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Cuida-se do mais importante e complexo direito real. É o único direito real sobre a coisa própria (sobre os
nossos bens), pois os demais direitos reais do art. 1225 são direitos reais sobre as coisas alheias, sobre os
bens de terceiros.
A importância da propriedade é imensa na nossa vida, afinal, nosso principal interesse na vida é no acúmulo
de bens, na formação de um patrimônio faz sentido para vocês?
Quanto mais se protege a propriedade mais se estimula o trabalho e a produção de riquezas em toda a
sociedade; negar esse direito representaria uma atrofia no desenvolvimento socioeconômico; É da natureza
humana, desde o homem primitivo, de se apoderar da caça, de peles, de armas e ferramentas.
Da propriedade - ART. 1225, I, CC
Nosso ordenamento protege a propriedade a nível constitucional (arts. 5º, XXII e 170, II)
A propriedade é mais difícil de ser percebida do que a posse, pois a posse está no mundo da natureza,
enquanto o domínio (= propriedade) está no mundo jurídico. Eu sei que você tem a posse das roupas, livros e
relógios que está usando agora, mas não tenho certeza se realmente é dono desses objetos.
1. Conceitos de propriedade:
a) propriedade é o poder legítimo e pleno sobre a coisa, que pode sofrer limitações pela lei ou
pela vontade;
b) é a submissão de uma coisa a uma pessoa;
c) é o direito real sobre a coisa própria, etc.
d) Adotemos o conceito do código, que é muito bom e a lei está sempre ao nosso alcance: ver
art. 1228.
Então, a propriedade é o poder de usar, fruir (=gozar) e dispor de um bem (três
faculdades/atributos/poderes do domínio) e mais o direito de reaver essa coisa
do poder de quem injustamente a ocupe.
2. Características da propriedade:
a) É direito absoluto: dizer que o proprietário pode dispor não significa que este pode
abusar da coisa até destruí-la. Esse absolutismo não é mais pleno, pois o direito moderno
exige que a propriedade cumpra uma função social, exige um desenvolvimento sustentável do
produzir evitando poluir (ver § 1º do 1228 do CC/02).
Respeitar a função social é um limite ao direito de propriedade; outro limite são os direitos de
vizinhança.
É absoluto também porque se exerce contra todos, é direito erga omnes, todos aqueles que
não são donos têm que respeitar minha propriedade sobre meus bens e vice-versa.
b) Permanência (perpetuidade): os direitos de crédito prescrevem, mas a propriedade
dura para sempre, passa inclusive para nossos filhos através do direito das sucessões. Quanto
mais o dono usa a coisa, mais o direito de propriedade se fortalece. A propriedade não se
extingue pelo não uso do dono, mas sim pelo uso de terceiros. Então eu posso guardar meu
relógio na gaveta que ele continuará meu para sempre. Eu posso passar décadas sem ir ao
meu terreno na praia. Mas se alguém começar a usá-lo poderá adquiri-lo pela usucapião.
c) Exclusividade: ver art. 1231; o proprietário pode proibir que terceiros se sirvam do seu
bem; a presunção é a de que cada bem só tem um dono exclusivo, mas nosso ordenamento
admite o condomínio (a lei facilita a extinção do condomínio justamente porque a
propriedade é um direito tão amplo e complexo que não é fácil ser exercido por duas pessoas
sobre uma única coisa).
d) Elasticidade: a propriedade se contrai e se dilata, é elástica como uma sanfona; por
exemplo, tenho uma fazenda e cedo em usufruto para José; eu perco as faculdades de uso e de
fruição, minha propriedade antes plena (completa) vai diminuir para apenas disposição e
posse indireta; mas ao término do usufruto, minha propriedade se dilata e torna-se plena
novamente.
3. Faculdades inerentes à propriedade: Art. 1.228 do CC/02.
a) direito de usar (jus utendi) - titular coloca o bem a seu serviço, ou seja, serve-se da
coisa.
Uso – o proprietário pode usar a coisa, pode ocupá-la para o fim a que se destina. Ex: morar
numa casa; usar um carro para trabalho/lazer.
d) direito de reivindicar
Reivindicar nada mais é do que reclamar a coisa de quem a detenha injustamente.
OBS: Propriedade Plena ou alodial: O proprietário tem as quatro faculdades, a+ b+c+d
Propriedade limitada: o possuidor tem pelo menos uma das faculdades supraelencadas
(1196, 1204).
Subdivide-se em: 1) restrita: quando a propriedade está gravada com um ônus real, como a
hipoteca e o penhor (direitos reais de garantia que veremos no próximo semestre), ou quando
o proprietário, por exemplo, cedeu a coisa em usufruto para outrem e ficou apenas com a
disposição e posse indireta do bem; 2 ) resolúvel: propriedade resolúvel é aquela que pode ser
resolvida, ou seja, que pode ser extinta, e só se tornará plena após certo tempo ou certa
condição. Como? Na hipótese de retrovenda do art. 505; na alienação fiduciária em garantia
do art. 1361; no fideicomisso do art. 1953. Ver ainda o art. 1359.
Além de ser a soma destas quatro faculdades, a propriedade produz um efeito, que é
justamente o direito de reaver a coisa (parte final do 1228). Como se faz isso, como se
recuperam nossos bens que injustamente estejam com terceiros?
4. Proteção da Propriedade:
Este direito de reaver a coisa é consequência da seqüela, aquela característica dos direitos
reais que vimos na primeira aula, e que permite que o titular do direito real o exerça contra
qualquer pessoa.
5. Extensão da propriedade:
- inalienabilidade – protege o bem do próprio titular; Significa ser seu, mas se torna alheio:
não pode alienar, ou seja, não pode vender , emprestar, doar, enfim, dispor.
A limitação não se estende aos frutos. Ex: posso doar a produção do bem inalienável.
- impenhorabilidade – não poderá ser objeto de penhora de dívidas
Estende-se aos frutos
- Incomunicabilidade – protege o bem do cônjuge. Estende-se aos frutos.
OBS: Súmula 49 do STF: Cláusula forte: Inalienabilidade, pois, inalienabilidade implica em
incomunicabilidade.
Atenção: as cláusulas só têm eficácia após o Registro Civil Público.
Nas limitações privadas existe reciprocidade (um vizinho tem que respeitar os limites do
outro e vice-versa), já nas limitações públicas não há reciprocidade (o particular não pode
desapropriar bens do Estado), mas sempre se pode exigir indenização e brigar na Justiça
contra abusos dos governantes.
b.2) Requisitos das restrições voluntárias:
- devem ser criadas por doação ou testamento. A criação das cláusulas acima em relação aos
próprios bens é inválida.
- devem constar no registro público.
A aquisição é originária quando a propriedade é adquirida sem vínculo com o dono anterior,
de modo que o proprietário sempre vai adquirir propriedade plena, sem nenhuma restrição,
sem nenhum ônus (ex: acessão, usucapião e ocupação);
Pode ser a título universal, quando se transfere um quinhão aos sucessores e a título singular,
quando envolve um bem individualizado. Também ocorre inter vivos (contrato de contrato)
e causa mortis (sucessões).
a) Registro: REGISTRO TRANSLATIVO: antigamente chamava-se de transcrição; é
aquisição derivada.
Com a morte do de cujus, transferem-se todos os bens e direitos aos seus sucessores
imediatamente, independentemente de registro. Os herdeiros se tornam proprietários da
herança no exato momento em que o antigo proprietário morre. Art. 1784. Princípio
da saisine. A aceitação da herança é mera confirmação.
Assim, adquire-se por acessão tudo aquilo que adere ao solo e não pode ser retirado sem
danificação. Através da acessão a coisa imóvel vai aumentar por alguma das cinco hipóteses
do art. 1248. As quatro primeiras são acessões naturais e horizontais (dependem da natureza,
mais precisamente da atividade fluvial/dos rios, do movimento de areia feito pelos rios) e a
quinta é acessão humana e vertical (decorre da atividade artificial do homem ao plantar e
construir).
a) formação de ilhas: art. 1249
•Se uma ilha se formar em águas particulares, incorpora-se à propriedade do dono do terreno.
1.249.
•Para prestigiar a pessoa que usa e se serve da coisa para morar e trabalhar; a propriedade é
um direito importantíssimo e a posse é um fato muito relevante.
•Para punir o proprietário desidioso/preguiçoso/irresponsável, que não cuida dos seus bens,
afinal “dormientibus non sucurrit jus”; além disso, quem não defende e cuida dos seus bens,
não é digno de tê-los; mas lembrem que não se perde a propriedade pelo simples não-uso, é
preciso que alguém esteja usando no lugar do proprietário;
•Por uma questão de paz social, pois a usucapião vai regularizar, vai sanar os vícios de uma
posse violenta ou clandestina (a posse precária não convalesce nunca, lembre-se do art. 1200
e do 1208); a usucapião transforma a posse, um fato provisório, em propriedade, um direito
permanente; a usucapião vai dar juridicidade a uma situação de fato amadurecida pelo
tempo, mesmo que o possuidor seja um ladrão ou um invasor.
c) Requisitos:
c.1) capacidade do adquirente: o incapaz pode adquirir pela usucapião (art. 104, I),
desde que representado ou assistido, mas não pode perder pela usucapião, caso seu
representante (pai, tutor, curador) não defenda seus bens (198, I – a usucapião, como a
prescrição, é também efeito do tempo no direito; diz-se que a prescrição do art. 189 é
prescrição extintiva, enquanto a usucapião é prescrição aquisitiva). Ver art. 1244.
c.2) a coisa usucapienda precisa estar no comércio (ex: 102, drogas).
c.3) a posse: não é qualquer posse, mas a posse para ensejar a usucapião precisa ser mansa,
pacífica, pública, contínua e com intenção de dono da parte do possuidor; para a posse reunir
essas características, o proprietário precisa se omitir e colaborar com o amadurecimento
desta posse; como já vimos, a detenção violenta e clandestina pode convalescer e virar posse,
mas a detenção precária jamais; empregado, caseiro, também não tem posse, mas mera
detenção (1198); inquilino/comodatário, durante o contrato, tem posse mas não tem animus
domini, e depois do contrato, caso não desocupem a coisa, sua situação passa a ser de
detentor, por isso em nenhum caso inquilino/comodatário podem adquirir pela usucapião.
4) o tempo: o tempo varia de dois a quinze anos, conforme a espécie da usucapião que
veremos a seguir.
Espécies de Usucapião:
•é a do art. 1238 do CC, ocorre mesmo que o possuidor esteja de má-fé; esta é a usucapião que
beneficia o ladrão e o invasor (ver p.único);
•não há limite para o tamanho do terreno e a pessoa pode já ter um imóvel e mesmo assim
usucapir outro;
•o tempo para esta espécie já foi de 30 anos, depois caiu para 20 e agora é de 15 ou apenas 10
anos conforme p.único;
•exige posse mansa e pacífica e sem interrupção pelo prazo de 15 (quinze) anos, independente
do justo título ou boa fé. Isto é uma prova da importância da posse para o direito;
•o artigo fala em “juiz declarar por sentença” pois o juiz não constitui a propriedade para o
autor, o juiz apenas reconhece/declara que a pessoa adquiriu aquela propriedade do tempo.
2) Usucapião Ordinária: art. 1242 do CC; o prazo é menor, de dez anos, pois exige título e
boa-fé do possuidor.
•Exige posse mansa e pacífica e ininterrupta pelo prazo de 10 (dez) anos, sendo necessário o
justo título e boa fé;
•Entretanto, o prazo será reduzido para 5 (cinco) anos se o imóvel houver sido adquirido,
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecidos a sua moradia, ou
realizado investimentos de interesse social e econômico.
3) Usucapião Especial: Há subespécies, vejamos:
•Urbano: exige posse ininterrupta e sem oposição, de imóvel urbano utilizado como
moradia, pelo prazo de cinco anos em área não superior a 250 metros quadrados. (artigo 183
da CR/88 e 1.240 CC). art. 1240 do CC; semelhante ao rural; beneficia os sem teto.
•Rural: Exige posse ininterrupta e sem oposição, de imóvel rural tornando-o produtivo por
seu trabalho, pelo prazo de 5 anos em área não superior a 50 hectares (artigo: 191/CF e
1.239/CC).
4) Usucapião Coletiva: Essa modalidade está prevista no artigo 10 da Lei 10.257/2001 -
Estatuto da Cidade.
Exige posse ininterrupta e sem oposição, de área urbana com mais de 250 metros quadrados,
ocupada por população de baixa renda para sua moradia e desde que não seja possível
identificar os terrenos ocupados por cada possuidor e que nenhum deles não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural.
5. A Usucapião Familiar: foi inserida no nosso Código Civil através da lei 12.424/2011,
que regulamenta o programa Minha Casa, Minha Vida. Através dessa inclusão, criou-se a
possibilidade de um cônjuge usucapir do outro e pleitear o domínio integral do bem imóvel
que compartilhavam.
Direitos Reais - Aquisição da propriedade móvel
•ser antigo,
•estar escondido (oculto, enterrado),
•o dono ser desconhecido e o descobridor ter encontrado casualmente (sem querer). O
tesouro se divide ao meio com o dono do terreno.
•Se o descobridor estava propositadamente procurando o tesouro em terreno alheio sem
autorização, não terá direito a nada (1265).
4 - Especificação: ocorre quando alguém manipulando matéria prima de outrem (ex:
pedra, madeira, couro, barro, ferro) obtém espécie nova (ex: escultura, carranca, sapato,
boneco, ferramenta).
Conceito
Transformação de coisa em espécie nova em virtude de trabalho / indústria do especificador,
desde que não seja possível reduzi-la a sua forma primitiva
Observação
A capacidade criadora do homem é fundamental.
Exemplo: Atividades artesanais, artísticas e industrial
5 - Confusão, comistão e adjunção: são três modos diferentes e raros de aquisição da
propriedade, tratados pelo CC numa seção única. Tratam-se da mistura de coisas de
proprietários diferentes e que depois não podem ser separadas.
A confusão é a mistura de coisas líquidas (ex: vinho com refrigerante, álcool com água - obs:
não confundir com a confusão de direitos do 381 pois aqui a confusão é de coisas).
A comistão é a mistura de coisas sólidas (ex: sal com açúcar; sal com areia, grãos).
E a adjunção é a união de coisas, não seria a mistura, mas a união, a justaposição de coisas
que não podem ser separadas sem estragar (ex: selo colado num álbum, peça soldada num
motor, diamante incrustado num anel, vaso adesivado).
6 - Usucapião de coisa móvel: Aplica-se aos móveis e também aos semoventes (bens
suscetíveis de movimento próprio, como um boi, um cavalo, art 82). Esta usucapião de
móveis mantem os mesmos fundamentos e requisitos da usucapião de imóveis.
A usucapião de móveis é mais rara e é menor o tempo previsto em lei para sua aquisição
tendo em vista a maior importância econômica dos imóveis na nossa vida. Para os imóveis a
usucapião se dá entre cinco e quinze anos, já para os móveis se dá entre três e cinco anos.
PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL E IMÓVEL
O Código Civil disciplina separadamente a aquisição dos imóveis (capítulo 2) da aquisição dos
móveis (cap. 3), mas a perda da propriedade é tratada num único capítulo, tanto para os
móveis como para os imóveis.
Em geral, aos modos de aquisição, correspondem modos de perda, pois enquanto uns
adquirem, outros perdem (ex: A perde pelo abandono um sofá velho, B pega este sofá e
adquire pela ocupação: é o mesmo fenômeno visto de lados opostos). Vejamos os casos:
a) a morte: o falecido perde a propriedade dos seus bens, que automaticamente se transferem
para seus herdeiros; 1784
d) a alienação: é modo voluntário de perda, e a alienação pode ser gratuita (ex: doação) ou
onerosa (ex: compra e venda, troca, dação em pagamento).
e) renúncia: não confundir com abandono que veremos adiante; a renúncia é uma declaração
de vontade expressa onde o proprietário afirma que não mais quer aquele bem, mas sem
transferi-lo a outrem; a renúncia de imóveis exige escritura pública (108) e registro em
cartório (pú do 1275); vide renúncia de herança no 1806 (veremos no 1813 que a renúncia da
herança não prejudicar o credor do herdeiro); a renúncia é rara, o mais comum é o simples
abandono.
f) abandono: é um gesto, um comportamento inequívoco de se desfazer da coisa (obs: os
loucos e os menores não podem abandonar, pois não podem dispor de seus bens); atenção
para não confundir coisa abandonada (res derelictae) com coisa perdida (res amissa), pois a
coisa perdida deve ser devolvida ao dono, já a coisa abandonada pode ser apropriada pela
ocupação. As coisas móveis abandonadas não preocupam ao Direito; as semoventes
preocupam porque animais soltos pelas ruas/estradas provocam acidentes; as coisas imóveis
abandonadas também preocupam ao Direito por causa da função social da propriedade (ver
1276 e §§).
g) perecimento da coisa: não há direito sem objeto, e o objeto do direito real é a coisa; se a
coisa se extingue, perece também o direito real. (ex: anel que cai no mar; terreno que é
invadido pelo mar; carro que sofre um incêndio); o perecimento pode ser voluntário (ex: o
dono destruir seu relógio).
h) desapropriação: é a interferência do poder público no domínio privado, assunto que vocês
estudarão em dir. administrativo (DL 3365/41); a desapropriação é involuntária.
i) execução: assunto de processo civil; se dá a perda da propriedade, pois o Juiz retira bens
do devedor e os vende em leilão para satisfazer o credor; é perda involuntária.
j) advento da condução resolutiva: extingue a propriedade resolúvel (1359); ex: compro uma
casa com cláusula de retrovenda, então se o vendedor exercer a opção de recompra, eu
perderei a casa (505); outro ex: o fideicomisso, que veremos em Civil 7 (1951 e 1953); o titular
da propriedade resolúvel sabe que sua propriedade pode extinguir-se por uma cláusula no
título aquisitivo.