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Resumo: O Novo Código de Processo Civil Abstract: The New Code of Civil
(Lei 13.105/2015) consagrou o Procedure (Law 13.105/2015) enshrined the
entendimento jurisprudencial já existente da existent jurisprudential understanding of the
possibilidade de distribuição dinâmica do possibility of a dynamic distribution of the
ônus da prova. Tal instituto é trazido como burden of proof. The institute is brought as
exceção à regra contida no caput do artigo an exception to the rule contained in the
373 do CPC, e é regulamentado em seus article 373’s caput, and its regulated by its
parágrafos, que trazem alguns parâmetros paragraphs, which bring some parameters
para sua aplicação. Neste contexto, o to its application. In this context, the
presente trabalho visa discutir a present work aims to discuss the
dinamização da distribuição do ônus da dinamization of the distribution of the
prova e, tendo em vista seus impactos burden of proof and, in view of its
diretos no processo, qual seria o momento immediate impacts on the process, what
adequado para sua inversão por decisão would be the suitable moment to its
judicial, conforme prevê o § 1º do inversion by judicial decision.
dispositivo.
Keywords: Código de Processo Civil –
Palavras-chave: Código de Processo Civil Burden of proof inversion – Article 373,§
– Inversão do ônus da prova – Artigo 373,§ 1º.
1º.
1. INTRODUÇÃO
1
CURY, Augusto Jorge. DECISÃO SOBRE ÔNUS DA PROVA: O MOMENTO ADEQUADO À SUA INVERSÃO
JUDICIAL. Revista de Processo. vol. 277/2018. p. 79-110.
2
Entretanto, tais alterações na regra de ônus probatórios devem ser aplicadas com
cautela, especialmente em sua modalidade judicial, haja vista a necessidade de se
observar a igualdade de tratamento às partes, o respeito ao efetivo contraditório e,
principalmente, o momento de sua aplicação.
Neste contexto, o presente estudo busca, inicialmente, fazer uma breve reflexão acerca
do direito probatório no ordenamento jurídico brasileiro, discutindo a noção de prova no
processo e sua importância.
A prova, no âmbito do processo, pode ser conceituada em dois sentidos: objetivo, como
o meio hábil a demonstrar a existência de um fato; e subjetivo, como a certeza originada
quanto ao fato em virtude do instrumento probatório.5
Do ponto de vista geral, a prova pode ser definida como o instrumento através do qual
se propicia a formação da convicção do juiz sobre fatos caracterizados como
controvertidos no processo.6
Para Fredie Didier Jr., Paula S. Braga e Rafael A. Oliveira 7, no sentido jurídico o
conceito de prova possui três acepções: o ato de provar, ou seja, a atividade probatória
em si; o meio de prova propriamente dito, compreendendo-se assim as técnicas
empregadas para se extrair a prova; ou o resultado dos atos ou meios de prova que
foram produzidos.
2
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum – vol. 1. 58. Ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense, 2017. P. 130
3
Idem p. 867-868
4
CURY, Op. Cit.
5
Idem ibidem
6
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini Grinover; DINAMARCO, Cândido Rangel.
Teoria geral do processo. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 395.
7
DIDIER JR. Fredie. BRAGA, Paula Sarno. OLIVEIRA, Rafael Alexandria. Curso de direito processual civil –
vol. 2: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela provisória. 13 ed.
rev, atual e ampl – Salvador: Ed. Jus Podivm, 2018. p.48
8
Op. Cit. MARINONI, ARENHART, MITIDIERO, p. 259
4
Assim, a pretensão das partes é justificada pelos fatos por elas invocados, incumbindo a
elas, em regra, provar a veracidade das alegações de fatos que sustentam e podem
corroborar com a tese por elas aduzida.
A comprovação pelas partes dos fatos alegados em petição inicial, pelo autor, ou em
contestação, pelo réu, é prerrogativa que traduz não mera faculdade, mas também um
direito constitucional, encontrando respaldo tanto na garantia de acesso à Justiça (art. 5º,
inciso XXXV, da Constituição Federal), quanto nos direitos ao contraditório e à ampla
defesa (art. 5º, LV, da Constituição Federal).
Nos dizeres de Eduardo Cambi, sem o direito à prova, as garantias da ação e da defesa
careceriam de conteúdo substancial, já que impedir que a parte tivesse direito à prova
significaria privá-la dos meios legítimos de acesso à ordem jurídica justa9.
As partes que adquirem o direito à prova, para Araken de Assis 11 também tem ônus de
provar as respectivas alegações, a fim de que se obtenha o efeito pretendido. As partes,
concomitantemente, possuem o direito e o ônus de provar as alegações de fato. Aqui,
entende-se como “ônus” um encargo dirigido à parte, é a conduta que se espera da parte,
no processo.
Assim, tem-se que o ônus da prova é regra imposta a determinado sujeito no processo,
que poderá ser prejudicado caso não o observe, uma vez que suas alegações não
passarão de meras hipóteses lançadas no processo.
O Código de Processo Civil de 1973 já previa, em seu artigo 333 (?), regra de
distribuição do ônus da prova, que se dá em virtude da posição ocupada pela parte no
processo, bem como o tipo de alegação de fato que se pretende comprovar.
A regra geral do Código de 73 foi mantida pelo Novo Código de Processo Civil, que
trata do assunto em seu artigo 373, que dispõe:
_______________________
vez que simplesmente existe ou não existe. Portanto, busca-se, com a prova, a
comprovação da veracidade da alegação do fato.
Nos dizeres de Eduardo Cambi, sem o direito à prova, as garantias da ação e da defesa
careceriam de conteúdo substancial, já que impedir que a parte tivesse direito à prova
significaria privá-la dos meios legítimos de acesso à ordem jurídica justa15.
A prova como um dever das partes é evidenciada pelo artigo 378 do Código de Processo
Civil, que dispõe que “ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário
para o descobrimento da verdade”.
O dever probatório das partes está intimamente ligado ao poder instrutório do juiz, que
se manifesta através do artigo 370 do Código de Processo Civil. Ele decorre do interesse
estatal de que a lide seja composta de forma justa e segundo as regras do direito. O juiz,
no processo moderno, como nos ensina Humberto Theodoro Júnior17, deixou de ser
simples árbitro diante do duelo judicial entre as partes, e adquiriu poderes para,
ativamente, pesquisar a verdade e bem instruir a causa.
Contudo, este poder não é absoluto, encontrando limites nas regras de distribuição do
ônus processual e em presunções legais, de modo que a vontade ou a conduta da parte
influi decisivamente sobre a prova e afasta a iniciativa do juiz.
A limitação do poder instrutório do juiz encontra óbice, por exemplo, quando o réu
deixa de apresentar contestação ou de impugnar algum fato narrado na inicial e a ação
versa sobre direitos disponíveis, caso em que ocorrerá presunção de veracidade e ao juiz
15
CAMBI, Eduardo. Direito Constitucional à prova no processo civil. São Paulo: RT, 2001, p. 113.
16
Idem, p. 261.
17
Op. Cit. P. 884
7
não será dado produzir prova de sua iniciativa para contrariar a presunção, nos termos
do artigo 355 e 374, IV, do CPC.
Assim, conclui-se que a prova, no direito processual civil, não consiste meramente em
direito das partes, mas também se trata de um dever e de instrumento para a atividade
jurisdicional.
Assim, a princípio, temos que é possível que as partes dispusessem livremente sobre as
provas, tendo em vista que inexiste qualquer vedação neste sentido no Código de
Processo Civil. A convenção sobre provas já foi admitida pelo Fórum Permanente de
Processualistas Brasileiros, através do enunciado nº 21, que dispõe: “são admissíveis os
seguintes negócios, dentre outros: acordo para realização de sustentação oral, acordo
para ampliação do tempo de sustentação oral, julgamento antecipado da lide
convencional, convenção sobre prova, redução de prazos processuais”.
Seria possível, por exemplo, que as partes redistribuíssem livremente o ônus da prova,
alterassem a ordem das provas, ou previamente estipulassem quem seria responsável
pelas despesas de determinada prova, ou, ainda, excluíssem a possibilidade de
realização de determinada prova no processo.
Assim, temos que o negócio jurídico processual não poderá, por exemplo, facultar a
apenas uma das partes a produção de provas, por exemplo, em respeito ao princípio do
8
contraditório. Ou então, que será admitido o uso de certa prova considerada ilícita, sob
pena de violação ao princípio da vedação de prova ilícita.
Além dos limites impostos a qualquer tipo de negócio jurídico processual, no que tange
especificamente a prova, entendemos que a realização de negócio processual também
encontra óbice quando em confronto com os poderes instrutórios do juiz. Conforme
visto no tópico anterior, o juiz é dotado de poderes para instruir o processo, podendo,
inclusive, produzir provas de ofício. Trata-se de prerrogativa oriunda da jurisdição 18,
esta que é atividade privativa do Estado e, portanto, não está sujeita ao acordo de
vontade das partes.
O entendimento de que a vontade das partes não pode atingir a esfera de atuação do juiz
é também sustentando por Cassio Scarpinella Bueno19, que registra: “por tal razão, ao
menos por ora, não vejo como aceitar convenções processuais sobre: (i) deveres-
poderes do magistrado ou sobre deveres regentes na atuação das partes e de seus
procuradores (...)”. Grifo nosso.
Haja vista que o negócio jurídico processual, via de regra, produz efeito apenas entre as
partes que o celebraram, parece-nos indevida a vinculação do juiz com a supressão de
suas prerrogativas no processo. Entendemos que, por se tratar o processo de coisa
pública, a vontade das partes não deve prevalecer sobre os poderes do estado-juiz.
Caso as partes entendam pela aplicação do pacto firmado e optem, por exemplo, por não
produzir determinado tipo de prova, deverão, ao nosso ver, sujeitar-se às consequências
de sua omissão no processo, como, por exemplo, o julgamento pelas regras do ônus da
prova e eventuais sanções por ato atentatório.
O que não se pode admitir, entretanto, é que as partes tomem por completo as rédeas do
processo e nele assumam papel de protagonistas, haja vista que o processo, no direito
brasileiro, é público e, portanto, não pode ser privatizado pela vontade das partes.
4. Conclusão
18
Conforme apontam Antonio Carlos de Araujo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel
Dinamarco, jurisdição é “uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos
interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com
justiça”
(CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral
do processo. 25. Ed. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 147.)
19
BUENO, Cassio Scapinella. Manual de direito processual civil: inteiramente estruturado à luz do novo
CPC, de acordo com a Lei n. 1356, de 4-2-2016. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2016. P. 2017.
9
Daí se chega à conclusão de que os negócios jurídicos processuais sobre prova deverão
preservar os poderes instrutórios do juiz, evitando-se que, assim, sejam suprimidas suas
prerrogativas. Tal análise deverá ocorrer caso a caso, já que nem todo negócio jurídico
processual sore prova implicará em supressão dos poderes de instrução do magistrado.
5. Referências
CAMBI, Eduardo. Direito Constitucional à prova no processo civil. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2001.
COSTA. Adriano Soares. Para uma teoria dos fatos jurídicos processuais. Doutrinas
Essenciais - Novo Processo Civil. vol. 2/2018. p. 959 – 996.
DIDIER JR. Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 19ª ed. Salvador: Ed. Jus
Podivm. 2017, v. 1. p. 426-427.
DIDIER JR. Fredie; NOGUEIRA, Pedro Henrique. Teoria dos Fatos Jurídicos
Processuais. 2ª ed. rev, amp., e atual. Salvador: Ed. Jus Podivm. 2013.
MACÊDO, Lucas Buril de. PEIXOTO, Ravi de Medeiros. Negócio Processual Acerca
da Distribuição do Ônus da Prova. São Paulo: Revista de Processo, vol. 241/2015, p.
463 - 487.
11
MEDINA, José Miguel Garcia. Direito processual civil moderno. 2ª ed. rev. atual. e
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016.