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FACULDADE DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DO PARANÁ

FABRÍCIO SILVESTRI PIZZANO

ANÁLISE DA EFICÁCIA DAS POLÍTICAS DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO


GOVERNO LULA (2003-2010)

CURITIBA
2016
FABRÍCIO SILVESTRI PIZZANO

ANÁLISE DA EFICÁCIA DAS POLÍTICAS DE DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO


GOVERNO LULA (2003-2010)

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como requisito parcial para
conclusão do curso de Ciências
Econômicas da Faculdade de Educação
Superior do Paraná.

Orientador :Professor Nivaldo Camilo

CURITIBA
2016
FABRÍCIO SILVESTRI PIZZANO

ANÁLISE DA EFICÁCIA DAS POLÍTICAS DE DISTRIBUIÇÃO DE


RENDA NO GOVERNO LULA (2003-2010)

Monografia apresentada à Faculdade de Educação Superior do Paraná


como pré-requisito para obtenção de título acadêmico de bacharel em
Ciências Econômicas, sob orientação do Prof. Nivaldo Camilo.

Banca Examinadora

Orientador: Dr(a).________________________________
Faculdade de Educação Superior do Paraná
Prof(a).
Dr(a).________________________________
Faculdade de Educação Superior do Paraná
Prof(a).
Dr(a).________________________________
Faculdade de Educação Superior do Paraná

Curitiba, ___ de _______________ de 20___.


Dedico este trabalho a todos os
estudantes que estejam
ingressando nesse momento ao
curso de Ciências Econômicas para
que possam utilizar mais tarde
minha pesquisa com o fim de
embasamento teórico e como
referência; e em especial a meu
orientador Prof. Nivaldo Camilo por
depositar confiança em minha
efetividade durante os seis últimos
meses, transmitindo-me alento.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus pela concessão do dom da vida, a meus


familiares pelo suporte moral, ao diretor Prof. Dr. Rodrigo Kremer,
responsável pela abertura das portas do meu caminho, a cada professor
da casa por lapidar meus conhecimentos, aos colegas de classe por
prosseguirem ao longo desses laboriosos anos alicerçados a uma base
sólida, aos companheiros dos cursos de Administração, Comércio
Exterior e Direito, diuturnamente motivando-me com palavras de
incentivo, a meus amigos do fisiculturismo do Água Verde, aos parceiros
das adjacências da instituição que através de seus despretensiosos
ensinamentos de vida inspiraram-me a trilhar pelo âmago desta obra e a
todos os demais que contribuíram para o trabalho se tornar possível.
"Com o tempo tudo desvanece. Sentimo-
nos inexpressivos como um cavalo
extenuado. Sentimo-nos gélidos em um
leito do acaso. Sentimo-nos
possivelmente solitários, no entanto
confortáveis. E sentimo-nos ludibriados
pelos anos desperdiçados. À vista disso,
verdadeiramente, com o tempo deixamos
de amar."
Léo Ferré, poeta franco-monegasco.
RESUMO

O presente estudo é meritória por facilitar a compreensão da classe C, entrante no


consumo de massa e que abrange mais da metade da população além de deter o
domínio do ponto de vista eleitoral, dissecando os elementos que contribuíram para
este segmento eclodir. Nos últimos 15 anos, o cenário da quarta maior democracia
do planeta em população de eleitores era de reiteradas trocas de governantes e
planos econômicos. Embora Fernando Henrique Cardoso tenha desempenhado um
papel altamente forte na queda da miséria em seu último de mandato, seus
derradeiros quatro anos no cargo se mostraram de incerteza macroeconômica. Lula
assume a posição mais importante do país objetivando resgatar o crescimento e
refrear a eclosão da desigualdade social. Portanto, o primeiro ato de Lula como
gestor foi o de ajuste para readquirir o controle do câmbio. O intervalo entre pobreza
e riqueza parou de crescer no transpassar da sua administração.

Palavras chave: Classe média. Renda. Salário mínimo.


RÉSUMÉ

Cette étude est utile pour faciliter la compréhension de la classe C, la consommation


de masse entrante et couvrant plus de la moitié de la population en plus de détenir le
domaine du point de vue électoral, disséquer les éléments qui ont contribué à
l'éclosion de ce segment. Au cours des 15 dernières années, le scénario de la
quatrième plus grande démocratie de la population mondiale des électeurs a été
répété changements de plans gouvernementaux et économiques. Bien que
Fernando Henrique Cardoso a joué un rôle très important dans la chute de la misère
dans son dernier mandat, ses quatre dernières années au pouvoir se sont révélées à
l'incertitude macroéconomique. Lula prend la position la plus importante dans le pays
visant à sauver la croissance et freiner l'épidémie de l'inégalité sociale. Donc, le
premier acte de Lula en tant que gestionnaire était l'ajustement pour reprendre le
contrôle de l'échange. L'écart entre la pauvreté et la richesse a continué de croître
dans l'infidélité de son administration.

Mots-clés: classe moyenne. Revenu. salaire minimum.


LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 - TAXA ANUAL DE CRESCIMENTO DA RENDA DOMICILIAR PER


CAPITA 2001 – 2008 ................................................................................................17
GRÁFICO 2 - EVOLUÇÃO DO ÍNDICE DE GINI ......................................................22
GRÁFICO 3 - RELAÇÃO ENTRE O CRESCIMENTO DO PIB E O PIB PER CAPITA
DO BRASIL 2000 - 2010 ...........................................................................................29
GRÁFICO 4 - ASCENSÃO DO IDH BRASILEIRO 1980 – 2013 ...............................30
GRÁFICO 5 – TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL 1980 – 2009 ...........................32
GRÁFICO 6 – SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL 2000 – 2008...........................32
GRÁFICO 7 - PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO POBRE ..........................................36
GRÁFICO 8 - EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO NO PIB 1947 – 2014 ...............................................................42
GRÁFICO 9 - BALANÇA COMERCIAL DO AGRONEGÓCIO EVOLUÇÃO 2008-2009
..................................................................................................................................48
GRÁFICO 10 - FALÊNCIAS REQUERIDAS DE EMPRESAS 1991 - 2013...............49
LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - EVOLUÇÃO DAS CLASSES ECONÔMICAS .......................................16


TABELA 2 - DEFINIÇÃO DAS CLASSES ECONÔMICAS........................................16
TABELA 3 - EVOLUÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO NO BRASIL 1995-2010 ...............20
TABELA 4 – TAXA DE DESOCUPAÇÃO NO BRASIL .............................................25
TABELA 5 - EVOLUÇÃO DO PIB DO BRASIL 2003 – 2012 ....................................26
TABELA 6 – CRESCIMENTO DO PIB NO BRASIL E MUNDO 2003 - 2010 ............27
TABELA 7 - CRESCIMENTO ANUAL DO BRASIL E MUNDO 1994-2009 ...............27
TABELA 8 - EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO 2006-2009....45
TABELA 9 - DESTINO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS..................................46
TABELA 10 - SÍNTESE DE INDICADORES MACROECONÔMICOS 2003-2010 ....47
LISTA DE SIGLAS

Abep Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa


Alca Área de Livre Comércio das Américas
BBC The British Broadcasting Corporation
BPB Banco Popular do Brasil
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento
Brics Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa)
Ceitec Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada
CVM Comissão de Valores Mobiliários
EBC Empresa Brasil de Comunicação
EPE Empresa de Pesquisa Energética
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FGV Fundação Getúlio Vargas
FHC Fernando Henrique Cardoso
Fiesp Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IMB Instituto Ludwig von Mises Brasil
Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Lula Luiz Inácio Lula da Silva
Mdic Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
Mercosul Mercado Comum do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e
Venezuela)
Nafta Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Canadá, Estados Unidos
e México)
OMT Organização Mundial do Turismo
ONU Organização das Nações Unidas
PIB Produto Interno Bruto
Pnad Pesquisa Nacional por Amostra por Domicilio
Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Selic Sistema Especial de Liquidação e Custódia
SMP Symmetric Multi-Processor
NUMA Non-Uniform Memory Access
SIMD Single Instruction Multiple Data
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................13
1 GOVERNO LULA 2002-2010 ...........................................................................15
1.1 NÍVEL DE RENDA ENTRE AS CLASSES SOCIAIS........................................15
1.2 NÍVEL DE EMPREGO......................................................................................23
1.3 PIB E INDICADORES SOCIAIS.......................................................................26
1.3.1 Expectativa e qualidade de vida ...................................................................29
1.3.2 Mortalidade infantil e saneamento básico ...................................................31
1.3.3 Saúde e educação ..........................................................................................33
1.3.4 Linha de pobreza ............................................................................................36
2 POLÍTICA MACROECONÔMICA DE LULA ...................................................39
2.1 NÍVEL DE INVESTIMENTO .............................................................................39
2.2 COMPORTAMENTO DOS IMPOSTOS, SUBSÍDIOS E TRIBUTOS ...............40
2.3 COMPORTAMENTO DOS INDICADORES DA INDÚSTRIA ............................41
2.4 VIAGENS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL ...............................43
2.5 IMPORTAÇÕES E EXPORTAÇÕES ................................................................44
2.6 NÚMERO DE EMPRESAS QUE NASCERAM E AS QUE FORAM À FALÊNCIA
..................................................................................................................................48
3 CONCLUSÃO ....................................................................................................50
13

INTRODUÇÃO

O corrente trabalho trata do tema "A nova classe média" externando as


possíveis causas e explicações dessa virada crucial na mobilidade social, do ensino
ao campo de trabalho, tendo em vista que a ascendência de determinada parte da
população depende de uma série de modificações demográficas e da estabilidade
nos preços. A pesquisa foi desenvolvida de modo a transparecer os resultados das
políticas responsáveis pelos índices de crescimento do nível social em pauta e
também exprime uma exposição das razões que levaram a classe C a ser o estrato
dominante na conjuntura atual.
Após o milagre econômico brasileiro, a taxa de inflação elevou-se a graus
estratosféricos e a elite teve suas riquezas acrescidas ao passo que a grande
parcela da sociedade depauperou. Janeiro de 2003 representou uma mudança para
a política nacional e para o país em termos gerais. O representante da classe
operária, eleito popularmente no ano precedente, assume o poder com propostas de
melhorias de moradia, acesso à saúde e educação para as camadas brasileiras de
menor renda. Haver despontado do estrato da base do estamento foi fator
determinante para que fosse conhecedor de cada centímetro necessário a ser feito
na erradicação da pobreza. Lula deu ensejo de estudo àqueles que nunca portaram,
através dos programas de incentivo como o ProUni e o Fundeb. A quase triplicação
no valor do salário mínimo (passou de 200 para 510 reais na sua gestão) por sua
vez, aumentou o poder de compra daquela classe que era vil à época. O Brasil
então presenciava o surgimento de uma nova ordem na pirâmide social, a classe C.
O PIB em seu governo acelerou, milhões de pessoas foram retiradas da linha
da pobreza e passaram a consumir como nunca antes, adentrando na classe média.
Houve um controle da inflação e uma diminuição da dívida externa. Com a criação
do PAC, foi o primeiro governo após muitas décadas que agregou o investimento em
infraestrutura. As metas do programa aumentaram nos anos posteriores estimulando
portanto o investimento privado. Há 30 anos atrás, o salário mínimo era curto e a
elite que esbanjava formava uma parcela muito pequena. diminuiu a desigualdade
social e aumentou o poder de compra da classe que antes era vil. O salto todavia
não foi apenas econômico, acresceu também o número de eleitores, de
universitários. É um novo ordenamento social que tem emprego fixo e uma renda
considerável, o que ocasionou uma migração do setor público para usufruir a rede
14

privada. Tal fato gerou um revés pois a instituição privada não consegue manter a
qualidade dos tempos predecessores.
O objetivo principal é traçar uma análise das políticas de distribuição de renda
adotadas no Brasil no período e apresentar uma revisão de literatura sobre políticas
de distribuição de renda. Os objetivos específicos são apontar dados sobre as
variáveis do nível de renda entre as classe sociais bem como os níveis de emprego
e investimento; analisar o comportamento dos indicadores da indústria nos dois
mandatos do governo Lula tal qual do PIB, impostos e subsídios; avaliar a conduta
da sociedade em relação às viagens internacionais e exteriorizar o número de
empresas que nasceram e as que foram em falência.
15

1 GOVERNO LULA 2002-2010

1.1 NÍVEL DE RENDA ENTRE AS CLASSES SOCIAIS

Em linhas gerais, as classes A e B estão entre a faixas de renda acima de R$


5.174,00 e as classes D e E, em linhas gerais, estão entre as faixas de renda de 0 a
R$ 1.200,00. No entanto, a classe C se destaca por atender os indivíduos cuja renda
domiciliar varia entre R$ 1.200,00 e R$ 5.174,00. NERI, (2011, p. 85-86) reproduz o
Critério de Classificação Econômica Brasil levantado pela ABEP:

Classe AB. De acordo com as últimas Pnads, de 2003 a 2009, 6,6 milhões
de pessoas ascenderam para as classes A e B, com crescimento de
39,60% de sua participação na população.
Classe C. A mesma que atingia 37,56% da população brasileira, em 2003,
passa a 50,45% em 2009, ou 94,9 milhões de brasileiros em famílias com
renda acima de R$ 1.200,00 até R$ 5.174,00 mensais, a classe dominante
no sentido populacional. Esse crescimento acumulado de 34,34%, no
período de seis anos, traduzido em termos de população, equivale a dizer
que 29 milhões de brasileiros, que não eram, passam a ser C nos últimos
anos, desde 2003.
Classe D. A proporção de pessoas na classe D era 23,62% em 2009,
atingindo 44,4 milhões de brasileiros com renda desde R$ 751,00 mensais
até o limite da classe C. Quanto ao movimento, houve redução de 2,5
milhões de pessoas, se considerarmos o período de seis anos terminado
em 2009.
Classe E. No grupo de renda familiar mais baixa, de até R$ 751,00 mensais,
equivalente à pobreza, em nossa metodologia, há uma tendência de queda
desde o fim da recessão de 2003, quando o grupo foi reduzido em 45,5%.
Ou seja, cerca de 20,5 milhões de pessoas cruzaram a linha de miséria.
Como resultado disso, temos 28,8 milhões de miseráveis (15,32% da
população5) que seriam quase 50 milhões de pessoas se a miséria não
tivesse caído desde 2003.

Keynes assegura na sua Teoria geral que "os indivíduos aumentam o


consumo conforme a renda aumenta, mas não na mesma magnitude, pois ocorre
também um aumento da poupança." As classes baixas foram as que tiveram mais
ascendência.
16

TABELA 1 - EVOLUÇÃO DAS CLASSES ECONÔMICAS

Fonte: Centro de Políticas Sociais da FGV a partir dos microdados da PNAD/IBGE.

Não obstante, conjectura-se que a adequação do crescimento da renda nesse


ínterim foi desproporcional. No perpassar da sua análise, NERI, (2011, p. 82) faz
transparecer o poder elucidativo da disposição em camadas dos estratos
socioeconômicos:
A fim de quantificar as faixas, calculamos a renda domiciliar per capita e
depois a expressamos em termos equivalentes de renda domiciliar total, de todas as
fontes. A principal característica da abordagem aqui usada é seu nível de
desagregação em quatro grupos de renda. Olhamos a evolução da participação da
população em cada estrato.
A renda domiciliar per capita pode estar atrelada ao poder de compra, poder
aquisitivo do trabalhador. A classificação se esteia no rendimento do trabalho,
restringindo-se o estudo à população economicamente ativa. O cálculo da renda
domiciliar fica evidenciado na tabela 02.

TABELA 2 - DEFINIÇÃO DAS CLASSES ECONÔMICAS

Definição das classes econômicas. Renda domiciliar total de todas as


fontes.
Limites (preços de 2011)
Inferior Superior
Classe E 0 R$ 751,00
Classe D R$ 751,00 R$ 1.200,00
Classe C R$ 1.200,00 R$ 5.174,00
Classe AB R$ 5.174,00
Fonte: (NERI, 2011)
17

Para a disparidade, mais ponderoso que a oscilação no nível de renda dos


segmentos com maior em correspondência a um período predecessor é a porção do
crescimento absoluto da economia amoldada por esses níveis sociais. O gráfico 01
demonstra a taxa anualizada dessa evolução da renda.

GRÁFICO 1 - TAXA ANUAL DE CRESCIMENTO DA RENDA DOMICILIAR PER CAPITA 2001 – 2008
(por décimos da distribuição)

Fonte: Estimativas produzidas pelo Ipea, com base na Pnad de 2001 a 2008.

Ao poupar mais, os indivíduos têm melhores condições de regressar ao ciclo


vicioso da pobreza pois não conseguem gerar pecúlio devido a praticamente todo o
salário destinar-se ao dispêndio. NERI, (2011, p. 32) no seu estudo constata a
elevação da renda per capita média brasileira.

Segundo a Pnad, entre 2001 e 2009 a renda per capita média brasileira
subiu 23,7% em termos reais. Isto é, descontando a inflação e o
crescimento populacional, o desempenho médio tupiniquim esteve longe de
ser um grande espetáculo do crescimento.
Nesses oito anos (de governo Lula), a renda dos 10% mais pobres no Brasil
subiu 69,08% no período. Esse ganho cai paulatinamente conforme nos
aproximamos do topo da distribuição, atingindo 12,8% entre os 10% mais
ricos, taxa de crescimento mais próxima da média que a dos pobres.

Os dados da Pnad 2009, divulgada em 8 de setembro de 2010 pelo IBGE


mostram que o rendimento médio mensal real – incluindo os programas de
transferência de renda – das pessoas com 10 anos ou mais de idade subiu 2,3%
entre 2008 e 2009, pulando de R$ 1.064,00 para R$ 1.088,00, completando a quinta
alta seguida desde 2004. A renda domiciliar média mensal real cresceu 1,5%,
passando de R$ 2.055,00 em 2008 para R$ 2.085,00 no ano seguinte. No
18

acumulado desde 2004, o rendimento domiciliar acumulou 19,3% de alta. NERI,


(2011, p. 81) ressalta a necessidade da distinção de famílias com a mesma renda e
diferentes números de membros.

(...) Em nossa classificação, uma família que tem renda total de R$ 1.500,00
mensais, dividida entre dez membros, digamos, será dedicada
exclusivamente à subsistência de seus membros, é considerada pobre,
enquanto outra, composta de uma única pessoa, terá a condição de
comprar alguns bens ou serviços considerados supérfluos.

Durante a era Lula, houve um remodelamento da política de concessão de


créditos, facultando que a incomplexidade para financiar produtos ensejasse o
consumo. A pesquisa de NERI, (2011, p. 121) denota o fato dos brasileiros
melhorarem de renda durante a administração de Lula.

Entre 2003 a 2009, a renda per capita média do brasileiro cresceu 4,72% ao
ano em termos reais (...) passando de R$ 478,00 para R$ 630,00 por mês.
A fonte de renda que mais cresceu foi a de programas sociais (12,9%)
influenciada pela expansão do Bolsa Família, criado em 2003. (...) Os
efeitos dos reajustes do salário mínimo, que cresceu mais de 45% neste
período, pressionaram o valor da base de benefícios. (...) A renda do
trabalho corresponde a 76% da renda média percebida pelo brasileiro e de
lá saiu 75,3% do ganho de renda observado.

Quando coloca-se renda, para o Bolsa Família exemplificando, gera um efeito


multiplicador. Todavia a economia keynesiana somente é recomendável como
políticas esporádicas para corrigir ciclos no momento de baixa porque corrói a
produtividade tornando o Estado pesado. Esta política é feita para retificar e não
para sustentar por longo prazo, no entanto os brasileiros aderem-na em época de
alta e seguem mantendo. NERI, (2011, p. 35) asseverou a monta de distintas fontes
de rendimento no progresso dos índices sociais:

Os resultados apontam que, embora tenha havido um aumento forte da


renda, derivado de programas sociais e aposentadorias ligadas ao salário
mínimo, a parcela devida ao trabalho fica próxima ao expressivo
crescimento de renda de 4,72% dessa fase, entre 2003 e 2009. O
incremento médio de 4,61% ao ano da renda trabalhista por brasileiro, que
corresponde a 76% da renda média percebida pelo brasileiro, confere
sustentabilidade das condições de vida para além das transferências de
renda oficiais.

O salário mínimo geralmente é um pouco acima do salário de equilíbrio e não


pode estar muito acima senão desencoraja a demanda e gera demasiado
19

desemprego. No entanto o equilíbrio é dado em termos reais e o salário mínimo em


termos nominais, logo, se este não for reajustado, bem mais tarde começa a ser
non-binding1, uma restrição que não é de verdade, ou seja, um aumento ou uma
diminuição do salário mínimo talvez implique alguma diferença na margem mas não
exerce efeito diretamente sobre o contribuinte no mês seguinte. O salário mínimo é o
mesmo que ter impostos demasiados na economia, ou seja, um mal necessário e
não uma garantia para o bem do cidadão. Quando uma nação precisa por lei
estabelecê-lo, trata-se de uma intervenção no mercado. O governo não deveria mas
está intervindo por uma questão social e não econômica e atrapalha a economia.
Contudo, o Estado deve atender a todo aquele cidadão despreparado, que não
devolve à sociedade um nível de produtividade compatível com a sua necessidade
básica. É como se fosse uma complementação daquilo que ele produz, no entanto a
sociedade assume isto para não deixá-lo na inanição ou na decadência, tanto que
existem subsídios de outros setores, de outros contribuintes para poder compensar
essa falha. Quando o salário mínimo é muito baixo, normalmente não é uma
referência para empregar e quando é muito alto indica prosperidade e significa que o
empregador está dando margem a contratar funcionários por salário mínimo. Ao
longo do segundo mandato de FHC o salário real subiu em termos nominais,
entretanto perdeu poder de compra mesmo descontando a inflação da época. Houve
um aumento na cesta básica ou naqueles produtos que compõem os gastos do
salário mínimo. O fato não repetiu na gestão de Lula, pois o salário real aumentou e
teve ganho de poder aquisitivo, como pode-se verificar na tabela 03.

1
Em uma casa legislativa o termo, que significa "resolução não vinculativa", refere-se a
medidas que não se tornam leis.
20

TABELA 3 - EVOLUÇÃO DO SALÁRIO MÍNIMO NO BRASIL 1995-2010


Evolução do Salário Mínimo no Brasil – 1995-2010

Fonte: IBGE (Inflação IPCA), DIEESE (Cesta Básica), Revista Exame (PIB).

Durante o governo FHC um salário mínimo comprava 1,15 cesta básica no


primeiro ano de seu governo e 1,54 no último ano, o que caracterizou um aumento
de 34,37% de aumento do poder de compra do trabalhador em relação a cesta
básica. Em contraponto, no governo de Lula, um salário mínimo comprava 1,47
cesta básica no primeiro ano, e 2,27 cestas no último ano de seu governo, aumento
de 53,73% no poder de compra em relação a cesta básica. A inflação explana a
desproporção de renda. GREMAUD, VASCONCELLOS, JÚNIOR (2009, p. 498)
atenta para o decréscimo da inflação no período Lula e a subsequente estabilização
econômica. Reforçando estas suas afirmações, segue que:

A valorização cambial foi a principal responsável pela estabilização, que foi


possibilitando a redução da taxa de juros a partir de meados de 2003. O
comportamento da taxa de juros ao longo do primeiro mandato foi dito pelo
comportamento da inflação, como pode ser visto pela forte elevação no
início de 2003, seguida de uma ampla redução conforme a inflação foi se
reduzindo, voltando a se elevar no segundo semestre de 2004 em função
das pressões inflacionárias, reduzindo-se de forma contínua a partir do
segundo semestre de 2005. (...) A valorização cambial e a preservação da
política monetária voltada para a estabilização garantiram a queda das
taxas de inflação ao longo do governo Lula.

A poupança é somente concentrada em poucos empresários que irão investir


na economia e gerar impostos para esse dinheiro retornar à sociedade na forma de
geração de emprego. Após um certo tempo surge a necessidade de distribuição de
renda como uma conquista social, ou seja, melhores salários, melhores condições
21

de vida aos trabalhadores. PAULANI, BRAGA (2001, p. 229) constata o paradoxo de


possuirmos um elevado PIB e uma das piores distribuições de renda mundiais.

(...) A desigualdade medida pelo Índice de Gini, que se encontrava em seu


valor mínimo em dezembro de 2008 (0,5778), recuperou-se da deterioração
observada em janeiro de 2009 (quando sobe 2,5%), com quedas na direção
contrária, atingindo em dezembro de 2009 praticamente o mesmo valor de
um ano antes (0,5779). Na renda média, a taxa de crescimento acumulada
no período de dezembro de 2003 a dezembro de 2009 da renda per capita
(...) foi de 36,3% ou seja, 5,3% ao ano. (...) Ou seja, em dezembro de 2008
e dezembro de 2009 observamos uma ligeira redução do crescimento da
renda de –0,4%, (...) configurando uma parada súbita dos avanços
anteriores, mas não retrocessos.

A distribuição de renda como estratégia de crescimento em um primeiro


momento é concentração porque somente gera excedente no capital. Se a
distribuição ocorrer antes do país crescer, mais tarde vem em forma de desemprego
e decresce a economia. O índice de Gini é uma escala utilizada para mensurar a
disparidade da partilha de renda entre as nações, conforme explica sucintamente
PAULANI, BRAGA (2001, p. 247):

A distribuição de renda de um país pode ser avaliada a partir do índice de


Gini, que tem como objetivo avaliar o grau de concentração da renda,
podendo variar entre zero e um. Quanto mais próximo de um for o índice,
mais concentrada é a renda do país; quanto mais próximo de zero, menos
concentrada. O Brasil detém um dos piores índices de Gini do mundo, (...) o
Brasil possui uma enorme concentração de renda, um problema estrutural,
que pode ficar ainda mais grave em momentos de crise conjuntural com
recessão e aumento do desemprego.

A pesquisa de 2010 do IPEA exprime que a desigualdade de renda caiu, entre


2001 e 2008, em média 0,7 ponto de Gini (medida que varia de zero a um usada
como referência para medir desigualdade de renda). Entre 2008 e 2009 houve uma
desaceleração nessa queda, que foi de 0,54 ponto de Gini, causada pela crise
financeira mundial. O livro MENSAGEM AO CONGRESSO NACIONAL, (2010, p.
132) dilucida o decaimento da desigualdade de renda do país.

A desigualdade de renda brasileira também declinou de forma sistemática,


acentuada e sem precedentes entre 2001 e 2008, de acordo com dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2008. Ao analisar a
desigualdade de renda familiar per capita segundo o coeficiente de Gini,
verifica-se uma queda de 8,4% entre os anos de 2001 e 2008 (de 0,594
para 0,544), o que indica a tendência rumo a uma sociedade mais justa.
22

A desigualdade de renda é uma ocorrência intrínseca à natureza humana.


Historicamente, o Brasil apresenta desmedida concentração de renda e um
descomunal nível de pobreza. Desde o término da década de 70 ao início dos anos
2000 o Brasil havia estagnado em um grau alteroso de desigualdade. Em
conformidade com o gráfico 02, sobreveio um decaimento da disparidade na
administração de Lula, ainda assim exíguo para remover a nação do quadrante dos
países mais díspares do globo.

GRÁFICO 2 - EVOLUÇÃO DO ÍNDICE DE GINI


Evolução do Índice de Gini

(*)- Não disponível.


Fonte: CPS/FGV com base nos microdados da Pnad/IBGE.

Nos governos FHC há uma incomensurável confluência de renda porque a


forma de governar priorizou principalmente as classes já mais abastecidas,
ocorrendo o contrário em relação ao governo Lula. Do período Lula até o momento
atual a divisão da renda foi maior, justamente por isso que aumentou o Gini, porque
houve um achatamento do poder aquisitivo daqueles que estavam na classe
superior pela forma de condução da economia, pela questão da política de crédito e
políticas de renda e de impostos. No seu estudo, NERI, (2011, p. 59) explana o que
chama de "medida intuitiva da evolução da desigualdade":

A fim de sintetizar melhor as mudanças observadas, restringimos a análise


que se segue aos 50% mais pobres e 10% mais ricos. Os primeiros detém,
por definição, a metade mais pobre da população, enquanto os segundos,
no auge da desigualdade, detinham mais da metade do bolo de renda
tupiniquim. As respectivas taxas acumuladas de crescimento da renda real
per capita foram de 52,59% e 12,8%. Isto indica que o bolo da metade mais
23

pobre da população brasileira cresceu a uma taxa 318% mais alta que a dos
10% mais ricos entre 2001 e 2009.

Contudo, em relação à gestão de FHC, aquele segmento que estava abaixo


da linha da pobreza não teve nenhuma ascensão. Na Era Vargas o país precisava
se industrializar e portanto concentrou a renda; tal fato tornou a repetir com a
chegada dos militares, posteriormente no mandato de Collor e pode-se dizer que um
pouco disto também foi herdado por FHC. Durante os anos de Lula o Brasil voltou-se
para dentro, tendo uma participação ínfima no mercado internacional de 1,15%. As
nações ricas passaram pelos mesmos problemas que as emergentes estão
passando agora. A concentração de renda nos países que hoje são desenvolvidos
foi muito intensa e mais gritante do que hoje em função da exaustão do fornecimento
de insumos no planeta, do mundo e a tecnologia mudarem e o acesso ao consumo
ser outro. Por conseguinte, na MENSAGEM AO CONGRESSO NACIONAL, (2010,
p. 132) denota-se o andamento da desconcentração da renda brasileira.

(...) De 2001 a 2008, a renda familiar per capita de toda a população


cresceu, sendo que entre os mais pobres a evolução foi mais acelerada. (...)
Enquanto a renda per capita dos 10% mais pobres cresceu a um ritmo de
8,1% ao ano, três vezes mais que a média nacional (2,7%), a renda dos
10% mais ricos cresceu de forma mais lenta, alcançando 1,5% ao ano
nesse período. No ano de 2008, a taxa de crescimento na renda dos mais
pobres foi a mais elevada entre todos os países do mundo.
Simultaneamente, a taxa de crescimento na renda dos 10% mais ricos,
embora menor que a de todos os demais décimos, foi superior ao que se
observou em 85% dos demais países.

Um país capitalista precisa ter um nível de concentração de renda e mantê-lo


pela própria reprodução. Os indivíduos ocasionalmente apresentam renda mas não
possuem acesso à infraestrutura adequada e serviços urbanos por não
intencionarem ou não disporem de conhecimento.

1.2 NÍVEL DE EMPREGO

A economia e os seus agentes econômicos, no caso a mão de obra, devem


possuir treinamento, habilidade, o suficiente para manter a si e a sua família.
Quando na economia encontra-se cidadãos despreparados intelectualmente, sem
treinamento e leitura suficiente, conforme ocorre principalmente em países
subdesenvolvidos como o Brasil, carece conhecimento e técnica para trazer ao
24

sistema econômico uma produtividade compatível com o nível de produção que


possa sustentar toda a sociedade e dar garantia com o salário de mercado, a
dignidade de uma família até aos mais pobres e aos menos preparados. O
trabalhador deveria ter a sua poupança na transição de um emprego para outro para
fazer uso de seu próprio excedente acumulado quando ficar esporadicamente
desempregado, como denota NERI (2011, p. 185).

O problema do trabalho no Brasil não se restringe ao desemprego ou à


quantidade de trabalho disponível, mas está intimamente ligado à qualidade
dos postos de trabalho. (...) Cerca de 57% dos pobres brasileiros estão em
famílias chefiadas por informais, leia-se por conta própria, empregado sem
carteira ou não remunerado. Os chefes desempregados contribuem apenas
em 5,4% para a pobreza brasileira. (...) São pessoas que trabalham, mas
não ganham o suficiente para sustentar suas famílias. (...) A informalidade é
mais frequente e crônica que o desemprego.

No período Lula, aproximadamente 14,7 milhões de empregos formais foram


gerados, superando FHC, Itamar Franco, Fernando Collor e José Sarney, que juntos
somaram 8,2 milhões de empregos. A melhoria do emprego formal é o atributo
substancial do surgimento da classe C segundo NERI (2011, p. 36-37).

O crescimento robusto do emprego formal, duplicado desde 2004, é o


principal símbolo do surgimento da classe média brasileira. (...) Segundo o
Cadastro Geral de Empregos e Desempregados (CAGED), entre janeiro e
julho de 2011 houve a criação líquida de 1,4 milhões de novos postos de
trabalho formais, o terceiro melhor desempenho desde 2000, ficando abaixo
apenas do mesmo período em 2010 (1,65 milhões) e 2008 (1,56% milhões).
(...) Além de 2010 ter sido ano eleitoral, ele é o ano de recuperação diante
dos efeitos particularmente agudos da crise internacional de 2008 sobre os
empregos formais.

Os dados da Pnad 2009, publicada em 8 de setembro de 2010 pelo IBGE


anunciaram que apesar da crise mundial, 483 mil trabalhadores foram formalizados,
o que significou alta de 1,5% em relação a 2008. Ao todo, 32,4 milhões de
empregados tinham carteira assinada em 2009, 59,6% do total, excluídos os
trabalhadores domésticos, outros 28,2% não tinham carteira assinada, e 12,2%
eram militares e funcionários públicos. Na época de FHC mais de 50% dos
assalariados não possuíam carteira assinada. Se comparado a 2004, o contingente
de pessoas empregadas com carteira cresceu 26,6%. No mesmo período, o total de
trabalhadores aumentou 16,7%. Entretanto, devido a crise internacional de 2008
25

milhares de postos de trabalho foram desmantelados, conforme NERI, (2011, p. 156)


reforça:

Em dezembro de 2009, observamos pelo Caged a destruição de 416 mil


postos de trabalho, queda acima do ajuste normal do mês, interrompendo a
recuperação de agosto a novembro. No entanto, houve uma retomada
depois em janeiro, quando quebramos os recordes dos respectivos meses
da série. O saldo líquido de 995 mil novos postos de trabalho no final do ano
2009 é um resultado razoável no contexto da crise internacional, quando a
maioria dos países destruiu milhares de postos de trabalhos.

Ainda consoante a mesma pesquisa, a taxa de desemprego no último ano do


governo FHC atingiu os dois dígitos, de 12,6% em 2002. No governo de Lula, a taxa
recuou de forma expressiva e fechou 2010 em 6,7%. A tabela 04 avulta essa taxa de
desocupação.

TABELA 4 – TAXA DE DESOCUPAÇÃO NO BRASIL


Taxa de desocupação (%)

Fonte: IBGE (2002 a 2010).

As razões econômicas do desemprego são o elevado preço dos salários


bem como o baixo preço do trabalho e a escassez de trabalho de qualidade. A
consequência do desemprego está atrelada ao sistema educacional deficitário
brasileiro e às políticas contra o desemprego que necessitam exteriorizar soluções
congruentes à realidade da economia.
26

1.3 PIB E INDICADORES SOCIAIS

Na contabilidade nacional dava-se grande importância ao PIB, contudo esse


indicador passou de súbito por algumas críticas pertinentes. Exemplificando, não
convém se pensar no Kuwait, cuja população é pobre em sua grande maioria, a
despeito do país ser rico. Desse modo começou a se dar ênfase ao PIB per capita,
como afiança PAULANI, BRAGA (2001, p. 232):

Na análise do desempenho econômico de um país, devemos investigar


inicialmente não o valor de seu produto agregado, mas o valor de seu
produto per capita, isto é, o produto agregado dividido pela população total.
(...) O produto per capita constitui um indicador qualitativamente superior ao
mero produto agregado total, quando buscamos avaliar o desempenho
econômico de um determinado país. (...) Na ausência de informações sobre
como o produto é verdadeiramente distribuído, o mero conhecimento do
valor do produto per capita de um determinado país é insuficiente para que
possamos tirar qualquer conclusão quanto ao estágio de desenvolvimento
em que esse país se encontra.

Mais adiante, apenas esses índices não satisfizeram e viu-se necessário


acolher os indicadores de qualidade de vida. Modernamente já há altercação tocante
à índice de bem-estar e alegria dos indivíduos. A tabela 05 corrobora o crescimento
do PIB do Brasil no decorrer dos oito anos de Lula e os dois primeiros de Dilma
Rousseff.

TABELA 5 - EVOLUÇÃO DO PIB DO BRASIL 2003 – 2012


Evolução do PIB do Brasil 2003 – 2012
(em R$ milhões)

Fonte: Contas Regionais do IBGE. 2012, último dado oficial. PR consultoria, dados
elaborados.

Por meio da avaliação do comportamento do PIB aponta-se os motivos da


queda significativa da volatilidade de crescimento do produto brasileiro entre 1980 e
2008. Essa baixa volubilidade traz efeitos positivos tanto para a distribuição de renda
27

como crescimento de longo prazo. A tabela 06 explicita a evolução do PIB brasileiro


e mundial de 2003 a 2010.

TABELA 6 – CRESCIMENTO DO PIB NO BRASIL E MUNDO 2003 - 2010


Crescimento do PIB no Brasil e Mundo 2003 - 2010 (%)
Ano Brasil Mundo
2003 1,15 3,7
2004 5,71 4,9
2005 3,16 4,5
2006 3,96 5,2
2007 6,09 5,4
2008 5,17 2,8
2009 -0,33 -0,6
2010 7,53 5,3
Média dos anos Lula 3,52 3,78
Fonte: IBGE, FMI e Ipeadata.

O IBGE aponta que os dados revistos do PIB brasileiro permitiram exibir as


seguintes taxas de crescimento: 1,1% em 2003, 5,7% em 2004, 3,2% em 2005 e 4%
em 2006, com a consequente diminuição do peso da dívida pública e da carga
tributária em relação ao PIB.
Crescimento econômico é genuinamente quantitativo e é empregado no
PIB, na indústria e pode abordar o crescimento do emprego. Contudo, de nada
adianta o crescimento acontecer se não houver a qualidade acompanhando. Como a
qualidade melhorou e a quantidade caiu, chega-se a conclusão de que prosperou
para alguns mas não para todos, denotando segregação. Os mais prejudicados são
aqueles do centro, classes B, C e D. A tabela 07 coteja os crescimentos nacional e
mundial de 1994 a 2009.

TABELA 7 - CRESCIMENTO ANUAL DO BRASIL E MUNDO 1994-2009


Crescimento anual do Brasil e Mundo 1994-2009
Governo Período Crescimento Crescimento Brasil em relação
Anual Brasil Anual Mundo ao Mundo
FHC 1994 a 2002 4,12% 5,25% 78,45%
Lula 2002 a 2009 6,06% 6,14% 98,68%
Fonte: Dados do FMI.

O Brasil cresce pouco mas com qualidade. Ao final do período Lula, o Brasil
aproximou-se da média de crescimento econômico do mundo. GREMAUD,
VASCONCELLOS, JÚNIOR (2009, p. 500) levanta uma análise ponderosa ao
28

teorizar acerca das taxas de crescimento dos governos FHC e Lula equiparando
com as taxas de crescimento mundial.

A taxa média de crescimento do governo Lula situou-se ligeiramente acima


da taxa média do governo FHC, 2,6% a.a. contra 2,1% (no segundo
mandato de FHC), ou 2,3% nos dois mandatos. Mas, se confrontarmos esse
desempenho com as taxas de crescimento mundial, verificamos que este foi
ligeiramente pior, situando-se em média 45% abaixo do crescimento
mundial, enquanto no II FHC, o Brasil ficou 40% abaixo do crescimento
mundial.

Os indicadores sociais são mecanismos empregados para intitular as nações


de ricas, emergentes ou pobres e traduzem inúmeros aspectos do cotidiano dos
cidadãos em escassos números, cada um deles retratando uma aparência sui
generis da vida em sociedade, como faz notar GREMAUD, VASCONCELLOS,
JÚNIOR (2009, p. 61):

Os indicadores sociais fornecem informações que dizem respeito


diretamente à qualidade de vida da população de um país, como esperança
de vida da população ao nascer, médicos e leitos hospitalares por habitante,
acesso a água potável etc. Há outras indicadores sociais, especialmente os
relacionados com a educação, como a taxa de alfabetização ou a
quantidade média de anos na escola, que permitem examinar as condições
de qualificação e, portanto, de oportunidade no mercado de trabalho da
população do país.

O PIB per capita é o que se produz no país dividido pelo número de


habitantes bem como uma evolução do PIB. Concerne aos indicadores sociais
porque provém lógica para o social e também resgata a questão do índice de Gini
por mostrar como o produto está distribuído na economia. Uma nação com PIB per
capita mais elevado está tendente a apresentar um maior IDH, como dilucida
GREMAUD, VASCONCELLOS, JÚNIOR (2009, p. 59-61) em sua obra.

O conceito de PIB per capita é na verdade uma média, representando a


renda média da população de um país. Isso não quer dizer que todas as
pessoas daquele país tenham a mesma renda, ou o mesmo acesso a bens.
A população dispersa-se em torno dessa média. (...) Mesmo com um PIB
per capita razoável, quanto pior a distribuição da renda de um país, ou seja,
quanto mais essa renda concentrar-se nas mãos de alguns poucos
habitantes, menos desenvolvido deve ser considerado o país. (...)

Na média, a ascensão do PIB nos dois mandatos de FHC foi meramente


2,3% ao ano, já nos oito anos de Lula foi de 3,5%, denotando a prosperidade do
29

crescimento. O gráfico 03 correfere os crescimentos do PIB e PIB per capita


brasileiros entre 2000 e 2010.

GRÁFICO 3 - RELAÇÃO ENTRE O CRESCIMENTO DO PIB E O PIB PER CAPITA DO BRASIL 2000 – 2010

Fonte: IBGE.

Os programas assistencialistas entram no cálculo do PIB pois é um gasto do


governo e provém da sociedade. É a renda que o governo obtém e depois distribui
conforme a sua política. É uma redistribuição porque se esse dinheiro não sai da
atividade produtiva do imposto de renda, pessoa física, pessoa jurídica e todos os
impostos a fim de compor a renda do governo federal para posteriormente devolver,
de qualquer maneira isto caracterizaria renda de mesma forma no entanto mais
concentrada.

1.3.1 Expectativa e qualidade de vida

O IDH é uma classificação do PNUD que mede qualidade de vida dividindo as


nações em desenvolvidas, emergentes e subdesenvolvidas. PAULANI, BRAGA
(2001, p. 241) esclarece minuciosamente.

O índice de desenvolvimento humano – IDH, criado pelas Nações Unidas,


tem como objetivo avaliar a qualidade de vida nos países. O IDH, que
considera em seu cálculo três variáveis, quais sejam, saúde, educação e
renda per capita, varia entre zero e um, classificando os países em três
grupos: os de baixo desenvolvimento (IDH menor do que 0,5); os de médio
desenvolvimento (IDH entre 0,5 e 0,8); e os de alto desenvolvimento (IDH
maior do que 0,8).
30

A qualidade de vida brasileira melhorou, ocasionalmente com demasiada


insuficiência em alguns segmentos. Os mais prejudicados são os indivíduos
pertencentes aos estamentos do centro, classes B, C e D. O gráfico 04 elucida o
progredimento do IDH de 1980 a 2013.

GRÁFICO 4 - ASCENSÃO DO IDH BRASILEIRO 1980 – 2013


Ascensão do IDH brasileiro 1980 – 2013
(índice de 0 a 1)

Fonte: ONU

O compêndio MENSAGEM AO CONGRESSO NACIONAL, (2010, p. 134)


ilustra-nos que o Brasil conservou no ano 2010 a classificação de nação de elevado
desenvolvimento humano atribuída pelo IDH em 2005.

(...) A elevação na dimensão absoluta do índice de 0,807 em 2006 para


0,813 em 2007 esteve relacionada principalmente ao aumento do PIB per
capita (...), embora a edição
especial do relatório anual “Situação Mundial da Infância do Fundo das
Nações Unidas para a Infância" (UNICEF) aponte que o País faz parte do
grupo de 25 nações - em meio a 196 analisadas – que mais avançou na
redução de mortalidade de menores de 5 anos, atingindo em 2008 a marca
de 22 mortes para cada mil nascidos vivos. O relatório cita os avanços
também na redução de desnutrição em crianças menores de 2 anos – de
2000 a 2008, o índice caiu 77%. (...) Em 2001, 920 mil crianças em idade
escolar estavam fora das salas de aula. Em 2008, o número caiu para 570
mil.

Os recenseamentos indiciam o fato dos brasileiros estarem gradativamente


vivendo mais, avultando a percentagem de idosos. O IBGE designou no dia 2 de
agosto de 2013 que a expectativa de vida do brasileiro ao nascer cresceu 11,2 anos
entre 1980 e 2010. Em 1980, a perspectiva média de vida não passava dos 62,5
31

anos. Trinta anos depois, chegava a 73,7 anos. Isso indica que a esperança de vida
no Brasil cresceu, em média, 4 meses e 15 dias a cada ano.

1.3.2 Mortalidade infantil e saneamento básico

PAULANI, BRAGA (2001, p. 237) focaliza em uma tônica ponderosa na sua


análise concernente à indicadores sociais tais como a mortalidade infantil e a
expectativa de vida.

Dentre os indicadores de qualidade de vida, a taxa de mortalidade infantil e


a esperança de vida ao nascer ou expectativa de vida são dos mais
expressivos. Espera-se que, quanto mais desenvolvido o país, menor seja a
taxa de mortalidade infantil e maior seja a expectativa de vida de seus
habitantes.
(...) Podemos perceber uma discrepância muito grande, em termos de
expectativa de vida e de mortalidade infantil entre os países pobre, como o
Haiti e Serra Leoa, e os países mais ricos como Estados Unidos e
Alemanha.

O fato de o Governo ter adotado a estratégia de divulgar constantemente os


produtos brasileiros no exterior, especialmente nas viagens do Presidente da
República e de seus ministros, contribuiu para difundir o Brasil como grande
exportador. (...) No que diz respeito ao Brasil, o desempenho das suas relações de
comércio com o exterior não se manteve imune a essa conjuntura desfavorável.
32

GRÁFICO 5 – TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL 1980 – 2009


Taxa de mortalidade infantil 1980 - 2009

Fonte: IBGE.

A problemática do saneamento no Brasil é momentosa pela debilidade do


país no mecanismo de eliminação de dejetos e na oferta de água tratada.

GRÁFICO 6 – SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL 2000 – 2008

Fonte: Atlas do Saneamento 2011 do IBGE.

Segundo o último Censo (IBGE, 2010) a proporção de domicílios com


saneamento adequado subiu de 45,3% em 1991 para 56,5% em 2000 e 61,8% em
2010.
33

1.3.3 Saúde e educação

A educação não é apenas o processo de alfabetizar, pois a criança deve


possuir uma família estruturada com um lar para ir e voltar. Um aluno que curse o
colégio por satisfatórios anos auxiliará no futuro o desenvolvimento da Ciência,
Tecnologia, etc. A alfabetização é o meio mais operativo de gerar adultos que
prezem seus direitos e os dos demais. Nas palavras do professor Neri, "o brasileiro é
um povo cuja oportunidade de educação de qualidade não foi dada."
Desafortunadamente, o ensejo de educação de qualidade não foi outorgado ao
brasileiro. NERI, (2011, p. 169) aclara este indicador da seguinte guisa:

A educação, como qualquer política pública, afeta a vida das pessoas por
meio da melhoria das condições de acesso e/ou de retorno social e privado
da educação o que nos remete ao tradicional dilema entre equidade e
eficiência. Esses elementos ajudam a entender os caminhos da educação
como ferramenta para alcançar a produtividade dos trabalhadores e das
empresas, e consequentemente impulsionar a competitividade do país.

Os brasileiros investem insuficientemente na educação, mesmo apesar dela


gerar um altíssimo retorno privado, porque ninguém da alta cúpula dos dirigentes
tanto políticos como empresariais mostra-se preocupado. Não obstante, deveria
haver um investimento maciço neste imprescindível indicador social, em vista de
numerosos economistas como PAULANI, BRAGA (2001, p. 238) sugerirem.

Além da expectativa de vida e da mortalidade infantil, ambos inseridos no


conjunto de indicadores relacionados com as condições de saúde, a
educação revela-se como o outro importante indicador da qualidade de vida
de um país. Em boa parte dos modelos de crescimento econômico, a
variável educação é considerada extremamente importante a longo prazo.

Da mesma forma que ainda há suporte à educação, existe suporte à saúde


até o presente momento tão somente pela razão do governo possuir uma exigência
nas suas definições de políticas que emana da escolha de planos econômicos,
planos de política econômica. NERI, (2011, p. 171) aborda esse paradoxo na sua
publicação A nova classe média: o lado brilhante da base da pirâmide.

O que se destaca nas causas da evasão da escola para jovens na faixa de


15 a 17 anos, são os elementos ligados à falta de demanda por educação,
que respondem por 67,7% das motivações apresentadas pelos próprios
jovens contra 10,9% das deficiências de oferta alegadas.
34

No âmbito da demanda, há que se distinguir a falta de interesse intrínseca,


talvez por desconhecimento dos prêmios oferecidos pela educação, com
40,3% dos 27,1% da necessidade de trabalho e renda. (...) De toda forma,
esse tipo de política teria, segundo os dados, um potencial limitado a menos
de um terço das pessoas de 15 a 17 anos que estão fora da escola.

O Governo Lula investiu menos em escolas que seu antecessor. O estudo


"Financiamento da Educação no Governo Lula" da Campanha Nacional pelo Direito
à Educação assevera que a educação vem perdendo espaço no orçamento da
União em vista da porcentagem do capital investido nesse setor cair de 2,88% em
2003 para 2,67% em 2004 e 2005 e para 2,44% em 2006, voltando em 2007 ao
mesmo patamar que ocupava no início do governo com 2,87%. Na educação, o
investimento por ano de 1995 a 2005 foi, em média, de 4% do PIB , sendo 3,1%
destinados à educação básica e 0,9% ao ensino superior. A qualidade de ensino
brasileira caiu muito e para resolver isso não é de uma geração para outra. De
acordo com NERI, (2011, p. 169):

O nível educacional do brasileiro se encontra em um nível muito baixo em


comparações internacionais com 7,27 anos de estudo para a população
com 25 anos ou mais de idade. Por outro lado, as séries apresentam
movimento ascendente ao longo do tempo. Decomposições dos
impulsionadores do crescimento de renda indicam que, tudo mais
constante, o aumento de escolaridade deveria gerar um ganho de 2,2
pontos de porcentagem, ao ano, de renda per capita. Esse patamar é ainda
maior para os 20% mais pobres da população brasileira correspondendo a
5,5 pontos de porcentagem ao ano.

O PNAD 2009 constata o fato do nível de escolaridade brasileiro ter


aprimorado. Do total da população com mais de 25 anos de idade, 10,6% tem nível
superior completo, ante 8,1% em 2004. Entre essa parcela da população, 12,9% não
têm instrução - contra 15,7% em 2004. Outros 36,9% têm o ensino fundamental
incompleto, e 8,8% finalizaram o ensino fundamental. Já 23% da população têm o
ensino médio completo. Mesmo dadas todas as dificuldades, NERI, (2011, p. 35)
aponta uma melhoria.

Da mesma forma, as evoluções do nível e da desigualdade de anos de


escolaridade indicam uma melhoria continuada no futuro. Aumentos nos
anos de escolaridade no período 2003-09 são responsáveis por 65,3% do
expressivo crescimento de 7,95% ao ano da renda per capita média dos
20% mais pobres no país, correspondendo, no extremo oposto da
distribuição de renda, a 24% do aumento de 3,66% dos 20% mais ricos.
35

O analfabetismo é um câncer social na visão do mundo moderno. Para todos


os países que prosperaram nos últimos vinte anos a educação foi prioridade. A
ausência de motivação aflora nos graus mais altos da escola secundária. Nesse
quesito, há de se ressaltar a ênfase que NERI, (2011, p. 181) atribui na demanda
predecessora por ensino profissionalizante.

A demanda pregressa por educação profissional está positivamente


correlacionada com a escolaridade das pessoas, passando de 3% para os
sem escolaridade regular, chegando a 23,5% aos oito anos completos de
estudo, fase de entrada no ensino médio, quando cresce ainda mais
aceleradamente, atingindo o ápice nos dez a 12 anos completos de estudo
regular, ocorrendo aqui um planalto em torno dos 45%. Esse é o ponto em
que ocorre a passagem do ensino médio para o ensino superior. A partir
dos 12 anos de estudo a demanda começa a cair chegando aos 31,1% nos
16 anos de estudo, estabilizando a partir desse ponto.

O Censo de 2010 mostra que a taxa de analfabetismo na população de 15


anos ou mais de idade caiu de 13,63% em 2000 para 9,6% em 2010. Em 2000, o
Brasil tinha 16.294.889 analfabetos nessa faixa etária, ao passo que os dados do
Censo 2010 apontam 13.933.173 pessoas que não sabiam ler ou escrever, sendo
que 39,2% desse contingente eram de idosos. NERI, (2011, p. 169) analisa as
políticas educacionais sob a ótica equitativa.

Níveis mais baixos de ensino são mais equitativos que níveis mais altos,
pois os pobres vão ficando para trás na escalada educacional. A pós-
graduação apresenta um índice zero e o menor de alfabetização de adultos
tem o maior de 1,9. Passando aos níveis mais usuais, o ensino fundamental
regular tem um índice de 1,57 contra 0,63 do ensino médio e 0,07 do ensino
universitário. Isto significa que um real adicional em educação fundamental
tem 2,5 vezes mais capacidade de chegar ao pobre do que se for aplicado
no ensino médio e 22,5 vezes mais do que se for no ensino superior.

Desenvolvimento econômico é quantitativo mais qualitativo e pode atrelar o


emprego, a saúde e a educação. O desenvolvimento envolve também a qualidade.
O IPEA relatou no ano 2010 que "em 1990 a taxa era de 59,3 óbitos por 100 mil
habitantes. Em 1998, recuou a 52 óbitos." Isto denota melhora nas condições de
saúde e sobrevivência das pessoas como também significa o aumento da
expectativa de vida pela melhoria do bem-estar pelo acesso a bens e uma
diminuição do índice de violência. "Mas entre 2003 e 2006 aumentou quase 4% -
passando de 47 para 48,8 óbitos." Em sendo assim, apercebe-se a razão da curva
ser descendente.
36

1.3.4 Linha de pobreza

A linha da pobreza designa qual o mínimo de renda primordial a um


cidadão para satisfazer suas necessidades. A delimitação da linha da pobreza na
visão absoluta é alicerçada na estimação das necessidades primordiais e recursos
indispensáveis para atendê-las. PAULANI, BRAGA (2001, p. 234-235) dilucida a
acepção de linha de pobreza no seu estudo.

A linha de pobreza indica qual é o mínimo de renda, em termos de valor,


que cada habitante deve possuir para satisfazer suas necessidades
básicas. Em casos como esse, não há normalmente um consenso quanto
ao valor que efetivamente representaria esse mínimo de renda, já que tudo
depende dos elementos incluídos nesta "cesta básica da sobrevivência".

Marcelo Cortês Neri constata que "[...] 12 milhões de pessoas saíram da


pobreza, contando o acréscimo de oito milhões na população previsto desde 2009.
[...] A proporção de pobres caiu em 50,6% durante os oito anos do mandato de
Lula." O gráfico 07 ratifica essa asserção.

GRÁFICO 7 - PROPORÇÃO DA POPULAÇÃO POBRE


Proporção da população pobre (%)
(média móvel em 12 meses)

Fonte: FGV. Elaboração: Ministério da Fazenda. Estimativas produzidas com base em dados do
IBGE (PNAD, PME e Censo).

O economista da FGV complementa: "Este ponto merece ser ressaltado, pois


a primeira meta do milênio da ONU foi reduzir a pobreza em 50% ao longo de 25
anos (de 1990 a 2015)." Na sua obra A nova classe média: o lado brilhante da base
37

da pirâmide, NERI, (2011, p. 155) disserta no tocante às vicissitudes na


desigualdade da renda.

As melhoras da desigualdade medida pelo Índice de Gini (leia-se queda)


seguem em linhas gerais os movimentos da renda média, caindo à taxa de
1,5% ao ano de maio de 2002 a maio de 2008, véspera da crise, subindo
0,3% em função dela até maio de 2009 e voltando à trajetória de queda nos
dois períodos seguintes, mostrando alguma desaceleração no final do
período. (...) Incidentalmente, a taxa de redução da desigualdade nos
últimos 12 meses é um pouco acima daquela observada nas séries da Pnad
entre 2001 e 2009, período também conhecido como de marcada redução
da desigualdade.

Em conformidade com análise feita pelo Ipea no ano 2010, a população


abaixo da linha de pobreza está em forte queda desde 2003. Tendo como base as
pessoas que ganham meio salário mínimo (o equivalente a R$ 232, em 2009), a
pobreza caiu 64%, quando comparada a de 1995. O exemplar MENSAGEM AO
CONGRESSO NACIONAL, (2010, p. 133) propõe um artifício alternativo para
observar o declínio na desigualdade.

Em 2001, a renda dos 20% mais ricos era 27 vezes a dos 20% mais pobres
e em 2008 passou a ser 19 vezes, uma redução de 30% nessa medida de
desigualdade em 7 anos. Neste ritmo, o País foi capaz de atingir, em 2005,
a meta (...) de reduzir à metade a extrema pobreza.
Além da queda da desigualdade e da pobreza em termos de renda, os
números da PNAD 2008 revelam a expansão do acesso da população, em
especial dos grupos mais vulneráveis, a uma ampla variedade de
oportunidades, como o acesso a serviços habitacionais básicos, à
informação e à educação.

A história elucida-nos que a desproporção financeira no Brasil não é uma


atribulação recente. A desigualdade social é cultural e envolve numerosos fatores
como acesso à educação, saúde, saneamento. NERI, (2011, p. 120) argumenta
como refreá-la.

A década pode nos mostrar os caminhos aplicando-se ao período de 2001 a


2008 a metodologia de decomposição das variações do Gini, que é a
medida de desigualdade mais usada. A renda do trabalho explica 66,86%
da redução da desigualdade observada entre 2001 e 2008 o que confere
algum grau de sustentabilidade à mudança.

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso propalou que " (...)


com o Real, a população pobre diminuiu de 35% para 28% do total. A pobreza
continuou caindo até atingir 18% em 2008, fruto do efeito acumulado de políticas
38

sociais e econômicas." NERI, (2011, p. 45) por meio de teorização denota os


avanços que tivemos como sociedade ao longo das duas últimas décadas.

Os anos 1990 podem ser chamados de década da estabilização, após o


advento do Plano Real em 1994. Já os anos 2000 podem ser chamados de
década da queda da desigualdade da renda, já a partir de 2001. Em 2004, a
redução de desigualdade vem acompanhada da volta do crescimento da
economia e da aceleração de novos empregos com carteira. Ou seja,
tivemos conquistas em dois de nossos históricos problemas coletivos,
desigualdade e informalidade. (...) Depois das turbulências financeiras
associadas ao pleito de 2002, a estabilidade econômica valeu como uma
espécie de segundo Plano Real.

O Brasil é uma nação continuadamente desigual por essência. Uma pequena


parcela da população usufrutua de bens, capital e recursos enquanto a camada
majoritária desprovê dos mesmos. O melhor meio de atenuar a pobreza é por
intermédio de elevadas taxas de crescimento econômico.
39

2 POLÍTICA MACROECONÔMICA DE LULA

2.1 NÍVEL DE INVESTIMENTO

Investimento é quando coloca-se o dinheiro na atividade física que vai


agregar fatores de produção, capital, trabalho, tecnologia e irá aumentar o produto
da economia. Investir no país não é no sentido do investimento tradicional de
multiplicar e sim melhorar o capital humano. Despender em mais escolas,
computadores, programas e dar condições do jovem e das crianças chegarem a um
curso superior com oportunidades. O IPEA sustentou em 2010 que o governo
federal costumava promover amplos cortes de investimento em momentos de crise
internacional, com cortes de orçamentos concentrados nessas aplicações. A
mudança, porém, ocorreu com mais intensidade de 2006 em diante - quando os
investimentos públicos representavam 2,9% do PIB. Os recursos das estatais
responderam, em 2009, por 2% do PIB. Foram R$ 59,8 bilhões, contra R$ 18,7
bilhões de 2003 - três vezes mais. FORTUNA, (2008, p. 471) esclarece a temática
dos fundos de investimento.

O segredo dos Fundos de Investimento é a ideia do condomínio - a


aplicação em conjunto -, ou seja, embora os aplicadores tenham o direito de
resgatar suas cotas a qualquer momento, (...) as instituições financeiras
estruturam seus Fundos de acordo com algumas variáveis exógenas
determinadas pela CVM como, por exemplo, os limites de composição da
carteira de cada tipo de fundo que, por sua vez, vão determinar o perfil de
liquidez do mesmo. Entretanto, vai ser a variável endógena da escolha da
composição risco/rentabilidade (retorno) desejada pelo gestor do fundo que
vai criar a "personalidade" de cada Fundo e atrair cada perfil investidor.

De acordo com estudo do Ipea publicado no dia 4 de setembro de 2012, o


investimento nas áreas da educação, saúde, previdência, assistência e outras saltou
de 12,9% do PIB para 15,5% no governo Lula. No período anterior (FHC - 1995 a
2002) foi de 11,2% para 12,9%. Os investimentos federal, estadual e municipal
cresceram 145% entre 2003 e 2010 segundo levantamento divulgado no dia 29 de
dezembro de 2011 pelo IPEA. Os investimentos públicos saltaram em valores reais
de R$ 42,6 bilhões em 2003 à R$ 104,3 bilhões em 2010. No início do seu governo o
valor condizia a 1,5% do PIB, enquanto no último ano o investimento era equivalente
a 2,9% do PIB. Esse aumento dos valores deve-se a recuperação de obras de
infraestrutura e a facilitação da política fiscal.
40

2.2 COMPORTAMENTO DOS IMPOSTOS, SUBSÍDIOS E TRIBUTOS

O correto do subsídio é servir alguns setores que são pontos estratégicos e


não a exigência desse ou daquele segmento empresarial que dá contribuições com
as eleições. O seu papel é justamente para dar alento a um setor ou setores que
não atendem na sua prosperidade no mesmo patamar dos outros. Conforme clarifica
o GREMAUD, VASCONCELLOS, JÚNIOR (2009, p. 180):

Enquanto o imposto aumenta o preço da mercadoria, o subsídio tem por


objetivo rebaixá-lo. O subsídio pode ser dado diretamente ao consumidor:
este pagaria o custo de produção do bem, mas receberia um reembolso; ou
pode ser passado ao produtor; este vende o produto por um preço abaixo
do custo e o governo cobre a diferença.

O subsídio quando utilizado para cesta básica objetiva atender ao trabalhador


para que esse não venha a exigir salários maiores. O subsídio à produção é quando
o governo faz uma lei por exemplo para ajudar os vendedores de máquinas
agrícolas que necessitam vendê-las por 100 mil reais mas o Estado faz um modo
com que chegue por 80 mil reais ao produtor. Este terá um custo menor e não
precisa comercializar tão caro os alimentos para não encarecer depois à sociedade.
O subsídio voltado para a comercialização é por exemplo o consumidor pagar mais
baixo no gás porque o governo entra com algum diferencial. Uma redução de custo
para o produtor apresenta como objetivo não apenas aumentar a renda do produtor
mas também permitir que o produto chegue no consumidor com o preço menor. O
dinheiro sai de um setor rumo a outro e o governo é um intermediário disso nas suas
políticas. CARVALHO, SILVA (2007, p. 66) no seu estudo, salienta que:

o subsídio, quando empregado como instrumento de política comercial,


consiste em pagamentos, diretos ou indiretos, feitos pelo governo, para
encorajar exportações ou desencorajar importações. Em ambos os casos,
equivale a um imposto negativo e representa, portanto, uma redução de
custo para o produtor. Em geral, a concessão de subsídios, se dá por meio
de pagamento em dinheiro, redução de impostos ou financiamentos a taxa
de juros inferiores às de mercado.

Dar subsídio ao setor agropecuário é porque este não pode lançar um produto
muito caro visto que irá atender a demanda da sociedade e as necessidades de
alimentação principalmente da população trabalhadora. Caracteriza alguns subsídios
no PAC, exemplificando, a partir do momento em que a empreiteira contratada ao
41

serviço consegue comprar máquinas, equipamentos e produtos de obras abaixo do


preço de mercado em função do governo estar entrando com uma parte através de
lei específica para o aço. Também caracteriza-se subsídio na ocasião onde o Estado
elimina todas as tarifas de importação ou as diminui para um carro chinês poder
entrar. A mão de obra não pode ser muito elevada pois onera o produto como um
todo na economia. Por intermédio dos tributos, o Estado provê educação, saúde e
segurança pública à população. Tributos é um imposto negativo porque é renda para
o governo. De acordo com RIANI, (2002, p. 160):

A aplicação de um tributo poderá afetar a renda dos indivíduos e suas


escolhas perante o sistema de mercado. Esta interferência pode refletir-se
na escolha entre os produtos, no consumo presente e no consumo futuro ou
até mesmo entre bens e lazer.

Elevações na carga tributária prejudicariam austeramente o comportamento


do PIB, mesmo no curto prazo, por onerar tanto empresários quanto trabalhadores.

2.3 COMPORTAMENTO DOS INDICADORES DA INDÚSTRIA

O relatório da Fiesp do mês de maio de 2015 mostra o progresso da atuação


da indústria de transformação, sustentando que houve um salto da participação da
Indústria de Transformação no PIB entre 2002 e 2003, passando de 14,4% para
16,9%. Este salto é provavelmente decorrente de dois fatores. Primeiramente, no
final de 2002, houve uma forte desvalorização do real frente ao dólar devido às
incertezas políticas, que alavancou as exportações de produtos industriais no
primeiro semestre de 2003. Esta recuperação da Indústria de Transformação
ocorreu em um período de baixo crescimento econômico – o PIB de 2003 cresceu
apenas 1,2% enquanto a Industria de Transformação expandiu 2,4%. Portanto, este
ganho de participação da Indústria de Transformação ocorreu em detrimento da
queda de participação da construção e dos serviços. Além disso, um segundo fator
que pode ter influenciado a variação de 2002 e 2003 foi o aumento dos preços
industriais no primeiro semestre de 2003, que impactou no deflator setorial. A
Indústria de Transformação teve um maior aumento entre os deflatores setoriais em
2003, o que também influenciou na mudança de participação desta em detrimento
dos demais setores. No ano, a Indústria de Transformação teve um aumento de
42

32,5%, enquanto o total do PIB teve um aumento de 14,2% no deflator. O gráfico 08


aduz a avultação da atividade da indústria de transformação.

GRÁFICO 8 - EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO NO PIB 1947 – 2014

Fonte: IBGE. Elaboração: Depecon-FIESP segundo método Bonelli e Pessoa, 2010.

Em conformidade com os indicadores divulgados 14 de fevereiro de 2011 pela


Fiesp, dos 33 setores nos quais a federação divide a indústria nacional para a
pesquisa, apenas 13 registraram crescimento no Coeficiente de Exportação em
2010 em relação ao ano anterior: indústrias extrativas; alimentos e bebidas; couro e
seus artefatos; celulose e papel; outros equipamentos de transportes; automóveis,
caminhões e ônibus; aeronaves, peças e acessórios para veículos automotores;
máquinas e equipamentos para extração mineral e construção; produtos
farmacêuticos; perfumaria, higiene e produtos de limpeza; produtos diversos;
produtos de minerais não metálicos e artigos de borracha e plástico. Em
contraponto, NERI, (2011, p. 43) apresenta o declínio da indústria brasileira
acarretado pela crise financeira de 2008 iniciada nos Estados Unidos.

Os inicialmente ocupados na indústria sofreram maiores quedas relativas


em relação ao padrão dos demais setores (11% maiores). Já os indivíduos
ocupados antes no setor financeiro não sofreram deslocamentos vis-à-vis
sua posição relativa inicial. Apesar de a crise ter tido origem financeira, não
foi nessa área que se observou o maior impacto nas rendas. Estes dados
são consistentes com a divergência de lucratividade das empresas
industriais e bancárias em 2009.

Já em relação ao Coeficiente de Importação, através de dados anunciados


dia 14 de fevereiro de 2011, também houve crescimento em 30 dos 33 setores no
43

ano de 2008 em comparação a 2009. Apenas três setores registraram queda:


produtos de madeira; calçados e máquinas e equipamentos para extração mineral e
construção.

2.4 VIAGENS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS DO BRASIL

O brasileiro, historicamente, não gastava demasiado com viagens. Houve


avanço nesse período do governo Lula, fornecendo um indicativo de que as pessoas
estão saindo mais do país porque estão economicamente melhores, resultado da
junção de fatores como mobilidade social, ampliação da renda, aumento do crédito,
declínio do desemprego e iniciativas que favorecem o turismo. O Banco Central
estimou em 2010 que os brasileiros despenderam 15,97 bilhões de dólares em
viagens internacionais, sendo 5,9 bilhões de dólares apenas nos Estados Unidos,
valor este, que propiciou aos brasileiros a posição de estrangeiros que mais
despendem por pessoa no país, aproximadamente 5.000 dólares per capita de
acordo com o Departamento de Comércio americano. Nesse mesmo ano, 1,1
milhões de brasileiros foram aos Estados Unidos, 870.000 à Argentina e 348.000 à
França. A OMT sustenta que "o número de viagens dos brasileiros para o exterior
cresceu 62% de 2000 a 2010, ano em que chegou a 5,3 milhões. No mesmo
período, os gastos dos turistas brasileiros cresceram 325%."
Os dois governos Lula estiveram muito influenciados pela alavancagem
internacional, especialmente da China, cuja grande avidez de matérias-primas
favoreceu o Brasil pela valorização dos preços e em maior quantidade pelo volume
exportado. No segundo mandato, Lula aproveitou a boa maré internacional mesmo
apesar da situação fiscal continuar deteriorando-se e em meio a crise iniciada nos
Estados Unidos em 2008. O crescimento do PIB, novamente propulsionado pela
procura da China, que continuou vigorosa e consolidou-se como maior parceiro
comercial do Brasil, foi de 6,1% em 2007, 5,1% em 2008, de -0,2% em 2009. Todos
esses fatores em conjunto contribuíram para o país superar a média mundial em
virtude da grave recessão nos países desenvolvidos. A bibliografia tem nos dito que
na maioria dos casos nós avançamos mas não tanto quanto os chineses. O IMB
apontou no dia 20 de março de 2016 que nem de longe a China explica toda a
economia brasileira. De tudo o que o Brasil exporta para a China, os produtos
44

manufaturados não chegam nem a 5%. A indústria brasileira que cresceu forte no
período 2004 a 2011 não tem os chineses como principal cliente.

2.5 IMPORTAÇÕES E EXPORTAÇÕES

Segundo os dados das contas nacionais do IBGE, enquanto no governo FHC


as exportações respondiam, na média, por 9,9% do PIB brasileiro, no governo Lula
esse percentual passou para 14,2% do PIB. As importações também cresceram,
mas de uma maneira menos acentuada. Enquanto no governo FHC as importações
representavam 11,10% do PIB, na média do governo Lula elas respondem por
12,10% do PIB brasileiro. No livro MENSAGEM AO CONGRESSO NACIONAL,
(2010, p. 35-37) são designadas as exportações e as importações realizadas pelo
país ao longo de 2009.

(...) Em 2009, a pauta das exportações brasileiras foi composta por 57,2%
de produtos industrializados (43,7% de manufaturados e 13,5% de
semimanufaturados) e 40,7% de produtos básicos.
(...) No tocante às importações, sob a ótica de categoria de uso dos
produtos, as aquisições de matérias-primas e produtos intermediários
lideram a pauta (participação de 46,8% sobre o total das compras), seguido
por bens de capital (23,3%), bens de consumo (16,8%) e combustíveis e
lubrificantes (13,1%).

Em consonância com os números do Mdic, as importações passaram de US$


47,323 bilhões, no fim de 2002, para US$ 175,892 bilhões em 2010. O aumento das
importações, nos oito anos de governo Lula, beirou, portanto, 390%. As exportações
brasileiras fecharam 2010 com cerca de US$ 200 bilhões, ultrapassando as vendas
de US$ 197,942 bilhões em 2008. As exportações elevaram-se 330%, se
comparadas com 2002, crescendo bem mais que as importações até 2006, quando
a balança comercial registrou o saldo recorde de US$ 46,456 bilhões. A tabela 08
aduz os fundamentos pelos quais o Brasil foi alcunhado como grande exportador.
45

TABELA 8 - EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO 2006-2009


Evolução do Comércio Exterior brasileiro 2006-2009

(**)- Previsão para 2009.


N.D.- Não disponível.
Fonte: Secex/Mdic, SRFB/MF, BACEN/MF, FMI e OMC.

No tocante à balança comercial, GREMAUD, VASCONCELLOS, JÚNIOR


(2009, p. 494) evidencia as elevações das exportações e importações brasileiras no
primeiro mandato do Lula.

As exportações sofreram forte elevação ao longo de todo o primeiro


mandato, aproximando-se da casa dos US$ 100 bilhões em 2004 e
continuando a se elevar atingindo US$ 137 bilhões em 2006. O crescimento
acumulado ao longo desse período foi superior a 130%. (...) No período
como um todo as importações passaram de um valor de US$ 47 bilhões em
2002 para aproximadamente US$ 92 bilhões em 2006, ou seja,
praticamente dobraram no período.

Lula manteve abertas as vias de negociação com as nações do Primeiro


Mundo para obter investimentos e negociar a dívida externa. A esse respeito, a
MENSAGEM AO CONGRESSO NACIONAL, (2010, p. 35-36) deslinda a
descentralização dos rumos das exportações do Brasil.

Nota-se que as vendas externas do Brasil mais que triplicaram entre 2002 e
2008, ao passar de US$ 60,4 bilhões para US$ 197,9 bilhões,
representando acréscimo de 228%, taxa acima de registrada no comércio
mundial que alcançou 150% no mesmo período comparativo. (...) Quando
se analisa a participação do valor das exportações brasileiras por blocos
econômicos, [verifica-se] uma contínua desconcentração de destinos entre
2003 e dezembro de 2009, diminuindo a vulnerabilidade externa das
exportações brasileiras, tendo em vista que houve ampliação dos principais
países compradores dos produtos nacionais.
46

A prioridade da política externa de Lula foi a integração sul-americana e


reconstruir o Mercosul, tendo como primeiro estágio a ajuda em petróleo à
Venezuela. No que concerne ao Alca, o então presidente referiu ser "uma proposta
de anexação, não de integração". A tabela 09 denota as relações comerciais do
Brasil com os demais blocos econômicos.

TABELA 9 - DESTINO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS

1990 1993 1997 2001 2003 2006


Mercosul 4,1 13,9 17,4 10,93 7,76 10,15
União 30,9 25,9 28,9 25,53 24,77 22,1
Europeia
Nafta 27,9 24,5 22,4 28,89 28,21 22,84
Outros países 37,1 35,7 31,3 34,68 39,26 44,91
Fonte: Indicadores IESP e Boucinhas e Campos (2000).

Em conformidade com as Séries Históricas do Ministério do Planejamento, de


2002-2008, a corrente de comércio entre o Brasil e os países do Mercosul
apresentou forte crescimento, passando de US$ 8,9 bilhões, em 2002, a US$ 36,6
bilhões, em 2008. A recente crise econômica mundial teve impacto no comércio
intra-bloco, com a redução de 27,38% no valor das exportações brasileiras para a
Argentina e de mais de 40% do saldo comercial favorável ao Brasil na balança com
o Paraguai, entre outras. De 2000 a 2009, o fluxo de comércio entre Brasil e
Argentina aumentou em cerca de 342%, passando de US$ 7 bilhões (2002) para
US$ 24 bilhões (2009). No que se refere ao intercâmbio com Paraguai e Uruguai,
observa-se crescimento respectivo de 239% e 289% durante o mesmo período. Com
o Paraguai, a corrente de comércio passou de US$ 942 milhões para 2,26 bilhões;
com o Uruguai, de US$ 897 milhões para US$ 2,6 bilhões. GREMAUD,
VASCONCELLOS, JÚNIOR (2009, p. 560-561), enfatiza o papel ponderoso da
concepção do Mercosul nas relações internacionais brasileiras.

O Mercosul dinamizou as relações comerciais do Brasil com os países do


sul do continente americano, especialmente com a Argentina. Essa
dinamização ocorreu nos anos 90, porém sofreu alguns constrangimentos
no final da década, sendo paulatinamente recuperada no período recente.

De acordo com matéria publicada 24 de setembro de 2010 na BBC Brasil, em


2009 Brasil exportou para a União Europeia e para a China o mesmo valor em
produtos básicos, com baixo valor agregado: US$ 16 bilhões para cada um. No
47

entanto, o Brasil exporta quase quatro vezes mais produtos de alto valor agregado
para União Europeia do que para a China; foram exportados US$ 17,5 bilhões em
produtos industrializados para o bloco europeu, contra apenas US$ 4,6 bilhões para
a China. A tabela 10 desenreda as importações e exportações no primeiro e
segundo mandato de Lula.

TABELA 10 - SÍNTESE DE INDICADORES MACROECONÔMICOS 2003-2010


Economia Brasileira: Síntese de Indicadores Macroecônomicos - 2003-2010
(médias anuais por período)

Fonte: Elaboração de Giambiagi, com base em dados do Apêndice Estatístico do final do


livro.

O Brasil e outros emergentes puderam assimilar a crise de 2008 com menos


impactos negativos porque estavam mais preparados, mais equilibrados. O excerto
do compêndio MENSAGEM AO CONGRESSO NACIONAL (2010, p. 54-55) testifica
que Lula teve uma atuação diligente no âmbito das relações internacionais.

(...) Nesse contexto, o Governo [Lula] atuou rapidamente no sentido de


reunir os representantes dos principais setores exportadores do
agronegócio nacional, com vistas a apresentar e discutir possíveis cenários
e propostas de ações, como resposta à então iminente contratação do
mercado global.
(...) Em 2009, as exportações do agronegócio somaram US$ 64,75 bilhões,
com queda de 9,8%, em relação ao mesmo período de 2008. (...) O valor
das importações, também, apresentou redução de 16,9% no período,
totalizando US$ 9,82 bilhões.

O gráfico 09 designa a efetividade do agronegócio. A qualidade de vida do


brasileiro melhorou. Isto é inegável. Entretanto, também não se ignora que esse
ganho poderia ser melhor não fosse a má gestão da coisa pública e do
desenvolvimento associados à corrupção.
48

GRÁFICO 9 - BALANÇA COMERCIAL DO AGRONEGÓCIO EVOLUÇÃO 2008-2009

Fonte: Elaborado pelo MAPA, a partir de dados do MDIC.

O IMB atestou em 20 março de 2016 que no agronegócio, a expansão na


maior parte do período 2003-2011 foi baseada em aumento de volumes,
produtividade e área plantada. Isto também foi fruto da estabilidade, da confiança e
do aumento dos investimentos.

2.6 NÚMERO DE EMPRESAS QUE NASCERAM E AS QUE FORAM À FALÊNCIA

Segundo pesquisa do IBGE de 27 de agosto de 2012, de um total de 464.700


empresas que iniciaram suas atividades em 2007, 76,1% continuavam no mercado
em 2008, 61,3% sobreviveram até 2009 e apenas 51,8% ainda estavam abertas em
2010, ou seja, quase a metade (48,2%) fechou as portas. O estudo acrescenta que
98,3% das empresas que entraram no mercado e 99,3% das que saíram em 2010
tinham até 9 pessoas assalariadas. Entre as empresas que abriram, 78,6% não
tinham empregados e 19,7% tinham entre 1 e 9 funcionários registrados. Já entre as
que fecharam as portas, 89,1% não tinham empregados e 10,2% tinham entre 1 e 9
funcionários. Portanto, existe associação direta entre o tamanho das empresas e a
taxa de sobrevivência.
49

GRÁFICO 10 - FALÊNCIAS REQUERIDAS DE EMPRESAS 1991 - 2013


(em unidades)

Fonte: Serasa Experian (2012).

O BPB criado por Lula em 2003 deixou de existir no ano 2008. A EBC foi
concebida em 2007 para fins de ser um canal independente do governo. A EPE
criada em 2004, resgatou a função de planejamento energético. A Ceitec, originada
em 2008, atua na área de semicondutores fabricando chips. No setor aéreo, a
VASP, segunda maior companhia brasileira à época, deixou de voar em 2005, vindo
a declarar falência três anos depois. A firma adentrou em dívidas milionárias com
banqueiros, servidores, Infraero e Previdência Social. A sua concorrente Varig teve
as portas fechadas no ano de 2006. Já o frigorífico Chapecó, sem dinheiro no ano
de 2003, despediu quase cinco mil funcionários e não pagou fornecedores, indo a
bancarrota no dia 29 de abril de 2005. O Banco Santos foi intervencionado pelo BC
em 2004 devido a um rombo no seu balanço financeiro de R$ 2,2 bilhões. O
falimento do grupo foi decretado ano seguinte. A rede varejista Kolumbus encerrou
as atividades.
50

3 CONCLUSÃO

A distinção entre ricos e pobres não é uma questão somente humanitária ou


ideológica. O Brasil é diverso e desigual, assim como os Estados Unidos, justamente
por ser um país de proporções grandes. A pirâmide social brasileira desde o início
do último século era preenchida por três estamentos: burgueses, classe média e
necessitados. Vivenciava-se na década de 1990 uma conjuntura onde parte das
estatais se tornavam privadas e houveram dificuldades no controle de gastos
governamentais que corroborou em uma debandada de brasileiros desalentados
buscando emprego. Em tempos presentes, a alta sociedade alavancou-se de tal
maneira que deixou um distanciamento demasiado grande para os demais níveis
sociais, levando os economistas a pressuporem que a classe média havia dissipado.
O segmento da sociedade que alavancou com a chegada de Lula ao poder
consome mais que os burgueses, conforme é notado de maneira cristalina pelos
comerciantes que possuem faturamento maior em magazins populares do que em
estabelecimentos comerciais da classe A. Tal fato é paradoxal, pois as pessoas com
rendimento menor não devem estar predispostas a gastar mais. Piketty segue a
mesma doutrina de pensamento quando certifica que "capital gera capital. Trabalho
não possui esse poder multiplicador." O rico têm bens e capital para investir e
ampliar ainda mais a sua fortuna e o peão apenas o seu salário. Quem possui
capital para se investir embolsa valores maiores do que a economia, já a maior
parcela dos cidadãos fica com a menor fatia do bolo. Há também no Brasil outro
fator incongruente a contribuir nessa disparidade: a burguesia paga de modo
proporcional menos impostos que o operariado.
Essa categoria social recém-surgida, a classe C, conquistou crédito, casa
própria, carteira de trabalho, admissão a cursos profissionalizantes e maior acesso à
bens de consumo tais quais, automóveis, eletrodomésticos, aparatos eletrônicos,
etc. Contudo, a hipérbole de que o dinheiro concentra-se na mão de poucos deixou
de ser aplicada nos últimos 20 anos. A desigualdade diminuiu, por conseguinte o
intervalo entre pobreza e riqueza parou de crescer. Essa desproporção de renda
acarreta assassínio, consumo de substâncias ilícitas e até mesmo a mortalidade
infantil, pois o dinheiro desviado por vias corruptas deixa de ir por meio de verbas à
saúde e educação, os alicerces de toda nação. Com a dissecção dos fatos
denotados no primeiro capítulo, conclui-se que Lula assumiu um país com a
51

economia estagnada e não obstante, despertou naqueles mais populares a


realização do anseio de adentrar a classe média.
52

REFERÊNCIAS

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Internacional. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia
Científica. 6. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

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FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2007.

GREMAUD, Amaury Patrick; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de;


JUNIOR, Rudinei Toneto. Economia brasileira contemporânea. 5 ed. São Paulo:
Atlas, 2009.

KON, Anita. Economia Industrial. São Paulo: Nobel, 1999.

KRUGMAN, Paul Robin; OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional. 8 ed. São


Paulo: Pearson Addison Wesley, 2010.

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