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TEORIA GERAL DO PROCESSO

Leticia Lobato Anicet Lisboa


Phd. em Direito
Professora Adjunta da UFRRJ
leticialobatoalisboa@gmail.com
CRONOGRAMA

Aula 1 (11/06) – O PROCESSO CIVIL


Aula 2 (18/06) – A LEI PROCESSUAL CIVIL
Aula 3 - (25/06) – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL
Aula 4 (02/07)- INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL: JURISDIÇÃO
Dia 04/06– Não teremos aula!
Aula 5 (09/07) – INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL: COMPETÊNCIA
Dia 20/08 – Não teremos aula!
Aula 6 (16/07) – INSTITUTOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL: AÇÃO
Aula 7 (23/07) – Primeira avaliação
Aula 8 (30/07) – O DIREITO DE DEFESA
Aula 9 (06/08) – O PROCESSO E O PROCEDIMENTO + Segunda avaliação
Aula 15 (13/08) – Vista de prova
Aula 16 (27/08) – Aplicação da prova optativa

As aulas síncronas ocorrerão sextas-feiras às 10:00 pelo Google meet


EMENTA

Noções preliminares. Normas processuais civis. Jurisdição. Competência.


Ação. Processo.
Organização Judiciária.
BIBLIOGRAFIA

Direito Processual Civil, 12ª Edição – Marcus Vinicius Rios Gonçalves


Curso de Direito Processual Civil, 17 ed, 2015 – Fredie Didier Jr.
Avaliações

1ª Avaliação escrita assíncrona (obrigatória)


- Dia 23/07 – Avaliação escrita composta por questões (enviada após a aula)
- Prazo para entrega 24 horas: Dia 24/07/2021
- Pode ser feita em grupo e com consulta, mas cada aluno deve enviar seu arquivo para fins de registros de
notas no sistema.
- Será enviado pelo google docs

2ª Avaliação escrita assíncrona (obrigatória)


- Dia 06/08 – Avaliação escrita composta por questões (enviada após a aula)
- Prazo para entrega 24 horas: Dia 06/08 às 12:00.

Optativa – Síncrona
27/08
Último encontro e prova optativa oral
Aula 1 – O PROCESSO CIVIL

INTRODUÇÃO

- O Estado tem o poder-dever de solucionar conflitos de interesses.


- O ser humano, naturalmente gregário, envolve-se, com frequência em conflito de interesses.

O Estado é incumbido de zelar pela paz social.


Portanto, edita normas estabelecendo direitos e
deveres de cada indivíduo.
Quando as regras de conduta (direito material) são
violadas surge o conflito de interesses (Fenômeno
Sociológico).

Quando o envolvido busca o judiciário (Estado-Juiz) para a


solução de conflitos, então o processo terá início o
processo, cujo fim é perscrutar os mecanismos por meio
dos quais o Estado-Juiz intervirá na solução dos conflitos a
ele levados.
Aula 1 – O PROCESSO CIVIL

1.1. Conceito
“É o ramo do direito que contém as regras e os princípios que tratam da jurisdição civil e da aplicação da Lei aos
casos concretos, para a solução dos conflitos de interesse pelo Estado-Juiz”.
Marcus Vinicius Rios Gonçalves.

O processo pode ser compreendido como método de criação de normas jurídicas, ato jurídico complexo
(procedimento) e relação jurídica.
Fredie Didier Jr.

PROCESSO CIVIL = CONFLITO DE INTERESSES + PRETENSÃO LEVADA AO ESTADO JUIZ

RELAÇÃO DE DIREITO MATERIAL RELAÇÃO DE DIREITO PROCESSUAL

JUIZ
A B
A B
Aula 1 – O PROCESSO CIVIL
1.2. Ramo do Direito Público
O estado figura como um dos participantes.
Os princípios e normas que o compõem regem a atividade jurisdicional, bem como a dos litigantes, frente à
jurisdição.

1.3. Direito material x processual

RELAÇÃO DE DIREITO MATERIAL RELAÇÃO DE DIREITO PROCESSUAL

A B JUIZ

A B

As normas de direito material indicam os direitos


individuais ou coletivos.
As normas do processo são instrumentais.
Atribuem interesse primário ao titular.
Demonstram interesse secundário, instrumento para
Ex: direito à herança, direito de postular
fazer valer o direito material desrespeitado.
alimentos.
Aula 1 – O PROCESSO CIVIL

1.4. A instrumentalidade do processo


- O processo é o instrumento da jurisdição, o meio de que se vale o juiz para aplicar a lei ao caso concreto.
- A prestação jurisdicional tutelará o direito, solucionando o conflito.
- Para Didier, o processo é o método de exercício da jurisdição, tal conceito pertence à Teoria Geral do
Processo.

A jurisdição caracteriza-se por tutelar situações jurídicas


concretamente afirmadas em um processo.
A jurisdição possibilita tanto a ação como o processo.
O QUE É
JURISDIÇÃO Escola de G. Chiovenda: Jurisdição é a atuação da vontade
concreta da Lei (Aplicação da norma geral ao caso concreto).
Positivismo jurídico - 1900

Escola de F. Carnelutti: Jurisdição torna a norma geral particular


para as partes. A sentença cria uma norma individual.
Aula 1 – O PROCESSO CIVIL

1.4. A instrumentalidade do processo


- A situação jurídica carecedora de tutela jurisdicional é denominada DIREITO MATERIAL PROCESSUALIZADO
OU DIREITO MATERIAL.
- O processo deve ser compreendido, estudado e estruturado tendo em vista a situação jurídica material para a
qual serve de instrumento de tutela. Metodologicamente entendido como INSTRUMENTALISMO.
- A relação que se estabelece entre direito material e o processo é CIRCULAR.
-

INSTRUMENTALISMO = PONTE ENTRE DIREITO MATERIAL E O DIREITO PROCESSUAL


Aula 1 – O PROCESSO CIVIL
1.5. Breve histórico do processo civil

Antiguidade Idade média Processo civil moderno Direito Processual Atual e Novas
• Assimilação dos conceitos • Persiste a confusão • O surgimento da ciência autônoma Perspectivas
de processo e ação. Não entre direito e ação. do processo em 1868, com a • Surgimento de novas tendências,
havia ciência autônoma do Não goza de Teoria dos Pressupostos conectados às novas realidades da
processo. autonomia. Processuais e das exceções sociedade.
• Com o direito romano, • Invasões bárbaras dilatórias de Oskar von Bullow. • Universalização do acesso (Ex. JEC).
podem se distinguir 3 fases: (provas legais e • Superação do pensamento • Duração razoável do processo.
• a) Legis actiones (oral) ordálias, Imanentista. • Instrumentalidade das formas.
• b) Formulário (base escrita) independentemente • Distinção entre direito material e • Tutelas diferenciadas.
da convicção do juiz. processual.
• c) Extraordinária cognitio
(direito • Fusão entre direito • Criação de princípios e institutos
predominantemente romano e bárbaro próprios.
escrito)

Art. 1º, CPC O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil , observando-se as disposições deste Código.
Aula 1 – O PROCESSO CIVIL

1.6. Breve histórico do processo civil no Brasil

Colônia 1850 CF 1891 CF 1934 CPC 1939 CPC 1973 CF 1988 CPC 2015

Regulamento Atribui Tornou a atribuir CPC vigorou de CPC vigorou Atribuiu à As mudanças
Ordenações
nº 737/1850 competência a União à 01/01/1939 a a partir de União sociais geraram a
filipinas e
(apenas para concorrente aos competência 31/12/1973 1974, competência demanda de um
demais
questões Estados para para legislar Consagrou representou privativa para novo CPC.
normas
comerciais) legislar sobre sobre processo. numerosas enorme legislar sobre O atual CPC preza
portuguesas.
Processo Civil. Não revogou os conquistas da avanço, com direito por
Surgimento de códigos ciência caráter processual, SISTEMATIZAÇÃO
Códigos judiciários, até processual, mas técnico concedendo E ORGANICIDADE
Judiciários que fosse pecou pela aos estados
Estaduais. editado o CPC timidez e falta de competência
técnica. supletiva sobre
procedimentos.
Consagrou
inúmeros
princípios do
processo.
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1.7. A Teoria Geral do Processo

É uma disciplina jurídica dedicada à elaboração, organização e articulação dos conceitos


jurídicos fundamentais (lógico-jurídicos) processuais.

- São conceitos jurídicos fundamentais processuais todos aqueles indispensáveis à compreensão jurídica do
fenômeno processual.
- São conceitos que servem como abordagem científica do Direito Positivo. Ex: Processo, competência, decisão,
cognição, admissibilidade, norma processual, legitimidade, capacidade de ser parte, capacidade processual.
- É disciplina filosófica, de viés epistemológico (teoria do conhecimento).

Teoria Geral do Processo O Direito Processual Civil Ciência do Direito Processual


É uma teoria geral. Os conceitos jurídicos O direito processual civil é o conjunto de A ciência do direito processual civil ou ciência do
fundamentais processuais que compõem normas que disciplinam o processo processo é o ramo do pensamento jurídico
seu conteúdo têm pretensão universal. jurisdicional civil. Este é visto como ato dogmático dedicado a formular diretrizes,
A teoria geral do processo é epistemologia, jurídico complexo ou feixe de relações apresentar os fundamentos e oferecer os
ou seja, uma das ciências do processo. jurídicas. Compõe-se das normas que subsídios para as adequadas compreensão e
Ela têm como objeto a ciência do direito determinam o modo como o processo aplicação do Direito Processual Civil.
processual (civil, penal ou trabalhista), e deve estruturar-se e as situações jurídicas O direito processual civil é objeto dessa ciência.
não o direito processual. que decorrem dos fatos jurídicos Ex: o que é apelação, penhora para o direito
processuais. processual civil?
Aula 1 – O PROCESSO CIVIL

1.8. Noções contemporâneas sobre a Teoria Geral do Processo


- Reconhecimento da força normativa da Constituição (Direito processual constitucional);
- Desenvolvimento da teoria dos princípios (reconhecimento de eficácia normativa, deixando de ser técnica de
integração do direito e passando a ser espécie de norma).
- Transformação da hermenêutica jurídica, com reconhecimento do papel criativo e normativo da atividade
jurisdicional (função jurisdicional passa a ser encarada como essencial ao desenvolvimento do direito, aplicação de
técnicas de interpretação e subsunção).
- Expansão e consagração de direitos fundamentais.

1.9 Neoprocessualismo. Neoconstitucionalismo. Formalismo valorativo.


- Neoconstitucionalismo ou pós-positivismo (Segunda metade do Século XIX e primeira do Século XX).
A CF deve ser voltada para assegurar direitos fundamentais e sua efetividade. O modelo de estado eficientes deve ser o
Estado Democrático de Direito.
- O neoprocessualismo é considerado o estudo e aplicação do Direito Processual de acordo com o novo repertório
teórico do neoconstitucionalismo.
- Costuma-se denominar essa fase de formalismo valorativo, para destacar a IMPORTÂNCIA DOS VALORES
CONSTITUCIONALMENTE PROTEGIDOS NA PAUTA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS NA CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO
DO FORMALISMO PROCESSUAL.
Aula 2 – A Lei Processual Civil
2.1. Norma Jurídica
- Vigora o princípio da supremacia da lei, norma escrita emanada da autoridade competente.
- Principais características:

a) Generalidade (Norma se aplica a todas as pessoas indistintamente)


b) Imperatividade (Obrigação + Caráter bilateral: a cada dever se impõe um direito)
c) Autorizamento (Possibilidade da pessoa lesada exigir o cumprimento)
d) Permanência (Norma vigora e permanece até sua revogação)
e) Emanação da autoridade competente

2.2. Categorias de normas : SEGUNDO A IMPERATIVIDADE


COGENTES NORMAS NÃO COGENTES (DISPOSITIVAS)
- NÃO SÃO DE INTERESSE PÚBLICO
- ORDEM PÚBLICA
- PODEM SER DERROGADAS
- INDERROGÁVEIS
- INTERESSE ESPECÍFICO DOS
- INTERESSE DA SOCIEDADE
LITIGANTES
Podem ser: (i) PERMISSIVAS quando permitem
expressamente a derrogação ou (ii) SUPLETIVAS
aplicáveis quando não houver convecção
contrária.
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2.3. Norma Processual
- Cuida da relação processual (como aquelas relativas aos poderes do juiz, aos ônus e direitos das partes) ou do
procedimento (aquelas que regulam a sucessão dos atos na audiência).
- As normas processuais são PREDOMINANTEMENTE COGENTES. Todavia o CPC/15 ampliou as possibilidades de
derrogação pelas partes.

Ex: art. 190, CPC:


Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular muda nças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo, recusando -lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de
inserção abusiva em contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.

Obs: Não afasta o caráter público das normas, evidenciado no poder do juiz de controlar as convenções, recusando -as quando nulas ou abusivas.

- Outras hipóteses: (i) as partes podem convencionar cronograma de atos do processo (art. 191); (ii) indicar
consensualmente o perito que desejam (art. 471); (iii) podem escolher de comum acordo o conciliador, mediador,
mesmo que não estejam cadastrados no tribunal, ou a câmara de mediação ou conciliação (art. 168).
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2.4 Fontes Formais da Norma Processual Civil
- Fonte como “poder de criar normas jurídicas e a maneira pela qual o direito se manifesta”.

a) Fonte formal primária


LEI

b) Fontes formais acessórias


Analogia, Costume e Princípios Gerais do Direito (art. 4º, LINDB)
Súmula vinculante editada pelo STF (art. 103-A e parágrafos, CF e Lei nº 11.417/2006)
Decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em controle direto de constitucionalidade (art. 102, §2º CF)
Demais precedentes vinculantes enumerados no art. 927, III, IV e V do CPC:
(i) acórdãos em incidentes de assunção de competência ou resolução de demandas repetitivas e em julgamento de
recursos extraordinários ou especiais repetitivos;
(ii) enunciados de súmulas do STF em matéria constitucional e do STJ em matéria infraconstitucional;
(iii) orientação do plenário ou órgão especial a que estejam vinculados.
Lembrete:
c) Fontes não formais Fontes formais são
Doutrina aquelas que expressam o
Precedentes jurisprudenciais não vinculantes. direito positivo.
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2.4.1 Lei Federal
- Competência privativa da União para legislar sobre direito processual civil (art. 22, I CF).
Art. 22, CF. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;

-Competência concorrente à União e Estados para legislar sobre “procedimento em matéria processual” (art. 24, XI
CF). No entanto, a União deverá editar as normas gerais sobre procedimento, cabendo aos Estados competência
suplementar para editar as de caráter não geral.
Art. 24, CF. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
XI - procedimentos em matéria processual;
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário. (Vide Lei nº 13.874, de 2019)

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE REGRAS DE PROCESSO E


PROCEDIMENTO?
Normas procedimentais versam EXCLUSIVAMENTE sobre Normas sobre direito processual civil (normas processuais)
a forma pela qual os atos processuais se realizam e se tratam sobre relações entre sujeitos do processo, quanto
sucedem ao tempo. aos poderes, faculdades, direitos e ônus.
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2.4.1 Lei Federal
- Código de Processo Civil (Lei nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015) - (lei federal ordinária).
É o repositório mais importante de normas processuais.

- Outros diplomas:
Lei do Juizado Especial Cível - LEI Nº 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995.
Lei do Mandado de Segurança - LEI Nº 12.016, DE 7 DE AGOSTO DE 2009.
Lei da Ação Cível Pública - LEI No 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985.
Lei de Falências - LEI Nº 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005.
Código de Defesa do Consumidor. - LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990.
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2.4.2. Organização Judiciária
- A CF atribui aos Estados a incumbência organizar sua própria justiça, editando leis de organização judiciária (art.
125; §1º), de iniciativa do Tribunal de Justiça.
- Os Estados possuem competência para dispor sobre a competência dos tribunais e declaração de
inconstitucionalidade de leis estaduais e municipais.
Art. 125, CF. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
§ 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipai s em face da Constituição Estadual, vedada a
atribuição da legitimação para agir a um único órgão.

- Função: Por critérios organizacionais, divide-se a tarefa da jurisdição através da competência, entre diversos órgãos,
através de critérios objetivos (território e matéria), de maneira que cada órgão exerça a jurisdição apenas em
determinados casos.
Ex: Foro regional da barra da tijuca; vara especializada empresarial.

- Ex: Código de Organização Judiciária do Rio de Janeiro


Art. 2º O Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro exerce com
independência a função jurisdicional e tem as garantias de autonomia
administrativa e financeira, observadas a Constituição da República, a
Constituição do Estado do Rio de Janeiro e as leis.
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2.5. Jurisprudência
- Com a entrada em vigor do CPC 2015 adotou-se a teoria dos
precedentes vinculantes (art. 927, CPC)
- O sistema embasado na Civil law, passa por uma reformulação híbrida
em relação à Commom Law, em que os precedentes e súmulas se
erigem como verdadeira fonte formal do direito (tese).

ATENÇÃO = APENAS EM RELAÇÃO AOS PRECEDENTES DO ART. 927, CPC.

-A jurisprudência nos demais casos DEVE SER CONSIDERADA FONTE


SECUNDÁRIA OU ACESSÓRIA DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL.
- No entanto, os precedentes não obrigatórios serão úteis para reforçar
conclusões do julgador.

O CPC DEU ESPECIAL IMPORTÂNCIA À JURISPRUDÊNCIA: OS TRIBUNAIS DEVEM UNIFORMIZAR A JURISPRUDÊNCIA


E MANTÊ-LA ESTÁVEL; ÍNTEGRA E COERENTE (ART. 916)
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2.6. Interpretação da Lei
Hermenêutica jurídica é a ciência que se dedica ao estudo da interpretação das leis.

2.6.1 Métodos de interpretação


- Classificação quanto às fontes ou origens, quanto aos meios e resultados.

a) Quanto às fontes:
Autêntica: formulada pelo próprio legislador que criou a norma e que, reconhecendo a dificuldade de compreensão,
edita outra que lhe aclara o sentido.

Jurisprudencial: Dada pelos tribunais no julgamento reiterado de casos por ele julgados. A reiteração de julgados num
ou noutro sentido pode ajudar o julgador a formar a sua convicção.

Doutrinária: dada pelos doutrinadores.


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b) Quanto aos meios
- Gramatical ou literal: Texto da lei é examinado em si. Ponto de vista linguístico.
- Sistemática: Interpretação em sistema, observa a hierarquia e relação com as demais obras.
- Teleológica ou finalística: Forma de alcançar a finalidade da norma.
- Histórica: Interpretação em consonância com a evolução histórica.

c) Quanto aos resultados


- Extensiva: Dá à lei aplicação de maior amplitude
- Restritiva: Dá à lei aplicação de menor amplitude
- Declarativa: Interpretação que não amplia nem restringe.
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2.7. Lei Processual Civil no Espaço
- As normas de processo civil têm validade e eficácia em caráter exclusivo em todo o
território nacional, como estabelece o art. 16 do CPC.
Art. 16 cpc. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.

- Exceções: Disposições específicas em tratados e convenções internacionais de que o Brasil


seja parte.
Art. 13.cpc A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas previstas em tratados,
convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte.

Obs: Não se pode confundir as normas de processo com as de direito material. Por exemplo,
é possível que um processo no Brasil aplique normas de direito estrangeiro.
Ex: Inventário de bens ajuizado no Brasil, porém a lei mais favorável ao cônjuge e filhos.
Art. 10, cpc. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja
a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros,
ou de quem os represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus. (Redação dada pela Lei nº 9.047,
de 1995)
§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

- No entanto, o juiz poderá exigir o cumprimento do art. 376, CPC, ou seja prova do direito.
Art. 376. A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz
determinar.
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2.7. Lei Processual Civil no Espaço
- Em relação aos processos e sentenças proferidas no estrangeiro, a regra é de total ineficácia em território
nacional, salvo se houver homologação pelo STJ.

Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de decisão estrangeira, salvo
disposição especial em sentido contrário prevista em tratado.
§ 1º A decisão interlocutória estrangeira poderá ser executada no Brasil por meio de carta rogatória.
§ 2º A homologação obedecerá ao que dispuserem os tratados em vigor no Brasil e o Regimento Interno do Superior
Tribunal de Justiça. Caso concreto: Juan, cidadão equatoriano, ajuizou, no
Equador, ação de indenização contra uma empresa norte-
americana Chevron. A justiça equatoriana condenou a
empresa a pagar indenização em favor do autor.
A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à Juan ingressou, então, com pedido de homologação
falta de interesse processual na homologação de provimento desta sentença estrangeira no Brasil. Vale ressaltar que
Juan não tem domicílio no Estado brasileiro. Neste caso
estrangeiro. concreto, a sentença não envolve partes brasileiras ou
STJ. Corte Especial. SEC 8.542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, domiciliadas no país, tampouco a lide originária se refere
a fatos ocorridos no Brasil, nem a sentença homologanda
julgado em 29/11/2017 (Info 621). impôs qualquer obrigação a ser cumprida em território
nacional. Deste modo, a ausência de jurisdição brasileira
conduz necessariamente à falta de interesse processual
do requerente.
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2.8. Lei Processual Civil no Tempo

2.8.1 Vigência
- Normalmente, as normas indicam prazo da vacatio legis.
- Caso não ocorra, art. 1º LINDB prevê que a lei começa a vigorar em 45 suas depois de oficialmente publicada.
- Art. 1o Lindb Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de
oficialmente publicada.

- Pelo princípio da continuidade das leis, não se destinando à vigência temporária, a Lei se estenderá até ser
revogada por lei posterior.

Art. 2o Lindb Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.

- CPC/15 teve vacatio legis de 1 ano:

- Art. 1.045. CPC Este Código entra em vigor após decorrido 1 (um) ano da data de sua publicação oficial.
Aula 2 – A Lei Processual Civil
2.8.2 Lei processual nova e processos em curso
- A regra geral (art. 14 CPC) é de que as normas de processo têm incidência imediata, atingindo os processos em curso. - REGRA
TEMPUS REGIS ACTUM

Art. 14 CPC. A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.

É possível a aplicação imediata do art. 528, § 7º, do CPC/2015 em execução de alimentos iniciada e processada, em parte, na
vigência do CPC/1973. STJ. 3ª Turma. RHC 92.211-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/02/2018 (Info 621).

É aplicável o CPC/2015 ao cumprimento de sentença, iniciado sob sua vigência, ainda que a sentença exequenda tenha sido proferida
sob a égide do CPC/1973. STJ. 2ª Turma. REsp 1815762-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

A norma processual não retroagirá e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais
praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada.
É possível a aplicação da norma processual superveniente a situações pendentes, desde que respeitada a eficácia do
ato processual já praticado.
Enunciado Administrativo nº 4/STJ: “Nos feitos de competência civil originária e recursal do STJ, os atos processuais que vierem a
ser praticados por julgadores, partes, Ministério Público, procuradores, serventuários e auxiliares da Justiça a partir de 18 de março
de 2016, deverão observar os novos procedimentos trazidos pelo CPC/2015, sem prejuízo do disposto em
legislação processual especial”.
Aula 2 – A Lei Processual Civil
2.8.3. Princípio do isolamento dos atos processuais
- A lei nova deve respeitar atos processuais já realizados e consumados.
- O processo deve ser considerado um encadeamento de atos isolados: os que já foram realizados na vigência da lei
antiga persistem.
- Os atos futuros respeitarão a lei nova.
- Em relação aos atos que perduram no tempo, a lei nova não pode retroagir para prejudicar direitos processuais
adquiridos.
Ex: Prazo recursal, sobrevém lei que extingue o recurso. Os litigantes não ficarão prejudicados pois a lei nova não pode
prejudicar o direito adquirido processual. Caso ocorra uma ampliação do prazo processual, a ampliação será possível,
mas não vale para decisões preclusas.

•Enunciado administrativo n. 2 - STJ


Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016)
devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então,
pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça.

• Enunciado administrativo n. 3 - STJ


Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de
2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC
Aula 2 – A Lei Processual Civil
2.8.4. Lei nova que altera competência

- Perpetuatio jurisdictionis (art. 43): lei processual nova que altera competência, não se aplica aos processos em
andamento.

Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes
as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem órgão judiciário ou
alterarem a competência absoluta.

- Exceções:
(i) Quando suprimir o órgão judiciário ou
(ii) Alterar a competência absoluta.

Ex: EC 45/04, alterou a competência absoluta das ações de indenizações de acidentes de trabalho, que eram da justiça
comum para a justiça do trabalho.
Os processos não sentenciados foram atingidos passando à Justiça do Trabalho, por força do art. 43.
Súmula Vinculante 22: “A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos
morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive
aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda
Constitucional 45/2004”.
Aula 3 – PRINCÍPIOS
FUNDAMENTAIS
3. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

3.1. Princípios gerais do processo na CF


- Art. 1º do CPC prevê a subordinação do Processo Civil às normas da CF
Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil , observando-se as disposições deste Código.

3.1.1 Devido processo legal


- Princípio da legalidade. (art. 5º, LIV, CF)
Art. 5º - LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;”
- A CF preserva a liberdade e os bens, garantindo que o titular não os perca, senão por atos jurisdicionais do Estado.
Além disso, o judiciário deve observar as garantias inerentes ao Estado de direito, bem como deve respeitar a lei.

a) Devido processo legal formal(procedural due process): Diz respeito à tutela processual, ou seja ao processo,
garantias e regras que deve obedecer.
b) Devido processo legal substancial (substantive due process): constitui autolimitação ao poder estatal, que não
pode editar normas que ofendam a razoabilidade e afrontem as bases do regime democrático.
Aula 3 – PRINCÍPIOS
FUNDAMENTAIS
3.1.2. Acesso à justiça
- Princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV da CF e art. 3º CPC
Art. 5º XXXV, CF - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
§ 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes,
advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

- É o direito de ação em sentido amplo e incondicional, de obter do Poder Judiciário uma resposta aos requerimentos
a ele dirigidos.
- Deve ser conjugado com os princípios da legalidade e do contraditório.
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FUNDAMENTAIS
3.1.2.1. Métodos alternativos de resolução de disputas
- CPC previu (art. 3º) métodos alternativos de solução de conflitos (arbitragem, conciliação, mediação e outros).
- Não há inconstitucionalidade, nem ofensa ao princípio de inafastabilidade de jurisdição. Segundo o STF (AgRg 5.206)
[...] 3. Lei de Arbitragem (L. 9.307/96): constitucionalidade, em tese, do juízo arbitral; discussão incidental da constitucionalidade de vários dos tópicos da nova lei, especialmente acerca da compatibilidade, ou
não, entre a execução judicial específica para a solução de futuros conflitos da cláusula compromissória e a garantia constit ucional da universalidade da jurisdição do Poder Judiciário (CF, art. 5º, XXXV).
Constitucionalidade declarada pelo plenário, considerando o Tribunal, por maioria de votos, que a manifestação de vontade da parte na cláusula compromissória, quando da celebração do contrato, e a permissão
legal dada ao juiz para que substitua a vontade da parte recalcitrante em firmar o compromisso não ofendem o artigo 5º, XXXV, da CF. Votos vencidos, em parte - incluído o do relator - que entendiam
inconstitucionais a cláusula compromissória - dada a indeterminação de seu objeto - e a possibilidade de a outra parte, havendo resistência quanto à instituição da arbitrágem, recorrer ao Poder Judiciário para
compelir a parte recalcitrante a firmar o compromisso, e, conseqüentemente, declaravam a inconstitucionalidade de dispositivos da Lei 9.307/96 (art. 6º, parág. único; 7º e seus parágrafos e, no art. 41, das novas
redações atribuídas ao art. 267, VII e art. 301, inciso IX do C. Pr. Civil; e art. 42), por violação da garantia da universal idade da jurisdição do Poder Judiciário. Constitucionalidade - aí por decisão unânime, dos
dispositivos da Lei de Arbitragem que prescrevem a irrecorribilidade (art. 18) e os efeitos de decisão judiciária da sentença arbitral (art. 31).
(STF - SE-AgR: 5206 EP, Relator: SEPÚLVEDA PERTENCE, Data de Julgamento: 12/12/2001, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 30 -04-2004 PP-00029 EMENT VOL-02149-06 PP-00958)

Arbitragem
Mediação Conciliação
Lei º 9.307/1996
• CPC, art. 165, §3º. CPC, art. 165, §2º O
Arbitro (um ou mais em
• Figura do mediador, como conciliador atua como um
número ímpar) com poder
agente facilitador que terceiro que interage com as
de decisão).
atua preferencialmente partes pode sugerir soluções,
Há exercício de jurisdição quando há vínculo de forma mais ativa. Deve
com a prolação de anterior entre as partes. atuar preferencialmente
sentença arbitral (Título • Objetivo é reestabelecer quando não houver vínculo
executivo judicial (art. 515, comunicação entre as entre as partes.
VI CPC) partes.
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FUNDAMENTAIS
3.1.3. Princípio do Contraditório
- Envolve a garantia de ciência aos réus, executados e interessados, da existência do
processo e de tudo o que nele se passa e permitir que se manifestem, apresentem
suas razões, que se oponham à pretensão do adversário (art. 9º CPC.
Art 5º, LV CF: Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Art. 9º, CPC Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas noart. 311, incisos II e III ;
III - à decisão prevista no art. 701 .

-Veda-se a decisão surpresa. O juiz não pode decidir em grau algum de jurisdição, com
base em fundamento a respeito do qual não tenha dado às partes oportunidade de se
manifestar, ainda que se trate de matéria que deva decidir de ofício, (art. 10 CPC).
Ex: Prescrição e decadência são matérias de ordem pública, mas o juiz não pode
acolhê-las sem dar oportunidade às partes para se manifestarem.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não
se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir
de ofício.
Aula 3 – PRINCÍPIOS
FUNDAMENTAIS
O descumprimento dos arts. 9º e 10 º do CPC implicará a nulidade da decisão por ofensa ao princípio do contraditório.

3.1.3.1.Princípio do contraditório em relação ao fundamento jurídico e ao fundamento legal:


os juízes devem dar oportunidade das partes sobre o primeiro, uma vez que a lei é de conhecimento de todos, podendo ser
utilizada, ainda que não tenha sido suscitada. Sobre o tema:
RECURSO ESPECIAL. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM QUE ADOTOU FUNDAMENTO DIVERSO DO ADOTADO PELA SENTENÇA, COM BASE EM NOVA SITUAÇÃO DE FATO.
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA NÃO SURPRESA. ART. 10 DO CPC/2015. OCORRÊNCIA. ANULAÇÃO PARA OITIVA DA PARTE. DESNECESSIDADE. AUSÊNC IA DE PREJUÍZO. 1. "O
'fundamento' ao qual se refere o art. 10 do CPC/2015 é o fundamento jurídico - circunstância de fato qualificada pelo direito, em que se baseia a pretensão ou a defesa, ou que
possa ter influência no julgamento, mesmo que superveniente ao ajuizamento da ação -, não se confundindo com o fundamento legal (dispositivo de lei regente da matéria). A
aplicação do princípio da não surpresa não impõe, portanto, ao julgador que informe previamente às partes quais os dispositivos legais passíveis de aplicação para o exame da
causa. O conhecimento geral da lei é presunção jure et de jure" (EDcl no Resp nº 1.280.825/RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 27/6/2017, DJe
1/8/2017.) 2. O art. 933 do CPC/2015, em sintonia com o multicitado art. 10, veda a decisão surpresa no âmbito dos tribunais, assinalando que, seja pela ocorrência de fato
superveniente, seja por vislumbrar matéria apreciável de ofício ainda não examinada, deverá o julgador abrir vista, antes de julgar o recurso, para que as partes possam se
manifestar. 3. Não há falar em decisão surpresa quando o magistrado, diante dos limites da causa de pedir, do pedido e do substrato fático delineado nos autos, realiza a
tipificação jurídica da pretensão no ordenamento jurídico posto, aplicando a lei adequada à solução do conflito, ainda que as partes não a tenham invocado (iura novit curia) e
independentemente de oitiva delas, até porque a lei deve ser do conhecimento de todos, não podendo ninguém se dizer surpreendido com a sua aplicação. 4. Na hipótese, o
Tribunal de origem, valendo-se de fundamento jurídico novo - prova documental de que o bem alienado fiduciariamente tinha sido arrecadado ou se encontraria em poder do
devedor -, acabou incorrendo no vício da decisão surpresa, vulnerando o direito ao contraditório substancial da parte, justamente por adotar tese - consubstanciada em situação
de fato - sobre a qual a parte não teve oportunidade de se manifestar, principalmente para tentar influenciar o julgamento, fazendo prova do que seria necessário para afastar o
argumento que conduziu a conclusão do Tribunal a quo em sentido oposto à sua pretensão. 5. No entanto, ainda que se trate de um processo cooperativo e voltado ao
contraditório efetivo, não se faz necessária a manifestação das partes quando a oitiva não puder influenciar na solução da ca usa ou quando o provimento lhe for favorável,
notadamente em razão dos princípios da duração razoável do processo e da economia processual. 6. No presente caso, ainda que não exista prova documental sobre a localização
do equipamento (se foi arrecadado ou se está em poder do devedor ou de terceiros), tal fato não tem o condão de obstaculizar o pedido de restituição, haja vista que, conforme
os ditames da lei, se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, deverá o requerente receber o valor da aval iação do bem ou, em caso de venda, o respectivo
preço (art. 86, I, da Lei nº 11.101/05). 7. Recurso especial provido.
(STJ - REsp: 1755266 SC 2018/0183510-4, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 18/10/2018, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/11/2018
REVPRO vol. 291 p. 471)
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3.1.3.2. Contraditório e a liminar “inaudita altera parte”
- Há o contraditório em todos os processos judiciais e administrativos. Porém não necessariamente deve ser prévio.
- O contraditório pode ser diferido, postergado, realizado a posteriori. Notadamente em casos de risco iminente de prejuízo
irreparável.
- Situações: tutelas de urgência (art. 9º, CPC); tutela da evidência (art. 311, II e III do CPC); decisão do art. 701 do mandado inicial na
ação monitória;

3.1.3.3. Contraditório e decisões liminares de improcedência (art. 332)


- Não há necessidade de citar o réu, pois sequer foi citado.
Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente
improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.
§ 1º O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de
prescrição.
§ 2º Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241 .
§ 3º Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4º Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se não houver retratação,
determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.
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3.1.4. Princípio da duração razoável do processo
- Art. 5º, LXXVIII, CF (EC45/04): a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo
e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
- Art. 4º, CPC: Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade
satisfativa.
- Para que o processo alcance seu objetivo, é preciso que chegue a termo dentro de um prazo razoável.
- Pacto de San José da Costa Rica já o consagrava, tendo nossa legislação o ratificado.

3.1.5. Isonomia
- Consagrado em ideais da revolução francesa.
- Art. 5º, caput e I da CF:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios
de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.

Sob aspecto processual, a isonomia revela-se pela necessidade de dar às partes tratamento igualitário em relação ao exercício de
direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais (art. 7º CPC).
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3.1.5. Isonomia

Isonomia formal: Tratamento igualitário a TODOS.


Obs: Cria situações formalmente justas, mas realmente injustas.

Isonomia real: Na criação de normas e na aplicação ao caso concreto pelo juiz, deve se levar
em consideração as peculiaridades de cada sujeito.
As situações reais serão justas quando considerarem desequilíbrio das pessoas.
“Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade.”

Exemplos:
a) Prazos maiores ao MP e Fazenda Pública para manifestação nos autos (art. 180 e 183, cpc). Prazos em dobro para DP, art.
186, § 3º CPC).
b) Prioridade de tramitação e desnecessidade da ordem cronológica nos casos de preferência legal, ex: idade superior a 60
anos. (art. 1.048, art. 12, VII CPC)
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3.1.6. Princípio da imparcialidade do juiz (JUIZ NATURAL)
- Art. 5º, LIII e XXXVII da CF:
XXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

- O juiz natural é aquele cuja competência é apurada de acordo com as regras


previamente existentes no ordenamento jurídico e não pode ser modificada a posteriori.

Requisitos:
a) Julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição;
b) Órgão julgador deve ser preexistente, vedada a criação de juízos ou tribunais de exceção.
c) A causa deve ser submetida a julgamento pelo juiz competente, de acordo com a lei.

A imparcialidade judicial é consagrada como uma das bases da garantia do devido


processo legal. Imparcial é aquele que não é parte, que não adere aos interesses de
qualquer dos envolvidos no processo. Há íntima relação entre a imparcialidade e o
contraditório. [...]
STF, HABEAS CORPUS 164.493 PARANÁ. Rel. Min. Gilmar Mendes. J: 23/03/2021
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3.1.6.1 Juiz natural e modificação de competência
- A lei nova que altera a competência absoluta aplica-se aos processos em curso que
ainda não tenham sido sentenciados e isso não afeta o princípio do juiz natural.

3.16.2. A criação de varas especializadas.


- Não há ofensa ao princípio do juiz natural (HC 88.660, de 2008, Rel. Min. Carmem
Lucia criação de varas especializadas para julgar crimes financeiros e lavagem de
dinheiro).

3.1.6.3. Promotor natural?


Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente;
- Promotor natural seria aquele com atribuições previamente conhecidas e fixadas para
acompanhar determinado caso, mediante regras previamente estabelecidas.

De acordo com STF (HC 67.759, Rel. Min. Celso de Mello, DJ: 1/071992), o postulado do
promotor natural se revela imanente ao sistema constitucional, repele designações
casuísticas. Trata-se de garantia de ordem pública.
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3.1.7. Princípio do duplo grau de jurisdição
- Não há dispositivo direto que consagre o princípio do duplo grau de jurisdição.
- A CF ao criar juízos e tribunais estabeleceu um sistema em que normalmente há o duplo grau de jurisdição.

Exceções:
- Causas de competência originária do STF (Ex: ADI, ADC, ADPF, ADO)
- Embargos infringentes da lei de execução fiscal que cabem contra a sentença proferida nos embargos de valor pequeno e
que são julgados pelo mesmo juízo que prolatou a sentença.
- Art. 1.013 § 3º CPC (apelação em que foi julgada extinta sem resolução do mérito poderá ter logo o mérito apreciado se
estiver em condições.
Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando:
I - reformar sentença fundada no art. 485 ;
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.
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3.1.8. Princípio da publicidade dos atos processuais
Art. 5º, LX CF: a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;
Art. 93, IX, CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 11 CPC: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do
Ministério Público.

- Publicidade é mecanismo de controle das decisões judiciais. A sociedade pode fiscalizar os atos.

Exceções (art. 189, CPC)


- Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja
comprovada perante o juízo.
§ 1º O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus
procuradores.
§ 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha
resultantes de divórcio ou separação.
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3.1.9. Princípio da motivação das decisões judiciais
Para que haja transparência da atividade judiciária, há necessidade que todas as decisões dos juízos e tribunais sejam motivadas,
para que os litigantes, os órgãos superiores e a sociedade possam conhecer a justificação das decisões.

Art. 93, IX, CF todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo
a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 11 CPC: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.
Parágrafo único. Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do
Ministério Público.

- Caso não sejam fundamentadas, os litigantes podem se valer dos embargos de declaração (art. 1.022 CPC) ou poderão se valer
do recurso adequado para postular a nulidade.
- Apenas os despachos dispensam a fundamentação (não tem nenhum conteúdo decisório).
- Quando as decisões não são fundamentadas?
Art. 489.§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob
julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em
julgamento ou a superação do entendimento;
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3.2. Princípios infraconstitucionais

3.2.1. Princípio dispositivo


- Não há dispositivo específico na lei.
- Nos processos que versam sobre interesses disponíveis, as partes podem transigir, o autor pode renunciar ao direito e o réu
pode reconhecer o pedido.

RELAÇÃO MATERIAL INDISPONÍVEL RELAÇÃO MATERIAL DISPONÍVEL


- ORDEM PÚBLICA/ INTERESSE PÚBLICO - RELAÇÕES JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO
- NÃO PODEM SER OBJETO DE TRANSAÇÃO, - PARTES ESTÃO AUTORIZADAS A TRANSIGIR,
RENÚNCIA. RENUNCIAR, RECONHECER O PEDIDO INICIAL;
EX: DIREITOS DE PERSONALIDADE, VIDA, EX: INDENIZAÇÕES, CONTRATOS, QUESTÕES
CAPACIDADE, FILIAÇÃO, PODER FAMILIAR, SOCIETÁRIAS, IMOBILIÁRIAS.
QUESTÕES PENAIS, MATÉRIA TRIBUTÁRIA.

- Cumpre ao interessado ajuizar a demanda e definir os limites objetivos e subjetivos da lide. No que concerne à condução do
processo e produção de provas vigora o princípio INQUISITIVO, por força do art. 370, CPC.
Art. 370. Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito.
Parágrafo único. O juiz indeferirá, em decisão fundamentada, as diligências inúteis ou meramente protelatórias .

O juiz tem poderes para investigar os fatos narrados determinando as provas que sejam necessárias para seu conhecimento.
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3.2.2. Princípio da oralidade
- Valor histórico. Sua importância hoje reside da necessidade do julgador aproximar-se quanto possível da instrução e das
provas realizadas ao longo do processo.

a) (SUB) Princípio da imediação


- Deriva da oralidade, determina que o juiz colha diretamente a prova sem intermediários.
Art. 456, CPC. O juiz inquirirá as testemunhas separada e sucessivamente, primeiro as do autor e depois as do réu, e providenciará para que uma não
ouça o depoimento das outras.
Parágrafo único. O juiz poderá alterar a ordem estabelecida no caput se as partes concordarem.

b) (SUB) Princípio Identidade do física do juiz


- Prevalece a regra do art. 132 do CPC 1973. O juiz que colheu a prova em audiência fica vinculado ao julgamento do processo,
desvinculando-se apenas nas hipóteses do art. 132, CPC 73:
(i) Convocado (Ex: juízes convocados para auxiliar a Presidência ou Corregedoria).
(ii) Licenciado (Ex: licença maternidade. No caso de férias houve entendimento pelo STF de que há desvinculação – RHC 116.205 SP,
2013, Rel. Min Ricardo Lewandowski).
(iii) Afastado por qualquer motivo;
(iv) Promovido;
(v) Aposentado.
Art. 132 CPC 73. O juiz, titular ou substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer
motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor. (Redação dada pela Lei nº 8.637, de 31.3.1993)
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, o juiz que proferir a sentença, se entender necessário, poderá mandar repetir as provas já produzidas. (Incluído
pela Lei nº 8.637, de 31.3.1993)
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3.2.2. Princípio da oralidade
c) Subprincípio da concentração
Audiência de instrução e julgamento é una e contínua. Caso não seja possível concluí-la no mesmo dia, o juiz designará data para sua
continuação.

Art. 365, CPC: A audiência é una e contínua, podendo ser excepcional e justificadamente cindida na ausência de perito ou de testemunha, desde que
haja concordância das partes.
Parágrafo único. Diante da impossibilidade de realização da instrução, do debate e do julgamento no mesmo dia, o juiz marcará seu prosseguimento
para a data mais próxima possível, em pauta preferencial.
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d) Subprincípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias
-Em regra, contra as decisões interlocutórias o recurso cabível não suspenderá o processo.
Art. 1009, § 1º, CPC: As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não comportar agravo de instrumento, não são
cobertas pela preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.

- Alteração em relação ao CPC de 1973 em que todas as decisões eram recorríveis. No CPC 15 há um rol mitigado de decisões
que podem ser agravadas:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º ;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.

Obs: O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando
verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.
STJ. Corte Especial.REsp 1704520-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso repetitivo) (Info 639).
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3.2.3 Princípio da persuasão racional (livre convencimento motivado)
Cabe ao juiz apreciar livremente as provas, devendo indicar, na sentença, os motivos de sua decisão que devem estar amparados
nos elementos constantes dos autos.

Art. 371 do CPC: O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na
decisão as razões da formação de seu convencimento.

Obs: Sistemas de prova

a) Sistema de prova legal: Lei predetermina o valor que o juiz deve dar a cada prova e ele não pode desrespeitar a prévia atribuição
legal. Há uma hierarquia legal de provas. Sistema que não foi acolhido pelo Brasil.

b) Sistema de livre convencimento puro ou da consciência do juiz


- Autoriza o magistrado a julgar conforme a sua convicção sem necessidade de se fundar em provas colhidas nos autos. Sistema
que não foi acolhido no Brasil.

c) Sistema da persuasão racional ou livre convencimento motivado


Cumpre ao juiz formar seu convencimento livremente, examinando as provas produzidas.
Essa convicção tem de estar embasada nos elementos que constam nos autos.
Aula 3 – PRINCÍPIOS
FUNDAMENTAIS
3.2.4. Boa-fé
Todos aqueles que participam do processo devem comportar-se de acordo com a boa-fé.
Art. 5º CPC: Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.

3.2.5. Cooperação
Exige que as partes cooperem para que o processo alcance bom resultado, em tempo razoável.
Art. 6º CPC: Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva.
Aula 4 – JURISDIÇÃO CIVIL

4.1. Jurisdição civil


- É uma das funções do Estado (poder jurisdicional).
- Trata-se do poder-dever de solução de conflitos de interesses.
- A jurisdição é inerte, por natureza. Sua movimentação depende de prévio acionamento da parte interessada.

O poder jurisdicional foi atribuído ao Estado-Juiz que tem capacidade de impor as suas decisões, com
força obrigatória (caráter coativo).

4.2. Conceito

Função do estado pela qual, ele no intuito de solucionar os conflitos de interesse em caráter coativo,
aplica a lei geral e abstrata aos casos concretos que lhe são submetidos.

4.3. Revisão: funções do estado


Legislativa Jurisdicional Administrativa
Elaboração de normas gerais e abstratas Aplicação das normas aos casos concretos Consecução de determinados fins do Estado,
ligados à administração pública.
Aula 4 – JURISDIÇÃO CIVIL

4.4. Características
- Substitutividade
O Estado assumiu a incumbência (substituiu), de por meio da jurisdição aplicar a lei para solucionar os conflitos em caráter coercitivo.
É a substituição das partes, pelo Estado-Juiz.

- Definitividade
Os atos judiciais tornam-se imutáveis e não podem ser mais discutidos, após certo momento.

- Imperatividade
As decisões judiciais têm força coativa e obrigam os litigantes.

- Inafastabilidade
A lei não pode excluir da apreciação do Poder Judiciário nenhuma lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV).

- Indelegabilidade
- A função jurisdicional só poder ser exercida pelo Poder Judiciário. Exceção: Arbitragem

- Inércia
A jurisdição é inerte. Apenas se mobiliza mediante provocação do interessado.

- Investitura (característica dos juízes)


Só exerce jurisdição quem ocupa cargo de juiz, tendo sido regularmente investido nessa função. No Brasil, a investidura ocorre de duas
maneiras: concurso público ou nomeação de ordem política (STF, STJ, TJ, TRF).
Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.
Aula 4 – JURISDIÇÃO CIVIL

4.5. Espécies
a) Contenciosa x Voluntária
Art. 719 CPC: Art. 719. Quando este Código não estabelecer procedimento especial, regem os procedimentos de jurisdição
voluntária as disposições constantes desta Seção.
Contenciosa Voluntária
Há lide. Há acordo.
A parte busca obter uma determinação judicial que obrigue a parte Tem a função de que o juiz tome determinadas providências
contrária. para a proteção um ou ambos sujeitos da relação processual.
Ex: Ação indenizatória, alimentos, etc. Ex: Nomeação de tutor, separação consensual.

b) Objeto (Civil ou penal).


c) Quanto ao órgão (Justiça comum x Justiças especiais – Trabalhista, militar e eleitoral).
d) Quanto à hierarquia (Instâncias inferiores ou superiores).

4.6. Jurisdição x Competência


- A jurisdição é una. Mas o exercício da jurisdição é distribuído entre numerosos órgãos judiciários, de acordo com determinados
assuntos ou territórios.

A competência é a medida da jurisdição.


A competência quantificará a parcela do exercício de jurisdição atribuída a determinado órgão, em
relação às pessoas, matéria e território.
Aula 4 – JURISDIÇÃO CIVIL

4.6. ÓRGÃO INCUMBIDO


- Ordinariamente, a jurisdição é exercida pelo Poder Judiciário, órgão constitucionalmente eleito para dizer o direito de modo
definitivo. Atividade típica do Poder Judiciário.
- Todavia, há órgãos, tanto de natureza pública quanto de natureza privada, que desempenham atividade jurisdicional.
Ex: Impeachment do Presidente da República é julgado pelo Senado Federal de modo definitivo. É um caso de função atípica do
Poder Legislativo.

Ex 2: Arbitragem, em que se considera o arbitro juiz de fato e de direito, o próprio CPC/2015, reconhece a arbitragem como
jurisdição, bastando uma leitura conjunta dos arts. 3º, §1º, 16 e 42.

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei.
Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.
Art. 42. As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei.

4.7. ARBITRAGEM
Prevalece que a arbitragem é jurisdição. O arbitro exerce atividade com as mesmas características do juiz togado, por isso não é
lógico excluir a arbitragem da jurisdição.
Além disso, o art. 515, VII, do CPC determinada que a sentença arbitral é título executivo judicial.
Por fim, a arbitragem atende aos mesmos escopos políticos (afirma a vontade da lei), jurídicos (afirma a soberania da ordem jurídica)
e sociais (soluciona conflitos).
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5. Competência
A competência é a medida e quantificação da jurisdição.

Fredie Didier: “é parcela de poder, atribuída a um determinado ente. Também se pode dizer que competência é medida de jurisdição,
uma vez que não há poder exercido sem limites. O Estado de Direito é um Estado de competência, ou seja, os órgãos só agem em
conformidade com sua competência”.

- Traslatio iudicii
É o fenômeno pelo qual se afirma que, na urgência, cessa a competência, pois antes de ser competente, todo juízo possui jurisdição.
Traslatio iudiciii é a possibilidade que tem o juiz competente de ratificar os atos praticados por juízo absolutamente incompetente ou,
caso queira, renová-los. STF reconhece como um princípio aplicável no Brasil.

“Modernamente, hoje, quando se entende que um juízo é incompetente, a consequência imediata é a remessa ao juízo competente. Não há mais a regra de que os atos decisórios
são nulos. Inclusive, essa regra tem dado ensejo a uma série de distorções graves, anulando os atos decisórios. Isso implica prescrições de todos os níveis, no nível cível, no nível
penal etc. Então, hoje, o que se opera é a translatio iudicii, ou seja, sai de um juízo que era incompetente e vai para o juízo competente. Se o juízo competente entender que deve
repetir atos, ele o fará, mas declarar a nulidade dos atos decisórios tem causado uma série de distorções graves” . Luiz Fux.

O juízo incompetente pode, salvante os casos de erro grosseiro e manifesta má-fé, em hipóteses de urgência e desde que haja dúvida razoável a respeito do órgão que deve
processar a causa, determinar o relaxamento de prisão ilegal, remetendo o caso, em seguida, ao juiz natural, configurando hipótese de translatio iudicii inferida do art. 5º, LXV, da
Carta Magna, o qual não exige a competência da autoridade judiciária responsável pelo relaxamento, sendo certo que a complexidade dos critérios de divisão da competência
jurisdicional não podem obstaculizar o acesso à justiça (art. 5º, XXXV, CRFB). Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admitindo a ratificação de atos prolatados por juiz
incompetente inclusive em desfavor do réu (HC 83.006/SP, rel. Min. Ellen Gracie, Plenário, DJ de 29.8.2003; HC 88.262/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em
18/12/2006, DJ 30-03-2007). Doutrina (GRECO, Leonardo. Translatio iudicii e reassunção do processo. RePro, ano 33, nº 166. São Paulo: RT, 2008; BODART, Bruno e ARAÚJO, José
Aurélio de. Alguns apontamentos sobre a Reforma Processual Civil Italiana – Sugestões de Direito Comparado para o Anteprojeto do Novo CPC Brasileiro. In: O novo processo civil
brasileiro – Direito em expectativa. Coord. Luiz Fux. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 27-28). (ADI N. 4.414-AL RELATOR: MIN. LUIZ FUX, 2013, INFO 667).
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.1. Jurisdição internacional


-Cumpre à legislação estabelecer a extensão da jurisdição de cada país.
-A jurisdição brasileira encontra óbice na soberania de outros países.

5.1.1. Decisão estrangeira


- As decisões estrangeiras são emanações de um poder soberano externo.
-O mecanismo pelo qual a autoridade brasileira outorga a eficácia à decisão
estrangeira, fazendo com que ela possa ser executada no Brasil, denomina-se
HOMOLOGAÇÃO DE DECISÃO ESTRANGEIRA de competência do STJ (art. 101,
I,(i) da CF, antes da EC 45/2004 era do STF).
- Sem a homologação a decisão estrangeira é ineficaz, mesmo que tenha
transitado em julgado no exterior. Requisitos art. 963 e ss, CPC. Procedimento
https://www.stj.jus.b
no Regimento Interno do STJ (RISTJ). r/sites/portalp/Pagin
as/Comunicacao/Noti
- Após a homologação a decisão se torna eficaz, poderá ser executada no cias/04052021-Corte-
Especial-homologa-
Brasil PERANTE A JUSTIÇA FEDERAL COMPETENTE. É título executivo judicial sentenca-estrangeira-
de-US--6-1-milhoes-
(art. 515, VIII, CPC). contra-a-OAS.aspx.
04/05/2021.

Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão:


I - ser proferida por autoridade competente; Obs: A Súmula 420 do STF e o RISTJ previam a necessidade do trânsito em julgado da
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; decisão. Por força do art. 963, III CPC, apenas se exige a eficácia.
III - ser eficaz no país em que foi proferida; STJ, SEC 14.812 – EX, 2008. Rel. Min Nancy Andrighi.
IV - não ofender a coisa julgada brasileira;
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.3. Jurisdição nacional


- Competência da jurisdição nacional - Arts. 21, 22 e 23, CPC

Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.

Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:
I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que
o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

Rol exaustivo.
Proposta ação que verse sobre temas distintos dos arts. 21 a 23, deverá ser extinta sem resolução do mérito.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.3. Jurisdição nacional


a) Jurisdição concorrente - admite atuação tanto da jurisdição civil brasileira
(regra) como da jurisdição civil internacional (exceção).
Arts. 21
- Réu qualquer que seja a nacionalidade, esteja domiciliado no Brasil. Um réu é
suficiente.
No caso de PJ, reputa-se domiciliada no Brasil a PJ estrangeira que possua
agência, filial ou sucursal no Brasil.
- Caso a obrigação deva ser cumprida no Brasil (relevante para o direito
contratual).
- A ação se originar de ato ou fato ocorrido ou praticado no Brasil (relevante
para a responsabilidade civil).
Ex: Estrangeiro que passa uns dias no Brasil, mas pratica um ato ilícito.

Art. 22
- Processar e julgar ações de alimentos, quando o credor tiver domicílio ou
residência no Brasil, ou o réu mantiver vínculos no Brasil (posse ou
propriedade de bens, rendas etc).
- Processar e julgar ações decorrentes de ações de consumo, quando o
consumidor tiver domicílio no Brasil ou quando as partes de submeterem à
jurisdição nacional.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.3. Jurisdição nacional


b) Jurisdição exclusiva
- Matérias que apenas podem ser julgadas pela justiça brasileira, com exceção
de qualquer outra.
- Não poderá uma decisão estrangeira sobre tais matérias ser homologada
pelo STJ, será PERMANENTEMENTE INEFICAZ.

Art. 23
- Ações sobre imóveis situados no Brasil.
- Matéria de sucessão hereditária, confirmação de testamento particular,
inventário e partilha de bens situados no Brasil. Não há distinção entre bens
móveis ou imóveis.

Obs: A contrario sensu, esse dispositivo veda à justiça brasileira examinar


inventários de bens situados no estrangeiro (RESP, 397.769, DJ 25.11.2002, Rel.
Min Nancy Andrighi).

- Ações de divórcio, separação judicial, dissolução de união estável, quando se


proceder à partilha de bens situados no Brasil.
-
Aula 5 – COMPETÊNCIA

c) Critério de prevalência da jurisdição concorrente


- Nos casos de sentenças estrangeiras concorrentes com a sentença brasileira (art. 21 e 22 CPC) , qual delas terá validade?

É importante destacar que não há litispendência entre a sentença internacional e a sentença nacional, pois se trata de jurisdição
distinta. Por isso, adota-se a sentença que primeiro transitou em julgado.
- Igualmente, a pendência da causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação da sentença judicial estrangeira.
Porém ela apenas terá trânsito em julgado após a homologação pelo STJ (art. 960, CPC).

Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira
conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos
bilaterais em vigor no Brasil.
Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira
quando exigida para produzir efeitos no Brasil.

Art. 337, § 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz


ação anteriormente ajuizada.
§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma
causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
- Leva à extinção da ação, sem resolução do mérito.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

d) Princípio da submissão à cláusula de eleição de foro internacional


- Ordinariamente, os países respeitam a vontade das partes, consagrando a possibilidade de eleição de jurisdição estrangeira.
Também chamada de foro de eleição internacional.
- Exceção é a jurisdição exclusiva (art.23)

Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de
foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação.
§ 1º Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva previstas neste Capítulo.
§ 2º Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1º a 4º .

e) Cooperação internacional (arts. 26 a 41)


- A cooperação internacional é necessária na modernidade em razão da própria globalização. No art. 26 fica claro que a cooperação
internacional terá por base os tratados firmados pelo Brasil ou terá por base a reciprocidade diplomática.
- São previstas três hipótese: auxílio direto, carta rogatória e homologação de sentença estrangeira.

-Art. 27. A cooperação jurídica internacional terá por objeto:


I - citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
II - colheita de provas e obtenção de informações;
III - homologação e cumprimento de decisão;
IV - concessão de medida judicial de urgência;
V - assistência jurídica internacional;
VI - qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.4. Competência interna


- Competência propriamente dita, ou seja, órgão judiciário que irá processar e julgar a ação.
- A competência interna é definida através de quatro critérios, cuja ordem é relevante:
Art. 16. A jurisdição civil é exercida pelos juízes e pelos tribunais em todo o território nacional, conforme as disposições deste Código.

5.4.1 Critérios para fixação da competência


(i) Critério hierárquico ou funcional;
(ii) Critério material;
(iii) Critério valorativo e
(iv) Critério territorial.

5.4.2 Critérios de G.Chiovenda


- Primeiro – Critério Objetivo
Competência de valor ou natureza da causa.
- Segundo – Critério funcional
Natureza especial e exigências das funções que se chama o magistrado a exercer num processo. Abrange a competência hierárquica.
- Terceiro - Competência territorial
Utilizada pelo CPC para indicação de Foro competente e nas Leis de Organização Judiciária para a indicação do juízo competente.

Art. 62, CPC. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa ou da função é inderrogável por convenção das partes.
Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de
direitos e obrigações.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.5. Critério hierárquico - Noções sobre o Poder Judiciário

Supremo Tribunal Federal

STJ TSE TST STM

TJs TJM TRF Conselhos de


Juízes Juízes do
eleitorais Trabalho Justiça
Juízes auditores e Juízes e Juntas (Auditorias
Juízes
Conselhos de Federais eleitorais Militares da
estaduais
justiça União)
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.5. Critério hierárquico (Ratione personae)


a) Ações originárias
- Incidem no segundo grau, tribunais superior ou no STF diretamente. Regras previstas:
(i) art. 102, I, CF - STF.
(ii) Art. 105, I STJ
(iii) Art. 108, I TSE
(iv) Art. 114, V, TST
Ex: ADI, ADC, ADPF, Homologação de sentença estrangeira (STJ)

b) Foro privilegiado
Certas pessoas, em virtude da função que ocupam, possuem a prerrogativa de serem julgadas diretamente na segunda instâncias ou nos
tribunais superiores (arts. 102, I; art. 105, I, 108, I, 114, V, CF e Constituições estaduais).
Ex: STF, Presidente da república nas infrações penais comuns.

c) Acessoriedade ou dependência
Algumas ações por serem acessórias a outras ou possuírem uma relação de dependência devem ser ajuizadas diretamente no juízo em
que está tramitando a ação principal, trata-se de competência funcional. Ex: embargos de terceiros, embargos à execução.
Art. 61, CPC. A ação acessória será proposta no juízo competente para a ação principal.
Art. 286. Serão distribuídas por dependência as causas de qualquer natureza:
I - quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;
II - quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os
réus da demanda;
III - quando houver ajuizamento de ações nos termos do art. 55, § 3º , ao juízo prevento.
Parágrafo único. Havendo intervenção de terceiro, reconvenção ou outra hipótese de ampliação objetiva do processo, o juiz, de ofício, mandará proceder à respectiva anotação pelo
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.6. Critério material


5.6.1. Noções sobre o Poder Judiciário
- A CF indica quais são os órgãos judiciários, definindo a competência (CF, art. 92 a 126).
- A CF divide a estrutura em justiça comum e especial: TRABALHISTA (art. 111, CF); ELEITORAL (art. 118 e seguintes) e Militar (art. 122).
- A competência das justiças especiais é apurada de acordo com a matéria discutida.
Militar
- Justiça militar da União
Trabalho Eleitoral Superior Tribunal Militar
Tribunal Superior do Trabalho Tribunal Superior Eleitoral Conselhos de justiça especial e permanente
Tribunais Regionais do Trabalho Tribunais Regionais Eleitorais
Juízes do Trabalho. Juízes eleitorais Justiça militar dos Estados
Juntas eleitorais Tribunal de Justiça ou Tribunal de Justiça militar
(Estados com efetivo igual ou maior que 20.000
Art. 114 CF. Ações oriundas das relações de Juízes auditores e
trabalho, direito de greve, representação Matérias: Sufrágio, eleições, plebiscitos,
referendos. Questões político-partidárias – Conselhos de Justiça
sindical, conflitos de competência de órgãos da
justiça do trabalho, execução de contribuições criação, desmembramento de partido,
infidelidade partidária. Art. 124. À Justiça Militar compete processar e
sociais, outras controvérsias da relação de julgar os crimes militares definidos em lei.
trabalho. Parágrafo único. A lei disporá sobre a
Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência
SÚMULA 736 Compete à Justiça do Trabalho organização e competência dos tribunais, da Justiça Militar.
julgar as ações que tenham como causa de dos juízes de direito e das juntas eleitorais.
pedir o descumprimento de normas
trabalhistas relativas à segurança, higiene e
saúde dos trabalhadores.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.6.2. Justiça comum


- Competência supletiva: Abrange todas as causas que não forem de matéria especial.
Federal Estadual
Competência RATIONE PERSONAE Competência Supletiva (Residual)
- Participação (como parte ou interveniente de pessoas de direito O que não for de competência da justiça especial ou federal, será
público federais) e empresas públicas federais Estadual
- Competência material : Temas do art. 109, CF

Composta por Tribunais Regionais Federais e Juízos e Tribunais Estaduais de acordo com as Constituições
juízes federais. Estaduais e leis de organização judiciária
Competência da JF:
(i) Partes (União, Autarquias, empresas públicas federais, como autor, réu ou interveniente).
Exceções, art. 45, I CPC: matéria trabalhista, eleitoral, Falência, Recuperação Judicial, Acidente de Trabalho. Outrossim, a Súmula 556
exclui da competência da JF as ações de Sociedades de Economia Mista (ex: BB e Petrobrás).
Súmula 556 STF É competente a Justiça Comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista.
Súmula Vinculante 27 - Compete à Justiça Estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço público de telefonia,
quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária, assistente nem opoente.

(ii) Causa de pedir: Ação fundada em aplicação de tratado ou convenção internacional, incidente de deslocamento de competência,
Crimes contra organização do trabalho; Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômica; Direitos dos povos indígenas, entre
outros.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

- Competência da JE: Residual


- Observações:
a) Compete à justiça federal se há interesse jurídico que justifique a presença da União, autarquias ou empresas públicas. Portanto,
deve ser remetido à JF
Súmula 150 STJ - Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da
União, suas autarquias ou empresas públicas

b) Caso não haja interesse, o juiz federal poderá remeter à JE, sem conflito de competência
Súmula 224 STJ - Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da competência, deve o Juiz Federal
restituir os autos e não suscitar conflito.

Art. 45, § 3º, CPC O juízo federal restituirá os autos ao juízo estadual sem suscitar conflito se o ente federal cuja presença ensejou a
remessa for excluído do processo.

c) Sociedades de economia mista.


- São regidas pelo direito privado, portanto há competência da JE
Súmula 42 STJ - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista
e os crimes praticados em seu detrimento.
Súmula 517 STF - As sociedades de economia mista só têm foro na Justiça Federal, quando a União intervém como assistente ou
opoente.
Súmula 508 – STF – Compete à Justiça Estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do
Brasil S.A.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.8. Critério valorativo


- Conteúdo econômico da demanda determina a competência.
- Não se trata de tema de competência, mas de procedimento.

JEC (Juizado Especial Cível) Juizados especiais de fazenda Pública


Juizado Especial Federal
Lei nº 9.099/1995 - Sumaríssimo
Lei nº 10.259/2001 Lei º 12.153, de 2009
Valor de até 40 salários mínimos. Valor de até 60 salários mínimos, mas não é
Valor de até 60 salários mínimos, não é
Opcional uma faculdade.
uma faculdade.
Critério de competência – art. 4º

Art. 3º, Lei 9.099/95 O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.
Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o Juizado do foro:
I - do domicílio do réu ou, a critério do autor, do local onde aquele exerça atividades profissionais ou econômicas ou mantenha estabelecimento, filial, agência, sucursal ou
escritório;
II - do lugar onde a obrigação deva ser satisfeita;
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações para reparação de dano de qualquer natureza.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, poderá a ação ser proposta no foro previsto no inciso I deste artigo.

Art. 3º , Lei nº 10.259/2001: Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiç a Federal até o valor de sessenta salários
mínimos, bem como executar as suas sentenças.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.8. Critério territorial


A competência territorial é a última a ser analisada.
Refere-se ao foro em que a demanda será ajuizada de acordo com CPC e nas Leis de Organização Judiciária, ao juízo competente.

5.8.1. Direito pessoal ou direito real sobre bem móvel (art. 46)
- Regra é o domicílio do Réu. Havendo mais de um réu, em qualquer domicílio de um deles.
- Caso o Réu não more no Brasil, será o domicílio do autor. Caso o autor e réu morem fora do Brasil, em qualquer foro.
Art. 46, CPC. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.
§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor.
§ 3º Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em
qualquer foro.
§ 4º Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.

Domicílio, arts. 70 a 74 do CC2002.


Domicílio das pessoas naturais é onde elas estabelecem sua residência com ânimo definitivo ou no que se refere às
relações concernentes à profissão. Se houver várias residências, qualquer delas será o domicilio e se não houver
Domicílio nenhuma, onde for encontrada.

Revisão Domicílio das pessoas jurídicas – art. 75, CC2002


I - da União, o Distrito Federal;
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais;
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal;
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde
elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.8.2. Execução fiscal (art. 46, §5º CPC)


- A competência será do domicílio do réu, no de sua residência ou no lugar em que for encontrado. Competência sucessiva, não
concorrente.
Art. 46, CPC § 5º A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.

5.8.3. Ações reais imobiliárias (art. 47)


Foro de situação da coisa.
Ação possessória imobiliária tem COMPETÊNCIA ABSOLUTA no foro de situação da coisa!
Exemplos: Desapropriação direta e indireta; Anulação de registro de imóvel; Ações de anulação e rescisão de contrato (DIREITO
PESSOAL), quando cumuladas com reintegração de posse (DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL).
Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.
§ 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e
de nunciação de obra nova.
§ 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta.

5.8.4. Arrecadação e sucessão (art. 48, CPC)


As regras são sucessivas: (i) Último domicílio do falecido, em regra; (ii) Havendo mais de um domicílio ou caso não haja domicílio certo, a
competência será do local dos bens IMÓVEIS; (iii) Havendo imóveis em vários locais, qualquer foro e (iv) Não possuindo imóveis, será
competente o local de qualquer dos bens do ausente. ATENÇÃO! O local do óbito para o NCPC é irrelevante.
Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o c umprimento de disposições de última vontade, a
impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I - o foro de situação dos bens imóveis;
II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.8.5. Ausente – Regra último domicílio


Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de
disposições testamentárias.

5.8.6. Incapaz
Art. 50. A ação em que o incapaz for réu será proposta no foro de domicílio de seu representante ou assistente.

5.8.7. Competência para as ações em que a União é Parte


- Sempre correrá perante a JF (ART. 109, §2º, CF).
- Quando a União é autora, será proposta no FORO DE DOMICÍLIO DO RÉU (ART. 46, CPC).
- Quando a União for Ré, será proposta na seção judiciária em que for domiciliado o Autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou
fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou ainda no Distrito Federal.
Obs: No caso de ação sobre direito real de bem imóvel, a competência é absoluta do foro de situação da coisa.
Art. 51. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autora a União.
Parágrafo único. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da
coisa ou no Distrito Federal.

5.8.7. Competência para as ações contra Estados Federados.


- Competência concorrente. Sendo o Estado réu, o foro será domicílio do autor, o local do fato ou situação do imóvel, ou a capital.
Art. 52. É competente o foro de domicílio do réu para as causas em que seja autor Estado ou o Distrito Federal.
Parágrafo único. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a
demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado.

5.8.8. Municípios
Não há regra específica. A competência segue a regra geral do art. 46 e 47.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.8.9. Ações de separação, divórcio, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável
- Competência é relativa. NCPC não manteve a regra do domicílio da mulher.
-Será competente: (i) O foro do domicílio do guardião dos filhos incapazes; (ii) Em não havendo filhos incapazes, do último domicílio
do casal; (iii) Caso nenhuma das partes resida no último domicílio do casal, será competente o local do domicílio do réu.

Obs: Em caso de violência doméstica ou familiar, a competência será do foro do domicílio da vítima.
Art. 53. É competente o foro:
I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável:
a) de domicílio do guardião de filho incapaz;
b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz;
c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal;
d) de domicílio da vítima de violência doméstica e familiar, nos termos da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha); (Incluída pela Lei nº 13.894, de 2019)

O art. 14-A da Lei 11.340/2006 institui uma opção para a propositura da ação de divórcio ou dissolução da
união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar (Competência mista penal e cível), caso a ofendida
queira. Contudo, exclui a competência para partilha de bens, eis que foge dos aspectos relacionados à lei.
Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019)
§ 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha
de bens.
§ 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união
estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver.
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
I - do seu domicílio ou de sua residência;
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
III - do domicílio do agressor.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.8.10 Regras especiais


Art. 53. É competente o foro:
III - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento;
e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto;
f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício;
IV - do lugar do ato ou fato para a ação:
a) de reparação de dano;
b) em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios;
V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos,
inclusive aeronaves.

5.9.11. Leis extravagantes


As regras de competência territorial não se esgotam no CPC, há leis extravagantes, a exemplo da Lei de Ação Civil Pública, do Código
de Defesa do Consumidor, da Lei de Locações, do ECA etc. que preveem a competência territorial.

Art. 2º, Lei nº7347/1985 (ACP) As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a
causa.
Art. 147, ECA. A competência será determinada: I - pelo domicílio dos pais ou responsável; II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à falta dos pais ou
responsável.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.9. Foro x Juízo

FORO
JUÍZO
INDICA A BASE TERRITORIAL SOBRE A QUAL DETERMINADO
UNIDADES JUDICIÁRIAS INTEGRADAS PELOS JUÍZ E SEUS AUXILIARES.
ÓRGÃO EXERCE A SUA COMPETÊNCIA
O CONCEITO SE CONFUNDE COM AS VARAS DA JUSTIÇA ESTADUAL,
EX: STF, STJ E TRIBUNAIS SUPERIORES TÊM FORO SOBRE TODO O
UMA COMARCA PODE TER VÁRIAS VARAS, ISTO É DIFERENTES
TERRITÓRIO NACIONAL
JUÍZOS.
TJ TEM FORO SOBRE O ESTADO EM QUE ESTÁ INSTALADO.

CUIDADO! O SIGNIFICADO DE FORO PODE SER DIFERENTE NAS LEIS DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA E NO CPC.
PARA O CPC O FORO É O TERRITÓRIO EM QUE SE EXERCE A COMPETÊNCIA, ENQUANTO NA LEI DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA PODE SER UMA
SUBDIVISÃO REGIONAL. EX: TJRJ DIVIDE EM FORO CENTRAL E REGIONAIS, MAS PARA O CPC ABRANGE TODA A COMARCA.
- A CF contém as normas para identificação da competência perante a justiça comum, estadual ou federal.
- Verificando-se que a justiça é civil, cumpre apurar em que comarca a demanda deverá ser proposta, mediante regras do CPC.
- Em relação ao juízo competente, havendo dúvidas, deverá ser consultada a Lei Estadual de Organização Judiciária.

A competência de juízo é sempre absoluta. Não é possível a eleição de juízo.


Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.10. Competência absoluta x Competência relativa


- As regras gerais de competência formulada por leis federais podem ser divididas em duas categorias: regras de competência relativa
e regras de competência absoluta.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA (art. 64, CPC) COMPETÊNCIA RELATIVA (art. 65 CPC)
Composta por critérios funcionais e hierárquicos. Composta pelos critérios valorativo e territorial.
Normas de competência de ordem pública. Normas instituídas no interesse das partes.
Visa à proteção ao interesse público. Visa à proteção ao direito privado.
O juiz poderá em qualquer momento ou grau de jurisdição reconhecer O Juiz não pode conhecer de ofício. Apenas o MP e a parte podem alegar,
a incompetência absoluta de ofício. sob pena de violação do art. 65 do NCPC e da Súmula 33 do STJ.
Não está sujeita à modificação pelas partes, é impossível a derrogação É possível derrogar, através do foro de eleição, da prorrogação de
pela eleição de foro. competência, bem como nos casos de conexão e continência (art. 63 CPC).
Deve ser alegada na preliminar de contestação, mas nada impede que Deve ser alegada na preliminar de contestação, sob pena de preclusão.
seja alegada em outro momento ou seja declarada de ofício. Caso não seja alegada, ocorre a prorrogação da competência e o juiz
Não se sujeita à preclusão. incompetente torna-se competente.

Art. 64, CPC. A incompetência, absoluta ou relativa, será alegada como questão preliminar de contestação.
§ 1º A incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de ofício.
§ 2º Após manifestação da parte contrária, o juiz decidirá imediatamente a alegação de incompetência.
§ 3º Caso a alegação de incompetência seja acolhida, os autos serão remetidos ao juízo competente.
§ 4º Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo
juízo competente.
Art. 65. Prorrogar-se-á a competência relativa se o réu não alegar a incompetência em preliminar de contestação.
Parágrafo único. A incompetência relativa pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar.

SÚMULA 33 STJ. A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.


Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.10.1 Violação às regras de competência


Caso haja violação, a decisão dada por juiz incompetente será preservada tanto na competência relativa quanto na
absoluta.
Ou seja, a decisão será válida até que o juiz competente mantenha ou casse a decisão do juiz incompetente.

Parte da doutrina afirma que se trata do fenômeno da Translatio Iudicii, ou seja, antes de ser incompetente o juiz
possui jurisdição.

No caso de incompetência absoluta caberá ação rescisória.


A incompetência relativa não gera a nulidade da sentença, nem ação rescisória, já que não invocada em momento
oportuno gerará a prorrogação da competência.

Art. 64§4º - Salvo decisão judicial em sentido contrário, conservar-se-ão os efeitos de decisão proferida pelo juízo incompetente até que outra seja proferida, se for o caso, pelo
juízo competente.

5.10.2 Perpetuação da competência (Perpetuatio jurisdictionis) – Art. 43


CONSAGRA A ESTABILIZAÇÃO DA COMPETÊNCIA
A competência é determinada no momento do registro ou distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as
alterações posteriores do estado de fato ou de direito, salvo se suprimirem o órgão jurisdicional ou alterarem a
competência absoluta.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.11 Modificação de competência


- Só pode ocorrer em caso de competência de foro nos casos em que for relativa, nunca de juízo pois é sempre
absoluta.
- Casos: eleição de foro, escolha de foro pelo autor.

5.12. Prorrogação de competência


Consequência natural da competência relativa não ser reconhecida de ofício. A incompetência relativa sofrerá
prorrogação se não alegada em preliminar de contestação (será sanada pela preclusão da alegação do vício) e pela
preclusão.
SÚMULA N. 33. A incompetência relativa não pode ser declarada de ofício.

5.13. Derrogação
Ocorre quando há eleição de foro – Força do acordo de vontades, por contrato.
5.13.1. Cláusula de eleição de foro (art. 63)
Art. 63. As partes podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde será proposta ação ori unda de direitos e obrigações.
§ 1º A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
§ 2º O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.
§ 3º Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao juízo do foro de
domicílio do réu.
§ 4º Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro na contestação, sob pena de preclusão.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.13.1. Cláusula de eleição de foro (art. 63)


- Requisitos
a) Celebrado exclusivamente em relação a critério territorial ou valorativo (competência relativa).
b) Por escrito – oral não possui eficácia.

- Sucessão (63 § 2º NCPC)


Vincula os herdeiros e sucessores da parte.

- Abusividade do foro de eleição (63 §§ 3º e 4º)

O controle judicial de abusividade da cláusula de eleição poderá ser reconhecido de ofício pelo juiz ou ser
reconhecido após a provocação do réu, em contestação sob pena de preclusão.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.14. Conexão
- Mecanismo processual que permite a reunião de duas ou mais ações em andamento para que tenham um
mesmo julgamento conjunto.
Objetivo: Evitar decisões conflitantes e auferir economia processual.

5.14.1. Quando ocorre a conexão?


A ação é identificada por elementos: Partes, pedido e causa de pedir.
A conexão ocorrerá quando houver coincidência de pedido ou causa de pedir (coincidência
parcial de elementos).

Contudo, deve ser conciliado com o caráter finalístico da conexão, evitar decisões conflitantes.
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
§ 1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado.
§ 2º Aplica-se o disposto no caput :
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso
decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

SÚMULA N. 235. A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.14. Conexão
- Mecanismo processual que permite a reunião de duas ou mais ações em andamento para que tenham um
mesmo julgamento conjunto.
Objetivo: Evitar decisões conflitantes e auferir economia processual.

5.14.1. Quando ocorre a conexão?


A ação é identificada por elementos: Partes, pedido e causa de pedir.
A conexão ocorrerá quando houver coincidência de pedido ou causa de pedir (coincidência
parcial de elementos).

Contudo, deve ser conciliado com o caráter finalístico da conexão, evitar decisões conflitantes.
Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.
§ 1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado.
§ 2º Aplica-se o disposto no caput :
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso
decididos separadamente, mesmo sem conexão entre eles.

SÚMULA N. 235. A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.14. Continência
Relação entre duas ou mais ações quando houver identidade das partes e de causa de pedir, sendo que o objeto de
uma por ser mais amplo abrange o das demais.
A reunião apenas ocorrerá se a ação continente (mais ampla) for proposta posteriormente à ação contida. Obs:
ocorrerá uma litispendência parcial.

Art. 56. Dá-se a continência entre 2 (duas) ou mais ações quando houver identidade quanto às partes e à causa de
pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange o das demais.

Art. 57. Quando houver continência e a ação continente tiver sido proposta anteriormente, no processo relativo à
ação contida será proferida sentença sem resolução de mérito, caso contrário, as ações serão necessariamente
reunidas.
Litispendência: Quando há identidade total de elementos em
mais de uma ação, temos a litispendência, que é causa de
5.1.5. Efeito da conexão e continência extinção do processo sem resolução de mérito.
Art. 58. A reunião das ações propostas em separado far-se- á no juízo Art. 337, §1º § 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada
prevento, onde serão decididas simultaneamente. quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.
Art. 286. Serão distribuídas por dependência as causas de qualquer natureza:
I - quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.16. Prevenção
Fixa a competência de determinado juízo quando houver mais de um competente para determinada causa e para
identificar qual dos juízos atraíra outras ações como em casos de conexão e continência.

Segundo Cândido Rangel Dinamarco a prevenção assume duas ordens:


a) Originária: Referente à própria causa, em relação à qual se deu;
b) Expansiva: Referente a outras causas ou outros processos.

- A prevenção é dada com o registro ou distribuição da petição inicial.


Art. 59. O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.

5.17 Conflito de competência


Incidente processual que se instaura quando dois ou mais juízos ou tribunais se dão por competentes para a mesma
causa, caso de conflito positivo ou incompetentes, caso em que haverá conflito negativo; ou quando entre dois ou
mais juízes surge a controvérsia sobre a reunião ou separação de processos.
Art. 66. Há conflito de competência quando:
I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes;
II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo um ao outro a competência;
III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da reunião ou separação de processos.
Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo.
Aula 5 – COMPETÊNCIA

5.17 Conflito de competência


- Procedimento – art. 951 a 959 do CPC
- Pode ser suscitado pelas partes, MP ou juiz. Não pode ser suscitado pela parte que arguiu incompetência relativa.
Art. 951. O conflito de competência pode ser suscitado por qualquer das partes, pelo Ministério Público ou pelo juiz.
Parágrafo único. O Ministério Público somente será ouvido nos conflitos de competência relativos aos processos previstos no a rt. 178 , mas terá qualidade de parte nos conflitos
que suscitar.
Art. 952. Não pode suscitar conflito a parte que, no processo, arguiu incompetência relativa.
Parágrafo único. O conflito de competência não obsta, porém, a que a parte que não o arguiu suscite a incompetência.

- Qual é o órgão que deve promover o julgamento?


Juízes estaduais – Tribunal de Justiça
Juízes federais – Tribunal Regional Federal
Juízes estaduais, federais, do trabalho ou de diferentes estados – Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, d, CF)
STJ, Tribunais superiores com quaisquer tribunais – STF (art. 102, I, o, CF)
Súmula 59 STJ Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado,
proferida por um dos juízos conflitantes.

5.18 Cooperação nacional


Art. 67, CPC. Aos órgãos do Poder Judiciário, estadual ou federal, especializado ou comum, em todas as instâncias e
graus de jurisdição, inclusive aos tribunais superiores, incumbe o dever de recíproca cooperação, por meio de seus
magistrados e servidores.
Aula 6 – Ação

6.1. Previsão constitucional


Art. 5º, XXXV CF - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

6.2. Previsão no CPC


Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

O direito de ação visa a garantir o acesso à justiça, como direito fundamental.

6.3. Direito de ação


- A jurisdição, o poder do judiciário solucionar conflitos é inerte. O Estado precisa ser provocado.
- Faculdade da parte (inércia).
A ação é o mecanismo pelo qual se provoca o Judiciário a dar uma resposta.
A resposta é chamada de PROVIMENTO OU TUTELA JURISDICIONAL.

6.4. Natureza
Ação é direito subjetivo público, exercido contra o Estado, por meio do qual se postula a tutela
ou provimento jurisdicional.
Aula 6 – Ação

6.5. Ação e demais institutos Fundamentais do processo civil

JURISDIÇÃO EXCEÇÃO
FUNÇÃO DO ESTADO PODER DEVER DE SUBSTITUIR AS PARTES NA DIREITO DE DEFESA QUE TEM O RÉU DE SE CONTRAPOR À
SOLUÇÃO DE LITÍGIOS PRESTAÇÃO FORMULADA PELO AUTOR
É INERTE, DEPENDE DE PROVOCAÇÃO
PROCESSO
AÇÃO É CONSTITUÍDO PELA RELAÇÃO QUE DURARÁ ALGUM TEMPO ENTRE
DIREITO EXERCIDO CONTRA O ESTADO EM FACE DO ADVERSÁRIO. AUTOR, RÉU E JUIZ EM QUE SE REALIZARÃO OS ATOS QUE O
PROCEDIMENTO PREVISTO EM LEI EXIGE.

6.6 Ação em sentido amplo x Ação em sentido estrito

6.6.1 Ação em sentido amplo = Acesso à justiça. Direito incondicionado.


Obs: Mesmo não havendo as condições da ação, o postulante tem direito à reposta do judiciário.

6.6.2. Ação em sentido estrito = Evolução da teoria da ação.


Envolve as teorias da ação.
Aula 6 – Ação

6.7. Teorias da ação


a) Teorias concretistas e civilistas - COMPLETAMENTE SUPERADAS!
Condicionavam a existência do direito de ação ao próprio direito material.
Ex: Apenas haveria direito de ação se o autor tivesse razão.

b) Teorias modernas da ação


b.1) Teorias abstratistas puras
Não há diferença entre ação em sentido amplo e estrito.
O direito a um pronunciamento estatal de qualquer teor (extinção sem resolução de mérito, procedência, procedência
parcial, improcedência) leva ao exercício do direito de ação.
Inexistem condições da ação. Por isso, afirma-se que o exercício do direito de ação é incondicionado.
- Não foi convincente, em razão ainda da confusão entre direito material e processual.

b.2) Teoria abstrata eclética (Expoente Enrico Liebman)


O direito de ação surge como direito à resposta de mérito (pretensão inicial).
Não condiciona a existência da ação a do direito material sustentado pelo autor. Há direito a uma resposta de mérito.
No Brasil, foi acolhida. A ação pode ser empregada em sentidos diversos.
AMPLO = DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA.
ESTRITO = DIREITO À RESPOSTA DE MÉRITO.
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.
Aula 6 – Ação

b.2.1) DIREITO CONSTITUCIONAL DE AÇÃO X DIREITO PROCESSUAL DE AÇÃO

DIREITO CONSTITUCIONAL DE AÇÃO DIREITO PROCESSUAL DE AÇÃO


DIREITO DE PETIÇÃO REGIDO POR REGRAS INFRACONSTITUCIONAIS.
TODA VEZ QUE ALGUÉM SE DIRIGE AO PODER JUDICIÁRIO ESTÁ NECESSÁRIO O PREENCHIMENTO DE DETERMINADAS CONDIÇÕES
EXERCENDO O SEU DIREITO CONSTITUCIONAL DE AÇÃO. FIXADAS EM LEI, A FIM DO PRONUNCIAMENTO DE MÉRITO.

Obs: Questão de nomenclatura. FOI AJUIZADA A DEMANDA (O direito de ação é amplo e direito à resposta de
mérito).O PEDIDO FOI JULGADO PROCEDENTE OU IMPROCEDENTE (a ação existe, o juiz julga o pedido).

c) Teoria da Asserção
Evolução da Teoria Abstrata e Eclética. Adotada pela jurisprudência.
Preocupa-se, simplesmente, com o momento da análise das condições da ação, a qual é feita no momento da
propositura da ação. Há uma análise em asserção (em princípio) daquilo que está sendo pedido, ou seja, é de fácil a
constatação da presença ou não das condições da ação.
Quando ausentes, haverá a extinção do processo sem resolução de mérito.
- O intuito é limitar o exercício infundado e abusivo da ação. As condições da ação são analisadas “in statu
assertionis”, com a leitura da inicial. Ausentes as condições nesse momento, extinguir-se-à o processo sem análise
do mérito.
- Se a ausência das condições da ação for verificada no curso do processo, seriam tratadas como matérias de mérito.
Aula 6 – Ação

6.8 Condições da ação


- Constituem matéria de ordem pública, a ser examinada de ofício pelo juiz.
- Verificando a falta de qualquer delas, o juiz extinguirá sem resolução do mérito.
- Em nosso ordenamento são duas: legitimidade ad causam e interesse de agir.
Obs: Na legislação anterior, se acrescentava a possibilidade jurídica do pedido. Conforme E. Liebman o interesse de agir
absorveria a possibilidade jurídica do pedido.

6.8.1. Fundamento
- Economia processual.
- No CPC/73 havia expressamente as condições da ação.
Art. 267 CPC 73. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;
- No CPC/15 traz apenas 2 condições: legitimidade ad causam e interesse.
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.

6.8.2. A legitimidade “ad causam”


Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial.

As partes só podem ir a juízo para postular e defender direitos que alegam ser próprios e não alheios.
Aula 6 – Ação

6.8 Condições da ação


- Constituem matéria de ordem pública, a ser examinada de ofício pelo juiz.
- Verificando a falta de qualquer delas, o juiz extinguirá sem resolução do mérito.
- Em nosso ordenamento são duas: legitimidade ad causam e interesse de agir.
Obs: Na legislação anterior, se acrescentava a possibilidade jurídica do pedido. Conforme E. Liebman o interesse de agir
absorveria a possibilidade jurídica do pedido.

6.8.1. Fundamento
- Economia processual.
- No CPC/73 havia expressamente as condições da ação.
Art. 267 CPC 73. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005)
Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;
- No CPC/15 traz apenas 2 condições: legitimidade ad causam e interesse.
Art. 17. Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.

6.8.2. A legitimidade “ad causam”


Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial.

As partes só podem ir a juízo para postular e defender direitos que alegam ser próprios e não alheios.
Aula 6 – Ação

6.8.2. A legitimidade “ad causam”


Art. 18. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.
Parágrafo único. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial.

As partes só podem ir a juízo para postular e defender direitos que alegam ser próprios e não alheios,
salvo exceções previstas.
a) Legitimidade Ordinária
Regra geral. Trata-se da defesa de direito próprio em nome próprio.
b) Legitimidade Extraordinária
Havendo expressa previsão legal, uma pessoa pode defender direito alheio em nome próprio.

Ex: Condôminos podem defender sozinhos ou separados. Caso defendam a coisa por inteiro será legitimidade
extraordinária e os demais condôminos serão substituídos processuais. (Legitimidade extraordinária concorrente)
Art. 1.314, CC Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua
posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.

Ex: Alienação de coisa litigiosa. Há legitimidade extraordinária pois o réu originário ficará como substituto processual do
adquirente que não é parte. (Legitimidade extraordinária exclusiva)
Art. 109. A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título particular, não altera a legitimidade da s partes.
§ 1º O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, sucedendo o alienante ou cedente, sem que o consinta a parte contrária.
§ 2º O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial do alienante ou cedente.
§ 3º Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao adquirente ou cessionário.
Aula 6 – Ação

b.2) Personagens da legitimação: Substituto e Substituído


Substituto processual Substituído Processual

Figura como parte, mas não é o titular do Não figura como parte, mas será atingido pela coisa julgada
direito. considerado que detém o direito discutido.

Na legitimação ordinária, a coisa julgada atingirá apenas as partes.


Na legitimação extraordinária, atingirá as partes e o substituído processual.
Obs: O legislador preocupado com a situação, autoriza que o substituído ingresse no processo como assistente
litisconsorcial (hipótese de intervenção de terceiros).

b.3) Legitimação extraordinária x representação


Legitimação extraordinária = Defender em nome próprio direito alheio
Representação = Defesa em nome alheio de direito alheio.
Art. 71, CPC. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei.

b.4) Legitimação extraordinária x Sucessão


Sucessão processual = A parte é excluída do processo para que outra entre em seu lugar.
Ex: Art. 110 CPC. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º .
Aula 6 – Ação

6.8.3 Interesse de agir


- Pressupõe a NECESSIDADE (CONTEMPLA A UTILIDADE) e a ADEQUAÇÃO.
O AUTOR CARECERÁ DE AÇÃO QUANDO NÃO PUDER OBTER POR MEIO DA AÇÃO PROPOSTA, O
RESULTADO POR ELE ALMEJADO.
a) Necessidade
A medida ou a providência solicitada pela tutela jurisdicional deve ser necessária e/ou útil.
Caso não seja, a parte falece de interesse processual ou interesse de agir, havendo, assim, a extinção do processo sem
resolução de mérito.

b) Adequação
O ajuizamento de uma demanda exige a utilização de uma via adequada. Quando a ação é proposta em uma via
inadequada, não há interesse.
Ex: Execução sem título extrajudicial.

6.8.4 Possibilidade jurídica do pedido (Não previsto no CPC 15 como condição autônoma da ação)
- A doutrina entende que caso haja impossibilidade do pedido, trata-se de pressuposto processual.
- Portanto o juiz deverá indeferir a inicial, julgar o processo extinto sem resolução do mérito, por falta de INTERESSE DE
AGIR.
Ex: Ação de cobrança de dívida de jogo. (art. 814 CC)
Aula 6 – Ação

6.8.4. Regime jurídico das condições da ação


- Condições da ação são questões de ORDEM PÚBLICA. Deve ser considerado pelo juiz a qualquer tempo, de ofício ou
a requerimento das partes.

- A ausência das condições da ação acarreta a extinção do processo sem a resolução de mérito. Perceba que, como
consequência, não haverá o exercício do direito processual de ação.

- Ademais, as condições da ação são questões de ordem pública, podendo ser reconhecidas de ofício pelo juiz, até o
trânsito em julgado, e não estão sujeitas à preclusão.

Obs: Pela teoria da asserção, como visto, analisado a falta das condições da ação em instrução, será julgamento de
mérito.
Aula 6 – Ação

6.9. ELEMENTOS DA AÇÃO

É possível identificar cada ação a partir de seus elementos: partes, pedido e causa de pedir.

- Conhecida como “Teoria da tríplice identidade” foi adotada pelo Brasil como regra (art. 337, §2º do CPC).
Art. 337, CPC, § 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo
pedido.

6.9.1. ELEMENTOS X CONDIÇÕES


CONDIÇÕES = REQUISITOS PARA QUE EXISTA O DIREITO DE AÇÃO EM SENTIDO ESTRITO.
ELEMENTOS = SERVEM PARA IDENTIFICAR A AÇÃO.

6.9.2. Importância e fundamentos


Os elementos da ação são fundamentais para a competência, pois a definição na competência funcional hierárquica é
feita pelas partes. Igualmente, a competência da Justiça Federal, nos casos do art. 109, I da CF, também é denominada
pelo elemento parte.
Além disso, por meio dos elementos da ação é possível identificar a identidade total (coisa julgada e litispendência) e
parcial (conexão e continência) das demandas.
Aula 6 – Ação

6.9.3. Partes
Parte é quem pede a tutela jurisdicional e em face de quem ela é postulada.

Obs: Há processos sem réu. Ex: alguns casos de jurisdição voluntária (separação consensual), ADI ao STF.

6.9.4. Pedido Pedido é objeto do processo.

a) Imediato = Provimento jurisdicional que se postula em juízo.


Ex: Condenação do réu, a penhora, a declaração de inexistência etc.
a) Mediato = Pretensão material, qual é o bem da vida que almeja alcançar.
Aquilo que a parte usufruirá no mundo dos fatos com o acolhimento do seu pedido é o pedido imediato.
Ex: Pedido imediato da ação de cobrança é a sentença condenatória, o pedido mediato o pagamento de R$5.000,00
- O pedido deve ser certo (identificado ou identificável) e determinado (pedido líquido). Poderá ser um pedido genérico.
Art. 322. O pedido deve ser certo.
§ 1º Compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorários advoca tícios.
§ 2º A interpretação do pedido considerará o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé.
Art. 324. O pedido deve ser determinado.
§ 1º É lícito, porém, formular pedido genérico:
I - nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens demandados;
II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato;
III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.
§ 2º O disposto neste artigo aplica-se à reconvenção.
Aula 6 – Ação

6.9.5. Causa de pedir

Causa de pedir são as afirmações dos fatos jurídicos e dos fundamentos jurídicos do pedido.
É o fato jurídico e o direito que é extraído, o direito que a parte afirma ter, por consequência do fato jurídico.

Art. 319. A petição inicial indicará:


III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;

FUNDAMENTO = JUSTIFICATIVA PELA QUAL SE ENTENDE QUE O JUIZ DEVE ACOLHER A PRETENSÃO E CONCEDER O
PROVIMENTO JURISDICIONAL.
FUNDAMENTOS JURÍDICOS SÃO O DIREITO QUE O AUTOR QUER QUE SEJA APLICADO AO CASO. NORMA GERAL E
ABSTRATA.

FATOS = ACONTECIMENTOS CONCRETOS E ESPECÍFICOS QUE OCORRERAM.

Ex: Petição inicial, cabeçalho, fatos e fundamentos jurídicos.


Aula 6 – Ação

6.9.5.1 Espécies de causa de pedir


a) Causa de pedir próxima
- Refere-se aos fundamentos jurídicos do pedido. Ex: Pedido em razão de erro, fraude à execução.

b) Causa de pedir remota


Fundamentos fáticos, motivo que levou ao pedido. EX: Causa de pedir próxima é a fraude à execução e causa de pedir
remota, vender o bem após o início da execução.

Substanciação da causa de pedir: Jura novit curia (o juiz conhece o direito)


Teoria da substanciação (se contrapõe à individuação), o juiz se vincula à descrição dos fatos.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual
não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva
decidir de ofício.
Aula 6 – Ação

6.9.6. Classificação das ações


a) Com base no fundamento (Real/pessoal) – Não é adequada, pois trata-se do direito material.

b) Atividade exercida pelo Juiz


b.1) Ações de conhecimento (Cognitivas)
Nas ações de conhecimento, a atividade desempenhada pelo juiz é a prolação de sentença que indique se o autor está
com razão ou não, se tem ou não direito ao provimento jurisdicional postulado.
b.2) Execuções
Providências concretas, materiais, destinadas à satisfação do direito.

c) Tipo de tutela cognitiva


c.1) Condenatória
Visa a formação de um título executivo judicial, que atribuirá ao autor o direito de valer-se da via executiva. A
finalidade é compelir alguém ao cumprimento de uma obrigação inadimplida.

c.2) Constitutiva
Modificação, constituindo ou desconstituindo uma relação jurídica. Ex: Ação de separação judicial ou divórcio.

c.3) Declaratória
- Declaração de existência ou inexistência de relação jurídica. Ex: Ação de paternidade.
Aula 6 – Ação

6.9.6. Classificação das ações


d) Mandamental e executiva lato sensu
Ambas constituem espécies de ações cognitivas condenatórias.

d.1) Mandamentais
Juiz emite ordem, comando que permite sem a necessidade de processo autônomo, tomar medidas concretas e
efetivas, destinadas a proporcionar ao vencedor a efetiva satisfação de seu direito.
Ex: Obrigação de fazer/não fazer.

d.2) Executivas lato sensu.


Ações condenatórias em que a sentença é cumprida independentemente de fase executiva.
Ex: Ação de despejo.
Aula 7 – Direito de Defesa

7. Direito de defesa ou Exceção

É assegurado ao Réu o direito de contrapor-se à ação, de defender-se impugnando a pretensão do autor e


apresentando argumentos para convencimento do juiz.
- Princípio de acesso à justiça + garantia do contraditório.

7.1 Acepções de Exceção


I- Exceção em sentido amplo, constitui um dos quatro institutos fundamentais do processo civil.
- Direito de defesa = Contraposição à pretensão inicial;

II- Exceção em sentido estrito, oposto de objeção.


Defesas possíveis:
(i) defesas de ordem pública podem ser conhecidas de ofício pelo juiz ou alegadas pelo réu. Não precluem se o réu
não alegar na primeira oportunidade. DENOMINADAS OBJEÇÕES DE ORDEM PROCESSUAL (EX. INCOMPETENCIA
ABSOLUTA) OU MATERIAL (EX. DECADÊNCIA).
(ii) Defesas que são são de ordem pública, devem ser alegadas pelo Réu, não podendo ser reconhecidas de ofício. Em
regra precluem. ESSAS SÃO AS EXCEÇÕES EM SENTIDO ESTRITO que podem ser processuais (Ex. Incompetência relativa
ou material (Ex. pagamento).
Aula 8 – O PROCESSO

8. PROCESSO

Desde o momento em que é proposta a demanda, haverá a formação de um processo que é o INSTRUMENTO
DA JURISDIÇÃO
- É por meio do processo que o Poder Judiciário poderá dar a
resposta solicitada.

- CONCEITO INTRUMENTALISTA DO PROCESSO


Processo é o instrumento (a técnica, o meio, a ferramenta) pelo qual o
Estado exerce a jurisdição, o autor exerce o seu direito de ação e o réu
exerce o seu direito de defesa.
Candido Rangel Dinamarco
Aula 8 – O PROCESSO

8.1. Aspectos do processo


a) Objetivo
Atos ordenados sucessivamente de maneira lógica, que devem ser realizados durante seu transcurso.
Há um procedimento. O processos é constituído por um conjunto de atos ordenadamente encadeados e previamente
previstos em lei que se destinam ao fim que é a prestação jurisdicional.

b) Subjetivo
Relação que se estabelece entre os personagens.
Processo estabelece uma relação jurídica entre as juiz e partes que se prolonga no tempo, gerando deveres, ônus,
faculdades e direitos.
O PROCESSO É INSTRUMENTO ABSTRATO, NÃO TEM REALIDADE CORPÓREA. NÃO SE CONFUNDE COM OS
AUTOS.
Aula 8 – O PROCESSO

8.2. Teorias modernas do processo


a) Relação jurídica processual – Oskar von Bülow
O processo é uma relação jurídica processual porque é composta de um conjunto de deveres, poderes, obrigações, ônus
e faculdades dos sujeitos processuais (partes e juiz).
É a teoria que inaugurou a fase autonomista do Processo Civil, tendo em vista que separou a relação jurídica material
(partes) da relação jurídica processual (partes e juiz). Salienta-se que tal teoria não trata sobre o procedimento, sobre o
rito do processo.

b) Teoria da situação jurídica (James Goldschmidt)


O processo é fruto da dinamização do direito objetivo. Destaca-se que o direito objetivo é estático. Contudo, a partir do
momento em que há um conflito entre as partes, o direito, até então estático, passa a se movimentar. (dinamização).
Consequentemente, há a criação de uma nova situação jurídica (processo).
Não possui muitos adeptos pois liga o direito material ao processual.

c) Teoria do Módulo Processual ou Procedimento em Contraditório (Élio Fazzalari)


Apresenta o conceito de processo na figura do procedimento. O procedimento é um conjunto de atos processuais
combinados no tempo e no espaço (petição inicial-citação-contestação.
O contraditório, em termos fazzalarianos, é verificado na equiparação de poderes entre os interessados processuais, de
modo que, o provimento final expedido pelo Estado-juíz será válido somente se o conjunto normativo processual estiver
regular com a garantia fundamental.
Aula 8 – O PROCESSO

8.2. Teorias modernas do processo


d) Teoria da entidade complexa (Enrico Liebman, Cândido Rangel Dinamarco, Alexandre Freitas Câmara)
- TEORIA DOMINANTE
O processo pode ser entendido como uma entidade complexa destinada (caráter instrumental, já que não representa
um fim em si mesmo) ao exercício da função jurisdicional do Estado (função esta que, numa visão
neoconstitucionalista, objetiva a concretização e a eficácia das normas constitucionais, mormente das prescritivas de
direitos e garantias fundamentais) e formada por dois elementos igualmente necessários e distintos, a saber: i) a
relação entre os seus atos submetidos à coordenação e ao contraditório (o procedimento; aspecto extrínseco do
processo); e ii) a relação entre os sujeitos que o integram (relação jurídica processual entre o Estado-juiz, o autor e
réu; aspecto intrínseco do processo).

Com relação ao primeiro elemento do processo (o procedimento), ele é composto pelo somatório dos atos processuais
(interligados e combinados) em direção ao provimento jurisdicional demandado (unidade teleológica).

O processo é a soma de uma relação jurídico processual ao procedimento, ainda que sob
contraditório.
Aula 8 – O PROCESSO

8.3. PROCESSO X PROCEDIMENTO


PROCESSO PROCEDIMENTO
ENGLOBA TODO O CONJUNTO DE ATOS QUE SE ALONGA NO FORMA PELA QUAL A LEI DETERMINA QUE TAIS ATOS
TEMPO, ESTABELECENDO UMA RELAÇÃO DURADOURA ENTRE SEJAM ENCADEADOS.
OS PERSONAGENS DA RELAÇÃO PROCESSUAL

8.4. INSTRUMENTALIDADE DO PROCESSO


O PROCESSO NUNCA É UM FIM EM SI MESMO.
CONSTITUI O INSTRUMENTO UTILIZADO PELA JURISDIÇÃO PARA APLICAR A LEI AO CASO CONCRETO. O PROCESSO DEVE
AMOLDAR-SE À PRETENSÃO DE DIREITO MATERIAL QUE SE BUSCA SATISFAZER.
8.5. DIVERSOS TIPOS DE PROCESSO
- Classificação de acordo com a tutela postulada: conhecimento (tutela cognitiva); e de execução (satisfação do direito).
(I) PROCESSO SINCRÉTICO (OU ECLÉTICO) - Previsto no Livro I da parte especial do CPC. É o processo que visa, ao mesmo tempo,
atividades cognitivas (declarar o direito). satisfativas, de urgência e de evidência.
Desde a Lei nº 11.232, de 2004 os processos de conhecimento passaram a ter natureza eclética. A sentença condenatória não põe fim
ao processo de conhecimento, mas a FASE COGNITIVA, DANDO INÍCIO À FASE EXECUTIVA. HOJE FORAM CONSTITUÍDAS DUAS FASES EM
UM MESMO PROCESSO.
(II) PROCESSO DE EXECUÇÃO Previsto no Livro II da parte especial do CPC.
Destaca-se que o processo de execução é exclusivo dos títulos extrajudiciais, uma vez que a execução dos títulos judiciais ocorre no
processo sincrético. O processo de execução visa a satisfação
Aula 8 – O PROCESSO

8.6. PROCESSO X AÇÃO


PROCESSO AÇÃO
VIABILIZA A AÇÃO, ATRAVÉS DE ATOS ORDENADOS QUE DIREITO SUBJETIVO PÚBLICO DE MOVIMENTAR A
ESTABELECEM A RELAÇÃO ENTRE O JUIZ E AS PARTES. MÁQUINA JUDICIÁRIA. POSTULAR UMA RESPOSTA PARA
A PRETENSÃO FORMULADA.

8.7. FORMAÇÃO GRADUAL DA RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL


- Formação do próprio processo como entidade complexa
(i) Inicia com o protocolo da petição inicial para o Autor. (Fase anterior ao registro e distribuição) (art. 312, CPC)
(ii) Para o réu, inicia com a citação válida (art. 240, CCP).
Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois
que for validamente citado.
Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts.
397 e 398 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) .

8.8. Triangularidade x Angularidade do Processo


- Triangularidade o autor possui uma obrigação jurídica com o Estado-Juiz, este possui com o réu e as partes.
- Angularidade prevê que a relação é angular, havendo relação entre o estado e as partes, mas estas não possuem
relação processual entre si. – IMPOSSÍVEL EM RAZÃO DO ART. 6º CPC, PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO.
- Art. 6º CPC Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.
Aula 8 – O PROCESSO

8.9. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

8.9.1. Conceito
O PROCESSO É UM INSTRUMENTO DE EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO PELO ESTADO, DE EXERCÍCIO DE AÇÃO PELO AUTOR E
DEFESA PELO RÉU.
PARA SER OPERADO DE MODO EFICAZ E REGULAR PRECISA ATENDER A DETERMINADOS REQUISITOS, CHAMADOS DE
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS.

- “O processso deve atender a determinados requisitos para que possa ter um desenvolvimento regular e válido”.
A ausência dos pressupostos gera irregularidade do processo ou vício.

- Somente se preenchidos os pressupostos processuais e as condições da ação é que o juiz poderá analisar o mérito,
antes disso deverá requer saneamento do vício ou haverá julgamento sem resolução do mérito. (Art. 485, IV CPC).

- Trata-se de matéria de ordem pública que poderá ser examinada pelo juiz de ofício.
Aula 8 – O PROCESSO

8.9.2 Classificação
a) Nulidades
•Teoria das invalidades do processo.
•Todas as nulidades absolutas e relativas podem ser sanadas, tomadas as providências para tanto. O processo não é um
fim em si mesmo, mas um instrumento.
•Nulidades absolutas decorrem de vícios de estrutura do processo e da relação processual. Precluem após o prazo
decadencial de 2 anos da Ação rescisória. Podem ser alegados a qualquer momento e reconhecidos de ofício pelo juiz.
•Nulidades relativas são as demais. Essas precluem quando não alegadas e são automaticamente sanadas.
b) Ineficácia
Categoria de vícios (ineficácia) que engloba aqueles que por sua importância e gravidade não precluem nem mesmo
após o prazo decadencial da ação rescisória.
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV - ofender a coisa julgada;
V - violar manifestamente norma jurídica;
VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento
favorável;
VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.
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8.10 Pressupostos processuais de eficácia (Exemplificativo)


a) Existência de jurisdição
b) Existência de demanda
- Ineficaz sentença extra petita ( Algo que não foi pedido) e ultra petita (Extrapolação do pedido).
c) Capacidade postulatória
Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou
prescrição, ou para praticar ato considerado urgente.
§ 2º O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o
advogado pelas despesas e por perdas e danos.
d) Citação do réu
Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será:
II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados.

Remédio: Ação declaratória de ineficácia (Querela nullitatis insanabilis).


- Sem prazo a ser ajuizada. Perante o juízo que prolatou a decisão.
Aula 8 – O PROCESSO

8.11. Pressupostos processuais de validade (POSITIVOS)


- Indispensáveis para que o processo seja válido
- Caso sejam omitidos implicarão em NULIDADE DO PROCESSO.

a) Petição Inicial apta


Inépcia da petição inicial impede o desenvolvimento válido e regular do processo.
Hipóteses de inépcia: Art. 330§ 1º, CPC.
Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:
I - for inepta;
II - a parte for manifestamente ilegítima;
III - o autor carecer de interesse processual;
IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321 .
§ 1º Considera-se inepta a petição inicial quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico;
III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

b) Juízo competente e juiz imparcial


Apenas a incompetência absoluta é capaz de gerar nulidade processual e ensejar rescisória;
Em relação à imparcialidade, há o impedimento e a suspeição. Somente o impedimento enseja a rescisória.
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
Aula 8 – O PROCESSO

c) Capacidade (Postulatória, de ser parte e processual)

- Postulatória (Pressuposto processual de eficácia)


- Deriva da necessidade de aptidão especial para formular requerimentos ao Poder Judiciário.
- Regra geral os advogados e MP tê capacidade postulatória, as pessoas não têm capacidade postulatória, exceto
quando a lei autoriza (Ex. Habeas Corpus). GERA INEFICÁCIA.

- Ser parte

- É a aptidão de ser parte em um processo, de figurar na condição de autor ou réu.


- Todos os titulares de direitos na ordem civil têm capacidade de ser parte e, excepcionalmente os entes
despersonalizados, como a massa falida, condomínio, espólio, nascituro.

- Processual (capacidade de estar em juízo, legitimidade “ad processum”)


- Aptidão de figurar como parte sem precisar ser representado ou assistido, através de representante legal.
- As pessoas com capacidade de fato têm capacidade processual, assim como os incapazes por representação ou
assistência.
- Verificando o juiz falha na capacidade processual, concederá prazo para saná-la. Não sendo, extinguirá o processo se
o incapaz for autor, a revelia quando réu ou exclusão no caso de terceiro.
Aula 8 – O PROCESSO

8.12. Pressupostos processuais negativos


- Indicam circunstâncias que devem estar ausentes para a validade do processo, como LITISPENDÊNCIA, COISA
JULGADA, PEREMPÇÃO E COMPROMISSO ARBITRAL.
- Litispendência: Quando há identidade total de elementos em mais de uma ação, temos a litispendência, que é causa
de extinção do processo sem resolução de mérito.
- PEREMPÇÃO: PERDA DO DIREITO DE AÇÃO COMO CONSEQUÊNCIA DE, POR TRÊS VEZES ANTERIORES, O AUTOR TER
DADO CAUSA À EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO POR ABANDONO.
- Coisa Julgada: Quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.
Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:
I - inexistência ou nulidade da citação;
II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa;
IV - inépcia da petição inicial;
V - perempção;
VI - litispendência;
VII - coisa julgada;
VIII - conexão;
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização;
X - convenção de arbitragem;
XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual;
XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar;
XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
§ 1º Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
§ 2º Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
§ 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
§ 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.
§ 5º Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompetência relativa, o juiz conhecerá de ofício das matérias enumeradas neste artigo.
§ 6º A ausência de alegação da existência de convenção de arbitragem, na forma prevista neste Capítulo, implica aceitação da jurisdição estatal e renúncia ao juízo arbitral.

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