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Orientações importantes:
1. NOÇÕES GERAIS
A obrigação é dinâmica e pode ser transferida nas formas ativa ou passiva, quando se
tratar, respectivamente, de crédito ou débito.
As cessões de crédito e de débito compõem o instituto no direito obrigacional
denominado “Transmissão das obrigações”, trazido pela Codificação de 2002, inovando em
relação ao regime anterior, que apenas disciplinava sobre a cessão de crédito.
Em resumo, cessões de crédito e de débito referem-se ao negócio jurídico por meio
do qual há transmissão a um terceiro do respectivo crédito ou do débito. Vejamos
detalhadamente os regramentos de cada uma delas.
2. CESSÃO DE CRÉDITO
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TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020, [Livro digital].
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CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS
DEPARTAMENTO DE DIREITO
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I
adverte que referida nomenclatura não é recomendável, pois apenas a dívida é transmissível,
mas não a pessoa. Vejamos a representação gráfica da relação jurídica:
▪ Cessão legal: decorre da lei, tendo origem na norma jurídica. É a que ocorre
em relação aos acessórios da obrigação, no caso da cessão de crédito (art.
287 do CC).
▪ Cessão judicial: é aquela oriunda de decisão judicial após processo civil
regular, como é o caso de decisão que atribui ao herdeiro um crédito do falecido
▪ Cessão convencional: é a mais comum de ocorrer na prática, constituindo a
cessão decorrente de acordo firmado entre cedente e cessionário por
instrumento negocial.
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TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020, [Livro digital].
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▪ Cessão a título oneroso: assemelha-se ao contrato de compra e venda, diante
da presença de uma remuneração. Pelo fato de poder ser onerosa, a cessão
de crédito difere-se da sub-rogação.
▪ Cessão a título gratuito: assemelha-se ao contrato de doação, pela ausência
de caráter oneroso. Nesse ponto até pode se confundir com o pagamento com
sub-rogação. Entretanto, no plano conceitual, a cessão de crédito é forma de
transmissão da obrigação, enquanto a subrogação é uma regra especial de
pagamento ou forma de pagamento indireto.
▪ Cessão pro soluto: é aquela que confere quitação plena e imediata do débito
do cedente para com o cessionário, exonerando o cedente. Constitui a regra
geral, não havendo responsabilidade do cedente pela solvência do cedido (art.
296 do CC).
▪ Cessão pro solvendo: é aquela em que a transferência do crédito é feita com
intuito de extinguir a obrigação apenas quando o crédito for efetivamente
cobrado. Deve estar prevista pelas partes, situação em que o cedente
responde perante o cessionário pela solvência do cedido (art. 297 do CC).
Regra geral, além da obrigação principal, também são transferidos todos os acessórios
e as garantias da dívida, conforme artigo 287 do Código Civil:
A cessão dos acessórios cessão desses acessórios é caso de cessão legal e segue o
chamado princípio da gravitação jurídica, segundo o qual o acessório segue o principal.
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A cessão independe de anuência do devedor, ou seja, ele não precisa consentir com
a transmissão da obrigação.
ATENÇÃO! A cessão não se confunde com a novação, nem com a sub-rogação legal.
Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a
natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula
proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não
constar do instrumento da obrigação.
Em regra, a lei permite a cessão de crédito e prevê três hipóteses em que não ocorrerá:
a) se a natureza da obrigação for incompatível com a cessão; b) se houver vedação legal; e
c) se houver cláusula contratual proibitiva.
Quanto à primeira hipótese, é possível exemplificar a impossibilidade de cessão de
crédito nos casos de obrigação de alimentos ou de direitos da personalidade.
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o direito
a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão, compensação
ou penhora.
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade
são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer
limitação voluntária.
Art. 520. O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos herdeiros.
Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de
nulidade:
[...]
III - constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor.
Em regra, a cessão não exige documento escrito e tem eficácia inter partes. No
entanto, referida transmissão só terá eficácia perante terceiros mediante a celebração de
instrumento público ou particular, com as formalidades previstas no § 1º do artigo 654 do
Código Civil.
Art. 654. Todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante
instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do
outorgante.
§ 1 o O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi
passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da
outorga com a designação e a extensão dos poderes conferidos.
Para fins da aplicação do artigo 288 do Código Civil, o devedor (cedido) não é
considerado como terceiro, bastando a sua ciência mediante a notificação prevista no artigo
290 do diploma civil. Sobre a questão, eis o Enunciado n. 618 da Jornada de Direito Civil:
Enunciado 618. O devedor não é terceiro para fins de aplicação do art. 288
do Código Civil, bastando a notificação prevista no art. 290 para que a cessão
de crédito seja eficaz perante ele.
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Conforme já afirmado, o devedor não precisa concordar com a cessão, mas deve ser
cientificado desta para ter eficácia. A legislação não exige uma forma específica: ela pode ser
judicial, extrajudicial ou até mesmo pode haver a notificação presumida, quando o devedor se
declara ciente da cessão realizada.
Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão
quando a este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito
público ou particular, se declarou ciente da cessão feita.
Quando ocorrerem várias cessões do mesmo crédito, valerá aquela que se completar
com a entrega do título de crédito cedido. Assim, se Pedro cedeu seu crédito para João, José
e Manoel, mas entregou o título apenas a este último, Manoel será o credor e cessionário. Se
a cessão tiver sido onerosa, João e José poderão tomar as devidas providências contra Pedro,
aplicando-se as regras do pagamento indevido e do enriquecimento sem causa previstas nos
arts. 876 a 886 do CC.
Conforme dispõe o artigo 294, o devedor pode opor ao cessionário as exceções que
lhe competirem ou as que apresentaria contra o cedente. Se o crédito for obtido, por exemplo,
por erro ou lesão, poderá apresentar essas defesas em relação à cessão de crédito.
Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se
responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao
tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões
por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.
É possível que, no ato da transmissão do crédito, seja pactuado que o cedente será
responsabilizado pela solvência do devedor, devendo, neste caso: i) garantir a existência do
crédito; ii) ser corresponsável pelo pagamento da dívida, até o limite do que recebeu do
cessionário, com acréscimo de juros, bem como a obrigação de ressarcimento das despesas
da cessão e as que o cessionário houver feito para a cobrança da dívida. Eis a literalidade do
artigo 297:
EM RESUMO:
Cessão de crédito pro soluto: o cedente garante a existência do débito, mas não
responde pela solvência do devedor.
Cessão de crédito pro solvendo: o cedente se obriga a pagar, caso o devedor (Cedido)
for insolvente. O cedente assume o risco da insolvência do devedor.
Se o crédito for penhorado, não mais poderá ser transferido pelo credor que tiver
conhecimento da penhora. Por outro lado, se o devedor o pagar e não tiver conhecimento da
penhora, fica exonerado, subsistindo contra o credor os direitos de terceiro. O artigo 298,
portanto, veda a transferência do crédito penhorado e, caso o devedor pague a dívida
penhorada, está exonerado totalmente.
Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo
credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não
tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor
os direitos de terceiro.
Enunciado n. 16, CJF. O art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade
da assunção cumulativa da dívida quando dois ou mais devedores se tornam
responsáveis pelo débito com a concordância do credor.
No entanto, embora trate das classificações, Tartuce4 entende como pertinente aplica-
la apenas somente para a novação subjetiva passiva.
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TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2020, [Livro digital].
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O novo devedor não pode opor ao credor as exceções (defesas) pessoais que
competiam ao devedor primitivo, como incapacidade, dolo, coação etc. Por outro lado, é
possível que oponha defesas não pessoais, como o pagamento da dívida ou a exceção de
contrato não cumprido.
Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que
competiam ao devedor primitivo.
A cessão de contrato é uma hipótese trazida pela doutrina que, embora não trazida
por lei, pode ser visualizada a partir do artigo 425, que trata da criação de contratos atípicos:
5. APLICABILIDADE PRÁTICA
a. Jurisprudência
CESSÃO DE CRÉDITO
CESSÃO DE DÉBITO
b. Questões de prova
(Ano: 2021 Banca: FGV Órgão: IMBEL Prova: FGV - 2021 - IMBEL - Advogado) A
Sociedade X, fabricante de produtos para a construção civil, forneceu materiais para a
Sociedade Y. Alguns dias após a entrega dos produtos, mas antes da data acordada para que
a Sociedade Y pagasse pelo recebimento, a Sociedade X notificou a Sociedade Y acerca da
transmissão do crédito, advindo daquele contrato, para a Sociedade Z. Porém, a Sociedade
Y não concorda em pagar o valor da aquisição à Sociedade Z, embora no contrato com a
Sociedade X não houvesse previsão de qualquer proibição dessa prática.
a) A Sociedade X pretende realizar uma novação da obrigação, que não é admitida sem
autorização do devedor.
b) A Sociedade X realizou uma cessão de crédito à Sociedade Z, admitida, pois não há
vedação legal, contratual e a natureza da obrigação a permite.
c) A Sociedade X imputou a Sociedade Z no pagamento, o que não pode ser impugnada pela
Sociedade Y, ainda que haja cláusula proibitiva.
d) Operou-se, entre as Sociedades X e Z, uma compensação de crédito, pelo que a Sociedade
Y não possui meios para excepcionar o pagamento.
e) A consignação do crédito efetuada pela Sociedade X junto à Sociedade Z, a qual somente
pode ser proibida por lei, determina que a Sociedade Y pague a Z.
RESPOSTA: B
(Ano: 2009 Banca: FCC Órgão: TRE-AL) Considere as seguintes assertivas a respeito da
transmissão das obrigações:
I. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a primeira cessão formalmente e
legalmente realizada independentemente da tradição.
II. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer
os atos conservatórios do direito cedido.
III. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.
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IV. Em regra, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais
originariamente dadas pelo devedor primitivo ao credor.
De acordo com o Código Civil Brasileiro está correto o que se afirma APENAS em
a) I, II e III.
b) I e IV
c) II e III.
d) II e IV.
e) II, III e IV.
RESPOSTA: E
(Ano: 2019 Banca: IESES Órgão: Prefeitura de São José - SC Prova: IESES - 2019 -
Prefeitura de São José - SC - Procurador Municipal) Sobre a transmissão das obrigações,
responda as questões:
I. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.
II. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário exercer
os atos conservatórios do direito cedido.
III. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os seus
acessórios. Assinale a correta:
RESPOSTA: C
(Ano: 2005 Banca: FCC Órgão: PGE-RR) Na transmissão das obrigações vigora a seguinte
regra:
a) o cedente sempre responderá pela existência do crédito e pela solvência do devedor, nas
cessões a título oneroso.
b) qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida,
interpretando-se o seu silêncio como aceitação.
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c) a cessão de crédito, salvo disposição em contrário, não abrange os seus acessórios, porque
deve ser interpretada restritivamente.
d) o devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como aquelas
que vier a ter contra o cedente, mesmo depois de ter conhecimento da cessão.
e) é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do
credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era
insolvente e o credor o ignorava.
RESPOSTA: E
6. REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria geral das obrigações. 8. ed. São Paulo: RT, 2000.
FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito das obrigações. 4. ed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 11.
FRANÇA, Rubens Limongi. Instituições de direito civil. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p.
591.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 8. ed. São
Paulo: Saraiva, 2007. v. II.
HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes; MORAES, Renato Duarte Franco de. Direito
das obrigações. São Paulo: RT, 2008. v. 2, p. 32.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1979.
v. IV.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: MÉTODO, 2020, [Livro digital].
VENOSA, Silvio de Sávio. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil, 18. ed. São Paulo:
Atlas, 2018 [Livro Digital].