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PROBLEMA 3

PRÁTICA JURÍDICA III – PENAL

ADOLFO, com 74 anos de idade, primário, no dia 21 de março de 2015,


estava na sua humilde residência (um barraco na comunidade conhecida como
Favela Zulu), quando foi visitado pelo chefe do tráfico da comunidade,
conhecido pelo vulgo de SORRISO. SORRISO estava armado e exigiu que
ADOLFO transportasse 25 gramas de maconha para outro traficante, devendo
a entrega ocorrer em uma Loja de Roupas, sob pena de ADOLFO ser expulso
da favela onde morava. Ordem essa que foi cumprida por ADOLFO, contudo,
quando estava caminhando em direção ao local determinado, foi abordado por
policiais militares, sendo a droga encontrada e apreendida. Assim, foi preso em
flagrante, porém, foi concedida liberdade provisória sem fiança com medidas
cautelares ao agente. ADOLFO foi denunciado pela prática do crime previsto
no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06. Processo regular, na audiência de
instrução e julgamento, os policiais militares confirmaram os fatos narrados na
denúncia, afirmando, inclusive que o acusado apresentou a versão de que
transportava as drogas por exigência de SORRISO. ADOLFO ao ser
interrogado confirmou que fazia o transporte da droga, mas alegou que
somente o fez porque foi ameaçado sob pena de ser expulso do local onde
mora a mais de 40 anos, não tendo outro lugar para morar. F.A., juntada aos
autos, demonstrando a primariedade, e laudo de exame de material
confirmando que, de fato, a substância encontrada com o réu era “maconha”,
conforme previsto na Portaria n.º 344/98, da ANVISA. Os autos foram
encaminhados para o Ministério Público, que pugnou pela condenação do
acusado nos exatos termos da denúncia. Em seguida, você, advogado(a) de
ADOLFO, foi intimado(a).

Destarte, com base nas informações acima expostas e naquelas que


podem ser inferidas do caso concreto, redija a peça cabível, excluída a
possibilidade de habeas corpus.
GABARITO
PEÇA CABÍVEL Alegações Finais por meio de MEMORIAIS, com fundamento no art.
403, § 3º, do CPP, por analogia, haja vista que o art. 57 da Lei de Drogas
não prevê a possibilidade de memoriais (Cf. art. 394 § 4.º do CPP).
ENDEREÇAMENTO Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ... Vara Criminal da
Comarca de ...

TERMINOLOGIA • Cliente: Denunciado, Acusado ou Réu.


• Verbo: apresentar.

ESTRUTURA DA PEÇA Formato de petição simples (peça única).

TESES • NO MÉRITO - ABSOLVIÇÃO POR INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA


DIVERSA – ARTIGO 386, INCISO VI, DO CPP

Requerer a absolvição do acusado por inexigibilidade de conduta


diversa. Para que determinada conduta seja considerada crime, deve ela
ser típica, ilícita e culpável. Um dos elementos da culpabilidade é a
exigibilidade de conduta diversa, sendo, portanto, a inexigibilidade de
conduta diversa uma causa dirimente da culpabilidade.
Houve coação moral irresistível por parte do traficante SORRISO, que
estando armado, ao exigir o transporte das substâncias entorpecentes
por parte de ADOLFO, um senhor de 74 anos de idade, sob pena de
expulsá-lo de sua casa e da comunidade que vive, sem ele ter outro local
para residir, assim conforme previsão do art. 22, primeira parte, do CP,
no caso de coação irresistível, somente deve responder pela infração o
autor da coação, consequentemente, REQUERER a absolvição nos
termos do art. 386, inciso VI, do CPP.

• SUBSIDIARIAMENTE – DA FIXAÇÃO DA PENA

I - Do reconhecimento das atenuantes genéricas – art. 65 do CP

Em caso de condenação, ad argumentandum tantum, deverá pleitear o


reconhecimento da atenuante do art. 65, inciso I, segunda parte, do CP,
já que o réu era maior de 70 anos na data da sentença, bem como a
atenuante da confissão, prevista no art. 65, inciso III, alínea “d”, do CP,
cabendo destacar que a chamada confissão qualificada, ou seja, quando,
apesar de confessar o fato, o acusado alega a existência de causa de
exclusão da ilicitude ou da culpabilidade, vem sendo reconhecida pelo
STJ como suficiente para justificar o seu reconhecimento como atenuante
(vide Súmula n.º 545 do STJ). Deverá, ainda, ser alegada a atenuante da
coação resistível, já que o crime somente foi praticado por exigência de
SORRISO (art. 65, inciso III, “c”, do CP).

II – Da aplicação da causa de diminuição de pena prevista no artigo


33, § 4° da Lei n.º 11.343/2006

Considerando que o acusado é primário, de bons antecedentes, e que


não consta em seu desfavor qualquer indício de envolvimento com
organização criminosa ou dedicação às atividades criminosas, cabível a
aplicação do redutor de pena previsto no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006 em seu grau máximo, reconhecendo, portanto, a existência
do tráfico privilegiado do art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06.

III – Fixação de regime inicial menos gravoso

Da mesma forma, o STF também reconheceu a inconstitucionalidade da


exigência da aplicação do regime inicial fechado para os crimes
hediondos ou equiparados trazida pelo Art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072 por
violação do princípio da individualização da pena, de modo que nada
impede a fixação do regime inicial menos gravoso de cumprimento da
reprimenda penal (Cf. HC n.º 111.840/ES julgado em 2012, da Rel.
Ministro Dias Toffoli). Nesse sentido, é o disposto no art. 5.º, inciso XLVI
da CF, c/c., art. 33 §§2.º e 3.º do CP, e da redação da Súmula n.º 440 do
STJ.

IV – Da substituição da pena privativa de liberdade de regime aberto


pela pena restritiva de direito

Cabível o requerimento de substituição da pena privativa de liberdade por


restritiva de direitos, pois não mais subsiste a vedação trazida pelo
dispositivo (vide arts. 33 §4.º e 44, ambos da Lei de Drogas). O STF
reconheceu a inconstitucionalidade dessa vedação em abstrato, além da
Resolução nº 05 do Senado, publicada em 15/02/2012, suspendendo a
execução da expressão “vedada a conversão em penas restritivas de
direito” do parágrafo supracitado.

PEDIDOS a) julgamento de improcedência da ação penal para a absolvição do


acusado pelo crime de tráfico, na forma prevista no art. 386, inciso VI, do
CPP;

b) subsidiariamente, aplicação da pena base no mínimo legal;

c) reconhecimento das atenuantes do art. 65, incisos I e III, alíneas “c” e


“d”, do Código Penal;

d) aplicação da causa de diminuição do art. 33, § 4º da Lei nº 11.343/06;

e) aplicação do regime inicial aberto de cumprimento da pena;

f) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

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