Entre os princípios do direito penal, achamos o princípio da irretroatividade que
prepara sobre a "irretroatividade" da lei penal. A irretroatividade da lei constitui que um novo fato não tem força para abordar coisas que se fizeram sob domínio de fato então existente. Aplicada às leis, quer dizer que a lei nova não atinge, com a sua eficácia, atos jurídicos que se praticam antes que surgisse bom como os efeitos que dela geraram. Em princípio, as leis são irretroativas: não retrocedem para levar os seus efeitos aos atos pretéritos. Regulam somente os atos que se sucederem à sua divulgação, os principais argumentos favoráveis à "irretroatividade" das leis é a garantia dos direitos individuais e a segurança das relações jurídicas, diante da incerteza e dos riscos de alteração futura. Daí sugere-se o princípio de que, em regra, a lei somente dispõe para o futuro, segundo a razão de que a lei não pode obrigar antes de existir. É a regra a respeito da não retroatividade das leis, conforme já dispunham os romanos: "Leges et constituciones futuris certum est dare formam, negotiis non ad facta preterita revocari." De acordo com o ordenamento as leis retroagem, em regra, quando expressamente dispõem efeitos retroativos ou pela natureza de suas próprias regras. Em favor do princípio da "retroatividade" existe uma ponderável razão de ordem social: a lei nova deve representar a melhor maneira de regular determinada situação; é razoável, por isso, que ela se aplique a todos os casos, inclusive, retroativamente. A retroatividade ou irretroatividade, como princípios absolutos, não são aceitáveis perante o direito moderno. Sendo assim, o princípio fundamental que rege a matéria pode ser com relativa simplicidade assim formulado: a lei pode retroagir em alguns casos e não pode retroagir em outros. No Brasil, os casos gerais em que a lei não pode ter efeito retroativo, estão fixados na própria Constituição, que, no capítulo dos direitos e garantias individuais, dispõe imperativamente: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada" (Art. 5.º, XXXVI). Do mesmo teor é o artigo 6.º da Lei de Introdução ao Código Civil, cuja redação foi dada pela Lei 3.238, de 1.º de agosto de 1957: "A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada". Pois, Direito adquirido é aquele que já se incorporou ao nosso patrimônio ou personalidade. Distingue-se da "expectativa de direito", que é a simples possibilidade de adquirir um direito. Por exemplo, diante de uma lei que exclui da sucessão os colaterais a partir do 4.º grau, um parente nessas condições, que já herdou porque a sucessão abriu-se antes da nova lei, tem um "direito adquirido", e a nova lei não o atinge. Enquanto que, no caso de não ter havido ainda a sucessão, os colaterais do 4.º grau têm apenas "expectativa de direito"; são por isso alcançados pela nova lei e excluídos da sucessão. Os conceitos de "ato jurídico perfeito" e "coisa julgada", foram definidos na primitiva redação do artigo III da lei de Introdução ao Código Civil, nos termos seguintes: "Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente no tempo que se efetuou" (§ 2.º). "Chama-se coisa julgada, ou caso julgado, a decisão judicial de que já não caiba recurso" (§ 3.º). Percebe-se, portanto, que o "ato jurídico perfeito" e a "coisa julgada" são, a rigor, dois casos especiais de "direitos adquiridos". No nosso ordenamento jurídico, a irretroatividade nos casos indicados é preceito constitucional, conforme o já mencionado Artigo 5.º da Constituição Federal. Aplica- se, por isso, como norma imperativa, a todos os ramos do direito privado ou público, a todas as espécies de normas – leis, decretos, resoluções, portarias, etc. – e a todas as esferas do poder público, federal, estadual e municipal. Qualquer lei, decreto, portaria, decisão administrativa ou outro ato, seja da União, de qualquer Estado ou Município, que prejudique direito adquirido, ato jurídico perfeito ou coisa julgada, será inconstitucional. Sintetizando: as leis e demais normas jurídicas aplicam-se aos fatos presentes e aos que vêm do passado, exceto àqueles que se enquadram nas hipóteses configuradas na Constituição. No campo do direito penal, pela gravidade de suas ameaças que atingem a própria liberdade, vigoram entretanto dois princípios especiais: em regra, a lei penal não tem efeito retroativo, aplica-se apenas aos casos futuros. "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal" (Art. 1.º do Código Penal). Como exceção, a lei penal nova aplica-se retroativamente se for mais favorável ao indiciado. "Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo Único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado" (Art. 2.º do Código Penal). "A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu" (Art. 5.º, XL da Constituição Federal). Conclui-se portanto que a retroatividade ou não da lei não é tão simples quanto parece. É um tema delicado e complexo, devendo portanto ser tratado como tal.
Existe uma REGRA dominante em termos de conflito de leis penais no tempo. É a
da IRRETROATIVIDADE da lei penal, sem a qual não haveria segurança nem liberdade na sociedade, em flagrante desrespeito ao princípio da legalidade e da anterioridade da lei, consagrado pelo art. 1º do CP - "Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal" e no art. 5º, XXXIX da CF - "não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal".
Esse fundamento de proibição, como sustenta Jescheck, é a idéia de SEGURANÇA
JURIDICA, que se consolida num dos princípios reitores do Estado de Direito, segundo o qual as normas que regulam as infrações penais não podem modificar-se após as suas execuções em prejuízo ao cidadão.
Ademais, o princípio da irretroatividade da lei penal, também tem a finalidade de
proteger o indivíduo contra o próprio legislador, impedindo-o de criminalizar novas condutas, já praticadas por aquele, que, desconhecendo tal circunstância, não tem como nem porque evitá-la.
Na verdade a irretroatividade penal é corolário do princípio da anterioridade da lei
penal, segundo o qual uma lei penal incriminadora somente pode ser aplicada a determinado fato concreto caso estivesse em vigor antes da sua prática. Esse princípio, conhecido como "NULLUM CRIMEN, NULLA POENA SINE PRAEVIA LEGE", que foi cunhado por Feuerbach no início do século XIX, encontra-se insculpido no art. 1º do nosso Código Penal e acabou recepcionado pela atual Constituição brasileira, como foi anteriormente dito. Observação: ESSE PRINCÍPIO LIMITA-SE ÀS NORMAS PENAIS DE CARÁTER MATERIAL, ENTRE AS QUAIS SE INCLUEM AQUELAS RELATIVAS ÀS MEDIDAS DE SEGURANÇA, QUE INDISCUTIVELMENTE, INTEGRAM A SEARA DO DIRIETO PENAL MATERIAL.
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