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1. Notas Preliminares
Como é do nosso conhecimento, a sociedade evolui dia pós dia e, deste modo,
há uma necessidade de o Direito acompanhar essa evolução, através de
normas que se enquadram a cada realidade, facto este que faz com que as leis
não sejam estáticas. Este facto obriga à consagração de regras que regulem a
sucessão legislativa, que irão nos permitir determinar qual a lei aplicável a
uma determinada situação: se é a lei antiga ou é a lei nova.
Note-se que não estamos perante um problema que o princípio da lex posterior
derrogatlegi priori permite resolver, porque em causa estão situações que,
tendo a sua origem no passado, prolongam os seus efeitos no futuro e a
entrada em vigor de uma LN deve respeitar essa continuidade. E devemos
também ter em consideração que a entrada em vigor de uma lei nova não
provoca um corte radical na continuidade da vida social. Há factos e situações
que, tendo-se verificado antes da entrada em vigor da lei nova, tendem a
continuar no futuro e a projectar-se nele.
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Direito Transitório;
Critérios próprios de certos ramos, nomeadamente direito processual,
direito penal e direito fiscal (Critérios especiais); e
Princípio da não retroactividade das leis.
O direito transitório é a regulação que a própria lei nova traz para a resolução
do seu conflito com a lei antiga.
maior parte das vezes e, mesmo quando existe, não deixa de ser, enquanto
direito, lacunoso; por outro lado, a solução adequada não está em multiplicar
indefinidamente as previsões particulares, mas em encontrar critérios de
solução aplicáveis à generalidade das hipóteses.
A lei não pode suscitar dúvidas quanto à sua aplicabilidade, assim, caso
aconteça, o entendimento dessa lei é que será aplicada somente para casos
novos. Nestes termos, a lei age de forma retroactiva quando esta dispuser
directamente sobre factos jurídicos já existentes, abrangendo assim estes e os
que subsistirem à data da sua entrada em vigor.
3. Graus da retroactividade
Esta teoria foi logo criticada, primeiro, porque o Direito não deriva do seu
exercício, depois, porque nem sempre é fácil distinguir o direito subjectivo e
uma expectativa e, finalmente, porque nem todos direitos permanecem
indefinidamente sujeitos à disciplina do Direito vigente quando se
constituíram, a propriedade é, por exemplo, um direito subjectivo e não pode
ficar indiferente às leis novas.
Esta teoria sustenta que todo facto jurídico é regulado pela lei vigente quando
se produziu, por isso, a lei nova não deve ser retroactiva.
Aos efeitos jurídicos já consumados sob império da lei antiga, aos ainda
pendentes quando a lei nova surge e mesmo aos que não se produziram, mas
podem ocorrer como consequência mais ou menos longínqua dum facto
passado, a todos se aplica a lei antiga: a lei em vigor quando ocorreu o facto
que os produziu.
A presente teoria não escapa igualmente a crítica, pois, entende-se que pelo
facto dos efeitos jurídicos serem consequência imediata dos factos jurídicos, e,
portanto, existirem desde a sua ocorrência, mesmo que dependam também de
factos novos, se a lei nova modificar ou destruir o que já existia (antes do
início da sua vigência) será necessariamente retroactiva.
Esta teoria, defendida entre outros autores Leon Duguit, procurou substituir o
conceito de direito subjectivo pelo de situação jurídica que compreende: as
situações subjectivas que são as que resultam das manifestações da vontade
dos indivíduos de harmonia com a lei, tem um conteúdo individual ou
particular, e as situações objectivas que consistem em simples poderes que a
lei atribui às pessoas em virtude da ocorrência de certos factos. As primeiras
são livremente determinadas pelos indivíduos e as segundas são
imperativamente fixadas pela lei. Assim, às situações jurídicas subjectivistas
vindas do passado dever-se-á aplicar a lei antiga e às objectivas, a lei nova.
Esta doutrina foi criticada porque nem sempre as situações jurídicas resultam
apenas da vontade dos interessados e não seria razoável aplicar-se a lei antiga
a estas situações jurídicas subjectivas e que há situações objectivas (que não
dependem da vontade de ninguém) a que seria injusto aplicar a lei nova.
Portanto, em suma, a grande crítica tem a ver com o facto de a identificação
das situações jurídicas como objectivas ou subjectivas nem sempre ser
demasiado fácil, nem muito óbvia para os cidadãos, podendo na aplicação
concreta deste critério surgirem algumas injustiças.
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Esta teoria, que foi introduzida pelo Prof. Galvão Telles, constitui uma nova
versão dos factos passados, defende que nas situações jurídicas de execução
duradoura, que podem durar anos e até séculos, é necessário separar o passado
e o futuro; aquele pertence ao domínio da lei antiga, este ao da lei nova, ou
seja, os factos passados pertencem a lei antiga e os futuros a lei nova,
enquanto para as situações jurídicas de execução instantânea (que são aquelas
que se caracterizam pelo facto de a sua realização se esgotar em dado
momento, não se prolongando por lapso de tempo mais ou menos longo),
deve-se manter o respeito da LA.
A lei interpretativa (LN) deve ser sempre posterior à lei interpretada (LA);
Como se pode ver, por a LI não constitui uma nova e distinta manifestação de
vontade do legislador, o CC prevê, no seu art.13, que a LI se considera, para
efeitos da sua aplicação, integrada na lei interpretada, do que resulta o
reconhecimento de eficácia retroactiva à LI, pois a lei interpretativa é como se
ela entrasse em vigor na mesma data que entrou a lei interpretada.
Referências bibliográficas
1. Legislação:
Código civil de 1966
Constituição da República de Moçambique de 2004, revista em 2018.
2. Doutrina:
ASCENSÃO, Oliveira, o Direito, Introdução e Teoria Geral, 13ª
Edição, Almeida, 2005;
MACHADO, Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso
Legitimador, 19ª reimpressão, Almedina, 2011;
GALVÃO, Telles Inocêncio, Introdução ao Estudo do Direito, Vol. 1,
11ª edição (reimpressão), Coimbra, 2001;
REBELO, De Sousa Marcelo, Introdução ao Estudo do Direito, 5ª
edição, Lex, 2000.