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Curso: Direito Civil - Obrigações

Aula: Obrigações: Teoria do Adimplemento - Parte 5


Professor: Rafael da Mota Mendonça

Resumo

Pagamento em Consignação
O conceito de Consignação em Pagamento está previsto no art. 334 do CC, in verbis:

Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário
da coisa devida, nos casos e forma legais.

De início, cumpre observar que a consignação em pagamento não é sinônimo de pagamento. Uma vez que a
consignação substitui o pagamento propriamente dito. O pagamento direto é aquele realizado nos moldes
originalmente contratado.

Dito de outro modo, a consignação, nada mais é, do que uma forma sub-rogada de alcançar o pagamento,
pelo qual o devedor é liberado antes ou independentemente de haver o credor recebido o pagamento.

Perceba-se que na consignação o pagamento se dá através de um depósito judicial, logo, o devedor é


liberado do pagamento em virtude de uma decisão judicial e não pelo fato de o credor ter aceitado o
pagamento. Portanto, repise-se, a consignação é uma forma sub-rogada de alcançar os efeitos do
pagamento, pois a eficácia do pagamento exonera o devedor daquela obrigação primitiva.

O pagamento tem de ser visto como um direito subjetivo do devedor. Pois, como se trata de um direito
subjetivo do devedor, quando o credor não o aceita, por qualquer razão que seja, o devedor pode, uma vez
que teve om seu direito subjetivo violado, exercer determinada pretensão em face daquele credor e
consignar o pagamento.

A consignação deve ser utilizada quando o credor injustificadamente se nega a receber determinado crédito.
A professora Judith Martins Costa afirma que “o pagamento em consignação tem fundamento na quebra do
dever de cooperação por parte do credor e a facilitação do adimplemento para o devedor”.

Este conceito doutrinário da Profa. Judith Martins Costa fundamenta a consignação no dever de cooperação
existente entre o credor e o devedor. Perceba, quando o credor se nega a receber o pagamento, está, em
verdade, quebrando o dever de cooperação e confiança existente, violando o direito subjetivo do devedor
em realizar o pagamento e permitindo que o devedor busque uma forma sub-rogada de alcançar os efeitos
do pagamento, que é a consignação em pagamento.

Tratando-se de dívida em dinheiro, o devedor pode optar por depósito bancário em estabelecimento oficial
ou em estabelecimento não oficial, onde não houver um oficial. Logo, quando o pagamento for em dinheiro,
é possível fazer em qualquer estabelecimento que não seja o Judiciário, por exemplo, no Banco do Brasil ou
na Caixa Econômica Federal.

O depósito da prestação tem eficácia liberatória para o devedor. O simples requerimento de liberação, pela
eficácia liberatória que ele traz, extingue a obrigação. Portanto, não é a sentença que extingue a obrigação,
mas sim o depósito da prestação é que tem eficácia liberatória, por isso, as sentenças nestes processos
terão natureza meramente declaratória, com efeitos que retroagem a data do depósito, ou seja, ex tunc.
2º Pressupostos da Consignação em Pagamento
Neste tópico, é necessária a análise dos artigos 335 e 336, ambos do CC.

Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de
acesso perigoso ou difícil;

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;

V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

São hipóteses com maior amplitude, nas quais a consignação é possível. O art. 336 do CC continua em
complemento:

Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às pessoas, ao
objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento.

Tem-se, pois, no que se refere aos pressupostos, que o artigo 336 do CC tem uma importância enorme. Ora,
para que o pagamento em consignação tenha eficácia liberatória é necessário que preencha todos os
requisitos do pagamento propriamente dito. Nessa orientação, o 336 do CC dispõe que devem estar
presentes os pressupostos objetivos e subjetivos, podendo também se concluir quem são os legitimados
ativos e passivos do pagamento.

Legitimados ativos: o próprio devedor; o representante do devedor; o terceiro interessado e o terceiro não
interessado que pague em nome e conta do devedor.

Legitimados passivos: previstos no art. 308 do CC, que afirma a quem se deve pagar, quem sejam, ao credor
ou a um de seus representantes.

E nessa questão da legitimidade passiva, uma questão clássica de prova é quando se tem uma solidariedade
ativa. Este tema foi estudado no modulo de modalidades obrigacionais. A solidariedade decorre de uma
vinculação interna entre os credores, de modo que qualquer um dos credores exija o todo do devedor. Mas
e como fica em uma consignação em pagamento, o devedor vai consignar em face de todos ou de apenas
um dos credores?

Nessa hipótese, a consignação poderá ser direcionada em face de qualquer um dos credores, nos termos
do art. 268 do CC. Isso acontece pelo fato de que se qualquer um dos credores pode exigir a integralidade da
dívida do devedor, então se basta que o devedor pague apenas um dos credores, nada mais natural,
portanto, que possa consignar em face de apenas um credor.

Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles
poderá este pagar.

Por outro lado, no caso de obrigação indivisível, qualquer um dos credores pode exigir o todo, mas não
porque estão internamente vinculados como ocorre na obrigação solidária, e sim porque não há como
fracionar o objeto do pagamento. Exemplo: três pessoas são credores de um pagamento que deva ser feito
com a entrega de um cavalo, ora, não é possível fracionar o cavalo em três partes, o objeto é indivisível, em
que pese cada um dos credores deterem 1/3 do mesmo. Logo, qualquer um dos credores pode exigir o todo.
Novamente surge a questão, se o devedor quiser consignar, no caso de obrigação indivisível, basta que seja
de apenas um dos credores ou necessita ser em face de todos?

Nesta hipótese, tem que ser consignado em face de todos os devedores, nos termos do art. 260, inciso I do
CC, pois se ele consignar apenas em face de um dos credores, cada um tem direito a uma parte apenas do
objeto, não sobre o todo o conteúdo, malgrado seja ele indivisível. Cada um é dono de apenas 1/3, só
podendo dar a quitação relativa a este percentual.

Por derradeiro, necessário mencionar uma terceira observação, fundada no instituto da boa-fé objetiva. Com
base na boa-fé objetiva o credor pode consignar em face daqueles que usualmente recebem o pagamento
por se apresentarem como um intermediário do credor. Exemplo: administradoras de imóveis que recebem
o aluguel do locatário. O locatário poderia consignar em face da administradora o pagamento dos aluguéis.
Aqui também incidiria o art. 308 do CC já estudado.

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois
de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

2º Objeto da Consignação em Pagamento


O depósito compreende a coisa devida na sua integralidade, isso significa que o pagamento parcial não
possui efeito liberatório.

O depósito até pode ser complementado, principalmente quando a coisa é em dinheiro. isso é possível. Mas
o que tem eficácia liberatória é o deposito e não a sentença. Caso este seja parcial, não há eficácia
liberatória que somente ocorrera quando da complementação, hipótese na qual o deposito se torna
integral.

No próximo bloco continuaremos análise do depósito, até lá.

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