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AULA— EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES

EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES:

PAGAMENTO:

# Não confundir com o sentido vulgar (solução de prestações em dinhei-


ro)
# Segundo Caio Mario e Orlando Gomes é a forma de extinção da obri-
gação com a entrega da prestação devida.
# Natureza jurídica:
— ato jurídico strictu senso? Efeito já previsto em lei
— negócio jurídico? Partes podem fazer prever outros efeitos/paga-
mento por terceiro
— Caio Mario: às vezes um, às vezes outro
— ainda que às vezes possa ser considerado negócio, em regra é mero ato.
— importância da distinção: elementos (não cabe anulação por vício)

# Regras do Pagamento (requisitos/perguntas do Código):

1) Quem deve pagar? Devedor. Melhor seria: quem pode pagar? Art. 304
a) terceiro interessado (interesse = interesse jurídico (fiador, avalista, ga-
rantidor, herdeiro))

— devedor se exonera? Em face do credor, sim. Mas fica vinculado ao


que paga
— Sub-rogação (substituição): art. 346, III (é automática, ipso iure)

> transfere não só o crédito, mas seus consectários

b) terceiro não interessado (correntes do Dir. Comparado: aceita ou


não o pagamento)
— Nosso Direito: aceita mas tenta desestimula-lo, não dá mesmas
prerrogativas

b.1) que paga em seu próprio nome (art. 305):


> não sub-rogação (a menos que expressa — art. 347); só reembolso
> não consignação
> pode sofrer oposição do devedor: conseqüências (art. 306)
b.2) que paga em nome do devedor (como se o mesmo devedor pagasse)
> age como devedor e, p/isso, tem os mesmos direitos (art. 304)
> por óbvio, não se sub-roga nos direitos do credor, nem reembolso

c) quem possa alienar o objeto do pagamento (art. 307)

2) A Quem Pagar?

a) ao credor ou a quem o represente (art. 308): consequência da


desobe- diência = invalidade
— aqui insere-se o sucessor do credor
— pagamentos em agências bancárias

b) terceiro, desde que ratificado (art. 308)


c) portador da quitação, exceto se circunstâncias adversas (art. 311)
d) ao credor putativo, desde que feito de boa-fé (art. 309)
e) ao credor incapaz de quitar se o pagamento reverter em seu
benefício (art. 310)
* Ineficácia do pagamento efetuado ao credor mesmo intimado
da penhora (art. 312)

3) O Quê Pagar? (objeto do pagamento): (i) identidade (deve ser pago


“o” devido (313)): no caso da dação em pagamento, há substituição:
outra coisa passa a ser devida no lugar da prestação original; (ii) integridade
(deve ser prestado “todo” o devido); (iii) indivisibilidade (deve ser prestado
“por inteiro”): art. 314.

4) Como Pagar? Boa-fé: deveres acessórios de conduta (nebenplichten)


<> deveres secundários

5) Onde Pagar?

* regra: domicílio do devedor (pagamento quesível, chiedibile,


quéra- ble): art. 327
* regra disponível: domicílio do credor (pagamento portável,
portabi- le, portable) ou outro.
* dois locais previstos: escolha do credor (art. 327)
* imóvel ou prestação relativa ao imóvel: lugar da situação (art. 328)

6) Quando Pagar? (tempo do pagamento)


* regra: imediatamente (art. 331)
* vencimento antecipado (art. 333) + outras hipóteses que as
partes podem estipular.

# Prova do Pagamento:

— quitação: “quietare”, deixar em descanso/contrapartida do devedor


pelo pagamento/é a prova do pagamento/é direito do devedor que
cumpre (dá a ele, se o credor a recusar as alternativas: (i) reter o pagamento
(art. 319);
(ii) consignar o pagamento/natureza = ato jurídico
— forma da quitação: art. 320 do novo código
— a quitação é prova do pagamento, mas não a única prova.

PAGAMENTO INDEVIDO:

# Regra: obrigação de restituir por parte de quem recebeu (art. 876)


# Regra: ônus da prova de que feito por erro por parte do que pagou (ain-
da se exige erro?) (art. 877).
# Acréscimos e melhoramentos (referência aos arts. 510 a 519): solução
dependerá da boa ou má-fé do “accipiens” (desconhecimento ou conheci-
mento do indébito) (art. 878).
# Pagamento indevido de imóvel: dependerá da boa ou má-fé do accipiens
e da boa ou má-fé de terceiro:

— Situações:
(i) accipiens recebe o imóvel de boa-fé e o transfere a título oneroso:
(i.a) a terceiro também de boa-fé
— interesse do terceiro prevalece: fica com o imóvel
— accipiens restitui o preço que recebeu do terceiro
(i.b) a terceiro de má-fé:
— retorna o imóvel ao que pagou indevido
— terceiro sujeito a pagar perdas e danos
(ii) accipiens recebe o imóvel de má-fé e o transfere a título oneroso:
(ii.a) a terceiro de boa-fé:
— accipiens devolve o preço mais perdas e danos
— terceiro fica com o
imóvel (ii.b) a terceiro de má-
fé:
— imóvel retorna ao solvens;
— accipiens paga perdas e danos
— terceiro sujeito a perdas e danos
(iii) accipiens recebe o imóvel de boa-fé e o transfere a título gratuito:
> não importa a boa ou má-fé do terceiro, terá de perder o imóvel
> o interesse do terceiro que nada despendeu será sempre inferior

(iv) accipiens recebe o imóvel de má-fé e o transfere a título gratuito:


> accipiens tem que pagar perdas e danos

# Há três exceções à regra de que o pagamento indevido deve ser restitu-


ído:

(i) Art. 880: Fica isento de restituir pagamento indevido aquele


que, recebendo-o por conta de dívida verdadeira, inutilizou o
título, dei- xou prescrever a ação ou abriu mão das garantias que
asseguravam o seu direito; mas o que pagou dispõe de ação
regressiva contra o verdadeiro devedor e seu fiador: aqui o
legislador permite ao credor que conserve o que recebeu, já que,
em caso contrário, estaria sen- do prejudicado por um erro que,
afinal, foi gerado pelo que pagou indevidamente.
(ii) Art. 882: Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida
prescrita, ou cumprir obrigação natural.
(iii) Art. 883: Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa
para obter fim ilícito, imoral ou proibido em lei.

* Alguém que combine (não é contrato) com outro para matar um tercei-
ro (como Rigoletto fez) não pode exigir a repetição se o outro não
cumprir ou matar outra pessoa (como Sparafucile fez com a filha de
Rigoletto, Gilda).

OBJETIVO:

Compreender a orientação da obrigação para o pagamento e satisfação do


credor; ter a noção dos conceitos de pagamento e de quitação; saber identifi-
car as regras a respeito de quem deve pagar e a quem, como, onde e quando
se paga.

INSTRUÇÕES:

1) Ler PEREIRA (2013, v.2), capítulo XXX; 2) Ler acórdão e votos


do julgamento dos REsps 977077/GO e 1161411/RJ, Rel. Min. Nancy
Andri- ghi para discussão em sala; 3) Solucionar a seguinte questão:
Joaquim deve a Pedro a quantia de R$10.000,00 (dez mil reais), tendo
dado a este duas
garantias: o penhor de um relógio Citisio de sua propriedade,
avaliado em R$5.000,00 (cinco mil reais) e a fiança de
Miguel. No dia do vencimento, pode Querêncio, amigo de
infância de Joaquim, pagar a dívida em seu pró- prio nome se
Joaquim não o fizer? Quais as consequências, especialmente
com relação às garantias?

SUGESTÕES:

Ler TEPEDINO (2005), Capítulo 11.

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