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Direito Civil II

Teoria Geral das Obrigações


Prof. Me. Bruno Magalhães Ferreira

Da imputação do pagamento

Se um devedor tem várias dívidas diferentes com um credor, mas não lhe entrega
valor suficiente para pagamento de todas, é preciso identificar quais as dívidas foram
extintas.

Imputação ao pagamento é a indicação da dívida a ser paga quando uma pessoa se


encontra obrigada por dois ou mais débitos com o mesmo credor, sem poder pagar
todos eles.

Trata-se de ato unilateral, razão pela qual o instituto está elencado como uma regra
especial de pagamento
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Antes de a lei definir quais obrigações estão extintas (imputação legal), as partes têm
o direto de definir (imputação convencional).
Assim, em primeiro lugar, quem define é o devedor.
Art. 352, CC. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só
credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem
líquidos e vencidos.
No seu silêncio do devedor, o credor define em quais dá quitação.
Art. 353. Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer
imputar o pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar
contra a imputação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou
dolo.
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Se nenhum deles definir, a lei definirá, estabelecendo a seguinte ordem:


(i) primeiro se pagam os juros vencidos e só depois o capital;
Art. 354, CC. Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros
vencidos, e depois no capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a
quitação por conta do capital.
(ii) pagamento imputado às dívidas vencidas há mais tempo;
(iii) se todas vencidas no mesmo tempo, a imputação será na mais onerosa (maiores
juros ou multas);
Art. 355, CC. Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação
for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas
em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao
mesmo tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.
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(iv) se todas no mesmo tempo e mesmos ônus, a lei não dá solução, mas
jurisprudência diz ser de forma proporcional em cada uma das obrigações.
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Da dação em pagamento, datio in solutum ou dação em cumprimento.


Sabemos que nas relações obrigacionais o credor persegue determinada prestação.
O devedor não possui o direito potestativo de lhe poder impor o pagamento, mediante
a substituição da coisa por outra, mesmo que o objeto substitutivo seja de valor
superior ao originário.
Pelo princípio da exatidão, formulado na regra geral do artigo 313, CC, o credor não
será obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida.
Trata-se de modalidade extintiva da obrigação em que o credor consente em receber
objeto diverso ao da prestação originária pactuada.
Ante ao princípio do da autonomia privada, a dação em pagamento se configura como
negócio jurídico bilateral transmissivo de propriedade, como forma de solução do
débito.
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Requisitos:
a) Preexistência de um vínculo obrigacional entre as partes – caso não exista débito
anterior, o devedor estará realizando uma doação, operando mera liberalidade em prol
do credor.
Difere da obrigação alternativa e facultativa.
b) Acordo entre credor e devedor – a dação não poderá ser imposta ao accipiens, não
sendo ele obrigado a suportar unilateral alteração do plano obrigacional
convencionado.
c) Diversidade entre a prestação devida e a oferecida em substituição – a coisa nova
dada em substituição pode ser bem móvel, imóvel ou mesmo um direito (usufruto de
imóvel). Pode mesmo ser uma obrigação de fazer ou uma abstenção.
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Art. 356, CC. O credor pode consentir em receber prestação diversa da


que lhe é devida.
Art. 357, CC. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as
relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra
e venda.
Mas não podemos confundir a dação em pagamento com o contrato de
compra e venda. A finalidade da dação é a extinção da obrigação, ademais,
o pressuposto de toda dação é a tradição da coisa, enquanto a compra e
venda é negócio jurídico consensual, produzindo efeitos obrigacionais por
simples acordo das partes.
Art. 482, CC. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória
e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.
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Art. 358, CC. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a


transferência importará em cessão.
Art. 359, CC. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento,
restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação
dada, ressalvados os direitos de terceiros.
Em matéria de evicção vejamos o que dispõe o art. 447 do CC.
Art. 447, CC. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção.
Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta
pública.
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Além da responsabilidade pela evicção, a dação em pagamento acarreta


reponsabilidade do devedor por vícios redibitórios, pois a sua disciplina se
estende a todo e qualquer contrato comutativo.
Art. 441, CC. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser
enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a
que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

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