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PARECER JURÍDICO

EMENTA

1. Pagamento de prestação obrigacional. Credor em lugar incerto e não sabido. 2.


Validade do pagamento e suas consequências jurídicas. 3. Medida cabíveis. Pagamento
em consignação.

I – Questionamento

Trata a presente consulta a cerca do cumprimento de obrigação contratual, com o


respectivo adimplemento ou meio para pagamento de obrigação, visto que o credor está
com suas atividades suspensas e encontra-se em lugar incerto e não sabido o que impede
o pagamento conforme previsto em contrato.

II- Fato Relevante

O Consulente é agricultor e firmou contrato de compra e venda de soja com


empresa multinacional Soya S.A. Devendo o Consulente entregar 10.000(dez mil) sacas
de soja à empresa no dia 01 de Maio em sua sede na cidade de Balsas/MA. Ocorre que
no dia do cumprimento da obrigação, o Sr. Roberto Dinamite soube que a empresa
havia suspendido suas atividades, o que impede a entrega dos produtos conforme
previsto em contrato.

Não tendo onde armazenar a soja, o produtor resolveu despejar os grãos na


porta do estabelecimento do credor como forma de adimplemento da obrigação
contratual.

III – Parecer

O pagamento é o ato jurídico capaz de cessar a obrigação, pois quando satisfeito


o crédito, obtém-se a desoneração do devedor. Para que haja o pagamento, pressupõe-se
a existência de vinculo jurídico entre credor (sujeito ativo) e o devedor (sujeito passivo).
No vínculo jurídico referente ao pagamento esse pólo é invertido, onde o devedor é o
sujeito ativo da prestação obrigacional e o credor está no pólo passivo. Assim o
devedor está obrigado ao cumprimento da obligatio, isto é, uma obrigação de fazer, o
que mediante pagamento estará sanada a prestação e encerrado o vínculo entre credor e
devedor.

No presente caso apresentado, o credor manifesta a vontade de adimplir sua


obrigação, e para tanto age de boa fé ao procurar o credor em local e data previamente
acordados em contrato, para realizar o pagamento da prestação obrigacional.

No entanto, nota-se que por força de circunstâncias alheias a vontade do


devedor, não é possível a realização do pagamento, visto que o credor encontra-se em
lugar incerto e não deixando ao credor meios de adimplir sua prestação obrigacional.

Ora, não sendo possível o cumprimento da obrigação por parte do devedor,


ainda que este manifestadamente busque o cumprimento da obrigação realizando todos
os atos necessários fazê-lo, necessário é a observância do código civil, nos artigos 334
onde diz: “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em
estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.”

Ainda em cumprimento aos termos do artigo 334, tem-se o artigo 335 do Código
Civil, que elenca os requisitos e circunstâncias ao cumprimento da obrigação por meio
de pagamento em consignação.

Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o


pagamento, ou dar quitação na devida forma;

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar,


tempo e condição devidos;

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido,


declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso
perigoso ou difícil;

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o


objeto do pagamento;

V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

Quanto as condições de validade do pagamento em consignação é importante


observar que o legislador trouxe um rol de requisitos necessários para que a
consignação tenha força de pagamento, conforme artigo 336, 337, 338, 339 e 343 do
Código Civil Brasileiro, que segue.

Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento,


será mister concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo
e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o
pagamento.

 Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento,


cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da
dívida e os riscos, salvo se for julgado improcedente.

 Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o


depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o
levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a
obrigação para todas as conseqüências de direito.

 Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não


poderá levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo
com os outros devedores e fiadores.

Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado


procedente, correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à
conta do devedor.

No que tange a cumprimento de obrigação com pagamento em consignação


quando o credor encontra-se em lugar incerto e não sabido vejamos o entendimento do
TJ-MS:

E M E N T A – APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO. ART. 539 DO CÓDIGO
DE PROCESSO CIVIL. RECUSA DO CREDOR EM
RECEBER O PAGAMENTO. DEPÓSITO INTEGRAL DA
DÍVIDA. QUITAÇÃO DO CONTRATO. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.

ACÓRDÃO

VOTO

O Sr. Des. Sérgio Fernandes Martins. (Relator)


Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul

contra a sentença (fls. 149-152) proferida nos autos da ação de


consignação em pagamento em epígrafe.

A sentença, naquilo que interessa à solução da lide, foi vertida


nos seguintes termos:

(...) Na hipótese dos autos, verifica-se que a parte autora


(devedor), efetuou o depósito judicial no importe de R$
92.126,78, a fim de quitar a Cédula de Crédito Rural
Hipotecária (nº 40/02988-3) e a parte requerida, ao resistir a
pretensão, deixou de impugnar especificamente os fatos
narrados, limitando-se a apresentar defesa genérica baseada
em direito que sequer foi invocado na exordial (gratuidade da
justiça, inexistência de ato ilícito apto a ensejar reparação de
danos inaplicabilidade do CDC e não inversão do ônus da
prova).
...
Não havendo, portanto impugnação precisa e específica a
respeito dos fatos e fundamentos jurídicos apresentados pela
parte requerente na exordial, cabe à parte requerida sujeitar-se
aos efeitos do artigo 341 do CPC e, em razão disso, diante da
ausência de qualquer outra tese defensiva, sobretudo àquelas
previstas no artigo 544 do CPC1, deve ser a pretensão acolhida
em sua integralidade.
Não fosse, outrossim, a ausência de impugnação específica pela
parte requerida, os documentos atrelados à exordial
corroboram a pretensão, com destaque para a cópia da Cédula
Rural Hipotecária juntada às f. 9-18, que comprova a existência
da relação; a resposta à contranotificação extrajudicial juntada
à f. 24, que comprova a recusa ao recebimento da dívida; o
extrato de dívidas apresentado à f. 25, que comprova o exato
valor da dívida, compatível com o valor consignado em juízo; e,
por fim, a cópia da matrícula imobiliária juntada às f. 26-28,
que comprova a existência da hipoteca.
...
Por essas razões, nos termos e limites da motivação expendida,
julgo procedente o pedido inaugural para, nos termos do artigo
546 do CPC, declarar quitada a obrigação prevista na Cédula
Rural Hipotecária nº 40/02988-03, diante do depósito integral
da dívida, registrado à f. 37, ficando autorizado, desde logo, o
seu levantamento pela parte requerida.(fls. 149-152).

Nego, portanto, provimento ao recurso.


Com efeito, dispõe o art. 539 do Código de Processo Civil que,
ocorrendo a recusa do credor, poderá o devedor requerer, com
efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa
devida, a fim de se desonerar da obrigação devida, impedindo a
constituição da mora. Confira-se:

"Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou


terceiro requerer, com efeito de pagamento, a consignação da
quantia ou da coisa devida."

E mais, nos termos do art. 335 do Código Civil:

"Art. 335. A consignação tem lugar:


I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o
pagamento, ou dar quitação na devida forma;
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar,
tempo e condição devidos;
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido,
declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso
perigoso ou difícil;
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o
objeto do pagamento;
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento."

DECISÃO

Como consta na ata, a decisão foi a seguinte:

POR UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO


RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.
Mantém-se a sentença que julgou procedente a ação de
consignação e declarou quitada a obrigação prevista na Cédula
Rural Hipotecária.
De acordo com o art. 539 do Código de Processo Civil,
ocorrendo a recusa do credor, poderá o devedor requerer, com
efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa
devida, a fim de se desonerar da obrigação devida.

Observa-se que o ato de depositar o pagamento da obrigação na porta do credor


por esse se encontrar em lugar incerto e não sabido, não é o meio legal para o
cumprimento da obrigação e extinção da mesma, além do prejuízo acumulado pela ação,
ainda poderá incorre no pagamento de mora e juros pelo inadimplemento da obrigação.
A consignação em pagamento é um meio extraordinário legal para a efetivação do
pagamento em juízo, buscando-se em juízo declaração da extinção da obrigação.

            Desse modo é admitido nos termos do código civil o depósito extrajudicial,
observados os requisitos legais apresentados.

IV – Conclusão

Considerando que o consulente buscou os meios para cumprimento da obrigação


contratual, indo ao local e em data acordados para a execução do pagamento,
deparando-se com a ausência do credor que não avisou local em que se encontra;

Considerando, ainda, ação praticada pelo devedor em despejar o objeto da


prestação obrigacional (soja em grãos) na porta de credo.

a) Orientamos o imediato recolhimento dos grãos, com o devido busca de


armazém próprio para a guarda e conservação do objeto do pagamento, bem
como;
b) Judicialmente, esgotados as tentativas extrajudiciais, sugere-se ajuizamento
de demanda cível para:

b1) requerer pagamento em consignação, com respectivo depósito judicial;

b2) solicitação para que o credor declarar que aceita o depósito, ou o impugnar,
na forma da lei;

b3) Solicitar declaração da extinção da obrigação.

É o parecer

Fábio Júnior de Sousa Conceição – Turma 2

Balsas/MA, 14 de maio de 2020.

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