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1.

Vocabulário Jurídico

1.1 Vocabulário Jurídico: Linguagem Técnica; sentido das palavras na linguagem jurídica;
sinônimos, antônimos, parônimos, homófonos.

A linguagem jurídica é utilizada por determinadas pessoas em situações específicas devido à


necessidade de, no exercício profissional, terem de conceituar fenômenos relacionados ao Direito,
bem como de estabelecer as suas correspondentes noções, que em regra não têm o mesmo ou não
encontram qualquer significado no uso corrente.
O aproveitamento semântico (acepção) de uma palavra (lexia) para o campo teórico-prático do
Direito revela um problema de vocabulário, pois a primeira dificuldade, que existe em qualquer
ciência e precisa ser convenientemente enfrentada, é sem dúvida a da nomenclatura ou a da
exatidão, devendo o termo técnico ser empregado, porque absolutamente indispensável não só para
a compreensão rápida das idéias, pela economia de tempo, como também para a mais perfeita
identificação dos fenômenos que se discutem.
O Direito é uma ciência, aplicando-se-lhe a máxima onde quer que exista uma ciência, existe uma
linguagem correspondente. E, por isso, detém vocabulário refinado e específico, com terminologia
própria, sem, porém, se afastar totalmente dos sentidos originários anotados nos verbetes dos
dicionários, pois com estes devem estar em harmonia no sentido de similaridade representativa das
idéias entre emissor/receptor.

O SENTIDO DAS PALAVRAS NA LINGUAGEM JURÍDICA


A clareza das idéias está intimamente relacionada com a clareza e precisão das palavras.
No Direito, é ainda mais importante o sentido das palavras porque qualquer sistema jurídico, para
atingir plenamente seus fins, deve cuidar do valor nocional do vocabulário técnico e estabelecer
relações semântico-sintáticas harmônicas e seguras na organização do pensamento.
Três são os tipos de vocabulário jurídico: unívocos, equívocos e análogos.
Unívocos: são os que contêm um só sentido. A codificação vale-se deles para descrever delitos e
assegurar direitos, e.g.: furto (art. 155 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel);
roubo (art. 157 CP - subtrair, para si ou para outrem, coisa móvel alheia mediante grave ameaça ou
violência, depois de reduzir a resistência da pessoa).
São unívocas, ainda, palavras pertencentes ao jargão do profissional do Direito:
ab-rogar (revogar totalmente uma lei);
derrogar (revogar parcialmente uma lei);
ob-rogar (contrapor uma lei a outra);
repristinar (revogar uma lei revogadora).
Bom de lembrar que a repristinação não é automática, pois não se restaura por ter a lei revogadora
perdido a vigência nos termos do art. 20, § 30 da LICE.
Equívocos: são os vocábulos plurissignificantes, possuindo mais de um sentido e sendo
identificados no contexto.
Sequestar
Direito Processual: apreender judicialmente bem em litígio.
Sequestrar
Direito Penal: privar alguém de sua liberdade de locomoção.

O profissional do Direito deve empreender bastante esforço semântico ao usar as palavras


plurissignificativas. Para tanto, não deve empregar acepções que não pertençam ao jargão jurídico,
ou, se o forem, mas tiverem natureza equívoca, devem ser acompanhadas de especificadores que
resguardem o sentido pretendido.
Análogos: são os que não possuindo étimo comum, pertencem a uma mesma família ideológica ou
são tidos como sinônimos.

Resílição (dissolução pela vontade dos contraentes)


Resolução (dissolução de um contrato, acordo, ato jurídico)
Rescisão (dissolução por lesão do contrato)

SEMÂNTICA

Conceito: É o estudo da significação das palavras e das suas mudanças, através do tempo ou em
determinada época.
A semântica pode ser sincrônica e diacrônica.
A significação das palavras ( sinonímia - homonímia - paronímia e polissemia).
a linguagem figurada (figuras de linguagem) - que constitui sozinha, uma ciência especial chamada
estilística.
A significação das palavras:
Significante: é a forma é um elemento material , visível e sensível.
Significado: é uma idéia, um conteúdo semântico, um elemento conceitual que compreende:
Denotação e Conotação;

Denotação: é a propriedade que possui uma palavra de limitar-se a seu primeiro significado, aquele
imediatamente sugerido pelo significante.
Ex: pé (*extremidade da perna).
Conotação: É a ampliação do seu campo semântico de caráter interpretativo, subjetivo, dentro de
um contexto tendo outros significados.
Ex. pé - "ela não teve pé de romper comigo (pretexto).
" Em que pé está a sua empresa" ( situação).
" O pé da estátua" (base).
" O pé de cana " (haste , caule).
" pé da cama - pé da mesa" (parte inferior de vários objetos)

sinonímia, antonímia, homonímia e paronímia

Sinonímia

Sinonímia é a relação que se estabelece entre palavras que apresentam sentido igual ou semelhante:
zelo - cuidado
economizar - poupar
branco - alvo
Antonímia
Antonímia ao contrário, a relação que se estabelece entre duas palavras de sentido oposto,
Zelo - descuido
economizar - gastar
branco - preto

Homonímia

I- Homonímia é a relação que se estabelece entre palavras da mesma estrutura fonológica, no plano
do significante.
As palavras homônimas podem ser:
homógrafas heterofônicas - são as palavras iguais na escrita e diferentes na pronúncia:
colher (verbo) - colher (substantivo)
jogo (1a pessoa do presente do ind. do verbo jogar) - jogo (substantivo)
homófonas heterográficas - são as palavras iguais na pronúncia e diferentes na escrita:
concertar - consertar
censo - senso
homófonas homográficas - são as palavras iguais na pronúncia e na escrita:
livre (verbo) - livre (adjetivo)
alvo (substantivo = coisa que se deseja acertar) - alvo (adjetivo = branco)

Paronímia

Paronímia é a relação que se estabelece entre palavras semelhantes na pronúncia e na escrita, mas
diferentes no significado.
Seguem alguns exemplos na área jurídica:
Absolver (perdoar)
Absorver (assimilar)
descriminar (tirar o crime)
discriminar (diferenciar)
destratar (ofender)
distratar (romper o trato)
elidir (suprimir)
ilidir (refutar. anular)
emitir (mandar para fora)
imitir (colocar, investir em)
flagrante (manifesto, evidente)
fragrante (perfumado)
infligir (impor pena)
infringir (desobedecer)
mandado (ordem)
mandato (procuração)
1.2 Vocabulário Jurídico: brocardos, expressões latinas, gíria, preciosismo, neologismo,
solecismo, estrangeirismo.

Brocardo

Um brocardo (em latim: brocardus) é um princípio ou axioma jurídico, particularmente escrito em


latim, e que expressa concisamente um conceito ou regra maior. A origem da palavra vem da
latinização de Burckard, ou Burchard , o bispo de Worms, Alemanha, entre os anos de 1000 a 1025,
e autor de uma compilação de vinte volumes de direito canônico chamada Regulae Ecclesiasticae
(regras eclesiásticas), que incluíam diversas máximas e axiomas.
Por exemplo, a sentença Inadimplenti non est adimplendum ("A parte não precisa respeitar sua
obrigação se a contra-parte não respeitar a que lhe cabe."), é usada no Direito Civil para
resumidamente indicar um princípio (adotado em alguns sistemas jurídicos) concernente aos
contratos sinalagmáticos (bilaterais).
Ignorantia juris non excusat 
"A ignorância da lei não é desculpa.", ou seja, não saber que certa ação ou omissão é proibida
pela lei não é desculpa para ninguém. No Direito brasileiro, esse brocardo está positivado na
Lei de Introdução ao Código Civil, em seu artigo 3º, e no Código Penal, em seu artigo 21,
caput, 1ª parte.
In claris non fit interpretatio 
"No que é claro não cabe interpretação." Quando a regra é claramente inteligível, não há
necessidade de que seja interpretada.
Iura novit curia 
"O juiz conhece a lei.", ou seja, tecnicamente não há necessidade que se explique a lei ou
sistema legal a um juiz ou tribunal em qualquer processo ou petição.
Nullum crimen, nulla poena sine praevia lege poenali 
"O crime é nulo, a pena é nula sem prévia lei que o defina." No Código Penal Brasileiro, esse
brocardo é positivado pelos princípios da Anterioridade da Lei e da Reserva Legal ou
Legalidade em seu artigo 1º, que prega: "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há
pena sem prévia cominação legal."
Pacta sunt servanda 
"Os pactos devem ser observados", ou "Os contratos devem ser cumpridos" é um dos
princípios mais utilizados no Direito, sendo inclusive consagrado no artigo 27 da Convenção
de Viena sobre o Direito dos Tratados, que reza: "Todo tratado em vigor obriga as partes e
deve ser cumprido por elas de boa fé."
Expressões Latinas

O emprego de expressões latinas na linguagem forense não é mero diletantismo.


O Latim, por ser uma língua sintética, traz ao texto brevidade e também clareza.
Ex.: Se uso ad corpus quero dizer: "venda que compreende uma coisa certa, um todo
que se contém dentro de limites declarados sem menção de extensão e venda por um
preço único".
Em Português temos a cláusula "de porteira fechada" que se refere a benfeitorias,
veículos e semoventes, porém não às dimensões do imóvel.

Assim o advogado é obrigado a conhecer as expressões mais correntes, porquanto, se


não usá-las, deve compreendê-las, quando lê doutrina, razões e julgados, uma vez que
os grandes tratadistas as empregam; bem como o fazem os Tribunais.

A contrario sensu. Por razão contrária; ao contrário.


A facto ad jus non datur consequentia. O fato por si não constitui direito.
Animus domini. Intenção de domínio; (Intenção de ser o dono ou de possuir a coisa).
Animus donandi. Intenção de doar.
Animus furtandi. Intenção de roubar; furtar.
Animus habendi. Intenção de ter; possuir.
Animus injuriandi. Intenção de injuriar.
Animus jocandi. Intenção de gracejar.
Causa mortis. A causa da morte. (Na técnica jurídica, serve para distinguir os atos de última
vontade ou os atos de transmissão de propriedade, após a morte, dos contratos ou atos de
transmissão entre vivos, inter vivos. Também se emprega com relação ao imposto pago
sobre a importância líquida da herança ou legado).
Culpa in contrahendo. A culpa numa contratação, no contratar.
Culpa in eligendo. A culpa ocorrida quando se escolhe a pessoa que deve prestar uma
obrigação.

Gíria
O Direito está ligado à vida diária de todos. Todos os dias praticamos atos jurídicos de
todo tipo, como a simples compra de uma passagem de ônibus, de um jornal, de uma
mercadoria, o pagamento de um tributo, a autorização dada a um filho para determinado
fato, pagamos ou cobramos um aluguel, etc... Daí porque a linguagem comum do povo,
a gíria e os modismos têm uma importância muito grande e é necessário que seja
acompanhada pelo estudioso, sob pena de amanhã não se fazer entender pelos outros
com os quais mantém diálogo.
A gíria é muito efêmera, mas nem por isso deixa de figurar em jornais, peças de teatro e
livros de sua época, e alguém tem de registrar isso para que um futuro leitor possa
entender um escrito de hoje. Entre os marginais, no foro, nas aulas, nas delegacias, a
gíria é muitíssimo usada.
Há interrogatórios forenses, principalmente criminais, que não passam de gíria de ponta
a ponta, e juízes, advogados e leitores têm de estar por dentro dessa linguagem.
A propósito de gíria, há um exemplo de um professor de direito romano que conta o
seguinte fato: depois de explicar a formação do Digesto, mandou que um aluno repetisse
a exposição. O aluno muitas vezes disse: "então o cara reuniu os juristas", "então o cara
promulgou", etc. O professor tentou interromper o aluno para simplesmente dizer que
este "cara" era nada mais nada menos que o imperador Justiniano, mas os companheiros
do aluno imediatamente replicaram: "não precisa não professor, estamos entendendo
perfeitamente".
É evidente que contamos esse episódio para mostrar o poder de comunicação da gíria e
não para que sirva de modelo para aulas ou trabalhos científicos, mas se o professor
achar que obtêm maior rendimento permitindo o emprego da gíria,seria um absurdo
impedir a sua utilização.
É verdade que muitos filólogos têm prevenção contra a gíria porque consideram-a como
causa de empobrecimento do vocabulário de uma língua na medida em que uma palavra
de gíria serve para designar várias coisas completamente diferentes. Não concordamos
com esse ponto de vista, pois acreditamos que o empobrecimento da linguagem do
diálogo da mocidade em nossos dias não se deve à gíria, mas sim ao embrutecimento
político-ideológico que esta mocidade tem sofrido com os regimes autoritários impostos
ao país (o autor escreveu tal verbete durante o regime da ditadura).
É por não ter o direito de falar livremente ou de questionar, que nasce a pobreza de
vocabulário e floresce a gíria, sendo esta mais um efeito que outra coisa. Por outro lado,
a gíria também faz parte da explosão vocabular contemporânea, devido a uma maior
liberdade no campo da moral e dos costumes de que goza a mocidade de hoje, que cria
novas palavras ou formas de expressão para temas que antigamente lhe era vedado
questionar. Estes velhos problemas de gerações anteriores lhe foram transmitidos com
um instrumental vocabular inadequado, obrigando-a a inventar novos termos para
analisá-los.
Também contribui para o fato a perplexidade perante a dinâmica complexa de
problemas e novos conhecimentos que se sucedem com muita rapidez. Gíria é também
sintoma de afirmação ou protesto social.

Ver exemplos de gíria

Ver sobre preciosismo


NEOLOGISMOS
Neologia: É o constante renovar do vocabulário.
Neologismo: É o produto, o resultado de tal processo de criação lexical. Isto é, trata-se da
realidade da transformação do que já existe na língua pelo processo de derivação e
composição.
TIPOS DE NEOLOGISMOS.
NEOLOGISMO SEMÂNTICO: se empresta novo sentido a palavra já em uso.
Palavra Antes Depois
Formidável Terrível, descomunal Excelente
Dissabor Falta de sabor Contrariedade
Arara Ave Pessoa irritada, nervosa
Insolente Fora do comum Grosseiro

Na linguagem jurídica: Refratário, obstinado.


NEOLOGISMOS EFÊMEROS:
Cumpre seu papel em determinadas épocas e desaparece.

Oligarcia (criado no Estadão para o ex governador de Mato Grosso Garcia Neto).


Alunissagem (aterrisagem na lua).
Jaguncêio (Guimarães Rosa ).
Ninguenzada (Darcy Ribeiro).
NEOLOGISMO POLÍTICO.
Collorgate - Mogigate - Eliseugate -
WATERGATE - prédio onde se realizaram as maracutaias do Presidente americano Nixon.
Daí a derivação.
BADERNAÇOS - PANELAÇOS - BUZINAÇOS (característicos de nossa estrutura social).
Partidocracia Fujimorização (Fujimori - Presidente do Peru).
Conta-fantasma
NEOLOGISMOS DO CARNAVAL
Sambódromo - Frevança - Samba enredo , etc.
NEOLOGISMOS DO FUTEBOL
Galoucura - Flamante – Fluchopp

Ver solecismo

ESTRANGEIRISMOS
Influência de uma língua em outra em decorrência normal do intercâmbio político e cultural.
Quando as palavras estrangeiras tiverem correspondentes no nosso vernáculo, daremos
preferência ao uso das nossas palavras, salvo se houver alguma razão de ordem estilística ou
outra que justifique a forma alienígena.
É importante dar uma roupagem nova às palavras estrangeiras com o nosso vernáculo,
incorporando-as ao nosso léxico como ocorreu com:
Abajur - Abat-jour
Buquê - Bouquet
Conhaque - Cognac
complô - complot (fr.)

ADAPTAÇÕES NO NOSSO LÉXICO DAS PALAVRAS ESTRANGEIRAS.

NA ÁREA JURÍDICA (palavras que não sofreram adaptação).


DRAWBACK s.m. (pal. ing.) Restituição de impostos aduaneiros pagos sobre a importação de
matérias-primas no momento da exportação dos produtos que elas serviram para fabricar.
apartheid (ingl.) -- Sistema oficial de segregação racial praticada na África do Sul para proteger
a minoria branca.
best-seller (ingl.) -- o livro que se vende melhor; obra que é grande êxito de livraria
commodity (ingl.) -- produto (pl.: commodities)
common law (ingl.) -- lei não-escrita baseada em costumes e decisões dos tribunais ingleses, e
não em leis do Parlamento
expert (ingl.) -- experto, perito
franchising (ingl.) -- franquia
freelancer (ingl.) -- pessoa que executa serviços profissionais sem vínculo empregatício
free-shop (ingl.) -- Local de venda de produtos sem taxa de importação.
holding (ingl.) -- sociedade financeira que possui ações de outras sociedades
impeachment (ingl.) - impedimento
leasing (ingl.) -- contrato de uso de coisa mediante pagamento mensal; ao final do prazo, pode
tornar-se proprietário; arrendamento mercantil
lobby (ingl.) -- Pessoa ou grupo que, nas ante-salas de órgãos decisórios, procura influenciar
os representantes do povo no sentido de fazê-los votar segundo os próprios interesses ou dos
grupos que representam.
marketing (ingl.) -- conjunto de estudos e medidas que provêem estrategicamente o
lançamento e a sustentação de um produto ou serviço no mercado consumidor
mise en scène (fr.) -- organização material de evento; encenação
overdose (ingl.) - superdose
performance (ingl.) - desempenho
shopping center (ingl.) -- centro comercial
spray (ingl.) -- aerossol
spread (ingl.) -- diferença entre o preço de compra e de venda de um título ou moeda, na
linguagem financeira
staff (ingl.) -- Grupo de trabalho de assessoramento ou vinculado ao executivo principal.

1.2 Vocabulário Jurídico: formas de referência e tratamento

procurar

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