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Processo-Executivo-Sebenta

Direito processual civil executivo e recursos (Universidade Lusíada de Lisboa)

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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Processo
Executivo

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PARTE GERAL

1. Conceito e fins da acção executiva.


1.1. Delimitação e tipos.

Encontramos no Direito Processual Civil, consoante as diferentes pretensões que se


pretendem fazer valer em juízo, duas espécies de acções: a acção declarativa e a
acção executiva. (art. 10º/1 CPC)
A acção declarativa (processo declaratório/conhecimento1) pode ser: (v. art. 10º/2/3
CPC)
1) Uma acção de simples apreciação, na qual é pedido ao tribunal que declare a
existência ou inexistência dum direito ou dum facto jurídico. Dispensa qualquer
outro tipo de actividade jurisdicional para lá dessa acção.
2) Uma acção constitutiva, na qual o juízo do tribunal já não é limitado pela
situação de direito ou de facto pré-existente. Pela sentença, o juiz, perante o
exercício judicial dum direito potestativo, cria novas situações jurídicas entre as
partes, constituindo, impedindo, modificando ou extinguindo direitos e deveres
que, embora fundados em situações jurídicas concretas só nascem com a própria
sentença. O aspecto declarativo da sentença, indo além do juízo prévio sobre a
existência do direito potestativo, reside fundamentalmente na definição, só para
o futuro ou retroactivamente, na situação jurídica constituída. Também dispensa
qualquer outro tipo de intervenção jurisdicional, porque a sentença, só de per si,
produzirá os efeitos jurídicos, não havendo forma de as partes evitarem ser
atingidas pelas consequências jurídicas que ela produz.
3) Uma acção de condenação, na qual, sem prejuízo de o tribunal dever ainda
emitir aquele juízo declarativo, se pretende também que, em sua consequência,
condene também o réu na prestação duma coisa ou de um facto.
a. O pedido de declaração prévia do direito ou facto jurídico pode ser
expresso, verificando-se, nesse caso, uma cumulação de pedidos (art.
555º CPC) Note-se que se o autor se limitar a pedir a condenação do réu,
então o juízo prévio de apreciação mais não é do que um pressuposto
lógico do juízo condenatório pretendido.
b. Pressuposto lógico da condenação é ainda a violação de um direito; mas
não é necessário que a violação esteja consumada à data do recurso a
juízo ou mesmo à data da sentença. A acção de condenação pode ter
lugar na previsão da violação do direito (conduzindo a uma intimação ao
réu para que se abstenha de o violar – art 1276º CC) ou à sua condenação
a satisfazer a prestação no momento do vencimento (art. 557º e 610º
CPC).

A acção executiva tem por finalidade a reparação efectiva de um direito violado.


Não se trata já da declaração de direitos, pré-existentes ou a constituir, mas de
providenciar pela realização coactiva uma prestação devida. LEBRE DE FREITAS afirma
que com ela passamos da declaração

1Pelos factos controvertidos alegados pelo autor e pelo réu (seja por excepção, negação, ou
pedido reconvencional) surge um conflito que o juiz há-de resolver criando uma convicção

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probatória sobre a realidade desses factos, devendo expressá-la através de enunciados


linguísticos – sentença – que vão julgar procedente ou improcedente a pretensão do autor ou, no
seu caso, do réu.

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concreta da norma jurídica para a sua actuação prática, mediante o desencadear do


mecanismo da garantia.
O CPC, no art. 10º/4 CPC, refere-se à acção executiva como aquela através da qual
“o credor requer as providências adequadas à realização coactiva de uma obrigação
que lhe é devida”. Algumas notas a respeito deste artigo:
 REMÉDIO MARQUES alerta para o facto de que essas “providências adequadas”
tratar-se-ão, seguramente, de operações materiais e não de verdadeiros
actos jurisdicionais2. Tratando- se estas operações de actos não jurisdicionais,
o processo executivo é desjudicializado: estes actos não carecem da intervenção
de um juiz, sendo realizados pelos agentes de execução, que são profissionais
liberais licenciados em direito, a quem o estado atribui poderes públicos. Os
oficiais de justiça podem ser, em alguns casos, agentes de execução.
 O termo “execução” pode ter vários sentidos – numa acepção lata,
compreende a actividade dos tribunais ou administração pela qual se dá
cumprimento a uma ordem judicial. Porém, adquire aqui o sentido de execução
forçada, e reconduz-se à actividade através da qual os tribunais visam,
actuando por iniciativa e interesse do credor, a obtenção do resultado prático
equivalente àquele que deveria ter sido oferecido pelo devedor, no cumprimento
duma obrigação.
 Não é só o incumprimento de uma prestação originada no âmbito de um vínculo
obrigacional que pode estar na base de uma acção executiva, mas também de
uma relação real, familiar ou sucessória.
 A acção executiva pretende assim fazer actuar na prática a sanção emergente do
incumprimento do devedor, com base num título executivo, que pode ser
judicial ou extrajudicial. (nulla executio sine titulo) O credor pode lançar mão
da acção executiva ser ter previamente intentado uma acção declarativa (título
extrajudicial). Nestes casos, não existe entre a acção executiva e declarativa
uma relação de coordenação funcional.
 O incumprimento resulta do título executivo; porém a obrigação pode ser
incerta ou inexigível, caso em que haverá lugar a um incidente de natureza
declarativa. Se o incumprimento não resulta do título e o credor não faz prova
complementar do título, isto leva ao indeferimento liminar da petição executiva.
 O incumprimento tanto pode ser da obrigação originária, como de uma
obrigação secundária ou sucedânea (obrigação de indemnização, art.
801.º/2 CC).
 Na acção executiva, encontramos frequentemente incidentes declarativos
(liquidação, protesto no acto da penhora, falsidade, oposição à penhora pelo
executado) e acções declarativas que correm por apenso (embargos de
executado, embargos de terceiros, reclamação e graduação de crédito). Surgem,
por exemplo, quando se considera que foram cometidas ilegalidades no processo
de execução. Graças ao princípio da reserva de juiz, estes incidentes de
natureza declarativa serão tratados necessariamente por um magistrado judicial.

2
Como exemplos: citações, notificações, apreensões de bens, vendas, pagamentos, passagem
de títulos de transmissão emitidos pelo agente de execução, notificação das conservatórias de
registo para levantarem os registos de penhoras, etc… Recentemente, também, suspensão da

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utilização do passaporte/carta de condução do executado; cessação da utilização de cartões de


débito/crédito…

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Assim, REMÉDIO MARQUES define acções executivas como “as que têm por fim
efectivar o cumprimento coercivo duma norma primária de obrigação (lato
sensu), estabelecida num título (documento) bastante, mediante um pedido
dirigido aos tribunais estatuais para que substituam ao devedor na realização
da prestação – originária ou sucedânea – à custa do património dele”.
Note-se ainda que a execução pode ser de dois tipos:
• Execução específica ou in natura: o exequente obtém o mesmo resultado que
obteria com a realização da prestação que, segundo o título, lhe é devida (ainda que à
custa de terceiro). Ocorre nos seguintes casos: acção executiva para entrega de coisa
certa; acção executiva para prestações de facto fungível, em que o facto seja realizado
por outrem à custa do devedor; acção executiva para prestação de facto negativo,
quando a actividade material violadora da obrigação seja removida à custa do devedor.
Esta não se confunde com a figura da execução específica do art. 830º CC. Esta última
surge no âmbito de uma acção declarativa constitutiva que só per si altera a situação
jurídica entre as partes. (p.e. Caso do contrato-promessa, quando não é celebrado o
contrato prometido)
• Execução por equivalente: a prestação é realizada coactivamente à custa do
devedor, por forma a obter um efeito tanto quanto possível semelhante ao que se
conseguiria se a prestação fosse voluntariamente cumprida. Ocorre nos seguintes
casos: acção executiva para prestação de facto infungível em que só a obtenção de um
equivalente pecuniário satisfaz o interesse da prestação; e acção executiva para
pagamento de quantia certa.

1.2. Tipos de acção executiva.

Também a acção executiva pode ser de vários tipos (art. 10º/6 CPC):

1) Acção executiva para pagamento de quantia certa (art. 724º e ss. CPC)
a. Um credor, o exequente, pretende obter o cumprimento duma obrigação
pecuniária através da execução do património do devedor, o executado
(art. 817º CC) Para tal, o tribunal apreende os bens que considera
suficientes para cobrir a importância da dívida e das custas e,
normalmente, procede à sua venda para, com o preço obtido, proceder ao
pagamento. O exequente obtém assim o mesmo resultado que com a
realização da prestação que, segundo o título executivo, lhe é devida. 
Execução específica.
b. Mesmo que a acção executiva tenha na sua base uma obrigação de
entrega de coisa ou prestação de facto, normalmente converte-se nos
próprios autos numa acção executiva para pagamento de quantia certa. 
Execução por equivalente.

2) Acção executiva para entrega de coisa certa (art. 859º e ss. CPC)
a. O exequente, titular do direito à prestação de uma coisa determinada,
pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao devedor (executado) e
seguidamente lha entregue (art. 827º CC)  Execução específica.
b. Se a coisa não for encontrada, o exequente procederá à liquidação do seu
valor e do prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e
vendendo-se bens do executado para pagamento da quantia liquidada
3

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(art. 867º CPC). Aqui, pode o exequente obter um resultado idêntico ao


da realização da própria prestação, que

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segundo o título lhe é devida, ou um seu equivalente. O direito à prestação


da coisa pode ter por base uma obrigação ou um direito real.  Execução
por equivalente.

3) Acção executiva para prestação de facto (art. 868º e ss. CPC)  Devemos
distinguir:
a. Quando este for fungível: o exequente pode requerer que ele seja
prestado por outrem à custa do devedor (art. 828º CC), sendo apreendidos
e vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do custo
da prestação.  Execução específica.
b. Quando este for infungível: o exequente já só pode pretender a
apreensão e a venda de bens do devedor suficientes para o indemnizar do
dano sofrido com o incumprimento (art. 868º CPC), e eventualmente a
quantia devida a título de sanção pecuniária compulsória.  Execução
por equivalente.
c. No caso de um dever de facto negativo (omissão): o exequente,
consoante os casos, pedirá a demolição da obra que porventura tenha
sido efectuada pelo devedor3, à custa deste, assim como a indemnização
do prejuízo sofrido, ou uma indemnização compensatória (art. 829º CC e
876º CPC). Também aqui o credor pode obter o mesmo resultado que
obteria com a realização da obrigação que lhe é devida ou um seu
equivalente, ainda que por terceiro. Pode surgir de uma prestação de
natureza obrigacional ou da violação de um direito real.  Execução
específica.

Fora do CPC, encontramos ainda várias execuções especiais:


1) Execução especial por alimentos, prevista na Lei Tutelar Cível.
2) Execução especial de despejo de prédios dados de arrendamento, prevista na
LAU.
3) Execução em matéria fiscal, prevista no CPPT.

1.3. Função e natureza.

Podemos retirar algumas conclusões desta análise dos vários tipos de acção
executiva:
 Como vimos antes, acção executiva pressupõe sempre o dever de
realização de uma prestação. Normalmente, esta constitui o conteúdo de
uma relação jurídica obrigacional, primária ou de indemnização. Mas nem
sempre: os direitos reais também podem fundar pretensões a uma prestação
a efectuar a favor do seu titular. Assim, não se pode dizer que apenas
obrigações podem dar origem à acção executiva, a menos que o termo
“obrigação” seja tomado lato sensu, no sentido de abranger qualquer relação
jurídica que tenha por conteúdo, ainda que só subordinadamente a uma
relação ou situação jurídica de outra natureza, o dever de realizar uma
prestação.
 A acção executiva não pode ter lugar perante a simples previsão da violação
de um direito. Através dela, o exequente visa reparar um direito violado,
pressupondo-se a consumação da violação ou, pelo menos, a exigibilidade da

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obrigação. Apenas a violação surge na génese do processo civil executivo,


embora naturalmente se pressuponha a prévia solução da dúvida que possa
haver sobre a existência e a configuração do direito exequendo.
3
CALVÃO DA SILVA defende que a obrigação de demolir, constituída com a sua violação, é uma
obrigação de prestação de facto fungível, embora elas sejam, por natureza, quase sempre
infungíveis.

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 Através da acção executiva, o exequente pode obter a execução específica


ou por equivalente.
 O tipo de acção executiva é sempre determinado em face do título
executivo: consoante deste conste uma obrigação pecuniária, uma
obrigação de prestação de coisa ou uma obrigação de prestação de facto.
 A satisfação do credor na acção executiva é conseguida mediante a
substituição do tribunal ao devedor. O tribunal procede à apreensão de
bens para, em substituição do devedor, pagar ao credor, ou para conseguir
médios que permitam custear a prestação, por terceiros em vez do devedor,
do facto por este devido.
REMÉDIO MARQUES alerta que, por vezes, é difícil saber qual a finalidade da
concreta acção executiva. Nesse caso, o essencial é olhar para o conteúdo do título
executivo cuja interpretação deve ser tendencialmente literal e nunca extensiva e/ou
analógica, porque o título executivo é algo “perigoso” para o executado. Note-se ainda
que no novo CPC, por razões de economia processual, é possível cumular pedidos
numa única execução com natureza/função variada.
Quanto à sua natureza, a acção executiva reveste as características do direito à
acção que, enquanto direito subjectivo público (art. 20.º/2 da CRP) se reconduz, no seu
sentido abstracto, a uma situação subjectiva, cujo sujeito passivo é o Estado, em que
no seu conteúdo se surpreende o poder de uma pessoa (individual ou colectiva) obter
de um tribunal o pronunciamento de uma decisão, independentemente da real
fundamentação da pretensão. Já num sentido concreto – como o que decorre do art.
2.º/2 do CPC – a acção corresponde à efectiva titularidade de um direito substantivo,
em termos de o direito subjectivo se transformar em pretensão à tutela jurídica.

1.4. Processo Executivo e Direito Substantivo – relação de


autonomia/instrumentalidade.

É comum afirmar-se que o processo executivo (tal como o declarativo) desempenha


uma função instrumental face ao direito substantivo, na medida em que assegura a
tutela do direito do exequente e depende de um direito que consta do título executivo.
Apesar de ser possível a propositura de uma acção executiva sem que exista o
correspondente direito substantivo, isto não chega para afirmar a autonomia do
processo executivo – basta ter em conta que o vício substantivo que afecte a obrigação
exequenda origina a extinção da execução.
Porém, a acção executiva não reveste apenas uma função instrumental do direito
substantivo:
• Por vezes, o direito processual executivo desempenha as mesmas funções do
direito material (por ex., a penhora é um meio de atribuição de uma garantia real);
• Noutros casos, a acção executiva submete alguns sujeitos que nela intervêm aos
mesmos deveres que decorrem do direito material.
• Para além disto, e em termos mais gerais, podemos afirmar que a dimensão
jurídico- processual civil não é um mero instrumento de realização do direito material,
mas também parte integrante dele.

Note-se ainda que há várias normas de direito substantivo que relevam para efeitos
do processo executivo:

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 Dados os efeitos de natureza real de alguns actos executivos e a necessidade


de os articular com eventuais direitos de terceiros - o art. 819º e 826º CC.

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 Definição prévia dos regimes de responsabilidade patrimonial e de sujeição à


execução dos bens objecto de garantia real e de obrigação de prestação de
coisa determinada, bem como o da exequibilidade intrínseca da pretensão –
os arts. 717º, 818º, 827º a 829º, 400º/2, 548º, 777º/2/3 CC.
 Criação de medidas que visam a coacção indirecta do devedor ao
cumprimento de obrigações impostas, mas insusceptíveis de execução
específica. (art. 829º-A CC)

1.5. O acertamento e a execução. Princípios do processo executivo.

A declaração ou acertamento (de um direito ou relação jurídica; de um facto), que é


o ponto de chegada da acção declarativa, constitui, na acção executiva, o ponto de
partida. Embora estruturalmente autónomo, o processo executivo coordena-se com o
processo declarativo no ponto de vista funcional, sempre que por ele é precedido; nem
sempre, porém, tal precedência se verifica e, quando o título executivo não é uma
sentença, cessa esta coordenação funcional dos dois tipos de processo.
Na acção executiva, trata-se de dar realização material coactiva ao direito violado,
pelo que alguns dos princípios fundamentais por que se tem de pautar a resolução de
conflitos no processo civil declaratório ou não encontram qualquer ressonância no
processo ou, se a encontram, vêem a sua eficácia diminuída. É necessário distinguir
entre os incidentes de natureza declarativa enxertados no processo e acções
declarativas que correm por apenso, e a acção executiva: nos primeiros, a intensidade
da aplicação dos princípios é a mesma que no processo declarativo; já na acção
executiva, o princípio do contraditório em relação ao executado é fortemente limitado.

O princípio do contraditório está previsto no art. 3.º do CPC e diz que o processo
deve conferir às partes a oportunidade efectiva e eficaz de influir, através da sua
audiência pelo tribunal, no processo, por forma à comprovação objectiva de todas as
circunstâncias (de facto e direito) do caso concreto em litígio. Este princípio tem uma
eficácia muito limitada no processo executivo, uma vez que o dever de prestar já se
encontra documentado no título executivo.
Assim, são poucas as ocasiões em que o executado pode exercer o direito do
contraditório – se é executado, é porque há fortes razões para pensar que deve a
prestação em falta, uma vez que existe um título executivo.
Quais são as hipóteses em que o executado exerce o direito do contraditório na
acção executiva? Tirando os incidentes declarativos enxertados na acção executiva e
as acções executivas que correm por apenso, nas quais o contraditório se encontra
plenamente assegurado, o contraditório está geralmente limitado à prática dos actos,
lícitos ou ilícitos, no processo executivo (citação, penhora, etc.). Para além disto, tem
outras manifestações, nomeadamente:
• Audiência do executado quanto à escolha, pelo juiz, da modalidade da venda
judicial de venda dos bens penhorados, que pode reclamar para o juiz da decisão do
agente de execução (ex: um quadro será mais valorizado se for vendido através de
uma empresa especializada em leilões de arte).
• O executado também pode reclamar para o juiz da decisão da fixação do valor
dos bens, pedindo por ex. que se nomeie um perito.

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Quanto ao princípio da igualdade de armas, este exige o equilíbrio entre as


partes ao longo de todo o processo, no que toca aos meios, faculdades, ónus, sujeições
e cominações. Porém, esta deve ser uma igualdade material; assim, se as posições
processuais são objectivamente distintas, isto implica a atribuição de meios técnicos
distintos. É isto que ocorre no processo executivo: tirando os incidentes e acções
declarativas, as manifestações do princípio da igualdade de armas são raras.

Em suma, com LEBRE DE FREITAS, podemos dizer que a circunstância de no


processo executivo estar apenas em causa a actuação da garantia de um direito
subjectivo pré-definido leva a que:
1.O executado não goze de paridade com o exequente;
2. A sua participação no processo se circunscreva no âmbito da substituição dos
bens penhorados ou de uma eventual indicação de bens a penhorar, da audição sobre
a modalidade da venda e o valor-base dos bens a vender e do controlo da regularidade
e legalidade dos actos do processo.
3. O seu direito à contradição seja fundamentalmente assegurado ex post,
através da possibilidade de oposição aos actos executivos já praticados ou através da
oposição à execução, que constitui uma acção declarativa autónoma.

1.6. Juiz e agente de execução.

De acordo com o princípio da separação de poderes, encontramos dois modelos


fundamentais de acções executivas:
• Modelo da total judicialização dos actos, operações e diligências da
acção executiva: cabe ao juiz a direcção de todo o processo executivo, i.e., os actos
executivos são todos praticados mediante despacho prévio do juiz. Este foi o modelo
que vigorou entre nós até à reforma da acção executiva em 2003; com esta reforma, foi
substituído por um modelo de desjudicialização, uma vez que a jurisdicionalização da
acção executiva acarretava o proferimento de inúmeros despachos que não
constituíam actos de exercício da função jurisdicional. Porém, este modelo ainda vigora
em países como Espanha e Itália.
• Modelo da desjudicialização dos actos, operações e diligências da acção
executiva: a prática dos actos executivos propriamente ditos não está dependente da
reserva de juiz porque se tratam de operações materiais, não estando em causa
qualquer conflito de interesses que exija a apreciação de factos. Aqui, encontramos
vários submodelos:
 Modelo dos países nórdicos (Suécia, Dinamarca e Noruega): os actos
executivos são praticados por funcionários públicos, fora do tribunal, integrados
na orgânica do governo (semelhante ao nosso Ministério da Segurança Social e
Economia). Por ex., na Suécia a execução cabe a um serviço administrativo
chamado Serviço Público de Cobrança Forçada. Neste modelo, apenas em caso
de litígio é que se recorre ao juiz (por ocasião da prática de actos processuais
que violem direitos subjectivos do executado ou de terceiros, ou mesmo do
próprio exequendo; e ainda quando há a falta de pressupostos processuais).
 Modelo francês (e também de países como Bélgica, Luxemburgo,
Holanda, Grécia e Escócia): os actos são praticados por um agente de execução
que, embora seja um funcionário de nomeação oficial, é contratado pelo

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exequente e em certos casos actua extrajudicialmente (penhora de bens imóveis


ou de créditos). É um funcionário liberal

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munido de poderes de autoridade, que recebe o nome, em França, de huissier.


Este responde perante o exequente, bem como perante o executado e terceiros.
 Modelo alemão e austríaco: o agente de execução tem um estatuto
híbrido entre funcionário público e liberal. É pago pelos cofres do Estado, mas os
custos são depois imputados nas custas ao exequente. Actua com grande
independência do juiz, que por isso actua tendencialmente apenas em casos de
litígio, e ainda faz um controlo prévio quando o título não é uma sentença.

O modelo adoptado em 2003 seguiu o sistema francês. Assim, o juiz exerce


funções de tutela, intervindo em caso de litígio, e de controlo, proferindo nalguns casos
despacho liminar (controlo prévio dos actos executivos, arts. 723.º/1/a) e 726.º) e
intervindo para resolver dúvidas (art. 723.º/1/d)), garantir a protecção de direitos
fundamentais ou matéria sigilosa (arts. 738.º/6, 749.º/7, 757.º, 764.º/4, 767.º/1) ou
assegurar a realização dos fins da execução (arts. 759.º, 773.º/6, 782.º/2, 3 e 4,
814.º/1, 820.º/1, 829.º/1 e 2, 833.º/2). Porém, ao juiz deixou de caber a promoção das
diligências executivas, deixando de ordenar a penhora, a venda ou o pagamento, ou
até extinguir a instância executiva.
A prática destes actos, bem como a realização das várias diligências do processo
executivo quando a lei não determine diversamente, passaram a caber ao agente de
execução, que é um profissional liberal licenciado em direito que tem estatuto
autónomo e encontra-se sob a protecção e alçada de uma associação pública que
regula a sua actividade – Ordem dos Solicitadores. Isto sem prejuízo da possibilidade de
reclamação (e não recurso!) para o juiz dos actos ou omissões por ele praticados (art.
723.º/1/c)). Nos termos do art. 720.º, o agente de execução é designado pelo
exequente de entre os registados em linha oficial (n.º 1); sendo que exequente pode
destituir o agente e substituí-lo por outro, sendo este um poder unilateral potestativo,
bastando indicar uma causa para a destituição, não sujeita a sindicância jurisdicional
(n.º 4). Se o exequente não designar um agente de execução é a própria secretaria da
secção em que o processo executivo deu entrada que o fará.
Sendo o agente de execução designado pelo credor exequente, na maioria das
vezes, há quem defenda que este é um mandatário do credor, praticando actos por
conta e em nome desta parte processual; ou ainda, que actua em nome próprio mas no
interesse do credor. Esta é uma forma totalmente errado de o ver, nunca se podendo
esquecer que desempenhando funções públicas, o agente de execução está sujeito a
deveres de imparcialidade e independência, não estando sujeito a ordens ou instruções
de outrem.
Tal como o huissier francês, o agente de execução é um misto de profissional
liberal e funcionário público, cujo estatuto de auxiliar da justiça implica a detenção de
poderes de autoridade no processo executivo, o que implica uma larga
desjudicialização deste, embora não se lhe retire a natureza jurisdicional.
Porém, a adopção deste modelo não significa a desresponsabilização do Estado
pelos danos causados pelo agente de execução: o Estado responde pelos actos ilícitos
que o agente de execução pratique no exercício da sua função, nos termos gerais da
responsabilidade do Estado pelos actos dos seus funcionários e agente (Lei 67/2007). O
Estado apenas conferiu a particulares poderes para o exercício de funções públicas;
porém, com isto, não deixa de fiscalizar a sua actuação – isto é feito através da
comissão para a eficácia das execuções.

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1.6.1.Critério de repartição de competências.

Mas como é que sabemos, perante um acto concreto, se este deve ser praticado
pelo agente de execução ou pelo juiz? O art. 719.º do CPC, que vem confirmar o
modelo de desjudicialização, diz que cabe ao agente de execução efectuar todas as
diligências no processo executivo que não estejam cometidas ou à secretaria ou ao
juiz. Assim, o critério é o seguinte:

• Se a lei processual atribui expressamente competência à secretaria ou ao juiz, o


agente de execução não terá competência para realizar essas actuações;
• Se a lei expressamente não atribui competência à secretaria ou ao juiz, pode ser
praticado pelo agente de execução – a competência do agente de execução no
processo executivo propriamente dito é residual.

O art. 719.º é meramente exemplificativo, enunciando certos actos que são da


competência do agente de execução (ex: inclui também as diligências destinadas ao acto
de venda).
Já o art. 719.º/3 refere-se aos actos que cabem aos funcionários judiciais da
secretaria, que estão previstos no art. 157.º:
• Autuação (recebe o requerimento executivo);
• Executa as determinações do juiz no processo (n.º 2).
• Não cabe à secretaria fazer a citação, esta é da competência do agente de
execução.

Há casos em que credor pode determinar que os actos sejam praticados por oficiais
de justiça? Sim – em certos casos, existe esta hipótese; mas, mesmo que seja possível,
quando o oficial de justiça pratica estes actos está a assumir o estatuto de agente de
execução, art 722.º. Existem duas hipóteses em que o credor exequente pode impor a
intervenção dos oficiais de justiça:
• Primeira hipótese (al. e) –Requisitos:
 Execuções de valor não superior ao dobro da alçada dos tribunais da 1ª
instância (10.000€).
 O exequente seja uma pessoa singular.
 O objecto da execução seja um crédito que não resulte de uma actividade
comercial ou industrial – logo, que resulte de um fornecimento de bens ou serviços para
uso privado.
 O credor exequente tem de solicitar, no requerimento executivo, a intervenção
destes funcionários.

• Segunda hipótese – créditos laborais, desde que o crédito exequente não seja
superior à alçada da Relação (30.000€), e o credor o solicite.
Nas execuções em que o Estado é exequente e em que o Ministério Público
representa o exequente, o agente de execução é sempre o oficial de justiça – ou os
créditos são créditos do Estado, e o Estado tem os seus funcionários; ou o Estado,
através do Ministério Público, está a cuidar dos interesses dos menores, incapazes ou
incertos.

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O art. 723.º CPC elenca os actos que são da competência do juiz. Quando o
requerimento executivo é enviado para o tribunal, automaticamente é feita a
distribuição (repartição do trabalho

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judicial pelos diversos magistrados judiciais) – se automaticamente se faz esta


distribuição, autuando-se, o processo passa a ter um número e sabe-se quem é o juiz.
Cabe ao juiz:
• Proferir despacho liminar, quando deva ter lugar (al. a)) – ou o agente
de execução tem dúvidas sobre a verificação de todos os pressupostos processuais ou
circunstâncias extintivas/modificativas (se não houver intervenção do juiz aqui e o
executado depois verificar que não estão verificados os pressupostos, intenta uma
acção declarativa de embargo que corre em apenso ao processo executivo); ou,
independente da vontade do agente, há casos em que o requerimento é enviado pela
secretaria ao juiz – o despacho liminar é anterior à citação do executado (iremos ver
em que casos é que isto acontece). Temos duas formas de processo: o processo
executivo ordinário (o juiz tem contacto com o requerimento logo que este entra no
tribunal) e o processo executivo sumário, em que isto não sucede – o art. 723.º
pressupõe estas duas formas.
• Julgar a oposição à execução (al. b)) – julgam os embargos de executado
(estas expressões são equivalentes). A oposição à execução traduz uma acção
declarativa, há factos controvertidos, nomeadamente os factos subjacentes a
excepções dilatórias. Tem de ser o juiz a formar a sua convicção sobre a realidade
destes factos, decidindo a favor ou contra.
• Julgar a oposição à penhora (al. b)) – não poderia ser o agente de
execução, nem um funcionário do tribunal, a decidir se a penhora foi bem feita ou não.
Isto seria uma violação do princípio de separação de poderes, existe aqui um conflito
de interesses entre o agente de execução e o executado. As oposições à penhora não
são contestações (já foi assim, até aos anos 50), é uma tramitação autónoma de
natureza declarativa. Não é propriamente uma acção declarativa, é mais um incidente
de natureza declarativa enxertado no processo de executivo. Havendo outras penhoras
bem feitas, as diligências em relação a essas penhoras continuam – o processo
executivo continua a correr, salvo na parte em que respeita à penhora objecto de
oposição.
• Verificar e graduar os créditos (al. b)) – estes são os créditos que outro
credor, que não o exequente, vieram reclamar ao processo executivo. As acções
executivas permitem a intervenção de terceiros, não necessariamente como co-
exequentes, enquanto titulares de garantias reais sobre os bens executados. Temos
aqui uma acção declarativa, a acção declarativa de verificação de créditos e concurso
de credores, e no final desta acção o juiz emite uma sentença.
• Outras competências menos usuais (al. c) e d)):
 Julgar, sem possibilidade de recurso para a Relação, de actos ou
impugnação de decisões do agente de execução: por ex., o exequente pretende
que o agente penhore a empresa do executado e o agente apenas penhora os
bens móveis dessa empresa e não o estabelecimento. O exequente acha que o
valor dos bens móveis não é suficiente, mas o agente entende que a empresa
deve ser penhorada subsidiariamente na linha do princípio da proporcionalidade.
O exequente pode impugnar a decisão. Decidir penhorar ou não a empresa não
implica a prática de nenhum acto jurisdicional, logo não há aqui nenhuma
violação do princípio da separação de poderes.
 Decidir outras questões suscitadas pelo próprio agente de execução: por
ex., o próprio agente de execução tem dúvidas sobre se deve penhorar os bens

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móveis ou o estabelecimento – assim, coloca esta questão ao juiz. O juiz não


pode recusar apreciar esta questão, paira sempre sobre o processo executivo.

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1.7. Características da acção executiva.

Existem três modelos de estrutura da acção executiva:


• Execução singular: a execução desenrola-se entre o exequente e o executado,
com a mediação do tribunal. Apenas são atingidos os bens do devedor necessários
para a satisfação do interesse do exequente.
• Execução universal: a execução abrange todo o património do devedor e são
chamados ao processo todos os credores. Verifica-se no processo se insolvência.
• Execução concursal mista: podem intervir na acção executiva e ser pagos pelo
produto da venda outras pessoas que não o exequente (credores do mesmo executado,
mas não apenas aqueles cujos créditos obedeçam a certas condições – daí a rejeição
da execução universal. Como nem todos os credores do executado podem vir reclamar
créditos, mas só alguns, é uma estrutura mista.

O nosso processo executivo adopta a estrutura da acção concursal mista:


• É concursal uma vez que existe a possibilidade de intervenção de outros
credores do executado. Trata-se de uma possibilidade de litisconsórcio sucessivo,
podendo esses outros sujeitos torna-se exequentes, alegando o seu crédito e a sua
razão de ser, e pedindo para que o crédito seja admitido e graduado no lugar que lhe
aprouver, nos termos do respeito direito subjectivo.
• Porém, é mista e não universal, porque só alguns credores podem reclamar
os seus créditos. Apenas podem reclamar os credores do mesmo executado que
reúnam dois requisitos (credores qualificados):
 Titulares de um direito real de garantia sobre os bens já
penhorados na execução já iniciada – hipoteca (sobre um bem imóvel ou
móvel sujeito a registo), penhor (sobre um móvel não sujeito a registo ou sobre
um direito, como o penhor de uma conta bancária), direito de retenção (o caso
do contrato promessa de compra a venda de fracção do imóvel), privilégios
creditórios e consignação de rendimentos (judiciais ou legais).
 Titular de um título executivo: há uma lista taxativa de documentos
segundo os quais aquela obrigação existe (à data da constituição) e ainda existe
(à data da acção executiva). Iremos ver mais à frente o que sucede no caso em
que um credor reúne apenas um destes requisitos.

Excurso: Como se articulará um processo executivo e um processo de


insolvência, no caso do primeiro ter sido iniciado previamente ao segundo?
Decretada a insolvência do sujeito, o processo executivo iniciado anteriormente
vai suspender-se, acontecendo o mesmo com as penhoras que eventualmente já
tenham sido feitas. O exequente que iniciou esse processo executivo terá que acudir ao
processo de insolvência e reclamar os seus créditos. Será, porém, tratado como credor
comum, restando-lhe ficar com o que sobrar os bens do insolvente após satisfeitos os
demais credores qualificados.
Entende-se, pois, que as acções executivas não podem prevalecer relativamente a um
processo de insolvência porque, na sua base, não está apenas a apreensão e venda
dos bens para satisfação dos credores, mas ainda, havendo acordo da maioria dos
credores, tentar a recuperação da empresa do insolvente.

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2. Pressupostos Processuais da acção executiva.

REMÉDIO MARQUES diz que os pressupostos processuais são o conjunto de requisitos


prévios sem os quais a realização coactiva da prestação não pode ser alcançada. Se
algum destes pressupostos processuais não estiver verificado, a acção executiva não
pode ser levada a cabo e, no caso de já se ter iniciado a mesma, deve esta ser
imediatamente interrompida, tal é a importância da sua verificação.
Que pressupostos processuais são esses?
1) Pressupostos processuais gerais  Falamos dos pressupostos processuais
gerais do processo civil, como a (1) competência do tribunal, (2) a personalidade
e capacidade judiciária das partes, (3) a sua representação ou assistência
quando incapazes, (4) o patrocínio judiciário quando obrigatório, (5) a
legitimidade das partes, interesse processual e ainda os (6) pressupostos em
caso de pluralidade de sujeitos da acção e de cumulação de pedidos.
2) Pressupostos processuais específicos  Para poder ter lugar a realização
coactiva duma prestação devida (ou do seu equivalente) há que satisfazer dois
tipos de condição, dos quais depende a exequibilidade do direito à prestação:
a. O dever de prestar deve constar dum título executivo. É um pressuposto
de carácter formal, que extrinsecamente condiciona a exequibilidade do
direito, na medida em que lhe confere o grau de certeza que o sistema
reputa suficiente para a admissibilidade da acção executiva.
b. A prestação deve mostrar-se certa, exigível e líquida. São pressupostos
de carácter material que intrinsecamente condicionam a exequibilidade do
direito, na medida em que sem eles não é admissível a satisfação coactiva
da pretensão.

Há quem diga que, quanto à certeza, exigibilidade e liquidez 4 da prestação seria


melhor afirmarmos que se tratam de verdadeiras condições da acção executiva,
enquanto características conformadoras do conteúdo duma relação jurídica de direito
material. Repare-se, porém, que estas só constituem requisitos autónomos da acção
executiva quando não resultem já do título executivo, caso em que a sua verificação é
presumida pelo título. (art. 713º CPC) Nestes casos, podemos afirmar que o título é
pressuposto processual e condição necessária e suficiente da acção executiva.
LEBRE DE FREITAS afirma, porém, que a certeza, exigibilidade e liquidez, desde que
entendidas menos como características de uma relação de natureza material do que
como verificação autónoma dessas características, quando elas não constem do título
executivo, constituem pressupostos processuais.
Assim, sendo, estes dois requisitos (título e certeza, exigibilidade e liquidez da
prestação) são requisitos de admissibilidade da acção executiva, sem os quais não têm
lugar as providências executivas que o tribunal deverá realizar com vista à satisfação
da pretensão do exequente.

4
Desde a reforma, modicou-se o estatuto da liquidez relativa à sentença judicial condenatória.
Esta só constitui título executivo após a liquidação da obrigação pecuniária que não dependa de
mero cálculo aritmético, a qual tem lugar no próprio processo declarativo (art. 704º/6 CPC).
Neste caso, a liquidez integra o próprio título, em vez de complementar um título já constituído.
O mesmo acontece quando estamos ante um título de crédito (art. 703º/1/c CPC).

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2.1. Certeza, Exigibilidade e Liquidez da obrigação

A existência da obrigação exequenda não é pressuposto da execução: presumida


pelo título executivo, dela não há necessidade de fazer prova. Vimos já, que a acção
executiva pressupõe o incumprimento da obrigação. Ora o incumprimento não resulta
do próprio titula quando a prestação é, perante este, incerta, exigível e ilíquida. Há
então que tornar certa, exigível e liquida, sob pena de a execução não poder proceder.
(art. 713º CPC)

 Certeza: É certa a obrigação que se encontra qualitativamente determinada, ainda


que por liquidar ou individualizar. Não é certa aquela em que determinação da
prestação está por fazer. (art. 400º CC) Isso acontece com:
 A obrigação alternativa: o devedor está obrigado a efectuar
uma de duas ou mais prestações, segundo escolha a efectuar
(543º CC)
 A obrigação genérica de espécie indeterminada: devedor
está obrigado a prestar determinada quantidade de um género
que contém duas ou mais espécies diferentes (art. 539º CC).

 Exigibilidade: A obrigação é exigível quando se encontra vencida ou o seu


vencimento depende, de acordo com estipulação expressa ou com a regra supletiva
do art. 777.º/1 CPC, de simples interpelação do devedor e esta já foi feita
(obrigações puras). Não é exigível quando, não tendo ocorrido o vencimento, este
não esteja dependente de mera interpelação. São exemplos de obrigações incertas:
 Obrigações de prazo certo, quando este ainda não correu (art.
779.º CC);
 Obrigações de prazo incerto, a fixar pelo tribunal (art. 777.º/2 CC);
 Obrigações sujeitas a condição suspensiva, quando esta ainda
não se verificou (art. 270.º e 715.º/1 CC);
 Obrigações dependentes de uma prestação do credor
(sinalagma, art. 428.º CC).
A exigibilidade não se pode confundir com o vencimento, nem com a mora do
devedor. (ver art. 777º/1 e 813º CC)

 Liquidez: é obrigação ilíquida aquela que tem por objecto uma prestação cujo
quantitativo não esteja ainda apurado. Esta distingue-se da obrigação genérica,
que é aquela cujo objecto é referido a um género que o contém, podendo ter
objecto qualitativamente indeterminado ou determinado, sendo que neste último
caso, a concretização do objecto depende dum mero acto de individualização de
unidades que serão prestadas (Processo para entrega de coisa certa – 861º/2 CPC).
Normalmente, a obrigação genérica é líquida, excepto quando o objecto se
apresenta quantitativamente indeterminado.
O Código faz coincidir pedido genérico e pedido ilíquido. O conceito de pedido
genérico retira- se do art. 556º e 557º/1, sendo admitida a condenação em quantias
ilíquidas, p.e. em casos de acidentes de viação ou seguros, quando não se sabe a
extensão dos danos. Face a isto:

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 A subsequente concretização do pedido genérico em prestação


determinada pode fazer-se mediante o incidente de liquidação
do art. 358º a 360º CPC,

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sempre que ele se refira a uma universalidade ou às consequências


de um facto ilícito.
 Quando o pedido não é subsequentemente liquidado na acção
declarativa, bem como quando o pedido se ache determinado, mas
os factos constitutivos da liquidação não foram provados, o tribunal
condena no que vier a ser liquidado, sem prejuízo de condenação
imediata na parte que já seja líquida (609º/2 CPC). A liquidação da
obrigação tem, desde a reforma, sempre lugar na acção
declarativa que decorra nos tribunais judiciais (art. 704º/6 CPC),
renovando-se, para o efeito, a instância quando o pedido de
liquidação tenha lugar depois do trânsito em julgado da sentença
(art. 358º/2 CPC). Exceptuam-se os casos em que a liquidação
dependa do simples cálculo aritmético.
 O art. 716º CPC trata da liquidação da obrigação na acção
executiva, aplicando-se a todos os casos em que a obrigação
exequenda (constante de titulo extrajudicial ou de sentença que
condene no cumprimento de obrigação cuja liquidação baste o
calculo aritmético) se apresente ilíquida em face do titulo executivo.
O nº1 refere-se *a obrigação pecuniária ilíquida e o nº7 à entrega de
uma universalidade, Neste último caso, bem como quando a
liquidação da obrigação não dependa de simples cálculo aritmético,
pode ter lugar um incidente de liquidação na acção executiva.

2.2. Regime: Certeza e exigibilidade.


2.2.1. Obrigações alternativas.

A escolha ou determinação da prestação a efectuar pode caber ao credor, ao


devedor ou a terceiro. (543º/2 e 549º CPC)
Se a escolha pertence ao credor e este não a tiver ainda feito, fá-la-á no
requerimento inicial da execução (art. 724º/1/h). Assim, no primeiro acto do processo
executivo, a obrigação já será certa.
Se a escolha pertence ao devedor, é este notificado para, no prazo da
oposição à execução, se outro não tiver sido fixado pelas partes, declarar por qual das
prestações opta (art. 714º/1 CPC); na falta de escolha pelo devedor, escolher o credor
(art. 714º/3 CPC).
Assim:
1) Se o prazo de escolha estiver fixado no título executivo, e sem prejuízo de o credor
poder preferir a notificação judicial avulsa do devedor (art. 256º CPC), basta que
este seja convidado, no acto da citação, a escolher a prestação.
2) Se o prazo não estiver fixado, o devedor tem o ónus de escolher no prazo de 20 dias
do art. 728º/1 CPC.
3) Se o executado não escolher, é notificado o exequente para o fazer. O mesmo
acontece quando são vários os devedores e não é possível formar maioria quanto à
escolha.
Escolhida a prestação, seguem-se os termos da execução que lhe corresponda.
LEBRE DE FREITAS defende ainda que, se o prazo, previamente fixado, já tiver sido
excedido, o direito de escolha ter-se-á automaticamente devolvido ao exequente. Se,

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não tendo sido fixado previamente prazo, a obrigação for a prazo e este já tiver
decorrido, dependerá da interpretação do contrato

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saber se o prazo da escolha coincide com o previsto para o cumprimento ou se, uma
vez este decorrido, deve ter lugar a notificação do devedor para que escolha (caso em
que só depois poderá ocorrer o vencimento da obrigação.
Se a escolha pertence a um terceiro e este não a tiver efectuado, há lugar,
na fase liminar do processo executivo, à sua notificação para o efeito (714º/2 CPC); se
este não escolher, passa o exequente a fazê-lo. (714º/3 CPC). A remissão do art. 714º/1
CPC, implica que, não estando o prazo da escolha determinado, o terceiro a deva fazer
até ao termo do prazo para a oposição do executado. Defende-se, pois, uma
interpretação restritiva da remissão legal, porquanto o art. 713º CPC impõe que a
determinação seja feita na fase liminar da execução, anterior à oposição do executado.
Se a escolha tiver sido feita antes do processo de execução, seja pelo
devedor, por terceiro, ou pelo tribunal, cabe ao exequente propor a acção executiva e
fazer nela prova de que foi efectuada, por aplicação analógica do art. 715º/1 a 4 CPC.

2.2.2. Obrigações genéricas.

Serão incertas quando no género em que se recorta o seu objecto, há uma


pluralidade de espécies, podendo a quantidade que o devedor está obrigado a prestar
ser de uma ou outra dessas espécies. Aplicamos o regime descrito para as obrigações
alternativas.

2.2.3. Obrigações a prazo.

Se a obrigação tiver prazo certo, só decorrido este a execução é possível,


pois até ao dia do vencimento a prestação é inexigível. Fica então o devedor
imediatamente constituído em mora (art. 805º/2/a CC), a menos que o credor não
tenha realizado os actos de cobrança da prestação que lhe incumbissem. Esta situação
de mora de credor não impede a propositura da acção executiva, como resulta do art.
610º/2/b CPC, conjugado com o art. 551º/1, bem como com o direito substantivo.
O art. 610º/2/b só é aplicável directamente aos casos de obrigação pura em que
não tenha sido feita interpelação ou esta tenha tido lugar fora do local do
cumprimento. Mas é aplicável, por analogia, ao caso de obrigação a prazo em que o
credor deva proceder à cobrança no domicílio do devedor, com a única diferença de
que no termo do prazo ocorrer o vencimento, mas não a mora do devedor. Assim, a
dívida está vencida no momento da propositura da acção, mas a mora do devedor só
tem lugar a partir da citação. A responsabilidade pelas custas incumbe ao autor (art.
535º/2/b, excepto 715º/1 a 4 CPC).
No caso de obrigação com vencimento dependente de prazo a fixar pelo
tribunal, tem o credor, na fase liminar da acção executiva, de promover a fixação
judicial do prazo, nos termos aplicáveis aos arts. 1026º e 1027º CPC.
Controvertida é a questão da licitude dos pactos de que, embora ocorra o
vencimento de uma obrigação, esta não está sujeita a execução durante determinado
prazo. A sua admissibilidade depende apenas de uma interpretação da vontade das
partes: só será lícita quando a sua estipulação represente a previsão de um novo prazo
de cumprimento da obrigação. Quando o pacto é válido, a obrigação fica, após a sua
celebração, sujeita ao regime das obrigações a prazo.

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2.2.4. Obrigações puras.

O vencimento depende do acto de interpelação, intimação dirigida pelo credor ao


devedor para que lhe pague. Tornando-se as prestações exigíveis a todo o tempo, a
citação equivale a interpelação, se esta não tiver tido lugar anteriormente. (Art.
610º/2/b e 551º/1 CPC)
Quer a interpelação não tenha sido feita, quer tenha sido feita mas não
acompanhada dos actos que ao credor incumbe realizar, a acção executiva pode ter
lugar, embora com a consequência do autor pagar as custas. Se a interpelação tiver
sido devidamente realizada, ao credor exequente competirá prová-lo nos termos do art.
715º CPC, para impedir a sua condenação em custas.

2.2.5. Obrigações sob condição suspensiva.

A prestação da obrigação sob condição suspensiva só é exigível depois de a


condição se verificar pois até lá todos os efeitos do respectivo negócio constitutivo
ficam suspensos. (Art. 270º CC) O art. 715º/1 a 4 exige, pois, a prova da verificação da
condição. No caso de condição resolutiva, a obrigação produz todos os seus efeitos face
do título executivo e ao executado caberá, em oposição à execução, provar que a
condição ulteriormente se verificou, extinguindo ex tunc a obrigação (art. 729º/1/g
CPC)

2.2.6.Obrigações sinalagmáticas.

Estando o credor obrigado para com o devedor a uma contraprestação a efectuar


simultaneamente, para o que basta não terem sido estipulados diferentes prazos de
cumprimento (art. 426º CC), incumbe-lhe, independentemente da invocação, pelo
devedor, da excepção de não cumprimento, provar que a efectuou ou ofereceu (art.
715º/1 a 4 CPC), sob pena de não poder promover a execução.
Como também o exequente podia invocar a seu favor a excepção de não
cumprimento do contrato, basta-lhe provar que ofereceu a sua prestação contra a
exigência da que lhe é devida.

2.2.7.Prova complementar do título.

Sabendo que a certeza e a exigibilidade têm que se verificar antes de serem


ordenadas as providências executivas, se estas não resultarem do título ou de
diligências anteriores à propositura da acção executiva, abre-se uma fase
liminar do processo executivo que visa tornar certa e exigível a obrigação, sem prejuízo
de ter lugar no próprio requerimento da execução a actuação.
Mas, quando a certeza e exigibilidade, não resultando do título, tiver
decorrido de diligências anteriores à proposição da acção executiva, há que
provar que tal aconteceu por via de uma actividade (também liminar – um verdadeiro
incidente de natureza declarativa) chamada prova complementar do título - art.
714º/1 a 4 CPC. Estes preceitos têm um alcance geral, pelo que se aplicam, além dos
casos previstos (obrigação dependente de condição suspensiva ou de uma prestação
por parte do credor ou terceiro), a todos aqueles em que a certeza e exigibilidade não

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resultam do título executivo, mas já se verificavam antes da propositura da acção


executiva

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(também nos casos em que o credor queira provar o vencimento para evitar custas).
Quem aprecia esta prova?
 Sendo necessária a produção de prova documental para verificação da
certeza e exigibilidade da obrigação, caberá a sua apreciação ao agente
de execução. Há quem questione se não há aqui violação do princípio da
separação dos poderes.
 Sendo necessária a produção de prova extradocumental para
verificação da certeza e exigibilidade da obrigação, o exequente oferece-a
no requerimento executivo (art. 724º/1/h CPC), seguindo-se sempre
despacho liminar (art. 715º/3 CPC) Não ocorrendo causa de indeferimento
ou aperfeiçoamento (art. 726º/2/b e nº4), o juiz designa dia para a
produção de prova, a qual é sumariamente feita, em termos semelhantes
aos estatuídos pelo art. 345º CPC; se o juiz entender provada a certeza e a
exigibilidade, o processo prossegue. Isto a menos que entenda necessária
a audição do executado que tem carácter de excepção, tal como a própria
lei demonstra. (ver art. 715º/3/4 CPC)

Assim, regra geral, nas execuções com processo ordinário, em que há despacho
liminar (art. 726º/1 CPC) cabe ao juiz verificar se a obrigação exequenda é certa e
exigível, em face do título executivo e da prova documental complementar.
Nas execuções com processo sumário, em que não há lugar a despacho liminar,
a certeza e exigibilidade da obrigação exequenda são verificadas pelo agente de
execução em face de título executivo ou perante documento, sem intervenção do juiz -
art. 855º/2 CPC, excepto o caso da alínea b).

2.2.8.Consequências da falta de certeza ou exigibilidade.

Proposta execução baseada em título de que resulte a incerteza da obrigação ou a


inexigibilidade da prestação, não sendo imediatamente oferecida e efectuada prova
complementar do título nem requeridas as diligências destinadas a tornar a obrigação
certa ou a prestação exigida, o juiz profere um despacho de aperfeiçoamento (art.
726.º/4 CPC). Se o requerente não aperfeiçoar a petição, há lugar ao indeferimento do
requerimento executivo (art. 726.º/5 CPC).
A apreciação judicial tem lugar no despacho liminar, sem prejuízo de, não tendo,
poder ainda vir a ser feita até à primeira transmissão de bens penhorados (art. 734º/1
CPC)
O executado tem sempre a possibilidade de se opor à execução, caso a falta do
pressuposto não seja sanada (art. 729.º/e)).

2.3. Regime: A Liquidez.

A liquidação tem lugar na fase liminar do processo executivo, quando não deva
fazer-se no processo declarativo.

2.3.1.Liquidação por mero cálculo aritmético.

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Quando a liquidação dependa de simples calcula aritmético, o exequente deve fixar


o seu quantitativo no requerimento inicial da execução, mediante especificação e
cálculo dos respectivos

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valores (art. 716º/1 CPC) É exemplo a liquidação de uma obrigação de pagamento de


juros. Neste caso, deve ser deduzido um pedido ilíquido quando os juros continuem a
vencer-se na pendência do processo executivo, sendo liquidados no requerimento
inicial os já vencidos e liquidados a final, pelo agente de execução, os vincendos (art.
716º/2 CPC).
A liquidação por agente de execução tem também lugar no caso de sanção
pecuniária compulsória: executando-se obrigação pecuniária, aplicamos o art. 716º/3;
executando-se obrigação de prestação de facto infungível (art. 868º/1, 874º/1 e
876º/1/c CPC). Note-se que não se segue qualquer procedimento especial.

2.3.2.Liquidação não dependente de simples cálculo aritmético.

Não dependendo a liquidação de simples cálculo aritmético, o exequente, no próprio


requerimento inicial da execução, especificará os valores que considera compreendidos
na prestação devida, e concluirá por um pedido líquido. (art. 716º/1 CPC). Desde 2003,
procede-se logo à citação do executado, que é feita com advertência de que, na falta
de contestação, a obrigação se considera fixada nos termos do requerimento executivo.
A impugnação da liquidação só pode ter lugar em oposição à execução (art. 716º/4
CPC*).
Apresentada a contestação, seguem-se por apenso (art. 732º/1 CPC), os termos
subsequentes do processo comum de declaração (art. 330º/3, por remissão do art.
716º/4 e 732º/2 CPC). Mas quando o executado não conteste, nem se oponha e a
revelia seja inoperante, já os termos do processo sumário têm lugar nos autos do
processo executivo, como incidente deste. Não se verificando nenhum dos casos do art.
568º CPC, a obrigação considera-se liquidada nos termos constantes do requerimento
inicial, o que caracteriza um efeito cominatório pleno. Ver ainda 360º/4 e 566º/3 CPC.

*Excurso:
O artigo refere-se a “quando a execução se funde em título extrajudicial". Mas e
quando se funde em titulo judicial ilíquido? Imagine-se o caso de um acidente de
trabalho, no qual é preciso ao sujeito instaurar uma acção declarativa condenatória
contra a seguradora para pagar a quantia devida. O prazo de prescrição previsto no
nosso CC, nos casos de responsabilidade civil extracontratual, é de 3 anos, podendo
acontecer que dentro desse prazo, o sujeito não tenha possibilidade de determinar a
quantia total de gastos que teve, consequência do acidente. Assim, fará o pedido e
relativamente aos montantes já gastos, formulará pedido líquido; quanto aos
montantes que ainda irá gastar, formulará pedido ilíquido. Tal é permitido pelo art
556º/1/b CPC. Ora, o juiz, no decurso do processo, decretará sentença ilíquida.
Se, depois disto, o trabalhador não conseguir chegar a acordo com a seguradora
e for preciso levar a cabo a liquidação, não se aplicará o art. 716º/4 CPC. Quando o
título executivo for sentença condenatória e esta seja ilíquida, devemos fazer o
seguinte: não se propõe acção executiva e se liquidam estes danos dentro dessa via,
mas sim reabre-se o processo declarativo e instaura-se incidente de liquidação antes
da acção executiva estar instaurada (art. 359º e 360º CPC). Se depois disso, a
seguradora não quiser pagar, instaura-se processo executivo porque aí a sentença já
será líquida.

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2.3.3.Liquidação por árbitros.

As partes, ou uma lei especial, podem determinar que a liquidação seja feita por
árbitros (peritos), caso em que esta tem lugar extrajudicialmente (art. 716º/6 CPC).
Note-se que a liquidação por árbitros não é possível quando se trate de liquidar
obrigação constante de sentença judicial (aplicando-se o art. 361º CPC), ou ainda
obrigação decorrente de título de crédito (neste caso, a liquidez só pode depender de
cálculo aritmético).
Naturalmente, constituindo a arbitragem o exercício da função jurisdicional, impõe-
se o respeito pelo princípio do contraditório. A liquidação considera-se feita nos termos
do art. 361º/3/4 CPC.

2.3.4.Pedido de entrega de universalidade.

Quando o exequente pede, de acordo com o título executivo, que lhe seja entregue
uma universalidade, o pedido ilíquido é admitido, procedendo-se à liquidação em
incidente imediatamente posterior à apreensão dos bens e anterior à sua entrega ao
exequente (art. 716º/7 CPC). Acontecerá quando a universalidade se achar na posse do
executado e o exequente não tenha meios para a ela aceder para realização do
requerimento inicial.

2.3.5.Formação do caso julgado.

A decisão de mérito favorável proferida no incidente de liquidação tem como efeito


quantificar ou especificar o objecto da obrigação, complementando o título mediante o
acertamento de um aspecto do seu objecto que está por acertar e ao qual se
circunscreve o juízo declarativo – não se trata de delimitar o objecto da obrigação
exequenda, mas sim o de determinado título executivo.
Assim sendo, a sentença de liquidação da obrigação exequenda constitui caso
julgado que obsta a que, em nova execução fundada no mesmo título, se volte a
discutir a liquidação da mesma obrigação; mas não poderá impedir que tenha lugar um
novo incidente de liquidação da mesma obrigação em execução fundada noutro título;
nem é invocável como caso julgado numa acção declarativa autónoma.
Quando o título executivo seja uma sentença, a sentença de liquidação que a
complementa fica a integrar o âmbito objectivo do caso julgado por ela formado.

2.3.6.Consequência da iliquidez da obrigação.

Se não for requerida a liquidação de obrigação ilíquida, deve o juiz proferir despacho
de aperfeiçoamento. No caso de a petição não ser aperfeiçoada, o juiz indefere a
petição, podendo haver, se não o fizer, oposição à execução (art. 729.º/e)).

2.4. O Título Executivo


2.4.1.Noção.

O título executivo constitui a base da execução (veja-se o art. 703º CPC, que contém
o princípio “nulla executio sine titulo”, sendo que toda a execução sem título é

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execução ilegal (podendo conduzir à restituição dos bens de acordo com as regras do
enriquecimento sem causa).

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Segundo LEBRE DE FREITAS, o título executivo determina o fim e os limites da acção


executiva (art. 10º/5 CPC), isto é, o tipo de acção e o seu objecto, assim como a
legitimidade, activa e passiva, para ela (art. 53º/1 CPC) e, sem prejuízo de poder ter
que ser complementado (art. 714º e 716º), em face dele se verificando se a obrigação
é certa, líquida e exigível (art. 713º CPC). O título oferece a segurança mínima reputada
suficiente quanto à existência do direito de crédito que se pretende executar.
Por outras palavras, um título executivo é um documento (note-se que a noção de
documento em processo civil é muito ampla, não podendo aqui ser usada nesse
sentido, mas sim no sentido de que se trate de um documento onde conste a
identificação de credores e obrigados. Alerte-se hoje para questão dos documentos
electrónicos que utilizam assinaturas digitais certificadas por meios electrónicos
avançados e que caem nomeadamente no art. 703º/1/b CPC) que serve de base à
execução na medida em que, com grande probabilidade, certificam ou constatam que
uma obrigação exequenda foi constituída e ainda existe e é eficaz. Temos aqui uma
espécie de presunção judicial – presume-se, à luz das regras da experiência da vida,
que se o documento existe é provável que o sujeito ainda não tenha cumprido a
obrigação que nele consta. Assim, um documento, para ser título executivo, não pode
ser um qualquer documento, tem de ser um documento revestido de alguma “força
probatória” (em sentido figurativo), que na perspectiva do legislador demonstre que a
obrigação foi constituída e ainda existe e não foi cumprida. Nas palavras de REMÉDIO
MARQUES, trata-se de um documento a que, com base na aparência ou na probabilidade
do direito nele documentado, o ordenamento assinala um suficiente grau de certeza e
de idoneidade para constituir uma condição de exequibilidade extrínseca da pretensão.
Porém, esta função probatória do documento é autónoma relativamente à actual
existência da obrigação: só prova que foram emitidas uma ou duas declarações de
vontade ou uma ordem jurisdicional constitutivas ou recognitivas de uma obrigação.
Não prova que essa obrigação existe à data da execução, ou se está ou não afectada
por uma circunstância impeditiva, modificativa ou extintiva.
REMÉDIO MARQUES alerta ainda para o facto de que não é o título executivo a
causa petendi da acção executiva. Na realidade, a causa de pedir será a obrigação
exequenda, ou seja, o “corpo” que o título executivo envolve.

O art. 703º/1 CPC enumera quatro espécies de título executivo: sentença


condenatória; documento exarado ou autenticado pelo notário ou outra entidade ou
profissional com competência para tal; título de crédito; título executivo por força de
disposição especial.
Não há títulos executivos para além dos enunciados no art. 703.º, i.e., a lista de
títulos executivos obedece a um princípio da tipicidade taxativa: não podem as partes
criar títulos executivos por negócio jurídico ad hoc, a não ser que esses documentos
obedeçam aos requisitos dos documentos do art. 703.º.
Como é que se justifica este princípio? O título executivo permite agredir um direito
fundamental de natureza análoga, o direito da propriedade privada (ainda que não se
materialize num bem móvel ou imóvel, pode ser a um direito de crédito), estando o
legislador vinculado ao princípio da proporcionalidade. Está em causa a violação da
propriedade privada, por isso é preciso ter cuidado. Porém, a al. d) permite a criação de
outros títulos executivos pelo legislador (títulos especiais), logo esta tipicidade é uma
tipicidade aberta.

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2.4.2.Espécies de títulos executivos.

Podemos falar de três tipos de títulos executivos:


 Títulos Judiciais.
 Títulos Extrajudiciais.
 Títulos Parajudiciais. (categoria criada por ANSELMO DE CASTRO)

2.4.2.1. A Sentença Condenatória.

Ao utilizar a expressão sentença condenatória, quis o legislador demarcar o conceito


de sentença de condenação, considerada susceptível de ser tomada como equivalente
a sentença proferida em acção declarativa de condenação.
É que, em qualquer tipo de acção (de condenação, mera apreciação, constitutiva,
de execução) tem, em princípio, lugar a condenação em custas e a decisão que a
profere constitui título executivo para o efeito da sua cobrança coerciva. O mesmo se
diga quanto à condenação da parte em multa, em indemnizações como litigante de
má-fé ou em sanção pecuniária compulsória.
Discute-se se a sentença de mérito favorável proferida em acção declarativa
constitutiva é, enquanto tal, susceptível de ser executada. Ora, o efeito constitutivo da
sentença produz-se automaticamente, nada restando dele para executar. O que pode
ser objecto de execução é uma decisão condenatória, expressa ou implícita, que com
ele se pode cumular. Vejam-se exemplos em que é claro que uma sentença constitutiva
permite recorrer à acção executiva:
• Acção de execução específica: na sentença proferida na sequência da acção de
execução específica de um contrato-promessa de compra-e-venda de uma coisa está
implícita a condenação do réu a entregar essa coisa. Esta pode, por isso, ser um título
executivo.
• Acção de preferência: se a acção é julgada procedente, a propriedade do prédio é
atribuída ao beneficiário da preferência, e se este não lhe for devolvido
voluntariamente o beneficiário pode intentar uma acção executiva, não precisando de
intentar uma acção declarativa de reivindicação – esta seria uma dupla acção
declarativa necessária, uma vez que a acção de preferência já declara o beneficiário o
dono.

Quanto às sentenças de mérito proferidas em acções de simples apreciação, é


pacífico que não se pode falar de título executivo. Pode ainda acontecer que a
condenação seja proferida em processo de natureza não civil, por exemplo de caracter
penal ou administrativo. Também aqui temos uma sentença condenatória.
Das sentenças judiciais, só a de condenação constitui título executivo. O termo
sentença abrange os acórdãos. O art. 705º CPC inclui aqui ainda os despachos judiciais
e decisões arbitrais: são equiparados às sentenças os despachos e outras decisões ou
actos de autoridade judicial que cominem no cumprimento de uma obrigação, bem
como as decisões dos tribunais arbitrais (art. 705.º CPC).

2.4.2.1.1. Sentença proferida por tribunal estrangeiro.

A sentença proferida por tribunal estrangeiro também é exequível por força do art.
703º/1/a CPC. Mas só o é depois de revisão e confirmação pelo competente tribunal da

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relação nos termos do art. 706º e 979º CPC. A confirmação é assim necessária, não
apenas para efeitos de execução, mas

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também para qualquer outro efeito de direito, com a única ressalva da sua
invocabilidade em tribunal como meio de prova, a apreciar livremente pelo julgador.
(art. 978º/2 CPC) A confirmação tem lugar sempre que verificados os requisitos do art.
980º CPC.
Hoje aplicam-se ainda nesta matéria o Regulamento 1215/2012 e a Convenção do
Lugano que estabelecem o reconhecimento automático de sentenças proferidas noutro
estado da EU (p.e. a Dinamarca não está vinculada), ou noutro Estado Contratante da
Convenção (Suíça, Liechenstein, Noruega e Islândia) , sem necessidade de recurso a
qualquer processo. Ora:
 No âmbito da Convenção de Lugano, a execução de uma sentença
proferida por tribunal de outro Estado contratante, que seja aí seja título
executivo, deve ser precedida de declaração de executoriedade no tribunal
de 1ª instância do lugar da execução. (arts. 31.º e 32.º da Convenção). O
contraditório só surgirá depois dessa declaração.
 Já o Regulamento 1215/2012, aplicável a partir de 2015, veio abolir a
necessidade desta declaração, prevista no Regulamento de Bruxelas I. Assim,
as decisões provenientes de tribunais ou órgãos jurisdicionais de Estados-
membros podem ser executadas, bastando apenas a junção de uma certidão
aos autos (art. 42.º).
Incluem-se aqui, para além de sentenças proferidas por tribunais de outros países,
sentenças emanadas por órgãos jurisdicionais de DIPúblico. (EFTA, TEDH, TJUE, TGUE)
Se as decisões arbitrais foram proferidas no estrangeiro, será necessário revisão nos
termos da convenção de Nova Iorque sobre reconhecimento e execução de sentenças
arbitrais estrangeiras.

2.4.2.1.2. Trânsito em julgado e liquidez.

Para que uma sentença seja exequível, é necessário que tenha transitado em
julgado, isto é, que seja insusceptível de recurso ordinário ou de reclamação (art. 628º
CPC), salvo se contra ela tiver sido interposto recurso com efeito meramente
devolutivo. (art. 704º/1 CPC)
Se tiver efeito suspensivo (art. 647.º/2), isto pode significar duas coisas: pode ser
um efeito intra- processual (a decisão suspende qualquer tramitação que essa acção
possa ter) ou extra-processual, interessando-nos este último – o recurso paralisa a
eficácia da sentença fora do processo, nomeadamente a execução da sentença (outros
efeitos extra-processuais são a prescrição e o registo). Quando o recurso tenha efeito
suspensivo, só é possível intentar a acção de execução depois do trânsito em julgado. É
o caso de uma decisão que condene em multa ou outra sanção processual derivadas da
prática de actos processuais censuráveis, cujo recurso tem efeitos suspensivos. (art.
647º/3/e CPC)
A atribuição de efeito meramente devolutivo significa que é possível executar a
decisão recorrida na pendência do recurso, porque devolve a reapreciação do caso para
a 2ª instância, criando uma nova relação jurídica processual, logo os efeitos jurídicos da
sentença de 1ª instância podem produzir-se. Constitui hoje a regra no recurso de
apelação (art. 647º CPC); tem sempre lugar no recurso de revista (art. 676º CPC –
excepto nas acções sobre estados de pessoas). Naturalmente, se tiver sido instaurada
execução na pendência de recurso com efeito meramente devolutivo – porque

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provisória – sofrerá as consequências da decisão que a causa venha a ter nas


instâncias superiores.
Assim, quando a causa vier a ser definitivamente julgada, a decisão proferida terá o
efeito:
1) De extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão exequenda,
absolvendo o executado.

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2) De a modificar, se apenas em parte revogar a decisão exequenda, mantendo


uma condenação parcial do reu (art. 704º/2/1ª parte CPC).

Se pelo tribunal de recurso vier a ser proferida decisão que, por sua vez, seja
objecto de recurso para um tribunal superior, a execução:
1) Suspender-se-á ou modificar-se-á, consoante a decisão da 2ª instância for total
ou parcialmente revogatória da anterior, se ao novo recurso também for
atribuído efeito meramente devolutivo.
2) Prosseguirá tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada com a
decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito suspensivo, o
qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia proferida. (art.
704º/2/2ª parte CPC)

A acção executiva proposta na pendência do recurso pode também ser suspensa a


pedido do executado que preste caução, destinada a garantir o dano que, no caso de
confirmação a decisão recorrida, o exequente sofre em consequência da demora da
execução. É o que dispõe o art. 704º/5 CPC. Não havendo lugar a esta suspensão e
prosseguida a execução, não é admitido pagamento, enquanto a sentença estiver
pendente de recurso, sem prévia prestação, pelo credor de caução. (art. 704º/3 CPC).
Qualquer destas cauções é prestada nos termos gerais do art. 623º CC e dos arts. 906º
e ss. CC. Ver ainda o 704º/4 CPC quando o bem penhorado seja a casa de morada da
família.
Proferida condenação judicial genérica (art. 609º/2 CPC) e não dependendo a
liquidação da obrigação pecuniária de simples cálculo aritmético, esta tem lugar em
incidente do próprio processo declarativo, renovando-se para tanto a instância se esta
já estiver extinta. (art. 704º/6 e 358º/2 CPC) a sentença de condenação só se torna
exequível com a sentença de liquidação, que a complementa, completando a formação
do título executivo. Tal não prejudica, evidentemente, a imediata exequibilidade da
parte da sentença de condenação que seja já líquida. (art. 609º/2 CPC). Isto também
acontece nos casos de obrigação e entrega de uma universalidade, nos casos do art.
716º/7 CPC.

2.4.2.2. Sentenças Homologatórias.

Estamos a referir-nos, por exemplo, às sentenças homologatórias de transacção ou


confissão do pedido (art. 290º/3 CPC); da decisão homologatória de partilha (art. 66º
Lei 23/2013 CPC); sentenças homologatórias de acordos dos pais quanto ao exercício
do poder paternal, quando se fixem obrigações de alimentos, etc...
As sentenças homologatórias caracterizam-se por o juiz se limitar a sancionar a
composição dos interesses em litígio pelas próprias partes, limitando-se a verificar a
sua validade enquanto negócio jurídico. São, pois, qualificadas como título executivos
parajudiciais, em oposição às sentenças propriamente ditas.
Títulos parajudiciais são, pois, aqueles que, formando-se num processo (carácter
formalmente judicial), não procedem, todavia, em oposição judicial, mas de um acto de
confissão expressa ou tácita das partes (carácter substancialmente extrajudicial). Da
sua qualificação como título parajudicial, decorrem duas consequências:
 A oposição à execução da sentença homologatória é possível com maior
amplitude nos termos do art. 729º/i CPC.

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 A sentença homologatória proveniente de tribunal estrangeiro não teria de


ser objecto de revisão e confirmação por um tribunal português, devendo ser
equiparada aos títulos estrangeiros extrajudiciais, que delas não carecem.
Embora REMÉDIO MARQUES considere que aqui não há verdadeira actividade
jurisdicional, limitando-se o juiz a controlar o poder de autodeterminação das partes,
esta posição não é única. Para LEBRE DE FREITAS, as sentenças homologatórias
constituem sentenças condenatórias como as restantes, sem prejuízo de os actos
dispositivos das partes estarem, como negócios jurídicos de direito civil, sujeitos a um
regime de impugnação que não se confunde com o da sentença homologatória, da qual
resulta o efeito da exequibilidade.

2.4.2.3. O documento exarado ou autenticado por notário.


2.4.2.3.1. Conceito.

Os documentos exarados ou autenticados por notário, ou outra entidade a que a lei


atribui competência, que determinem a constituição de uma obrigação ou reconheçam
uma obrigação de prestar ou não prestar facto, entregar uma coisa ou pagar uma
quantia são títulos extrajudiciais (art. 703º/1/b CPC), visto não se produzirem em juízo;
ou negociais porque emergente de um negócio jurídico celebrado extrajudicialmente.
 São exarados por notário os documentos autênticos elaborados em cartório
notarial, como o testamento público e a escritura pública.
 São documentos autenticados os documentos particulares, não redigidos pelo
notário, que lhe são posteriormente levados para que, na presença das
partes, ateste a conformidade da sua vontade com o respectivo conteúdo.
Inclui-se aqui o testamento cerrado (art. 2206.º/4 CC).
A atribuição e força executória aos documentos exarados ou autenticados por
serviço de competência para tal tem em conta a atribuição aos conservadores e
entidades equiparadas do poder de exarar e autenticar documentos dentro da esfera
da sua competência.
Note-se apenas a necessidade de relacionar este art. 703º/1/b CPC, com o disposto
no art. 6º do DL que aprovou o CPC. O Ac. TC 408/2015 afirmou que «o Tribunal
Constitucional declara, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade da norma
que aplica o artigo 703.º do Código de Processo Civil, aprovado em anexo à Lei n.º
41/2013, de 26 de Junho, a documentos particulares emitidos em data anterior à sua
entrada em vigor, então exequíveis por força do artigo 46.º, n.º 1, alínea c), do Código
de Processo Civil de 1961, constante dos artigos 703.º do Código de Processo Civil, e
6.º, n.º 3, da Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho, por violação do princípio da protecção da
confiança (artigo 2.º da Constituição)». Assim sendo, esses documentos que eram
títulos executivos com anterioridade à entrada em vigor do novo CPC continuam a ser
títulos executivos.

2.4.2.3.2. Documento recognitivo.

Um documento autêntico ou autenticado é um título executivo, não só quando


formalizem o acto de constituição de uma obrigação, mas também quando deles
conste o reconhecimento de uma obrigação pré-existente (documento recognitivo). Isto
decorre expressamente do art. 703.º/1/b), e assim são títulos executivos os
documentos que importem:

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• Constituição de uma obrigação;

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• Reconhecimento de uma obrigação: confissão do acto (ou mero facto) que a


constituiu (arts. 352.º, 358.º/2 e 364.º CC), reconhecimento de dívida (art. 458.º CC).
Note-se que a prova de obrigação tanto pode ser feita através do documento
original como através de uma sua certidão ou fotocópia autêntica (arts. 383.º a 387.º
CC).

2.4.2.3.3. A promessa de contrato real e a previsão de obrigação futura.

O art. 707.º diz que podem servir de base à execução os documentos em que se
convencionem prestações futuras ou se preveja a constituição de obrigações futuras.
No primeiro caso, exige-se a prova de que alguma prestação foi realizada para
conclusão do negócio; no segundo, a de que alguma obrigação foi constituída na
sequência da previsão das partes – ou seja, estes documentos só são títulos de forem
acompanhados de outros documentos que façam esta prova.
Que casos é que estão abrangidos? LEBRE DE FREITAS distingue:
• Documentos em que se convencionem prestações futuras: a doutrina
entende que o que está aqui em causa é a exequibilidade de documentos autênticos ou
autenticados que documentam contractos que, para além das declarações de vontade,
exigem como requisito constitutivo a tradição da coisa (contractos reais quanto à
constituição – no fundo exige-se prova complementar da realização da prestação
constitutiva dum contrato real prometido por documento autêntico ou autenticado).
São exemplos: contrato de abertura de crédito, mútuo, fornecimento, depósito ou
locação, etc.
 Exemplo: um empresário, que necessita de financiamento, celebra com o banco
um contrato mediante o qual este se compromete a disponibilizar moeda em
curso legal no país até ao montante de 100.000€ (contrato de abertura de
crédito). O mutuário promete restituir o capital e eventuais juros; porém, não o
faz. O banco pode instaurar uma acção executiva, mas para tal é necessário
provar que o fez uma transferência bancária para a conta do mutuário (por ex., o
talão da transferência). O mutuário terá de assinar outro documento
reconhecendo que os 100.000€ emprestados já estão na sua conta.
• Documentos em que se preveja a constituição de obrigações futuras:
abrange os casos em que as partes não se tenham vinculado, bilateral ou
unilateralmente, à celebração de um negócio jurídico, mas se tenham limitado a
prever, em documento autêntico ou autenticado, a possibilidade dessa celebração,
nomeadamente constituindo logo garantia que cubra a realização dessa previsão.
REMÉDIO MARQUES não distingue estes dois casos, dizendo que o que aqui está em
causa são meramente os documentos que prevejam contractos reais quanto à
constituição.

2.4.2.4. Títulos de crédito.

O CPC de 2013 restringiu drasticamente a exequibilidade dos documentos


particulares relativamente ao anterior. O art. 703º/1/c CPC apenas concede
exequibilidade aos “títulos de crédito, ainda que meros quirógrafos, desde que, neste
caso, os factos constitutivos da relação subjacente constem do próprio documento ou
sejam alegados no requerimento executivo”. A letra, a livrança e o cheque são, pois, os
únicos documentos particulares a que a lei confere exequibilidade.

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Hoje, só é exigido o reconhecimento da assinatura do devedor no título de crédito


quando ele não saiba ou não possa ler, sendo então assinado a rogo. Fora deste caso, o
reconhecimento, por notário, da assinatura do devedor tem a utilidade de obstar ao
pedido de suspensão da acção executiva pelo executado que, em embargos, alegue a
não genuinidade da assinatura.

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Os documentos particulares simples em que o devedor confessava dever uma


quantia ao credor deixaram de ser títulos executivos à luz da nova lei. Relembre-se o
que foi dito quanto a isto, nomeadamente o acórdão do TC nesta matéria.
Prescrita a obrigação cartular, constante de uma letra, livrança ou cheque, poderá o
titulo de crédito continuar a valer como título executivo, desta vez enquanto escrito
particular consubstanciando a obrigação subjacente?
Hoje entende-se que quando o título de crédito mencione a causa da relação jurídica
subjacente, o título prescrito vale como documento particular respeitante à relação
jurídica subjacente.
Quanto aos títulos de crédito prescritos dos quais não conste a causa da obrigação,
há que distinguir consoante a obrigação a que se reportam emerja ou não de um
negócio formal.
 Se a resposta for positiva, o documento não constitui título executivo. (art.
221º/1 CC e 223º/1 CC)
 Se a resposta for negativa, será título executivo sem prejuízo de a causa da
obrigação dever ser invocada na petição executiva e poder ser impugnada
pelo executado. Se o exequente não a invocar no requerimento executivo,
não poderá fazê-lo na pendência do processo, após a verificação da
prescrição da obrigação cartular e sem o acordo do executado (art. 264º
CPC), por tal implicar alteração da causa petendi.

2.4.2.4.1. Legalização de documentos estrangeiros.

Os documentos exarados em país estrangeiro, quer sejam autênticos, quer


particulares, não carecem de revisão para serem exequíveis em Portugal (art. 706.º/2),
mas devem em princípio ser objecto de legalização.
Esta legalização tem lugar, para os documentos autênticos e autenticados,
mediante o reconhecimento da assinatura do oficial público que os emitiu pelo agente
diplomático ou consular português do Estado respectivo (art. 440.º/1 CPC). Esta
legalização é dispensável, para além dos casos abrangidos por regulamento ou
convenção (Regulamento de Bruxelas, Convenção de Lugano e Convenção da Haia),
quando a autenticidade do documento for manifesta.
Os títulos de crédito que careçam de reconhecimento notarial da assinatura a
subscritor estão sujeitos a idênticas formalidades (art. 440.º/2 CPC).

2.4.2.5. O título executivo por força de disposição especial.

O art. 703.º/1/d) CPC consagra uma cláusula aberta que permite considerar títulos
executivos os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força
executiva. Aqui incluem-se alguns documentos particulares cuja assinatura não está
reconhecida pelo notário, mas é porque a lei o prevê expressamente. Que títulos é que
se incluem aqui?
• Títulos judiciais impróprios: alguns dos títulos cuja força executiva resulta de
disposição especial da lei formam-se no decurso do processo, sendo títulos formados
num processo mas não resultantes de uma decisão judicial. Alguns formam-se mesmo
na pendência do processo executivo. São exemplos de títulos judiciais impróprios:
 No processo de prestação de contas, quando o réu as apresente e dela
resulte um saldo a favor do autor, pode este requere que o réu seja

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notificado para pagar a importância do saldo (art. 944.º/5 CPC), servindo as


contas apresentadas como título executivo.

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 Nos termos do DL 269/98, que regula o processo de injunção, o titular do


direito de crédito pecuniário, decorrente de contrato, cujo valor não exceda o
valor de 15.000 euros, e obrigações emergentes de transacções comerciais
abrangidas pelo DL 32/2003, independentemente do valor poderá daí obter
um título executivo. A tramitação é feita no Balcão Nacional de Injunções que
funciona como secretaria judicial, tendo competência exclusiva por força da
portaria 220/2008. A injunção é uma ordem de pagamento, estando sempre
em causa uma dívida ou obrigação pecuniária. Como se transforma em título
executivo? Antes de mais, o requerido é notificado para, em 15 dias, pagar
ao credor a quantia pedida ou deduzir oposição à pretensão.
o Se se opuser, ou se a notificação se frustrar (não chega ao
conhecimento do devedor), segue-se o processo especial de acção
declarativa do art. 16º e 17º do regime anexo ao diploma. No segundo
caso, pode ainda acontecer a devolução, se o requerente não tiver
requerido a distribuição ao tribunal cometente desta para que sirva de
petição inicial da acção declarativa.
o Se o requerido não deduzir oposição, o secretário judicial escreve no
requerimento de injunção que este documento tem força executiva, a
menos que não se verifiquem os requisitos do art. 14º/1/3 do regime
anexo.  O título executivo será o requerimento de injunção a que é
aposta a fórmula executória.

Nota: O art. 857º/1 CPC foi declarado parcialmente inconstitucional, com força
obrigatória geral, entendendo o TC que os fundamentos de oposição à execução,
quando esta se funda num requerimento de injunção, têm que ser os mesmos que
podem ser alegados no caso de o título executivo ser uma sentença judicial, de
maneira a garantir a protecção jurisdicional efectiva. REMÉDIO MARQUES não concorda
com a posição e entende que, se o sujeito tinha possibilidade de se pronunciar ao ser
notificado pelo BNI, e não o fez, então agora devem ser limitadas as possibilidades de
oposição à execução. Esta posição só seria susceptível de ser seguida caso a lei fosse
alterada no sentido de a notificação fosse feita por carta registada com aviso de
recepção que garantir que o futuro executado tenha tido conhecimento desta. Hoje, a
lei exige apenas notificação simples, o que não garante isto e justifica a posição do TC.

• Títulos administrativos ou de formação administrativa: emitidos por


repartições do Estado, de autarquias locais ou de outras determinadas pessoas
colectivas públicas e tendo por conteúdo créditos próprios. São exemplos:
 Títulos de cobrança de tributos, coimas, dívidas determinadas por acto
administrativo, reembolsos ou reposições e outras receitas do Estado (arts.
148.º e 162.º CPPT);
 Certidão de dívida de contribuições a uma instituição de segurança social
(art. 9º DL 511/76, 3 de Julho)
 Certificado de conta de emolumento e demais encargos devidos por acto de
registo ou notariado (art. 133.º do Decreto Regulamentar 55/80).

• Títulos particulares: os documentos particulares podem constituir título


executivo por disposição especial de lei. São exemplos:

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 Acta de reunião da assembleia de condóminos, assinada pelo condómino


devedor, em que se encontrem fixadas as contribuições a pagar ao
condomínio (art. 6.º/1 do DL 268/94).
 Documento do contrato de arrendamento de prédio urbano, acompanhado de
comprovativo da comunicação ao arrendatário, da resolução ou denúncia –
funda a execução para restituição do local arrendado (art. 15.º/1 NRAU, als.
c), d) e e)).
 Extracto de conta passado por sociedade, com sede em Portugal, dedicada à
concessão de crédito por via de emissão e utilização de cartões de crédito,
titulando o respectivo saldo (art. 1.º do DL 45/79).
 Certificados passados pelas entidades registadoras de valores mobiliários
escriturais, a estes relativos (art. 84.º CVM).
 Documento de contrato de mútuo concedido pela Caixa Geral de Depósitos,
nos termos do art. 9.º/4 do DL 287/93.

2.4.2.6. Natureza e função do título executivo.

Não cabem dúvidas de que o título executivo extrajudicial ou judicial impróprio é um


documento, que constitui prova legal para fins executivos, e que a declaração nele
representada tem por objecto o facto constitutivo do direito de crédito ou é, ela própria,
este mesmo facto. Quanto à sentença condenatória, LEBRE DE FREITAS parece
considerar, dado o seu aspecto dinâmico, que surge como um verdadeiro acto jurídico
e não tanto como um documento.
Assim, afirma que o título executivo é, pois, um documento; e no caso da sentença,
a ordem do tribunal fica representada nas próprias folhas do processo em que é
exarada, as quais não se confundem com o acto da condenação que lhe constitui o
conteúdo.
É ainda frequente dizer-se que o título executivo é condição necessária e suficiente
da acção executiva. Ora, que seja condição necessária todos entendemos, porque não
há execução sem título. Maiores dificuldades se levantam quando afirmamos que é
condição suficiente da acção executiva. Não propriamente porque isso conflitue com os
outros pressupostos da acção executiva, mas porque:
 No plano substantivo, em casos de nulidade do negócio ou acto que o título
executivo formaliza ou prova, a desconformidade manifesta entre o título e o
direito que se pretende fazer valer impede a realização dos actos executivos.
o Assim, toda a desconformidade entre o título e a realidade substantiva
pode e deve ser conhecida pelo juiz, desde que a sua causa seja de
conhecimento oficioso e resulte do próprio título, do requerimento
inicial de execução, dos embargos de executado ou facto notório ou
conhecido pelo juiz em virtude do exercício das suas funções. (ver
articulação art. 726º/2/c e 734º CPC)
 No plano formal, não se deve admitir a execução fundada em documento de
menor valor probatório para o efeito de cumprimento das obrigações
correspondentes ao tipo de negócio ou acto em causa.
Não significa isto, porém, que o juiz possa pedir mais elementos complementares de
prova ao exequente. A obrigação exequenda tem de constar do título e a sua existência
é por ele presumida. Só nestes termos podemos afirmar o título como condição
suficiente para a acção executiva.

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2.4.2.7. Consequências da falta de apresentação do título executivo.

Sendo pressuposto formal da acção executiva, o título deve em regra acompanhar o


requerimento inicial de execução – só assim não será quando o requerimento executivo
seja apresentado nos autos da acção declarativa em que foi proferida a sentença
exequenda (art. 85.º/1), visto que neste caso a sentença consta do próprio processo, a
menos que dela tenha sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo – art.
649º/1 CPC.
O que sucede se der entrada no tribunal um requerimento executivo sem título
executivo, ou com um título que nada tem a ver com a execução instaurada? Na linha
do princípio da economia processual, o juiz deve proferir despacho de aperfeiçoamento
(art. 726.º/2 e 4): quando seja manifesta a falta ou insuficiência do título, tem lugar o
indeferimento do requerimento do título executivo; não o sendo, o juiz deve convidar o
exequente a suprir a irregularidade, apresentando o título em falta ou corrigindo o
requerimento inicial.
No caso de pedir mais do que o constante do título, tem lugar o indeferimento
parcial (art. 726º/3 CPC. No caso de serem deduzidos vários pedidos e nem todos
constarem do título, não sendo manifesta a falta de título para os pedidos a
descoberto, deve o juiz mandar aperfeiçoar a petição, ordenando a apresentação de
título do qual constem os pedidos a descoberto e, no caso de a apresentação não ser
feita, indeferir a petição inicial quanto a eles.
Nos casos em que não haja lugar a despacho liminar do juiz, a secretaria envia o
requerimento executivo ao agente de execução que, ante esta situação, tem o poder-
dever de suscitar a intervenção do juiz – art. 855º/2/a CPC.
Se o executado for citado, em caso em que a petição devia ter sido recusada,
indeferida ou mandada aperfeiçoar, poderá o executado deduzir oposição à execução.
(art. 729º/a CPC)

2.4.2.8. Uso desnecessário da acção declarativa.

O facto de se dispor de título executivo não impede que o credor legitimado


proponha contra o devedor legitimado uma acção declarativa, embora desnecessária.
Nesse caso previsto implicitamente pelo art. 532º/2/c CPC, o autor pagará as custas,
sempre que o título de que disponha tenha manifesta força executiva e não haja
necessidade do processo de declaração.

2.5. Patrocínio Judiciário.

A lei é menos exigente quanto ao patrocínio em processo executivo do que em


processo declarativo.
Nas acções executivas cujo valor exceda a alçada da Relação (30.000 euros), é
obrigatória a constituição de advogado em processo executivo (art. 58.º/1, 1ª parte).
Naquelas cujo valor esteja entre a alçada da comarca (5000) e a da Relação (30.000), o
patrocínio é igualmente obrigatório, mas pode ser exercido por advogado, advogado
estagiário ou solicitador (art. 58.º/3). Sendo obrigatório, o patrocínio é pressuposto
processual.

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Porém, quando tenha lugar uma acção que corra por apenso ao processo ou um
incidente que nele se enxerte, que siga os termos do processo declarativo 5, então
seguem-se as regras do regime geral deste processo:
• Em regra, a constituição de advogado é obrigatória desde que o valor seja
superior ao da alçada do tribunal de 1ª instância (art. 58.º/1, 2ª parte). Isto corre nos
embargos de executado, nos embargos de terceiro e no incidente de liquidação.
• Se se tratar de acção de reclamação e verificação/graduação de créditos, a
constituição de advogado é obrigatória quanto à apreciação dos créditos cujo valor seja
superior à alçada do tribunal de comarca (art. 58.º/2). O patrocínio não é necessário
para a reclamação, mas apenas para a apreciação, isto é, apenas quando foi
impugnado o crédito reclamado e a partir do momento da impugnação.
• É ainda aplicável o art. 40º/1/c CPC que exige a constituição de advogado nos
recursos.

Não sendo constituído advogado quando obrigatório, havendo lugar a despacho


liminar, o juiz profere despacho de aperfeiçoamento (art. 726.º/4); se o exequente não
juntar procuração forense, o juiz indefere liminarmente o requerimento. O patrocínio
judiciário constitui excepção dilatória de conhecimento oficioso (art. 578º CPC).

2.6. Legitimidade das partes.

A legitimidade das partes determina-se, na acção executiva, com muito maior


simplicidade do que a acção declarativa. Enquanto que nesta há que indagar a posição
das partes em face da pretensão, na acção executiva a indagação a fazer resolve-se no
confronto entre as partes e o título executivo: têm legitimidade como exequente e
executado quem no título figura, respectivamente, como credor e devedor (art. 53º/1
CPC) Esta regra consente, quanto à legitimidade passiva, um desvio e excepções. Há
ainda que considerar a legitimidade específica do MP na acção executiva.

 Adaptação do regime-regra

A regra carece de ser adaptada nos casos de sucessão e de título ao portador:


o Art. 54º/1 CPC: Em caso de sucessão mortis causa ou inter vivos,
singular ou universal, na titularidade da obrigação, quer do lado activo
ou passivo, a execução deve ser promovida por ou contra os
sucessores da pessoa que, como credor ou devedor, figura no título,
pelo que o exequente deve, no próprio requerimento para a execução,
alegar os factos constitutivos da sucessão.
 Sendo o título extrajudicial, a sucessão prevista ocorre entre o
momento da sua formação e o da propositura da acção.
 Se for sentença, pode também ter ocorrido na pendência da
acção declarativa, uma vez que a sucessão entre vivos do direito
litigioso pode não dar lugar à habilitação do adquirente na
pendência da instância, nos termos do art. 356º CPC. LEBRE DE
FREITAS entende que é dispensado o

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5
Assim, não será obrigatória a constituição de advogado, em execuções com valor
compreendido entre o da alçada da 1ª instância e da Relação nos seguintes casos: arts. 785º/2,
915º/1, 450º/1/2, 351º, 715º/3, 838º/2 e 839º/1/b/c CPC.

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incidente de habilitação no caso de sucessão ocorrida antes da


propositura da acção executiva. Mas tal não dispensa o
exequente de, liminarmente, provar os factos constitutivos que
alega. Já no caso em que ocorre na pendência do processo
executivo, é o incidente de habilitação o meio adequado para a
fazer valer, pelo que têm de se observar o disposto nos arts.
351º a 357º CPC.
o Art. 53º/2 CPC: falamos, p.e. do caso dos cheques. Não contando o
nome do credor no título executivo, a execução é promovida pelo
portador que o tenha adquirido legitimamente, p.e. por meio de
sucessivos endossos. Nos casos de sentença a favor de titulares de
interesses protegidos não identificados, se o réu condenado não
dispuser do valor total fixado na sentença, poderá cada um dos
interessados reclamar a sua quota-parte, podendo seguir-se uma
execução, por eles promovida.

 O terceiro proprietário ou possuidor do bem onerado.


Pode acontecer que a garantia real de um crédito incida sobre bens de terceiro, ou
porque já assim tenha sido constituída, ou porque, constituída embora sobre bens do
devedor, este os tenha posteriormente alienado, em data anterior à propositura da
acção executiva.
Dado não ser possível a penhora de bens pertencentes a pessoa que não tenha a
posição de executado, a acção executiva tem, na medida em que se queira actuar a
garantia prestada, de ser proposta contra o proprietário do bem. (o mesmo,
analogicamente, para o adquirente dos bens após procedência de acção pauliana)
Ora, no art. 54º/2/3 CPC permite-se a opção entre:
 A propositura da execução contra o terceiro e, mais tarde, se os bens forem
insuficientes, o chamamento do devedor – Litisconsórcio voluntário
superveniente.
 A propositura da acção, desde logo, contra terceiro e o devedor, em
litisconsórcio voluntário originário.
 Propositura da execução contra o devedor: o credor tem ainda esta hipótese;
porém, há quem entenda que isto implica a renúncia da garantia real, pelo
que existe este risco inerente. Se se tratar de direitos de garantia sobre
direitos, não é preciso documento particular para haver renúncia; se se tratar
de direito de garantia sobre bens, é necessário documento particular (ex:
mensagens trocadas).

A hipótese mais normal é propor a acção simultaneamente contra o dador da


garantia e o devedor, em litisconsórcio. Evita-se assim uma intervenção inicial
suscitada posteriormente. Este é um desvio à legitimidade passiva: o terceiro não é
devedor, o seu nome não consta no título executivo, mas aceitou dar bens em garantia.
Para LEBRE DE FREITAS, a renúncia do credor à garantia real só pode ter lugar
pelas formas indicadas na lei civil, entre as quais não se encontra a mera propositura
de uma acção em que a garantia não seja invocada – embora em alguns casos seja
admissível a renúncia no requerimento inicial, desde que seja expressa (por ex.,
hipoteca sobre bens móveis, art. 668.º/1/f) CC). Fora estes casos, o exequente só não
pode deixar, sob pena de ilegitimidade, de intentar a acção executiva contra o

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proprietário dos bens quando pretenda fazer valer, na execução, o direito real de
garantia, pois no caso contrário pode mover a acção executiva apenas contra o
devedor e nela penhorar os

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seus bens, sem que ele lhe possa opor a necessidade de previamente se reconhecer,
no termos do art. 752º/1 CPC, a insuficiência dos bens dados em garantia para o fim da
execução.
Note-se ainda que se o título executivo for uma sentença condenatória, a
propositura da acção executiva contra o proprietário que sobre os seus bens haja
constituído a garantia real, pressupõe que contra ele tenha sido também proposta a
acção de condenação e que nesta tenha sido declarada a existência da garantia (art.
635º/1, 667º/2 e 717º/2 CC).
Para além disto, importa ainda atentar no art. 54.º/4 CPC: se os bens onerados
estiverem na posse de terceiros, o credor pode demandar os terceiros possuidores
juntamente com o devedor (por ex., estão a usar uma casa hipotecada). Isto é para
perturbar ao mínimo a tramitação dos actos executivos em relação à execução sobre o
bem – o terceiro possuidor poderia deduzir embargos de terceiros, alegando que a
penhora estava a ofender a posse. Ao se tornar parte, deixa de ter legitimidade
processual para deduzir esta acção declarativa de embargos de terceiros. Também não
pode deduzir embargos de executado alegando que a dívida não existe, pois não é
devedor logo não tem legitimidade para deduzir excepções peremptórias; o que pode
fazer é opor-se à penhora, suscitando ilegalidades.

 Terceiros abrangidos pelo caso julgado.

Quando o título executivo é uma sentença, a legitimidade passiva para a acção


executiva é alargada às pessoas que, não tendo sido por ela condenadas, são porém
abrangidas pelo caso julgado (art. 55º CPC), manifestando a ideia de que o âmbito
subjectivo da eficácia executiva do título coincide, no caso da sentença, com o âmbito
da eficácia subjectiva do caso julgado. REMÉDIO MARQUES dá o exemplo da anulação das
deliberações sociais: a acção tem de ser proposta contra a sociedade, mas se a
sentença implicar condenações (por ex., destituir o gerente), o caso julgado abrange os
sócios.
Esta norma não tem hoje aplicação possível:
 Não abrange os casos de transmissão da situação jurídica do réu, por acto entre
vivos (art.
263º/3), por já estar incluída no art. 54º/1 CPC.
 Sobram, pois, os casos de chamamento à intervenção principal de terceiro
titular de situação susceptível de gerar litisconsórcio voluntário passivo, nos
termos do art. 32º/2, que não intervém na causa. Porém, à luz do novo código,
a sentença condenatória pronuncia-se sobre a situação jurídica do chamado,
mesmo que o litisconsórcio seja voluntário (art. 320º CPC), pelo que, ainda
que não intervenha, o terceiro fica, com a citação, constituído como parte, e
sendo condenado, aplica-se-lhe a norma do art. 53º e 55º CPC.
 Nos casos de intervenção acessória, embora o interveniente seja abrangido
pelo caso julgado, não lhe é conferida legitimidade para a acção de execução
da sentença que o constitui, visto que a apreciação da sua posição jurídica
será realizada em acção autónoma.

 Ministério Público

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Compete-lhe promover a execução por custa e multas impostas em qualquer


processo (art.
57º CPC). Conservam-se ainda as normas do art. 21º a 24º CPC neste âmbito.

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 Consequências da ilegitimidade das partes

A ilegitimidade constitui uma excepção dilatória de conhecimento oficioso (arts.


577.º/e) e 578.º) – como tal, cabe ao juiz indeferir liminarmente a petição inicial quando
o vício seja insanável e haja lugar a despacho liminar (art. 726.º/2/b)). Sendo o vício
sanável, deve proferir despacho de aperfeiçoamento (art. 6.º/2 e 726.º/4), sendo
indeferido o requerimento executivo se não for sanado (art. 726.º/5). Aplica-se também
o art. 734.º/1: o juiz pode conhecer oficiosamente, até ao primeiro acto de transmissão
dos bens penhorados, das questões que poderiam ter determinado o indeferimento
liminar ou aperfeiçoamento do requerimento executivo.
Quando é que o vício é sanável?
• Se for um caso de legitimidade singular (A é o devedor), e a acção é proposta
contra B, temos um vício insanável.
• Se for um caso de legitimidade singular (A é o devedor), e a acção é proposta
contra A e seu cônjuge B, o juiz deve proferir despacho de indeferimento liminar parcial
(art. 726.º/3).
• Se for um caso de litisconsórcio necessário e a acção é proposta apenas contra
uma das partes com legitimidade, o vício é sanável.
Quando não haja lugar a despacho liminar, o próprio agente de execução tem o
poder-dever de conhecer de excepções dilatórias insupríveis – art. 855º/2/b CPC,
devendo enviar a questão ao juiz para que este se pronuncie.
Quando o executado seja citado, havendo uma ilegitimidade insanável, este pode
opor-se à execução por embargos de executado (art. 729.º/c))

2.7. Pluralidade de sujeitos e pluralidade de pedidos.

 Litisconsórcio.

Como sabemos o litisconsórcio pode ser activo e/ou passivo e poderá ser voluntário
ou necessário. Estamos ante um litisconsórcio voluntário quando, podendo o pedido ser
formulado apenas por um autor ou apenas contra um réu, tenha sido deduzido por
vários autores ou contra vários réus. Ex: 32º/1 CPC, 517º, 641º, 667º, 717º, 1286º CC)
Há litisconsórcio necessário quando a lei, o negócio jurídico ou a própria natureza da
prestação a efectuar imponha a intervenção de todos os interessados na relação
controvertida. REMÉDIO MARQUES defende haver três casos de litisconsórcio necessário
no âmbito da acção executiva:
1) Quando há uma obrigação de entrega de uma coisa, e essa obrigação foi
subscrita por várias pessoas – a acção tem de ser intentada contra as várias
pessoas. Se não o for, um deles pode opor-se contra a entrega.
2) Na hipótese de uma prestação de facto infungível à qual se obrigam várias
pessoas, caso não cumpram o que assinaram, o credor propõe a acção executiva
contra todos.
3) Existem situações em que a lei exige a presença de todos os herdeiros (e não
apenas o cabeça de casal).

Na acção executiva, o problema do litisconsórcio sucessivo e da sua admissibilidade


só se coloca em relação à intervenção principal. A sua admissibilidade só é defensável

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quanto a pessoas com legitimidade para a acção executiva. Há um caso em que se


impõe a admissibilidade do incidente

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em processo executivo: quando o exequente careça de chamar a intervir determinada


pessoa para assegurar a legitimidade duma parte, nos termos do art. 261º, 726º e 734º
CPC.
Já no âmbito do litisconsórcio voluntário a admissibilidade geral do incidente é
discutível, mas casos há em que a lei é expressa em admiti-lo: arts. 54º/2, 745º/3,
745º/2, 741º, 742º CPC. Note-se que fora o caso do art. 742º CPC, a intervenção
principal provocada pelo executado não é admitida, sendo a regra que incidente de
intervenção principal é admitido numa modalidade de intervenção passiva provocada
pelo exequente, em nome da economia processual.
Há ainda quem configure como de litisconsórcio sucessivo a situação decorrente da
intervenção na acção executiva para pagamento de quantia certa, após a penhora, do
cônjuge do executado e dos credores com garantia sobre os bens penhorados,
convocados nos termos do art. 864º CPC. LEBRE DE FREITAS considera que o cônjuge
surge como verdadeira parte principal (ver art. 787º CPC) dado ter um estatuto
equiparado ao do executado; já os credores reclamantes surgem como meras partes
acessórias, dado o carácter limitado de poderes processuais que estes podem exercer.
(ver art. 786º/6 CPC).

NOTA: O art. 34.º/1 e 3 CPC suscita dúvidas na doutrina, e refere-se a acções que
devem ser propostas por ambos os cônjuges ou contra ambos os cônjuges. Esta norma
aplica-se à acção executiva, ou só às acções declarativas? O artigo fala apenas em
“acções”, e não “execuções”, e o n.º 3 é particularmente esclarecedor, dizendo “em
que se pretenda obter...” – isto significa que esta norma só consagra litisconsórcio
necessário passivo na acção declarativa, e não na executiva. Mas então é possível
intentar uma acção executiva contra só um dos cônjuges, quando ambos são
devedores (os seus dois nomes constam no título executivo)? Esta é a dúvida. REMÉDIO
MARQUES entende que sim, mas neste caso o credor está renunciar à responsabilidade
patrimonial mais alargada dos cônjuges. A renúncia a direitos de natureza patrimonial é
possível (desde que sejam direitos actuais).
Porém, o cônjuge que é o único demandado pode suscitar o incidente previsto no
art. 742.º: pode alegar que a dívida é comunicável, alegando os factos que estão na
base da comunicabilidade da dívida (ex: dívida contraída para acorrer aos encargos
normais da dívida familiar), sendo que depois vai haver contraditório, do cônjuge não
demandado e do credor. Ou seja, apesar de o litisconsórcio não ser obrigatório, o
cônjuge demandado pode suscitar este incidente. Se o juiz se convencer que a dívida é
mesmo dos dois, considera a dívida comunicável.
 Coligação

Por força do art. 56.º, a coligação é admitida em processo executivo quando, não
se baseando um dos pedidos em decisão judicial a executar nos autos da acção
declarativa (art. 709.º/1/d), por remissão do art. 56.º/1), se verifiquem
cumulativamente os seguintes pressupostos:
• A espécie de acção executiva seja a mesma (art. 709.º/1/b) e 710.º, por
remissão do art. 56.º/1), a menos que todos se baseiem numa mesma sentença.
• Tendo a execução por fim o pagamento de quantia certa, as várias obrigações
devem ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo aritmético (art. 56.º/2);

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• O tribunal deve ser competente internacionalmente e em razão da matéria da


hierarquia para a apreciação de todos pedidos (art. 709.º/1/a), por remissão do art.
56.º/1);

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 Aplicam-se na coligação, quanto à competência em razão do valor e do


território, o disposto no art. 709º/2 a 5, por emissão do art. 56º/3 CPC.
• Devem seguir a mesma forma, sem prejuízo de o juiz poder autorizar
cumulação (art. 709.º/1/c), por remissão do art. 56.º/1);
• Tratando-se de coligação passiva, aplica-se o art. 56.º/1/b) e c).

 Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da


coligação ilegal.

Quais as consequências?
• Havendo lugar a litisconsórcio necessário, a falta de qualquer dos
litisconsortes é fundamento de ilegitimidade das partes (art. 33.º/1). Se houver
despacho liminar, o juiz deve convidar o exequente a requerer intervenção principal do
terceiro (art. 6.º/2 e 726.º/4) e, se o exequente não corresponder ao convite, indeferir
liminarmente o requerimento executivo. O vício pode ainda ser corrigido pelo
exequente até 30 dias sobre o trânsito em julgado do despacho de indeferimento
liminar (ou da rejeição oficiosa nos termos do 734º CPC) ou da sentença que julgue
procedentes os embargos de executado. Permite-o o art. 261º, mediante chamamento
da pessoa cuja falta é motivo de ilegitimidade, e, se já estiver extinta à data do
chamamento, a instância é renovada, pagando o exequente as custas.
• No caso de coligação ilegal, quando não se verifique um dos pressupostos, o
juiz, havendo lugar a despacho liminar, profere despacho de aperfeiçoamento,
convidando o exequente a que escolha o pedido relativamente ao qual pretende que o
processo prossiga, e, só no caso de ele não o fazer absolverá o executado da instância
(art. 38º e 726º/4/5 CPC); quando se verificar incompetência absoluta ou inadequação
da forma do processo quanto a algum dos pedidos, o juiz profere um despacho de
indeferimento parcial e a causa prossiga relativamente a outros pedidos (art. 726.º/3);
se for em relação a todos os pedidos, tem lugar o indeferimento liminar total (art.
726.º/1/b)).
Quer no caso de preterição de litisconsórcio necessário, quer no de coligação ilegal,
o executado pode opor-se à execução (art. 729.º/c)).

 Cumulação simples de pedidos.

A coligação constitui uma cumulação de pedidos. Mas pode também o exequente


cumular pedidos contra o mesmo executado. A cumulação simples de pedidos pode ser
inicial (art. 709º CPC) ou sucessiva (art. 711º CPC).
Caso haja cumulação indevida, se esta for sucessiva, o juiz, se o novo título exigir
despacho liminar ou o suscitar o agente de execução, aprecia a admissibilidade no
despacho que proferir sobre o requerimento do exequente. Haja ou não despacho
liminar, o executado pode, se entender que a cumulação é indevida, opor-se à
execução. (art. 729º/c CPC). Em tudo o mais valem as considerações feitas a propósito
da coligação ilegal.

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2.8. Competência interna do tribunal.

 Competência em razão da matéria.

A competência dos tribunais para a acção executiva (uma mega competência


material) determina-se com base num duplo critério:
1) Um critério de atribuição positiva, segundo o qual cabem na competência
dos tribunais judiciais todas as acções executivas baseadas na não realização de
uma prestação devida segundo as normas do direito privado.
2) Um critério de competência residual, segundo o qual os tribunais judiciais
são também competentes para as acções executivas que não caibam no âmbito
da competência atribuída aos tribunais de outra ordem jurisdicional (art. 40º/1
LOSJ e 64º CPC).

No sistema da LOSJ, após a reforma de 2017 (Lei 62/2013, na redacção da Lei nº


40-A/2016, de 22 de Dezembro), os tribunais de comarca desdobram-se em juízos,
de competência especializada, de competência genérica e os de proximidade (81º/3
LOSJ). Entre os juízos de competência especializada, estão os juízos centrais cíveis e os
de execução.
o Quando haja juízo de execução, este tem competência exclusiva em
razão da matéria (art. 129º/1 LOSJ), inclusivamente para as decisões
proferidas pelo juízo central cível (art. 129º/3 LOSJ).
o Se não existir juízo de execução:
 O título é judicial: a execução é feita no tribunal e propcesso em
que tenha corrido a acção declarativa.
 O título é extrajudicial:
 O juízo central cível tem competência para as acções
executivas de valor superior a 50.000 euros (art. 117º/b
LOSJ);
 Ao juízo local cível tem competência para as execuções de
valor igual ou inferior a 50.000 euros e ainda quando não
houver juízo de execução ou outro juízo ou tribunal de
competência especializada competente (art. 130º/1/c LOSJ).
o Mas note-se: Dentro dos tribunais judiciais, a competência do juízo
central cível ou do juízo de execução cede quando é atribuída a outro
tribunal ou juízo de competência especializada competência para a
execução das decisões (incluindo decisões de tribunais de competência
territorial alargada ou outros juízos especializados – trabalho, comércio,
família e menores, etc…)
o Carecem de competência executiva os tribunais arbitrais, que não são
dotados de ius imperii.

 Competência em razão da hierarquia

Apenas os tribunais de 1ª instância têm competência executiva (art. 85º e 86º CPC).
Esta abrange a competência para a execução de decisão proferida em acção proposta
na Relação ou no Supremo, quando funcionem como primeira instância.

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Os tribunais da relação e o Supremo limitam-se, pois, a decidir os recursos para eles


interpostos e os conflitos de jurisdição e de competência.

 Competência em razão do valor

Estabelecem quais as execuções que competem aos juízos centrais cíveis e quais as
que competem aos juízos locais cíveis, de competência genérica, quando não haja
juízo de execução ou outro competente.

 Competência em razão do território

A competência para a acção executiva em razão do território é estabelecida nos arts.


85 a 90º CPC, bem como, em caso de cumulação de pedidos, nos arts. 709º/2/3/4 e
56º/3 CPC.

(1)Decisão do tribunal judicial (incluindo sentenças homologatórias)


a. Quando a acção declarativa tenha sido proposta num tribunal de 1ª
instância, é competente para a execução o tribunal da comarca em que a
causa foi julgada em 1ª instância (art. 85º/1 CPC), ainda que a sentença
proferida tenha sido revogada em recurso e por isso se execute a decisão
proferida, em sua substituição, por um tribunal superior. A execução
correrá nos próprios autos.
i. Mas, segundo o art. 85º/2 CPC, havendo juízo de execução, por via
do princípio da especialidade o requerimento executivo deve ser remetido
para o juízo de competência especializada, ainda que a proposta de acção
executiva seja feita ante o juízo que proferiu a decisão em 1ª instância.
b. Quando tenha funcionado como 1ª instância um tribunal superior, a
execução é promovida no tribunal de 1ª instância do domicílio do
executado (art. 89º/1 CPC), ou, se este não tiver domicílio em Portugal,
mas aqui tiver bens, no da situação desses bens (art. 89º/3 CPC)

(2)Decisão do Tribunal Arbitral


a. É competente o tribunal do lugar da arbitragem (art. 85º/3, para o qual
remete o art. 59º/9 LAV). Esta norma aplica-se mesmo quando o objecto do
processo tenha conexão com ordens jurídicas estrangeiras.

(3)Título extrajudicial, título arbitral, ou sentença condenatória proferida


por tribunal não integrado na ordem dos tribunais judiciais (ex:
administrativo).
a. Se a execução for para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia
real, é competente o tribunal em que a coisa se encontre ou situe (art.
89.º/2). É um reflexo do fórum rei sitae.
b. Nos restantes casos (execução por dívida pecuniária ou de prestação de
facto, sem garantia real), é competente o tribunal do lugar do domicílio do
executado, ou, tratando-se de acção contra pessoa colectiva ou em que o
exequente e executado tenham domicílio na área metropolitana de Lisboa
ou Porto, o tribunal do lugar onde a obrigação deva ser cumprida (art.
89.º/1).

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c. Veja-se ainda a norma residual do art. 89º/4 CPC.

(4)Sentença estrangeira
a. Nos termos do art. 90.º, a competência para execução fundada em
sentença estrangeira determina-se nos termos do art. 86.º, i.e., nos termos
da execução das sentenças proferidas pelos tribunais superiores.
b. A competência da acção de revisão de sentença determina-se pelo local do
domicílio do requerido (art. 979º CPC), observando-se, na falta deste, os
critérios do art. 80º/2/3 CPC.
c. Ver ainda art. 59º/1 LAV, para reconhecimento de sentença arbitral
estrangeira. ~

2.9. Competência Internacional do Tribunal.

A doutrina portuguesa costumava, nesta matéria, proceder à aplicação directa a


esta acção dos mesmos critérios para definir a competência internacional dos tribunais
portugueses usados na acção declarativa.
Houve quem defendesse, como ANSELMO CASTRO, a inaplicabilidade dessas normas
à acção executiva, com a consequência de os tribunais terem para ela competência
internacional sempre que a execução deva correr sobre bens sitos em Portugal, e só
neste caso, ou de só terem competência para se ocuparem daquelas execução das
quais resultam já a competentes por aplicação das normas de competência territorial.
O autor defendia tese dizendo que quando a execução incida sobre bens situados no
estrangeiro, os principais actos executivos a praticar no processo terão lugar fora do
país, o que, a ser instaurada a acção executiva em Portugal, levaria a numerosas cartas
rogatórias, cujo conteúdo excederia o âmbito normal destas e tornaria inviável a
própria execução.
Esta tese, embora criticada por LEBRE DE FREITAS do ponto de vista do direito
constituído, tiveram o mérito de, no plano do direito a constituir, chamarem a atenção
para a conveniência na acção executiva de atender a elementos de conexão diversos
dos da acção declarativa, dada a especificidade funcional da primeira quando se dirige
à realização coactiva do direito a uma prestação.
A isto atendeu a reforma da acção executiva, nomeadamente com a introdução do
art. 63º/d CPC e a sua regra de competência exclusiva. Não pode, p.e. proceder-se à
penhora de bens imóveis aqui existentes por mera carta rogatória, ainda que a decisão
em que a execução se funde se mostre revista e confirmada. O mesmo quanto à acção
executiva para entrega de coisa imóvel certa que se localize em Portugal.
Mas esta norma da competência exclusiva, não afasta as previstas no art. 62º (de
competência não exclusiva), pelo que a competência do tribunal português para uma
execução a incidir sobre bens imóveis não localizados em Portugal pode resultar do
critério:
(1) Da coincidência (alínea a)
(2) Da causalidade (alínea b)
(3) Da necessidade (alínea c)
Incidindo a execução sobre coisa móvel ou direito, não há preceito especial em
matéria de execuções, pelo que se aplicam tão só as normas gerais de competência
internacional não exclusiva do art. 62º CPC. Podem, por fim, as partes celebrar, nos
termos do art. 94º CPC, pactos de jurisdição.

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Quer nos termos do 64º/d, quer nos termos do 62º, a determinação do tribunal
internamente competente é feito nos termos do art. 89º/4 CPC. (no caso do 62º, este
artigo aplica-se por analogia)

 Regulamento 1215/2013 e Convenção de Lugano (Suíça,


Liechenstein, Noruega e Islândia)

Já vimos que o Regulamento de Bruxelas I bis (entre EM’s UE) dispensa a


necessidade de declaração de executoriedade (art. 39.º a 42º Reg. 1215/2013). No
âmbito da Convenção de Lugano, esta continua a ser exigida, verificando-se se a
sentença transitou em julgado e se as regras de citação foram cumpridas.
Estes instrumentos não têm, porém, normas de competência para a acção
executiva, apenas dispondo que são competentes os tribunais do Estado Membro do
lugar da execução (art. 22.º/5 do Regulamento e 16.º/5 da Convenção).
Isto significa que a competência para a acção executiva é determinada pelas
normas internas de cada Estado-membro e, uma vez ela assente, esses procedimentos
correrão nos tribunais do mesmo Estado. Trata-se de uma norma de extensão de
competência circunscrita aos casos de execução de decisões.
Fora destes casos, como já vimos, aplicam-se as normas do art. 978º e ss. CPC.

2.10. Consequências da falta de competência

Em processo declarativo, as consequências da falta de competência são as seguintes:


• Violação das normas de competência em razão da matéria e
hierarquia: incompetência absoluta (art. 96.º/a)). Estas são normas imperativas, não
podendo ser afastadas por vontade das partes, e a sua violação é oficiosamente
cognoscível (art. 97.º/1). A verificação da incompetência absoluta origina o
indeferimento liminar ou a absolvição do réu da instância (art. 99.º). Note-se que, nos
termos do art. 85.º/2, quando a acção seja da competência do tribunal da comarca que
julgou a causa, a acção deve ser proposta na secção onde foi julgada, que depois
remete para a secção de execução (se houver) – assim, não temos aqui nenhuma
incompetência.
• Violação das normas de competência em razão do valor e território:
incompetência relativa (art. 102.º, o processo é remetido para o tribunal competente).
As normas de competência em razão do território podem ser afastadas pelas partes,
excepto nos casos do art. 104.º, e a sua violação só é oficiosamente cognoscível nestes
casos (art. 102.º a 104.º - Note-se que o art. 104º/1/a impede o afastamento das
normas dos arts. 85º/1 e 89º/1/2. Só fora do âmbito destas normas é admitida às
partes a liberdade de estipulação do foro competente, nos termos do art. 95º e
consentida ao exequente, desde que o executado não se oponha, a determinação do
tribunal em que pretende que siga a acção executiva.). As normas da competência em
razão do valor seguem o mesmo regime que as da matéria e hierarquia.
• Violação das normas de competência internacional: incompetência
absoluta (art. 96.º/a)). É oficiosamente cognoscível (art. 97.º/1) e, dentro de certos
limites, são normas supletivas porque podem ser afastadas por vontade das partes (art.
94.º).

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A doutrina diverge quanto à aplicabilidade ou não destes preceitos à acção


executiva; porém, desde a revisão do CPC, é claro que o regime da incompetência na
acção executiva segue o regime geral.

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No caso de violação de regras de competência interna, o agente de


execução deve enviar o requerimento para o juiz da acção de execução, para que este
analise os pressupostos processuais (art. 726.º/c)). Mas e se o agente de execução não
se aperceber que o tribunal não é competente? O executado pode deduzir embargos de
executado, que é uma acção declarativa (art. 729.º/c)); se já tiver passado o prazo para
embargar, pode invocar esta excepção até ao primeiro acto de alienação de bens
penhorados, pois o juiz pode conhecer das excepções dilatórias até aí (art. 734.º).

3. Formas do processo executivo.

Cada um dos tipos de acção executiva pode seguir uma forma de processo comum
ou uma forma de processo especial. O processo especial tem lugar quando a lei impõe,
para a execução de determinado tipo de obrigação, uma tramitação especial mais ou
menos ampla. Já o processo comum tem forma única nas execuções para entrega de
coisa e prestação de facto e duas formas (ordinária e sumária) nas execuções para
pagamento de quantia certa. (art. 550º/1/2/3 CPC)
Quanto aos processos especiais, podemos distinguir:
a) Processos exclusivamente executivos, como a execução por alimentos (art. 933º
a 935º CPC, aplicável apenas quando o credor de alimentos é maior. Quando é
menor aplica-se a execução prevista na lei tutelar cível.)
b) Processos mistos que têm a particularidade de a primeira fase ser declarativa e
se seguir uma fase executiva. É o caso de investidura em cargos sociais. (arts.
1070 e 1071 CPC)
c) Processos declarativos em que podem ter lugar actos executivos. Ex: 919º/2,
939º/2/3/4 e 1047º CPC.

Hoje, o processo comum executivo pode ter duas formas (ordinária e sumária),
determinadas em função da fiabilidade ou consistência do título e do valor. A forma
sumária caracteriza-se essencialmente pela dispensa de despacho liminar e a
efectivação do penhor antes da citação do executado, produzindo-se um “efeito-
surpresa”. Isto admite-se porque quanto mais poderoso for o título executivo, menor
necessidade há-de dar oportunidades de contraditório antes das penhoras aos
executados (princípio da proporcionalidade). O devedor terá tido a oportunidade de
exercer todo o contraditório no processo de formação do título executivo, pelo que não
deverá ter uma segunda oportunidade de alegar factos extintivos ou modificativos da
obrigação ou de alegar excepções dilatória. Esta emprega-se, em regra, nas execuções
previstas no art. 550º/2 CPC.
 Al. a) – Decisão judicial. Este é o título mais poderoso, pois no processo
declarativo já houve todas as garantias de contraditório. O legislador quis aqui
um processo mais célere, que permitisse fazer penhoras antes de o exequente
fosse citado.
 Al. b) – Requerimento de injunção ao qual tenha sido oposto uma
fórmula executória. O procedimento de formação deste título está previsto no
DL 269/98 (anexo), sendo que o título é formado sem a intervenção de um juiz, e
antes com um funcionário. O legislador quis que os cidadãos que achem que são
credores possam ficar rapidamente munidos de um título executivo, na medida
em que entendam que os alegados devedores não vão contestar. Podem citar o
devedor para se opor; se não vier deduzir oposição e houver garantia de citação,

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executa-se. Hoje existe um balcão nacional de injunções, sendo tudo tramitado


por via electrónica. A partir do momento em que uma pessoa é citada e não
deduz oposição, este é um título poderoso.

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 Al. c) – Títulos extrajudiciais de obrigação pecuniária vencida garantida


por hipoteca ou penhor. Também é justo que siga processo sumário? Sim,
apesar de ser documento particular e o reconhecimento da assinatura não
garantir a existência da obrigação, esta obrigação pecuniária está garantida por
um direito real. Se o devedor constituiu uma garantia real sobre um bem seu,
então é justo que o processo de execução comece com a penhora do bem
garantido, o penhor e a hipoteca convertem-se em penhora. O devedor não
desconhece que, no caso de incumprimento, o bem pode ser executado.
 Al. d) – Título extrajudicial cujo valor não exceda 10.000€. Considera-se
que, quando o devedor é executado por uma quantia pequena e o título é
extrajudicial, não vale a pena que a acção executiva decorra com toda a sua
formalidade. O legislador fixou um valor abaixo do qual o processo é sumário, o
dobro da alçada da 1ª instância.

A forma ordinária aplica-se em todos os demais casos e ainda quando, apesar de se


verificar uma das situações que normalmente dão origem a processo sumário, se
verifique alguma das seguintes excepções: (550º/3 CPC)
1) A obrigação não é certa e a determinação da prestação não cabe ao credor.
2) Há que fazer prova complementar do título executivo.
3) A obrigação carece de ser liquidada na execução e a liquidação não depende de
simples cálculo aritmético.
4) O exequente alega no requerimento executivo a comunicabilidade da dívida
constante de título, diverso de sentença, que apenas obrigue um dos cônjuges.
Tem que se seguir a forma ordinária, porque existe aqui um incidente processual
de natureza declarativa que tem lugar enxertado na acção executiva.
5) A execução é movida apenas contra devedor subsidiário que não haja
renunciado a benefício de execução prévia.

O processo ordinário de execução para pagamento de quantia certa vem regulado


nos arts. 724º a 854º e o processo sumário nos arts. 855º a 858º CPC. Supletivamente
aplica-se o disposto no art. 551º CPC. Na interpretação do seu nº1 devemos atender à
diferente natureza dos processos executivo e declarativo, não sendo aplicáveis as
disposições reguladoras do processo declarativo que estejam em desacordo com a
natureza da acção executiva, mas só as que com essa natureza se mostrem
compatíveis.

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PROCESSO EXECUTIVO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

4. Delimitação.

Só os títulos dos quais conste uma obrigação pecuniária podem dar lugar a processo
executivo para pagamento de quantia certa. Através deste, pretende-se obter o
cumprimento forçado de uma obrigação desta natureza. Como já vimos, não impede
isto que os processos de execução para entrega de coisa certa e para prestação de
facto se possam converter em processo de execução para pagamento de quantia certa.
A obrigação pecuniária reveste a natureza de obrigação de quantidade, cujo objecto é
um certo valor expresso em moeda que tenha curso legal em Portugal (art. 550º CC),
seguindo esta modalidade. Já a obrigação de moeda específica e obrigação de moeda
com curso legal apenas no estrangeiro, tramita-se como processo executivo para
entrega de coisa certa.

5. Fase inicial.

A petição com que se inicia a acção executiva é designada como requerimento


executivo (art. 724º CPC). O requerimento executivo obedece ao formulário que se
encontra no CITIUS e é transmitido electronicamente ao tribunal (e ao agente de
execução nele designado), acompanhado pela cópia do título executivo (ver art. 724º/5
CPC) e pelos documentos relativos aos bens a penhorar e ao pagamento da taxa de
justiça (art. 724º/4 CPC). Os elementos que dele devem constar são os do art. 724º/1
CPC, sendo obrigatórios os dispostos nas alíneas a), b), d), e), f), g), k). A indicação da
causa de pedir só terá lugar se ela não constar já do título executivo.
Quando o título executivo contenha uma promessa de cumprimento ou
reconhecimento de uma dívida sem indicação da respectiva causa (art. 458º CC), o
exequente deve alegar a causa da obrigação, competindo ao tribunal ajuizar da sua
validade nos termos que ficaram indicados a propósito do título executivo.
Executando-se título referente a negócio jurídico para o qual a lei exija forma
escrita, o problema não se põe, visto que a causa deve constar do próprio título, sob
pena de este não poder fundar a execução.
A indicação de factos na petição inicial tem lugar igualmente quando:
 A obrigação precise de ser liquidada, para tal não bastando fazer cálculos
aritméticos, caso em que o requerimento executivo precisa de ser deduzido por
artigos. (art. 147º/2, 716º e 724º/1/h CPC)
 O título careça de prova complementar, por a certeza ou a exigibilidade dele não
resultar.
 O exequente requeria a dispensa da citação prévia do executado, com base no
receio da perda da garantia patrimonial do crédito. (art. 727º e 724º/1/j CPC)
 O exequente alegue que é comum a dívida constante de título, diverso de
sentença, formado apenas contra um cônjuge (art. 741º/1 e 724º/1/e CPC)
Constituem menções facultativas ou eventuais do requerimento executivo o disposto
nos arts.
724º/c/h/i, 745º/1 e 724º/2/3 CPC.
A apresentação do requerimento executivo só se considera concluída nos termos do
art. 724º/6 CPC.

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5.1. Tramitação complementar do requerimento inicial

O requerimento inicial pode ser recusado pela secretaria, nos casos do art. 725º/1
CPC: quando tenha sido omitido um requisito do requerimento executivo, ou quando
não seja apresentado o título executivo ou seja manifesta a insuficiência do título
apresentado. O acto de recusa é reclamável para o juiz, mas a decisão deste é
irrecorrível, salvo quando se funde na falta de exposição dos factos (art. 725º/2 CPC).
Recebido o requerimento inicial, seguem-se a distribuição e a autuação, bem como as
eventuais diligências para tornar certa ou exigível a obrigação, a designação do agente
de execução pela secretaria, quando o exequente o não tenha designado ou ele tenha
recusado a designação feita, e a subsequente notificação a este da designação
efectuada. (art. 720º/3 CPC)
Segue-se a produção de prova complementar do título, nos casos em que deva ter
lugar. A apresentação do requerimento executivo só se considera concluída com o
pagamento ao agente de execução da quantia que lhe seja inicialmente decida a título
de honorários e despesas (art. 724.º/6/a)).
Recebido o requerimento executivo, poderá, pois, acontecer uma de duas coisas:
1) Recusa  Extingue-se a execução, excepto no caso de que seja
apresentado novo requerimento.
2) Recebimento pela secretaria  Tramitação subsequente.

5.2. Despacho liminar.

Há despacho liminar quando a forma do processo seguida seja a ordinária. Este


pode ser de indeferimento (total ou parcial), de aperfeiçoamento ou de citação (aquele
que ordena ou dispensa a citação prévia do executado em relação à penhora).
 Quando haja despacho liminar, o juiz deve convidar o exequente a suprir a
falta de pressupostos processuais e as outras irregularidades de que enferme
o requerimento executivo, desde que sanáveis (art. 726º/4 CPC), e só no caso
de não suprimento deve, num segundo despacho, indeferir o requerimento
(art. 726º/5 CPC).
 O indeferimento liminar imediato é reservado para os casos em que seja
manifesta a falta insuprível, ocorrendo quando seja manifesta:
o A falta insuprível de pressuposto processual de conhecimento oficioso,
não tendo a secretaria recusado o requerimento, art. 762.º/2, al. a) e
b)).
o Actual inexistência da obrigação exequenda constante do título
negocial, por causa oficiosamente cognoscível (art. 762.º/2/c)).

Como vimos, passado o momento do despacho liminar, é ainda possível ao juiz vir a
conhecer, até ao primeiro acto de transmissão de bens penhorados ou de consignação
dos respectivos rendimentos, de qualquer das questões que, nos termos do art. 726.º/2
a 5, podiam ter conduzido ao convite ao aperfeiçoamento ou ao indeferimento liminar
do requerimento (art. 724.º). Só com esse primeiro acto de transmissão preclude a
possibilidade de apreciação, no âmbito do processo executivo, dos pressupostos
processuais gerais e das questões de mérito respeitantes à existência da obrigação
exequenda.

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Até esse momento, o juiz deve convidar à supressão da irregularidade ou da falta de


pressuposto ou rejeitar oficiosamente a execução, proferindo neste caso despacho de
extinção de instância.
Desde a revisão, o CPC admite expressamente o indeferimento liminar parcial (art.
726.º/3), designadamente quanto à parte do pedido que exceda os limites constantes
no título executivo ou aos sujeitos que careçam de legitimidade para figurar como
exequentes e executados. Manda prosseguir a execução corrigindo o erro.

5.3. Citação do executado.

Proferido o despacho de citação, é o executado citado para, no prazo de 20 dias,


pagar ou se opor a execução. (art. 726º/6 CPC)
Pode o exequente requerer a dispensa da citação précia do executado quando
justificadamente receie perder a garantia patrimonial do crédito (art. 727º CPC). É o
enxerto de uma providência cautelar na fase liminar da acção executiva: o credor
serve-se da própria execução para conseguir o efeito de acautelamento do seu direito,
que a citação do devedor ameaçaria. Para tanto, deve alegar e provar os factos que
justifiquem o perigo de perda da garantia patrimonial.
A dispensa da citação prévia pode ser requerida relativamente a qualquer
executado, incluindo o devedor subsidiário com benefício de excussão prévia.
Dispensada a citação prévia, o executado é citado depois da penhora, podendo nos
20 dias subsequentes opor-se à penhora ou à execução ou a ambas cumulativamente
(art. 727º/4 e 856º/1/3). Se a oposição à execução improceder, o exequente responderá
pelos danos que culposamente causa ao executado, se não tiver actuado com
prudência normal, além de incorrer em multa e sem prejuízo de eventual
responsabilidade criminal (art. 727º/4 e 858º CPC).
Quando ocorra a cumulação sucessiva, o executado já não é novo de novo citado,
mas apenas notificado para o efeito. (art. 728º/4 CPC)

6. Oposição à execução.

Uma vez citado(s), o(s) executado(s) pode(m) opor-se à execução por meio de
embargos (art. 728.º/1). A oposição do executado visa a extinção da execução, total ou
parcial, mediante o reconhecimento da actual inexistência do direito exequendo ou da
falta de um pressuposto, específico ou geral, da acção executiva. Os embargos de
executado constituem uma verdadeira acção declarativa, que corre por apenso ao
processo de execução – nela é possível, não só levantar questões de conhecimento
oficioso, mas também alegar factos novos, apresentar novos meios de prova e levantar
questões de direito que estejam na sua disponibilidade. Como resulta também do art.
787º CPC, também pode opor-se à execução o cônjuge do executado, citado nos termos
do art. 786º/1/a CPC.
O CPC enumera os fundamentos de oposição à execução, distinguindo-se consoante
se trate de sentença judicial (art. 729.º/a) a h)), sentença de tribunal arbitral (art.
730.º), sentença homologatória (art. 729.º/i)), ou outro título (art. 731.º):
• Execução de sentença dos tribunais estaduais, art. 729.º: a oposição à
execução pode fazer-se por falta de pressupostos processuais gerais ou específicos da
acção executiva e a inexistência actual da obrigação exequenda, incluindo a
compensação. São estes os seus fundamentos:

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 Inexistência ou inexequibilidade do título;


 Falsidade ou infidelidade (Falsidade ocorre nos casos indicados no art.
372º/2 CPC, podendo revestir a modalidade de falsidade ideológica ou de falsidade
material, incluindo nesta última a contrafacção, e tem por objecto todo o processo
declarativo, a sentença nele proferida ou o traslado. Ocorrendo falsidade de um acto do
processo, deverá ela ser arguida nos termos do art. 446º a 450º CPC, nada disso tendo
a ver com a oposição à execução. A falsidade é de conhecimento oficioso se for
evidente em face dos sinais exteriores do processo ou do traslado (art. 372º/3 CC). Já a
infidelidade do traslado integra-se no conceito de falsidade da própria certidão ou
fotocópia a que se referem os arts. 385º CC e 387º CC e não dá lugar ao incidente do
444º/3 CPC, mas à dedução de oposição por embargos. Este vício só pode ser de
conhecimento oficioso quando o processo declarativo original se encontre no tribunal
da execução, embora se possa verificar o disposto no art. 436º CPC.);
 Falta de pressuposto processual geral (inclui-se aqui a litispendência) – a
dedução de oposição em que se queira fazer valer a falta de qualquer pressuposto
processual geral não preclude a possibilidade do seu suprimento, nos autos do
processo executivo, nos termos gerais do art. 6º/2 CPC. Suprida a falta do pressuposto,
cessa o fundamento da oposição, que o juiz julgará improcedente. Mas se, dependendo
o suprimento da falta do pressuposto de um acto do exequente, o juiz tiver proferido
despacho de aperfeiçoamento do requerimento executivo, o exequente não tiver
sanado o vício e o juiz tiver omitido o subsequente despacho de indeferimento liminar,
pode ter precludido a possibilidade de suprir a falta do pressuposto ou ser ainda
admissível o suprimento;
 Falta ou nulidade de citação – Há falta de citação nos casos do art. 188º
CPC e nulidade, quando, fota destes casos, tenha havido na realização do acto,
preterição de formalidade prescrita pela lei (art. 191º/1 CPC). A falta da citação só fica
sanada se o réu intervier no processo sem logo a arguir (art. 189º CPC); quanto à
nulidade da citação, embora a sua arguição no processo declarativo deva, em regra, ter
lugar no prazo indicado para a contestação (art. 191º/2 CPC), pode ser invocada em
embargos de executado quando não tenha sido feita valer no processo declarativo,
desde que a acção tenha corrido à revelia do réu. A falta de citação é de conhecimento
oficioso (art. 196º CPC), enquanto a nulidade tem que ser arguida pelo réu (art. 197º
CPC), de onde resulta que a primeira pode fundar o indeferimento liminar, enquanto a
segunda só pode ser arguida nos embargos. Tenha-se em conta o fundamento de
revisão do art. 696º/e CPC. Cfr ainda art. 851º CPC.
 Incerteza, inexigibilidade ou iliquidez da obrigação;
 Caso julgado – Quando, fora do esquema de impugnações, são proferidas
duas decisões sobre a mesma questão, apenas é eficaz a que primeiro transitar em
julgado (art. 625º CPC), com a consequência de ser inexequível a segunda, pelo que,
pedida a execução desta, pode o executado opor-se. Esta excepção é de conhecimento
oficioso (art. 578º CPC) e quando o processo em que foi proferida a decisão
primeiramente transitada tenha ocorrido no mesmo tribunal também o é o facto em
que ela se funda (art. 412º CPC);
 Facto extintivo ou modificativo da obrigação – Abrange as várias causas
de extinção das obrigações, bem como aquelas que a modificam. Ao exigir-se prova
documental destes factos e sem prejuízo da prova por confissão do exequente,
introduz-se um desfasamento entre o direito substantivo (art. 395º CC) e o processo
executivo. A alínea g) do art. 729º CPC põe ainda a questão de saber se se contenta, no

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caso das excepções em sentido próprio, com a ocorrência, ao tempo, dos respectivos
pressupostos ou exige que também até então tenha tido lugar a declaração de
querer

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fazer valer a excepção, dado que tal declaração constitui um pressuposto do efeitos
jurídico dela decorrente. Da consideração do lugar paralelo do art. 860º CPC retira-se
que a excepção em sentido próprio não pode ser feita na oposição quando se baseia
em pressupostos já verificados à data do encerramento da discussão, logo após prestar
depoimento a última testemunha. (se, por ex., o devedor tiver pago antes da acção
declarativa mas não tiver invocado a excepção no processo, isto preclude a
possibilidade de o fazer na acção executiva);
 Compensação – a compensação é excepção peremptória e a lei estabelece
um ónus de reconvenir na acção declarativa, cuja observância é suporte necessário da
invocação da excepção. A consideração deste fundamento em alínea separada da dos
restantes factos extintivos da obrigação exequenda liberta o executado do ónus de
provar através de documento, quer o facto constitutivo do contracrédito e as suas
características relevantes para o efeito do art. 847º CC, quer a declaração de querer
compensar (art. 848º CC), no caso de esta ter sido feita fora do processo. A invocação
da compensação só não será admissível quando ela já era possível à data da
contestação da acção declarativa.
 Prescrição – art. 311º CPC.

Nos casos em que o fundamento dos embargos de executado constitui também


fundamento do recurso extraordinário de revisão, a pendencia deste à data em que o
executado é citado para a execução da sentença recorrida não dispensa o executado
de se opor à execução que o recurso de revista não suspende. (art. 699º/3 CPC). Uma
vez deduzida a oposição, terá lugar a suspensão da instância de recurso até que a
oposição seja definitivamente julgada.

• Execução de sentença homologatória de confissão ou transação : para


além dos fundamentos da al. a) a h), podem ser ainda invocadas quaisquer causas que
determinem a nulidade ou a anulabilidade do negócio jurídico homologado (al. i)). Cfr
ainda 291º CPC. Quando se trata de executar a sentença homologatória do negócio
jurídico, este não está, obviamente, cumprido.
• Execução de sentença de tribunal arbitral, art. 730.º: além dos
fundamentos do art. 729.º temos também aqueles em que se pode basear a anulação
da decisão arbitral (art. 730.º), desde que a anulabilidade não esteja sanada pelo
decurso do prazo para a acção de anulação e desde também que a acção de anulação
não tenha sido definitivamente julgada improcedente (art. 48 LAV).
• Execução de outro título, art. 731.º: os embargos à execução baseada em
outro título que não o requerimento de injunção ao qual tenha sido aposto fórmula
executória podem fundar-se em qualquer causa do art. 729.º, bem qualquer outra
causa que fosse lícito deduzir como defesa no processo de declaração (art. 731.º). Isto
compreende-se pois o executado não teve ocasião de, em acção declarativa prévia, se
defender amplamente da pretensão do exequente. Pode o executado alegar nos
embargos matéria de impugnação e de excepção (art. 571º/2 CPC). Por ex., o devedor
já pode aqui alegar o pagamento da dívida.

Uma questão que se coloca é a de saber se a enunciação dos fundamentos de


oposição à execução deve ter-se ou não por taxativa. Para LEBRE DE FREITAS, o meio
adequado para suprir um fundamento não indicado (ex: falta de indicação do valor da
acção) deve ser o requerimento da parte ao juiz do processo (art. 723.º/1/d)). O direito

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de defesa do executado e o princípio do contraditório não podem nunca ser preteridos;


mas, sempre que a contrariedade possa ser

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assegurada por um simples requerimento, essa é a via que permitirá colmatar as


lacunas das normas que regulam a defesa do executado, com as vantagens da maior
simplicidade do meio e da não violentação do texto legal do art. 729º CPC.
Uma questão que se coloca é a de saber se, sendo o título um requerimento de
injunção ao qual tenha sido aposto fórmula executiva, é possível a oposição à
execução com base no art. 729.º/g) (facto extintivo ou modificativo da obrigação).
Antes do novo CPC, a doutrina defendia que não era admissível a oposição à execução,
quando tivesse por base este título, com fundamento num facto extintivo ou
modificativo de uma obrigação. Isto porque no procedimento para formação do
requerimento de injunção, o devedor é notificado para se opor; como tal, não poderia
opor-se à execução por já ter tido oportunidade para o fazer. O Tribunal Constitucional
chegou a declarar a inconstitucionalidade da norma do CPC anterior que estabelecia a
equiparação aos fundamentos do art. 729.º nesta parte. Porém, o novo CPC, no art.
857.º, estabelece expressamente que pode invocar qualquer dos fundamentos do art.
729.º, logo pode invocar qualquer facto extintivo ou modificativo da obrigação. (Ver Ac.
TC nº 264/2015)

6.1. Natureza, preclusão e caso julgado.

A oposição à execução toma o carácter de uma contra-acção, tendente a obstar à


produção dos efeitos do título executivo e/ou da acção que nele se baseia:
• Quando veicula uma oposição de mérito à execução, visa um acertamento
negativo da situação substantiva, cujo fim é obstar ao prosseguimento da acção
executiva através da eliminação, por via indirecta, da eficácia do título executivo
enquanto tal.
• Quando se baseie na falta de um pressuposto processual, visa obstar ao
prosseguimento da acção executiva através do reconhecimento da sua
inadmissibilidade. Trata-se de uma pretensão de acertamento negativo de falta de um
pressuposto processual.

Tratando-se de uma acção declarativa e não de uma contestação, a dedução da


oposição à execução não representa a observância de qualquer dos ónus cominatórios
a cargo do réu na acção declarativa: nem a omissão da oposição produz a revelia, nem
a omissão da impugnação de um facto constitutivo da causa de pedir da execução
produz efeitos probatórios. Porém, na medida em que a oposição à execução é o meio
idóneo para alegar os factos que em processo declarativo constituiriam matéria de
excepção, o termo do prazo para a sua dedução preclude o direito de os invocar no
processo executivo. A não observância do ónus de excepcionar não acarreta uma
cominação, mas tão-só a preclusão de um direito processual cujo exercício se poderia
revelar desvantajoso. Uma vez que não há efeito de caso julgado no processo
executivo, pode-se invocar uma excepção não deduzida noutro processo. A decisão
neste subsequentemente proferida não tem eficácia no processo executivo, mas pode
conduzir à restituição ao executado da quantia conseguida na execução, pelo
mecanismo da restituição do indevido.
O art. 732.º/5 diz que a decisão de mérito proferida nos embargos à execução
constitui caso julgado material quanto à existência, validade e exigibilidade da
obrigação exequenda. Esta norma, introduzida no novo CPC, veio resolver uma
divergência doutrinal, uma vez que certos autores defendiam que o caso julgado

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formado nos embargos do executado se circunscrevia ao processo executivo. Porém,


compreende-se que forme caso julgado material, uma vez que esta é uma acção
declarativa que segue a forma de processo comum e assegura todas as garantias do
contraditório,

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podendo o exequente e executado expor todas as suas razões. Não faria sentido que
estes pudessem levantar as mesmas questões noutro processo.
No caso de haver vários executados litisconsortes e nem todos se oponham à
execução, entende- se que a sentença proferida na oposição só é vinculativa entre o
embargante e o exequente, não sendo os restantes executados abrangidos pela
eficácia do caso julgado. Consequentemente, se a oposição for julgada procedente, só
perante o embargante se produzirá, consoante o caso, o efeito directo de caso julgado
material da decisão da oposição de mérito ou o de caso julgado formal da decisão
sobre pressupostos processuais. Os restantes executados, terceiros relativamente ao
processo de oposição, não são abrangidos pela eficácia directa do caso julgado que
nele se forme: as situações jurídicas de que são titulares limitam-se a registar, se for
caso disso, as repercussões indirectas que lhe possam caber segundo o direito
substantivo em nada mais lhes aproveitando a dedução dos embargos. Exceptuam-se
os casos de litisconsórcio na acção executiva, em que o recurso do mecanismo do art.
261º/1 é necessário para garantir a legitimidade do embargante.

6.2. Prazos, efeitos da pendência e tramitação

A oposição à execução deve ser deduzida no prazo de 20 dias a contar da citação do


executado ou, no caso de cumulação sucessiva de pedidos, da sua posterior notificação
(art. 728.º/1; há, porém, a possibilidade de embargos supervenientes (art. 728.º/3).
Deduzida a oposição à execução, esta não é, em regra, suspensa (art. 733.º/1), mas
nem o exequente nem outro credor pode ser pago sem prestar caução (art. 733.º/4).
Porém, existem três possibilidades de o embargante conseguir a suspensão da
execução (art. 733.º/1, al. a) a c)):
• Prestação de caução – Pode ter lugar a todo o tempo nos termos do art. 913º e
915º CPC. O seu valor há-de ser patrimonialmente equivalente ao valor da acção
executiva, juros e custas.
• Quando o embargante alegue que a assinatura não é genuína (no caso de
documento particular sem assinatura reconhecida) – Neste caso, o juiz só suspenderá a
execução se, ouvido o executado se convencer da séria probabilidade de a assinatura
não ser do devedor;
• Impugnação da exigibilidade ou liquidação da obrigação – pode o juiz, ouvido o
embargado, suspender a execução com dispensa se prestação de caução; de acordo
com o art. 733º/3 CPC, cessa a suspensão se, durante mais de 30 dias, o embargante
mantiver, com negligência, o processo de embargos parado. Esta suspensão mantém-
se na fase de recurso. Com a decisão definitiva sobre a oposição, a execução extingue-
se, quando a oposição proceda (art. 732º/4 CPC), ou prossegue, quando improceda, os
mesmos efeitos se produzindo se não tiver havido suspensão.
O art. 733.º/5, introduzido no novo CPC, diz que quando a oposição respeita à casa
de habitação do executado e a venda possa causar prejuízo irreparável ou de difícil
reparação, o juiz pode determinar que a venda aguarde a decisão (art. 785.º/4).

Os embargos à execução constituem uma verdadeira acção declarativa, seguindo a


tramitação do processo declarativo.
• Inicia-se com uma petição inicial, que terá de ser articulada (art. 147.º/2).

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• Uma vez autuada, o processo é concluso ao juiz para que este profira despacho
liminar. O despacho deve ser de indeferimento se os embargos tiverem sido deduzidos
fora do prazo (art.

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731.º/a)); se for invocado fundamento para além dos admitidos nos arts. 729.º a 731.º;
e se for manifesta a improcedência da oposição (art. 732.º/1/c)). Deve sê-lo também se
ocorrer, nos embargos de executado, excepção dilatória insuprível de que o juiz deva
conhecer oficiosamente (art. 590º/1 CPC). Pode o despacho também ser de
aperfeiçoamento.
• Proferido despacho de citação, o exequente é notificado para contestar no
prazo de 20 dias (art. 732.º/2). Não contestando o exequente, consideram-se admitidos
os factos alegados na petição de embargos, aplicando-se o art. 567.º/1 (revelia do réu)
com as excepções do art. 568.º; porém, porque o exequente que não conteste já
assumiu a posição de vir a juízo, não são dados como provados os factos da petição de
embargos que estejam em oposição com o requerimento da execução (art. 732.º/3).
• Terminada a fase dos articulados, aplicam-se aos termos subsequentes do
processo as normas do processo comum de declaração (art. 732.º/2). Ou seja, esta é
uma acção com um processo especial na fase liminar e, após a execução, segue os
termos do processo comum (audiência prévia, audiência final ou julgamento). Note-se
apenas que é admissível a suspensão da instância dos embargos de executado por
ocorrência de causa prejudicial. (art. 227º/1 CPC)

Note-se apenas que se houver dispensa de citação prévia, na tramitação comum


ordinária, tal significa que se realizará directamente a penhora. Ora, só depois da
penhora é que o executado se vai defender relativamente à execução e
simultaneamente relativamente à penhora. Na forma sumária, não há despacho liminar
nem citação prévia, havendo também oposição à penhora e à execução cumuladas.

7. Objecto da penhora.

A penhora é a apreensão judicial de bens do executado feita no quadro de uma


acção executiva para pagamento de uma quantia certa, privando-se o executado do
pleno exercício dos poderes sobre esses bens, com vista à realização das finalidades da
acção executiva (venda, entrega de dinheiro penhorado, consignação de rendimentos
ou adjudicação dos bens apreendidos). A penhora traduz-se, pois, numa apreensão
judicial dos bens do executado, sendo um acto fundamental para a execução para
pagamento de quantia certa – é o acto executivo por excelência.
Se não tivéssemos penhoras, o executado poderia, por ex., alinear os seus bens,
que já não poderiam ser objecto de execução. O executado fica assim privado de
exercer os poderes que integram os direitos sobre os bens. Com a desjudicialização do
processo executivo, a penhora não precisa de ser precedida por despacho de um juiz.
Assim, as duas funções da penhora são:
• Especificar, isolar e determinar os bens ou direitos que serão apreendidos, para
que possam ser transmitidos;
• Conservar os bens ou direitos, impedindo que possam ser ocultados, deteriorados,
onerados ou alienados em prejuízo do requerente.

Note-se que a penhora se distingue da apreensão para entrega de coisa certa e do


arresto.
• A penhora não se confunde com o arresto, que é um procedimento cautelar que
serve para acautelar um direito de crédito ainda incerto, mas provável (art. 391.º e
segs.), enquanto a penhora é um acto do processo de execução, que visa reintegrar

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efectiva e coercivamente um crédito cuja existência se presume em função da


apresentação do título executivo. Por outro lado, enquanto que

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o arresto antecipa a futura sujeição à execução, sendo um meio de conservação de


garantia patrimonial, a penhora representa já o actuar na execução da
responsabilidade patrimonial. Outra diferença ainda é a de que, enquanto que o arresto
só pode ter por objecto bens do devedor ou adquiridos por um terceiro ao devedor (art.
391.º/1 e 392.º/2), a penhora pode incidir sobre bens de terceiros, quando sobre estes
incida direito real constituído para garantia do crédito exequente ou quanto tenha sido
julgada procedente impugnação pauliana (art. 735.º/2). No entanto, o arresto pode ser
convertido em penhora, retrotraindo-se os seus efeitos à data do registo do arresto (art.
822.º/2).
• Por outro lado, distingue-se também da apreensão para entrega de coisa
certa, que tem lugar na acção de execução para entrega de coisa certa. Nesta acção, o
credor não requer a execução do património do devedor (art. 817.º CC), mas sim a
entrega judicial da coisa devida (art. 827.º CC). Assim, não há lugar a penhora, mas
antes o tribunal procede à apreensão da coisa e a sua imediata entrega ao exequente,
após efectivação das buscas e outras diligências necessárias (art. 861.º). A apreensão
não tem a função e efeitos da penhora: não consubstancia a constituição de um direito
real de garantia nem é dirigido à ulterior transmissão da coisa apreendido, mas sim à
sua entrega ao exequente. Como tal, não confere ao exequente qualquer direito de
garantia nem opera a transferência da posse da coisa para o tribunal, e também não se
põe o problema da ineficácia dos direitos dispositivos. Para além disto, os limites
objectivos da penhorabilidade dos bens não têm aqui aplicação.

Como sabemos, a garantia geral das obrigações é constituída por todos os bens que
integram o património do devedor – responsabilidade patrimonial, que é fundamento
de toda a execução por equivalente, bem como da execução específica das obrigações
pecuniárias. As figuras da garantia especial e da impugnação pauliana, bem como as
limitações e condicionamentos da responsabilidade patrimonial introduzem excepções
e especialidade a que há que atender quando se põe a questão do objecto possível de
penhora.
Da articulação dos arts. 735.º/1 e 2 e 736.º a 739.º com os arts. 601.º e 818.º CC,
retiram-se os seguintes princípios gerais:
• Todos os bens que constituem o património do devedor, principal ou subsidiário,
podem ser objecto de penhora, à excepção dos bens inalienáveis e de outros que a lei
declare impenhoráveis (art. 735.º/1).
• Os bens de terceiro só podem ser objecto de execução em dois casos: quando
sobre eles incida direito real constituído para garantia do crédito exequendo; ou quando
tenha sido julgada procedente impugnação pauliana de que resulte para o terceiro
obrigação de restituição dos bens ao credor (art. 735.º/2).
• É preciso ter em conta os desvios resultantes da existência de património
autónomos, constituição de garantias reais sobre bens do devedor e da articulação de
responsabilidades entre devedor principal e subsidiário – regimes de penhorabilidade
subsidiária.
• Nunca podem ser penhorados senão bens do executado, seja este o devedor
principal, um devedor subsidiário ou um terceiro. Esta regra não tem excepções.

Desde 2003 que se consagra o princípio da proporcionalidade da penhora, que está


hoje reflectido no art. 735º/3 CPC - Os bens penhorados devem limitar-se à quantidade
necessária e

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suficiente para saldar a dívida exequenda e as presumíveis despesas da execução. Este


princípio tem ainda reflexo noutras normas do CPC:
 Art. 751.º CPC: segundo o nº1, a penhora começa pelos bens cujo valor
pecuniário seja de mais fácil realização. Tem de haver uma adequação entre
os bens penhorados e a quantia da dívida. Os bens penhorados de mais fácil
realização são os bens móveis, e dentro deles os depósitos bancários e outros
valores depositados em bancos e instituições financeiras; depois, os móveis
sujeitos a registo. O art. 751.º/3 trata daqueles casos em que não há outra
hipótese senão penhorar bens de grande importância para o executado, em
que há inevitavelmente uma desproporção. Se a dívida for de 2.500€ ou
menos e não for possível penhorar outros bens no prazo de 12 meses (por
ex., o executado só tem a casa onde habita), já se pode penhorar a casa de
habitação (al. a)) – seria injusto deixar o credor sem realizar o seu crédito. O
n.º 4 diz que a penhora pode ser reforçada ou substituída. Atente-se ainda no
nº2 do preceito.
 Art 752º/1 CPC: para os casos em que há bens onerados com garantia real e
bens indivisos.

7.1. Penhora e disponibilidade substantiva.

Não podem ser apreendidos bens objectivamente indisponíveis, como os bens do


domínio público (art. 736º/b CPC) e os bens inalienáveis do direito privado (736º/a
CPC).
Já as normas de indisponibilidade subjectiva, actuam eliminando ou restringindo os
poderes de disposição do sujeito sobre os bens próprios.
No primeiro caso, o poder de disposição é atribuído a um não titular do direito, quer
para o exercício dum direito próprio da pessoa a quem é atribuído, com fim de garantia,
quer para a realização do interesse do respectivo titular, incapaz de o exercer. Este
caso não tem relevância em sede de penhorabilidade.
No segundo caso, a limitação do poder de disposição traduz-se na necessidade de o
titular do direito obter, para dispor, uma autorização ou consentimento alheio, também
quer por consideração do seu próprio interesse, quer por consideração do interesse da
pessoa que terá de autorizar ou consentir o acto dispositivo. Pode levantar alguns
problemas consoante a limitação seja extrínseca ou intrínseca face ao direito em causa.
(Ver LEBRE DE FREITAS, A acção executiva, páginas 238-244)

7.2. Impenhorabilidades.

Existem bens que não podem ser penhorados dada a consideração de interesses
gerais, interesses vitais do executado ou interesses de terceiros que o sistema jurídico
entende que devem sobrepor-se aos do credor exequente. A impenhorabilidade pode
ser absoluta e total, relativa, ou parcial, sendo ainda necessário distinguir a
penhorabilidade subsidiária.
1) Impenhorabilidade absoluta: os bens absolutamente impenhoráveis jamais
podem ser penhorados na sua totalidade, seja qual for a dívida exequenda. Estão
previstos no art. 736.º CPC; porém, este preceito não é taxativo, sendo que até nos
remete para outros exemplos, previstos no direito substantivo. São absolutamente
impenhoráveis:

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• As coisas ou direitos inalienáveis, bem como os bens do domínio


público (art. 736.º/a) e b)) – estes são casos de indisponibilidade objectiva dos bens.

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• Os objectos cuja apreensão seja ofensiva dos bons costumes, os


objectos especialmente destinados ao exercício de culto público e os túmulos (art.
736.º/d), d) e e)), por razões de interesse geral.
• Bens de valor económico nulo ou diminuto (art. 736.º/c)), uma vez que a
penhora se subordina à satisfação de direitos patrimoniais.
• Bens indispensáveis à integridade física do executado (art. 736.º/f)).
• Ver art. 736º/g, introduzida pela Lei 8/2017.

2) Impenhorabilidade relativa: os bens relativamente impenhoráveis são


aqueles cuja penhora está dependente da verificação de determinadas circunstâncias
ou da natureza das dívidas exequendas. No art. 737.º, encontramos uma lista de bens
relativamente impenhoráveis. São exemplo os seguintes bens:
• Bens do Estado (e não bens do domínio público) que se encontrem
especialmente afectos à realização de fins de utilidade pública (n.º 1).
• Bens essenciais, que asseguram ao agregado familiar do executado um
mínimo de condições de vida – são impenhoráveis, salvo quando se trate de execução
destinada ao pagamento do preço da respectiva aquisição ou custo da sua reparação
(n.º 3).
• Instrumentos de trabalho (n.º 2).

3) Impenhorabilidade parcial: um bem é parcialmente impenhorável quando


estiver isento de penhora apenas em certa parte ou fracção aritmeticamente calculada.
São parcialmente impenhoráveis os créditos mencionados no art. 738.º, que abrange
vencimentos, salários, ou que quaisquer prestações de qualquer natureza que
assegurem a subsistência do executado (por ex., pessoa que só vive de rendas). O n.º 1
estabelece que são impenhoráveis 2/3 destes créditos. Esta impenhorabilidade tem os
limites do n.º 3, que serve para corrigir injustiças que possam decorrer desta frieza
percentual, máximo e mínimo (3 salários mínimos: 3x557 = 1671 euros [mínimo]). O nº
4 diz respeito ao crédito exequendo de alimentos (pensão social do regime não
contributivo – 203 euros). A impenhorabilidade dos direitos de crédito estende-se à
quantia em dinheiro ou ao depósito bancário que resulte da sua satisfação (art. 739.º).
A equiparação deve, porém, cessar, atenta a razão da impenhorabilidade do direito de
crédito, quando cesse a presunção de que a quantia ou depósito se destina ao mesmo
fim típico que o crédito visava satisfazer.

4) Penhorabilidade subsidiária: fala-se em penhorabilidade subsidiária quando


um bem ou património só possa ser penhorado depois de outros bens ou património se
terem revelado insuficientes para a satisfação do crédito exequendo ou ter havido
prévia excussão dos bens primeiramente obrigados. Está prevista no art. 745.º (fiança –
benefício de excussão).

Nota: um exemplo de impenhorabilidade por consideração de interesses de terceiro


constitui o do art. 1184º CC: os bens que o mandatário sem poderes de representação
haja adquirido em execução do mandato e que devem ser transferidos para o
mandante não respondem pelas dívidas do mandatário, desde que o mandado conste
de documento anterior à data da penhora e não tenha sido feito o registo da aquisição,
se se tratar de bens sujeitos a registo.

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7.3. Impenhorabilidade convencional.

No âmbito da disponibilidade das partes, podem estas, por negócio jurídico,


estipular a impenhorabilidade específica de determinados bens por dívidas também
determinadas. Isto é permitido, entre outros, pelos seguintes preceitos da lei civil: arts.
602º, 603º e 833º CC.

7.4. Penhorabilidade subsidiária.

Acontece, por exemplo:


 Em consequência da separação entre património comum dos
cônjuges e património próprio de cada um deles, nos regimes de
comunhão geral e comunhão de adquiridos.

Um caso muito importante da penhorabilidade subsidiária é o da penhora por


dívidas da responsabilidade de um ou de ambos dos cônjuges.
o Pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os
cônjuges, respondem os bens comuns do casal e só na falta ou
insuficiência é que respondem, solidariamente, os bens próprios de
qualquer dos cônjuges (arts. 1691º/1/2; 1693º/2; 1694º/1 e nº2/2ª
parte  1695º CC).
o Pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges
respondem os bens próprios do devedor e só na sua falta ou
insuficiência é que responde a sua meação nos bens comuns (arts.
1692º, 1693º/1 e 1694º/1  1696º CC.). O art. 1696.º/2 estabelece
uma excepção, em que os bens comuns respondem ao mesmo tempo
que os próprios.

Desde 1995 deixou de haver distinção entre as dívidas que davam lugar á
moratória e aquelas que a ela não davam lugar, sendo que todas as dívidas da
exclusiva responsabilidade de um cônjuge podem dar hoje lugar à penhora subsidiária
de bens comuns, sem se ter de esperar a dissolução do casamento, declaração de
nulidade ou anulação e ainda separação dos bens do casal.
O art. 740.º/1 CPC aplica-se à execução movida contra um só dos cônjuges,
admitindo a penhora de bens comuns do casal – cabem aqui não só os casos de
responsabilidade exclusiva do executado, mas também aqueles em que a
responsabilidade é comum, segundo a lei substantiva, mas a execução foi movida
contra um só dos responsáveis – quer haja título executivo contra ambos, quer haja
título executivo apenas contra o executado. (caso em que o credor, querendo executar
ambos os cônjuges, teria de propor previamente acção declarativa contra marido e
mulher: 34º/3 CPC). O regime é o seguinte:
• Sendo a dívida da responsabilidade exclusiva do executado, a penhora
deve começar pelos bens próprios dele e só depois pode ser penhorada a meação.
• Sendo a dívida comum e havendo título executivo contra ambos os
cônjuges, a penhora deve começar pelos bens comuns e só na sua falta ou
insuficiência pode incidir sobre bens próprios.

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• Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em sentença que


apenas constitua título executivo contra um dos cônjuges, o executado não
pode alegar que a dívida é comum. Se este não cumpriu o ónus de chamar o cônjuge a
intervir na acção principal (litisconsórcio conveniente), no processo declarativo, isto
preclude a invocação da comunicabilidade da dívida.

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Assim, apesar de a dívida ser comum nos termos do direito substantivo, seguem-se as
regras das dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges: a penhora deve começar
pelos bens próprios e só depois pode ser penhorada a meação. Isto sem prejuízo do
apuramento ulterior de contas entre os cônjuges (1687º/1 CC) e da possibilidade de o
credor ainda propor nova acção declarativa contra o cônjuge não condenado.
• Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em título
extrajudicial contra um só cônjuge, os arts. 741.º e 742.º permitem a invocação da
comunicabilidade da dívida, com a consequência do convite ao cônjuge do executado
para vir declarar se aceita a comunicabilidade – o exequente em requerimento
autónomo, e o executado em oposição à penhora. A comunicabilidade da dívida é um
incidente enxertado no processo que pode ter lugar no requerimento executivo ou em
qualquer fase do processo até ao início das diligências para venda dos bens
penhorados, estando prevista no art. 741.º, e visando estender a eficácia subjectiva do
título executivo. Note-se que, negada pelo cônjuge a comunicabilidade da dívida,
segue-se a instrução, discussão e julgamento, nos termos gerais dos incidentes da
instância (arts. 741º /1 e 4, 742º/2 e 785º/2 CPC).
Permanece excluída a possibilidade de o executado inutilizar a execução,
mediante a oposição à penhora do bem próprio, nos termos do art. 784º/1/b, com
fundamento em que a dívida é comum e há que penhorar primeiro os bens comuns do
casal. Contra esta solução é invocável o disposto no art. 34º/3, que confere ao credor a
possibilidade de, no caso de facto praticado por um só cônjuge, mas responsabilidade
de ambos, escolher entre accionar um ou os dois. O interesse do executado deve aqui
ceder perante os interesses do credor, o que foi tido em conta com a criação deste
incidente para determinar se a dívida é própria ou comum.

Mas como é penhorada a meação nos bens comuns? Após a penhora dos bens do
casal na execução movida contra um dos cônjuges, tem lugar a citação do cônjuge do
executado, para requerer a separação de bens ou mostrar que esta já se encontra
requerida no cartório notarial competente (art. 740.º/1). Se o cônjuge nada fizer, a
execução prossegue nos bens penhorados; caso contrário, a execução é suspensa até
que se verifique a partilha (n.º 2). Note-se que, se o cônjuge tiver aceite que a dívida é
comum (comunicável), esta aceitação é incompatível com a separação de bens, pelo
que, se esta tiver sido requerida, ou se o cônjuge tiver provado que a requereu antes
de o executado suscitar a questão da comunicabilidade, a citação do cônjuge para o
efeito de se pronunciar sobre esta já não tem de ter lugar.

 Quando, por negócio ou por lei, há um devedor principal ou um


património colectivo que responde em primeiro lugar, e um devedor
subsidiário com o benefício de excussão prévia.

É o caso dos sócios da sociedade comercial em nome colectivo e da sociedade


civil, bem como os sócios comanditados da sociedade comercial em comandita que
respondem solidariamente entre si, mas subsidiariamente à sociedade, pelas dívidas
sociais e do fiador que não renunciou ao beneficio de excussão prévia. (art. 627º/2 e
638º CC) Aplicamos aqui o disposto no art. 745º CPC. Quanto à forma e prazo em que o
sócio ou fiador se pode valer do beneficio de excussão prévia, quando não é
automático, basta um simples requerimento e no prazo para os embargos de
executado (art. 745º/1 CPC).

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Estas normas aplicam-se aos casos em que, por via da existência de outro
património colectivo, só após a excussão destes respondem os bens dos respectivos
titulares – respondem em primeiro lugar os bens que o integram e só depois os bens
dos titulares, na falta ou insuficiência dos primeiros.

 Quando há bens do devedor especialmente afectados ao cumprimento


da obrigação.

É o caso dos bens que são especialmente afectos ao cumprimento de uma


obrigação quando se tenha constituído uma garantia real. Quando o bem onerado
pertença ao devedor, a penhora de outros bens só pode ter lugar depois se se verificar
a insuficiência do bem onerado. Esta regra não tem lugar quando, incidindo a garantia
sobre bem de terceiro, a propositura da execução tenha lugar só contra o devedor ou o
exequente nomeie à penhora bens deste.

 Quando a consideração de determinados interesses leva a só


permitir em último lugar a penhora de certos bens.

A consideração de determinados interesses leva a só permitir em último lugar a


penhora de certos bens. É o que sucede, no caso de execução por dívida pessoal do
sócio, com o direito ao produto da liquidação da quota deste na sociedade civil (art.
999.º CC), na sociedade comercial (art. 183.º CSC) e, quanto aos sócios comanditados;
o mesmo sucede quanto ao estabelecimento individual de responsabilidade limitada,
que só responde em último lugar pelas dívidas não respeitantes à actividade da
empresa, quando sejam insuficientes os restantes bens do comerciante (arts. 10.º/1 e
22.º DL 248/86).

7.5. Penhora em acção contra o herdeiro.

Decorre do art. 744.º/1 que, em execução movida contra herdeiro, apenas se podem
penhorar os bens recebidos do autor da herança. Isto decorre da limitação da
responsabilidade do herdeiro pelas dívidas da herança (art. 2071.º CC), já que estamos
aqui a falar das execuções por dívidas do de cujus.
Se a penhora recair sobre outros bens, o executado pode opor-se por simples
requerimento, em que pedirá ao agente de execução o levantamento da penhora,
indicando os bens da herança que tenha em seu poder (n.º 2). Ouvido o exequente, a
penhora é levantada se ele não deduzir oposição.
O exequente pode opor-se ao levantamento, caso em que temos duas hipóteses:
o A herança foi aceite a benefício de inventário e basta ao executado juntar
certidão do processo do qual constem os bens que recebeu da herança. Sem
prejuízo da arguição da falsidade da certidão junta e do direito de recurso do
despacho que o juiz vier a proferir, o incidente fica por aqui e o exequente só
em acção separada poderá demonstrar a existência de outros bens da
herança para além dos inventariados;
o A aceitação foi pura e simples e o executado tem de alegar e provar que
os bens penhorados não provieram de herança e que dela não recebeu mais
do que aqueles que indicou (n.º 3).

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7.6. Penhora em casos de comunhão ou compropriedade.

Nos termos do art. 743.º, na execução movida contra um executado que seja
contitular de um património autónomo ou bem indiviso, não podem ser penhorados os
bens compreendidos no património autónomo ou uma fracção do bem indiviso. Apenas
se pode penhorar o direito que a eles tiver o executado, sendo que este regime
abrange:
• A penhora do direito a uma herança por partilhar;
• Direito a uma quota-parte numa compropriedade;
• Penhora de um direito a um património autónomo, cuja titularidade pertença a
várias pessoas.
Assim, não se pode executar, em execução promovida contra A, comproprietário,
um prédio cuja titularidade pertença também a B e C, nem 1/3 desse prédio.
Porém, é necessário ressalvar o art. 781.º/4: os outros contitulares podem declarar
que não se opõem à venda do bem. Isto faz sentido pois, se for penhorada o direito do
executado (por ex., uma quota-parte numa propriedade) este será atribuída ao
exequente ou vendido a um estranho.

7.7. Extensão da penhora.

De acordo com o art. 758.º/1 (aplicável à penhora de móveis e de direitos pelos arts.
722.º e 783.º), a penhora abrange as partes integrantes e os frutos, naturais e civis, do
bem penhorado; salvo se forem expressamente excluídos ou se estiverem sujeitos a um
privilégio.
Se o bem penhorado se perder, for expropriado ou sofrer diminuição de valor, e se
houver lugar a indemnização de terceiro, a penhora passa a incidir sobre o crédito de
indemnização ou sobre as quantias pagas a esse título (art. 823.º CC).
Finalmente, quando for penhorado um bem imóvel divisível e o seu valor exceder
manifestamente o da dívida exequenda e dos créditos reclamados, o executado pode
requerer autorização para proceder ao seu fraccionamento (art. 759.º/1). Este pode
visar permitir a venda separada (a penhora mantém-se); ou o levantamento parcial da
penhora. A autorização é concedida pelo juiz.

8. A fase da penhora.

8.1. Atos preparatórios.

Não tendo sido prestada caução para suspender os embargos de executado; tendo
sido deduzidos embargos de executado e declarados improcedentes; não tendo sido
deduzidos embargos de executado, o art. 748º CPC manda prosseguir para a fase da
penhora.
No requerimento executado, é dada indicação dos bens do executado que o
exequente conheça (art. 724º/1/i CPC), com as precisões que lhe seja possível fornecer
(art. 724º/3 CPC), indicação que é dada na medida do possível. O agente de execução
não fica vinculado a penhorar os bens indicados: deve, em princípio, respeitar a
indicação que lhe é feita, mas só se tal não importar a

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inobservância da cláusula geral de proporcionalidade e adequação que lhe cabe


respeitar e que pode levar a que outros bens sejam penhorados (arts. 735º/3 e
751º/1/3 CPC).
Não estando vinculado à indicação feita pelo exequente para descoberta dos bens
do executado, o agente de execução começa por consultar o registo informático de
execuções (art. 748º/2 CPC), que contém o rol de execuções pendentes, findas e
suspensas, com informação dos elementos do art. 717º CPC. Pode seguidamente a
qualquer diligência que tenha utilidade para a identificação e localização de bens
penhoráveis (ver art. 749º CPC – o nº6 aplica-se a depósitos bancários).
1) Autoridade Tributária - identificação dos prédios registados aí para efeitos
de pagamento de IMI. (Pede a penhora deste imóvel inscrito na matriz da Autoridade
Tributária e a inscrição do imóvel nos serviços de registo predial.
2)Segurança Social (Notifica as entidades patronais para descontarem uma parte
do salário a penhorar)
3) Conservatórias do registo predial, comercial e automóvel (bens imóveis,
navios, etc...;participações sociais em nome do executado; identificação de veículos)
4) Outros registos e arquivos semelhantes (INPI - marcas, patentes, desenhos
ou modelos ; Autoridade de aviação civil).

Não sendo encontrados bens suficientes no prazo de três meses, são notificados o
exequente e o executado, para indicação de bens penhoráveis e, na falta de indicação,
extingue-se a instância (art. 750º/1/2), sem prejuízo de se vir a renovar se forem
encontrados posteriormente bens penhoráveis. (art. 850º/5 CPC). O limite da renovação
será a prescrição do crédito constante da obrigação exequenda.
Note-se que excepcionalmente a penhora de certos bens é precedida de despacho
judicial, por poder estar em jogo a protecção de direito fundamental de sigilo. (art. /
757º/4, 764º/4 e 767º/1.
Efectuada a penhora, é admissível ao executado requerer a substituição dos bens
penhorados por outros que igualmente assegurem o fim da execução (art. 751.º/4/a) e
5). O art. 751.º/4 enumera os outros casos em que é possível penhorar outros bens,
além ou em substituição dos inicialmente penhorados (penhoras subsequentes):
manifesta insuficiência dos bens penhorados; situação de oneração dos bens
penhorados; recebimento de embargos de terceiro contra a penhora (com a
consequência do art. 347º CPC); oposição à penhora (art. 785º/3 CPC); desistência da
penhora; e invocação do benefício da excussão prévia.(neste último caso, relacionar
art. 745º/4 e 751º/6 CPC)

8.2. O acto da penhora


8.2.1.Formas

A lei distingue entre a penhora de bens imóveis (755º e ss. CPC), penhora de bens
móveis (art. 764º e ss. CPC) e penhora de direitos (art. 773º e ss. CPC). O âmbito da
penhora de direitos determina-se por exclusão de partes: tem lugar sempre que não
está em causa o direito de propriedade plena e exclusiva do executado sobre coisa
corpórea nem um direito real menor que possa acarretar a posse efectiva e exclusiva
da coisa móvel ou imóvel. A tripartição legal deve-se a considerações práticas de
regime, nomeadamente atinentes ao modo de realização da penhora.

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 Penhora de bens imóveis

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Faz-se por comunicação à conservatória do registo predial competente, que vale


como pedido de registo ou apresentação (art. 41.º, 48.º, 71 e 60.º CRPred.). A
transferência de posse é meramente jurídica, seguindo-se a feitura do auto da penhora
(art. 753.º/1 e 755.º/3), a afixação de um edital da porta ou outro local visível do prédio
penhorado (art. 755.º/3) e a tradição material da coisa para o depositário (art. 757.º).
Quando o conservador efectua a penhora mediante o averbamento electrónico, o
acto de registo da penhora retroage à data do pedido, i.e., os efeitos da penhora
retroagem à data do pedido. A conservatória tem de enviar por via electrónica ao
agente de execução a comunicação do registo da penhora e também os restantes
averbamentos (“certidão de ónus e encargos”), para que o agente saiba quem são os
outros credores do executado e para juntar na mesma execução todos os credores. A
execução tem de convergir para aquela em que a penhora foi registada em primeiro
lugar: a execução continua, e paralelamente temos uma acção declarativa de concurso
de credores e verificação de créditos, art. 786.º e 788.º e segs. Esta acção decorre por
apenso à acção executiva. Abrem-se tantas acções quanto os bens penhorados. Se
houver um credor não citado, existe responsabilidade do agente de execução e, em
último termo, do Estado.

 Penhora de bens móveis sujeitos a registo (p.e. automóveis)


Também se faz por comunicação à conservatória e pedido de registo da penhora
(768º/1 CPC). O n.º 2 regula a penhora de automóvel: esta pode ser precedida de
imobilização do veículo, seguindo-se a remoção do mesmo, salvo se o agente de
execução entender que esta é desnecessária ou demasiado onerosa (n.º 3/b)). 6 A
penhora de navio e aeronave está prevista no n.º 4 e 5.

 Penhora de bens móveis não sujeitos a registo


Já se estiver em causa um bem móvel não sujeito a registo, a penhora tem lugar
mediante a tradição material da coisa e sua remoção para um depositário, salvo os
casos de impossibilidade ou grande dificuldade na remoção, lavrando-se auto de
diligência (arts. 764.º/1, 2 e 5 e 766.º). O art. 764.º/3 prevê um incidente de natureza
declarativa, que é uma oposição à penhora singular, no qual o executado ou um
terceiro podem afirmar que o bem não é do executado (antigamente isto era o
protesto no acto de penhora). Deve relacionar-se isto com o disposto no art. 1268º CC,
que presume que as coisas pertencem ao executado, podendo estar presunção ser
ilidida neste incidente com a apresentação de prova documental inequívoca do direito
de terceiro (não se admite prova testemunhal).

 Penhora de direitos não sujeitos a registo


Faz-se mediante a notificação a terceiros, prevendo-se, neste âmbito, a figura da
penhora de direito de crédito, a penhora de direito a bens indivisos e a penhora de
direitos ou expectativa de aquisição. A primeira e a última realizam-se por notificação
pessoal.

(1)Penhora de direitos de crédito (salários, pensões, subsídios, honorários, etc…)

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6
Note-se apenas que a conservatória do registo, uma vez feita a comunicação, normalmente
emite uma certidão de registos em vigor relativamente àquele bem ou direito e entrega-a ao
agente de execução para que ele cite os credores conhecidos a reclamar créditos no âmbito da
acção executiva.

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Tratando-se de um direito de crédito (não sujeito a registo), é feita por notificação


ao devedor que o crédito fica à ordem do agente de execução (art. 773.º/1). Note-se
que o devedor, nos termos do art. 773.º, não é o executado, mas sim o devedor do
executado – debitor debitoris. O devedor pode, no prazo de 10 dias:
a) Impugnar a existência do crédito; e se o exequente mantiver a penhora,
passa este a ser litigioso (art. 775.º/1/2);
b) Invocar a excepção de não cumprimento de obrigação recíproca (art.
776.º/1) Poderá aqui correr por apenso uma execução acessória para exigir a
prestação ao executado nos termos do nº2,3 e 4;
c) Reconhecer a existência do crédito (art. 773.º/2), com o que ele fica
imediatamente assente no âmbito do processo executivo, podendo ser como tal
adjudicado ou vendido e servindo o acto de reconhecimento de base à formação
de um título executivo em que se pode fundar uma execução contra o terceiro
devedor por meio de substituição processual ou por acção do adquirente e por
apenso ao processo executivo;
d) Fazer qualquer outra declaração (art. 773.º/2) ou ainda nada fazer, que
tem o efeito cominatório de equivaler ao reconhecimento do crédito (art.
773.º/3/4). Apesar de o sujeito não ter feito nada, poderá depois em embargos
de executado, provar ao juiz que o crédito é inexistente. Está aqui incluída a
penhora de direito de crédito, de direito a bens indivisos, de direito ou
expectativa de aquisição e de coisas incorpóreas.
e) Perante a falta de resposta do devedor do executado, o agente de execução
poderá torná-lo entidade executada, formando-se título executivo na própria
execução (777º/3 CPC).

Temos ainda um regime especial para a penhora de depósitos bancários,


prevista no art. 780.º. Embora tenha regras específicas, é qualificada como uma
penhora de direitos de crédito: o depósito bancário é um contrato pelo qual se entrega
uma determinada quantia de dinheiro a um banco e este se obriga a restituir no fim do
prazo ou a pedido do depositante. Este direito de restituição integra o património do
devedor enquanto direito a uma prestação creditícia. A penhora de depósitos é feita
através de comunicação electrónica realizada pelo agente de execução ao banco (n.º
1): o agente de execução comunica a ordem de penhora ao banco, ficando o saldo ou
quota-parte bloqueado desde a data do envio da notificação ao banco (n.º 2), que
informa o agente sobre a existência ou não da conta e do saldo (n.º 8); seguindo-se a
comunicação por via electrónica da penhora (n.º 9). Note-se que, à luz do princípio da
proporcionalidade, só se devem penhorar as quantias necessárias. Consultar ainda o
nº10 relativo a operações em curso a débito e a crédito; o nº14 a valores mobiliários. O
agente de execução, naturalmente, tem que saber qual as condições de abertura de
crédito para saber em que condições e quando pode mobilizá-lo.
Também é importante a penhora de salários, que é uma penhora de créditos nos
termos do art.
773.º.

(2)Penhora do direito de bens indivisos


Está prevista no art. 781.º e abrange o direito de quota em coisa comum, o quinhão
numa universalidade de direito (743º CPC), o direito real de habitação periódica ou
outro direito real menor que não acarrete a posse efectiva e exclusiva do seu objecto e

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a quota em sociedade, civil ou comercial. Neste último caso, a penhora é feita por
notificação à sociedade; nos outros, é feita notificação ao administrador dos bens, se o
houver, e aos terceiros titulares ou contitulares dos

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restantes direitos implicados. A penhora considera-se feita à data da primeira


notificação. Tratando- se de bens sujeitos a registo, segue-se a comunicação à
conservatória, com a qual se tem por feita a apreensão.
Os notificados podem contestar a existência do direito penhorado ou fazer acerca
dele outras declarações pertinentes; mas, não tendo o seu silêncio qualquer efeito
cominatório, ele não impede a dedução de embargos de terceiro. Podem ainda os
contitulares notificados declarar que pretendem que a venda executiva tenha por
objecto a totalidade do bem ou do património, caso em que, tendo todos feito tal
declaração, a venda abrangerá essa totalidade (art. 781º/2/4 CPC)
A penhora do direito ao produto de liquidação da quota em sociedade de pessoas,
constitui penhora de bem indiviso, mas não assim a penhora do direito ao lucro, que
tem o tratamento dos direitos de crédito.

(3)Penhora de direito indiviso sujeito a registo (art. 781.º/1, a contrario), de


quota em sociedade (art. 781.º/6), de direito real de habitação periódica
e de outros direitos reais cujo objecto não deva ser apreendido (art.
781.º/5): faz-se por comunicação à conservatória.

(4)Penhora de direitos ou expectativas de aquisição


A penhora pode incidir sobre direito ou expectativa real de aquisição (por ex., é
penhorável a posição do promitente comprador fundada em contrato com eficácia real,
posição contratual em contrato de leasing financeiro sobre móveis, imóveis ou
empresas). Aplicam-se aqui, com as necessárias adaptações, as disposições relativas à
penhora de direito de crédito (art. 778.º/1): esta efectua-se por notificação à
contraparte, a qual pode impugnar a existência do direito penhorado, invocar o direito
a qualquer prestação de que a aquisição dependa, reconhecer o direito, fazer sobre ele
qualquer outra declaração relevante ou nada declarar (neste caso, tem-se por
reconhecido o direito de crédito). À verificação e à exigência da prestação a efectuar
pelo executado aplica-se o art. 776º CPC. O exercício tempestivo do direito apreendido,
pelos meios para tanto facultados pela lei civil, pode ter lugar, antes da venda
executiva e mediante autorização judicial nos termos do art. 773º/6 CPC. Sendo o meio
uma acção judicial pode a contraparte, na contestação, alegar o que o direito não
existia, apesar do seu silêncio, estando sujeita a indemnizar os danos que o exequente
demonstre ter sofrido em consequência da falta de declaração.
Quando o objecto a adquirir for uma coisa, móvel ou imóvel, que esteja na posse ou
detenção do executado, a garantia do interesse do exequente torna necessária, para
além da notificação constitutiva da penhora, a apreensão material da coisa (art.
778.º/2, 757.º e 764.º/1), sem prejuízo do direito de propriedade da contraparte, que a
penhora não afecta. Não significa, pois, a penhora da própria coisa (Cfr art. 778º/3
CPC). A apreensão material da coisa é destinada a acautelar o eventual extravio e
destruição desta.
Note-se que o cumprimento dos deveres para que o direito de aquisição permita
adquirir o bem cabe ao administrador; uma vez adquirido o bem, a penhora passa a
incidir sobre ele. Só tem sentido, pois, usar este tipo de penhoras quando a aquisição
do bem esteja perto de se realizar.

(5)Penhora de estabelecimento comercial

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Está prevista no art. 782.º e inclui-se no regime da penhora de direitos, uma vez
que é tratado como um bem unitário (segundo alguma doutrina, é uma universalidade
de direito). Porém, o seu regime é semelhante ao da penhora de bens móveis, sendo a
penhora feita por auto, no qual se

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relacionam os bens que essencialmente integram o estabelecimento (isto não equivale


a âmbito mínimo de entrega). A penhora do estabelecimento não obsta a que este
continue a funcionar, sob gestão do executado, salvo se o exequente se opuser,
pedindo a nomeação de um administrador ad hoc (n.º 2). Se a empresa funcionar num
prédio alheio, o agente de execução há-de notificar o senhorio disso.
Note-se que a penhora da empresa não afecta a penhora dos bens dessa empresa
consumada numa execução anterior. (n.º 5)

(6)Penhora de outros direitos

Outros direitos penhoráveis são os direitos potestativos, conteúdo patrimonial do


direito de autor, o direito de edição e os direitos de propriedade industrial. Nos casos de
direito absoluto, a penhora efectua-se mediante simples notificação ao executado
(salvo se for sujeito a registo, em que é necessária a comunicação à conservatória –
755º CPC); sendo o direito relativo, a penhora constitui-se com a notificação à
contraparte.

8.2.2.O depositário.

A penhora implica, em regra, um depositário, a quem cabe, além dos deveres gerais
do depositário, administrar os bens ou direitos penhorados e prestar contas (art.
760.º/1), exercendo a posse do tribunal sempre que a esta haja lugar. O depositário é,
em regra, o agente de execução, que guarda os bens, fiscaliza a sua não destruição,
mostra os bens penhorados a eventuais compradores, etc.
Note-se que nem sempre o depositário é o agente de execução:
• Na penhora de coisas imóveis (bem como móveis sujeitos a registo e na de
direitos), o depositário é o agente de execução. Porém, em certas circunstâncias, o
legislador atribui esta função a pessoas que têm um contacto mais directo com a coisa
(art. 756.º/1, várias alíneas) – ao executado, quando o bem penhorado seja a sua casa
de habitação; ao arrendatário, quando o bem esteja arrendado; ou ainda ao retentor,
quando o bem seja objecto de direito de retenção. Não faria sentido que o executado
fosse obrigado a desocupar a casa em que habita. Quando as diligências são realizadas
por oficial de justiça, é depositário a pessoa por este nomeada. Note-se que o
exequente pode consentir em que seja depositário o próprio executado.
• Na penhora de coisas móveis não sujeitas a registo, é o agente de execução
que efectue a diligência (art. 764.º/1);
• Na penhora de estabelecimento comercial, é pessoa designada pelo juiz, quando
estiver paralisada ou deva ser suspensa a actividade do estabelecimento (art. 782.º/4).

Porém, há casos em que não existe depositário – por ex., no caso de penhora de
direito de crédito ou na penhora de direito ou expectativa de aquisição, quando não
haja lugar à apreensão complementar da coisa sobre que incide e no de penhora de
outro direito potestativo, bem como no de penhora de automóvel não apreendido.
Quando não seja agente de execução, o depositário pode ser removido se não
cumprir os devedores do seu cargo – 761º/1 CPC. Sendo este agente de execução, a
violação dos seus deveres constitui actuação sancionada nos termos do art. 720º/4
CPC. Por fim, quando o depositário seja o

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agente de execução, este pode solicitar o auxílio das autoridades policiais quando seja
oposta alguma resistência à tomada de posse efectiva do imóvel (art. 757.º).

8.2.3.O registo da penhora.

A penhora de bens sujeitos a registo efectua-se, em regra, com a comunicação à


conservatória competente, que vale como pedido de registo. Noutros casos, o registo
da penhora é um acto subsequente a esta, com base em certidão do auto que atesta a
sua realização – aqui, o registo é obrigatório, constituindo ónus do exequente; e sendo
condição de eficácia do acto da penhora perante terceiros e de prosseguimento do
processo de execução (art. 755.º/2).
Isto ocorre nos casos de direito de crédito com garantia real sujeita a registo (art.
773.º/7, 2,º/1/o) CRegPred. e 5.º/1/e) RPA), direito ou expectativa real de aquisição de
bem sujeito a registo (arts. 778.º/1 e, por analogia, 773.º/7), e bens ou direitos sujeitos
a registo que integrem o estabelecimento comercial (art. 782.º/6).
Para além disto, pode suceder que o bem penhorado esteja inscrito em nome de
terceiro, caso em que se aplica o art. 119.º CRPred.

8.2.4.Levantamento da penhora.
Efectuada a penhora, esta subsiste até ao acto de venda, salvo se extinguir por
causa diferente – levantamento da penhora (que pode ou não implicar o fim da
execução). Isto ocorre nos seguintes casos:
• Quando ocorra causa de extinção da execução;
• Oposição à penhora julgada procedente;
• Desistência da penhora (751º/4 CPC);
• Acordo de pagamento em prestações;
• Paragem da execução: se a execução estiver parada durante 6 meses, por
negligência que não seja imputável ao executado, este pode pedir o
levantamento (art. 763.º/1) Levantada a penhora, resta ao exequente o direito
de indemnização contra o Estado, quando a paragem do processo a ele nãos e
deva. O credor, com crédito vencido ou reclamado, que queria evitar o
levantamento da penhora, pode, passados três meses sobre o inicio da actuação
negligente do exequente, substituir-se a este na prática do acto que ele tenha
negligenciado (763º/4 CPC). Não pode, porém e evidentemente, substituir-se ao
juiz, agente de execução ou funcionário judicial negligente;
• Desaparecimento do bem penhorado, podendo haver duas situações:
 Há lugar a indemnização e a penhora transfere-se para o bem
sub-rogado (art. 823º CC)
 Não há lugar a indemnização e a penhora extingue-se, por falta
de objecto.

Determinado o levantamento da penhora, procede-se ao cancelamento do respectivo


registo se a ele tiver havido lugar.

9. Função e efeitos da penhora.

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Do ponto de vista processual, com a penhora são identificados e individualizados os


bens que serão vendidos ou adjudicados ao exequente e/ou credores reclamantes.
Estes bens ficam assim adstritos aos fins da execução, devendo conservar-se e não
podendo ser distraídos desse fim. Porém, os fins da penhora não poderiam ser
conseguidos se esta não produzisse também efeitos materiais relativamente ao objecto
penhorado.
A penhora, enquanto apreensão judicial de bens que constituem objecto de direitos
do executado, é o acto fundamental do processo executivo. Apesar disso, ela não
esgota em si mesma a sua finalidade. Delimitando o objecto dos actos executivos
subsequentes e assegurando a sua viabilidade, pela apreensão dos bens sobre os quais
tais actos irão incidir, a penhora é dirigida aos actos ulteriores de transmissão dos
direito do executado para, através deles, directa ou indirectamente, ser satisfeito o
interesse do exequente. Esta é a sua função.

Deste conceito e função da penhora decorrem três importantes efeitos materiais:

9.1. Perda dos poderes de gozo


Pela penhora, o direito do executado é esvaziado dos poderes de gozo que o
integram, os quais passam para o tribunal, que, em regra, os exercerá através de um
depositário.
Quando a penhora incide sobre o objecto corpóreo dum direito real, a transferência
dos poderes de gozo importa uma transferência da posse. Cessa a posse do executado
e inicia-se uma nova posse pelo tribunal: o depositário passa, em nome deste, a ter a
posse do bem penhorado (é possuidor em nome alheio).
Estando em causa um direito de natureza diferente (direito de crédito, direito real de
aquisição, direito a quinhão numa universalidade, direito potestativo, direito real sobre
coisa incorpórea) já não se pode falar de posse, mas continua a verificar-se a
transferência, do executado para o tribunal, dos poderes de gozo que integram o
direito. (p.e. no caso da penhora do direito de crédito, em que não há depositário, o
agente de execução ou a secretaria ficam com o poder de receber e provisoriamente
reter a prestação principal, assim como as prestações acessórias do crédito, quando
este seja pecuniário)
No caso de penhora de direito potestativo, o poder de produzir a declaração de
vontade em que esse exercício de consubstancia passa a pertencer ao tribunal. Algo de
semelhante se dirá do caso em que o direito real de aquisição apreendido, não
constituindo (ainda) um direito potestativo, dê lugar a uma actividade extrajudicial,
como a celebração do contrato prometido.

9.2. Ineficácia relativa dos actos dispositivos subsequentes


O executado perde os poderes de gozo que integram o seu direito, mas não o
poder dele dispor, podendo praticar actos de disposição ou oneração.
Estes actos podem comprometer a função da penhora se tivesse eficácia plena.
Assim sendo, são inoponíveis à execução, não podendo afectar a execução e o
exequente. Não se tratando de actos nulos, mas apenas relativamente ineficazes, eles
readquirirão força plena no caso de a penhora vir a ser levantada. Mas, se pelo
contrário, da execução resultar a transmissão do direito do executado, o direito do
terceiro que tiver contratado com o exequente caduca, embora transferindo-se, por

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sub- rogação objectiva, para o produto da venda (art. 824º CC). Com esta solução, a lei
quis proteger, no interesse do executado e dos terceiros que com ele contratam, a livre
circulação de bens (por ex., o

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executado obtém a disponibilidade de meios monetários com a venda dos bens


penhorados, efectuando o pagamento e extinguindo-se a execução).
Em suma, os actos de disposição e oneração dos bens penhorados, praticados
depois do registo da penhora ou à data em que se considera efectuada e que obstem à
prossecução da finalidade da acção executiva, são inoponíveis à execução (art. 819.º
CC).

Quais são os actos que importam a produção destes efeitos?


1.Disposição;
2.Oneração;
3.Arrendamento;
4. Outros actos – renúncias; transacções; alienação ou extinção de crédito
penhorado por motivo dependente da vontade do executado ou do seu devedor (art.
820.º CC); liberalidades; transmissão de bens de sociedades; obrigação de entrada do
executado; entrada de bens penhorados para o EIRL; constituição de outros direitos
pessoais de gozo; compra pelo locatário do bem dado em locação financeira; cessão de
bens aos credores, cujo registo seja posterior ao da penhora; sentenças proferidas
contra o executado que importem a transmissão do direito sobre coisa penhorada ou a
sua oneração, sempre que o registo da respectiva acção seja posterior ao registo da
penhora (para REMÉDIO MARQUES; para LEBRE DE FREITAS, estas sentenças estão
excluídas da ineficácia).

A regra do art. 819.º CC depende da prática de um acto voluntário do executado;


além disso, a ineficácia limita-se aos actos que obstem à finalidade do processo
executivo concreto. Assim, existem actos não abrangidos pela ineficácia:
• É o que sucede com a penhora (é possível uma segunda penhora dos bens, art.
794.º), o arresto (art. 391.º) e a hipoteca legal ou judicial (art. 704.º e 710.º CC). O art.
794.º permite expressamente uma segunda penhora; os dois últimos são actos com
finalidade idêntica à penhora; e a regra da ineficácia não abrange os actos constitutivos
de direito real de garantia sobre os bens penhorados em que o titular deste não
intervenha.
• Do mesmo modo, estão também excluídos: a usucapião, as sentenças
constitutivas proferidas contra o executado (para LEBRE DE FREITAS), a amortização da
quota e outros actos independentes da sua vontade.

9.2.1. Problema dos terceiros para efeitos de registo.

Um problema que se coloca é o de saber se, relativamente aos bens imóveis e


móveis sujeitos a registo, a regra da ineficácia se estende aos terceiros adquirentes do
imóvel cujo acto de aquisição tenha sido anterior à data do registo da penhora, apesar
de o respectivo registo ter sido só efectuado posteriormente. Está aqui em causa saber
se o adquirente do executado que não levou a registo a aquisição em data anterior ao
registo da penhora é terceiro para efeitos do art. 5.º CRegPred., quer em relação ao
exequente, quer em relação ao adquirente desse bem na venda executiva.
No Ac. STJ nº 15/97, considerou-se que “terceiros, para efeitos de registo
predial, são todos os que, tendo obtido registo de um direito sobre determinado prédio,
veriam esse direito ser arredado por qualquer facto jurídico anterior não registado ou

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registado posteriormente”. É um conceito amplo de terceiros para efeitos de registo.


Aqui, protege-se a penhora.

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O Ac. STJ nº 3/99 alterou a sua posição no sentido de entender que “terceiros,
para efeitos do disposto no artigo 5.º do Código do Registo Predial, são os adquirentes
de boa-fé, de um mesmo transmitente comum, de direitos incompatíveis, sobre a
mesma coisa”. Assim, a orientação do STJ neste seu último acórdão de uniformização
de jurisprudência é no sentido negativo, com base numa concepção restrita de
terceiro para efeitos de registo – apenas são terceiros aqueles cujo direito derivou de
acto em que tenha intervenção o autor titular da inscrição (transmissão comum),
excluindo assim os casos em que a situação do terceiro era gerada por uma sua
actuação unilateral ou acto judicial por ele provocado (hipoteca judicial, arresto,
penhora, etc.). Porém, a doutrina dominante pronuncia-se no sentido contrário. Neste
caso, o terceiro ganharia os embargos face à penhora.
Ora, o art. 5.º/4 do CRegPred., na sequência do DL 533/99, veio estabelecer que
são terceiros para efeitos de registo “aqueles que tenham adquirido de um autor
comum direitos incompatíveis entre si”. Apesar de o STJ ver aqui a consagração da sua
orientação, REMÉDIO MARQUES e MÓNICA JARDIM entendem que o direito daquele que
adquire ao executado e o direito do penhorante derivam do mesmo autor. A
transmissão forçada, sendo derivada, dá-se a partir do mesmo autor que
extrajudicialmente alienou ou onerou, i.e., a venda executiva não significa uma
aquisição originária. Assim, a aquisição de bem penhorado inscrita posteriormente ao
registo da penhora é ineficaz relativamente aos intervenientes na execução
(penhorante e comprador ou adjudicante dos bens). Isto aplica-se também à hipoteca
judicial. Estes autores destacam que uma das funções mais importantes do registo é
ser um registo consolidativo, validando algumas operações à luz da OJ e se o
entendimento não for este receamos esvaziar de utilidade o registo.

9.3. Preferência do exequente.


Dada a função que lhe é própria, a penhora envolve a constituição dum direito real
de garantia a favor do exequente. Como tal, tem este direito o atributo da preferência a
qualquer outro credor que não tenha garantia real anterior (art. 822º/1 CC). Não é um
direito legal ou convencio0nal de preferência, senão que apenas determina a ordem
dos pagamentos feitos na decorrência da venda dos bens penhorados, ficando o
exequente com o direito a ser pago primeiro com o produto da venda dos bens,
relativamente aos sujeitos com direitos reais de garantia constituídos ou registados
com posterioridade à penhora.
A anterioridade da penhora reporta-se à data do arresto, quando o exequente tenha
feito arrestar previamente os bens penhorados e tratando-se de bens sujeitos a registo,
à data da efectivação deste (nº2).
Este direito tem uma eficácia limitada: por um lado, depende da não verificação de
qualquer causa que possa conduzir ao levantamento da penhora; por outro, da não
ocorrência de insolvência do executado (art. 140.º/3 CIRE).
Finalmente, a preferência do exequente, nos termos do penhor ou da hipoteca,
mantém-se após o acordo de pagamento da dívida em prestações, a menos que outro
credor queria prosseguir com a execução e o exequente desista da garantia ou não
denuncie o acordo celebrado com o executado.

10. Venda Executiva – Resumo: Noção e efeitos.

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Uma vez penhorados os bens, pode a sua venda não dever esperar o momento
normal para ser realizada, podendo ser feita antecipadamente, por exemplo porque os
bens estão sujeitos a deterioração ou depreciação ou por haver manifesta vantagem na
antecipação da venda. (814º CPC) Fora estes casos excepcionais, as diligências para a
venda dos bens só se iniciam com o termo do prazo para as reclamações de créditos. A
venda visa arrecadar o produto necessário para efectuar o pagamento da obrigação
exequenda e das verificadas no apenso de verificação e graduação. As suas
modalidades constam do art. 811º CPC, cabendo a sua indicação ao agente de
execução (art. 812º CPC) É a venda em leilão electrónico que constitui a modalidade
preferencial de venda dos bens móveis e imóveis (art. 837º CPC) Confrontar ainda arts.
830º e ss. CPC. Esta constitui um contrato
especial de compra e venda com características de acto de direito público.
A compra pode ser efectuada por um terceiro, pelo exequente ou por um credor
reclamante. O exequente ou o credor com garantia sobre o bem comprado é
dispensado de depositar a parte do rpeço que não seja necessária para pagar a
credores graduados antes dele e não exceda a importância que tem direito a receber
(815º CPC), dando-se a compensação entre a dívida do preço e o crédito exequendo ou
verificado. Semelhante compensação se dá no regime geral de adjudicação de bens.
(art. 799º e ss. CPC)
Por fim, importa apenas fazer referência rápida ao direito de remição para protecção
do património familiar (842º e ss. CPC) e o direito de preferência legal ou convencional
que tenha eficácia real.
Quanto aos efeitos, algumas notas:
 Os direitos reais de garantia sobre a coisa caducam: os bens são sempre
transmitidos livres de todos eles, sejam de constituição anterior ou posterior
à penhora, tenha havido ou não reclamação na execução dos créditos que
garantem. (824º/2 CPC)
 Quanto aos direitos reais de gozo:
o Constituição ou registo anterior à constituição ou registo de todos os
direito reais de garantia invocados ou constituídos no processo de
execução  O direito de garantia de todos os credores é de data
posterior à do direito real de gozo de um terceiro, sendo que o direito
real de gozo do terceiro subsistirá.
o Constituição ou registo posterior à constituição ou registo de qualquer
deles. Veremos três momentos de constituição do direito real de gozo:
 Posterior à constituição ou registo da penhora  Extingue-se o
direito real de gozo.
 Anterior à constituição ou registo da penhora, mas depois da
constituição ou registo de um direito real precedente do
exequente.  Extingue-se o direito real de gozo.
 Anterior à constituição ou registo de qualquer direito real do
exequente, mas depois da constituição ou registo do direito real
de garantia invocado por um dos credores reclamantes.  Neste
caso, pode o credor com direito real de garantia anterior
requerer a extensão da penhora ao objecto da sua garantia e
pedir a citação e terceiro para tomar posição de executado no
processo. Se não o fizer, aceita o credor que o seu crédito seja
pago na execução só pelo produto do direito penhorado,

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subsistindo o direito de gozo de terceiro e conservando o credor


a sua garantia, pelo remanescente quanto a esse direito.

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 Quanto ao direito de arrendamento:


o Se o registo do arrendamento for anterior ao registo da penhora ou do
arresto, mantém-se.
o Se o arrendamento não está sujeito a registo:
 Foi constituído antes do registo da penhora/arresto  Não
caduca se o prazo do contrato ultrapassar o prazo da venda
executiva.
 Foi constituído após o registo da penhora/arresto  Pode pedir-
se ao juiz que dê o prédio de arrendamento para o fazer
frutificar, sendo administrado pelo agente de execução. Este
caducará com a venda executiva.
 Contractos como o depósito ou o comodato vão caducar com a venda
executiva.
 Os ónus reais e obrigações propter rem (como o condomínio), não caducam,
sendo assumidas pelo novo adquirente.

Ora, vendido o direito penhorado, o produto da venda é, no processo executivo,


distribuído pelo exequente e demais credores reclamantes, de acordo com a ordem
estabelecida na sentença de graduação dos créditos. Caducando um direito real de
gozo posterior a algum dos direitos reais de garantia que se tenha feito valer no
processo, mas anterior à penhora nele efectuada, tem o respectivo titular também
direito a receber a sua parte do produto na venda do bem. LEBRE DE FREITAS defende
ainda que os titulares de direitos reais constituídos pelo executado posteriormente à
penhora podem reclamar direitos sobre o eventual remanescente do produto da venda
que, em regra, é dado ao executado. A venda executiva determina ainda ao
cancelamento dos registos – 827º e ss. CPC)
A venda executiva é anulável quando ocorra algum dos fundamentos do art. 838º
(tutela do comprador) e 839º CPC (tutela de outros interessados).

11. Oposição à penhora.

O nosso sistema jurídico concede quatro meios de reagir contra uma penhora ilegal:
1.Oposição por simples requerimento: ocorre no processo executivo.
2.Incidente de oposição à penhora: é um incidente enxertado no processo
executivo.
3. Embargos de terceiro: é uma acção declarativa que corre por apenso ao
processo executivo, sendo o meio de reacção mais específico contra a ilegalidade do
acto.
4.Acção de reivindicação: é uma acção declarativa autónoma do processo
executivo.

A ilegalidade da penhora pode resultar da impenhorabilidade objectiva


(penhoram-se bens que não deveriam ser penhorados, ou não deviam ser penhorados
naquelas circunstâncias, ou sem excussão de todos os outros ou para aquela dívida),
ou subjectiva (são penhorados bens que não são do executado). O incidente de
oposição visa reagir contra a impenhorabilidade objectiva; os restantes, contra a
subjectiva.

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11.1. Oposição por simples requerimento

A oposição por simples requerimento está, desde logo, prevista no art. 764.º/3:
penhorada coisa móvel em poder do executado, presume-se que lhe pertence; porém,
este pode fazer prova documental inequívoca de que esta pertence a terceiro perante o
juiz do processo e mediante requerimento acompanhado dessa prova. Este meio surgiu
em consequência da supressão em 2003 do protesto no acto da penhora.
Tal como para os efeitos do art. 747º, entende-se estarem em poder do
executado todos daqueles bens sobre os quais ele exerce posse ou detenção, ou pode
exercê-la por se encontrarem na sua esfera de controlo. Para a ilisão desta presunção,
com a consequência de a penhora efectuada não se manter e a coisa ser restituída, é
exigido um documento do qual resulte inequivocamente que os bens pertencem a
terceiro, ou que o terceiro tem sobre eles direito real menor de gozo que implique a sua
usufruição. A ilisão da presunção exige que se torne manifesto o direito de terceiro
perante o juiz. O levantamento ou redução da penhora não deve ser ordenado, salvo
casos de manifesta desnecessidade, sem a prévia audição do exequente (art. 3º/3
CPC). Não ordenando o juiz o levantamento da penhora, não fica precludido o direito de
o terceiro deduzir oposição por embargos, mesmo quando tenha sido ele a requerer o
levantamento.
Porém, também se é possível fazer oposição por simples requerimento noutros
casos:
• Perante o disposto no actual art. 723.º/1/c) e d), a doutrina admite que, na falta
de outro meio de impugnação da penhorabilidade do bem apreendido ou a apreender,
o exequente pode suscitar perante o juiz a questão da impenhorabilidade; para além
disto, se o exequente indicar na petição inicial determinado bem como susceptível de
penhora e o executado for previamente citado, pode suscitar a questão da
impenhorabilidade em requerimento, carreando para o processo os elementos
indispensáveis à sua verificação e oferecendo a prova para tanto necessária. Ouvida a
contraparte, essa prova é seguidamente produzida, juntamente com a que esta
ofereça, decidindo o juiz em conformidade.
• Casos específicos em que a lei admite o requerimento – art. 744.º/2, 738.º/6.

11.2. O incidente de oposição à penhora.


11.2.1. Noção e fundamentos.

O incidente de oposição à penhora é um incidente de natureza declarativa que


se enxerta na acção executiva, e é um meio de oposição privativo do executado (e do
seu cônjuge, art. 787.º/1) que se aplica aos casos de impenhorabilidade objectiva.
Nos termos do art. 784.º, são três os fundamentos da oposição à penhora
(taxativos):
1. Inadmissibilidade da penhora dos bens concretamente apreendidos,
ou da extensão com que ela foi realizada, al. a): casos de impenhorabilidade
objectiva por força da lei processual, seja absoluta, relativa ou parcial. A segunda parte
do preceito (inadmissibilidade da extensão) abrange quer os casos de
impenhorabilidade parcial, quer de violação do princípio da proporcionalidade da
penhora (por ex., por uma dívida de 100€ penhoram-se bens de 1000€).
2. Imediata penhora de bens que só subsidiariamente respondam pela
dívida exequenda, al. b): nos casos de responsabilidade subsidiária, o executado

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pode opor-se à penhora de bens seus que só deviam responder na falta de outros se,
existindo estes, a execução não tiver começado por eles. É o caso da penhora dos
bens próprios de um dos cônjuges, sendo a execução movida contra

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ambos, não estando ainda penhorados os bens comuns; casos em que exista ou não
benefício de excussão prévia; 784º/2 CPC.
3. Incidência da penhora sobre bens que, não respondendo pela dívida
exequenda nos termos do direito substantivo, não deviam ter sido atingidos
pela diligência, al. c): reporta-se às causas de impenhorabilidade específica ou
derivadas dum regime de indisponibilidade objectiva, resultantes do direito substantivo.
Estão aqui os bens afectados por impenhorabilidade convencional, os bens inalienáveis,
segundo o direito substantivo, os bens de que o menor não tenha a livre disposição e
que não devem responder pelas dívidas emergentes de actos relativos à profissão (art.
127.º/1/c) e n.º 2 do CC), etc.

11.2.2. Prazo e tramitação

O executado tem, para se opor, o prazo de 10 dias contados da notificação da


penhora (art. 785.º/1). O incidente está sujeito às normas gerais dos arts. 293.º e 295.º
(art. 785.º/2), bem como às do art. 732.º/1 e 3, devidamente adaptados, em tudo
quanto não esteja especialmente regulado no art. 785º. Assim:
• Inicia-se com requerimento de oposição, sendo oferecidos os meios de prova
(art. 292.º/1 e 294.º/2). O incidente corre por apenso (art. 732.º/1).
• Há despacho liminar (art. 732.º/1).
• O exequente pode responder no prazo de 10 dias (art. 293º/1/2 e 294º/1),
sendo que a falta de resposta ou omissão de impugnação tem efeito cominatório
semipleno (art. 732.º/3)
• A execução só é suspensa, na sequência da admissão da oposição e
limitadamente aos bens em causa, se o executado prestar caução (art. 785.º/3), sem
prejuízo do reforço ou substituição da penhora (art. 851.º/4/d)). Porém, tal como na
pendência do recurso da decisão exequenda (art. 704.º/4) e dos embargos do
executado (art. 733.º/5), quando a oposição respeita à casa de habitação do executado
e a venda possa causar prejuízo irreparável ou de difícil reparação, o juiz pode
determinar que a venda aguarde a decisão dos embargos em 1ª instância (art.
785.º/4). Esta é uma novidade do CPC.
• Tal como na pendência do recurso da decisão exequenda (art. 704.º/3) e dos
embargos de executado (art. 733.º/4), nem o exequente nem outro credor pode, na
pendência da oposição, obter pagamento sem prestar caução (art. 785.º/5).
• A procedência da oposição à penhora determina o levantamento da penhora (art.
785.º/6).

Relativamente aos bens cuja penhora haja suscitado a sua intervenção na execução, o
cônjuge do executado tem os mesmos poderes processuais que este (art. 787.º/1).

11.3. Os embargos de terceiros.


11.3.1. Legitimidade activa e passiva.

Os embargos de terceiro são uma acção declarativa que visa reagir contra
penhoras ilegais e que têm como elemento processual típico apenas poderem ser
promovidos por terceiro.
Sabemos que por vezes a lei substantiva admite a penhora de bens de pessoa
diversa do devedor. Ora, os bens de terceiro (face à execução) não são penhoráveis,

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permanecendo como válida esta regra quanto às pessoas obrigadas no título


conjuntamente com o executado, mas contra

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as quais não tenha sido proposta a execução. Mas já são penhoráveis os bens do
executado que estejam em poder de terceiro, ainda que este deles seja possuidor em
nome próprio.
Por outro lado, porém, o possuidor em nome próprio goza da presunção da
titularidade do direito correspondente à sua posse (art. 1268º/1 e 1251º CC), pelo que
lhe deve ser consentido valer- se dessa presunção dessa presunção até que seja ilidida,
mediante demonstração que o proprietário do bem possuído é o executado. Os
embargos de terceiro mantêm-se na lei civil configurados como meio possessório
paralelo às acções de prevenção, manutenção e restituição da posse (1276º e 1278º
CC) e, portanto, facultado ao possuidor em nome próprio e negado ao proprietário não
possuidor, ao simples detentor de facto e ao possuidor em nome alheio.
Note-se que por vezes a lei civil faculta também os meios possessórios a
determinados possuidores em nome alheio (art. 1037º/2, 1125º/2, 1133º/2 e 1188/2
CC) em atenção à especial relevância do seu interesse próprio em continuar no gozo da
coisa que contratualmente detêm. Ora, a atribuição ao possuidor em nome alheio de
legitimidade para embargar só se compreende como medida de tutela directa do
interesse do terceiro que através dele possui, na medida em que dele dependa o
interesse do embargante. Assim, nestes casos os embargos de terceiro não são
admissíveis visto que n conflito entre o direito real (penhora) e o direito de crédito,
este, independentemente da data da sua constituição, terá de ceder perante o
primeiro.
Mas, quando a posse tiver lugar em nome dum terceiro, da sintonia entre o
interesse deste e o do possuidor em nome alheio resulta a legitimação extraordinária
deste último para embargar, em substituição processual daquele. Pode o possuidor, na
petição de embargos, em nome alheio algar o título da sua posse e identificar a pessoa
em nome de quem possui; na contestação, a exceptio domini continuará a poder ser
deduzida nos mesmos termos em que é dedutível perante o possuidor em nome
próprio, isto é, mediante a invocação do direito de propriedade do executado.
A excepcionalidade desta atribuição de legitimidade para embargar a certos
possuidores em nome alheio não permitia atribui-la, na falta duma norma expressa, ao
promitente adquirente duma coisa a quem antecipadamente tivesse sido feita a sua
entrega, em cumprimento da obrigação estabelecida no contrato celebrado: impedia-o
o facto de esse exercício se fazer com base num direito de crédito e em nome do
promitente alienante. O mesmo obstáculo não existia para o possuidor baseado em
direito real de garantia, visto ter uma posse em nome próprio.
Por fim, há que reter que pode haver casos em que se vislumbre um interesse
jurídico do credor em embargar.

Assim, temos de saber quem é que a lei qualifica como terceiro, quem tem
legitimidade activa. O art. 342.º diz que pode deduzir embargos de terceiros quem não
seja parte na causa. Temos aqui um critério processual. À penhora só estão sujeitos
bens do executado, seja este o devedor, seja um terceiro, nos casos em que a lei
substantiva admita a penhora de bens de pessoa diversa do devedor. Como tal, os bens
de terceiro, i.e., de pessoa que não seja exequente nem executado, não são
penhoráveis. Já a legitimidade passiva cabe ao exequente e executado, em
litisconsórcio necessário passivo (art. 348.º).

11.3.2. Causas de pedir.

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A actual redacção do art. 342.º confere legitimidade a todo o possuidor, em nome


próprio ou
alheio:

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(1) Cuja posse seja incompatível com a realização ou o âmbito da diligência;


(2) A qualquer titular de direito incompatível com a realização ou o âmbito da
diligência.
Antes da revisão do Código de 98, os embargos apenas se podiam fundar na
posse, e apenas poderiam embargar certos possuidores.

Assim, são duas as causas de pedir que podem sustentar os embargos:


1.Ofensa da posse;
2.Ofensa de direito incompatível com a penhora.
É, como tal, necessário saber qual a posse incompatível com a penhora e os
direitos incompatíveis com a penhora.

1)Direito incompatível: uma vez que a penhora se destina a possibilitar a


ulterior venda executiva, é incompatível com ela todo o direito de terceiro, ainda que
derivado do executado, cuja existência, tido em conta o âmbito com que é feita,
impediria a realização desta função, i.e., a transmissão forçada do objecto apreendido.
Incluem-se aqui dois casos nos quais, seja de quem for que o terceiro tenha derivado o
seu direito (do executado ou de outrem), os embargos são-lhe consentidos:
• Direito de propriedade plena, que é um direito oponível e prevalente sobre
a cosa penhorada na execução, subsistindo após a venda executiva.
• Direitos reais menores de gozo que não caduquem com a penhora:
estes são direitos incompatíveis com a finalidade da execução, a transmissão forçada
do bem, pois como não caducam o seu titular pode mais tarde intentar uma acção de
reivindicação.

Assim, não são incompatíveis os seguintes direitos:


• Direitos pessoais de gozo e direitos pessoais de aquisição: não são
nunca incompatíveis com a penhora, porque quando constituem direitos de crédito
contra o executado, os bens deste não deixam de estar sujeitos à penhora, sem que, no
segundo caso, o dever de os transmitir a terceiros seja oponível ao exequente. Quando
se trata de direitos de crédito contra terceiro, que seja proprietário do bem penhorado,
há incompatibilidade entre o direito deste último e a penhora, mas o direito pessoal
que no primeiro se baseie continua a não ser oponível ao exequente e, portanto,
incompatível com a penhora, ao seu titular cabendo, contra o seu devedor, o direito a
ser indemnizado. Assim, os titulares destes direitos apenas podem embargar com
fundamento na posse.
• Direitos reais de garantia: se estiver em causa um direito real de garantia,
a incompatibilidade não se verifica, visto que o respectivo titular encontrará satisfação
no esquema da acção executiva (os titulares de direitos reais de garantia são admitidos
a reclamar créditos)
• Direitos reais de aquisição: à semelhança dos direitos reais de garantia,
também aqui em princípio não há incompatibilidade, uma vez que o seu titular
encontra satisfação no processo executivo. Estes direitos são eficazes em relação ao
exequente, pelo que o titular do direito real de aquisição pode adquirir directamente o
bem penhorado (art. 831.º) – como tal, apenas pode embargar com fundamento na
violação da posse. Mais uma vez, estes apenas podem embargar com fundamento na
posse.

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Ponto é, quanto a estes dois últimos, que esse direito não possa ser posto em
causa pelo facto de o bem penhorado pertencer ao executado. Se essa situação
ocorrer, o titular do direito real de aquisição ou de garantia tem interesse em embargar
de terceiro, a fim de demonstrar que o bem penhorado pertence à pessoa de quem o
direito derivou.
No caso de contrato-promessa, não pode haver divergência quanto ao seu
conteúdo, porque de outro modo o terceiro promitente adquirente poderá optar por
mover uma acção de execução específica, devendo, na acção executiva, o bem ser
Porém, pode suceder que antes do registo da penhora tenha sido proposta acção
de execução específica, logo registada pelo promitente-comprador – o promitente ainda
não tem um direito incompatível, mas pode vir a ter, bastando para tal a procedência
da acção de execução específica. Assim, deve ser admitido a embargar de terceiro,
sendo que a procedência dos embargos fica dependente do êxito da acção de execução
específica.
Para além disto, também pode embargar de terceiro quando o seu direito real de
aquisição derivar de pessoa diversa do executado. Este já é um direito incompatível:
não só não pode adquirir directamente o bem penhorado, como o exercício do direito
de preferência sairá prejudicada com a anulação da venda decorrente da reivindicação
da pessoa de quem o terceiro derivou o seu direito.

2) Posse incompatível:
• A posse incompatível é, desde logo, a posse que seja exercida em nome
próprio e constitua presunção da titularidade de um direito incompatível: enquanto esta
presunção não for ilidida, mediante a demonstração de que o direito de fundo radica no
executado, o possuidor em nome próprio é admitido a embargar de terceiro.
• É também incompatível com a realização a posse que, exercida em nome de
outrem que não o executado, respeite a direito pessoal de gozo ou a aquisição do bem
penhorado. Cabem aqui as seguintes situações: posse do locatário, do comodatário, do
depositário, do parceiro pensador, do promitente adquirente para quem tenha sido
transferida a posse. Isto porque a tradição do bem penhorado para o tribunal implicaria
a insubsistência da posse destes detentores e, com ela, das pessoas em nome de quem
possuem. Assim, ao atribuir legitimidade para embargar aos possuidores, a lei vem
estender a legitimidade para embargar de terceiros, não apenas aos titulares de
direitos reais não possuidores, mas também aos possuidores em nome alheio a quem a
lei civil não a atribuía.

11.3.3. Titularidade do direito de fundo.

Quando os embargos de terceiro são fundados apenas na posse, a legitimidade


activa baseia- se numa presunção de propriedade que pode ser ilidida. Nos termos do
art. 348.º/2, o exequente ou o executado podem alegar e provar que o direito de fundo
pertence ao executado; provada a alegação, os embargos serão julgados
improcedentes. Assim sendo, apenas o possuidor causal (possuidor-proprietário e
possuidor cuja posse de baseie na titularidade dum direito real menor de gozo) e o
possuidor formal de coisa não pertencente ao executado podem ter a segurança de que
os embargos não serão julgados improcedentes (e não quando tenha a posse da coisa
mas esta pertença ao executado, pois a propriedade prevalece sobre a posse).

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11.3.4. Embargos do cônjuge do executado

Nos termos do art. 343.º, pode embargar de terceiros o cônjuge do executado


para defesa dos seus direitos relativos aos bens próprios e dos relativos aos bens
comuns que indevidamente hajam sido atingidos pela penhora. Ao embargante cabe
provar a natureza própria ou comum dos bens.
• Tratando-se da penhora de bens próprios, a penhora não pode subsistir,
uma vez que, mesmo que respondam pela dívida segundo o direito substantivo, não
podiam ter sido apreendidos sem que o seu proprietário fosse executado.
• Tratando-se da penhora de bens comuns, existem dois casos em que o
cônjuge do executado não pode embargar:
o Quanto tenha sido citado nos termos do art. 740.º/1 e o executado não
tenha bens próprios;
o Quando a penhora incida sobre bens do art. 1696.º/2 CC, uma vez que
estes bens, ainda que comuns, respondem ao mesmo tempo que os
próprios (salvo se houver bens próprios do executado que não tenham
sido penhorados primeiro ou não tenha sido citado nos termos do
740º/1 CPC).

11.3.5. Tramitação e caso julgado

Quando deduzidos no processo executivo, os embargos de terceiro constituem


uma tramitação/acção declarativa dependente do processo executivo que corre por
apenso a este (art. 344.º/1). Seguem a seguinte tramitação:
• Devem ser deduzidos no prazo de 30 dias subsequentes à penhora ou ao
posterior conhecimento desta pelo embargante (art. 344.º/2), podendo ainda ser
deduzidos antes da penhora (desde que depois do despacho que a ordena, art. 350.º).
Nunca podem ser deduzidos antes da venda ou adjudicação do bem (art. 344.º/2); e
devem sempre ser deduzidos contra o exequente e o executado (art. 348.º/1).
• Desdobram-se em duas fases: uma fase introdutória, que tem por finalidade a
emissão, pelo tribunal, de um juízo de admissibilidade; e uma fase contraditória.
 Na fase introdutória, o embargante oferece na petição inicial prova
sumária dos factos em que se funda a sua pretensão (art. 344.º/2);
proferido despacho liminar, entra-se na fase da produção da prova,
seguida do recebimento ou rejeição dos embargos (art. 345.º). Após o
recebimento dos embargos, o processo de execução fica suspenso
quanto aos bens a que os embargos digam respeito (art. 347.º) e, se
estes tiverem sido deduzidos antes da penhora, esta não chegará a
realizar-se, sem prejuízo da prestação de caução (art. 350.º/2). O juiz
poderá ainda ordenar a restituição provisória da posse, condicionando-
a a caução. Outra consequência do recebimento dos embargos é a
possibilidade de reforço ou substituição da penhora (art. 751.º/4/d)).
 A fase contraditória tem início com a notificação dos embargados
para contestar e segue os termos do processo declarativo comum,
tendo como única especialidade a norma de legitimidade passiva
constante do art. 348º/2 CPC. Os termos do processo comum aplicam-
se logo após a notificação dos embargados

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para contestar, pelo que o prazo de contestação é de 30 dias (569º/1


CPC), podendo qualquer um dos embargados alegar nela, em
reconvenção ou excepção, que o bem penhorado pertence ao
executado, caso em que o tribunal conhecerá da questão da
propriedade.

Se os embargos forem julgados procedentes, a penhora, se já tiver sido


efectuada, é levantada. Mas também aqui se discute se a sentença tem ou não eficácia
de caso julgado fora do processo – sendo que a resposta da doutrina é afirmativa. Isto
está hoje expressamente consagrado no art. 349.º. Assim:
• Se os embargos se fundarem em direito de fundo do terceiro, fica
assente a existência ou inexistência desse direito;
• Se a causa se mantiver apenas no âmbito da posse, fica assente
que o terceiro era ou não possuidor à data da penhora.
• Se for invocado em reconvenção o direito de propriedade ou outro
direito real de gozo do executado, fica assente que este é ou não o titular
desse direito.

11.4. Acção de reivindicação

A acção de reivindicação é uma acção declarativa comum ao alcance do


proprietário cujo direito tenha sido ofendido pela penhora e que constitui um meio
totalmente autónomo relativamente ao processo executivo. Pode levar a todo o tempo
à anulação da venda que tiver sido efectuada no processo (art. 839.º/1/d)). Assim, o
proprietário pode recorrer, em alternativa, aos embargos de terceiro ou à acção de
reivindicação (ou ainda cumulativamente se os primeiros se fundarem na posse, caso
contrário haverá litispendência).
A propositura da acção de reivindicação não deixa de ter alguns efeitos no
processo executivo: se for proposta antes da entrega dos bens móveis ao adquirente e
do levantamento do produto da venda pelos credores (art. 841.º), ou se o reivindicante
tiver protestado pela reivindicação antes de efectuada a venda (art. 840.º), a entrega e
levantamento do produto da venda só terão lugar depois de o adquirente prestar
caução para garantir o direito do reivindicante.
Se a penhora incidir sobre bem sujeito a registo, há que ter em conta as
limitações decorrentes para o terceiro reivindicante derivadas das regras próprias do
registo. Assim, registadas a penhora e venda subsequente em processo executivo, o
exequente e o adquirente do direito penhorado, que estejam de boa-fé, gozam da
protecção do registo, se este for anterior ao registo da acção de revindicação e
alternadamente:
1) O direito do reivindicante se fundar na nulidade ou anulação do negócio
jurídico pelo qual o executado adquiriu o direito penhorado e a acção de
reivindicação não for registada nos três anos posteriores à conclusão do
negócio;
2) Houver, fora desse condicionalismo, registo pré-existente a favor do
executado, salvo se o direito do reivindicante se fundar em usucapião.
Já no caso em que o direito do reivindicante se fundar em transmissão efectuada
pelo executado, esta prevalece hoje, ainda que não registada, sobre os direitos
decorrentes da penhora e da venda executiva.

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12. Convocações e concurso.

Feita a penhora, são convocados para a execução os credores do executado e, em


certos casos, o seu cônjuge (art. 786.º/1 a 5). Assim, dá-se a possibilidade de
intervenção na acção executiva a outras pessoas que não o exequente e executado
(sendo chamadas pela primeira vez, a sua convocação faz-se sob a forma de citação –
219º/1 CSC – cuja falta ou nulidade tem o mesmo efeito que a falta ou nulidade da
citação do réu, mas com as restrições do art. 786º/6 CPC).
1) Convocação dos credores: apenas são convocados os credores que gozem
de garantia real sobre o bem penhorado (arts. 786.º/1/b) e 788.º/1). Assim, os
credores são chamados ao processo, não tanto para fazerem valer os seus
direitos de crédito e se pagarem, mas para fazerem valer os seus direitos de
garantia sobre o bem penhorado – daí, por ex., que só receba pelo valor dos
bens penhorados sobre os quais tem garantia (art. 796.º/2); qualquer
resultado que deixe incólume o direito real de garantia pode ser obtido, na
acção executiva, sem atenção ao credor; os poderes processuais do credor
reclamante circunscrevem-se nos limites do seu direito de garantia (art.
789º/3, 799º/2, 821º/2/3, 815º/1, 763º/4 CPC). São citados os credores com
direito real registado e que forem conhecidos (arts. 747.º/2 e 786.º/1/b), 3 e
4).

2)Convocação do cônjuge: o cônjuge do executado é convocado em dois casos:


• Quando a penhora tenha recaído sobre um bem do casal, nos termos do art. 740.º;
• Quando a penhora tenha recaído sobre bem imóvel ou estabelecimento comercial
que o executado não possa alienar livremente (art. 786.º/1/a)). Tirando o regime de
separação de bens, só podem ser alienados por ambos os cônjuges os imóveis próprios
ou comuns e o estabelecimento comercial (art. 1682.º-A/1 CC), bem como, no regime
de separação de bens, a casa de morada de família (art. 1682.º-A/2 CC).Na acção
executiva para pagamento de quantia certa, a citação do cônjuge do executado visa a
mesma finalidade de adequação do regime processual ao de direito substantivo, mas
circunscritamente aos bens imóveis e ao estabelecimento comercial. Impondo o art.
740º a citação do cônjuge do executado quando são penhorados bens comuns, este
artigo acrescenta a imposição de citação do cônjuge nos casos de penhora de bem
próprio do executado.
Em qualquer caso, o cônjuge do executado, uma vez convocado, pode realizar tudo
o que resulta do art. 787. Havendo oposição entre a posição tomada pelo executado e
assumida pelo cônjuge, em matéria em que releva a pura vontade da parte, o juiz
decidirá. A oposição do cônjuge à execução e à penhora deve ter lugar no prazo de 20
dias. Fora o caso em que a execução passe a valer contra ele, por aceitação da
comunicabilidade da dívida ou decisão de incidente de comunicabilidade, ao cônjuge
não é consentido fazer valer, em oposição, fundamentos já invocados pelo executado
em oposição própria.

São pressupostos específicos da reclamação de créditos:


1.A existência de garantia real sobre os bens penhorados;
2.A existência de título executivo;
3.A certeza e liquidez da obrigação.

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Diferentemente da obrigação exequenda, a obrigação do credor reclamante pode


ainda ser inexigível, caso em que há lugar ao desconto dos juros correspondentes ao
período de antecipação (art. 791.º/3).

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1) Garantia real: o credor com garantia real sobre os bens penhorados tem o
ónus de reclamar o seu crédito na execução, a fim de concorrer à distribuição do
produto da venda. Será este ónus extensivo ao credor cuja garantia incida apenas
sobre os rendimentos dos bens penhorados? LEBRE DE FREITAS entende que a nossa lei
atribui ao titular de garantia sobre os rendimentos do bem penhorado o ónus de
reclamação do seu crédito.
Porém, o credor que não tenha garantia real à data da penhora pode obtê-la das
seguintes formas:
• Pode propor uma nova acção executiva contra o mesmo executado, nomeando
à penhora os mesmos bens – fica assim com um direito real de garantia e pode
reclamar o crédito na outra execução (art. 788.º/5 e 794.º). A segunda acção executiva
suspende-se.
• Para além disto, no decurso do prazo das reclamações, pode constituir hipoteca
judicial, se tiver sentença a seu favor e o bem penhorado for um imóvel ou móvel
sujeito a registo (art. 710.º CC), ou mediante arresto do bem penhorado (arts. 619.º e
622.º/2 CC, e 391.º).

2) Título executivo: mais uma vez, um credor com garantia real sobre o bem
penhorado pode não dispor ainda de título no termo do prazo para a reclamação. A lei
permite que este possa suprir a falta:
• O credor sem título executivo pode requerer no prazo das reclamações que a
graduação de créditos aguarde a obtenção do título (art. 792.º/1), em acção já
pendente ou a propor no prazo de
20 dias (art. 792.º/7/a)), sem prejuízo de o processo executivo prosseguir até à venda
ou adjudicação dos bens penhorados e de se fazer entretanto a verificação dos
restantes créditos.
• Para além disto, é ainda possível a formação de um título judicial impróprio,
evitando a propositura de uma acção: o executado é notificado para, no prazo de 10
dias, se pronunciar sobre a existência do crédito invocado (art. 792.º/2); se o
reconhecer ou nada disser, considera-se formado o título executivo, sem prejuízo de
poder ser impugnado pelo exequente ou restantes credores (art. 792.º/3). Ou seja: a lei
permite suprir a falta de direito real de garantia e de título executivo.
Note-se que, havendo que propor acção (porque o executado negou a existência
do crédito), nela intervêm, como partes em litisconsórcio necessário, o exequente os
credores reclamantes com garantia real sobre o mesmo bem (792º/5 CPC). Cfr. ainda
nº7.

3)Certeza e liquidez:
• Se a obrigação do credor não for qualitativamente determinada, lança mão dos
meios de que o exequente tem à sua disposição para tornar certa (art. 788.º/7).
Quando a escolha não dependa do credor e este não torne certa a obrigação dentro do
prazo que tem para reclamar, a dedução do direito terá lugar em forma alternativa, a
resolver no momento em que a obrigação se tenha tornado certa.
• A liquidez do crédito não tem de se verificar à data da reclamação, dispondo o
credor dos meios do exequente (art. 788.º/7/8). Quando o título executivo é uma
sentença, é na acção declarativa que a liquidação há-de ter lugar dado que o credor

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reclamante em execução alheia dispõe dos mesmos meios de que dispõe o exequente.
Deve aplicar-se, neste âmbito, analogicamente o art. 792º/1 CPC.

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O concurso de credores é processado por apenso ao processo de execução (art.


788.º/8). Trata-se de um processo declarativo de estrutura autónoma, mas
funcionalmente subordinado ao processo executivo. Divide-se em:
 Articulados – citados os credores, estes podem, no prazo peremptório
de 15 dias reclamar os seus créditos, mediante a apresentação de
petição, que é articulada quando o crédito for superior a 5000 euros.
Segue-se o disposto nos arts. 789º/3 a 5; 790º e 791º CPC.
 Verificação dos créditos – Art. 791º CPC. A verificação pode consistir
no reconhecimento do crédito ou no não reconhecimento, podendo
igualmente o tribunal não entrar na verificação de certo crédito por
julgar procedente uma excepção dilatória conducente à absolvição de
instância.
 Graduação dos créditos – O juiz gradua os créditos, estabelecendo a
ordem pelo qual devem ser satisfeitos, incluindo o crédito do
exequente, de acordo com os preceitos aplicáveis do direito
substantivo. (745º a 748º CC; 749º a 751º CC)
A convocação é feita nos autos do processo executivo e só com as reclamações é
que tem início a acção declarativa. Esta é uma só para todas as reclamações.
Neste caso, o caso julgado produz-se apenas quanto ao reconhecimento do
direito real de garantia, ficando por ele reconhecido o crédito reclamado só na estrita
medida em que funda a existência actual desse direito real. Verificado o pressuposto da
intervenção do executado na acção, o caso julgado forma-se quanto à graduação, mas
não quanto à verificação dos créditos.

13. Análise sumária dos processos de execução comum para entrega de


coisa certa e para prestação de facto.

13.1. O processo de execução comum para entrega de coisa certa.

A acção executiva para entrega de coisa certa tem lugar sempre que o objecto
da obrigação é a prestação de uma coisa. O qualificativo “certa” tem a ver com o
pressuposto processual da certeza da prestação, pelo que não obsta à execução a
necessidade de se proceder à individualização das unidades que serão objecto da
prestação a efectuar no caso de obrigação genérica cujo objecto se apresente
qualitativa e quantitativamente determinado.
Nos casos em que a coisa já não exista, seja objecto de um direito incompatível
com o do exequente ou não venha a ser encontrada, verifica-se a conversão da
execução para entrega de coisa certa em execução para pagamento de quantia certa.
O credor fará aqui valer a faculdade de execução específica, mediante a
apreensão da coisa que o devedor está obrigado a prestar-lhe – entrega judicial da
coisa judicial (art. 827º CC).Não há, por isso, neste tipo de acção, lugar a penhora. Para
realizar o direito exequendo, o tribunal procede à preensão da coisa e à sua imediata
entrega ao exequente, após efectivação das buscas e outras diligências que forem
necessárias. (art. 861º CPC) Ainda que o CPC mande aplicar “as disposições referentes
à realização da penhora”, a apreensão da coisa devida não tem a função nem os
efeitos da penhora.
Visa, tão só, a entrega da coisa ao exequente, não conferindo a este qualquer
direito de preferência nem operando a transferência da posse da coisa para o tribunal.

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Podendo a acção executiva ter na sua base um direito real ou um direito de crédito, a
entrega da coisa logo investe o

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exequente numa posse em nome próprio ou em nome alheio, quando nela não se limita
a mantê-lo; e, mesmo quando a apreensão e a entrega aparecem como actos
temporalmente bem separados, o tribunal não deixa de actuar, desde a apreensão,
como mero detentor da coisa em nome do exequente, a quem a irá entregar. E o
executado conserva, após a preensão, exactamente os mesmos direitos que
anteriormente tinha.
Acresce ainda que os limites objectivos à penhorabilidade dos bens não têm
aplicação ao caso de execução específica da obrigação de entrega de coisa
determinada, uma vez que a cobertura da pretensão do credor pelo título executivo
constitui já demonstração suficiente de que não há razões sociais que obstem à
entrega. Posto isto, exclui-se a possibilidade de concurso de credores ou venda da coisa
apreendida.

TRAMITAÇÃO

 Apresentado o requerimento executivo, realizada a tramitação que lhe é


complementar e proferido o despacho liminar de citação, o executado é citado
nos termos do art. 859º CPC. REMÉDIO MARQUES refere que, no caso de o título
executivo ser uma sentença judicial, não deverá haver citação do executado
antes da apreensão da coisa, sob pena de este a poder danificar ou esconder, e
tendo em consideração que o “executado” já previamente teve oportunidade de
defender-se no âmbito do processo declarativo.
 A oposição segue o mesmo regime que na execução para pagamento de quantia
certa. As únicas diferenças é que aqui não se aplica a restrição probatória do art.
729º/g CPC e o executado pode invocar na oposição, além dos fundamentos do
art. 729º e 730º CPC, a realização de benfeitorias que tenha feito (860º/1 CPC).
Basear-se-á para tanto, normalmente, no direito de retenção por elas conferido.
LEBRE DE FREITAS diz-nos que fora o caso do direito de retenção, não se afigura
mais nenhum caso em que o direito à indemnização por benfeitorias possa
fundar a oposição à execução. Para o autor, a invocação de benfeitorias
configura uma excepção peremptória, que obsta à procedência do pedido
executivo, mas com a particularidade de cessar com o pagamento das
benfeitorias.
 Deve aplicar-se por analogia o art. 786º/1/a CPC para permitir ao cônjuge citado
a impugnação do crédito exequendo na oposição à execução.
 Feitas as buscas e outras diligências que forem necessárias à apreensão da
coisa, o tribunal apreende-a e investe o exequente na posse. (861º/2/3/4 CPC) Se
a coisa se encontrar penhorada em acção executiva para pagamento de quantia
certa, a apreensão não é possível.
 Se um terceiro tiver a posse da coisa a apreender por via de um título autónomo,
ou derive do executado uma posse incompatível com o direito do exequente,
deverá a execução ficar suspensa, por falta de título executivo contra o terceiro
ou porque este não foi demandado, ou deverá a apreensão ter lugar, sem
prejuízo do direito do terceiro a fazer valer o seu direito em acção autónoma?
LEBRE DE FREITAS defende que a prevalência do interesse do exequente ou do
terceiro resulta dos regimes de direito substantivo aplicáveis. (Pág. 444 e 445)
 Quando não é encontrada a coisa ou quando já não exista, tem lugar a
conversão da acção executiva. Liquidada a indemnização devida (isto é,

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quantificados os danos sofridos a compensar com a justa indemnização),


seguem-se a penhora e os demais termos da acção executiva para pagamento
de quantia certa (art. 867º CPC) Nela, só por fundamento superveniente, pode
ter lugar a oposição do executado. LEBRE DE FREITAS defende que a

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conversão também se verificará quando sobre a coisa incida direito de terceiro


que, prevalecendo sobre o do exequente e com ele sendo incompatível, impeça
o investimento material ou jurídico na posse.

13.2. O processo de execução comum para prestação de facto.

Tem lugar sempre que o objecto da obrigação, tal como o título o configura, é
uma prestação de facto, seja este de natureza positiva (obrigação de facere) ou
negativa (obrigação de non facere). É ao título executivo que havemos de recorrer
para, atentando o art. 10º/5 CPC, determinar o tipo de acção executiva, ainda que o
exequente venha a obter, pela execução, em vez da prestação de facto que lhe é
devida, o seu equivalente pecuniário – ou porque, sendo o facto infungível, não é
preciso obter de terceiros a sua prestação, ou porque, tratando-se embora de facto
fungível, o exequente vem, perante o incumprimento e nos termos da lei civil, a optar
pela resolução do contrato e pela indemnização de perdas e danos.
Claro que o direito à indemnização pecuniária, quando o exequente por ela optar,
pode ser exercido, não em execução para prestação de facto, mas em acção
declarativa em que se peça a condenação do réu na indemnização pretendida; nesses
casos, o credor lançará mão de acção executiva para pagamento de quantia certa. Mas,
sempre que o título configure uma prestação de facto, e sem prejuízo da norma do art.
710º sobre a cumulação de pedidos baseados numa única sentença, é à
correspondente execução que há que recorrer.
A distinção entre a execução para entrega de coisa certa e execução para
prestação de facto nem sempre é fácil de fazer. Quando se trate de uma prestação
principal e uma prestação acessória de diferente natureza têm que ser movidas duas
acções executivas para a realização de uma e de outra. (art. 709º/1/b CPC)
Porém, quando movida execução pela prestação principal haja lugar à
indemnização por equivalente pecuniário de ambas as prestações, a liquidação da
indemnização pelo incumprimento da prestação acessória deve ser feita juntamente
com a liquidação da indemnização pelo incumprimento da prestação principal, no
âmbito da conversão da execução interposta. Por outro lado, a apreensão de uma coisa
acessória, isto é, destinada a servir a finalidade de cumprimento de uma obrigação de
prestação de facto, pode ter lugar na acção executiva para prestação do facto.

B. Prestação de facto com prazo certo


Temos que distinguir se o facto é fungível ou infungível.
 Se for infungível o executado não pode ser forçado a prestá-la. Assim, o
exequente executar o seu direito à indemnização pelo dano sofrido pela
não realização da prestação. REMÉDIO MARQUES alerta ainda para a
possibilidade de no requerimento executivo se pedir ao juiz da execução
que fixe uma sanção pecuniária compulsória (art. 868º/1 e 876º/1/c CPC).
Se a sanção pecuniária compulsória tiver sido fixada na acção declarativa
e o exequente, na petição inicial, requerer o seu pagamento, o juiz da
execução não terá que se pronunciar, cabendo ao agente de execução
liquidar, a final, no seu montante (art. 716º/3 CPC). Havendo que o fixar na
execução, o processo vai concluso ao juiz, a fim de que ele a fixe antes da
citação do devedor, cabendo, de qualquer modo, ao agente de execução,

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no final, fazer a respectiva liquidação, se o incumprimento persistir. Só


podem ser usadas para constranger o

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sujeito a cumprir quando a prestação de facto for infungível. Mais uma


vez, a acção executiva de prestação de facto converte-se numa acção
executiva para pagamento de quantia certa.
 Se for fungível, aí o exequente pode optar pela prestação do facto por
outrem – execução específica – ou pela indemnização compensatória.
Assim, sendo, ou ainda é possível a prestação por terceiro e a
indemnização compensatória a suportar pelo devedor deve ser calculada
em função do custo actual da prestação de facto por terceiro (recorrendo
aos seus bens para a pagar) ou a prestação por terceiro já não é possível e
a indemnização compensatória deve ser calculada em função do
incumprimento, nomeadamente dos danos sofridos por ter ficado sem a
prestação a que tinha direito.

Ora, apresentando o requerimento inicial e proferido despacho liminar de


citação, quando deva ter lugar, o devedor é citado para deduzir oposição à execução
nos termos do art. 868º CPC. Veja-se ainda o art. 875º/2 CPC. O próprio exequente
poderá, se o credor tiver optado pela prestação de facto por outrem, realizar ele próprio
a prestação, desde que a inicie dentro do prazo para se opor à execução, conduzindo
aqui à suspensão da instância, que retomará quando este demore muito tempo a
realizar a prestação.
Findo o prazo para a oposição, o exequente requer a nomeação de perito que
avalie o custo da prestação (art. 870º/1 CPC) e, feita a avaliação, procede-se à penhora
dos bens do executado necessários ao custeamento da prestação e ao pagamento das
custas, seguindo-se a tramitação do processo de execução para pagamento de quantia
certa. (870º/2 CPC) A realização da prestação tem lugar extrajudicialmente, podendo
ser feita pelo próprio exequente, ou por terceiro por ele contratado, fiscalizado e pago
(art. 871º/1), caso em que, concluída a prestação, o exequente presta contas do seu
custo, que o executado pode contestar no prazo de 30 dias (art. 871º/3 e 946º/1),
seguindo-se os demais termos do processo de prestação de contas (art. 944º, 945,
946/2 CPC), que corre por apenso à execução (art. 947º, por analogia). Aprovadas as
contas pelo agente de execução, o crédito que delas resultar para o exequente é pago
pelo produto obtido na execução do custeamento (art. 872º/1 CPC); se ele não chegar,
proceder-se-á à penhora e venda de novos bens, até que o exequente seja
integralmente pago (art. 872º/2 CPC).
Ter ainda em consideração o art. 873º CPC para quando já estiver iniciada a
prestação e facto, cessando então a possibilidade de pedir indemnização
compensatória. Se o credor pretender exigir o pagamento da indemnização moratória,
deverá fazê-lo quando opte pela execução do facto por outrem (art. 868º/1 CPC)
liquidando-a juntamente com a prestação de contas (871º/2 CPC). Trata-se de uma
cumulação de pedidos.
Em suma, a conversão da execução verificar-se-á nos casos em que seja o facto
fungível ou infungível, o exequente peça a indemnização compensatória da falta de
cumprimento da prestação devida, fundo o prazo para a oposição, ou julgada esta
improcedente quando suspenda a execução.
Para a prestação de facto sem prazo certo atentar aos arts. 777º/2 CC, 874º e 875º
CPC.

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Quando se fale de execução para prestação de facto negativo para qualificar a


acção executiva em que, em face da violação duma obrigação de não fazer, o credor
requer as providências adequadas à reparação do dano. O objecto da execução não é
um facto negativo, mas sim o facto positivo da reparação. Tratando-se de uma obra,
nos termos do art. 566º e 829º CC, o

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credor pode tão-só exigir a destruição ou demolição da obra à custa do devedor. Poderá
ainda exigir uma indemnização complementar pelo prejuízo sofrido, nos termos do art.
876º/1 e 877º/1 CPC). Se não houver obra feita, o exequente terá apenas direito à
indemnização compensatória. Pode ainda haver um pedido de pagamento da quantia
devida a título de sanção pecuniária compulsória, quer fixado na acção declarativa,
quer na acção executiva. Ver arts. 876 e 877º CPC.

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