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Processo-Executivo-Sebenta
Processo
Executivo
PARTE GERAL
1Pelos factos controvertidos alegados pelo autor e pelo réu (seja por excepção, negação, ou
pedido reconvencional) surge um conflito que o juiz há-de resolver criando uma convicção
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Como exemplos: citações, notificações, apreensões de bens, vendas, pagamentos, passagem
de títulos de transmissão emitidos pelo agente de execução, notificação das conservatórias de
registo para levantarem os registos de penhoras, etc… Recentemente, também, suspensão da
Assim, REMÉDIO MARQUES define acções executivas como “as que têm por fim
efectivar o cumprimento coercivo duma norma primária de obrigação (lato
sensu), estabelecida num título (documento) bastante, mediante um pedido
dirigido aos tribunais estatuais para que substituam ao devedor na realização
da prestação – originária ou sucedânea – à custa do património dele”.
Note-se ainda que a execução pode ser de dois tipos:
• Execução específica ou in natura: o exequente obtém o mesmo resultado que
obteria com a realização da prestação que, segundo o título, lhe é devida (ainda que à
custa de terceiro). Ocorre nos seguintes casos: acção executiva para entrega de coisa
certa; acção executiva para prestações de facto fungível, em que o facto seja realizado
por outrem à custa do devedor; acção executiva para prestação de facto negativo,
quando a actividade material violadora da obrigação seja removida à custa do devedor.
Esta não se confunde com a figura da execução específica do art. 830º CC. Esta última
surge no âmbito de uma acção declarativa constitutiva que só per si altera a situação
jurídica entre as partes. (p.e. Caso do contrato-promessa, quando não é celebrado o
contrato prometido)
• Execução por equivalente: a prestação é realizada coactivamente à custa do
devedor, por forma a obter um efeito tanto quanto possível semelhante ao que se
conseguiria se a prestação fosse voluntariamente cumprida. Ocorre nos seguintes
casos: acção executiva para prestação de facto infungível em que só a obtenção de um
equivalente pecuniário satisfaz o interesse da prestação; e acção executiva para
pagamento de quantia certa.
Também a acção executiva pode ser de vários tipos (art. 10º/6 CPC):
1) Acção executiva para pagamento de quantia certa (art. 724º e ss. CPC)
a. Um credor, o exequente, pretende obter o cumprimento duma obrigação
pecuniária através da execução do património do devedor, o executado
(art. 817º CC) Para tal, o tribunal apreende os bens que considera
suficientes para cobrir a importância da dívida e das custas e,
normalmente, procede à sua venda para, com o preço obtido, proceder ao
pagamento. O exequente obtém assim o mesmo resultado que com a
realização da prestação que, segundo o título executivo, lhe é devida.
Execução específica.
b. Mesmo que a acção executiva tenha na sua base uma obrigação de
entrega de coisa ou prestação de facto, normalmente converte-se nos
próprios autos numa acção executiva para pagamento de quantia certa.
Execução por equivalente.
2) Acção executiva para entrega de coisa certa (art. 859º e ss. CPC)
a. O exequente, titular do direito à prestação de uma coisa determinada,
pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao devedor (executado) e
seguidamente lha entregue (art. 827º CC) Execução específica.
b. Se a coisa não for encontrada, o exequente procederá à liquidação do seu
valor e do prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e
vendendo-se bens do executado para pagamento da quantia liquidada
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3) Acção executiva para prestação de facto (art. 868º e ss. CPC) Devemos
distinguir:
a. Quando este for fungível: o exequente pode requerer que ele seja
prestado por outrem à custa do devedor (art. 828º CC), sendo apreendidos
e vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do custo
da prestação. Execução específica.
b. Quando este for infungível: o exequente já só pode pretender a
apreensão e a venda de bens do devedor suficientes para o indemnizar do
dano sofrido com o incumprimento (art. 868º CPC), e eventualmente a
quantia devida a título de sanção pecuniária compulsória. Execução
por equivalente.
c. No caso de um dever de facto negativo (omissão): o exequente,
consoante os casos, pedirá a demolição da obra que porventura tenha
sido efectuada pelo devedor3, à custa deste, assim como a indemnização
do prejuízo sofrido, ou uma indemnização compensatória (art. 829º CC e
876º CPC). Também aqui o credor pode obter o mesmo resultado que
obteria com a realização da obrigação que lhe é devida ou um seu
equivalente, ainda que por terceiro. Pode surgir de uma prestação de
natureza obrigacional ou da violação de um direito real. Execução
específica.
Podemos retirar algumas conclusões desta análise dos vários tipos de acção
executiva:
Como vimos antes, acção executiva pressupõe sempre o dever de
realização de uma prestação. Normalmente, esta constitui o conteúdo de
uma relação jurídica obrigacional, primária ou de indemnização. Mas nem
sempre: os direitos reais também podem fundar pretensões a uma prestação
a efectuar a favor do seu titular. Assim, não se pode dizer que apenas
obrigações podem dar origem à acção executiva, a menos que o termo
“obrigação” seja tomado lato sensu, no sentido de abranger qualquer relação
jurídica que tenha por conteúdo, ainda que só subordinadamente a uma
relação ou situação jurídica de outra natureza, o dever de realizar uma
prestação.
A acção executiva não pode ter lugar perante a simples previsão da violação
de um direito. Através dela, o exequente visa reparar um direito violado,
pressupondo-se a consumação da violação ou, pelo menos, a exigibilidade da
Note-se ainda que há várias normas de direito substantivo que relevam para efeitos
do processo executivo:
O princípio do contraditório está previsto no art. 3.º do CPC e diz que o processo
deve conferir às partes a oportunidade efectiva e eficaz de influir, através da sua
audiência pelo tribunal, no processo, por forma à comprovação objectiva de todas as
circunstâncias (de facto e direito) do caso concreto em litígio. Este princípio tem uma
eficácia muito limitada no processo executivo, uma vez que o dever de prestar já se
encontra documentado no título executivo.
Assim, são poucas as ocasiões em que o executado pode exercer o direito do
contraditório – se é executado, é porque há fortes razões para pensar que deve a
prestação em falta, uma vez que existe um título executivo.
Quais são as hipóteses em que o executado exerce o direito do contraditório na
acção executiva? Tirando os incidentes declarativos enxertados na acção executiva e
as acções executivas que correm por apenso, nas quais o contraditório se encontra
plenamente assegurado, o contraditório está geralmente limitado à prática dos actos,
lícitos ou ilícitos, no processo executivo (citação, penhora, etc.). Para além disto, tem
outras manifestações, nomeadamente:
• Audiência do executado quanto à escolha, pelo juiz, da modalidade da venda
judicial de venda dos bens penhorados, que pode reclamar para o juiz da decisão do
agente de execução (ex: um quadro será mais valorizado se for vendido através de
uma empresa especializada em leilões de arte).
• O executado também pode reclamar para o juiz da decisão da fixação do valor
dos bens, pedindo por ex. que se nomeie um perito.
Mas como é que sabemos, perante um acto concreto, se este deve ser praticado
pelo agente de execução ou pelo juiz? O art. 719.º do CPC, que vem confirmar o
modelo de desjudicialização, diz que cabe ao agente de execução efectuar todas as
diligências no processo executivo que não estejam cometidas ou à secretaria ou ao
juiz. Assim, o critério é o seguinte:
Há casos em que credor pode determinar que os actos sejam praticados por oficiais
de justiça? Sim – em certos casos, existe esta hipótese; mas, mesmo que seja possível,
quando o oficial de justiça pratica estes actos está a assumir o estatuto de agente de
execução, art 722.º. Existem duas hipóteses em que o credor exequente pode impor a
intervenção dos oficiais de justiça:
• Primeira hipótese (al. e) –Requisitos:
Execuções de valor não superior ao dobro da alçada dos tribunais da 1ª
instância (10.000€).
O exequente seja uma pessoa singular.
O objecto da execução seja um crédito que não resulte de uma actividade
comercial ou industrial – logo, que resulte de um fornecimento de bens ou serviços para
uso privado.
O credor exequente tem de solicitar, no requerimento executivo, a intervenção
destes funcionários.
• Segunda hipótese – créditos laborais, desde que o crédito exequente não seja
superior à alçada da Relação (30.000€), e o credor o solicite.
Nas execuções em que o Estado é exequente e em que o Ministério Público
representa o exequente, o agente de execução é sempre o oficial de justiça – ou os
créditos são créditos do Estado, e o Estado tem os seus funcionários; ou o Estado,
através do Ministério Público, está a cuidar dos interesses dos menores, incapazes ou
incertos.
O art. 723.º CPC elenca os actos que são da competência do juiz. Quando o
requerimento executivo é enviado para o tribunal, automaticamente é feita a
distribuição (repartição do trabalho
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Desde a reforma, modicou-se o estatuto da liquidez relativa à sentença judicial condenatória.
Esta só constitui título executivo após a liquidação da obrigação pecuniária que não dependa de
mero cálculo aritmético, a qual tem lugar no próprio processo declarativo (art. 704º/6 CPC).
Neste caso, a liquidez integra o próprio título, em vez de complementar um título já constituído.
O mesmo acontece quando estamos ante um título de crédito (art. 703º/1/c CPC).
Liquidez: é obrigação ilíquida aquela que tem por objecto uma prestação cujo
quantitativo não esteja ainda apurado. Esta distingue-se da obrigação genérica,
que é aquela cujo objecto é referido a um género que o contém, podendo ter
objecto qualitativamente indeterminado ou determinado, sendo que neste último
caso, a concretização do objecto depende dum mero acto de individualização de
unidades que serão prestadas (Processo para entrega de coisa certa – 861º/2 CPC).
Normalmente, a obrigação genérica é líquida, excepto quando o objecto se
apresenta quantitativamente indeterminado.
O Código faz coincidir pedido genérico e pedido ilíquido. O conceito de pedido
genérico retira- se do art. 556º e 557º/1, sendo admitida a condenação em quantias
ilíquidas, p.e. em casos de acidentes de viação ou seguros, quando não se sabe a
extensão dos danos. Face a isto:
não tendo sido fixado previamente prazo, a obrigação for a prazo e este já tiver
decorrido, dependerá da interpretação do contrato
saber se o prazo da escolha coincide com o previsto para o cumprimento ou se, uma
vez este decorrido, deve ter lugar a notificação do devedor para que escolha (caso em
que só depois poderá ocorrer o vencimento da obrigação.
Se a escolha pertence a um terceiro e este não a tiver efectuado, há lugar,
na fase liminar do processo executivo, à sua notificação para o efeito (714º/2 CPC); se
este não escolher, passa o exequente a fazê-lo. (714º/3 CPC). A remissão do art. 714º/1
CPC, implica que, não estando o prazo da escolha determinado, o terceiro a deva fazer
até ao termo do prazo para a oposição do executado. Defende-se, pois, uma
interpretação restritiva da remissão legal, porquanto o art. 713º CPC impõe que a
determinação seja feita na fase liminar da execução, anterior à oposição do executado.
Se a escolha tiver sido feita antes do processo de execução, seja pelo
devedor, por terceiro, ou pelo tribunal, cabe ao exequente propor a acção executiva e
fazer nela prova de que foi efectuada, por aplicação analógica do art. 715º/1 a 4 CPC.
2.2.6.Obrigações sinalagmáticas.
(também nos casos em que o credor queira provar o vencimento para evitar custas).
Quem aprecia esta prova?
Sendo necessária a produção de prova documental para verificação da
certeza e exigibilidade da obrigação, caberá a sua apreciação ao agente
de execução. Há quem questione se não há aqui violação do princípio da
separação dos poderes.
Sendo necessária a produção de prova extradocumental para
verificação da certeza e exigibilidade da obrigação, o exequente oferece-a
no requerimento executivo (art. 724º/1/h CPC), seguindo-se sempre
despacho liminar (art. 715º/3 CPC) Não ocorrendo causa de indeferimento
ou aperfeiçoamento (art. 726º/2/b e nº4), o juiz designa dia para a
produção de prova, a qual é sumariamente feita, em termos semelhantes
aos estatuídos pelo art. 345º CPC; se o juiz entender provada a certeza e a
exigibilidade, o processo prossegue. Isto a menos que entenda necessária
a audição do executado que tem carácter de excepção, tal como a própria
lei demonstra. (ver art. 715º/3/4 CPC)
Assim, regra geral, nas execuções com processo ordinário, em que há despacho
liminar (art. 726º/1 CPC) cabe ao juiz verificar se a obrigação exequenda é certa e
exigível, em face do título executivo e da prova documental complementar.
Nas execuções com processo sumário, em que não há lugar a despacho liminar,
a certeza e exigibilidade da obrigação exequenda são verificadas pelo agente de
execução em face de título executivo ou perante documento, sem intervenção do juiz -
art. 855º/2 CPC, excepto o caso da alínea b).
A liquidação tem lugar na fase liminar do processo executivo, quando não deva
fazer-se no processo declarativo.
*Excurso:
O artigo refere-se a “quando a execução se funde em título extrajudicial". Mas e
quando se funde em titulo judicial ilíquido? Imagine-se o caso de um acidente de
trabalho, no qual é preciso ao sujeito instaurar uma acção declarativa condenatória
contra a seguradora para pagar a quantia devida. O prazo de prescrição previsto no
nosso CC, nos casos de responsabilidade civil extracontratual, é de 3 anos, podendo
acontecer que dentro desse prazo, o sujeito não tenha possibilidade de determinar a
quantia total de gastos que teve, consequência do acidente. Assim, fará o pedido e
relativamente aos montantes já gastos, formulará pedido líquido; quanto aos
montantes que ainda irá gastar, formulará pedido ilíquido. Tal é permitido pelo art
556º/1/b CPC. Ora, o juiz, no decurso do processo, decretará sentença ilíquida.
Se, depois disto, o trabalhador não conseguir chegar a acordo com a seguradora
e for preciso levar a cabo a liquidação, não se aplicará o art. 716º/4 CPC. Quando o
título executivo for sentença condenatória e esta seja ilíquida, devemos fazer o
seguinte: não se propõe acção executiva e se liquidam estes danos dentro dessa via,
mas sim reabre-se o processo declarativo e instaura-se incidente de liquidação antes
da acção executiva estar instaurada (art. 359º e 360º CPC). Se depois disso, a
seguradora não quiser pagar, instaura-se processo executivo porque aí a sentença já
será líquida.
As partes, ou uma lei especial, podem determinar que a liquidação seja feita por
árbitros (peritos), caso em que esta tem lugar extrajudicialmente (art. 716º/6 CPC).
Note-se que a liquidação por árbitros não é possível quando se trate de liquidar
obrigação constante de sentença judicial (aplicando-se o art. 361º CPC), ou ainda
obrigação decorrente de título de crédito (neste caso, a liquidez só pode depender de
cálculo aritmético).
Naturalmente, constituindo a arbitragem o exercício da função jurisdicional, impõe-
se o respeito pelo princípio do contraditório. A liquidação considera-se feita nos termos
do art. 361º/3/4 CPC.
Quando o exequente pede, de acordo com o título executivo, que lhe seja entregue
uma universalidade, o pedido ilíquido é admitido, procedendo-se à liquidação em
incidente imediatamente posterior à apreensão dos bens e anterior à sua entrega ao
exequente (art. 716º/7 CPC). Acontecerá quando a universalidade se achar na posse do
executado e o exequente não tenha meios para a ela aceder para realização do
requerimento inicial.
Se não for requerida a liquidação de obrigação ilíquida, deve o juiz proferir despacho
de aperfeiçoamento. No caso de a petição não ser aperfeiçoada, o juiz indefere a
petição, podendo haver, se não o fizer, oposição à execução (art. 729.º/e)).
O título executivo constitui a base da execução (veja-se o art. 703º CPC, que contém
o princípio “nulla executio sine titulo”, sendo que toda a execução sem título é
execução ilegal (podendo conduzir à restituição dos bens de acordo com as regras do
enriquecimento sem causa).
A sentença proferida por tribunal estrangeiro também é exequível por força do art.
703º/1/a CPC. Mas só o é depois de revisão e confirmação pelo competente tribunal da
relação nos termos do art. 706º e 979º CPC. A confirmação é assim necessária, não
apenas para efeitos de execução, mas
também para qualquer outro efeito de direito, com a única ressalva da sua
invocabilidade em tribunal como meio de prova, a apreciar livremente pelo julgador.
(art. 978º/2 CPC) A confirmação tem lugar sempre que verificados os requisitos do art.
980º CPC.
Hoje aplicam-se ainda nesta matéria o Regulamento 1215/2012 e a Convenção do
Lugano que estabelecem o reconhecimento automático de sentenças proferidas noutro
estado da EU (p.e. a Dinamarca não está vinculada), ou noutro Estado Contratante da
Convenção (Suíça, Liechenstein, Noruega e Islândia) , sem necessidade de recurso a
qualquer processo. Ora:
No âmbito da Convenção de Lugano, a execução de uma sentença
proferida por tribunal de outro Estado contratante, que seja aí seja título
executivo, deve ser precedida de declaração de executoriedade no tribunal
de 1ª instância do lugar da execução. (arts. 31.º e 32.º da Convenção). O
contraditório só surgirá depois dessa declaração.
Já o Regulamento 1215/2012, aplicável a partir de 2015, veio abolir a
necessidade desta declaração, prevista no Regulamento de Bruxelas I. Assim,
as decisões provenientes de tribunais ou órgãos jurisdicionais de Estados-
membros podem ser executadas, bastando apenas a junção de uma certidão
aos autos (art. 42.º).
Incluem-se aqui, para além de sentenças proferidas por tribunais de outros países,
sentenças emanadas por órgãos jurisdicionais de DIPúblico. (EFTA, TEDH, TJUE, TGUE)
Se as decisões arbitrais foram proferidas no estrangeiro, será necessário revisão nos
termos da convenção de Nova Iorque sobre reconhecimento e execução de sentenças
arbitrais estrangeiras.
Para que uma sentença seja exequível, é necessário que tenha transitado em
julgado, isto é, que seja insusceptível de recurso ordinário ou de reclamação (art. 628º
CPC), salvo se contra ela tiver sido interposto recurso com efeito meramente
devolutivo. (art. 704º/1 CPC)
Se tiver efeito suspensivo (art. 647.º/2), isto pode significar duas coisas: pode ser
um efeito intra- processual (a decisão suspende qualquer tramitação que essa acção
possa ter) ou extra-processual, interessando-nos este último – o recurso paralisa a
eficácia da sentença fora do processo, nomeadamente a execução da sentença (outros
efeitos extra-processuais são a prescrição e o registo). Quando o recurso tenha efeito
suspensivo, só é possível intentar a acção de execução depois do trânsito em julgado. É
o caso de uma decisão que condene em multa ou outra sanção processual derivadas da
prática de actos processuais censuráveis, cujo recurso tem efeitos suspensivos. (art.
647º/3/e CPC)
A atribuição de efeito meramente devolutivo significa que é possível executar a
decisão recorrida na pendência do recurso, porque devolve a reapreciação do caso para
a 2ª instância, criando uma nova relação jurídica processual, logo os efeitos jurídicos da
sentença de 1ª instância podem produzir-se. Constitui hoje a regra no recurso de
apelação (art. 647º CPC); tem sempre lugar no recurso de revista (art. 676º CPC –
excepto nas acções sobre estados de pessoas). Naturalmente, se tiver sido instaurada
execução na pendência de recurso com efeito meramente devolutivo – porque
Se pelo tribunal de recurso vier a ser proferida decisão que, por sua vez, seja
objecto de recurso para um tribunal superior, a execução:
1) Suspender-se-á ou modificar-se-á, consoante a decisão da 2ª instância for total
ou parcialmente revogatória da anterior, se ao novo recurso também for
atribuído efeito meramente devolutivo.
2) Prosseguirá tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada com a
decisão definitiva, se, pelo contrário, for atribuído ao recurso efeito suspensivo, o
qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia proferida. (art.
704º/2/2ª parte CPC)
O art. 707.º diz que podem servir de base à execução os documentos em que se
convencionem prestações futuras ou se preveja a constituição de obrigações futuras.
No primeiro caso, exige-se a prova de que alguma prestação foi realizada para
conclusão do negócio; no segundo, a de que alguma obrigação foi constituída na
sequência da previsão das partes – ou seja, estes documentos só são títulos de forem
acompanhados de outros documentos que façam esta prova.
Que casos é que estão abrangidos? LEBRE DE FREITAS distingue:
• Documentos em que se convencionem prestações futuras: a doutrina
entende que o que está aqui em causa é a exequibilidade de documentos autênticos ou
autenticados que documentam contractos que, para além das declarações de vontade,
exigem como requisito constitutivo a tradição da coisa (contractos reais quanto à
constituição – no fundo exige-se prova complementar da realização da prestação
constitutiva dum contrato real prometido por documento autêntico ou autenticado).
São exemplos: contrato de abertura de crédito, mútuo, fornecimento, depósito ou
locação, etc.
Exemplo: um empresário, que necessita de financiamento, celebra com o banco
um contrato mediante o qual este se compromete a disponibilizar moeda em
curso legal no país até ao montante de 100.000€ (contrato de abertura de
crédito). O mutuário promete restituir o capital e eventuais juros; porém, não o
faz. O banco pode instaurar uma acção executiva, mas para tal é necessário
provar que o fez uma transferência bancária para a conta do mutuário (por ex., o
talão da transferência). O mutuário terá de assinar outro documento
reconhecendo que os 100.000€ emprestados já estão na sua conta.
• Documentos em que se preveja a constituição de obrigações futuras:
abrange os casos em que as partes não se tenham vinculado, bilateral ou
unilateralmente, à celebração de um negócio jurídico, mas se tenham limitado a
prever, em documento autêntico ou autenticado, a possibilidade dessa celebração,
nomeadamente constituindo logo garantia que cubra a realização dessa previsão.
REMÉDIO MARQUES não distingue estes dois casos, dizendo que o que aqui está em
causa são meramente os documentos que prevejam contractos reais quanto à
constituição.
O art. 703.º/1/d) CPC consagra uma cláusula aberta que permite considerar títulos
executivos os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força
executiva. Aqui incluem-se alguns documentos particulares cuja assinatura não está
reconhecida pelo notário, mas é porque a lei o prevê expressamente. Que títulos é que
se incluem aqui?
• Títulos judiciais impróprios: alguns dos títulos cuja força executiva resulta de
disposição especial da lei formam-se no decurso do processo, sendo títulos formados
num processo mas não resultantes de uma decisão judicial. Alguns formam-se mesmo
na pendência do processo executivo. São exemplos de títulos judiciais impróprios:
No processo de prestação de contas, quando o réu as apresente e dela
resulte um saldo a favor do autor, pode este requere que o réu seja
Nota: O art. 857º/1 CPC foi declarado parcialmente inconstitucional, com força
obrigatória geral, entendendo o TC que os fundamentos de oposição à execução,
quando esta se funda num requerimento de injunção, têm que ser os mesmos que
podem ser alegados no caso de o título executivo ser uma sentença judicial, de
maneira a garantir a protecção jurisdicional efectiva. REMÉDIO MARQUES não concorda
com a posição e entende que, se o sujeito tinha possibilidade de se pronunciar ao ser
notificado pelo BNI, e não o fez, então agora devem ser limitadas as possibilidades de
oposição à execução. Esta posição só seria susceptível de ser seguida caso a lei fosse
alterada no sentido de a notificação fosse feita por carta registada com aviso de
recepção que garantir que o futuro executado tenha tido conhecimento desta. Hoje, a
lei exige apenas notificação simples, o que não garante isto e justifica a posição do TC.
Porém, quando tenha lugar uma acção que corra por apenso ao processo ou um
incidente que nele se enxerte, que siga os termos do processo declarativo 5, então
seguem-se as regras do regime geral deste processo:
• Em regra, a constituição de advogado é obrigatória desde que o valor seja
superior ao da alçada do tribunal de 1ª instância (art. 58.º/1, 2ª parte). Isto corre nos
embargos de executado, nos embargos de terceiro e no incidente de liquidação.
• Se se tratar de acção de reclamação e verificação/graduação de créditos, a
constituição de advogado é obrigatória quanto à apreciação dos créditos cujo valor seja
superior à alçada do tribunal de comarca (art. 58.º/2). O patrocínio não é necessário
para a reclamação, mas apenas para a apreciação, isto é, apenas quando foi
impugnado o crédito reclamado e a partir do momento da impugnação.
• É ainda aplicável o art. 40º/1/c CPC que exige a constituição de advogado nos
recursos.
Adaptação do regime-regra
5
Assim, não será obrigatória a constituição de advogado, em execuções com valor
compreendido entre o da alçada da 1ª instância e da Relação nos seguintes casos: arts. 785º/2,
915º/1, 450º/1/2, 351º, 715º/3, 838º/2 e 839º/1/b/c CPC.
proprietário dos bens quando pretenda fazer valer, na execução, o direito real de
garantia, pois no caso contrário pode mover a acção executiva apenas contra o
devedor e nela penhorar os
seus bens, sem que ele lhe possa opor a necessidade de previamente se reconhecer,
no termos do art. 752º/1 CPC, a insuficiência dos bens dados em garantia para o fim da
execução.
Note-se ainda que se o título executivo for uma sentença condenatória, a
propositura da acção executiva contra o proprietário que sobre os seus bens haja
constituído a garantia real, pressupõe que contra ele tenha sido também proposta a
acção de condenação e que nesta tenha sido declarada a existência da garantia (art.
635º/1, 667º/2 e 717º/2 CC).
Para além disto, importa ainda atentar no art. 54.º/4 CPC: se os bens onerados
estiverem na posse de terceiros, o credor pode demandar os terceiros possuidores
juntamente com o devedor (por ex., estão a usar uma casa hipotecada). Isto é para
perturbar ao mínimo a tramitação dos actos executivos em relação à execução sobre o
bem – o terceiro possuidor poderia deduzir embargos de terceiros, alegando que a
penhora estava a ofender a posse. Ao se tornar parte, deixa de ter legitimidade
processual para deduzir esta acção declarativa de embargos de terceiros. Também não
pode deduzir embargos de executado alegando que a dívida não existe, pois não é
devedor logo não tem legitimidade para deduzir excepções peremptórias; o que pode
fazer é opor-se à penhora, suscitando ilegalidades.
Ministério Público
Litisconsórcio.
Como sabemos o litisconsórcio pode ser activo e/ou passivo e poderá ser voluntário
ou necessário. Estamos ante um litisconsórcio voluntário quando, podendo o pedido ser
formulado apenas por um autor ou apenas contra um réu, tenha sido deduzido por
vários autores ou contra vários réus. Ex: 32º/1 CPC, 517º, 641º, 667º, 717º, 1286º CC)
Há litisconsórcio necessário quando a lei, o negócio jurídico ou a própria natureza da
prestação a efectuar imponha a intervenção de todos os interessados na relação
controvertida. REMÉDIO MARQUES defende haver três casos de litisconsórcio necessário
no âmbito da acção executiva:
1) Quando há uma obrigação de entrega de uma coisa, e essa obrigação foi
subscrita por várias pessoas – a acção tem de ser intentada contra as várias
pessoas. Se não o for, um deles pode opor-se contra a entrega.
2) Na hipótese de uma prestação de facto infungível à qual se obrigam várias
pessoas, caso não cumpram o que assinaram, o credor propõe a acção executiva
contra todos.
3) Existem situações em que a lei exige a presença de todos os herdeiros (e não
apenas o cabeça de casal).
NOTA: O art. 34.º/1 e 3 CPC suscita dúvidas na doutrina, e refere-se a acções que
devem ser propostas por ambos os cônjuges ou contra ambos os cônjuges. Esta norma
aplica-se à acção executiva, ou só às acções declarativas? O artigo fala apenas em
“acções”, e não “execuções”, e o n.º 3 é particularmente esclarecedor, dizendo “em
que se pretenda obter...” – isto significa que esta norma só consagra litisconsórcio
necessário passivo na acção declarativa, e não na executiva. Mas então é possível
intentar uma acção executiva contra só um dos cônjuges, quando ambos são
devedores (os seus dois nomes constam no título executivo)? Esta é a dúvida. REMÉDIO
MARQUES entende que sim, mas neste caso o credor está renunciar à responsabilidade
patrimonial mais alargada dos cônjuges. A renúncia a direitos de natureza patrimonial é
possível (desde que sejam direitos actuais).
Porém, o cônjuge que é o único demandado pode suscitar o incidente previsto no
art. 742.º: pode alegar que a dívida é comunicável, alegando os factos que estão na
base da comunicabilidade da dívida (ex: dívida contraída para acorrer aos encargos
normais da dívida familiar), sendo que depois vai haver contraditório, do cônjuge não
demandado e do credor. Ou seja, apesar de o litisconsórcio não ser obrigatório, o
cônjuge demandado pode suscitar este incidente. Se o juiz se convencer que a dívida é
mesmo dos dois, considera a dívida comunicável.
Coligação
Por força do art. 56.º, a coligação é admitida em processo executivo quando, não
se baseando um dos pedidos em decisão judicial a executar nos autos da acção
declarativa (art. 709.º/1/d), por remissão do art. 56.º/1), se verifiquem
cumulativamente os seguintes pressupostos:
• A espécie de acção executiva seja a mesma (art. 709.º/1/b) e 710.º, por
remissão do art. 56.º/1), a menos que todos se baseiem numa mesma sentença.
• Tendo a execução por fim o pagamento de quantia certa, as várias obrigações
devem ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo aritmético (art. 56.º/2);
Quais as consequências?
• Havendo lugar a litisconsórcio necessário, a falta de qualquer dos
litisconsortes é fundamento de ilegitimidade das partes (art. 33.º/1). Se houver
despacho liminar, o juiz deve convidar o exequente a requerer intervenção principal do
terceiro (art. 6.º/2 e 726.º/4) e, se o exequente não corresponder ao convite, indeferir
liminarmente o requerimento executivo. O vício pode ainda ser corrigido pelo
exequente até 30 dias sobre o trânsito em julgado do despacho de indeferimento
liminar (ou da rejeição oficiosa nos termos do 734º CPC) ou da sentença que julgue
procedentes os embargos de executado. Permite-o o art. 261º, mediante chamamento
da pessoa cuja falta é motivo de ilegitimidade, e, se já estiver extinta à data do
chamamento, a instância é renovada, pagando o exequente as custas.
• No caso de coligação ilegal, quando não se verifique um dos pressupostos, o
juiz, havendo lugar a despacho liminar, profere despacho de aperfeiçoamento,
convidando o exequente a que escolha o pedido relativamente ao qual pretende que o
processo prossiga, e, só no caso de ele não o fazer absolverá o executado da instância
(art. 38º e 726º/4/5 CPC); quando se verificar incompetência absoluta ou inadequação
da forma do processo quanto a algum dos pedidos, o juiz profere um despacho de
indeferimento parcial e a causa prossiga relativamente a outros pedidos (art. 726.º/3);
se for em relação a todos os pedidos, tem lugar o indeferimento liminar total (art.
726.º/1/b)).
Quer no caso de preterição de litisconsórcio necessário, quer no de coligação ilegal,
o executado pode opor-se à execução (art. 729.º/c)).
Apenas os tribunais de 1ª instância têm competência executiva (art. 85º e 86º CPC).
Esta abrange a competência para a execução de decisão proferida em acção proposta
na Relação ou no Supremo, quando funcionem como primeira instância.
Estabelecem quais as execuções que competem aos juízos centrais cíveis e quais as
que competem aos juízos locais cíveis, de competência genérica, quando não haja
juízo de execução ou outro competente.
(4)Sentença estrangeira
a. Nos termos do art. 90.º, a competência para execução fundada em
sentença estrangeira determina-se nos termos do art. 86.º, i.e., nos termos
da execução das sentenças proferidas pelos tribunais superiores.
b. A competência da acção de revisão de sentença determina-se pelo local do
domicílio do requerido (art. 979º CPC), observando-se, na falta deste, os
critérios do art. 80º/2/3 CPC.
c. Ver ainda art. 59º/1 LAV, para reconhecimento de sentença arbitral
estrangeira. ~
Quer nos termos do 64º/d, quer nos termos do 62º, a determinação do tribunal
internamente competente é feito nos termos do art. 89º/4 CPC. (no caso do 62º, este
artigo aplica-se por analogia)
Cada um dos tipos de acção executiva pode seguir uma forma de processo comum
ou uma forma de processo especial. O processo especial tem lugar quando a lei impõe,
para a execução de determinado tipo de obrigação, uma tramitação especial mais ou
menos ampla. Já o processo comum tem forma única nas execuções para entrega de
coisa e prestação de facto e duas formas (ordinária e sumária) nas execuções para
pagamento de quantia certa. (art. 550º/1/2/3 CPC)
Quanto aos processos especiais, podemos distinguir:
a) Processos exclusivamente executivos, como a execução por alimentos (art. 933º
a 935º CPC, aplicável apenas quando o credor de alimentos é maior. Quando é
menor aplica-se a execução prevista na lei tutelar cível.)
b) Processos mistos que têm a particularidade de a primeira fase ser declarativa e
se seguir uma fase executiva. É o caso de investidura em cargos sociais. (arts.
1070 e 1071 CPC)
c) Processos declarativos em que podem ter lugar actos executivos. Ex: 919º/2,
939º/2/3/4 e 1047º CPC.
Hoje, o processo comum executivo pode ter duas formas (ordinária e sumária),
determinadas em função da fiabilidade ou consistência do título e do valor. A forma
sumária caracteriza-se essencialmente pela dispensa de despacho liminar e a
efectivação do penhor antes da citação do executado, produzindo-se um “efeito-
surpresa”. Isto admite-se porque quanto mais poderoso for o título executivo, menor
necessidade há-de dar oportunidades de contraditório antes das penhoras aos
executados (princípio da proporcionalidade). O devedor terá tido a oportunidade de
exercer todo o contraditório no processo de formação do título executivo, pelo que não
deverá ter uma segunda oportunidade de alegar factos extintivos ou modificativos da
obrigação ou de alegar excepções dilatória. Esta emprega-se, em regra, nas execuções
previstas no art. 550º/2 CPC.
Al. a) – Decisão judicial. Este é o título mais poderoso, pois no processo
declarativo já houve todas as garantias de contraditório. O legislador quis aqui
um processo mais célere, que permitisse fazer penhoras antes de o exequente
fosse citado.
Al. b) – Requerimento de injunção ao qual tenha sido oposto uma
fórmula executória. O procedimento de formação deste título está previsto no
DL 269/98 (anexo), sendo que o título é formado sem a intervenção de um juiz, e
antes com um funcionário. O legislador quis que os cidadãos que achem que são
credores possam ficar rapidamente munidos de um título executivo, na medida
em que entendam que os alegados devedores não vão contestar. Podem citar o
devedor para se opor; se não vier deduzir oposição e houver garantia de citação,
4. Delimitação.
Só os títulos dos quais conste uma obrigação pecuniária podem dar lugar a processo
executivo para pagamento de quantia certa. Através deste, pretende-se obter o
cumprimento forçado de uma obrigação desta natureza. Como já vimos, não impede
isto que os processos de execução para entrega de coisa certa e para prestação de
facto se possam converter em processo de execução para pagamento de quantia certa.
A obrigação pecuniária reveste a natureza de obrigação de quantidade, cujo objecto é
um certo valor expresso em moeda que tenha curso legal em Portugal (art. 550º CC),
seguindo esta modalidade. Já a obrigação de moeda específica e obrigação de moeda
com curso legal apenas no estrangeiro, tramita-se como processo executivo para
entrega de coisa certa.
5. Fase inicial.
O requerimento inicial pode ser recusado pela secretaria, nos casos do art. 725º/1
CPC: quando tenha sido omitido um requisito do requerimento executivo, ou quando
não seja apresentado o título executivo ou seja manifesta a insuficiência do título
apresentado. O acto de recusa é reclamável para o juiz, mas a decisão deste é
irrecorrível, salvo quando se funde na falta de exposição dos factos (art. 725º/2 CPC).
Recebido o requerimento inicial, seguem-se a distribuição e a autuação, bem como as
eventuais diligências para tornar certa ou exigível a obrigação, a designação do agente
de execução pela secretaria, quando o exequente o não tenha designado ou ele tenha
recusado a designação feita, e a subsequente notificação a este da designação
efectuada. (art. 720º/3 CPC)
Segue-se a produção de prova complementar do título, nos casos em que deva ter
lugar. A apresentação do requerimento executivo só se considera concluída com o
pagamento ao agente de execução da quantia que lhe seja inicialmente decida a título
de honorários e despesas (art. 724.º/6/a)).
Recebido o requerimento executivo, poderá, pois, acontecer uma de duas coisas:
1) Recusa Extingue-se a execução, excepto no caso de que seja
apresentado novo requerimento.
2) Recebimento pela secretaria Tramitação subsequente.
Como vimos, passado o momento do despacho liminar, é ainda possível ao juiz vir a
conhecer, até ao primeiro acto de transmissão de bens penhorados ou de consignação
dos respectivos rendimentos, de qualquer das questões que, nos termos do art. 726.º/2
a 5, podiam ter conduzido ao convite ao aperfeiçoamento ou ao indeferimento liminar
do requerimento (art. 724.º). Só com esse primeiro acto de transmissão preclude a
possibilidade de apreciação, no âmbito do processo executivo, dos pressupostos
processuais gerais e das questões de mérito respeitantes à existência da obrigação
exequenda.
6. Oposição à execução.
Uma vez citado(s), o(s) executado(s) pode(m) opor-se à execução por meio de
embargos (art. 728.º/1). A oposição do executado visa a extinção da execução, total ou
parcial, mediante o reconhecimento da actual inexistência do direito exequendo ou da
falta de um pressuposto, específico ou geral, da acção executiva. Os embargos de
executado constituem uma verdadeira acção declarativa, que corre por apenso ao
processo de execução – nela é possível, não só levantar questões de conhecimento
oficioso, mas também alegar factos novos, apresentar novos meios de prova e levantar
questões de direito que estejam na sua disponibilidade. Como resulta também do art.
787º CPC, também pode opor-se à execução o cônjuge do executado, citado nos termos
do art. 786º/1/a CPC.
O CPC enumera os fundamentos de oposição à execução, distinguindo-se consoante
se trate de sentença judicial (art. 729.º/a) a h)), sentença de tribunal arbitral (art.
730.º), sentença homologatória (art. 729.º/i)), ou outro título (art. 731.º):
• Execução de sentença dos tribunais estaduais, art. 729.º: a oposição à
execução pode fazer-se por falta de pressupostos processuais gerais ou específicos da
acção executiva e a inexistência actual da obrigação exequenda, incluindo a
compensação. São estes os seus fundamentos:
caso das excepções em sentido próprio, com a ocorrência, ao tempo, dos respectivos
pressupostos ou exige que também até então tenha tido lugar a declaração de
querer
fazer valer a excepção, dado que tal declaração constitui um pressuposto do efeitos
jurídico dela decorrente. Da consideração do lugar paralelo do art. 860º CPC retira-se
que a excepção em sentido próprio não pode ser feita na oposição quando se baseia
em pressupostos já verificados à data do encerramento da discussão, logo após prestar
depoimento a última testemunha. (se, por ex., o devedor tiver pago antes da acção
declarativa mas não tiver invocado a excepção no processo, isto preclude a
possibilidade de o fazer na acção executiva);
Compensação – a compensação é excepção peremptória e a lei estabelece
um ónus de reconvenir na acção declarativa, cuja observância é suporte necessário da
invocação da excepção. A consideração deste fundamento em alínea separada da dos
restantes factos extintivos da obrigação exequenda liberta o executado do ónus de
provar através de documento, quer o facto constitutivo do contracrédito e as suas
características relevantes para o efeito do art. 847º CC, quer a declaração de querer
compensar (art. 848º CC), no caso de esta ter sido feita fora do processo. A invocação
da compensação só não será admissível quando ela já era possível à data da
contestação da acção declarativa.
Prescrição – art. 311º CPC.
podendo o exequente e executado expor todas as suas razões. Não faria sentido que
estes pudessem levantar as mesmas questões noutro processo.
No caso de haver vários executados litisconsortes e nem todos se oponham à
execução, entende- se que a sentença proferida na oposição só é vinculativa entre o
embargante e o exequente, não sendo os restantes executados abrangidos pela
eficácia do caso julgado. Consequentemente, se a oposição for julgada procedente, só
perante o embargante se produzirá, consoante o caso, o efeito directo de caso julgado
material da decisão da oposição de mérito ou o de caso julgado formal da decisão
sobre pressupostos processuais. Os restantes executados, terceiros relativamente ao
processo de oposição, não são abrangidos pela eficácia directa do caso julgado que
nele se forme: as situações jurídicas de que são titulares limitam-se a registar, se for
caso disso, as repercussões indirectas que lhe possam caber segundo o direito
substantivo em nada mais lhes aproveitando a dedução dos embargos. Exceptuam-se
os casos de litisconsórcio na acção executiva, em que o recurso do mecanismo do art.
261º/1 é necessário para garantir a legitimidade do embargante.
• Uma vez autuada, o processo é concluso ao juiz para que este profira despacho
liminar. O despacho deve ser de indeferimento se os embargos tiverem sido deduzidos
fora do prazo (art.
731.º/a)); se for invocado fundamento para além dos admitidos nos arts. 729.º a 731.º;
e se for manifesta a improcedência da oposição (art. 732.º/1/c)). Deve sê-lo também se
ocorrer, nos embargos de executado, excepção dilatória insuprível de que o juiz deva
conhecer oficiosamente (art. 590º/1 CPC). Pode o despacho também ser de
aperfeiçoamento.
• Proferido despacho de citação, o exequente é notificado para contestar no
prazo de 20 dias (art. 732.º/2). Não contestando o exequente, consideram-se admitidos
os factos alegados na petição de embargos, aplicando-se o art. 567.º/1 (revelia do réu)
com as excepções do art. 568.º; porém, porque o exequente que não conteste já
assumiu a posição de vir a juízo, não são dados como provados os factos da petição de
embargos que estejam em oposição com o requerimento da execução (art. 732.º/3).
• Terminada a fase dos articulados, aplicam-se aos termos subsequentes do
processo as normas do processo comum de declaração (art. 732.º/2). Ou seja, esta é
uma acção com um processo especial na fase liminar e, após a execução, segue os
termos do processo comum (audiência prévia, audiência final ou julgamento). Note-se
apenas que é admissível a suspensão da instância dos embargos de executado por
ocorrência de causa prejudicial. (art. 227º/1 CPC)
7. Objecto da penhora.
Como sabemos, a garantia geral das obrigações é constituída por todos os bens que
integram o património do devedor – responsabilidade patrimonial, que é fundamento
de toda a execução por equivalente, bem como da execução específica das obrigações
pecuniárias. As figuras da garantia especial e da impugnação pauliana, bem como as
limitações e condicionamentos da responsabilidade patrimonial introduzem excepções
e especialidade a que há que atender quando se põe a questão do objecto possível de
penhora.
Da articulação dos arts. 735.º/1 e 2 e 736.º a 739.º com os arts. 601.º e 818.º CC,
retiram-se os seguintes princípios gerais:
• Todos os bens que constituem o património do devedor, principal ou subsidiário,
podem ser objecto de penhora, à excepção dos bens inalienáveis e de outros que a lei
declare impenhoráveis (art. 735.º/1).
• Os bens de terceiro só podem ser objecto de execução em dois casos: quando
sobre eles incida direito real constituído para garantia do crédito exequendo; ou quando
tenha sido julgada procedente impugnação pauliana de que resulte para o terceiro
obrigação de restituição dos bens ao credor (art. 735.º/2).
• É preciso ter em conta os desvios resultantes da existência de património
autónomos, constituição de garantias reais sobre bens do devedor e da articulação de
responsabilidades entre devedor principal e subsidiário – regimes de penhorabilidade
subsidiária.
• Nunca podem ser penhorados senão bens do executado, seja este o devedor
principal, um devedor subsidiário ou um terceiro. Esta regra não tem excepções.
7.2. Impenhorabilidades.
Existem bens que não podem ser penhorados dada a consideração de interesses
gerais, interesses vitais do executado ou interesses de terceiros que o sistema jurídico
entende que devem sobrepor-se aos do credor exequente. A impenhorabilidade pode
ser absoluta e total, relativa, ou parcial, sendo ainda necessário distinguir a
penhorabilidade subsidiária.
1) Impenhorabilidade absoluta: os bens absolutamente impenhoráveis jamais
podem ser penhorados na sua totalidade, seja qual for a dívida exequenda. Estão
previstos no art. 736.º CPC; porém, este preceito não é taxativo, sendo que até nos
remete para outros exemplos, previstos no direito substantivo. São absolutamente
impenhoráveis:
Desde 1995 deixou de haver distinção entre as dívidas que davam lugar á
moratória e aquelas que a ela não davam lugar, sendo que todas as dívidas da
exclusiva responsabilidade de um cônjuge podem dar hoje lugar à penhora subsidiária
de bens comuns, sem se ter de esperar a dissolução do casamento, declaração de
nulidade ou anulação e ainda separação dos bens do casal.
O art. 740.º/1 CPC aplica-se à execução movida contra um só dos cônjuges,
admitindo a penhora de bens comuns do casal – cabem aqui não só os casos de
responsabilidade exclusiva do executado, mas também aqueles em que a
responsabilidade é comum, segundo a lei substantiva, mas a execução foi movida
contra um só dos responsáveis – quer haja título executivo contra ambos, quer haja
título executivo apenas contra o executado. (caso em que o credor, querendo executar
ambos os cônjuges, teria de propor previamente acção declarativa contra marido e
mulher: 34º/3 CPC). O regime é o seguinte:
• Sendo a dívida da responsabilidade exclusiva do executado, a penhora
deve começar pelos bens próprios dele e só depois pode ser penhorada a meação.
• Sendo a dívida comum e havendo título executivo contra ambos os
cônjuges, a penhora deve começar pelos bens comuns e só na sua falta ou
insuficiência pode incidir sobre bens próprios.
Assim, apesar de a dívida ser comum nos termos do direito substantivo, seguem-se as
regras das dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges: a penhora deve começar
pelos bens próprios e só depois pode ser penhorada a meação. Isto sem prejuízo do
apuramento ulterior de contas entre os cônjuges (1687º/1 CC) e da possibilidade de o
credor ainda propor nova acção declarativa contra o cônjuge não condenado.
• Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em título
extrajudicial contra um só cônjuge, os arts. 741.º e 742.º permitem a invocação da
comunicabilidade da dívida, com a consequência do convite ao cônjuge do executado
para vir declarar se aceita a comunicabilidade – o exequente em requerimento
autónomo, e o executado em oposição à penhora. A comunicabilidade da dívida é um
incidente enxertado no processo que pode ter lugar no requerimento executivo ou em
qualquer fase do processo até ao início das diligências para venda dos bens
penhorados, estando prevista no art. 741.º, e visando estender a eficácia subjectiva do
título executivo. Note-se que, negada pelo cônjuge a comunicabilidade da dívida,
segue-se a instrução, discussão e julgamento, nos termos gerais dos incidentes da
instância (arts. 741º /1 e 4, 742º/2 e 785º/2 CPC).
Permanece excluída a possibilidade de o executado inutilizar a execução,
mediante a oposição à penhora do bem próprio, nos termos do art. 784º/1/b, com
fundamento em que a dívida é comum e há que penhorar primeiro os bens comuns do
casal. Contra esta solução é invocável o disposto no art. 34º/3, que confere ao credor a
possibilidade de, no caso de facto praticado por um só cônjuge, mas responsabilidade
de ambos, escolher entre accionar um ou os dois. O interesse do executado deve aqui
ceder perante os interesses do credor, o que foi tido em conta com a criação deste
incidente para determinar se a dívida é própria ou comum.
Mas como é penhorada a meação nos bens comuns? Após a penhora dos bens do
casal na execução movida contra um dos cônjuges, tem lugar a citação do cônjuge do
executado, para requerer a separação de bens ou mostrar que esta já se encontra
requerida no cartório notarial competente (art. 740.º/1). Se o cônjuge nada fizer, a
execução prossegue nos bens penhorados; caso contrário, a execução é suspensa até
que se verifique a partilha (n.º 2). Note-se que, se o cônjuge tiver aceite que a dívida é
comum (comunicável), esta aceitação é incompatível com a separação de bens, pelo
que, se esta tiver sido requerida, ou se o cônjuge tiver provado que a requereu antes
de o executado suscitar a questão da comunicabilidade, a citação do cônjuge para o
efeito de se pronunciar sobre esta já não tem de ter lugar.
Estas normas aplicam-se aos casos em que, por via da existência de outro
património colectivo, só após a excussão destes respondem os bens dos respectivos
titulares – respondem em primeiro lugar os bens que o integram e só depois os bens
dos titulares, na falta ou insuficiência dos primeiros.
Decorre do art. 744.º/1 que, em execução movida contra herdeiro, apenas se podem
penhorar os bens recebidos do autor da herança. Isto decorre da limitação da
responsabilidade do herdeiro pelas dívidas da herança (art. 2071.º CC), já que estamos
aqui a falar das execuções por dívidas do de cujus.
Se a penhora recair sobre outros bens, o executado pode opor-se por simples
requerimento, em que pedirá ao agente de execução o levantamento da penhora,
indicando os bens da herança que tenha em seu poder (n.º 2). Ouvido o exequente, a
penhora é levantada se ele não deduzir oposição.
O exequente pode opor-se ao levantamento, caso em que temos duas hipóteses:
o A herança foi aceite a benefício de inventário e basta ao executado juntar
certidão do processo do qual constem os bens que recebeu da herança. Sem
prejuízo da arguição da falsidade da certidão junta e do direito de recurso do
despacho que o juiz vier a proferir, o incidente fica por aqui e o exequente só
em acção separada poderá demonstrar a existência de outros bens da
herança para além dos inventariados;
o A aceitação foi pura e simples e o executado tem de alegar e provar que
os bens penhorados não provieram de herança e que dela não recebeu mais
do que aqueles que indicou (n.º 3).
Nos termos do art. 743.º, na execução movida contra um executado que seja
contitular de um património autónomo ou bem indiviso, não podem ser penhorados os
bens compreendidos no património autónomo ou uma fracção do bem indiviso. Apenas
se pode penhorar o direito que a eles tiver o executado, sendo que este regime
abrange:
• A penhora do direito a uma herança por partilhar;
• Direito a uma quota-parte numa compropriedade;
• Penhora de um direito a um património autónomo, cuja titularidade pertença a
várias pessoas.
Assim, não se pode executar, em execução promovida contra A, comproprietário,
um prédio cuja titularidade pertença também a B e C, nem 1/3 desse prédio.
Porém, é necessário ressalvar o art. 781.º/4: os outros contitulares podem declarar
que não se opõem à venda do bem. Isto faz sentido pois, se for penhorada o direito do
executado (por ex., uma quota-parte numa propriedade) este será atribuída ao
exequente ou vendido a um estranho.
De acordo com o art. 758.º/1 (aplicável à penhora de móveis e de direitos pelos arts.
722.º e 783.º), a penhora abrange as partes integrantes e os frutos, naturais e civis, do
bem penhorado; salvo se forem expressamente excluídos ou se estiverem sujeitos a um
privilégio.
Se o bem penhorado se perder, for expropriado ou sofrer diminuição de valor, e se
houver lugar a indemnização de terceiro, a penhora passa a incidir sobre o crédito de
indemnização ou sobre as quantias pagas a esse título (art. 823.º CC).
Finalmente, quando for penhorado um bem imóvel divisível e o seu valor exceder
manifestamente o da dívida exequenda e dos créditos reclamados, o executado pode
requerer autorização para proceder ao seu fraccionamento (art. 759.º/1). Este pode
visar permitir a venda separada (a penhora mantém-se); ou o levantamento parcial da
penhora. A autorização é concedida pelo juiz.
8. A fase da penhora.
Não tendo sido prestada caução para suspender os embargos de executado; tendo
sido deduzidos embargos de executado e declarados improcedentes; não tendo sido
deduzidos embargos de executado, o art. 748º CPC manda prosseguir para a fase da
penhora.
No requerimento executado, é dada indicação dos bens do executado que o
exequente conheça (art. 724º/1/i CPC), com as precisões que lhe seja possível fornecer
(art. 724º/3 CPC), indicação que é dada na medida do possível. O agente de execução
não fica vinculado a penhorar os bens indicados: deve, em princípio, respeitar a
indicação que lhe é feita, mas só se tal não importar a
Não sendo encontrados bens suficientes no prazo de três meses, são notificados o
exequente e o executado, para indicação de bens penhoráveis e, na falta de indicação,
extingue-se a instância (art. 750º/1/2), sem prejuízo de se vir a renovar se forem
encontrados posteriormente bens penhoráveis. (art. 850º/5 CPC). O limite da renovação
será a prescrição do crédito constante da obrigação exequenda.
Note-se que excepcionalmente a penhora de certos bens é precedida de despacho
judicial, por poder estar em jogo a protecção de direito fundamental de sigilo. (art. /
757º/4, 764º/4 e 767º/1.
Efectuada a penhora, é admissível ao executado requerer a substituição dos bens
penhorados por outros que igualmente assegurem o fim da execução (art. 751.º/4/a) e
5). O art. 751.º/4 enumera os outros casos em que é possível penhorar outros bens,
além ou em substituição dos inicialmente penhorados (penhoras subsequentes):
manifesta insuficiência dos bens penhorados; situação de oneração dos bens
penhorados; recebimento de embargos de terceiro contra a penhora (com a
consequência do art. 347º CPC); oposição à penhora (art. 785º/3 CPC); desistência da
penhora; e invocação do benefício da excussão prévia.(neste último caso, relacionar
art. 745º/4 e 751º/6 CPC)
A lei distingue entre a penhora de bens imóveis (755º e ss. CPC), penhora de bens
móveis (art. 764º e ss. CPC) e penhora de direitos (art. 773º e ss. CPC). O âmbito da
penhora de direitos determina-se por exclusão de partes: tem lugar sempre que não
está em causa o direito de propriedade plena e exclusiva do executado sobre coisa
corpórea nem um direito real menor que possa acarretar a posse efectiva e exclusiva
da coisa móvel ou imóvel. A tripartição legal deve-se a considerações práticas de
regime, nomeadamente atinentes ao modo de realização da penhora.
6
Note-se apenas que a conservatória do registo, uma vez feita a comunicação, normalmente
emite uma certidão de registos em vigor relativamente àquele bem ou direito e entrega-a ao
agente de execução para que ele cite os credores conhecidos a reclamar créditos no âmbito da
acção executiva.
a quota em sociedade, civil ou comercial. Neste último caso, a penhora é feita por
notificação à sociedade; nos outros, é feita notificação ao administrador dos bens, se o
houver, e aos terceiros titulares ou contitulares dos
Está prevista no art. 782.º e inclui-se no regime da penhora de direitos, uma vez
que é tratado como um bem unitário (segundo alguma doutrina, é uma universalidade
de direito). Porém, o seu regime é semelhante ao da penhora de bens móveis, sendo a
penhora feita por auto, no qual se
8.2.2.O depositário.
A penhora implica, em regra, um depositário, a quem cabe, além dos deveres gerais
do depositário, administrar os bens ou direitos penhorados e prestar contas (art.
760.º/1), exercendo a posse do tribunal sempre que a esta haja lugar. O depositário é,
em regra, o agente de execução, que guarda os bens, fiscaliza a sua não destruição,
mostra os bens penhorados a eventuais compradores, etc.
Note-se que nem sempre o depositário é o agente de execução:
• Na penhora de coisas imóveis (bem como móveis sujeitos a registo e na de
direitos), o depositário é o agente de execução. Porém, em certas circunstâncias, o
legislador atribui esta função a pessoas que têm um contacto mais directo com a coisa
(art. 756.º/1, várias alíneas) – ao executado, quando o bem penhorado seja a sua casa
de habitação; ao arrendatário, quando o bem esteja arrendado; ou ainda ao retentor,
quando o bem seja objecto de direito de retenção. Não faria sentido que o executado
fosse obrigado a desocupar a casa em que habita. Quando as diligências são realizadas
por oficial de justiça, é depositário a pessoa por este nomeada. Note-se que o
exequente pode consentir em que seja depositário o próprio executado.
• Na penhora de coisas móveis não sujeitas a registo, é o agente de execução
que efectue a diligência (art. 764.º/1);
• Na penhora de estabelecimento comercial, é pessoa designada pelo juiz, quando
estiver paralisada ou deva ser suspensa a actividade do estabelecimento (art. 782.º/4).
Porém, há casos em que não existe depositário – por ex., no caso de penhora de
direito de crédito ou na penhora de direito ou expectativa de aquisição, quando não
haja lugar à apreensão complementar da coisa sobre que incide e no de penhora de
outro direito potestativo, bem como no de penhora de automóvel não apreendido.
Quando não seja agente de execução, o depositário pode ser removido se não
cumprir os devedores do seu cargo – 761º/1 CPC. Sendo este agente de execução, a
violação dos seus deveres constitui actuação sancionada nos termos do art. 720º/4
CPC. Por fim, quando o depositário seja o
agente de execução, este pode solicitar o auxílio das autoridades policiais quando seja
oposta alguma resistência à tomada de posse efectiva do imóvel (art. 757.º).
8.2.4.Levantamento da penhora.
Efectuada a penhora, esta subsiste até ao acto de venda, salvo se extinguir por
causa diferente – levantamento da penhora (que pode ou não implicar o fim da
execução). Isto ocorre nos seguintes casos:
• Quando ocorra causa de extinção da execução;
• Oposição à penhora julgada procedente;
• Desistência da penhora (751º/4 CPC);
• Acordo de pagamento em prestações;
• Paragem da execução: se a execução estiver parada durante 6 meses, por
negligência que não seja imputável ao executado, este pode pedir o
levantamento (art. 763.º/1) Levantada a penhora, resta ao exequente o direito
de indemnização contra o Estado, quando a paragem do processo a ele nãos e
deva. O credor, com crédito vencido ou reclamado, que queria evitar o
levantamento da penhora, pode, passados três meses sobre o inicio da actuação
negligente do exequente, substituir-se a este na prática do acto que ele tenha
negligenciado (763º/4 CPC). Não pode, porém e evidentemente, substituir-se ao
juiz, agente de execução ou funcionário judicial negligente;
• Desaparecimento do bem penhorado, podendo haver duas situações:
Há lugar a indemnização e a penhora transfere-se para o bem
sub-rogado (art. 823º CC)
Não há lugar a indemnização e a penhora extingue-se, por falta
de objecto.
sub- rogação objectiva, para o produto da venda (art. 824º CC). Com esta solução, a lei
quis proteger, no interesse do executado e dos terceiros que com ele contratam, a livre
circulação de bens (por ex., o
O Ac. STJ nº 3/99 alterou a sua posição no sentido de entender que “terceiros,
para efeitos do disposto no artigo 5.º do Código do Registo Predial, são os adquirentes
de boa-fé, de um mesmo transmitente comum, de direitos incompatíveis, sobre a
mesma coisa”. Assim, a orientação do STJ neste seu último acórdão de uniformização
de jurisprudência é no sentido negativo, com base numa concepção restrita de
terceiro para efeitos de registo – apenas são terceiros aqueles cujo direito derivou de
acto em que tenha intervenção o autor titular da inscrição (transmissão comum),
excluindo assim os casos em que a situação do terceiro era gerada por uma sua
actuação unilateral ou acto judicial por ele provocado (hipoteca judicial, arresto,
penhora, etc.). Porém, a doutrina dominante pronuncia-se no sentido contrário. Neste
caso, o terceiro ganharia os embargos face à penhora.
Ora, o art. 5.º/4 do CRegPred., na sequência do DL 533/99, veio estabelecer que
são terceiros para efeitos de registo “aqueles que tenham adquirido de um autor
comum direitos incompatíveis entre si”. Apesar de o STJ ver aqui a consagração da sua
orientação, REMÉDIO MARQUES e MÓNICA JARDIM entendem que o direito daquele que
adquire ao executado e o direito do penhorante derivam do mesmo autor. A
transmissão forçada, sendo derivada, dá-se a partir do mesmo autor que
extrajudicialmente alienou ou onerou, i.e., a venda executiva não significa uma
aquisição originária. Assim, a aquisição de bem penhorado inscrita posteriormente ao
registo da penhora é ineficaz relativamente aos intervenientes na execução
(penhorante e comprador ou adjudicante dos bens). Isto aplica-se também à hipoteca
judicial. Estes autores destacam que uma das funções mais importantes do registo é
ser um registo consolidativo, validando algumas operações à luz da OJ e se o
entendimento não for este receamos esvaziar de utilidade o registo.
Uma vez penhorados os bens, pode a sua venda não dever esperar o momento
normal para ser realizada, podendo ser feita antecipadamente, por exemplo porque os
bens estão sujeitos a deterioração ou depreciação ou por haver manifesta vantagem na
antecipação da venda. (814º CPC) Fora estes casos excepcionais, as diligências para a
venda dos bens só se iniciam com o termo do prazo para as reclamações de créditos. A
venda visa arrecadar o produto necessário para efectuar o pagamento da obrigação
exequenda e das verificadas no apenso de verificação e graduação. As suas
modalidades constam do art. 811º CPC, cabendo a sua indicação ao agente de
execução (art. 812º CPC) É a venda em leilão electrónico que constitui a modalidade
preferencial de venda dos bens móveis e imóveis (art. 837º CPC) Confrontar ainda arts.
830º e ss. CPC. Esta constitui um contrato
especial de compra e venda com características de acto de direito público.
A compra pode ser efectuada por um terceiro, pelo exequente ou por um credor
reclamante. O exequente ou o credor com garantia sobre o bem comprado é
dispensado de depositar a parte do rpeço que não seja necessária para pagar a
credores graduados antes dele e não exceda a importância que tem direito a receber
(815º CPC), dando-se a compensação entre a dívida do preço e o crédito exequendo ou
verificado. Semelhante compensação se dá no regime geral de adjudicação de bens.
(art. 799º e ss. CPC)
Por fim, importa apenas fazer referência rápida ao direito de remição para protecção
do património familiar (842º e ss. CPC) e o direito de preferência legal ou convencional
que tenha eficácia real.
Quanto aos efeitos, algumas notas:
Os direitos reais de garantia sobre a coisa caducam: os bens são sempre
transmitidos livres de todos eles, sejam de constituição anterior ou posterior
à penhora, tenha havido ou não reclamação na execução dos créditos que
garantem. (824º/2 CPC)
Quanto aos direitos reais de gozo:
o Constituição ou registo anterior à constituição ou registo de todos os
direito reais de garantia invocados ou constituídos no processo de
execução O direito de garantia de todos os credores é de data
posterior à do direito real de gozo de um terceiro, sendo que o direito
real de gozo do terceiro subsistirá.
o Constituição ou registo posterior à constituição ou registo de qualquer
deles. Veremos três momentos de constituição do direito real de gozo:
Posterior à constituição ou registo da penhora Extingue-se o
direito real de gozo.
Anterior à constituição ou registo da penhora, mas depois da
constituição ou registo de um direito real precedente do
exequente. Extingue-se o direito real de gozo.
Anterior à constituição ou registo de qualquer direito real do
exequente, mas depois da constituição ou registo do direito real
de garantia invocado por um dos credores reclamantes. Neste
caso, pode o credor com direito real de garantia anterior
requerer a extensão da penhora ao objecto da sua garantia e
pedir a citação e terceiro para tomar posição de executado no
processo. Se não o fizer, aceita o credor que o seu crédito seja
pago na execução só pelo produto do direito penhorado,
O nosso sistema jurídico concede quatro meios de reagir contra uma penhora ilegal:
1.Oposição por simples requerimento: ocorre no processo executivo.
2.Incidente de oposição à penhora: é um incidente enxertado no processo
executivo.
3. Embargos de terceiro: é uma acção declarativa que corre por apenso ao
processo executivo, sendo o meio de reacção mais específico contra a ilegalidade do
acto.
4.Acção de reivindicação: é uma acção declarativa autónoma do processo
executivo.
A oposição por simples requerimento está, desde logo, prevista no art. 764.º/3:
penhorada coisa móvel em poder do executado, presume-se que lhe pertence; porém,
este pode fazer prova documental inequívoca de que esta pertence a terceiro perante o
juiz do processo e mediante requerimento acompanhado dessa prova. Este meio surgiu
em consequência da supressão em 2003 do protesto no acto da penhora.
Tal como para os efeitos do art. 747º, entende-se estarem em poder do
executado todos daqueles bens sobre os quais ele exerce posse ou detenção, ou pode
exercê-la por se encontrarem na sua esfera de controlo. Para a ilisão desta presunção,
com a consequência de a penhora efectuada não se manter e a coisa ser restituída, é
exigido um documento do qual resulte inequivocamente que os bens pertencem a
terceiro, ou que o terceiro tem sobre eles direito real menor de gozo que implique a sua
usufruição. A ilisão da presunção exige que se torne manifesto o direito de terceiro
perante o juiz. O levantamento ou redução da penhora não deve ser ordenado, salvo
casos de manifesta desnecessidade, sem a prévia audição do exequente (art. 3º/3
CPC). Não ordenando o juiz o levantamento da penhora, não fica precludido o direito de
o terceiro deduzir oposição por embargos, mesmo quando tenha sido ele a requerer o
levantamento.
Porém, também se é possível fazer oposição por simples requerimento noutros
casos:
• Perante o disposto no actual art. 723.º/1/c) e d), a doutrina admite que, na falta
de outro meio de impugnação da penhorabilidade do bem apreendido ou a apreender,
o exequente pode suscitar perante o juiz a questão da impenhorabilidade; para além
disto, se o exequente indicar na petição inicial determinado bem como susceptível de
penhora e o executado for previamente citado, pode suscitar a questão da
impenhorabilidade em requerimento, carreando para o processo os elementos
indispensáveis à sua verificação e oferecendo a prova para tanto necessária. Ouvida a
contraparte, essa prova é seguidamente produzida, juntamente com a que esta
ofereça, decidindo o juiz em conformidade.
• Casos específicos em que a lei admite o requerimento – art. 744.º/2, 738.º/6.
pode opor-se à penhora de bens seus que só deviam responder na falta de outros se,
existindo estes, a execução não tiver começado por eles. É o caso da penhora dos
bens próprios de um dos cônjuges, sendo a execução movida contra
ambos, não estando ainda penhorados os bens comuns; casos em que exista ou não
benefício de excussão prévia; 784º/2 CPC.
3. Incidência da penhora sobre bens que, não respondendo pela dívida
exequenda nos termos do direito substantivo, não deviam ter sido atingidos
pela diligência, al. c): reporta-se às causas de impenhorabilidade específica ou
derivadas dum regime de indisponibilidade objectiva, resultantes do direito substantivo.
Estão aqui os bens afectados por impenhorabilidade convencional, os bens inalienáveis,
segundo o direito substantivo, os bens de que o menor não tenha a livre disposição e
que não devem responder pelas dívidas emergentes de actos relativos à profissão (art.
127.º/1/c) e n.º 2 do CC), etc.
Relativamente aos bens cuja penhora haja suscitado a sua intervenção na execução, o
cônjuge do executado tem os mesmos poderes processuais que este (art. 787.º/1).
Os embargos de terceiro são uma acção declarativa que visa reagir contra
penhoras ilegais e que têm como elemento processual típico apenas poderem ser
promovidos por terceiro.
Sabemos que por vezes a lei substantiva admite a penhora de bens de pessoa
diversa do devedor. Ora, os bens de terceiro (face à execução) não são penhoráveis,
as quais não tenha sido proposta a execução. Mas já são penhoráveis os bens do
executado que estejam em poder de terceiro, ainda que este deles seja possuidor em
nome próprio.
Por outro lado, porém, o possuidor em nome próprio goza da presunção da
titularidade do direito correspondente à sua posse (art. 1268º/1 e 1251º CC), pelo que
lhe deve ser consentido valer- se dessa presunção dessa presunção até que seja ilidida,
mediante demonstração que o proprietário do bem possuído é o executado. Os
embargos de terceiro mantêm-se na lei civil configurados como meio possessório
paralelo às acções de prevenção, manutenção e restituição da posse (1276º e 1278º
CC) e, portanto, facultado ao possuidor em nome próprio e negado ao proprietário não
possuidor, ao simples detentor de facto e ao possuidor em nome alheio.
Note-se que por vezes a lei civil faculta também os meios possessórios a
determinados possuidores em nome alheio (art. 1037º/2, 1125º/2, 1133º/2 e 1188/2
CC) em atenção à especial relevância do seu interesse próprio em continuar no gozo da
coisa que contratualmente detêm. Ora, a atribuição ao possuidor em nome alheio de
legitimidade para embargar só se compreende como medida de tutela directa do
interesse do terceiro que através dele possui, na medida em que dele dependa o
interesse do embargante. Assim, nestes casos os embargos de terceiro não são
admissíveis visto que n conflito entre o direito real (penhora) e o direito de crédito,
este, independentemente da data da sua constituição, terá de ceder perante o
primeiro.
Mas, quando a posse tiver lugar em nome dum terceiro, da sintonia entre o
interesse deste e o do possuidor em nome alheio resulta a legitimação extraordinária
deste último para embargar, em substituição processual daquele. Pode o possuidor, na
petição de embargos, em nome alheio algar o título da sua posse e identificar a pessoa
em nome de quem possui; na contestação, a exceptio domini continuará a poder ser
deduzida nos mesmos termos em que é dedutível perante o possuidor em nome
próprio, isto é, mediante a invocação do direito de propriedade do executado.
A excepcionalidade desta atribuição de legitimidade para embargar a certos
possuidores em nome alheio não permitia atribui-la, na falta duma norma expressa, ao
promitente adquirente duma coisa a quem antecipadamente tivesse sido feita a sua
entrega, em cumprimento da obrigação estabelecida no contrato celebrado: impedia-o
o facto de esse exercício se fazer com base num direito de crédito e em nome do
promitente alienante. O mesmo obstáculo não existia para o possuidor baseado em
direito real de garantia, visto ter uma posse em nome próprio.
Por fim, há que reter que pode haver casos em que se vislumbre um interesse
jurídico do credor em embargar.
Assim, temos de saber quem é que a lei qualifica como terceiro, quem tem
legitimidade activa. O art. 342.º diz que pode deduzir embargos de terceiros quem não
seja parte na causa. Temos aqui um critério processual. À penhora só estão sujeitos
bens do executado, seja este o devedor, seja um terceiro, nos casos em que a lei
substantiva admita a penhora de bens de pessoa diversa do devedor. Como tal, os bens
de terceiro, i.e., de pessoa que não seja exequente nem executado, não são
penhoráveis. Já a legitimidade passiva cabe ao exequente e executado, em
litisconsórcio necessário passivo (art. 348.º).
Ponto é, quanto a estes dois últimos, que esse direito não possa ser posto em
causa pelo facto de o bem penhorado pertencer ao executado. Se essa situação
ocorrer, o titular do direito real de aquisição ou de garantia tem interesse em embargar
de terceiro, a fim de demonstrar que o bem penhorado pertence à pessoa de quem o
direito derivou.
No caso de contrato-promessa, não pode haver divergência quanto ao seu
conteúdo, porque de outro modo o terceiro promitente adquirente poderá optar por
mover uma acção de execução específica, devendo, na acção executiva, o bem ser
Porém, pode suceder que antes do registo da penhora tenha sido proposta acção
de execução específica, logo registada pelo promitente-comprador – o promitente ainda
não tem um direito incompatível, mas pode vir a ter, bastando para tal a procedência
da acção de execução específica. Assim, deve ser admitido a embargar de terceiro,
sendo que a procedência dos embargos fica dependente do êxito da acção de execução
específica.
Para além disto, também pode embargar de terceiro quando o seu direito real de
aquisição derivar de pessoa diversa do executado. Este já é um direito incompatível:
não só não pode adquirir directamente o bem penhorado, como o exercício do direito
de preferência sairá prejudicada com a anulação da venda decorrente da reivindicação
da pessoa de quem o terceiro derivou o seu direito.
2) Posse incompatível:
• A posse incompatível é, desde logo, a posse que seja exercida em nome
próprio e constitua presunção da titularidade de um direito incompatível: enquanto esta
presunção não for ilidida, mediante a demonstração de que o direito de fundo radica no
executado, o possuidor em nome próprio é admitido a embargar de terceiro.
• É também incompatível com a realização a posse que, exercida em nome de
outrem que não o executado, respeite a direito pessoal de gozo ou a aquisição do bem
penhorado. Cabem aqui as seguintes situações: posse do locatário, do comodatário, do
depositário, do parceiro pensador, do promitente adquirente para quem tenha sido
transferida a posse. Isto porque a tradição do bem penhorado para o tribunal implicaria
a insubsistência da posse destes detentores e, com ela, das pessoas em nome de quem
possuem. Assim, ao atribuir legitimidade para embargar aos possuidores, a lei vem
estender a legitimidade para embargar de terceiros, não apenas aos titulares de
direitos reais não possuidores, mas também aos possuidores em nome alheio a quem a
lei civil não a atribuía.
1) Garantia real: o credor com garantia real sobre os bens penhorados tem o
ónus de reclamar o seu crédito na execução, a fim de concorrer à distribuição do
produto da venda. Será este ónus extensivo ao credor cuja garantia incida apenas
sobre os rendimentos dos bens penhorados? LEBRE DE FREITAS entende que a nossa lei
atribui ao titular de garantia sobre os rendimentos do bem penhorado o ónus de
reclamação do seu crédito.
Porém, o credor que não tenha garantia real à data da penhora pode obtê-la das
seguintes formas:
• Pode propor uma nova acção executiva contra o mesmo executado, nomeando
à penhora os mesmos bens – fica assim com um direito real de garantia e pode
reclamar o crédito na outra execução (art. 788.º/5 e 794.º). A segunda acção executiva
suspende-se.
• Para além disto, no decurso do prazo das reclamações, pode constituir hipoteca
judicial, se tiver sentença a seu favor e o bem penhorado for um imóvel ou móvel
sujeito a registo (art. 710.º CC), ou mediante arresto do bem penhorado (arts. 619.º e
622.º/2 CC, e 391.º).
2) Título executivo: mais uma vez, um credor com garantia real sobre o bem
penhorado pode não dispor ainda de título no termo do prazo para a reclamação. A lei
permite que este possa suprir a falta:
• O credor sem título executivo pode requerer no prazo das reclamações que a
graduação de créditos aguarde a obtenção do título (art. 792.º/1), em acção já
pendente ou a propor no prazo de
20 dias (art. 792.º/7/a)), sem prejuízo de o processo executivo prosseguir até à venda
ou adjudicação dos bens penhorados e de se fazer entretanto a verificação dos
restantes créditos.
• Para além disto, é ainda possível a formação de um título judicial impróprio,
evitando a propositura de uma acção: o executado é notificado para, no prazo de 10
dias, se pronunciar sobre a existência do crédito invocado (art. 792.º/2); se o
reconhecer ou nada disser, considera-se formado o título executivo, sem prejuízo de
poder ser impugnado pelo exequente ou restantes credores (art. 792.º/3). Ou seja: a lei
permite suprir a falta de direito real de garantia e de título executivo.
Note-se que, havendo que propor acção (porque o executado negou a existência
do crédito), nela intervêm, como partes em litisconsórcio necessário, o exequente os
credores reclamantes com garantia real sobre o mesmo bem (792º/5 CPC). Cfr. ainda
nº7.
3)Certeza e liquidez:
• Se a obrigação do credor não for qualitativamente determinada, lança mão dos
meios de que o exequente tem à sua disposição para tornar certa (art. 788.º/7).
Quando a escolha não dependa do credor e este não torne certa a obrigação dentro do
prazo que tem para reclamar, a dedução do direito terá lugar em forma alternativa, a
resolver no momento em que a obrigação se tenha tornado certa.
• A liquidez do crédito não tem de se verificar à data da reclamação, dispondo o
credor dos meios do exequente (art. 788.º/7/8). Quando o título executivo é uma
sentença, é na acção declarativa que a liquidação há-de ter lugar dado que o credor
reclamante em execução alheia dispõe dos mesmos meios de que dispõe o exequente.
Deve aplicar-se, neste âmbito, analogicamente o art. 792º/1 CPC.
A acção executiva para entrega de coisa certa tem lugar sempre que o objecto
da obrigação é a prestação de uma coisa. O qualificativo “certa” tem a ver com o
pressuposto processual da certeza da prestação, pelo que não obsta à execução a
necessidade de se proceder à individualização das unidades que serão objecto da
prestação a efectuar no caso de obrigação genérica cujo objecto se apresente
qualitativa e quantitativamente determinado.
Nos casos em que a coisa já não exista, seja objecto de um direito incompatível
com o do exequente ou não venha a ser encontrada, verifica-se a conversão da
execução para entrega de coisa certa em execução para pagamento de quantia certa.
O credor fará aqui valer a faculdade de execução específica, mediante a
apreensão da coisa que o devedor está obrigado a prestar-lhe – entrega judicial da
coisa judicial (art. 827º CC).Não há, por isso, neste tipo de acção, lugar a penhora. Para
realizar o direito exequendo, o tribunal procede à preensão da coisa e à sua imediata
entrega ao exequente, após efectivação das buscas e outras diligências que forem
necessárias. (art. 861º CPC) Ainda que o CPC mande aplicar “as disposições referentes
à realização da penhora”, a apreensão da coisa devida não tem a função nem os
efeitos da penhora.
Visa, tão só, a entrega da coisa ao exequente, não conferindo a este qualquer
direito de preferência nem operando a transferência da posse da coisa para o tribunal.
Podendo a acção executiva ter na sua base um direito real ou um direito de crédito, a
entrega da coisa logo investe o
exequente numa posse em nome próprio ou em nome alheio, quando nela não se limita
a mantê-lo; e, mesmo quando a apreensão e a entrega aparecem como actos
temporalmente bem separados, o tribunal não deixa de actuar, desde a apreensão,
como mero detentor da coisa em nome do exequente, a quem a irá entregar. E o
executado conserva, após a preensão, exactamente os mesmos direitos que
anteriormente tinha.
Acresce ainda que os limites objectivos à penhorabilidade dos bens não têm
aplicação ao caso de execução específica da obrigação de entrega de coisa
determinada, uma vez que a cobertura da pretensão do credor pelo título executivo
constitui já demonstração suficiente de que não há razões sociais que obstem à
entrega. Posto isto, exclui-se a possibilidade de concurso de credores ou venda da coisa
apreendida.
TRAMITAÇÃO
Tem lugar sempre que o objecto da obrigação, tal como o título o configura, é
uma prestação de facto, seja este de natureza positiva (obrigação de facere) ou
negativa (obrigação de non facere). É ao título executivo que havemos de recorrer
para, atentando o art. 10º/5 CPC, determinar o tipo de acção executiva, ainda que o
exequente venha a obter, pela execução, em vez da prestação de facto que lhe é
devida, o seu equivalente pecuniário – ou porque, sendo o facto infungível, não é
preciso obter de terceiros a sua prestação, ou porque, tratando-se embora de facto
fungível, o exequente vem, perante o incumprimento e nos termos da lei civil, a optar
pela resolução do contrato e pela indemnização de perdas e danos.
Claro que o direito à indemnização pecuniária, quando o exequente por ela optar,
pode ser exercido, não em execução para prestação de facto, mas em acção
declarativa em que se peça a condenação do réu na indemnização pretendida; nesses
casos, o credor lançará mão de acção executiva para pagamento de quantia certa. Mas,
sempre que o título configure uma prestação de facto, e sem prejuízo da norma do art.
710º sobre a cumulação de pedidos baseados numa única sentença, é à
correspondente execução que há que recorrer.
A distinção entre a execução para entrega de coisa certa e execução para
prestação de facto nem sempre é fácil de fazer. Quando se trate de uma prestação
principal e uma prestação acessória de diferente natureza têm que ser movidas duas
acções executivas para a realização de uma e de outra. (art. 709º/1/b CPC)
Porém, quando movida execução pela prestação principal haja lugar à
indemnização por equivalente pecuniário de ambas as prestações, a liquidação da
indemnização pelo incumprimento da prestação acessória deve ser feita juntamente
com a liquidação da indemnização pelo incumprimento da prestação principal, no
âmbito da conversão da execução interposta. Por outro lado, a apreensão de uma coisa
acessória, isto é, destinada a servir a finalidade de cumprimento de uma obrigação de
prestação de facto, pode ter lugar na acção executiva para prestação do facto.
credor pode tão-só exigir a destruição ou demolição da obra à custa do devedor. Poderá
ainda exigir uma indemnização complementar pelo prejuízo sofrido, nos termos do art.
876º/1 e 877º/1 CPC). Se não houver obra feita, o exequente terá apenas direito à
indemnização compensatória. Pode ainda haver um pedido de pagamento da quantia
devida a título de sanção pecuniária compulsória, quer fixado na acção declarativa,
quer na acção executiva. Ver arts. 876 e 877º CPC.