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1) (DELTA – PCSE – CEBRASPE – 2019) Com base na doutrina, discorra sobre:

1 o conceito do estrito cumprimento de dever legal, exemplificando-o [valor: 6,00 pontos] e indicando o momento de sua
análise jurídica frente ao que dispõe o Código Penal [valor: 6,00 pontos];

2 o conceito de tipicidade conglobante [valor: 8,00 pontos] e sua consequência jurídica em relação à excludente do estrito
cumprimento de dever legal, conforme o sistema jurídico penal [valor: 8,00 pontos]

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

4 Teoria geral do crime. 4.1 Conceito, objeto, sujeitos, conduta, tipicidade, culpabilidade. 4.8 Causas de exclusão da ilicitude.
4.9 O fato típico e seus elementos. 4.10 Causas de exclusão da tipicidade.

PADRÃO DE RESPOSTA

1 Ao contrário do que faz com o estado de necessidade e com a legítima defesa, o Código Penal não apresenta definição
para o conceito de estrito cumprimento de dever legal, limitando-se a dispor, em seu art. 23, inciso III, que:

“Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:

(...)

III – em estrito cumprimento de dever legal (...)”.

O estrito cumprimento de dever legal consiste na realização de um fato típico, por força do desempenho de uma obrigação
imposta por lei, nos exatos limites dessa obrigação. A lei não determina apenas a faculdade do agente em obedecer ou
não a regra por ela estabelecida, havendo, na verdade, o dever de agir com origem exclusivamente na lei. Exemplo disso
é o cumprimento de mandado de busca domiciliar em que haja impedimento à ordem de ingresso na residência, o que
autoriza o arrombamento da porta e a entrada forçada, conforme disciplina o Código de Processo Civil, em seu art. 245, §
2.º. Pelo Código Penal, o estrito cumprimento de dever legal é analisado no momento da antijuricidade da conduta, ou
seja, como causa de exclusão da ilicitude da conduta.

2 A tipicidade conglobante consiste na adequação da conduta ao modelo abstrato descrito na lei à luz da ordem normativa
e dos princípios conformadores do direito penal; ou seja, para que um fato seja típico, a conduta que lhe deu origem deve
violar o ordenamento jurídico considerado como um todo.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Para os penalistas Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli, “a tipicidade penal não se reduz à tipicidade legal
(adequação à formulação legal), e sim, deve evidenciar uma verdadeira proibição com relevância penal, para o que é
necessário que esteja proibida à luz da consideração conglobada da norma.

Isto significa que tipicidade penal implica na tipicidade legal corrigida pela tipicidade conglobante, que pode reduzir o âmbito
de proibição aparente que surge da consideração isolada da tipicidade legal”.

(Eugênio Raúl Zaffaroni; José Henrique Pierangeli. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral.

Revista dos Tribunais, p. 549-50.) Nessa linha, a existência do fato típico se funda em duas premissas: a) a conduta do
agente deve ser analisada à luz do universo normativo como um todo, ou seja, deve ser antinormativa; b) a conduta deve
ofender ou colocar em perigo o bem jurídico previsto pelo tipo penal de forma efetiva e relevante (tipicidade material).

À luz da conceituação doutrinária da tipicidade conglobante (antinormativa), algumas excludentes de ilicitude, a exemplo
do estrito cumprimento de dever legal e do exercício regular do direito, têm implicação direta na tipicidade da conduta, e
não na sua ilicitude ou antijuridicidade, possuindo a natureza jurídica de causa de exclusão de tipicidade. Isso porque, pela
tipicidade conglobante antinormativa, não pode ser típica a conduta daquele que atua fomentado pelo próprio ordenamento
jurídico (estrito cumprimento de dever legal), não podendo coexistir uma norma que determine que se faça alguma coisa
enquanto outra norma veda a mesma conduta, emprestando-lhe tipicidade formal.

Nessa linha de pensamento, vale citar Zaffaroni e Pierangelli, que assim asseveram:

“Suponhamos que somos juízes e que é levada a nosso conhecimento a conduta de uma pessoa que, na qualidade de
oficial de justiça, recebeu uma ordem, emanada por juiz competente, de penhora e sequestro de um quadro, de propriedade
de um devedor a quem se executa em processo regular, por seu legítimo credor, para a cobrança de um crédito vencido,
e que, em cumprimento desta ordem judicial e das funções que por lei lhe competem, solicita o auxílio de força pública, e,
com todas as formalidades requeridas, efetivamente sequestra a obra, colocando-a à disposição do juízo. O mais elementar
senso comum indica que esta conduta não pode ter qualquer relevância penal, que de modo algum pode ser delito, mas
por quê? Receberemos a resposta de que essa conduta enquadra-se nas previsões do art. 23, III, do CP: ‘Não há crime
quando o agente pratica o fato (...) em estrito cumprimento de dever legal (...)’. é indiscutível que ela aí se enquadra, mas
que caráter do delito desaparece quando um sujeito age em cumprimento de um dever? Para boa parte da doutrina, o
oficial de justiça teria atuado ao amparo de uma causa de justificação, isto é, que faltaria a antijuridicidade da conduta,
mas que ela seria típica. Para nós, esta resposta é inadmissível, porque tipicidade implica antinormatividade (contrariedade
à norma) e não podemos admitir que na ordem normativa uma ordena o que a outra proíbe. Uma ordem normativa, na
qual uma norma possa ordenar o que a outra pode proibir, deixa de ser ordem e de ser normativa e torna-se uma ‘desordem
arbitrária’”. (Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte geral. Revista dos
Tribunais, p. 395.)

Considerando-se, então, que não há tipicidade na conduta daquele que, em tese, realiza um fato típico por força do
desempenho de uma obrigação imposta por lei, o comportamento realizado sob o manto do estrito cumprimento de dever
legal, visto sob o ângulo da teoria da tipicidade conglobante, deve ser perquirido dentro da estrutura jurídica do fato típico,
constituído por conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade (formal e conglobante), e não da antijuridicidade.

AVALIAÇÃO

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Quesito 1

Conceito 0 – não articula seu raciocínio.

Conceito 1 – articula seu raciocínio de maneira precária.

Conceito 2 – articula seu raciocínio de maneira satisfatória.

Conceito 3 – apresenta excelente articulação.

Quesito 2

Conceito 0 – não argumenta.

Conceito 1 – argumenta de maneira precária.

Conceito 2 – argumenta de maneira satisfatória.

Conceito 3 – apresenta excelente argumentação.

Quesito 3

Conceito 0 – não utiliza o vernáculo de forma correta.

Conceito 1 – utiliza o vernáculo de forma mediana.

Conceito 2 – utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1.1

Conceito 0 – não conceitua doutrinariamente ou conceitua de maneira equivocada o estrito cumprimento de dever legal
nem o exemplifica.

Conceito 1 – conceitua o estrito cumprimento abordando um dos três aspectos esperados (inexistência do conceito solicitado
no Código Penal/conceito doutrinário/exemplo).

Conceito 2 – conceitua o estrito cumprimento abordando dois dos três aspectos esperados (inexistência do conceito
solicitado no Código Penal/conceito doutrinário/exemplo).

Conceito 3 – conceitua o estrito cumprimento os três aspectos esperados (inexistência do conceito solicitado no Código
Penal/conceito doutrinário/exemplo).

Quesito 4.1.2

Conceito 0 – não indica o momento de análise jurídica do estrito cumprimento de dever legal.

Conceito 1 – indica corretamente o momento de análise jurídica do estrito cumprimento de dever frente ao que dispõe o
Código Penal brasileiro.

Quesito 4.2.1

Conceito 0 – não conceitua doutrinariamente a tipicidade conglobante.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Conceito 1 – conceitua doutrinariamente a tipicidade conglobante abordando um dos dois aspectos esperados
(entendimento de alguns penalistas/premissas que fundamentam a existência do fato típico) como resposta.

Conceito 2 – conceitua doutrinariamente a tipicidade conglobante abordando os dois aspectos esperados (entendimento
de alguns penalistas/premissas que fundamentam a existência do fato típico) como resposta.

Quesito 4.2.2

Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de maneira equivocada a consequência jurídica da tipicidade conglobante em
relação à excludente do estrito cumprimento de dever legal.

Conceito 1 – apresenta a consequência jurídica da tipicidade conglobante em relação à excludente do estrito cumprimento
de dever legal, abordando um dos dois aspectos esperados (consequência jurídica da tipicidade conglobante/perquirição
do comportamento realizado sob o manto do estrito cumprimento do dever legal) como resposta.

Conceito 2 – apresenta a consequência jurídica da tipicidade conglobante em relação à excludente do estrito cumprimento
de dever legal, abordando os dois aspectos esperados (consequência jurídica da tipicidade conglobante/perquirição do
comportamento realizado sob o manto do estrito cumprimento do dever legal) como resposta.

2) (DELTA – PCSE – CEBRASPE – 2019) O Estatuto do Idoso — Lei n.º 10.741/2003 — discrimina, nos seus arts. 96 a
108, delitos especiais em que a vítima é sempre pessoa idosa.

À luz das regras especiais estabelecidas no Estatuto do Idoso com relação aos crimes contra pessoa idosa, discorra sobre:

1 a idade mínima para que uma pessoa possa ser considerada vítima dos crimes previstos no Estatuto do Idoso; [valor:
4,00 pontos]

2 o regramento do Estatuto do Idoso com relação a escusa absolutória ou imunidade do autor de crime contra pessoa
idosa; [valor: 8,00 pontos]

3 a natureza da ação penal relativa a crime previsto no Estatuto do Idoso; [valor: 4,00 pontos]

4 os procedimentos a serem adotados considerando-se a pena máxima aplicada ao autor de crime previsto no Estatuto do
Idoso; [valor: 4,00 pontos]

5 o entendimento do STF acerca da aplicabilidade do procedimento para os crimes com pena superior a dois anos e não
maior que quatro anos de reclusão. [valor: 8,00 pontos]

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

2 Lei n.º 10.741/2003, e suas alterações (Crimes previstos no Estatuto do Idoso).

PADRÃO DE RESPOSTA

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

1 Para ser considerada vítima idosa, a pessoa deve ter idade igual ou superior a 60 anos (nos termos do art. 1.º do Estatuto
do Idoso).

2 Ainda que o delito seja cometido por ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, não existe qualquer escusa
absolutória ou imunidade (art. 95 do Estatuto do Idoso). Deve ser ressaltado, ainda, que o Estatuto do Idoso inseriu norma
semelhante à do art. 183, III, do Código Penal, excluindo as imunidades nos crimes contra o patrimônio de pessoa idosa,
mesmo que cometidos por uma das pessoas citadas.

3 A ação será sempre pública incondicionada, ainda que o delito tenha sido cometido por algum familiar da vítima (art. 95
do Estatuto do Idoso).

4 Procedimento a) Pena máxima de até dois anos – são aplicáveis todos os benefícios da Lei n.º 9.099/1995, e não apenas
o rito sumaríssimo. b) Pena máxima de dois anos a quatro anos – afasta-se o rito sumário e adota-se o sumaríssimo após
o oferecimento da denúncia. Impossibilidade de aplicação de quaisquer medidas despenalizadoras e de interpretação
benéfica ao autor do crime. c) Pena máxima superior a quatro anos – rito comum ordinário, sem normas despenalizadoras.

5 O STF, ao julgar a ADI 3.096/DF, aplicou interpretação conforme a Constituição Federal de 1988, no sentido de aplicar-
se aos crimes do Estatuto do Idoso apenas o rito sumaríssimo quando a pena for de dois anos a quatro anos de reclusão,
não se permitindo a aplicação de quaisquer medidas despenalizadoras nem interpretação benéfica ao autor do crime cuja
vítima seja idosa.

Material de apoio aos examinadores

Texto Legal – Estatuto do Idoso, Lei n.º 10.741/2003

TÍTULO VI – Dos Crimes CAPÍTULO I – Disposições Gerais

Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei

n.º 7.347/1985.

Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se
o procedimento previsto na Lei n.º 9.099/1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do Código Penal e do
Código de Processo Penal. (vide ADI 3.096-5 – STF)

CAPÍTULO II – Dos Crimes em Espécie

Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando os arts. 181 e 182
do Código Penal.

Art. 96. a art. 108. (…)

TÍTULO VII – Disposições Finais e Transitórias

Art. 109. (...)

Art. 110. O Decreto-Lei n.º 2.848/1940, Código Penal, passa a vigorar com as seguintes alterações: (...)

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Art. 61.

h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

Art. 121.

§ 4.o

No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências
do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se
o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos.

Art. 133.

III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (NR)

Art. 140.

§3.o

Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa
ou portadora de deficiência: (...)

Art. 141.

IV – contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.

Art. 148.

I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge do agente ou maior de 60 (sessenta) anos.

Art. 159.

§ 1.º Se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60
(sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha.

Art. 183.

III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (NR)

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto
para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos
necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa
causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: (...)

............................................................................ (NR)

Art. 111. O art. 21 do Decreto-Lei n.º 3.688/1941, Lei das Contravenções Penais, passa a vigorar acrescido do seguinte
parágrafo único: (...)

Art. 21.

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Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. (NR)

Art. 112. O inciso II do § 4.º do art. 1.º da Lei n.º 9.455/1997, passa a vigorar com a seguinte redação: (...)

Art. 1.º

§ 4.o

............................................................................ II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência,


adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; ............................................................................ (NR)

Art. 113. O inciso III do art. 18 da Lei n.º 6.368/1976, passa a vigorar com a seguinte redação: (...)

Art. 18.

III – se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa com idade igual
ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de
discernimento ou de autodeterminação:

............................................................................ (NR)

Art. 114. O art. 1.º da Lei n.º 10.048/2000, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 1.º As pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes,
as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo terão atendimento prioritário, nos termos desta Lei. (NR)

............................................................................ Existem crimes nos arts. 96 a 108 da Lei n.º 10.741/2003 em que a vítima
é sempre pessoa idosa (com idade igual ou superior a 60 anos). Em relação a esses delitos especiais a referida lei trouxe
algumas regras que merecem menção. Em primeiro lugar, ainda que o delito seja cometido por ascendente, descendente,
cônjuge ou companheiro, não existe qualquer escusa absolutória ou imunidade (art. 95 da Lei n.º 10.741/2003). O Estatuto
do Idoso, aliás, inseriu norma semelhante à do art. 183, III, do Código Penal, excluindo as imunidades nos crimes contra
o patrimônio de pessoa idosa, mesmo que cometido por uma das pessoas citadas.

Os crimes elencados na Lei n.º 10.741/2003 apuram-se necessariamente mediante ação pública incondicionada, ainda que
o delito seja cometido por algum familiar.

(...) O Supremo Tribunal Federal julgou parcialmente procedente a ação direta de inconstitucionalidade n.º 3.096 para dar
interpretação conforme a Constituição no sentido de aplicar-se aos crimes do Estatuto do Idoso apenas o rito sumaríssimo,
quando a pena for superior a dois anos e não maior do que quatro anos, não se permitindo a aplicação de quaisquer
medidas despenalizadoras e interpretação benéfica ao autor do crime cuja vítima seja idoso. A propósito: art. 94 da Lei n.º
10.741/2003: interpretação conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, para suprimir a expressão “do Código
Penal” e aplicação apenas do procedimento sumaríssimo previsto na Lei n.º 9.099/1995: benefício do idoso com a
celeridade processual. Impossibilidade de aplicação de quaisquer medidas despenalizadoras e de interpretação benéfica
ao autor do crime. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para dar interpretação conforme
à Constituição do Brasil, com redução de texto, ao art. 94 da Lei n.º 10.741/2003. (ADI/DF 3.096 – Tribunal Pleno – Rel.
Min. Cármem Lúcia.) Pedro Lenza; Alexandre Cebrian Araújo Reis; Victor Eduardo Rios Gonçalves. Direito Processual
Penal. p. 559.

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Quesito 1

Conceito 0 – não articula seu raciocínio.

Conceito 1 – articula seu raciocínio de maneira precária.

Conceito 2 – articula seu raciocínio de maneira satisfatória.

Conceito 3 – apresenta excelente articulação.

Quesito 2

Conceito 0 – não argumenta.

Conceito 1 – argumenta de maneira precária.

Conceito 2 – argumenta de maneira satisfatória.

Conceito 3 – apresenta excelente argumentação.

Quesito 3

Conceito 0 – não utiliza o vernáculo de forma correta.

Conceito 1 – utiliza o vernáculo de forma mediana.

Conceito 2 – utiliza o vernáculo de forma correta.

Quesito 4.1

Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada a idade para considerar a vítima pessoa idosa.

Conceito 1 – apresenta a idade correta para considerar a vítima pessoa idosa, mas não menciona o normativo que
regulamenta a idade.

Conceito 2 – apresenta a idade correta para considerar a vítima pessoa idosa e menciona o normativo que regulamenta a
idade.

Quesito 4.2

Conceito 0 – não apresenta a regra especial sobre escusa absolutória ou imunidade.

Conceito 1 – apresenta a regra especial sobre escusa absolutória ou imunidade, mas não faz – ou o faz de maneira
equivocada – entre o Estatuto do Idoso e o art. 183, III, do Código Penal.

Conceito 2 – apresenta corretamente a regra especial sobre escusa absolutória e imunidade e faz corretamente o paralelo
entre o Estatuto do Idoso e o art. 183, III, do Código Penal.

Quesito 4.3

Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada a natureza da ação penal.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Conceito 1 – apresenta corretamente a natureza da ação penal, sem mencionar ou mencionar de maneira equivocada que
a natureza jurídica se mantem ainda o delito seja cometido por algum familiar.

Conceito 2 – apresenta corretamente a natureza da ação penal e menciona que a natureza jurídica se mantem ainda o
delito seja cometido por algum familiar.

Quesito 4.4

Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada os procedimentos a serem adotados.

Conceito 1 – apresenta corretamente apenas um procedimento a ser adotado.

Conceito 2 – apresenta corretamente dois procedimentos a serem adotados.

Conceito 3 – apresenta corretamente três procedimentos a serem adotados.

Quesito 4.5

Conceito 0 – não apresenta ou apresenta de forma equivocada o entendimento do STF.

Conceito 1 – apresenta corretamente o entendimento do STF.

3) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2021) Considere a seguinte situação hipotética:

Chegou ao conhecimento da autoridade policial a notícia sobre a existência de comentários preconceituosos contra o povo
judeu feitos em um site na Internet. Foi instaurado inquérito policial para apurar a prática do crime previsto no art. 20 da
Lei n.º 7.716/1989 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional), o qual é punido com reclusão de 1 a 3 anos e multa. Durante a tramitação do inquérito, o STJ firmou a
competência federal para o processamento da apuração. Passados 10 anos do fato criminoso, identificou-se o autor da
conduta, que estava com mais de 75 anos de idade. O delegado de Polícia Federal encerrou a investigação e encaminhou
os autos à autoridade competente, por considerar prescrita a pretensão punitiva.

Considerando a situação hipotética acima, posicione-se a respeito do encaminhamento dado pelo delegado de Polícia
Federal ao caso, explicando, de forma fundamentada, o conceito e a natureza jurídica do instituto da prescrição, as suas
espécies e as causas que alteram o prazo prescricional, de acordo com a jurisprudência do STF.

TÓPICO(S) DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADO(S)

9 Extinção da punibilidade. 9.1 Conceito, causas gerais e específicas, momentos de ocorrência. 9.2 Prescrição: conceito,
teorias, prazos para o cálculo da prescrição, termos iniciais, causas suspensivas ou impeditivas, causas interruptivas. 10.21
Lei n.º 7.716/1989 e suas alterações (Crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor).

PADRÃO DE RESPOSTA

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A prescrição penal é uma causa extintiva de punibilidade prevista no art. 107, IV, do Código Penal e consiste em o Estado
perder o direito de punir, em razão do decurso do lapso temporal legalmente estabelecido.

Nas palavras de Guilherme de Souza Nucci: “é a perda do direito de punir do Estado pelo não exercício em determinado
lapso de tempo. Não há mais interesse estatal na repressão do crime, tendo em vista o decurso do tempo e porque o
infrator não reincide, readaptando-se à vida social” (Guilherme de Souza Nucci. Manual de Direito Penal. 16.ª ed. Forense,
2020).

A prescrição se apresenta sob diversas formas. Antes do trânsito em julgado da acusação da pena estabelecida na
sentença, a prescrição se regula pela sanção máxima abstratamente cominada ao delito. É a chamada prescrição da
pretensão punitiva propriamente dita (ou prescrição da pretensão punitiva abstrata ou prescrição da ação penal). Após a
condenação transitada em julgado para o Ministério Público (MP), ou ainda que haja pendência de recurso da acusação
em que não se discuta a quantidade de pena, surgem duas novas modalidades de prescrição da pretensão punitiva, ambas
reguladas pela pena aplicada. A prescrição intercorrente (ou superveniente ou subsequente) ocorre em razão da inércia
em intimar o réu da sentença ou pela demora em julgar o recurso, de modo que o prazo prescricional se consuma entre a
publicação da sentença definitiva para o MP e o trânsito em julgado para a defesa. A prescrição retroativa ocorre quando
o prazo prescricional é ultrapassado em uma análise retrospectiva entre os marcos interruptivos do recebimento da denúncia
e da publicação da sentença condenatória. Por fim, a prescrição executória é conceituada como a perda do direito do
Estado de executar a pena aplicada em razão da inércia para promover o seu cumprimento.

Segundo a jurisprudência mais atual do Plenário do STF, seu início pressupõe o trânsito em julgado para ambas as partes
(cf. AI 794971 AgR).

Os prazos prescricionais estão previstos no art. 109 do Código Penal (CP) e variam de 3 a 20 anos.

Todavia, em casos específicos, tais prazos são alterados. O art. 115 do CP dispõe que “são reduzidos de metade os prazos
de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior
de 70 (setenta) anos”. Além disso, nos casos de condenado reincidente, os prazos da prescrição são aumentados em 1/3.
Importa destacar que a redução do prazo pela idade se aplica às espécies de prescrição da pretensão punitiva e executória,
enquanto o aumento pela reincidência incide apenas sobre a prescrição da pretensão executória.

A regra geral é que todos os crimes estão sujeitos ao regime da prescrição. Todavia, a Constituição Federal de 1988 (CF)
estabelece exceções fruto de escolha do poder constituinte originário. Uma delas é referente à prática do crime de racismo
(cf. art. 5.º, XLII, CF). Outra é a ação de grupos armados, civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático (cf. art. 5.º, XLIV, CF). No caso concreto, o fato criminoso está sujeito ao regime da imprescritibilidade, pois
está previsto na Lei n.º 7.716/1989. Desse modo, conclui-se que o entendimento adotado pela autoridade policial foi
equivocado.

QUESITOS AVALIADOS

4.1

0 – Não discorre ou discorre equivocadamente sobre a definição de prescrição e sua natureza jurídica.

10
COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

1 – Discorre corretamente sobre apenas um dos aspectos solicitados (conceito ou natureza jurídica da causa extintiva de
punibilidade).

2 – Discorre corretamente sobre ambos os aspectos solicitados (conceito e natureza jurídica da causa extintiva de
punibilidade).

4.2

0 – Não discorre sobre nenhuma das quatro espécies de prescrição (abstrata, intercorrente, retroativa e executória).

1 – Discorre corretamente sobre apenas uma das espécies de prescrição.

2 – Discorre corretamente sobre apenas duas das quatro espécies de prescrição.

3 – Discorre corretamente sobre apenas três das quatro espécies de prescrição.

4 – Discorre corretamente sobre as quatro espécies de prescrição.

4.3

0 – Não discorre ou discorre equivocadamente sobre as hipóteses que modificam os prazos prescricionais (autor menor de
21 anos de idade na data do fato; autor maior de 70 anos de idade na data da condenação; e reincidência).

1 – Discorre sobre apenas uma das hipóteses de redução ou aumento do prazo prescricional.

2 – Discorre sobre apenas duas das hipóteses de redução ou aumento do prazo prescricional.

3 – Menciona as três hipóteses de redução ou aumento do prazo prescricional, mas não explica ou explica equivocadamente
sobre as espécies de prescrição nas quais elas incidem.

4 – Discorre sobre as três hipóteses de redução ou aumento do prazo prescricional, explicando em que espécies de
prescrição elas incidem (as hipóteses relacionadas à idade do autor incidem sobre as prescrições da pretensão punitiva e
executória, enquanto a hipótese da reincidência aplica-se apenas à prescrição da pretensão executória).

4.4

0 – Não se posiciona quanto ao encaminhamento dado pela autoridade policial, ou se posiciona favoravelmente à autoridade
policial.

1 – Aponta erro na decisão da autoridade policial, mas não fundamenta seu posicionamento ou o faz com as razões
erradas.

2 – Responde que o delegado promoveu encaminhamento equivocado e apresenta justificativa com base na
imprescritibilidade do crime previsto no art. 20 da Lei n.º 7.716/1989.

3 – Responde que o delegado promoveu encaminhamento equivocado, apresenta justificativa baseada na imprescritibilidade
do crime previsto no art. 20 da Lei n.º 7.716/1989 e, ainda, acrescenta a outra hipótese de imprescritibilidade (ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático – art. 5.º, XLIV, CF).

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

ROTEIRO DE ARGUIÇÃO

(Somente deverão ser feitos os questionamentos referentes aos aspectos não explorados ou explorados de maneira
equivocada pelo(a) candidato(a) em sua resposta inicial. Caso ele(a) já tenha tratado corretamente de algum aspecto
explorado nas perguntas a seguir, o(a) examinador(a) deverá abster-se de fazê-las e realizar a respectiva avaliação do(a)
candidato(a).)

Quesito 4.1

Se o(a) candidato(a) não conseguir iniciar a resposta a respeito do aspecto, pergunte: — O que é prescrição e qual sua
natureza jurídica?

Quesito 4.2

Se o(a) candidato(a) não conseguir iniciar a resposta a respeito do aspecto, pergunte: — Quais são as espécies de
prescrição penal?

Quesito 4.3

Se o(a) candidato(a) não conseguir iniciar a resposta a respeito do aspecto, pergunte: — Em quais hipóteses legais o prazo
prescricional é modificado?

Se o(a) candidato(a) citar as três hipóteses de alteração do prazo, mas não acrescentar nenhum comentário a esse aspecto,
pergunte: — Essas hipóteses se referem a quais espécies de prescrição?

Quesito 4.4

Se o(a) candidato(a) não conseguir iniciar a resposta acerca do aspecto, pergunte: — No caso apresentado, a posição da
autoridade policial em relação à prescrição da pretensão punitiva está certa?

Se o(a) candidato(a) posicionar-se sobre o equívoco no encaminhamento do delegado e não acrescentar nenhum
comentário à sua resposta, pergunte: — Mais algum crime está sujeito ao regime da imprescritibilidade?

PLANILHA DE CORREÇÃO

QUESITOS AVALIADOS VALOR CONCEITO

1 Articulação do raciocínio 0,00 a 0,40 0 1 2 3

2 Capacidade de argumentação 0,00 a 0,40 0 1 2 3

3 Uso correto do vernáculo 0,00 a 0,40 0 1 2

4 Domínio do conhecimento jurídico

4.1 Definição e natureza jurídica da prescrição 0,00 a 0,40 0 1 2

4.2 Espécies de prescrição 0,00 a 1,20 0 1 2 3 4

4.3 Causas que alteram o prazo prescricional 0,00 a 0,40 0 1 2 3 4

12
COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

4.4 Posicionamento quanto ao encaminhamento dado pelo delegado de Polícia Federal

0,00 a 0,80 0 1 2 3

TOTAL 4,00

4) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2021) Discorra sobre o crime de descaminho, abordando, de forma fundamentada, os
seguintes tópicos:

1 situação jurídica do funcionário público que facilita o descaminho;

2 entendimento sumulado do STJ quanto à aplicabilidade do princípio da insignificância;

3 aplicabilidade do princípio da insignificância na hipótese da reiteração criminosa.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

1.2 Princípios básicos do direito penal. 10.12 Crimes contra a administração pública. 25 Jurisprudência e súmulas dos
tribunais superiores.

PADRÃO DE RESPOSTA

1 O funcionário público que viola dever funcional e facilita o descaminho responde pelo art. 318, e não pelo crime de
descaminho previsto no art. 334 do CP, sendo uma exceção à teoria monista.

Art. 318 – Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena – reclusão,
de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo
de mercadoria: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

2 Em 20/11/2017, o STJ aprovou a Súmula n.º 599: o princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
administração pública.

Assim, para o STJ, não se aplica o princípio da insignificância aos crimes contra a administração pública, ainda que o valor
da lesão possa ser considerado ínfimo, pois os crimes contra a administração pública têm como objetivo resguardar
principalmente a moral administrativa, extrapolando o aspecto patrimonial.

No entanto, a exceção a esse entendimento é o crime de descaminho. Nesse caso, a jurisprudência é pacífica em admitir
a aplicação do princípio da insignificância ao crime de descaminho, mesmo sendo crime contra a administração pública.
De acordo com o STJ, “a insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das disposições trazidas
na Lei n.º 10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o peculato etc. (AgRg no REsp 1.346.879/SC, Rel.
min. Marco Aurélio Bellizze, julgado 26/11/2013).

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

3 A reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a
possibilidade de, no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é socialmente recomendável. Assim,
em regra, não se aplica o princípio da insignificância para o agente que praticou descaminho se ficar demonstrada a sua
reiteração criminosa (criminoso habitual). A exceção ocorre quando o julgador, ao analisar as peculiaridades do caso
concreto, entende que a medida é socialmente recomendável. (STJ. 3.ª Seção. EREsp 1.217.514-RS, Rel. min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado 9/12/2015 (Info 575).)

Em resumo, os requisitos específicos para a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de descaminho são: a) o
valor dos tributos não pagos deve ser inferior a vinte mil reais, seguindo o mesmo critério dos crimes tributários
(entendimento atual tanto do STF como do STJ: conforme as Portarias n.os 75 e 132/2012 do MF); b) o agente não pode
ser criminoso habitual. Assim, a reiterada omissão no pagamento do tributo devido nas importações de mercadorias de
procedência estrangeira impede a incidência do princípio da insignificância em caso de persecução penal por crime de
descaminho (art. 334 do CP), ainda que o valor do tributo suprimido não ultrapasse o limite previsto para o não ajuizamento
de execuções fiscais pela fazenda nacional. (STJ. 6.ª Turma. RHC 31.612-PB, Rel. min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
20/5/2014 (Info 541).

5) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2019) Em relação ao crime de lavagem de dinheiro praticado na modalidade de ocultação,
discorra, fundamentadamente, sobre:

1 o conceito e a classificação desse crime na referida modalidade, bem como sobre o início do seu prazo prescricional, de
acordo com o entendimento do STF;

2 a infração penal antecedente a esse crime, no que diz respeito à tipicidade, à necessidade de condenação prévia e a
eventual extinção da punibilidade.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

9.2 Prescrição: conceito, teorias, prazos para o cálculo da prescrição, termos iniciais, causas suspensivas ou impeditivas,
causas interruptivas. 10.18 Lei n.º 9.613/1998 e suas alterações (lavagem de dinheiro).

25 Jurisprudência e súmulas dos tribunais superiores.

PADRÃO DE RESPOSTA

1 Lavagem de dinheiro é a conduta em que a pessoa oculta ou dissimula a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal com o
intuito de parecer que se trata de dinheiro de origem lícita.

A lavagem de dinheiro é classificada como um crime derivado, acessório ou parasitário, considerando-se que se trata de
delito que pressupõe a ocorrência de uma infração penal antecedente, que pode ser crime ou contravenção penal.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Lavagem de dinheiro, na modalidade “ocultar”, é crime permanente. Nesse caso, a execução do crime não se dá em um
momento definido e específico, mas se protrai ou alonga no tempo. Quem oculta e mantém oculto algo prolonga a ação
até que o fato se torne conhecido. Assim, o prazo prescricional somente se inicia quando as autoridades tomam
conhecimento da conduta do agente.

Nesse sentido:

(...) O crime de lavagem de bens, direitos ou valores, quando praticado na modalidade típica de “ocultar”, é permanente,
protraindo-se sua execução até que os objetos materiais do branqueamento se tornem conhecidos, razão pela qual o início
da contagem do prazo prescricional tem por termo inicial o dia da cessação da permanência, nos termos do art. 111, III,
do Código Penal. 4. No caso concreto, quanto ao quarto fato descrito na denúncia, a despeito da natureza permanente do
crime, foram detectadas movimentações financeiras relativas aos valores ocultados até 3 de maio de 2006, o que afasta a
alegação de prescrição ainda que a natureza do crime fosse instantânea de efeitos permanentes. 5. Embora não estivesse
em vigor a Lei n.º 9.613/1998 quando o crime antecedente (corrupção passiva) foi praticado, os atos de lavagem ocorreram
durante sua vigência, razão pela qual não há que falar em retroatividade da lei penal em desfavor do réu. A Lei n.º
9.613/1998 aplica-se aos atos de lavagem praticados durante sua vigência, ainda que o crime antecedente tenha ocorrido
antes de sua entrada em vigor. STF. 1.ª Turma. AP 863/SP, Rel. Ministro Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866).

Art. 1. Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos
ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.

2 A infração penal antecedente pode ser crime ou contravenção penal e não há rol taxativo. Para que seja recebida a
denúncia pelo crime de lavagem, deve haver, no mínimo, indícios da prática da infração penal antecedente. Não se exige
condenação prévia pela infração penal antecedente para que seja iniciada a ação penal pelo delito de lavagem de dinheiro.
Por isso, o julgamento da infração penal antecedente e do crime de lavagem não necessariamente deve ser feito pelo
mesmo juízo.

O § 1.º do art. 2.º da Lei de Lavagem estabelece que poderá haver o crime de lavagem ainda que esteja extinta a
punibilidade da infração penal antecedente. Apesar de não haver previsão expressa na redação original da Lei, o STJ já
tinha decidido que a extinção da punibilidade pela prescrição quanto aos crimes antecedentes não obstaculizava o
reconhecimento da tipicidade do delito de lavagem de dinheiro (Quinta Turma. HC 207.936-MG, Rel. Ministro Jorge Mussi,
julgado em 27/3/2012).

Ementa: Penal. Habeas corpus originário. Lavagem de Dinheiro proveniente de crime contra a administração pública.
Ausência de ilegalidade ou abuso de poder. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica, no sentido de que
o “processo e julgamento do crime de lavagem de dinheiro é regido pelo princípio da autonomia, não se exigindo, para que
a denúncia que imputa ao réu o delito de lavagem de dinheiro seja considerada apta, prova concreta da ocorrência de uma
das infrações penais exaustivamente previstas nos incisos I a VIII do art. 1.º do referido diploma legal, bastando a existência
de elementos indiciários de que o capital lavado tenha origem em algumas das condutas ali previstas” (HC 93.368, Rel.
Ministro Luiz Fux, Primeira Turma). 2. Situação concreta em que o paciente — envolvido no escândalo que ficou conhecido
como “Propinoduto” — foi condenado pelo crime de lavagem de dinheiro tendo por delitos antecedentes a prática de crime
contra a administração pública e a prática de crime de organização criminosa. Circunstância que não autoriza o
reconhecimento da atipicidade da conduta. 3. Ausência de ilegalidade flagrante ou abuso de poder que autorize o
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva ou que impossibilite a execução provisória da pena. Precedentes. 4.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Ordem denegada, revogada a liminar. (HC 138092, Relator min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão: Ministro Roberto
Barroso, Primeira Turma, julgado em 6/2/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-083 DIVULG 27/4/2018 PUBLIC
30/4/2018.)

Art. 2.º § 1.o

A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos
previstos nesta lei, ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal
antecedente.

6) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2019) Considere a seguinte situação hipotética:

Em uma investigação policial para a apuração de crime de associação criminosa voltada para a prática de crimes
indeterminados, a autoridade policial demonstrou, cabalmente, a efetiva existência de três membros distintos na formação
da estrutura delituosa. Ao final das investigações, entretanto, a autoridade policial não conseguiu determinar materialmente
as infrações penais já praticadas pelo grupo e teve êxito somente na identificação de dois dos integrantes do grupo
criminoso.

Tendo como referência o caso apresentado, faça o que se pede a seguir, considerando o posicionamento doutrinário e
jurisprudencial dominantes.

1 Discorra a respeito dos elementos necessários para a configuração típica do crime de associação criminosa.

2 Esclareça se a autoridade policial poderá proceder ao indiciamento dos dois cidadãos identificados no tipo penal do art.
288 do Código Penal (associação criminosa), ainda que não tenha sido possível a identificação do terceiro integrante do
grupo. Fundamente sua resposta.

3 Esclareça se a indiciação no tipo penal do art. 288 do Código Penal depende, necessariamente, de prova cabal da efetiva
prática de delitos pelo grupo. Fundamente a sua resposta.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

10.10 Crimes contra a paz pública.

PADRÃO DE RESPOSTA

1 Elementos necessários para a configuração típica do crime de associação criminosa

A configuração típica do crime de associação criminosa compõe-se dos seguintes elementos:

a) concurso necessário de, pelo menos, três pessoas; b) finalidade específica dos agentes de cometer crimes
indeterminados; c) estabilidade e permanência da associação criminosa.

2 Possibilidade de a autoridade policial proceder ao indiciamento dos dois cidadãos identificados

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

É possível, sim, a autoridade policial proceder ao indiciamento dos dois cidadãos identificados no tipo penal do art. 288 do
Código Penal, ainda que não tenha sido possível a identificação do terceiro integrante da associação criminosa. Isso porque
“o fundamental nessa hipótese, é a convicção, a certeza cabal de que outras pessoas faziam parte do grupo criminoso,
perfazendo o total mínimo exigido pelo tipo penal em estudo, vale dizer, 3 (três) pessoas. Isso será suficiente para a
incriminação dos agentes que foram descobertos e denunciados” (Rogério Grego. Código Penal comentado.10.ª ed.
Impetus, 2016, p. 955).

3 A (in)dependência de prova cabal na indiciação no tipo penal

A associação criminosa é crime autônomo e, em razão justamente dessa autonomia, a punição dos integrantes do grupo
criminoso independe de condenação pela prática dos crimes pretendidos pelo bando.

Ademais, tratando-se de crime de perigo abstrato, o tipo penal não faz referência ao resultado naturalístico, oriundo da
prática do delito. Trata-se de presunção legal de perigo e, para a sua caracterização, é dispensável o cometimento de
quaisquer das infrações penais pretendidas. Essa é a posição pacífica dos tribunais superiores, a exemplo do STF e STJ

7) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2019) Considere a seguinte situação hipotética:

Mauro foi preso ao tentar efetuar pagamento em comércio com uma cédula de R$ 100,00 (cem reais) falsificada.

Com referência a essa situação hipotética, responda, de modo fundamentado, aos seguintes questionamentos.

1 Caso a falsificação do papel moeda tenha sido evidente, haverá tipicidade do crime de moeda falsa?

2 O princípio da insignificância é aplicável ao caso, considerando-se que Mauro tentou utilizar apenas uma cédula falsa?

3 Caso Mauro tenha suprimido o sinal indicativo de inutilização da cédula no momento de efetuar o pagamento, sua conduta
terá sido típica? Qual tipo penal deverá ser aplicado nessa hipótese?

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

1.2 Princípios básicos do direito penal. 10.11 Crimes contra a fé pública. 25 Jurisprudência e súmulas dos tribunais
superiores.

PADRÃO DE RESPOSTA

1 A princípio, Mauro não responderá pelo crime de moeda falsa (art. 289 do CP). O Estado tem interesse em preservar o
objeto jurídico “fé pública”, que é a confiança que os cidadãos depositam na legitimidade dos sinais, documentos e moeda
em circulação. A potencialidade de dano, embora não esteja expressamente prevista no tipo penal, é implícita e faz parte
da essência do delito de falso. Assim, é necessário que a falsificação tenha idoneidade para enganar, que as pessoas em
geral a tomem por verdadeira. Não precisa ser perfeita, mas que induza a erro um número indeterminado de pessoas. Por
essa razão, caso se trate de uma falsidade grosseira, haverá crime impossível ou, dependendo do caso concreto, deverá

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

ser aplicada a Súmula n.º 73 do STJ: a utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime
de estelionato.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE AS JUSTIÇAS ESTADUAL E FEDERAL. MOEDA FALSA. LAUDO
PERICIAL. FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 73/STJ. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
ESTADUAL.

1. Hipótese na qual o laudo pericial aponta a má qualidade da moeda falsificada e as circunstâncias dos autos indicam que
ela não possui a capacidade de ludibriar terceiros.

2. “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, de competência da
Justiça Estadual” (Súmula n.º 73/STJ). 3. Competência da Justiça Estadual, o suscitado. (CC 135.301/PA, Rel. Ministro
Ericson Maranho (desembargador convocado), Terceira Seção, julgado em 8/4/2015, DJe 15/4/2015.)

Art. 289 – Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:

Pena – reclusão, de três a doze anos, e multa.

§ 1.º – Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou exporta, adquire, vende, troca, cede,
empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.

2 Ainda que seja apenas uma nota, não se aplica o princípio da insignificância, por se tratar de delito contra a fé pública,
havendo interesse estatal na sua repressão. O bem violado é a fé pública, a qual é um bem intangível e que corresponde
à confiança que a população deposita em sua moeda, não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela
representado. STJ. 6.ª Turma. AgRg no AREsp 558.790/SP, Rel. min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/10/2015.

HABEAS CORPUS. CRIME DE MOEDA FALSA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. DESCARACTERIZADA A MÍNIMA


OFENSIVIDADE DA CONDUTA. HABEAS CORPUS DENEGADO; 1. Ainda que as cédulas falsificadas sejam de pequeno
valor, não é possível aplicar o princípio da insignificância ao crime de moeda falsa, pois se trata de delito contra a fé
pública, que envolve a credibilidade do Sistema Financeiro Nacional, o que descaracteriza a mínima ofensividade da
conduta do agente de modo a excluir a tipicidade do fato. Precedentes do STF e do STJ. 2. Habeas corpus denegado.
(STJ. HC 187.077/GO, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 7/2/2013, DJe 18/2/2013.)

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. PACIENTES DENUNCIADOS E CONDENADOS PELA


INFRAÇÃO DO ART. 289, § 1.º, DO CÓDIGO PENAL. DECISÃO QUE ACOLHE O RELATÓRIO E OS ARGUMENTOS
LANÇADOS NO PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO: IDONEIDADE. ALEGAÇÃO DE INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. PRECEDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL: NÃO APLICAÇÃO À ESPÉCIE VERTENTE.
PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. Fundamentada a decisão que adota o parecer do Ministério Público
Estadual como razão de decidir: o que se exige é que o arrazoado acolhido contenha argumentação pertinente e suficiente
ao quanto posto em exame, o que, no caso, foi plenamente atendido. Precedentes. 2. A existência de decisão neste
Supremo Tribunal no sentido pretendido pela impetrante, inclusive admitindo a incidência do princípio da insignificância ao
crime de moeda falsa, não é bastante a demonstrar como legítima sua pretensão. 3. Nas circunstâncias do caso, o fato é
penalmente relevante, pois a moeda falsa apreendida, além de representar um valor cinquenta vezes superior ao do
precedente mencionado, seria suficiente para induzir a engano, o que configura a expressividade da lesão jurídica da ação
do paciente. 4. A jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal é no sentido de reverenciar — em crimes de
moeda falsa — a fé pública, que é um bem intangível, que corresponde, exatamente, à confiança que a população deposita

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

em sua moeda. Precedentes. 5. Habeas corpus denegado. (STF. HC 96080, Relator(a): min. Cármen Lúcia, Primeira
Turma, julgado em 9/6/2009, DJe-157 DIVULG 20/8/2009 PUBLIC 21/8/2009 EMENT VOL-02370-04 PP-00731.)

3 Sim, Mauro responderá pelo art. 290 do CP (crimes assimilados ao de moeda falsa).

Art. 290 – Formar cédula, nota ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou bilhetes
verdadeiros; suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-los à circulação, sinal indicativo de sua
inutilização; restituir à circulação cédula, nota ou bilhete em tais condições, ou já recolhidos para o fim de inutilização:

Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa.

8) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2019) No que se refere ao denominado crime de sequestro-relâmpago, atenda ao que
se pede no item 1 e responda aos questionamentos dos itens 2 e 3.

1 Conceitue o referido crime, tipificado no art. 158, § 3.º, do Código Penal.

2 Crime de sequestro-relâmpago que resulte em lesão corporal grave é considerado crime hediondo?

Justifique a sua resposta.

3 Crime de sequestro-relâmpago que resulte em morte é considerado crime hediondo? Justifique a sua resposta,
discorrendo sobre as duas correntes doutrinárias que versam sobre a matéria.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

10.2 Crimes contra o patrimônio. 10.20 Lei n.º 8.072/1990 e suas alterações (crimes hediondos).

PADRÃO DE RESPOSTA

1 O sequestro-relâmpago, como é chamado pela doutrina, é uma modalidade de extorsão qualificada pelo fato de ser o
crime cometido mediante a restrição de liberdade da vítima, sendo essa condição necessária para a obtenção da vantagem
econômica. Assim, o agente se vale da restrição da liberdade da vítima, para constrangê-la a realizar algo que somente
ela pode fazer. Diferentemente da figura delituosa do roubo, na extorsão a participação da vítima é condição imprescindível
para que ocorra o delito.

O sequestro-relâmpago, denominação dada pela doutrina à figura delituosa da extorsão com restrição de liberdade da
vítima, vem previsto no art. 158, § 3.º, do Código Penal, acrescido pela Lei n.º 11.923/2009, nos seguintes termos:

Art. 158. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida
vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa:

Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

§ 1.º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até
metade.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

§ 2.º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3.º do artigo anterior. (extorsão qualificada pelo
resultado morte — Vide Lei n.º 8.072/1990)

§ 3.º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção
da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal
grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2.º e 3.º, respectivamente. (Incluído pela Lei n.º 11.923, de
2009)

2 A respeito da possibilidade de o crime de sequestro-relâmpago (extorsão) que resulte em lesão corporal grave ser tratado
como crime hediondo, é pacífico o entendimento de que o delito dessa natureza que resulte em lesão corporal grave não
tem o caráter legal de hediondo, porquanto a extorsão referida no § 3.º do art. 158 (sequestro-relâmpago) não está inserida
no rol da Lei n.º 8.072/1990. Se do fato resulta na vítima lesão corporal grave, o crime não se converte em hediondo,
porquanto não há previsão legal nesse sentido. Na extorsão, art. 158, § 3.º, do Código Penal, em nenhuma hipótese de
lesão corporal o crime é hediondo.

3 No que diz respeito ao sequestro-relâmpago que eventualmente resulte em morte, há duas correntes argumentativas. A
primeira delas, baseada na observância da legalidade estrita no que concerne às normas penais restritivas, defende que a
figura legal do art. 158, § 3.º, não pode ser considerada hedionda, porquanto não encontra previsão no rol taxativo dos
crimes hediondos discriminados no art. 1.º da Lei n.º 8.072/1990, in verbis:

Art. 1.º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei n.o 2.848, de 7 de dezembro de
1940 – Código Penal, consumados ou tentados: I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2.º, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII);
(Redação dada pela Lei n.º 13.142/2015)

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2.º) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3.º),
quando praticadas contra autoridade ou agente descritos nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei n.º
13.142/2015)

II – latrocínio (art. 157, § 3.º, in fine);

III – extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2.º);

IV – extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ l.º, 2.º e 3.º);

V – estupro (art. 213, caput e §§ 1.º e 2.º);

VI – estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§. 1.º, 2.º, 3.º e 4.º);

VII – epidemia com resultado morte (art. 267, § 1.º).

VII-A – (VETADO)

VII-B – falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273,
caput e § 1.º, § 1.º-A e § 1.º-B, com a redação dada pela Lei n.º 9.677/1998).

20
COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

VIII – favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável
(art. 218-B, caput, e §§ 1.º e 2.º). (Incluído pela Lei n.º 12.978/2014)

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos o crime de genocídio previsto nos arts. 1.º, 2.º e 3.º da Lei n.º
2.889/1956, e o de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, previsto no art. 16 da Lei n.º 10.826/2003, todos
tentados ou consumados. (Redação dada pela Lei n.º 13.497/2017)

Pela leitura do art. 1.º da Lei dos Crimes Hediondos, constata-se que a figura da extorsão do § 3.º do art. 158 do Código
Penal não figura no rol taxativo como delito hediondo, o que equivale a dizer que apenas são crimes considerados
hediondos aqueles exaustivamente enumerados no art. 1.º da mencionada lei. Nesse contexto, afirmar que o crime
denominado como sequestro-relâmpago, na sua forma qualificada pelo resultado morte, é delito hediondo representa
violação ao princípio da legalidade, porquanto o crime seria considerado um delito hediondo sem a devida previsão legal,
em verdadeira analogia in malam partem, o que é vedado no ordenamento jurídico brasileiro.

(...) por expressa falta de fundamentação legal, o delito previsto no art. 158, § 3.º do Código Penal, em qualquer de suas
formas (simples, ou qualificada pela lesão grave ou morte) não poderia ser enquadrado como hediondo, vez que o rol
previsto no art. 1.º da Lei n.º 8.072/1990 é taxativo, não sendo admitida no ordenamento penal brasileiro a analogia in
malam partem. A exclusão da forma qualificada pelo resultado morte tem o mesmo fundamento descrito acima, não
ingressando no rol exaustivo de crimes hediondos. Não se menciona a extorsão com restrição à liberdade mesmo que com
resultado lesão grave ou morte (art. 158, § 3.º, CP). O novo delito do sequestro-relâmpago, com resultado lesão grave ou
morte da vítima, tem penas compatíveis com a gravidade do fato, mas não ingressa no contexto da Lei 8.072/1990.
Pensamos devesse haver uniformidade, justamente em nome do princípio da proporcionalidade. Aliás, todos os crimes
violentos, no cenário patrimonial, resultando lesão grave ou morte deveriam ser considerados hediondos. Enquanto tal não
se dá, a nova figura do art. 158, § 3.º, do CP, está fora do contexto dos delitos hediondos. Guilherme de Souza Nucci.
Manual de Direito Penal. 5.ª ed. São Paulo: Editora RT, 2009.

De acordo com a segunda linha doutrinária, a lacuna legal da Lei n.º 8.072/1990 deve ser preenchida por uma interpretação
extensiva que possibilitaria entender também o § 3.º do art. 158 do Código Penal como abrangido pela lei dos crimes
hediondos.

É que, apesar de a extorsão, § 3.º do art. 158 do Código Penal, não estar catalogada no rol exaustivo do art. 1.º da Lei
dos Crimes Hediondos, o tipo penal denominado sequestro-relâmpago não é autônomo, ou seja, é meramente explicativo
de uma forma de extorsão, qualificada pela restrição da liberdade da vítima. O art. 1.º, inciso III, da Lei n.º 8.072/1990
prevê literalmente como crime hediondo a extorsão qualificada pelo resultado morte, contida no § 2.º do art. 158 do Código
Penal. A nova qualificadora (com resultado morte) já estava, portanto, contida no parágrafo anterior, especificando-se, no
derradeiro parágrafo (§ 3.º), um meio de execução próprio (restrição da liberdade de locomoção da vítima).

A interpretação literal deve ser acompanhada da interpretação racional possível (teleológica), até o limite permitido pelo
Estado humanista-legal, constitucional e internacional de Direito. As regras aplicadas ao delito geral (art. 158, § 2.º) devem
ser mantidas ao crime específico (art. 158, § 3.º), permanecendo hediondo quando ocorre o resultado morte. Porque o §
3.º não criou crime novo, não disciplinou outro injusto distinto da extorsão (apenas explicitou a forma de execução). Se a
extorsão (simples, genérica) com resultado morte constitui crime hediondo, que sentido teria afirmar que a extorsão
qualificada, específica não o seria? Não se trata de violar o princípio da legalidade: essa garantia formal não pode nunca
ser esquecida ou aniquilada dentro do Estado humanista de Direito. Mas se o legislador, na lei, já escreveu que a extorsão

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

com morte é crime hediondo, claro que a nova forma delitiva explicitada no § 3.º do art. 158 constitui crime hediondo
(quando ocorre morte). Rogério Sanches Cunha. Manual de Direito Penal – Parte Especial. Editora Juspodium, 2019

9) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2020) Considere a seguinte situação hipotética:

Determinado cidadão foi flagrado portando uma arma de fogo do tipo revólver, calibre .38, com a numeração de série
suprimida, além de quatro munições do mesmo calibre.

Tendo sido possível a recuperação do número de série da arma mediante perícia técnica, a autoridade policial enquadrou
a conduta como porte ilegal de arma de fogo de uso permitido.

Nessa situação hipotética, uma vez que o número de série da arma foi recuperado mediante posterior exame pericial, a
autoridade policial acertou quanto ao enquadramento da conduta do agente? Justifique sua resposta com base no Estatuto
do Desarmamento.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

12. Lei n.º 10.826/2003 e suas alterações (Estatuto do desarmamento).

PADRÃO DE RESPOSTA

Os tipos penais previstos nos arts. 12 a 18 do Estatuto do Desarmamento (Lei n.º 10.826/2003) trazem, basicamente, os
seguintes objetos materiais: a) arma; b) munição; e c) acessórios.

O tipo penal descrito no art. 12 da referida legislação penaliza a conduta de ter a posse irregular de arma de fogo, munição
e acessório de uso permitido, enquanto o art. 14 tipifica o porte ilegal de arma de fogo, munição e acessório de uso
permitido.

O caput do art. 16 da mesma legislação pune as condutas de possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar
arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.

Entretanto, em seu § 1.º, inc. IV, o mesmo art. 16, que tipifica a conduta de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito,
equipara a conduta do agente que portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca
ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado, mesmo que de uso permitido, como é o caso do
calibre .38.

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito Art. 16. [...]

Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 1.º Nas mesmas penas incorre quem:

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

[...]

IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado;

Assim, nos termos da legislação de regência, recaiu em erro a autoridade policial, porquanto a conduta do agente equipara-
se ao crime de porte de arma de uso restrito, e assim deve responder o agente, mesmo se tratando de um revólver calibre
.38.

Nas situações em que o número de série da arma de fogo está raspado ou suprimido, a conduta do agente é equiparada
à posse ou ao porte de armamento de uso restrito, mesmo que haja a identificação posterior da numeração pela perícia
técnica. A equiparação prevista pelo art. 16 da Lei n.º 10.826/2003 tem a intenção de punir aquele que anula marca ou
sinal distintivo da arma, permitindo sua transmissão ilegal para terceiros sem que seja possível identificar o verdadeiro
proprietário.

10) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2018) Considere a seguinte situação hipotética:

Geraldo, funcionário público, aproveitando-se de seu acesso ao banco de dados do serviço público, inseriu dados falsos
no sistema da Previdência Social, com o intuito de que fossem concedidos benefícios previdenciários indevidamente.

Com referência a essa situação hipotética, responda aos seguintes questionamentos.

1 Qual tipo penal foi praticado por Geraldo? Justifique sua resposta, informando a classificação e o momento consumativo
desse tipo penal.

2 Caso Geraldo estivesse associado a outras pessoas, seria possível a configuração de organização criminosa nessa
prática delituosa? Fundamente sua resposta.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

4.9 Consumação e tentativa. 10.12 Crimes contra a administração pública. 10.15 Lei n.º 12.850/2013 e suas alterações
(crime organizado).

PADRÃO DE RESPOSTA

1 De acordo como as disposições do Código Penal, Geraldo praticou o crime de inserção de dados falsos em sistema de
informações, também chamado por alguns autores de peculato eletrônico (art. 313-A). Pelo princípio da especificidade, sua
conduta não caracteriza o crime de peculato (art. 312), falsidade ideológica (art. 299) nem o de modificação ou alteração
não autorizada de sistema de informações (art. 313-B CP).

É crime próprio: praticado por funcionário contra a administração pública.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Consuma-se com a inserção dos dados (crime formal), não sendo imprescindível que o agente obtenha a vantagem indevida
ou cause dano à administração pública; se ocorrer, é mero exaurimento do crime. Em tese, admite tentativa quando for
necessário mais de um comando ao banco de dados para atingir seu objetivo (delito plurissubsistente).

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados
corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da administração pública com o fim de obter vantagem indevida
para si ou para outrem ou para causar dano:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

2 A Lei n.º 12.850/2013 define o crime de organização criminosa e exige:

a) o número mínimo de quatro agentes;

b) estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente,
vantagem de qualquer natureza;

c) prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.

O crime previsto no art. 313-A, CP, preenche o requisito objetivo relativo à pena.

Lei n.º 12.850/2013

Art. 1. Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova,
infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.

§ 1.º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem
de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou
que sejam de caráter transnacional.

O candidato deve afirmar que é possível a configuração de organização criminosa desde que o crime seja cometido por
um grupo mínimo de quatro agentes, atuando em estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com o objetivo
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza. No caso, ainda está preenchido o requisito objetivo
relativo à pena (pena máxima superior a quatro anos). Caso algum dos requisitos não seja cumprido, a organização
criminosa não restará configurada.

11) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2021) A respeito dos crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de
contribuição previdenciária, discorra, fundamentadamente, sobre os seguintes aspectos:

1 semelhanças e diferenças entre esses dois tipos penais;

2 possibilidade de aplicação da Súmula Vinculante n.º 24 do STF, que se refere ao lançamento definitivo do tributo.

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

10.2 Crimes contra o patrimônio. 10.12 Crimes contra a administração pública. 25 Jurisprudência e Súmulas dos Tribunais
Superiores.

PADRÃO DE RESPOSTA

1 Apropriação indébita previdenciária é crime contra o patrimônio, e a sonegação de contribuição previdenciária é crime
contra a administração pública. Ambos são crimes tributários materiais e omissivos, bastando o dolo genérico (intenção de
concretizar a evasão tributária).

Na apropriação: deixa de repassar à previdência social os valores descontados dos empregados. Na sonegação: suprime
ou reduz as contribuições previdenciárias omitindo informações.

STF:

O crime de apropriação indébita previdenciária exige apenas a demonstração do dolo genérico, sendo dispensável um
especial fim de agir, conhecido como animus rem sibi habendi (a intenção de ter a coisa para si). Assim como ocorre
quanto ao delito de apropriação indébita previdenciária, o elemento subjetivo animador da conduta típica do crime de
sonegação de contribuição previdenciária é o dolo genérico, consistente na intenção de concretizar a evasão tributária (AP
516, Plenário, Relator o Ministro Ayres Britto, DJe de 20/9/2011). HC 113.418/PB, DJe 17/10/2013)

STJ: Em crimes de sonegação fiscal e de apropriação indébita de contribuição previdenciária, este Superior Tribunal de
Justiça pacificou a orientação no sentido de que sua comprovação prescinde de dolo específico, sendo suficiente, para a
sua caracterização, a presença do dolo genérico consistente na omissão voluntária do recolhimento, no prazo legal, dos
valores devidos. (AgRg no REsp 1.477.691/DF, DJe 28/10/2016)

Apropriação indébita previdenciária

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal
ou convencional: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

§ 1.º Nas mesmas penas incorre quem deixar de:

I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de
pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do público;

II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à
venda de produtos ou à prestação de serviços;

III – pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa
pela previdência social.

Sonegação de contribuição previdenciária (Incluído pela Lei n.º 9.983/2000)

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
(Incluído pela Lei n.º 9.983/2000)

I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária
segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem
serviços; (Incluído pela Lei n.º 9.983/2000)

II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados
ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços;

III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores
de contribuições sociais previdenciárias:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei n.º 9.983/2000)

2 Para a caracterização de crime tributário, é indispensável que tenha havido a constituição definitiva do crédito tributário.

Nesse sentido: Súmula Vinculante nº. 24 do STF: “Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no
art.1.º, incisos I a IV, da Lei n.º 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.”

Assim, no caso de crimes tributários, enquanto a dívida estiver sendo impugnada administrativamente, não terá havido
constituição definitiva do crédito tributário, não sendo permitido o ajuizamento de ação penal, até mesmo porque não se
sabe se esse crédito vai ser mantido pelo fisco, sendo temerário ajuizar ação penal por conta de um crédito que ainda não
está definitivamente constituído na esfera administrativa.

Nesse sentido:

(...) Enquanto houver processo administrativo questionando a existência, o valor ou a exigibilidade de tributos e contribuição
previdenciária, atípicas são as condutas previstas no artigo 2.º, inciso I, da Lei n.º 8.137/1990 e no artigo 168-A do Código
Penal, que têm, como elemento normativo do tipo, a existência do crédito tributário e da contribuição devida a ser repassada.
3. Não importa violação à independência das esferas administrativa e judiciária o aguardo de decisum administrativo, no
qual se constitui o lançamento definitivo dos créditos. (...) (STJ. HC 163.603/SC, julgado em 20/08/2013)

Nos termos dos precedentes da Corte, os crimes de apropriação indébita previdenciária e de sonegação de contribuição
previdenciária são delitos materiais, exigindo, portanto, a constituição definitiva do débito tributário perante o âmbito
administrativo para configurar conduta típica. (STJ. RHC 44.669/RS, DJe 18/04/2016).

Apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária.

Condenação. 3. Reconhecimento da prescrição. Impossibilidade. Necessidade de esgotamento da via administrativa para


deflagração da ação penal e início da contagem do prazo prescricional. Não ocorrência da alegada prescrição. 4. Aplicação
do princípio da insignificância. Impossibilidade. Elevado grau de reprovabilidade da conduta. Precedentes. 5. Dosimetria da
pena. Reprimenda aplicada de forma proporcional e suficientemente fundamentada. 6. Agravo regimental a que se nega
provimento. (STF. RHC 132706 AgR/SP, DJe 01/08/2016)

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

12) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2021) Considerando as disposições da Lei n.º 11.343/2006, que trata do tráfico ilícito e
do uso indevido de substâncias entorpecentes, discorra, fundamentadamente, sobre os seguintes aspectos, relativos às
causas de aumento de pena previstas no art. 40 da referida lei:

1 diferença entre transnacionalidade e interestadualidade;

2 admissibilidade da aplicação simultânea das causas de aumento de pena pela transnacionalidade e pela
interestadualidade;

3 necessidade de transposição de fronteiras, à luz do entendimento sumulado do STJ.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

10.14 Lei n.º 11.343/2006 e suas alterações (Tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes); Jurisprudência e
Súmulas dos Tribunais Superiores.

PADRÃO DE RESPOSTA

1 Interestadualidade: a intenção do agente é comercializar a droga em mais de um estado-membro da Federação (art. 40,
inciso V, da Lei n.º 11.343/2006).

Transnacionalidade: o agente importa a droga com objetivo de vendê-la em determinado estado da Federação, mas, para
chegar até o seu destino, ele tem que passar por outros Estados. (art. 40, inciso I da Lei n.º 11.343/2006).

Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

I – a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a


transnacionalidade do delito;

V – caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;

2 Só poderá incidir a interestadualidade se ficar demonstrado que a intenção do agente era pulverizar a droga em mais de
um estado-membro. Se o agente importa a droga com objetivo de vendê-la em determinado estado da Federação, mas,
para chegar até o seu destino, ele tiver que passar por outros estados, incidirá, neste caso, apenas a causa de aumento
da transnacionalidade (art. 40, I), não devendo ser aplicada a majorante da interestadualidade (art. 40, V) se a intenção do
agente não era a comercializar o entorpecente em mais de um estado da Federação.

As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito, previstas,


respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas simultaneamente, desde que
demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era pulverizar a droga em mais de um estado do
território nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a transnacionalidade. Assim, é inadmissível a aplicação
simultânea das causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

comprovada a intenção do importador da droga de difundi-la em mais de um estado-membro. O fato de o agente, por
motivos de ordem geográfica, ter que passar por mais de um estado para chegar ao seu destino final não é suficiente para
caracterizar a interestadualidade. STJ. 6.ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016
(Info 586).

3 Súmula n.º 587 STJ: Para a incidência da majorante prevista no art. 40, V, da Lei n.º 11.343/2006, é desnecessária a
efetiva transposição de fronteiras entre estados da Federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca da intenção de
realizar o tráfico interestadual.

13) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2021) Considere a seguinte situação hipotética:

A sociedade anônima América S.A. procedeu à exportação de grande quantidade de peles e couros de répteis em estado
bruto, sem a autorização da autoridade ambiental competente. Por essa razão, foi instaurado inquérito para apurar a
responsabilidade penal da sociedade, assim como a de seus gestores.

Ao final da investigação, a autoridade policial concluiu ter ocorrido a prática do crime previsto no art. 30 da Lei n.º 9.605/1998
("Exportar para o exterior peles e couros de anfíbios e répteis em bruto, sem a autorização da autoridade ambiental
competente: Pena — reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.") e ter o lucro obtido com essa operação alcançado
centenas de milhões de reais.

Em face dessa situação hipotética, discorra sobre a responsabilidade das pessoas jurídicas nos delitos ambientais,
mencionando os benefícios penais previstos na Lei n.º 9.099/1995 e as espécies de pena aplicáveis ao caso, com
fundamento nas disposições da Constituição Federal de 1988 e da Lei n.º 9.099/1995, e na jurisprudência dos tribunais
superiores.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

10.23 Lei n.º 9.605/1998 e suas alterações (Crimes contra o meio ambiente). 22. Lei n.º 9.099/1995 e suas alterações
(Juizados especiais criminais)

PADRÃO DE RESPOSTA

A Constituição Federal admite a responsabilização das pessoas jurídicas em casos específicos, como os de crimes
ambientais, conforme previsto no seu art. 225, § 3.º. A Lei n.º 9.605/1995 também trata do tema e estabelece que: “As
pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em
que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse
ou benefício de sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas,
autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.”

Havia divergência na doutrina e na jurisprudência acerca da necessidade de responsabilização simultânea da pessoa


jurídica e das pessoas físicas gestoras em razão de uma conduta eventualmente criminosa. Porém, atualmente, STJ e STF
firmaram a posição de que a responsabilização da pessoa jurídica não se subordina à identificação e imputação de tais

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COLETÂNEA – PROVA ORAL - CEBRASPE

fatos às pessoas físicas envolvidas. Segundo o STF: “3. Condicionar a aplicação do art. 225, § 3.º, da Carta Política a uma
concreta imputação também a pessoa física implica indevida restrição da norma constitucional, expressa a intenção do
constituinte originário não apenas de ampliar o alcance das sanções penais, mas também de evitar a impunidade pelos
crimes ambientais frente às imensas dificuldades de individualização dos responsáveis internamente às corporações, além
de reforçar a tutela do bem jurídico ambiental.” (RE 548181, Relator(a): ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em
06/08/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-2014 RTJ VOL-00230-01 PP-00464)

No mesmo sentido é a jurisprudência do STJ: “nos crimes societários, não é indispensável a aplicação da teoria da dupla
imputação ou imputação simultânea, podendo subsistir a ação penal proposta contra a pessoa jurídica, mesmo se afastando
a pessoa física do polo passivo da ação” (AgRg no RMS n. 48.851/PA, relator Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, julgado
em 20/2/2018, DJe de 26/2/2018).

QUESITOS / CONCEITOS

QUESITO 4.1

O candidato deverá abordar os seguintes aspectos: i) a responsabilidade penal da pessoa jurídica é prevista na própria
Constituição Federal; ii) a Lei n.º 9.605/1998 estabelece que as pessoas jurídicas serão responsabilizadas penalmente
quando a infração for praticada por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no
interesse ou benefício de sua entidade; iii) não há necessidade de imputação simultânea da conduta à pessoa jurídica e
aos seus gestores, estando superada a exigência de dupla imputação.

Conceito 0 - Não aborda nenhum dos aspectos elencados e/ou o fez de forma totalmente incorreta.

Conceito 1 - Aborda corretamente apenas um dos elencados.

Conceito 2 - Aborda corretamente dois dos elencados.

Conceito 3 - Aborda corretamente os três elencados.

Em relação aos benefícios penais, destaque-se que eles se aplicam normalmente às pessoas jurídicas. No caso concreto,
não é cabível a transação, uma vez que a pena máxima prevista para o crime ultrapassa os 2 anos, conforme exigido pelo
art. 61 da Lei n.º 9.099/1995. Já a suspensão condicional do processo é cabível, pois a pena mínima não ultrapassa 1 ano
e, por isso, está dentro do limite estabelecido no art. 89 da Lei n.º 9.099/1995.

QUESITO 4.2

O candidato deverá abordar os seguintes aspectos: i) é possível a concessão dos benefícios penais previstos na Lei n.º
9.099/1995 às pessoas jurídicas; ii) no caso concreto, não cabe a transação penal, uma vez que a pena máxima do crime
ultrapassa 2 anos; iii) é cabível a suspensão condicional do processo ao caso, pois a pena mínima prevista para o crime
é de 1 ano.

Conceito 0 - Não abordou nenhum dos aspectos elencados e/ou o fez de forma totalmente incorreta.

Conceito 1 - Abordou corretamente apenas um dos aspectos elencados.

Conceito 2 - Abordou corretamente dois dos aspectos elencados.

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Conceito 3 - Abordou corretamente os três aspectos elencados.

Já em relação às penas aplicáveis às pessoas jurídicas, a Lei n.º 9.605/1998 admite as seguintes espécies: multa, prestação
de serviços à comunidade e restritivas de direitos. Especificamente em relação às penas restritivas de direitos, o art. 22 da
Lei de Crimes Ambientais assim dispõe: “As penas restritivas de direitos da pessoa jurídica são: I - suspensão parcial ou
total de atividades; II - interdição temporária de direitos; III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele
obter subsídios, subvenções ou doações”.

Também se destaca a previsão do art. 18 da Lei n.º 9.099/1995, que tem disciplina específica quanto ao cálculo da pena
de multa em crimes ambientais. Em regra, a multa deverá ser calculada segundo os critérios do Código Penal, porém
poderá ser majorada em até três vezes se ela se revelar ineficaz diante da vantagem econômica auferida.

QUESITO 4.3

O candidato deverá: i) citar ao menos duas espécies de penas aplicáveis às pessoas jurídicas (multa, prestação de serviços
à comunidade e restritivas de direitos); ii) citar ao menos duas das penas restritivas de direitos aplicáveis (suspensão de
atividades, interdição temporária de direitos e proibição de contratar com o poder público); iii) destacar que a pena de multa
é calculada segundo a regra do Código Penal; e iv) porém pode ser aumentada em até três vezes em caso de ineficácia
diante da vantagem econômica auferida, como ocorreu no caso concreto.

Conceito 0 - Não abordou nenhum dos aspectos elencados e/ou o fez de forma totalmente incorreta.

Conceito 1 - Abordou corretamente apenas um dos aspectos elencados.

Conceito 2 - Abordou corretamente dois dos aspectos elencados.

Conceito 3 - Abordou corretamente três dos aspectos elencados.

Conceito 4 - Abordou os quatro aspectos elencados.

ROTEIRO DE ARGUIÇÃO

Solicite ao candidato que leia o comando da questão.

Ouça a explanação do candidato a respeito da questão e, caso ele não tenha exaurido a resposta esperada de acordo
com o estabelecido no padrão de respostas previsto para a questão, conduza a arguição da forma a seguir apresentada.

Atenção! Somente deverão ser feitos os questionamentos referentes aos aspectos não explorados ou explorados de
maneira equivocada pelo candidato em sua resposta inicial. Caso ele já tenha tratado corretamente de algum aspecto
explorado nas perguntas a seguir, o examinador deverá abster-se de fazê-las e realizar a respectiva avaliação do candidato.

1 Como se dá a responsabilidade penal das pessoas jurídicas?

2 É necessária a imputação simultânea aos gestores da pessoa jurídica?

3 No caso concreto, são aplicáveis os benefícios penais da Lei n.º 9.099/1995?

4 Quais as espécies de penas aplicáveis no caso concreto?

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5 Como se dá o cálculo da pena de multa nos crimes ambientais?

Finalize sua arguição com a expressão: Sem mais perguntas.

PLANILHA DE CORREÇÃO

QUESITOS AVALIADOS VALOR CONCEITO

1 Articulação do raciocínio 0,00 a 0,40 0 1 2 3

2 Capacidade de argumentação 0,00 a 0,40 0 1 2 3

3 Uso correto do vernáculo 0,00 a 0,40 0 1 2

4 Domínio do conhecimento jurídico

4.1 Responsabilidade da pessoa jurídica 0,00 a 1,20 0 1 2 3

4.2 Benefícios penais 0,00 a 0,60 0 1 2 3

4.3 Espécies de pena 0,00 a 1,00 0 1 2 3 4

TOTAL 4,00

14) (DELTA – PF – CEBRASPE – 2021) Com fundamento na legislação, na doutrina e na jurisprudência acerca do concurso
— ou conflito — aparente de normas penais, atenda ao que se pede a seguir.

1 Conceitue o concurso — ou conflito — aparente de normas penais.

2 Explique a diferença entre concurso aparente de normas penais e concurso de crimes.

3 Apresente três critérios ou princípios utilizados na resolução de conflito aparente de normas penais.

TÓPICOS DOS OBJETOS DE AVALIAÇÃO ABORDADOS

2 A lei penal. 2.1 Características, fontes, interpretação, vigência e aplicação. 2.2 Lei penal no tempo e no espaço. 2.3
Imunidade. 2.4 Condições de punibilidade. 2.5 Concurso aparente de normas.

3 Teoria geral do crime. 3.1 Conceito, objeto, sujeitos, conduta, tipicidade, culpabilidade. 3.2 Bem jurídico.

3.3 Tempo e lugar do crime. 3.4 Punibilidade. 3.5 Concurso de crimes e crime continuado.

PADRÃO DE RESPOSTA

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1 O concurso — ou conflito — aparente de normas penais acontece quando, aparentemente, existem duas ou mais normas
aplicáveis a determinado fato. Nessa hipótese, como a própria denominação sugere, o conflito é meramente aparente, logo,
efetivamente, não há que se falar em conflito quando da aplicação de uma dessas normas ao caso concreto.

2 Quanto às diferenças, no concurso aparente de normas, parecem incidir duas ou mais normas, mas se aplica,
efetivamente, apenas uma delas, havendo um único delito. Inexiste regramento legislativo, razão pela qual se trata de
construção doutrinária e jurisprudencial. No concurso de crimes, por sua vez, o agente infringe mais de uma norma (ou a
mesma norma diversas vezes), praticando mais de um delito (ainda que o Código Penal (CP) lhes confira tratamento
unitário, como na continuidade delitiva). É disciplinado pelos arts. de 69 a 72 do CP.

3 A seguir, constam os critérios ou princípios utilizados na resolução do conflito aparente de normas penais.

a) Subsidiariedade: a norma principal deve ser aplicada em detrimento da subsidiária (lex primaria derogat subsidiariae).
Esse princípio pressupõe a existência de um tipo principal, que criminaliza a ofensa mais grave, e um tipo assessório, que
tipifica a ofensa menos grave, relativamente ao mesmo bem jurídico. Exemplos: o crime de ameaça é subsidiário em
relação ao constrangimento ilegal; o furto é subsidiário em relação ao roubo.

b) Especialidade: a norma especial tem preferência em relação à norma geral (lex specialis derogat legi generali). Esse
princípio é caracterizado pela existência de uma relação de gênero e espécie entre os tipos penais. Exemplos: o infanticídio
(art. 123 do CP) é um delito especial em relação ao homicídio (art. 121do CP); o homicídio culposo na direção de veículo
automotor (art. 302 do Código de Trânsito Brasileiro — CTB) é especial em relação ao homicídio culposo (§ 3.º do art. 121
do CP).

c) Consunção ou absorção: a norma que prevê crime mais abrangente deve ser aplicada em detrimento daquela que pune
mera fase de realização do delito ou constitui seu exaurimento. Esse princípio estabelece que a lei consuntiva absorve a
lei consumida (lex consumens derogat consumptae).

Entretanto, conforme a jurisprudência do STF, “crime não pode ser absorvido por contravenção” (HC121652/SC, Rel. min.
Dias Toffoli, 1.ª Turma, julgamento em 22/4/2014. Informativo 743).

Exemplos: o crime de violação de domicílio é absorvido pelo furto; a lesão corporal é absorvida pelo homicídio.

d) Alternatividade: de acordo com a primeira corrente doutrinária, está relacionado aos tipos mistos alternativos, de ação
múltipla ou de conteúdo variado. Em tais delitos, mesmo havendo a prática de mais de uma condita incriminada (no mesmo
contexto fático), haverá só um crime. Na realidade, não se trata de um conflito de normas, já que há apenas um tipo penal
envolvido. Exemplo: no crime de receptação (art. 180 do CP), se o agente adquirir a coisa produto de crime, conduzi-la até
sua residência e lá ocultá-la, responderá por um único delito, mesmo tendo praticado três condutas descritas na lei.

Para a segunda corrente, ao se reconhecer que o tipo penal deve ser aplicado a determinado fato, automaticamente está
excluída aplicação de outros que também o preveem como delito. Nesse sentido, a alternatividade é inútil, pois os demais
critérios são suficientes para resolver os conflitos aparentes de normas. Exemplo: o furto (art. 155 do CP) afasta a incidência
de outros tipos penais sobre o mesmo fato, como o roubo (art. 157 do CP). Frisa-se que parte da doutrina não inclui a
alternatividade como critério para a solução de conflito parente de normas, pelas razões apontadas.

e) Sucessividade: refere-se à sucessão de leis penais no tempo. Esse princípio estabelece que a lei posterior prevalece
sobre a lei anterior que trate do mesmo fato (lex posterior derogat legi priori). Exemplo: o art. 309 do CTB, que é posterior

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ao art. 32 da Lei de Contravenções Penais, derrogou este no que tange à direção sem habilitação em vias terrestres. De
acordo com a Súmula n.º 720 do STF, “O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama decorra do fato perigo de
dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no tocante à direção sem habilitação em vias terrestres”. Frisa-
se que parte da doutrina não inclui a sucessividade como critério para a solução de conflito aparente de normas vigentes,
mas entre uma lei vigente e outra já revogada.

QUESITOS AVALIADOS

QUESITO 1

0 – Não articula o raciocínio.

1 – Articula o raciocínio de maneira precária.

2 – Articula o raciocínio de maneira satisfatória.

3 – Articula o raciocínio de maneira excelente.

QUESITO 2

0 – Não argumenta.

1 – Argumenta de maneira precária.

2 – Argumenta de maneira satisfatória.

3 – Argumenta de maneira excelente.

QUESITO 3

0 – Não utiliza o vernáculo de forma correta.

1 – Utiliza o vernáculo de forma mediana.

2 – Utiliza o vernáculo de forma correta.

QUESITO 4.1

0 – Não discorre sobre o concurso — ou conflito — aparente de normas penais.

1 – Discorre sobre concurso — ou conflito — aparente de normas penais, porém de forma insuficiente ou com
inconsistência.

2 – Discorre sobre o concurso — ou conflito — aparente de normas penais, mencionando a incidência de duas ou mais
normas sobre o mesmo fato e, ainda, que o conflito é meramente aparente.

QUESITO 4.2

0 – Não explica as diferenças entre o concurso aparente de normas penais e o concurso de crimes.

1 – Explica corretamente apenas um dos institutos, sem diferenciá-los.

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2 – Explica corretamente os dois institutos, mas não deixa clara a sua diferença.

3 – Explica corretamente os dois institutos, diferenciando-os adequadamente.

QUESITO 4.3

0 – Não apresentou nenhum critério ou princípio utilizado na resolução do conflito aparente de normas penais.

1 – Apresentou apenas um critério ou princípio utilizado na resolução do conflito aparente de normas penais.

2 – Apresentou apenas dois critérios ou princípios utilizados na resolução do conflito aparente de normas penais.

3 – Apresentou três critérios ou princípios utilizados na resolução do conflito aparente de normas penais.

ROTEIRO DE ARGUIÇÃO

Solicite ao candidato que leia o comando da questão.

Ouça a explanação do candidato a respeito da questão e, caso ele não tenha exaurido a resposta esperada de acordo
com o estabelecido no padrão de respostas previsto para a questão, conduza a arguição da forma a seguir apresentada.

Atenção! Somente deverão ser feitos os questionamentos referentes aos aspectos não explorados ou explorados de
maneira equivocada pelo candidato em sua resposta inicial. Caso ele já tenha tratado corretamente de algum aspecto
explorado nas perguntas a seguir, o examinador deverá abster-se de fazê-las e realizar a respectiva avaliação do candidato.

1 Por que o concurso — ou conflito — aparente de normas penais é meramente aparente?

2 Quando ocorre o concurso de crimes?

3 Há diferença entre o concurso aparente de normas penais e o concurso de crimes quanto à disciplina legal?

Finalize sua arguição com a expressão: Sem mais perguntas.

PLANILHA DE CORREÇÃO

QUESITOS AVALIADOS VALOR CONCEITO

1 Articulação do raciocínio 0,00 a 0,40 0 1 2 3

2 Capacidade de argumentação 0,00 a 0,40 0 1 2 3

3 Uso correto do vernáculo 0,00 a 0,40 0 1 2

4 Domínio do conhecimento jurídico

4.1 Conceito de concurso — ou conflito — aparente de normas penais 0,00 a 0,70 0 1 2

4.2 Diferenças entre concurso aparente de normas penais e concurso de crimes quanto à disciplina legal 0,00 a 0,90 0 1
23

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4.3 Três critérios ou princípios utilizados na resolução do conflito aparente de normas penais 0,00 a 1,20 0 1 2 3

TOTAL 4,00

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