Você está na página 1de 6

Disciplina: Direito Civil

Prof.: João Aguirre


Aula: 05

MATERIAL DE APOIO – MONITORIA

I – Anotações

FORMAS ESPECIAIS DE PAGAMENTO


- Formas excepcionais de extinção da obrigação que ocorrem em determinadas
circunstâncias
I - Regras especiais de pagamento: atos unilaterais. Exs.: Consignação em pagamento,
Imputação em pagamento e sub-rogação legal.
II – Formas de pagamento indireto: negócios bilaterais. Exs.: sub-rogação convencional,
dação em pagamento e novação.

1) Pagamento em consignação (consignação em pagamento)


-Depósito da coisa devida pelo devedor para livrar-se de uma obrigação assumida
em face de um credor determinado.
- Tartuce: consiste no depósito judicial ou extrajudicial realizado pelo devedor ou
por terceiro com os fins de afastar os efeitos da mora e do inadimplemento
absoluto.
- Direito Material: arts. 334 e ss do CC
- Direito Processual: a) arts. 539 e ss do CPC
b) art. 67 da Lei 8.245/91
(inquilinato)
A) Depósito Extrajudicial (art. 539, §§ 1º a 4º do CPC)
- Nos casos de obrigação em dinheiro: o valor poderá ser depositado em
estabelecimento bancário.
- O credor deve ser cientificado do depósito por carta com aviso de recebimento.
- Possui prazo de 10 dias para a manifestação da recusa – 10 dias contados do
retorno do aviso de recebimento.
- Caso não ocorra a manifestação de recusa o devedor será considerado liberado
da obrigação com a quantia depositada ficando à disposição do credor.
- Caso ocorra a recusa do credor, dentro do prazo de 10 dias, a qual deve ser
manifestada por escrito ao estabelecimento bancário (recusa expressa), pode o
devedor propor a ação de consignação em pagamento dentro do prazo de um
mês contados da recusa.
- Pergunta: o que ocorre se o devedor não propuser a ação dentro desse prazo
de um mês? Ficará sem efeito o depósito, que pode ser levantado pelo devedor,
mas, também, correrão contra ele os efeitos da mora.

2) Depósito Judicial

Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em


estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma legais.

-Hipóteses de cabimento do pagamento em consignação: art. 335 CC

1
Art. 335. A consignação tem lugar:
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma; - Mora do Credor (portável)
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;
- Mora do Credor (quesível)
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir
em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; Impossibilidade de pagamento direto
em razão da pessoa do devedor ou do lugar em que ele se encontra
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;
Dúvida
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.Litígio
Pergunta: o rol do art. 335 do CC é taxativo ou exemplificativo? Exemplificativo
– existem outras hipóteses que dão ensejo ao pagamento em consignação além
das previstas no art. 335
Ex.: Consignação em pagamento para se promover a revisão do conteúdo do
contrato.
a) AgRg no AG 1.369.875/MS – Ação Revisional cumulada com Consignação
em Pagamento
b) AgRg no REsp 1.179.034/RJ – Possibilidade de se discutir o valor do
débito em ação de consignação em pagamento, ainda que seja necessária
a revisão do contrato
c) REsp 1.160.697/MG – Depósito da quantia incontroversa e improcedência
da ação – Impossibilidade de levantamento do depósito pelo devedor –
afronta à boa-fé objetiva.

2) Imputação ao pagamento – Arts 352 e ss CC

- Imputar significa indicar, apontar


- Na imputação ao pagamento o devedor indica qual dívida está sendo paga na
hipótese de pluralidade de obrigações entre as mesmas partes. Também é
possível que a imputação seja realizada pelo credor ou pela lei.
- Ex.: José contrai um empréstimo de R$ 5.000,00 com Antônio. Posteriormente
contrai um segundo empréstimo de R$ 3.000,00 e um terceiro no valor de R$
2.000,00 – pluralidade de obrigações entre as mesmas partes. José só possui R$
5.000,00 na data do pagamento. Pode escolher qual dívida será paga? Sim.

Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem
o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

- Regra: o direito de imputar ao pagamento (de indicar qual obrigação será


adimplida) pertence ao devedor.
- Porém, se o devedor não efetuar essa indicação, cabe ao credor promover a
imputação, que será válida, salvo se provada violência ou dolo contra o devedor.
*Dica: Nas hipóteses em que existe capital e juros, o pagamento deve ser
imputado primeiro aos juros vencidos e só depois ao capital, salvo estipulação
em contrário ou se o credor der a quitação do capital. (art. 354 CC)

3) Pagamento em sub-rogação – Arts. 346 e ss CC


A) Sub-rogação legal: decorre de expressa disposição da lei – art. 346 (regras
especiais de pagamento – atos unilaterais)
B) Sub-rogação convencional: decorre do acordo de vontades – art. 347
(pagamento indireto – Negócio jurídico bilateral)

A) Sub-rogação legal (art. 346): pagamento por terceiros interessados.


Art. 346: a sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor

2
I) Do credor que paga a dívida do devedor comum.
Ex.: Jose´ deve R$ 5.000,00 para Antônio e R$ 20.000,00 para Maria.
Após vencida a dívida com Antônio, Maria efetua o seu pagamento,
diante do inadimplemento de José. Nesse caso Maria está sub-rogada
nos direitos de Antônio.
II) Do adquirente do imóvel hipotecado que paga ao credor hipotecário,
bem como do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado
de direito sobre o imóvel.
Duas situações:
a) o adquirente do imóvel hipotecado que paga ao credor
hipotecário – fica nesses casos sub-rogado nos direitos do
credor hipotecário.

Art. 1.475. É nula a cláusula que proíbe ao proprietário alienar imóvel


hipotecado.

Parágrafo único. Pode convencionar-se que vencerá o crédito hipotecário,


se o imóvel for alienado.

b) o terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de


direito sobre o imóvel.
Ex.: possuidor que efetiva o pagamento da dívida, para não ser
privado de sua posse. Ocorre a sub-rogação legal.
Ex.2: Lembrar dos casos de evicção (arts. 447 e ss) – perda da
coisa por força de decisão judicial ou de ato administrativo.
Para não perder a coisa, o terceiro pode efetuar o pagamento
ao credor e fica sub-rogado nos seus direitos.
III) Do Terceiro interessado que paga a dívida da qual era ou podia ser
obrigado, no todo ou em parte.
- É o exemplo do fiador que falamos na aula passada (quem deve
pagar: pagamento pelo terceiro interessado)

B) Sub-rogação convencional (art. 347)


- Pagamento indireto: Negócio jurídico bilateral
Art. 347: A sub-rogação é convencional:
I) Quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe
transfere todos os seus direitos.
- sub-rogação expressa decorrente da vontade.
II) quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver
a dívida, sob a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos
do credor.
- sub-rogação expressa decorrente da vontade.

*Dica:
REsp 1.169.418/SP – Seguradora paga indenização ao segurado em decorrência
de danos causados por terceiros e sub-roga-se nos seus direitos para exigir do
terceiro, dentro do prazo prescricional, o ressarcimento do que despendeu. (No
mesmo sentido AgRg no AREsp 589.619/SP)

4) Dação em Pagamento – Arts. 356 e ss CC

- Forma de pagamento indireto em que as partes convencionam a substituição da


prestação por outra, mantendo-se os demais elementos obrigacionais (Tartuce)
- Na dação em pagamento o devedor oferece prestação diversa da devida ao credor, que
aceita.
Requisitos:

3
a) A prestação deve ser diversa da devida.
Exs.: i) coisa por coisa – dou o meu relógio em lugar da bicicleta
ii) Coisa por dinheiro – dou o meu relógio Rolex em lugar da minha dívida de R$
20.000,00
*Dica: se for dinheiro em lugar de coisa será considerada compra e venda (art.
357 CC)

Art. 357. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes
regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.

b) O credor deve aceitar a prestação diversa oferecida pelo credor


Lembrar da regra do art. 313 do CC:

Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que
mais valiosa.

*DICA: O que ocorre nos casos de evicção da coisa dada em pagamento (perda da coisa
dada em pagamento, em virtude de decisão judicial ou de ato administrativo)?
Nas hipóteses em que o credor é evicto da coisa dada em pagamento, ou seja, ele perde
a coisa que foi dada em pagamento por força de uma decisão judicial ou de uma
desapropriação (ato administrativo), o art. 359 do CC estabelece que a obrigação
primitiva é reestabelecida, ficando sem efeito a quitação dada ao devedor, mas
ressalvados os direitos de terceiros.

Da Evicção

Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia
ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.

Ex.: Carro roubado:


João (proprietário) – Ladrão – Receptador – Laranja – Paulo (alienante) – Antônio
(adquirente)
João ajuíza ação reivindicatória em face de Antônio, que perde a coisa em razão da
decisão judicial favorável a João.
João (evictor) e Antônio (evicto) – Antônio tem direito de regresso contra Paulo
(alienante)
• A evicção pode ocorrer nos casos de dação em pagamento: digamos que Paulo tenha
dado o carro à Antônio em pagamento de uma dívida em dinheiro no valor de R$
50.000,00. Com a evicção e a consequente perda do carro por Antônio, restaura-se
a obrigação primitiva, com Paulo devendo a ele os R$ 50.000,00 originários.
5) Novação – Arts. 360 e ss CC

-Forma de pagamento indireto em que as partes convencionam a criação de uma


obrigação nova em substituição de uma já existente.
- Novação consiste na substituição da obrigação atual por uma nova, diversa da
primeira.
- NOVAÇÃO = NOVA + OBRIGAÇÃO
- Principal efeito da novação: Extinção de todos os elementos da obrigação antiga,
incluindo os seus acessórios – multa, juros, garantias e fiança

OBRIGAÇÃO NOVA
ATUAL
Animus
novandi
OBRIGA
ÇÃO
4
EXTINÇÃO DA
OBRIGAÇÃO ATUAL
COM TODOS OS SEUS
ACESSÓRIOS

Requisitos da novação:
A) Existência de uma obrigação – dívida novada
B) Criação de uma nova obrigação – dívida novadora (diversa da já existente)
C) Ânimo de novar (animus novandi) – intenção de criar uma nova obrigação para
extinguir a anterior
Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda
obrigação confirma simplesmente a primeira.

-Não havendo ânimo de novar teremos duas obrigações, eis que a primeira não
será extinta.
- O ânimo de novar poder ser:
a) Expresso: quando a novação está expressamente disposta pela vontade das
partes
b) Tácito, mas inequívoco – Maria Helena Diniz: Se o ânimo de novar não estiver
expresso, estará presente (tácito) sempre que a nova obrigação for incompatível
com a primeira
Exemplos:
I) Duplicatas e cheques:
a) Se for emitido um cheque pelo devedor e entregue ao credor sem a devolução
da duplicata ou qualquer outra ressalva, não há novação. Trata-se de uma nova
obrigação que não extingue aquela representada pela duplicata.
b)Se for emitido um cheque pelo devedor e entregue ao credor mediante a
devolução da duplicata, há novação.
II) Consta do novo contrato a novação da dívida expressa no contrato anterior
– novação expressa.
III) A simples concessão de prazo para o devedor quitar o seu débito
(moratória) não constitui por si só uma novação

Espécies de novação:
A) Novação subjetiva ou pessoal: a nova obrigação possui novos sujeitos
a) Novação subjetiva ativa: novo credor
Requisitos: - consentimento do devedor
- consentimento do antigo credor
(renúncia ao seu crédito que será
extinto pela novação)
- anuência do novo credor
- art. 360, III
b) Novação subjetiva passiva: novo devedor (art. 360, II)
* Se o novo devedor for insolvente não existe ação contra o primeiro,
porque a obrigação anterior foi extinta pela novação, salvo se houver má-

Pergunta: é possível a novação subjetiva passiva contra a vontade do
devedor primitivo? Sem o seu consentimento? SIM
b1) Novação subjetiva passiva POR EXPROMISSÃO: sem o consentimento
do devedor primitivo (art. 362 CC)

Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada


independentemente de consentimento deste.

5
b2) Novação subjetiva passiva POR DELEGAÇÃO: com o consentimento do
devedor primitivo

B) Novação objetiva ou real: a nova obrigação possui novo objeto (art. 360,
I)
Art. 360. Dá-se a novação:

I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida (novo objeto) para extinguir e
substituir a anterior;

C) Novação mista: a nova obrigação possui novo objeto e novo sujeito

*DICA: Não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas. Mas as
obrigações anuláveis podem ser novadas (Art. 367)
AgRG no AREsp 567.076: Em virtude da impossibilidade de se validar obrigações
nulas, ainda que tenham sido objeto de novação, os contratos bancários são
passíveis de revisão judicial conforme Sum 286 STJ.
Súmula n° 286 do STJ
A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de
discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores.
6) Compensação – Arts. 368 e ss CC

- Forma de pagamento indireto que gera a extinção de dívidas mútuas ou recíprocas


até o ponto em que se encontrarem (Tartuce)
- Na compensação credor e devedor possuem débitos e créditos recíprocos que serão
extintos no limite dessa reciprocidade.
fiança

R$ 10.000

JOSÉ ANTÔNIO
R$ 8.000

A compensação deve ocorrer no limite da reciprocidade – José deve R$ 2.000,00 para


Antônio
Classificação da compensação:
I – Quanto a sua origem:
a) Legal: as dívidas devem ser exigíveis, líquidas e recíprocas.
- A compensação decorre da norma jurídica e as dívidas devem possuir a
mesma natureza, ou seja, o seu objeto deve ser da mesma qualidade. Ex.:
Dinheiro por dinheiro: é possível a compensação. Arroz por milho, não é
possível a compensação.
b) Convencional: decorre do acordo entre as partes, não devendo seguir,
necessariamente, aos requisitos da compensação legal.
c) Judicial: decorre de decisão do juiz.

Você também pode gostar