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Disciplina de Teoria do Direito

Retroatividade e irretroatividade da norma e retroatividade possível.


Alunos: Fabrício Silvestri Pizzano
Gabriella Guimarães Bianchi

A norma deve ter, como regra geral, uma abrangência mais ou menos ampla,
isto é, uma generalidade e abstração para situações futuras. Daí também a sua
característica de hipoteticidade. A noção fundamental é que a lei, uma vez
promulgada e publicada, tão somente poderá atingir relações jurídicas que a partir
de sua vigência ocorrerem. Em situações apenas excepcionais, porém, mormente
no regime democrático que garante os direitos individuais, há hipóteses nas quais as
leis atingem fatos pretéritos. O efeito retroativo deve ser visto como exceção a
confirmar a regra pela qual a lei é uma norma para o futuro. Se as leis atingissem
ordinariamente os fatos passados, as relações jurídicas se tornariam instáveis e
estaria instaurado o caos.
Sob esse prisma, a Constituição Federal de 1988 dispõe, no art. 5º, inciso
XXXVI, dentro do longo elenco de direitos individuais, que "a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada". Cada um desses três
institutos merece estudo monográfico e aprofundamento conceitual que refoge a
estas primeiras linhas. Contudo, como primeiro enfoque, entenda-se que adquiridos
são os direitos que já se incorporaram definitivamente ao patrimônio jurídico da
pessoa, que já estão sendo exercidos ou que já podem ser exercidos. Desta sorte, a
lei não poderá tolhê-los. Assim, quem já se aposentou, ou sob a lei vigente adquiriu
direito à aposentadoria, não pode ter seus direitos violados ou modificados por uma
lei nova que, por exemplo, estende a idade para que seja concedido o benefício. No
entanto, a conceituação de direito adquirido é por demais tormentosa e com muita
frequência os tribunais são chamados a examiná-los, mormente o Supremo Tribunal
Federal, a quem cabe decidir em última ou única instância sobre a
constitucionalidade.
A verdade é que essa é sempre uma questão em ebulição, dúctil e que atinge
diretamente os interesses do Estado em confronto com os interesses e direitos
individuais. Também não é menos verdade que todos os que se lançam a
conceituar, definir e delimitar os direitos adquiridos enfrentam escolhos de difícil
transposição.
Ato jurídico perfeito é aquele já praticado e que surtiu os consequentes
efeitos. Um contrato elaborado sob lei que o autorize não pode ser invalidado porque
lei posterior considere esse contrato ilegal. A coisa julgada é o principal efeito da
sentença. Trata-se da decisão judicial da qual não caiba mais recurso. Há
instrumentos processuais que permitem, sob certas circunstâncias, alterar a coisa
julgada: a ação rescisória no campo civil e a revisão criminal no campo penal.
O fenômeno da revogação das normas jurídicas pode dar margem a outro
fenômeno, o do conflito de normas. Haverá conflito de normas sempre que
disposições de duas ou mais normas se contraponham, de modo que a observância
de uma implique o descumprimento de outra. Não ocorrerá essa problemática
quando o legislador é expresso e aponta quais as leis que o novo diploma legal
revoga. Portanto, na revogação expressa não há conflito. Na revogação tácita, por
conseguinte poderá surgir a complexidade. O conflito pode ser total ou parcial. Será
total quando as normas são totalmente antagônicas e parcial quando isto não
ocorre.
A lei uma vez promulgada e publicada presume-se de conhecimento de todos.
O ordenamento entende que a norma legal é obrigatória e ninguém se escusa de
cumpri-la. Nosso ordenamento não presume propriamente a lei como conhecida de
todos, mas não admite que se possa alegar que não seja conhecida. Há aspectos
diversos a serem enfocados. Decorre do dispositivo que a lei, após publicada e
decorrido eventual período de vacatio legis, torna-se obrigatória para todos. Não há
que se levar o tema exclusivamente para o âmbito da presunção, pois longe está
toda a população e mesmo todos os juristas e técnicos de conhecerem todas as leis.
A ninguém se permite ignorar as leis. Como consequência, presume-se que todos as
conhecem, mesmo aqueles que delas não possuem conhecimento algum.
Ninguém poderá ser condenado ou punido criminalmente por qualquer fato
que tenha praticado, se este fato não tiver sido “antes” tipificado como crime em lei.
É possível que o poder Legislativo e/ou o Executivo aprovem norma jurídica que
esteja em desacordo com o sistema jurídico, como também permite-se que o Poder
Executivo baixe um decreto regulamentar ilegal e aprove uma lei inconstitucional
que é publicada oficialmente (posta em vigor) após o sancionamento (aprovação) do
Poder Executivo. Não só é possível como, no Brasil, já foram aprovadas e postas
em vigor várias normas jurídicas ilegais e inconstitucionais.

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