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AULA 4

1. ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO: são convenções acessórias que constituem


limitações da vontade e modificam os efeitos do negócio jurídico. Uma vez convencionados,
passam a integrar o negócio de forma indissociável.

 Condição: Segundo definição do art. 121, considera-se condição a cláusula que,


derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio
jurídico a evento futuro e incerto. Deve ser proposta por um dos contraentes e aceita
pelo outro. Pode ser suspensiva ou resolutiva.

 Condição suspensiva:

Negócio jurídico existente, válido e ineficaz

Surgimento do direito

Celebração Implemento
do negócio da condição

 Condição resolutiva:

Negócio jurídico existente, válido e eficaz

Cessação/resolução do direito

Celebração Implemento
do negócio da condição

As condições podem ser examinadas em três estágios possíveis: o estado de


pendência (situação em que ainda não se verificou o evento futuro e incerto); o
estado de implemento da condição (quando o evento efetivamente ocorre) e o
estado de frustração (quando o evento definitivamente não tem mais
possibilidade de ocorrer), sendo que os dois últimos estágios têm efeitos opostos,
conforme seja a condição suspensiva ou resolutiva.

 Condições ilícitas: podem ser ilegais ou imorais. São ilegais as que incitam o
agente à prática de atos proibidos por lei ou a não praticar o que a lei manda.
São imorais as que vão contra o direito de liberdade das pessoas e seus
princípios.

o Condições perplexas ou contraditórias: são as que não fazem sentido


e deixam o intérprete confuso, sem compreender o propósito da
estipulação. São consideradas ilícitas, conforme parte final do art. 122.

o Condições puramente potestativas: sujeitam o negócio ao arbítrio


exclusivo de uma das partes: se eu quiser, se eu puder, se eu entender

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conveniente etc. Constituem mero capricho e por isso também são
consideradas ilícitas, conforme parte final do art. 122.

 Condições impossíveis: são aquelas que não podem ser cumpridas, por razão
natural (física) ou jurídica. A rigor, sequer são condições, porque não há
incerteza nos acontecimentos.

As condições ilícitas e impossíveis, em regra, invalidam o negócio jurídico. Mas


as condições impossíveis e as de não fazer coisa impossível, quando resolutivas,
são consideradas inexistentes.

 Novas disposições sobre a coisa: O art. 126 diz: Se alguém dispuser de uma
coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquela novas
disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem
incompatíveis. Embora o texto seja um pouco confuso, o que o legislador quis
dizer é que, implementada a condição, os efeitos do negócio retroagem à
data da sua celebração. Assim, qualquer negócio posterior com o mesmo
objeto não terá valor. Ex: alguém promete dar um veículo sob condição; no
entretempo da condição suspensiva, dá em penhor o veículo. Com o advento
do implemento da condição, o penhor se resolve, os efeitos da condição
retroagem à data do negócio.

 Obstáculo malicioso: Segundo o art. 129, reputa-se verificada, quanto aos


efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela
parte a quem desfavorecer (condição suspensiva), considerando-se, ao
contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por
aquele a quem aproveita o seu implemento (condição resolutiva).

 Atos de conservação: a lei garante ao titular da expectativa de direito a


possibilidade de praticar atos para conservá-lo. É o que diz o art. 130: Ao titular
do direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é
permitido praticar os atos destinados a conservá-lo.

 Termo: é o elemento acidental do negócio jurídico que faz com que a eficácia do
negócio fique subordinada à ocorrência de acontecimento futuro e certo. Assim, o
termo é o momento em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico.

 Termo inicial e termo final: (o termo inicial suspende a eficácia de um negócio


até sua ocorrência, enquanto o termo final resolve seus efeitos.

Na condição suspensiva, enquanto não se verificar seu implemento, não se


adquire o direito a que o ato visa (art. 125); no termo inicial, pelo contrário, não
se impede a aquisição do direito, mas se retarda seu exercício (art. 131). O
termo, portanto, aposto a negócio jurídico, indica o momento a partir do qual
seu exercício inicia-se ou extingue-se: Art. 131. O termo inicial suspende o
exercício, mas não a aquisição do direito.

 Prazo: Tradicionalmente se diz que prazo é o lapso de tempo decorrido entre


a declaração de vontade e a superveniência do termo. O prazo é também o
tempo que medeia entre o termo inicial e o termo final. O art. 132 traça as
disposições sobre a contagem dos prazos.

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 Encargo: encargo ou modo é restrição imposta ao beneficiário de liberalidade. Trata-
se de ônus que diminui a extensão da liberalidade.

 Como na condição, o encargo deve trazer obrigação lícita e possível. A


ilicitude ou impossibilidade do encargo torna-o não escrito, valendo a
liberalidade como pura e simples.

Em que pese a aparente semelhança, o encargo não se confunde com a


condição. O encargo é coercitivo, o que não ocorre com a condição, uma
vez que ninguém pode ser obrigado a cumpri-la. Doutro lado, a condição
suspende a aquisição do direito, se for suspensiva, o que não ocorre com o
encargo, a não ser que assim seja expressamente disposto pelo manifestante:
O encargo não suspende a aquisição, nem o exercício do direito, salvo
quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como
condição suspensiva (art. 136).

Condição Termo Encargo

Subordina os efeitos do negócio Subordina os efeitos do negócio Impõe uma obrigação ao


a um evento futuro e incerto a um evento futuro e certo beneficiário de uma liberalidade

É imposta com as expressões: se, Aparece com as expressões: É imposto com as expressões:
enquanto, com a condição de quando, a partir de , até para que, com a obrigação de

 suspensiva: impede que o  inicial: suspende o exercício,


Não suspende nem a aquisição
ato produza efeitos até que mas não a aquisição do
nem o exercício do direito. Se
se implemente direito
não for cumprido, o negócio
 resolutiva: resolve o direito  final: resolve os efeitos do poderá ser revogado.
transferido pelo negócio negócio jurídico

Tópicos geradores: Qual o prazo para exigir uma pessoa a cumprir sua obrigação?.

Metas de compreensão: Distinguir condição, termo e encargo.

EXERCÍCIO - XXIX Exame de Ordem

Eva celebrou com sua neta Adriana um negócio jurídico, por meio do qual doava sua casa
de praia para a neta caso esta viesse a se casar antes da morte da doadora. O ato foi
levado a registro no cartório do Registro de Imóveis da circunscrição do bem. Pouco tempo
depois, Adriana tem notícia de que Eva não utilizava a casa de praia há muitos anos e que
o imóvel estava completamente abandonado, deteriorando-se a cada dia. Adriana fica
preocupada com o risco de ruína completa da casa, mas não tem, por enquanto, nenhuma
perspectiva de casar-se.

De acordo com o caso narrado, assinale a afirmativa correta.

A) Adriana pode exigir que Eva autorize a realização de obras urgentes no imóvel, de modo
a evitar a ruína da casa.

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B) Adriana nada pode fazer para evitar a ruína da casa, pois, nos termos do contrato, é titular
de mera expectativa de fato.

C) Adriana pode exigir que Eva lhe transfira desde logo a propriedade da casa, mas perderá
esse direito se Eva vier a falecer sem que Adriana tenha se casado.

D) Adriana pode apressar-se para casar antes da morte de Eva, mas, se esta já tiver vendido
a casa de praia para uma terceira pessoa ao tempo do casamento, a doação feita para
Adriana não produzirá efeito.

LEITURA COMPLEMENTAR:

TEPEDINO, Gustavo; OLIVA, Milena Donato. Notas sobre a condição no negócio jurídico.
Revista de Direito Civil Contemporâneo, vol. 16/2018, Jul - Set/2018, p. 61 - 83.

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