parte demandante está munida de evidência, não sendo
justificável impor exclusivamente o ônus do tempo para a resolução do conflito à parte
que aparentemente tem razão.
Ainda nesse sentido, importante destacar que a diferença entre a tutela de
urgência antecipada e a tutela de evidência são os graus de periculum in mora e
probabilidade do direito. Daí, a tutela de evidência seria a tutela a qual o risco de dano
ao resultado útil do processo pelo passar do tempo seja baixo, e o direito seja
revestido por um alto grau de probabilidade de existir. De outra forma, a tutela
antecipada teria uma grande ameaça de perecimento do direito pela delonga
processual e um nível menor de plausibilidade na pretensão alegada em juízo.
Com isso, depreende-se que a necessidade de uma resposta célere do poder
judiciário está em ambas as formas de tutela.

5.3. Similaridade da tutela de evidência e urgência

Como já dito, é sistematizado pelo Código de Processo Civil de 2015 as duas


espécies de tutelas provisórias (urgência e evidência), elencando algumas regras
gerais que são aplicáveis a ambas as tutelas (artigos 294 a 299 do CPC). Como por
exemplo, no art. 296 do CPC, ao qual traz que “a tutela provisória conserva sua
eficácia na pendência do processo, mas pode, a qualquer tempo, ser revogada ou
modificada”52. Embora, em qualquer hipótese, a concessão da tutela provisória terá
conservada a sua eficácia durante o período de suspensão do processo (hipóteses do
art. 313), salvo decisão judicial em sentido contrário (art. 296, parágrafo único).
A efetividade da tutela provisória está atrelada também ao fato de o juiz ter o
poder de determinar todas as medidas que considerar adequadas para a
concretização da tutela provisória conforme art. 297 do CPC/2015.
A redação do parágrafo único desse dispositivo estabelece que “a efetivação
da tutela provisória observará as normas referentes ao cumprimento provisório da
sentença, no que couber”53. Isso quer dizer que a tutela provisória, quando não for
impugnada ou quando a impugnação se der mediante recurso ao qual não se tenha
atribuído efeito suspensivo, poderá ser executada independentemente do trânsito em

52
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015.
53
BRASIL. Código de Processo Civil. Lei 13.105, de 16 de março de 2015.

26
julgado da decisão que a concedeu ou mesmo da análise do mérito da questão
principal.
Contudo, é importante destacar que tendo havido a execução provisória, ela se
dará por conta e risco do exequente, que ficará obrigado a responder pelos prejuízos
eventualmente causados pela medida caso ela venha a ficar sem efeito. Apesar do
comando legal de observar as normas referentes ao cumprimento provisório da
sentença, de regra, a tutela provisória é concedida via decisão interlocutória. Pode até
ser concedida na sentença, e esse ato decisório, no todo ou somente no tópico
referente à tutela provisória, enseja cumprimento provisório.
Feitas tais considerações, é possível extrair do Código a intenção de dar uma
autonomia as tutelas, de modo, a garantir que tenham o poder de mudar a situação
fática e jurídica de pronto das partes, sendo possível fazer cumprir a medida assim
que concedida.
Em paralelo a isso, a tutela de evidência tem por objetivo antecipar os efeitos
de uma tutela que, ao menos prima facie, provavelmente se transmutará em definitiva
ao final do deslinde do processo. Desta forma, as chances de a estabilização da tutela
de evidência representar uma decisão mais justa são significativas se comparadas às
da tutela antecipada54, que atualmente, é a única com possibilidade de estabilização
de modo expresso na legislação.
Com isso, parece ser justificável que as tutelas de evidência, assim com as a
tutelas de urgência possam se estabilizar, visto que já alteraram a situação das partes
ao antecipar55 a tutela pretendida e se os litigantes assim se conformarem com a
situação e não pretenderem impugnar tal medida não há porque seguir o processo.

5.4. Estabilização da tutela de evidência no procedimento monitório

As ações monitórias já permitiam, antes mesmo do Novo Código de Processo


Civil, a estabilização da tutela concedida em juízo de cognição sumária com base na
evidência, caso a parte integrante do polo passivo não propusesse embargos
monitórios. Nessa medida, antes até do advento da estabilização, a tutela de

54
LESSA, Guilherme Thofehrn. Críticas À Estabilização Da Tutela: A Cognição Exauriente Como
Garantia De Um Processo Justo. Repro Vol. 259. Setembro, 2016, p. 02.
55
Registra-se aqui novamente que antecipar é diferente de conservar, tendo o sentido de satisfazer.
Excluindo desse raciocínio a tutelas meramente conservativas (cautelares).

27
evidência do procedimento monitório poderia se tornar estável no sentido de converter
o mandado inicial (monitório) em mandado executivo sempre que a parte ré não
apresentasse embargos monitórios.
Nessa perspectiva, levando-se em consideração que a estabilização das
tutelas antecipadas possui o mesmo escopo das ações monitórias (as quais, de
maneira precursora, já permitiam um encurtamento do processo no caso de inércia
daquele que compõe o polo passivo da demanda conforme debatido em tópico
anterior), fica claro que a estabilização da tutela de evidência já é uma realidade.
Devendo apenas ser estendida as demais hipóteses de tutela de evidência previstas
no ordenamento jurídico.
Portanto, o legislador ao estabelecer no CPC/2015 a estabilização, apenas
amplia a técnica monitória:
“(o legislador) generaliza a técnica monitória, introduzindo-a no procedimento
comum para todos os direitos prováveis e em perigo que tenham sido objeto
de tutela satisfativa provisória antecedente. O modelo da ação monitória (arts.
700 a 702, CPC) deve ser considerado o geral – é possível, inclusive, pensar
em um microssistema da técnica monitória, formado pelas regras da ação
monitória e pelos arts. 303 a 304 do CPC, cujos dispositivos se
complementam reciprocamente.”56

Por esse motivo, fica claro que ao generalizar o procedimento de estabilização


de uma tutela de evidência, a monitória, às tutelas de urgência antecipadas, deve-se
estendê-lo também para as outras tutelas de evidência, até mesmo por uma questão
de lógica e coesão do Código Civil.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo propôs-se a analisar a possibilidade de o requerimento da


tutela de evidência em caráter antecedente estabilizar seus efeitos, interpretando-se
de forma ampla o regime previsto nos arts. 303 e 304 do Código de Processo Civil de
2015 para ambas as tutelas satisfativas. Isso, ao mesmo tempo em que foi usada a
ação monitória como exemplo de tutela de evidência que preserva seus efeitos
quando não contestada e deve ser aplicada analogicamente também a estabilização
de tutelas provisórias e, dessa forma, corroborar a justificativa da estabilização da
tutela de evidência.

56
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. CIT. p. 617.

28
Feita a introdução, o segundo capítulo, teve como objetivo expor uma visão
ampla do tema contextualizando-o. Para isso foi discutido a omissão do CPC quanto
ao tema e em seguida apresentado as divergências formadas a partir dessa lacuna
na legislação.
O terceiro capítulo, analisou os conceitos e objetivos do instituto de
estabilização de tutelas, que a princípio, aplicar-se-ia somente a tutela de urgência
antecipada. Contudo, percebe-se que descartar de plano a possibilidade de
estabilização de decisões em tutela de evidência pode ser uma perda de oportunidade
de se encerrar processos mais rapidamente. Daí, no último tópico do capítulo, foi
estabelecido um importante paralelo entre a estabilização de tutelas e a ação
monitória a fim de elucidar melhor o tema.
No capítulo seguinte, por meio de técnicas de integração do ordenamento
jurídico, concluiu-se que é plenamente possível e plausível a aplicação da
estabilização nas tutelas de evidência, que podem também ser requeridas de modo
antecedente e estabilizarem quando o réu não contestar a decisão do magistrado que
concedeu a tutela.
O último capítulo, por sua vez, buscou aprofundar em questões fundamentais
para entender e justificar a estabilização da tutela de evidência. Passando,
primeiramente, pela origem no código francês do instituto da estabilização a fim de
que se busque maior aproximação do código processual com o modelo que inspirou
sua criação.
Logo após, foi possível notar que o fator temporal justifica a aplicação nas duas
espécies de tutela da estabilização e não somente na tutela de urgência antecipada.
Posteriormente, foi analisada a similaridade nos fundamentos das tutelas provisórias
sendo novamente reforçado a necessidade de um tratamento equivalente entre as
tutelas satisfativas.
E finalmente, usando da premissa entre a relação de derivação da estabilização
e o procedimento monitório foi possível concluir pela aplicação ampla daquela em
relação as tutelas provisórias antecipadas urgentes e evidentes. Na medida em que o
regramento da ação monitória deve ser supletivo ao regramento da estabilização.
Assim, pode-se concluir que a hipótese básica do presente trabalho foi
confirmada, sendo possível uma interpretação dos arts. 303 e 304 do CPC/2015 a fim
de aplicá-los, também, às hipóteses de tutela de evidência, tendo em vista: a
sistematicidade da norma processual; a história e a teleologia que guiaram sua

29
codificação; a necessidade de uma justa divisão do ônus do tempo inerente a todos
os mecanismos processuais voltados à promoção da celeridade e efetividade da
justiça; como também a tutela de evidência do mandado monitório, que representa
analogicamente um importante alicerce à técnica de estabilização da tutela provisória
satisfativa.
Aplicar a estabilização também à tutela de evidência não se trata de
desprestigiar a tutela provisória, muito menos suprimir o contraditório do réu, visto que
este já é postergado nas hipóteses em que são passíveis de concessão antes da oitiva
da parte ré. Mas significa, por outro lado, enriquecer nosso ordenamento jurídico com
essa possibilidade, na medida em que se habilita uma ferramenta a mais para se
prover justiça de maneira eficiente. Acredita-se que a aplicação da estabilização à
tutela de evidência constitui um passo importante em prol da economia processual,
da duração razoável do processo e do acesso à justiça de forma efetiva.

30
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