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MODALIDADES DO NEGÓCIO

JURÍDICO

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL


PROFA. MÁRCIA S. SOARES
1. Condição
A condição é uma cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a evento
futuro e incerto. Dessa forma, para que se configure o negócio condicional são
necessários dois requisitos: a futuridade e a incerteza.
*Ou seja, não se considera condição o fato passado ou presente, mas somente o
futuro. Como exemplo, temos a promessa de R$ 100.000,00 de uma pessoa a outra,
caso o Flamengo seja campeão do Campeonato Brasileiro de 2021. O negócio em
questão é futuro (só saberemos o campeão em dezembro de 2021) e incerto (pode
ser campeão ou não), por isso configura-se uma condição.
Art. 121 do CC Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da
vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.

*Existem diversas classificações para as condições. As principais são:


Quanto ao modo de atuação:
As condições podem ser: suspensivas ou resolutivas.
• Condição suspensiva: as partes protelam, temporariamente, a eficácia do ato
negocial até a realização do evento futuro e incerto.
Art. 125 do CC Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva,
enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.
Exemplos de condições suspensivas citados pela Profa. Maria Helena Diniz:
− comprarei seu quadro se ele for aceito numa exposição internacional;
− adquirirei o cavalo “Fogo Branco” se ele vencer a corrida no Grande Prêmio
promovido, daqui a três meses, pelo Jockey Club de São Paulo;
− doarei meu apartamento se você casar.

• Condição resolutiva:
a ocorrência do evento futuro e incerto resolve (extingue) o direito transferido pelo
negócio jurídico. Ex.: te dou uma “mesada” enquanto você estudar.
Art. 127 do CC Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o
negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele
estabelecido.
Exemplos de condições resolutivas citados pela Profa. Maria Helena Diniz:
− constituo uma renda em seu favor, enquanto você estudar;
− cedo-lhe esta casa, para que nela resida, enquanto for solteiro;
- compro-lhe esta fazenda, sob a condição do contrato se resolver se gear nos
próximos três anos.

*Quanto à participação da vontade dos sujeitos


As condições podem ser: causais, potestativas, mistas e promíscuas.
• Condições causais: são as que dependem do acaso, de um acontecimento fortuito ou
de força maior, ou seja, de um fato alheio à vontade das partes.
Ex.: Dar-te-ei uma joia se chover amanhã.
 Condições potestativas: são as que decorrem da vontade de uma das par- tes.
Podem ser:
 puramente potestativas: são as que se sujeitam ao puro arbítrio de uma
das partes, valendo dizer que a sua ocorrência depende exclusivamente da
vontade da pessoa, independentemente de qualquer fator externo. Nos
termos do art. 122, 2a parte, do CC, tais condições são ilícitas.
 
  Ex.: Dar-te-ei determinada quantia em dinheiro o dia em que eu vestir meu
terno cinza.
Art. 122 do CC
São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública
ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de
todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das
partes.

*Exemplos de condições puramente potestativas citados pela Profa. Maria


Helena Diniz:
b) aposição de cláusula que, em contrato de mútuo, dê ao credor poder unilateral de
provocar o vencimento antecipado da dívida, diante de sim- ples circunstância de
romper-se o vínculo empregatício entre as partes.

*Simplesmente potestativas: são as que se sujeitam à vontade de uma das partes


conjugada com fatores externos que escapam ao seu controle. Ou seja, além do
arbítrio, exige-se uma atuação especial do sujeito.
  Ex.: Dar-te-ei dois mil reais no dia que eu conseguir viajar para a Europa.
Para tal viagem se realizar depende de tempo e dinheiro, não ficando, então, a
condição sujeita ao arbítrio exclusivo de uma pessoa.
*Exemplos de condições simplesmente potestativas citados pela Profa. Maria
Helena Diniz:
a) doação a um cantor de ópera, condicionada ao fato de desempenhar
bem um determinado papel; e
b) comodato (empréstimo) de casa a alguém se for até Paris para inscrever-se num
concurso de artes plásticas.
 Condições mistas: são as que dependem, simultaneamente, da vontade de
uma das partes e da vontade de um terceiro.
  Ex.: Dar-te-ei dois mil reais se casares com Maria.
 Exemplo de condição mista citado pela Profa. Maria Helena Diniz:
 dar-lhe-ei este apartamento se você casar com Paulo antes de sua forma-
tura, ou se constituir sociedade com João.

Condições promíscuas: são as que se caracterizam no momento inicial como


potestativas, vindo a perder tal característica por fato superveniente alheio à
vontade do agente, que venha a dificultar sua realização.
 Ex.: dar-lhe-ei dois mil reais se você, campeão de futebol, jogar no próximo
torneio.
 A condição em questão passará a ser promíscua se o jogador vier a machucar a
perna.

*Quanto à possibilidade
As condições podem ser possíveis e impossíveis. Além disso, subdividem-se em
Condições fisicamente impossíveis: são as que contrariam as leis da natureza.
  Ex.: Colocar toda a água do oceano em um copo.

*Condições juridicamente impossíveis: são a que contrariam a ordem legal.


  Ex.: Negócio jurídico que tenha por objeto herança de pessoa viva (ver art. 426 do
CC).
 *Condições fisicamente possíveis: são as que não contrariam as leis da natureza.
*Condições juridicamente possíveis: são a que não contrariam a lei, a or- dem
pública ou os bons costumes.
É interessante fazer uma observação sobre as condições impossíveis com base nos art.
123, I e 124 do CC.

*Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:


I – as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas; Art. 124
do CC
Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não
fazer coisa impossível.
 
Dependendo do tipo de condição impossível temos efeitos distintos para o ne-
gócio jurídico:
 Condição impossível suspensiva: invalida o negócio jurídico (nulidade absoluta),
pois o evento futuro e incerto nunca vai ocorrer e o negócio nunca vai produzir efeitos.

Ex.: Vou te dar uma “mesada” quando o Congresso Nacional (CN) suprimir da
Constituição Federal (CF) o direito à vida.
Condição impossível resolutiva: considera-se inexistente a condição, pois
ela nunca vai ocorrer e, consequentemente, o negócio continuará produzindo
efeitos.

Ex.: Vou te dar uma “mesada”, mas a cancelarei se o Congresso Nacional (CN)
suprimir da Constituição Federal (CF) o direito à vida.
*Como o direito à vida é uma cláusula pétrea nunca haverá tal supressão.
CONDIÇÃO IMPOSSÍVEL
SUSPENSIV Invalida o negócio jurídico.
A
RESOLUTIV Considera-se inexistente a
A condição.
Quanto à licitude
As condições podem ser: lícitas e ilícitas.

 Condições lícitas: quando o evento que a constitui não for contrário à lei, à

ordem pública, à moral e aos bons costumes.

 Condições ilícitas: são aquelas condenadas pela norma jurídicas, pela mo- ral

e pelos nos costumes.


*Exemplos de condições ilícitas citados pela Profa. Maria Helena Diniz:
prometer uma recompensa sob a condição de alguém viver em concubi- nato
impuro;
entregar-se à prostituição;
furtar certo bem;
dispensar, se casado, os deveres de coabitação e fidelidade mútua; e
não se casar.
Resumo sobre a Classificação das Condições
 Quanto ao modo de atuação: suspensivas ou resolutivas.

 Quanto à participação da vontade dos sujeitos: causais, potestativas, mistas e


promíscuas.
 Quanto à possibilidade: possíveis ou impossíveis (física ou juridicamente).
 Quanto à licitude: lícitas e ilícitas.
 
TERMO
 
O termo representa o dia em começa ou se extingue a eficácia do negócio ju-
rídico. Quando convencionado no contrato, o termo subordina o efeito do
negócio jurídico a um evento futuro e certo. Ou seja, corresponde a uma data
certa para iniciar ou terminar a eficácia do ato negocial.
Condição – evento futuro e incerto. Termo –
evento futuro ecerto.
O termo pode ser:
Inicial (dies a quo) ou suspensivo: fixa o momento
em que a eficácia do negócio jurídico deve iniciar,
retardando o exercício do direito.
Ex.: Um contrato de locação celebrado no dia 20 de um mês para ter
vigência no dia 1º do mês seguinte.

Art. 131 do CC
O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
Final (dies ad quem ou ad diem) ou resolutivo: determina a data da ces- sação dos
efeitos do ato negocial, extinguindo as obrigações dele oriundas.
Ex.: O contrato de locação se encerra no dia 31 de dezembro do ano que vem.

*Certo: refere-se a um evento futuro e certo de ocorrer em data certa do calendário


(dia, mês e ano), ou quando fixa certo lapso de tempo.
 
Ex.: Data certa – 15 de dezembro de 2020; lapso de tempo – daqui a 6 meses.

*Incerto: quando se refere a um acontecimento futuro e certo de ocorrer, que ocorrerá


em data incerta.
Ex.: Um imóvel passa a ser de outrem a partir da morte de seu proprietário.
A morte é um evento certo (todos irão morrer um dia) que acontecerá em uma data
incerta.
O art. 132 do CC estabelece a forma de contagem dos prazos:
 Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos,
excluí- do o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1º Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até
o seguinte dia útil.
§ 2º Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
§ 3º Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no
ime- diato, se faltar exata correspondência.
§ 4º Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

ENCARGO
 
O encargo, também chamado de modo, é uma cláusula imposta nos ne- gócios
gratuitos, que restringe a vantagem do beneficiado. Como exemplo, temos a
doação de um terreno a determinada pessoa para lá ser construído um asilo. Trata-se
de uma cláusula acessória aos atos que possuem caráter de liberalidade (doações e
testamentos) pelo qual se impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário.
É admitido também em declarações unilaterais de vontade tal como uma promessa de
recompensa.
Pelo art. 553 do CC, concluímos que:
O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do
doador, de terceiro, ou do interesse geral.
Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá
exi- gir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito.

*Se um encargo decorrente de uma doação for de interesse geral, a exigência de seu
cumprimento pode ter como origem o Ministério Público, na hipótese do doador já
haver morrido e ainda não ter feito tal exigência.
Dispõe o art. 136 do CC que:
 O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando
expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição
suspensiva.
 
Dessa forma, a partir do momento em que for aberta a sucessão, o domínio e
a posse dos bens transmitem-se imediatamente aos herdeiros nomeados, com a
obrigação de cumprir o encargo a eles imposto. Se esse encargo não for
cumprido, a liberalidade poderá ser revogada. Ou seja, se uma pessoa recebe
um terreno como herança, com o encargo de construir um asilo em tal terreno,
a propriedade do terreno é adquirida antes da construção do asilo, pois o
encargo (construção do asilo) não suspende a aquisição do direito (propriedade
do terreno).

*Outro dispositivo que merece uma análise é o art. 137 do CC.

 Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o


motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
 
A regra é que o encargo ilícito ou impossível seja considerado não escrito,
sendo mantida a validade do negócio jurídico. Porém, se o encargo ilícito ou
impossível for a razão determinante da liberalidade (motivo principal do negócio),
o ato negocial será invalidado. Ou seja, deve-se analisar no caso concerto se o
encargo é o motivo principal ou secundário do negócio jurídico. Caso seja
principal, ocorre invalidade, caso seja secundário, mantém-se a validade do ato
negocial.

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