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DIREITO CIVIL IV

DA PROPRIEDADE - ART. 1225, I, CC


Ementa
UNIDADE 3 - DA PROPRIEDADE
3.1 Conceitos fundamentais relativos à propriedade e seus atributos
3.2 Características do direito de propriedade
3.3 A função social da propriedade
3.4 Aquisição da propriedade imóvel
3.4.1 Da usucapião: Conceito, natureza jurídica, formas, registro, sucessão
3.4.1.2 Da usucapião extrajudicial no NCPC
3.4.2 Aquisição pelo registro do título
3.4.3 Aquisição por acessão: ilhas, aluvião, avulsão, álveo abandonado, construções e plantações
3.5 Aquisição da propriedade móvel: ocupação, achado de tesouro, tardição, especificação,
confusão, comissão, adjunção
3.6 da perda da propriedade
Da propriedade - ART. 1225, I, CC

Cuida-se do mais importante e complexo direito real. É o único direito real sobre a coisa própria (sobre os
nossos bens), pois os demais direitos reais do art. 1225 são direitos reais sobre as coisas alheias, sobre os
bens de terceiros.

A importância da propriedade é imensa na nossa vida, afinal, nosso principal interesse na vida é no acúmulo
de bens, na formação de um patrimônio faz sentido para vocês?

Quanto mais se protege a propriedade mais se estimula o trabalho e a produção de riquezas em toda a
sociedade; negar esse direito representaria uma atrofia no desenvolvimento socioeconômico; É da natureza
humana, desde o homem primitivo, de se apoderar da caça, de peles, de armas e ferramentas.
Da propriedade - ART. 1225, I, CC

Nosso ordenamento protege a propriedade a nível constitucional (arts. 5º, XXII e 170, II)

A propriedade é mais difícil de ser percebida do que a posse, pois a posse está no mundo da natureza,
enquanto o domínio (= propriedade) está no mundo jurídico. Eu sei que você tem a posse das roupas, livros e
relógios que está usando agora, mas não tenho certeza se realmente é dono desses objetos.
1. Conceitos de propriedade:
a) propriedade é o poder legítimo e pleno sobre a coisa, que pode sofrer limitações pela lei ou
pela vontade;
b) é a submissão de uma coisa a uma pessoa;
c) é o direito real sobre a coisa própria, etc.
d) Adotemos o conceito do código, que é muito bom e a lei está sempre ao nosso alcance: ver
art. 1228.
Então, a propriedade é o poder de usar, fruir (=gozar) e dispor de um bem (três
faculdades/atributos/poderes do domínio) e mais o direito de reaver essa coisa
do poder de quem injustamente a ocupe.
2. Características da propriedade:

a) É direito absoluto: dizer que o proprietário pode dispor não significa que este pode
abusar da coisa até destruí-la. Esse absolutismo não é mais pleno, pois o direito moderno
exige que a propriedade cumpra uma função social, exige um desenvolvimento sustentável do
produzir evitando poluir (ver § 1º do 1228 do CC/02).
Respeitar a função social é um limite ao direito de propriedade; outro limite são os direitos de
vizinhança.
É absoluto também porque se exerce contra todos, é direito erga omnes, todos aqueles que
não são donos têm que respeitar minha propriedade sobre meus bens e vice-versa.
b) Permanência (perpetuidade): os direitos de crédito prescrevem, mas a propriedade
dura para sempre, passa inclusive para nossos filhos através do direito das sucessões. Quanto
mais o dono usa a coisa, mais o direito de propriedade se fortalece. A propriedade não se
extingue pelo não uso do dono, mas sim pelo uso de terceiros. Então eu posso guardar meu
relógio na gaveta que ele continuará meu para sempre. Eu posso passar décadas sem ir ao
meu terreno na praia. Mas se alguém começar a usá-lo poderá adquiri-lo pela usucapião.

c) Exclusividade: ver art. 1231; o proprietário pode proibir que terceiros se sirvam do seu
bem; a presunção é a de que cada bem só tem um dono exclusivo, mas nosso ordenamento
admite o condomínio (a lei facilita a extinção do condomínio justamente porque a
propriedade é um direito tão amplo e complexo que não é fácil ser exercido por duas pessoas
sobre uma única coisa).
d) Elasticidade: a propriedade se contrai e se dilata, é elástica como uma sanfona; por
exemplo, tenho uma fazenda e cedo em usufruto para José; eu perco as faculdades de uso e de
fruição, minha propriedade antes plena (completa) vai diminuir para apenas disposição e
posse indireta; mas ao término do usufruto, minha propriedade se dilata e torna-se plena
novamente.
3. Faculdades inerentes à propriedade: Art. 1.228 do CC/02.

a) direito de usar (jus utendi) - titular coloca o bem a seu serviço, ou seja, serve-se da
coisa.
Uso – o proprietário pode usar a coisa, pode ocupá-la para o fim a que se destina. Ex: morar
numa casa; usar um carro para trabalho/lazer.

b) direito de gozar (Jus fruendi)


Fruição (ou gozo) - o proprietário pode também explorar a coisa economicamente, auferindo
seus benefícios e vantagens. Ex: vender os frutos das árvores do quintal; ficar com as crias
dos animais da fazenda.
c) direito de dispor (jus abutendi)
Disposição é o poder de abusar da coisa, de modificá-la, reformá-la, vendê-la, consumi-la, e
até destruí-la. A disposição é o poder mais abrangente.
Exemplo: se eu sou dono de um quadro eu posso pendurá-lo na minha parede (jus utendi),
posso alugá-lo para uma exposição (jus fruendi) e posso também vendê-lo (jus abutendi).
O dono pode também ceder a terceiros só o uso da coisa (ex: direito real de habitação do
1414); pode ceder o uso e a fruição (ex: usufruto do 1394 e superfície do 1369); pode ceder só
a disposição (ex: contrato estimatório do 537).

d) direito de reivindicar
Reivindicar nada mais é do que reclamar a coisa de quem a detenha injustamente.
OBS: Propriedade Plena ou alodial: O proprietário tem as quatro faculdades, a+ b+c+d
Propriedade limitada: o possuidor tem pelo menos uma das faculdades supraelencadas
(1196, 1204).

Subdivide-se em: 1) restrita: quando a propriedade está gravada com um ônus real, como a
hipoteca e o penhor (direitos reais de garantia que veremos no próximo semestre), ou quando
o proprietário, por exemplo, cedeu a coisa em usufruto para outrem e ficou apenas com a
disposição e posse indireta do bem; 2 ) resolúvel: propriedade resolúvel é aquela que pode ser
resolvida, ou seja, que pode ser extinta, e só se tornará plena após certo tempo ou certa
condição. Como? Na hipótese de retrovenda do art. 505; na alienação fiduciária em garantia
do art. 1361; no fideicomisso do art. 1953. Ver ainda o art. 1359.

Além de ser a soma destas quatro faculdades, a propriedade produz um efeito, que é
justamente o direito de reaver a coisa (parte final do 1228). Como se faz isso, como se
recuperam nossos bens que injustamente estejam com terceiros?
4. Proteção da Propriedade:

Através da ação reivindicatória. Esta é a ação do proprietário sem posse contra o


possuidor sem título. Esta ação serve ao dono contra o possuidor injusto, contra o possuidor
de má-fé ou contra o detentor.
Não se pode confundir com a ação possessória. A possessória é a ação do possuidor contra o
invasor, que inclusive pode ser o proprietário (ex: locador quer entrar a qualquer hora na casa
do inquilino, alegando ser o dono; não pode (será estudada adiante). Mas o proprietário que
aluga uma fazenda também pode usar a possessória se o MST ameaça invadir e o
arrendatário não toma providências, afinal o proprietário tem posse indireta). A vantagem da
possessória é a possibilidade de concessão de liminar pelo Juiz. Na reivindicatória não cabe
liminar.

Este direito de reaver a coisa é consequência da seqüela, aquela característica dos direitos
reais que vimos na primeira aula, e que permite que o titular do direito real o exerça contra
qualquer pessoa.
5. Extensão da propriedade:

a) art. 1229 do CC – abrange o espaço aéreo e o subsolo correspondentes

b) art. 1230 CC c/C art. 20, IX e X da C.R./88. – limitações: recursos minerais e


energias encontradas no subsolo
5. Restrições à propriedade:

a) Legais: impostas por lei


Ex: direitos de vizinhança, usucapião, servidões, tombamento, paisagens naturais.

b) Voluntárias: impostas pelo próprio titular da propriedade


b.1) Cláusulas:

- inalienabilidade – protege o bem do próprio titular; Significa ser seu, mas se torna alheio:
não pode alienar, ou seja, não pode vender , emprestar, doar, enfim, dispor.
A limitação não se estende aos frutos. Ex: posso doar a produção do bem inalienável.
- impenhorabilidade – não poderá ser objeto de penhora de dívidas
Estende-se aos frutos
- Incomunicabilidade – protege o bem do cônjuge. Estende-se aos frutos.
OBS: Súmula 49 do STF: Cláusula forte: Inalienabilidade, pois, inalienabilidade implica em
incomunicabilidade.
Atenção: as cláusulas só têm eficácia após o Registro Civil Público.
Nas limitações privadas existe reciprocidade (um vizinho tem que respeitar os limites do
outro e vice-versa), já nas limitações públicas não há reciprocidade (o particular não pode
desapropriar bens do Estado), mas sempre se pode exigir indenização e brigar na Justiça
contra abusos dos governantes.
b.2) Requisitos das restrições voluntárias:

- devem ser criadas por doação ou testamento. A criação das cláusulas acima em relação aos
próprios bens é inválida.
- devem constar no registro público.

b.3) Propriedade resolúvel:

Não é permanente, mas submetida à condição ou termo. Com o implemento da condição,


cessa o direito. Art. 1.359.
Exemplo de propriedade resolúvel: retrovenda: cláusula pela qual o vendedor se reserva
o direito de readquirir a coisa do comprador, restituindo-lhe o preço mais as despesas, nos
contratos de compra e venda de imóvel. Prazo de validade da cláusula é de 3 anos (art. 505).
Outro exemplo: doação com cláusula de reversão. Art. 547. Doador estipula que bens doados
voltem ao seu patrimônio caso o donatário pré-morra.
6 – Formas de aquisição da propriedade:

A aquisição da propriedade pode ser originária ou derivada;

A aquisição é originária quando a propriedade é adquirida sem vínculo com o dono anterior,
de modo que o proprietário sempre vai adquirir propriedade plena, sem nenhuma restrição,
sem nenhum ônus (ex: acessão, usucapião e ocupação);

A aquisição é derivada quando decorre do relacionamento entre pessoas (ex: contrato


registrado para imóveis, contrato com tradição para móveis, sucessão hereditária) e o novo
dono vai adquirir nas mesmas condições do anterior (ex: se compra uma casa com hipoteca,
vai responder perante o Banco; se herda um apartamento com servidão de vista, vai se
beneficiar da vantagem)

Pode ser a título universal, quando se transfere um quinhão aos sucessores e a título singular,
quando envolve um bem individualizado. Também ocorre inter vivos (contrato de contrato)
e causa mortis (sucessões).
a) Registro: REGISTRO TRANSLATIVO: antigamente chamava-se de transcrição; é
aquisição derivada.

O registro é o modo mais importante de aquisição de imóveis. Conceito: se trata da inscrição


do contrato no cartório de registro do lugar do imóvel. Existem cartórios de notas (onde se faz
escritura pública, testamento, reconhecimento de firma, cópia autenticada) e cartórios de
registro de imóveis em nossa cidade. Cada imóvel (casa, terreno, apartamento) tem um
número (= matrícula) próprio e está devidamente registrado no cartório de imóveis do seu
bairro (se a cidade for pequena só tem um).
Características do registro:

•PRINCÍPIO DA FORÇA PROBANTE: fé pública (presume-se que o registro exprima a


verdade; o cartório deve ser bem organizado e os livros bem cuidados, cabendo ao Juiz
fiscalizar o serviço; os livros são acessíveis a qualquer pessoa, 1246);
•obrigatoriedade (o registro é obrigatório no cartório de imóveis do lugar do imóvel: § 1º
do 1245)
•possibilidade de retificação (se o registro está errado, o Juiz pode determinar sua
correção, 1247);
•principio da continuidade (o registro obedece a uma seqüência lógica, sem omissão, de
modo que não se pode registrar em nome do comprador se o vendedor que consta no contrato
não é o dono que consta no registro; muita gente desconhece a importância do registro, ou
então para não pagar as custas, só celebra o contrato de compra e venda; aí fica transmitindo
posse de um para outro; quando finalmente alguém resolve registrar, não encontra mais o
dono, aí o jeito é partir para a usucapião).
2 – Aquisição de propriedade imóvel, em face de Direitos Hereditários:

Com a morte do de cujus, transferem-se todos os bens e direitos aos seus sucessores
imediatamente, independentemente de registro. Os herdeiros se tornam proprietários da
herança no exato momento em que o antigo proprietário morre. Art. 1784. Princípio
da saisine. A aceitação da herança é mera confirmação.

3 - Aquisição da propriedade imóvel pela acessão:

Acessão: incorporação de um bem a outro. É modo originário de aquisição da propriedade.


A acessão pode ser:

- natural: decorre de evento da natureza – formação de ilhas, aluvião, avulsão e abandono


de álveo.
- artificial (ou industrial): decorre de comportamento humano.
Ideia básica é que passa a pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi incorporado a um
imóvel.

Assim, adquire-se por acessão tudo aquilo que adere ao solo e não pode ser retirado sem
danificação. Através da acessão a coisa imóvel vai aumentar por alguma das cinco hipóteses
do art. 1248. As quatro primeiras são acessões naturais e horizontais (dependem da natureza,
mais precisamente da atividade fluvial/dos rios, do movimento de areia feito pelos rios) e a
quinta é acessão humana e vertical (decorre da atividade artificial do homem ao plantar e
construir).
a) formação de ilhas: art. 1249
•Se uma ilha se formar em águas particulares, incorpora-se à propriedade do dono do terreno.
1.249.

b) aluvião: é o acréscimo lento de um terreno ribeirinho; a parte do terreno que aumenta


passa a pertencer ao dono do terreno, art. 1250. Aquele que se beneficia da aluvião não tem
de pagar indenização.
•Aquisição de propriedade por formação de Aluvião: uma incorporação imperceptível junto
ao imóvel ribeirinho, não gerando nenhuma espécie de indenização.
c) avulsão: difere da aluvião, pois a avulsão é brusca: art. 1251 do CC.

•Depósito repentino de materiais às margens de rios e lagos.


•O proprietário ribeirinho se torna dono, mediante indenização.
•A porção de terra desgarrada continua a pertencer a seu proprietário, até escoar-se o prazo
de 1 ano. Dentro deste prazo, o dono do prédio desfalcado pode pleitear as terras perdidas, se
for possível retorná-las – par. único. Neste caso, o dono do prédio acrescido pode optar entre
deixar que se removam ou indenizar o desfalcado.
d) álveo abandonado: trata-se do leito do rio que secou; este rio seco torna-se propriedade
do dono do terreno onde ele passava: art. 1252.
- Mudança de curso do rio, natural ou artificial, ou secagem definitiva do rio. Como regra, os
donos das terras marginais adquirem a propriedade. Em caso de desvio artificial do rio, os
proprietários dos imóveis onde for estabelecido o novo curso do rio deverão ser indenizados.

e) construções e plantações: esta é a acessão humana, pois é o homem que constrói e


planta num terreno; a regra é o acessório seguir o principal, então tais benfeitorias serão de
propriedade do dono do terreno, art. 1253; porém, se o dono do material e das sementes não
for o dono do terreno surgirão problemas sobre o domínio das acessões e indenização ao
prejudicado. Como resolver isso para evitar enriquecimento ilícito do dono do terreno? Vai
depender da boa fé ou da má fé dos envolvidos, bem como vai depender da espécie de
benfeitoria, com as mesmas regras que nós já vimos quando tratamos dos efeitos da posse.
4 - Aquisição da propriedade imóvel pela usucapião

A usucapião; a palavra é feminina porque vem do latim “usus” + “capere”, ou seja, é a


captação/tomada/aquisição pelo uso. Aquisição da propriedade pela posse prolongada.

a) Conceito: é modo de aquisição da propriedade pela posse prolongada sob determinadas


condições. Não só a propriedade se adquire pela usucapião, mas outros direitos reais como
superfície, usufruto e servidão predial também (veremos no próximo semestre). A usucapião
exige posse prolongada (elemento objetivo) com a vontade de ser dono (animus domini -
elemento subjetivo).
b) Fundamento: por que o direito brasileiro aceita a usucapião?

•Para prestigiar a pessoa que usa e se serve da coisa para morar e trabalhar; a propriedade é
um direito importantíssimo e a posse é um fato muito relevante.
•Para punir o proprietário desidioso/preguiçoso/irresponsável, que não cuida dos seus bens,
afinal “dormientibus non sucurrit jus”; além disso, quem não defende e cuida dos seus bens,
não é digno de tê-los; mas lembrem que não se perde a propriedade pelo simples não-uso, é
preciso que alguém esteja usando no lugar do proprietário;
•Por uma questão de paz social, pois a usucapião vai regularizar, vai sanar os vícios de uma
posse violenta ou clandestina (a posse precária não convalesce nunca, lembre-se do art. 1200
e do 1208); a usucapião transforma a posse, um fato provisório, em propriedade, um direito
permanente; a usucapião vai dar juridicidade a uma situação de fato amadurecida pelo
tempo, mesmo que o possuidor seja um ladrão ou um invasor.
c) Requisitos:

c.1) capacidade do adquirente: o incapaz pode adquirir pela usucapião (art. 104, I),
desde que representado ou assistido, mas não pode perder pela usucapião, caso seu
representante (pai, tutor, curador) não defenda seus bens (198, I – a usucapião, como a
prescrição, é também efeito do tempo no direito; diz-se que a prescrição do art. 189 é
prescrição extintiva, enquanto a usucapião é prescrição aquisitiva). Ver art. 1244.
c.2) a coisa usucapienda precisa estar no comércio (ex: 102, drogas).

c.3) a posse: não é qualquer posse, mas a posse para ensejar a usucapião precisa ser mansa,
pacífica, pública, contínua e com intenção de dono da parte do possuidor; para a posse reunir
essas características, o proprietário precisa se omitir e colaborar com o amadurecimento
desta posse; como já vimos, a detenção violenta e clandestina pode convalescer e virar posse,
mas a detenção precária jamais; empregado, caseiro, também não tem posse, mas mera
detenção (1198); inquilino/comodatário, durante o contrato, tem posse mas não tem animus
domini, e depois do contrato, caso não desocupem a coisa, sua situação passa a ser de
detentor, por isso em nenhum caso inquilino/comodatário podem adquirir pela usucapião.
4) o tempo: o tempo varia de dois a quinze anos, conforme a espécie da usucapião que
veremos a seguir.
Espécies de Usucapião:

A usucapião é o instituto jurídico e o modo de adquirir propriedade através da posse


prolongada, observados determinados requisitos.
1) Usucapião Extraordinária:

•é a do art. 1238 do CC, ocorre mesmo que o possuidor esteja de má-fé; esta é a usucapião que
beneficia o ladrão e o invasor (ver p.único);
•não há limite para o tamanho do terreno e a pessoa pode já ter um imóvel e mesmo assim
usucapir outro;
•o tempo para esta espécie já foi de 30 anos, depois caiu para 20 e agora é de 15 ou apenas 10
anos conforme p.único;
•exige posse mansa e pacífica e sem interrupção pelo prazo de 15 (quinze) anos, independente
do justo título ou boa fé. Isto é uma prova da importância da posse para o direito;
•o artigo fala em “juiz declarar por sentença” pois o juiz não constitui a propriedade para o
autor, o juiz apenas reconhece/declara que a pessoa adquiriu aquela propriedade do tempo.
2) Usucapião Ordinária: art. 1242 do CC; o prazo é menor, de dez anos, pois exige título e
boa-fé do possuidor.

•Exige posse mansa e pacífica e ininterrupta pelo prazo de 10 (dez) anos, sendo necessário o
justo título e boa fé;
•Entretanto, o prazo será reduzido para 5 (cinco) anos se o imóvel houver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecidos a sua moradia, ou
realizado investimentos de interesse social e econômico.
3) Usucapião Especial: Há subespécies, vejamos:

•Urbano: exige posse ininterrupta e sem oposição, de imóvel urbano utilizado como
moradia, pelo prazo de cinco anos em área não superior a 250 metros quadrados. (artigo 183
da CR/88 e 1.240 CC). art. 1240 do CC; semelhante ao rural; beneficia os sem teto.

•Rural: Exige posse ininterrupta e sem oposição, de imóvel rural tornando-o produtivo por
seu trabalho, pelo prazo de 5 anos em área não superior a 50 hectares (artigo: 191/CF e
1.239/CC).
4) Usucapião Coletiva: Essa modalidade está prevista no artigo 10 da Lei 10.257/2001 -
Estatuto da Cidade.

Exige posse ininterrupta e sem oposição, de área urbana com mais de 250 metros quadrados,
ocupada por população de baixa renda para sua moradia e desde que não seja possível
identificar os terrenos ocupados por cada possuidor e que nenhum deles não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural.
5. A Usucapião Familiar: foi inserida no nosso Código Civil através da lei 12.424/2011,
que regulamenta o programa Minha Casa, Minha Vida. Através dessa inclusão, criou-se a
possibilidade de um cônjuge usucapir do outro e pleitear o domínio integral do bem imóvel
que compartilhavam.
Direitos Reais - Aquisição da propriedade móvel

Quanto à propriedade móvel, esta se adquire pela:

1 - Tradição: é a entrega efetiva da coisa móvel feita pelo proprietário-alienante ao


adquirente, em virtude de um contrato, com a intenção de transferir o domínio. A tradição
completa o contrato, pois tenda em vista a importância da propriedade para o direito, é
necessário que, para se desfazer de um bem, além de um contrato, a coisa seja concretamente
entregue ao adquirente (ex: comprador, donatário), confirmando o contrato (1226 e 1267).
Com a tradição, o direito pessoal decorrente do contrato, torna-se direito real. O alienante
(vendedor, doador) tem que ser dono da coisa (1268, parte inicial), e essa alienação pode ser
gratuita (doação) ou onerosa (compra e venda). O contrato tem que ser válido para eficácia da
tradição (§ 2º do 1268).
2 - Ocupação: ocupar é se tornar proprietário de coisa móvel sem dono ou de coisa
abandonada. Ressalto que ocupar coisa imóvel sem dono ou abandonada gera posse e não
propriedade, posse que pode virar propriedade pela usucapião. Essa diferença é porque as
coisas imóveis têm mais importância econômica do que as móveis, então a aquisição dos
imóveis pela ocupação exige mais requisitos. Coisa sem dono e coisa abandonada são coisas
diferentes:
a) coisa sem dono (res nulius), como a concha na praia ou o peixe no mar (1263).
b) coisa abandonada (res derelictae), como o sofá deixado na calçada (1275, III)
Atenção para não confundir estas duas espécies de coisas com uma terceira espécie, a coisa
perdida (res amissa), pois as coisas perdidas não podem ser apropriadas pela ocupação, mas
sim devem ser devolvidas ao dono.
A perda da coisa não implica perda da propriedade. O ditado popular "achado não é roubado"
é falso, e a coisa perdida não pode ser ocupada pelo descobridor sob pena de crime (art. 169,
pú, II do CP).
3 - Achado do tesouro: isto é hipótese de filme, prevista no art. 1264.

São quatro os requisitos do tesouro:

•ser antigo,
•estar escondido (oculto, enterrado),
•o dono ser desconhecido e o descobridor ter encontrado casualmente (sem querer). O
tesouro se divide ao meio com o dono do terreno.
•Se o descobridor estava propositadamente procurando o tesouro em terreno alheio sem
autorização, não terá direito a nada (1265).
4 - Especificação: ocorre quando alguém manipulando matéria prima de outrem (ex:
pedra, madeira, couro, barro, ferro) obtém espécie nova (ex: escultura, carranca, sapato,
boneco, ferramenta).

Conceito
Transformação de coisa em espécie nova em virtude de trabalho / indústria do especificador,
desde que não seja possível reduzi-la a sua forma primitiva

Observação
A capacidade criadora do homem é fundamental.
Exemplo: Atividades artesanais, artísticas e industrial
5 - Confusão, comistão e adjunção: são três modos diferentes e raros de aquisição da
propriedade, tratados pelo CC numa seção única. Tratam-se da mistura de coisas de
proprietários diferentes e que depois não podem ser separadas.

A confusão é a mistura de coisas líquidas (ex: vinho com refrigerante, álcool com água - obs:
não confundir com a confusão de direitos do 381 pois aqui a confusão é de coisas).

A comistão é a mistura de coisas sólidas (ex: sal com açúcar; sal com areia, grãos).

E a adjunção é a união de coisas, não seria a mistura, mas a união, a justaposição de coisas
que não podem ser separadas sem estragar (ex: selo colado num álbum, peça soldada num
motor, diamante incrustado num anel, vaso adesivado).
6 - Usucapião de coisa móvel: Aplica-se aos móveis e também aos semoventes (bens
suscetíveis de movimento próprio, como um boi, um cavalo, art 82). Esta usucapião de
móveis mantem os mesmos fundamentos e requisitos da usucapião de imóveis.

A usucapião de móveis é mais rara e é menor o tempo previsto em lei para sua aquisição
tendo em vista a maior importância econômica dos imóveis na nossa vida. Para os imóveis a
usucapião se dá entre cinco e quinze anos, já para os móveis se dá entre três e cinco anos.
PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL E IMÓVEL

O Código Civil disciplina separadamente a aquisição dos imóveis (capítulo 2) da aquisição dos
móveis (cap. 3), mas a perda da propriedade é tratada num único capítulo, tanto para os
móveis como para os imóveis.
Em geral, aos modos de aquisição, correspondem modos de perda, pois enquanto uns
adquirem, outros perdem (ex: A perde pelo abandono um sofá velho, B pega este sofá e
adquire pela ocupação: é o mesmo fenômeno visto de lados opostos). Vejamos os casos:

a) a morte: o falecido perde a propriedade dos seus bens, que automaticamente se transferem
para seus herdeiros; 1784

b) a usucapião: a usucapião é modo de aquisição para um, e modo de perda para o


proprietário desidioso; é o outro lado do mesmo fenômeno.
c) a dissolução do casamento: veremos isso em Dir. de Família, como o divórcio pode levar à
perda de bens (ou aquisição, depende do regime de bens, depende de qual dos cônjuges é
mais rico) .

d) a alienação: é modo voluntário de perda, e a alienação pode ser gratuita (ex: doação) ou
onerosa (ex: compra e venda, troca, dação em pagamento).

e) renúncia: não confundir com abandono que veremos adiante; a renúncia é uma declaração
de vontade expressa onde o proprietário afirma que não mais quer aquele bem, mas sem
transferi-lo a outrem; a renúncia de imóveis exige escritura pública (108) e registro em
cartório (pú do 1275); vide renúncia de herança no 1806 (veremos no 1813 que a renúncia da
herança não prejudicar o credor do herdeiro); a renúncia é rara, o mais comum é o simples
abandono.
f) abandono: é um gesto, um comportamento inequívoco de se desfazer da coisa (obs: os
loucos e os menores não podem abandonar, pois não podem dispor de seus bens); atenção
para não confundir coisa abandonada (res derelictae) com coisa perdida (res amissa), pois a
coisa perdida deve ser devolvida ao dono, já a coisa abandonada pode ser apropriada pela
ocupação. As coisas móveis abandonadas não preocupam ao Direito; as semoventes
preocupam porque animais soltos pelas ruas/estradas provocam acidentes; as coisas imóveis
abandonadas também preocupam ao Direito por causa da função social da propriedade (ver
1276 e §§).

g) perecimento da coisa: não há direito sem objeto, e o objeto do direito real é a coisa; se a
coisa se extingue, perece também o direito real. (ex: anel que cai no mar; terreno que é
invadido pelo mar; carro que sofre um incêndio); o perecimento pode ser voluntário (ex: o
dono destruir seu relógio).
h) desapropriação: é a interferência do poder público no domínio privado, assunto que vocês
estudarão em dir. administrativo (DL 3365/41); a desapropriação é involuntária.

i) execução: assunto de processo civil; se dá a perda da propriedade, pois o Juiz retira bens
do devedor e os vende em leilão para satisfazer o credor; é perda involuntária.

j) advento da condução resolutiva: extingue a propriedade resolúvel (1359); ex: compro uma
casa com cláusula de retrovenda, então se o vendedor exercer a opção de recompra, eu
perderei a casa (505); outro ex: o fideicomisso, que veremos em Civil 7 (1951 e 1953); o titular
da propriedade resolúvel sabe que sua propriedade pode extinguir-se por uma cláusula no
título aquisitivo.

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