Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

DIREITO CIVIL ll – 3º PERÍODO

MARIA CAROLINA COSTA SILVA

RESUMO
Teoria do Pagamento

Palmeiras de Goiás
2023
O adimplemento das obrigações (teoria do pagamento)

Por meio do pagamento, cumprimento ou adimplemento obrigacional tem-se a


liberação total do devedor em relação ao vínculo obrigacional.
A matéria engloba os seguintes tópicos, que consubstanciam a “teoria do
pagamento” (Orlando Gomes) subdivididos em:
1) Pagamento Direto
2) Regras especiais de pagamento - atos unilaterais.
3) Formas de pagamento indireto - atos bilaterais ou negócios jurídicos.
Existem também contratos que geram o pagamento: a transação e o
compromisso.

Do pagamento direto

• Elementos subjetivos do pagamento direto. O solvens e o accipiens.


Quem paga e quem recebe?

De acordo com o que consta do Código Civil em vigor, são elementos


subjetivos ou pessoais do pagamento o solvens (quem deve pagar) e o
accipiens (a quem se deve pagar). A lei civil não utiliza as expressões credor e
devedor para denominar as partes. Outras pessoas que não sejam o devedor
podem pagar ao mesmo tempo em que outras pessoas que não sejam o credor
podem receber.

a) Do solvens ou "quem deve pagar" (arts. 304 a 307 do CC)

Em regra geral, o solvens será o devedor, mas outras pessoas também podem
pagar. O art. 304 do CC enuncia que qualquer interessado na dívida pode
pagá-la, podendo usar, se houver oposição do credor, dos meios conducentes
à exoneração do devedor.
O conceito de terceiro interessado na dúvida corresponde à pessoa que tenha
interesse patrimonial na sua extinção, caso do fiador, do avalista ou do
herdeiro. Em tais hipóteses, ocorre a chamada sub-rogação legal ou
automática (art. 346, Ill do CC).
Interesse patrimonial não significa interesse afetivo. Dessa forma, um pai que
paga a dívida do filho por intuito afetivo não pode ser considerado terceiro
interessado no campo do direito obrigacional.
O pai que paga a dívida deve ser considerado um terceiro não interessado na
dívida. Esse também tem direito de realizar o pagamento.
Em tais casos há duas regras há serem observadas:
- Se o terceiro não interessado fizer o pagamento em seu próprio nome tem
direito a reembolsar-se no que pagou, mas não se sub-roga nos direitos do
credor (art. 305 do CC).
- Se o terceiro não interessado fizer o pagamento em nome e em conta do
devedor, sem oposição deste, não terá direito a nada, pois é como se fizesse
uma doação, um ato de liberalidade (interpretação do art. 304, parágrafo único,
do CC).
Somente terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade
quando feito por quem possa alienar o bem em que ele consistiu. Desse modo,
somente se o solvens for titular de um direito real que será possível o
pagamento. Esse dispositivo veda a alienação por quem não seja o dono da
coisa (a non domino). A solução dada pela norma é a ineficácia e não a
invalidade do pagamento.

b) Do accipiens ou "a quem se deve pagar" (arts. 308 a 312 do CC)

Em regra geral, o accipiens será o credor. Mas o pagamento tam bém pode
ser feito ao seu representante, que tem poderes para receber o pagamento,
sob pena de só valer depois de ratificação, de confirmação pelo credor, ou
havendo prova de reversão ao seu proveito (art. 308 do CC).
O pagamento também poderá ser feito aos sucessores do credor, como no
caso do herdeiro e do legatário, que podem ser reputados como
representantes.
O art. 308 do CC enuncia que válido será o pagamento ao credor putativo
(aquele que aparentemente tem poderes para receber) desde que haja boa-fé
do devedor.
No que interessa à antiga regra quem paga mal, paga duas vezes, está
implícita no art. 310 do Código Civil em vigor. Por tal comando legal, não vale o
pagamento cientemente feito ao credor incapaz de dar quitação, se o devedor
não provar a reversão do valor pago em seu benefício.
Vale lembrar a parte final do dispositivo (art. 310 do CC), pelo qual se ficar
provado que o pagamento foi revertido a favor do credor, haverá exoneração
daquele que pagou. O dispositivo valoriza a busca da verdade real (teoria da
aparência) em sintonia com a vedação do enriquecimento sem causa, com a
eticidade e a socialidade.
Determina o art. 311 do CC que deve ser considerado como autorizado a
receber o pagamento aquele que está munido do documento representativo da
quitação (o recibo), salvo se as circunstâncias afastarem a presunção relativa
desse mandato tácito.

• Do objeto e da prova do pagamento direto (elementos objetivos do


pagamento direto). O que se paga e como se paga

Pela interpretação do art. 313 do CC pode-se afirmar que o objeto do


pagamento é a prestação, podendo o credor se negar a receber o que não foi
pactuado, mesmo sendo a coisa mais valiosa. Trata-se de concretização da
antiga máxima romana nemo aliud pro alio invito creditore solvere potest. Essa
regra reforça a individualização da prestação na obrigação de dar coisa certa,
como outrora exposto.
Mesmo sendo a obrigação divisível, não pode ser o credor obrigado a receber,
nem o devedor a pagar em partes, salvo previsão expressa em contrato (art.
314 do CC).
De acordo com o art. 315 da codificação material privada, as dívidas em
dinheiro (obrigações pecuniárias) devem ser pagas em moeda nacional
corrente e pelo valor nominal (princípio do nominalismo).
Para se evitar os efeitos da inflação, foi prática muito comum empregada pelos
credores a aplicação de índices de correção monetária que podiam ser
aplicados sem limite temporal. Enuncia o art. 316 do atual CC que é lícito
convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas, a que se dá o
nome de cláusula de escala móvel ou cláusula de escalamento.
Continua sendo proibida a cobrança de juros abusivos (superiores ao dobro da
taxa legal), bem como o anatocismo (juros sobre juros).

• Do lugar do pagamento direto. Onde se paga

Em regra geral, instrumentos obrigacionais estipularão o domicílio onde as


obrigações deverão ser cumpridas, determinando também, de forma implícita,
a competência do juízo onde a ação será proposta, em caso de
inadimplemento da obrigação.
Em relação ao lugar de pagamento, a obrigação pode ser assim classificada
em:
a) Obrigação quesível ou quérable - situação em que o pagamento deverá
ocorrer no domicílio do devedor.
b) Obrigação portável ou portable - é a situação em que se estipula, por força
do instrumento negocial ou pela natureza da obrigação, que o local do
cumprimento da obrigação será o domicílio do credor.

Designados dois ou mais lugares, caberá ao credor escolher entre eles (art.
327, parágrafo único, do CC). Por uma questão prática que lhe é mais
favorável, é muito comum o credor escolher o próprio domicílio para o
pagamento.

• Do tempo do pagamento. Quando se paga

O vencimento é o momento em que a obrigação deve ser satisfeita, cabendo


ao credor a faculdade de cobrá-la. Esse vencimento, tempo ou data de
pagamento, pode ser fixado pelas partes por força do instrumento negocial.
A obrigação sob o prisma do tempo do pagamento pode ser visualizada em:
a) Obrigação instantânea com cumprimento imediato - é aquela cumprida
imediatamente após a sua constituição. (art. 331 do CC)
b) Obrigação de execução diferida - é aquela cujo cumprimento deverá ocorrer
de uma vez só, no futuro. (Súmula 370 do STJ)
c) Obrigação de execução continuada ou trato sucessivo - muito comum na
atualidade pela ausência de crédito imediato, sendo aquela cujo cumprimento
se dá por meio de subvenções periódicas.

As obrigações acima não se confundem com as obrigações condicionais, cuja


eficácia depende de evento futuro e incerto. Estas últimas são cumpridas na
data do implemento ou ocorrência da condição (implemento), cabendo ao
credor a prova de que deste teve ciência o devedor (art. 332 do CC).
O vencimento antecipado também pode ocorrer para as obrigações em geral,
por convenção entre as partes, nos casos envolvendo inadimplemento. A
conclusão é de que o rol do vencimento antecipado é exemplificativo (numerus
apertus) e não taxativo (numerus clausus).
Das regras especiais de pagamento e das formas de pagamento indireto

• Do pagamento em consignação (ou da consignação em pagamento)

O pagamento em consignação pode ser conceituado como o depósito feito


pelo devedor, da coisa devida, para liberar-se de uma obrigação assumida em
face de um credor de terminado.
O pagamento em consignação pode ser definido como "o meio indireto de o
devedor, em caso de mora do credor, exonerar-se do liame obrigacional,
consistente no depósito judicial (consignação judicial) ou em estabelecimento
bancário (consignação extrajudicial), da coisa devida, nos casos e formas da
lei".
A consignação pode ter como objeto bens móveis e imóveis, estando
relacionada com uma obrigação de dar.
O Código Civil utiliza a expressão pagamento em consignação, enquanto o
Código de Processo Civil, o termo consignação em pagamento. A consignação
não pode ser relacionada com obrigação de fazer ou de não fazer.
A consignação libera o devedor do vínculo obrigacional, isentando-o dos riscos
e de eventual obrigação de pagar os juros moratórios e a cláusula penal (ou
multa contratual).

• Da imputação do pagamento

Juridicamente, imputar significa indicar, apontar. Como elementos da


imputação, há a identidade de devedor e de credor, a existência de dois ou
mais débitos da mesma natureza, bem como o fato de as dívidas serem
líquidas e vencidas - certas quanto à existência, determinadas quanto ao valor.
A imputação do pagamento visa a favorecer o devedor ao lhe possibilitar a
escolha do débito que pretende extinguir (art. 352 do CC).
O ato de imputação é unilateral, razão pela qual o instituto está elencado corno
urna regra especial de pagamento.

• Do pagamento com sub-rogação

O Código Civil trata da subrogação pessoal ativa, que vem a ser a substituição
em relação aos direitos relacionados com o crédito, em favor daquele que
pagou ou adimpliu a obrigação alheia.
Na sub-rogação pessoal ativa, efetivado o pagamento por terceiro, o credor
ficará satisfeito, não podendo mais requerer o cumprimento da obrigação. No
entanto, como o devedor originário não pagou a obrigação, continuará obrigado
perante o terceiro que efetivou o pagamento.
Conforme consta no art. 349 do CC a sub-rogação transfere ao novo credor
todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo em relação à dívida
contra o devedor principal e os fiadores.
A sub-rogação, mera substituição do credor que está prevista pela
teoria geral das obrigações, pode ser classificada em:
a) Sub-rogação legal (art. 346 do CC) - são as hipóteses de pagamentos
efetivados por terceiros interessados na dívida (interesse patrimonial).
b) Sub-rogação convencional (art. 347 do CC) - são os pagamentos efetivados
por terceiros não interessados na dívida.
Na sub-rogação legal existem atos unilaterais, o que a caracteriza como regra
especial de pagamento. Por outro lado, na sub-rogação convencional existe um
negócio jurídico celebrado (ato bilateral) com um terceiro não interessado que
realiza o pagamento. Dessa forma, a sub-rogação convencional é forma de
pagamento indireto.

• Da dação em pagamento

A novação, tratada entre os arts. 360 a 367 do CC, pode ser definida como
uma forma de pagamento indireto em que ocorre a substituição de uma
obrigação anterior por uma obrigação nova, diversa da primeira criada pelas
partes.
Seu principal efeito é a extinção da dívida primitiva, com todos os acessórios e
garantias, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364 do CC).
São seus elementos essenciais:
- Existência de uma obrigação anterior (obrigação antiga).
- Existência de uma nova obrigação.
- Intenção de novar (animus novandi).
São classificadas em:

l) Novação objetiva ou real - ocorrendo nas hipóteses em que o devedor contrai


com o credor nova dívida para extinguir a primeira (art. 360, 1, do CC).

ll) Novação subjetiva ou pessoal - é aquela em que ocorre a substituição dos


sujeitos da relação jurídica obrigacional, criando-se uma nova obrigação, com
um novo vínculo entre as partes. A novação subjetiva pode ser assim
classificada:
- Novacão subjetiva ativa – ocorre a substituição do credor, criando uma nova
obrigação com o rompimento do vínculo primitivo (art. 360, Ili, do CC).
- Novação subjetiva passiva - ocorre a substituição do devedor que sucede ao
antigo, ficando este último quite com o credor (art. 360, li, do CC).

a) Novação subjetiva passiva por expromissão- ocorre quando um terceiro


assume a dívida do devedor originário, substituindo-a sem o consenti mento
deste (art. 362 do CC), mas desde que o credor concorde com a mudança no
polo passivo.
b) Novação subjetiva passiva por delegação - ocorre quando a substituição do
devedor é feita com o consentimento do devedor originário, pois é ele que
indicará uma terceira pessoa para assumir o seu débito, havendo concordância
do credor.

Há a novação mista, hipótese em que, ao mesmo tempo, substitui-se o objeto


e um dos sujeitos da relação jurídica. Essa forma de novação também pode ser
denominada de novação complexa, eis que ocorre a substituição de quase
todos os elementos da relação jurídica original, não estando tratada de forma
expressa na codificação privada brasileira.

• Da compensação
Ocorre a compensação quando duas ou mais pessoas forem ao mesmo tempo
credoras e devedoras umas das outras, extinguindo-se as obrigações até o
ponto em que se encontrarem, onde se equivalerem (art. 368 do CC).
De acordo com o art. 369 da codificação material, a compensação efetua-se
entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. Trata-se de requisito
para a compensação legal.
O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas
o fiador pode compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado (art. 371
do CC).
As principais classificações da compensação são:

l) Quanto à origem:
a) Compensação legal - é aquela que decorre de lei e independe de convenção
entre os sujeitos da relação obrigacional, operando-se mesmo que uma delas
não queira a extinção das dívidas, pois envolve a ordem pública.
b) Compensação convencional - quando há um acordo de vontade entre os
sujeitos da relação obrigacional.
c) Compensação judicial - ocorre por meio de decisão do juiz que reconhece no
processo o fenômeno de extinção obrigacional.

ll) Quanto à extensão:


a) Compensação plena, total ou extintivo - é aquela que envolve a totalidade de
duas dívidas.
b) Compensação restrita, parcial ou propriamente dita - é aquela que envolve
parte de uma dívida e a totalidade de outra. Uma dívida é extinta e a outra é
compensada.

• Da confusão

A confusão está presente quando na mesma pessoa confundem-se as


qualidades de credor e devedor, em decorrência de um ato inter vivos ou mortis
causa (art. 381 do CC).
A origem da confusão obrigacional, decorre de um ato bilateral ou de um
negócio
jurídico, razão pela qual deve ela ser incluída como forma de pagamento
indireto.
Pelo art. 382 do Código Civil, a confusão pode verificar-se a respeito de toda a
dívida, ou só de parte dela. No primeiro caso haverá confusão total ou própria,
com a extinção da totalidade da dívida. No segundo, haverá a confusão parcial
ou imprópria.

• Da remissão de dívidas

A remissão é o perdão de uma dívida, constituindo um direito exclusivo do


credor de exonerar o devedor, estando tratada entre os arts. 385 a 388 do CC
em vigor.
Pela regra contida no art. 385 do Código Civil em vigor, a remissão constitui
um negócio jurídico bilateral, o que ressalta o seu caráter de forma de
pagamento indireto, uma vez que deve ser aceita pelo sujeito passivo
obrigacional.
A remissão pode recair sobre a dívida inteira - caso da remissão total - ou parte
dela, denominada remissão parcial (art. 388 do CC).
A remissão só diz respeito a direitos creditórios e é ato bilateral (negócio
jurídico), estando presente a alteridade.

Questões:

01- Diferencie solvens e accipiens:


Constituem os elementos subjetivos ou pessoais do pagamento direto das
obrigações o Solvens (quem deve pagar) e o Accipiens (a quem se deve
pagar).

02 - Conceitue o pagamento com sub-rogação legal:


-

É quando uma dívida é paga por um terceiro que adquire o crédito e satisfaz o
credor. É previsto nos artigos 346 a 351 do Código Civil e traduz o
cumprimento da obrigação por terceiro, com a consequente substituição de
credores.

03- O que é a remissão de dívidas? Quais são os seus requisitos?


A remissão das dívidas é o perdão da dívida concedido pelo credor ao devedor.
São requisitos do perdão da dívida o ânimo de perdoar e a aceitação do
perdão.

Você também pode gostar