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Curso: Direito Civil - Obrigações

Aula: Obrigações: Teoria do Adimplemento - Parte 7


Professor: Rafael da Mota Mendonça

Resumo

Pagamento com Sub-Rogação


O pagamento com sub-rogação está disciplinado nos artigos 346 e seguintes do Código.

Primeiramente, quando se fala em pagamento em sub-rogação, é muito importante saber que se trata da
substituição de uma pessoa ou objeto por outro, na mesma relação jurídica. Logo, estamos falando em
substituição.

A obrigação originária não é extinta, o que ocorre é uma substituição do sujeito ou objeto naquela relação
jurídica. Pelo texto legal, podemos notar duas modalidades de sub-rogação:

Sub-rogação pessoal: aquela considerada como sendo a transferência da qualidade creditória para aquele
que solveu a obrigação de outrem ou prestou o necessário para isso. Está disciplinada no Código Civil.

Sub-rogação real: é a substituição de uma coisa por outra quando o titular do direito real pretende
transferir o vínculo restritivo de propriedade que pesa sobre o imóvel para outro imóvel. O procedimento
desta é de jurisdição voluntária, de acordo com o Código de Processo Civil.

Exemplo: uma pessoa constitui uma hipoteca em favor de outra. Ora, se quiser substituir o bem dessa
hipoteca, trata-se de uma substituição real, ou seja, de um objeto por outro. A garantia é preservada, nos
mesmos moldes anteriores, mas o objeto é substituído por outro.

Atenção, quando a substituição é do objeto, trata-se de sub-rogação real, estudada nos direitos das coisas.
O que estamos estudando é a sub-rogação pessoal, relativa aos sujeitos, completamente diferente daquela.

A sub-rogação pessoal pode ser legal ou convencional, ou seja, decore da imposição de lei ou de um acordo
de vontades, respectivamente. Como exemplo de sub-rogação legal, temos o artigo 346 do CC:

Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum;

Exemplo: um devedor comum (D), deve R$ 20.000,00 a dois credores (C1 e C2). Logo, é devido R$ 10.000,00
para cada credor. Perceba: se o C1 pagar ao C2 R$10.000,00, ele poderá cobrar R$20.000,00 do Devedor, pois
ele se sub-roga nos direitos do C2.

II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o
pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;

Exemplo: um devedor oferece um de seus apartamentos, em hipoteca, para determinado credor.


Suponhamos que um terceiro adquire o imóvel que fora hipotecado. Isso é possível, pois por mais que o
imóvel esteja hipotecado, o devedor continua a ser proprietário do bem, e, por óbvio, pode celebrar compra
e venda.
Nesta situação, o terceiro que comprou o imóvel hipotecado é quem se torna o proprietário do imóvel. Pois
bem, muitas vezes, nestas situações, o terceiro paga o valor do imóvel hipotecado diretamente aquele
credor, e se sub-roga nos direitos do credor hipotecário.

Segundo exemplo: às vezes, não há uma compra e venda, mas o devedor alugou o imóvel para terceiro, que
passa a titularizar direitos sobre o imóvel. Imagine, então, que o devedor não pagou a dívida que detinha
com o credor hipotecário e o imóvel irá a leilão. Para evitar o leilão, o locador paga a dívida e, a partir deste
momento, se sub-roga no direito daquele credor. Essa é a previsão da parte final do inciso em comento.

III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

Esta hipótese já fora estudada no pagamento direto. Exemplo: temos uma dívida entre um credor e um
devedor e, também, um terceiro interessado (que pode ser o fiador, cônjuge, locatário, etc). Ora, se o
terceiro interessado pagar a dívida, irá se sub-rogar nos direitos do credor.

Passemos agora para hipóteses em que a sub-rogação é convencional, que estão previstas no art. 347 do CC.
Essa sub-rogação resultada do pagamento do débito por parte de um terceiro não interessado por meio de
um negócio jurídico tratado com o devedor ou com o credor.

Art. 347. A sub-rogação é convencional:

I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos;

Ora, que terceiro é esse? Não pode ser um terceiro interessado, pois já vimos que o terceiro interessado ele
se sub-roga por força de lei.

Primeiramente, trata-se de uma pessoa que não está envolvida na relação de direito material como
coobrigada, a rigor, este terceiro só tem direito ao que foi convencionado. Logo, podemos concluir que este
terceiro é não interessado.

Sabe-se também que o terceiro interessado pode pagar em nome e conta do devedor ou em nome próprio e
já fora visto que se pagar em nome próprio, terá direito ao reembolso. Em verdade, portanto, na hipótese do
art. 347, I do CC, estamos diante de um terceiro não interessado que paga em nome próprio, que por força
do art. 305 do CC tem direito apenas ao reembolso. Todavia, o art. 347, I do CC, estabelece a hipótese que o
direito de reembolso se converte em sub-rogação. Já o não interessado que paga em nome e conta do
devedor, praticará ato de mera liberalidade, ou seja, ato de doação.

Concluindo: terceiro interessado que pagar, será sub-rogação legal, na forma do art. 346, III do CC. Terceiro
não interessado que paga em nome e conta do devedor, é ato de liberalidade, natureza de doação. Terceiro
não interessado, em nome próprio, por força de lei, tem direito ao reembolso, mas em razão do art. 347, I do
CC, permite-se que este reembolso se transforme em sub-rogação caso as partes convencionem.
Terceiro interessado Pagou a dívida Sub-rogação legal, art. 346, III,
CC.

Terceiro não interessado Paga em nome e conta do Ato de mera liberalidade


devedor (natureza de doação)

Terceiro não interessado Paga em nome próprio Por lei, tem direito apenas ao
reembolso. Todavia, pode ser
convencionada a conversão deste
reembolso em sub-rogação, na
forma do art. 347, I do CC.

No próximo bloco será abordado o artigo 347, inciso II do CC, até lá!

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