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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DE DA

COMARCA DE MACEIÓ/AL

EDGARD, já qualificado nos autos da ação penal nº ..., que lhe move a Justiça Pública, por
seu advogado que esta subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, dentro
do prazo legal, oferecer CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO com fulcro no artigo 600 do Código
de Processo Penal.

Termos em que,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2018.

Gleice do Nascimento Genaro

OAB nº XXXXXX
CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

PROCESSO Nº: XXX


APELADO: EDGARD
APELANTE: JUSTIÇA PÚBLICA

Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas


Colenda Câmara,
Douto Membro do Ministério Público.

Em que pese o indiscutível saber jurídico do magistrado “a quo” a decisão proferida não
merece prosperar, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I – Dos Fatos:

Edgard foi denunciado, processado e condenado pelo Juízo de primeiro grau pela
prática do crime tipificado no artigo 33 da Lei 11.343/06, com a aplicação da causa de
diminuição do artigo 33, §4º, e da causa de aumento do artigo 40, inciso VI, da mesma Lei.
Segundo consta da denúncia, no dia 04 de maio de 2018, caminhava com o adolescente
Marcelo, cada um deles trazendo consigo uma mochila nas costas. Realizada uma abordagem
por policiais, foi constatado que, no interior da mochila de cada um, havia uma certa
quantidade de drogas, razão pela qual elas foram, de imediato, encaminhadas para a
Delegacia.
Realizado laudo de exame de material entorpecente, constatou-se que Edgard trazia 25 g de
cocaína, acondicionados em 35 pinos plásticos, enquanto, na mochila do adolescente, foram
encontrados 30 g de cocaína, quantidade essa distribuída em 50 pinos.

A pena restou fixada em 1 ano, 11 meses e 10 dias de reclusão, em regime inicialmente


aberto, e 195 dias multa, entendendo o magistrado pela substituição da pena privativa de
liberdade por duas restritivas de direitos

II – Do Direito:

Inicialmente, deve ser afastada a alegação da acusação de ocorrência de nulidade.


Vejamos. Nos termos do artigo 57 da Lei 11.343/06, o interrogatório, no procedimento
especial em questão, seria o primeiro ato da instrução. Todavia, conforme entendimento
firmado pelo E. Supremo Tribunal Federal, em respeito à ampla defesa, tal ato deve ser o
último da instrução. No caso, o interrogatório de Edgard foi realizado ao fim da instrução, de
acordo, portanto, com a orientação jurisprudencial a respeito do tema, razão pela qual não
há que se falar em nulidade. Ademais, a nulidade não foi arguida pela acusação em
momento oportuno, ou seja, em seus memoriais, o que reforça a impossibilidade de seu
reconhecimento.

Assim, não deve ser acolhido o pedido de anulação. De outro lado, igualmente não
assiste razão à acusação ao requerer a condenação do apelado pelo crime do artigo 35 da Lei
11.343/06. Nos termos do mencionado tipo legal, configura-se a associação para o tráfico se
“associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não,
qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei”.

A esse respeito, conforme o entendimento firmado pelo C. Superior Tribunal de


Justiça, a despeito de a lei prever a configuração do tipo penal com a prática “reiterada ou
não” dos crimes de tráfico de drogas, a sua aplicação depende da estabilidade e
permanência da associação, não bastando que seja para a prática de apenas um delito. No
caso em pauta, não há qualquer indicativo de que a associação tenha ido além do tráfico de
drogas objeto do presente feito, configurando-se, portanto, mero concurso de agentes, sem
associação de caráter estável e permanente.

Portanto, deve ser mantida a absolvição quanto ao crime do artigo 35 da Lei


11.343/06. Ainda, não merece acolhimento a pretensão da acusação de aumento da pena
base. O artigo 59 do Código Penal traz as circunstâncias a serem sopesadas pelo Magistrado
sentenciante ao realizar a dosimetria da pena base, dentre as quais está a das consequências
do delito, Em seu recurso de apelação, a acusação requer a exasperação da pena base, pois
seriam desfavoráveis as consequências do delito, “diante das consequências graves que vem
causando para a saúde pública e a sociedade brasileira”.

Ocorre que tal argumento diz é genérico e abstrato, somente sendo possível a
exasperação da pena base em vista das consequências específicas do caso concreto. Assim, o
acolhimento de tal pedido resultaria em bis in idem. Desta feita, não deve ser acolhido o
pedido ministerial de exasperação da pena base.

Também deve ser desprovido o apelo da acusação quanto ao pedido de afastamento


da atenuante da confissão. Conforme a Súmula 545 do C. Superior Tribunal de Justiça,
sempre que o réu confessar e a sua confissão for utilizada para a formação do
convencimento do juiz, deve ser aplicada a atenuante prevista no artigo 65, inciso III, alínea
d, do Código Penal. In casu, como bem ponderado pelo juízo sentenciante, houve confissão e
ela foi utilizada para a condenação do apelado. Assim sendo, deve ser mantida a atenuante
em questão.

Não deve ser acolhido, ainda, o pedido de afastamento da causa de diminuição do


§4º do artigo 33 da Lei 11.343/06. Prevê o mencionado dispositivo legal que nos delitos
definidos no caput e no §1º do mesmo artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a
dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às
atividades criminosas nem integre organização criminosa.

No presente caso, o fato de o réu responder à ação penal por crime de furto não
justifica o reconhecimento de maus antecedentes, nos termos da Súmula 444 do Superior
Tribunal de Justiça, por analogia bem como conforme o artigo 5º, inciso LVII, da Constituição
Federal. Com efeito, não havendo condenação transitada em julgada, não há que se falar na
existência de antecedente, em respeito ao princípio da presunção de inocência. Portanto,
deve ser mantida a causa de diminuição em pauta. De seu turno, também o regime inicial
deve ser mantido no aberto.

Nos termos do artigo 33, §2º, alínea “c”, do Código Penal, os condenados a uma pena
privativa de liberdade não reincidentes têm direito a iniciar o cumprimento da pena no
regime inicialmente aberto. In casu, a pena aplicada foi de 1 ano, 11 meses e 10 dias de
reclusão, dentro, portanto, do patamar para o regime inicial aberto.

Ademais, incidindo a causa de diminuição do §4º do artigo 33 da Lei 11.343/06, o


crime deixa de ser hediondo. E mesmo que fosse, não se aplica a previsão de regime inicial
fechado do artigo 2º, §1º, da Lei 8072/90, declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, por violação à individualização da pena.

Portanto, correta foi a fixação do regime inicial aberto. Por fim, igualmente não
merece reparo a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.
Conforme prevê o artigo 44 do Código Penal, é possível a substituição da pena em
condenação a penas de até 4 anos, por crimes sem violência ou grave ameaça, sendo
favoráveis as demais circunstâncias.

No presente caso, estão preenchidos todos os requisitos, destacando-se que a


vedação abstrata do benefício viola a individualização da pena e é inconstitucional, conforme
já decidido pelo Supremo Tribunal Federal. Inclusive, nesse sentido, o Senado editou a
Resolução 5/2012, suspendendo a eficácia da vedação de substituição da pena contida no
artigo 33, §4º, da Lei 11343/06. Portanto, deve ser mantida a substituição da pena.

III – Do Pedido:

Ante o exposto, requer seja desprovido o apelo ministerial, mantendo-se a sentença


de primeiro grau.
Termos em que,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2018.

Gleice do Nascimento Genaro

OAB nº XXXXXX

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