Você está na página 1de 95

SEJA BEM-VINDA(O)!

AGUARDAREMOS ALGUNS MINUTOS E LOGO INICIAREMOS


NOSSA AULA.
Direito Civil – Teoria Geral
Profa. Msc. Luísa Vanessa Carneiro da Costa
Direitos Reais
Direitos Reais na Coisa Alheia

São denominados direitos reais sobre coisas alheias


porque seu objeto não é coisa própria, mas coisa da
própria propriedade de outra pessoa. Caracterizam-se pela
oponibilidade erga omnes e pelo poder de sequela.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A oponibilidade Erga Omnes, significa que uma pessoa


titular de direito real sobre uma coisa, é livre para exercer
seu poder sobre esta, cabendo a todos os demais, o dever
de respeitar o exercício de tal direito, daí o termo oponível
contra todos.
Direito de Sequela é uma expressão jurídica que significa
o poder ou a prerrogativa de alguém perseguir um bem
onde quer que ele se encontre, independentemente de
quem o detenha.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Os direitos reais na coisa alheia, em face do Código Civil,


podem ser subdivididos em:
a) direitos de gozo ou fruição — superfície, servidão,
usufruto, uso, habitação, concessão de uso especial para
moradia, concessão de direito real de uso e laje;
b) direitos de garantia — penhor, anticrese e hipoteca;
c) direito à coisa — promessa de compra e venda.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Direitos de gozo ou fruição


Os direitos reais de gozo ou fruição são situações reais em
que há a divisão dos atributos relativos à propriedade ou
domínio, do GRUD, antes exposto. Como o próprio
nome indica, transmitem-se a outrem os atributos de
gozar ou fruir a coisa, com maior ou menor amplitude.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Há, portanto, nos institutos que serão abordados situações


de propriedade restrita ou limitada, ou, em outras palavras,
casos em que o titular do domínio não concentra, em suas
únicas mãos, todos os atributos da propriedade descritos
no art. 1.228 do Código Civil.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.228 CC: O proprietário tem a faculdade de usar,


gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de
quem quer que injustamente a possua ou detenha.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Superfície
O direito de superfície substituiu a antiga enfiteuse.
O proprietário pode conceder a outrem o direito de
construir ou de plantar em seu terreno, por tempo
determinado, mediante escritura pública devidamente
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, segundo o
art. 1.369.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.369 CC: O proprietário pode conceder a outrem o


direito de construir ou de plantar em seu terreno, por
tempo determinado, mediante escritura pública
devidamente registrada no Cartório de Registro de
Imóveis.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Algumas características devem ser destacadas:


a) o direito real de superfície concede ao seu titular o
direito de construir ou plantar em terreno alheio, sem
descaracterizar ou prejudicar a substância da coisa
principal;
b) é sempre pactuado em caráter temporário,
diferentemente, pois, da enfiteuse, que era perpétua;
Direitos Reais na Coisa Alheia

c) a sua constituição somente se dará por escritura pública,


devidamente registrada no Cartório de Registro de
Imóveis;
d) não se admite a realização de obra no subsolo,
ressalvada a hipótese de haver previsão contratual
expressa neste sentido.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.370 CC: A concessão da superfície será gratuita ou


onerosa; se onerosa, estipularão as partes se o pagamento
será feito de uma só vez, ou parceladamente.

Art. 1.371 CC: O superficiário responderá pelos encargos


e tributos que incidirem sobre o imóvel.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.372 CC: O direito de superfície pode transferir-se a


terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros.
Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo
concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela
transferência.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.375 CC: Extinta a concessão, o proprietário passará


a ter a propriedade plena sobre o terreno, construção ou
plantação, independentemente de indenização, se as partes
não houverem estipulado o contrário.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Servidão
O termo “servidão” tem origem na palavra latina
servitudo, de servus, reportando-nos a um sentido de
subserviência, de submissão.

Por meio desse instituto real, um prédio proporciona


utilidade a outro, gravando o último, que é do domínio de
outra pessoa. Em suma, a servidão reapresenta um tapete
de concessão em benefício de outro proprietário.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Servidão: é a utilização de um prédio por outro. Tal


utilização não pode ser indispensável, mas se faz
necessária ou vantajosa ao prédio chamado de dominante.
a) prédio dominante – aquele que tem a servidão a seu
favor;
b) prédio serviente – imóvel que serve o outro, em
detrimento do seu domínio.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A servidão, direito real peculiar que é, apresenta algumas


características bem delineadas pela doutrina, a saber:
Predialidade – como exposto, só se admitem servidões
sobre prédios, ou seja, sobre bens imóveis corpóreos,
excluindo-se os bens móveis e imateriais.
Acessoriedade – as servidões não podem existir sozinhas,
havendo necessidade de um prédio sobre o qual recaem.
Ambulatoriedade – a servidão acompanha o prédio no
caso de sua transmissão.
Indivisibilidade – a servidão não se adquire nem se perde
por partes, como regra, sendo indivisível.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.378 CC: A servidão proporciona utilidade para o


prédio dominante, e grava o prédio serviente, que
pertence a diverso dono, e constitui-se mediante
declaração expressa dos proprietários, ou por testamento,
e subseqüente registro no Cartório de Registro de
Imóveis.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A servidão constitui um ônus real que é imposto


voluntariamente a um prédio, chamado de serviente, em
favor de outro (o dominante), em virtude do qual o
proprietário do prédio serviente perde o exercício de
algum de seus direitos dominiais sobre ele, ou tolera que o
proprietário do prédio dominante se utilize dele, tornando
seu prédio mais útil.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.379 CC: O exercício incontestado e contínuo de


uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art.
1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu nome no
Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a sentença
que julgar consumado a usucapião.
Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o prazo
da usucapião será de vinte anos.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.242 CC: Adquire também a propriedade do imóvel


aquele que, contínua e incontestadamente, com justo
título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Do Exercício das Servidões


Art. 1.380 CC: O dono de uma servidão pode fazer todas
as obras necessárias à sua conservação e uso, e, se a
servidão pertencer a mais de um prédio, serão as despesas
rateadas entre os respectivos donos.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.381 CC: As obras a que se refere o artigo


antecedente devem ser feitas pelo dono do prédio
dominante, se o contrário não dispuser expressamente o
título.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Uma vez que a servidão impõe uma limitação ao direito


do titular do prédio serviente, o seu exercício deverá ter,
por consequência, caráter restritivo:

Art. 1.385 CC: Restringir-se-á o exercício da servidão às


necessidades do prédio dominante, evitando-se, quanto
possível, agravar o encargo ao prédio serviente.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 1º Constituída para certo fim, a servidão não se pode


ampliar a outro.
§ 2º Nas servidões de trânsito, a de maior inclui a de
menor ônus, e a menor exclui a mais onerosa.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 3º Se as necessidades da cultura, ou da indústria, do


prédio dominante impuserem à servidão maior largueza, o
dono do serviente é obrigado a sofrê-la; mas tem direito a
ser indenizado pelo excesso.
Este parágrafo, nitidamente, leva em conta o princípio da
função social, especialmente em uma perspectiva
econômica.
Direitos Reais na Coisa Alheia

É necessário que os prédios pertençam a donos diversos.


Se pertencerem ao mesmo proprietário, este estará
simplesmente usando o que é seu, sem que se estabeleça
uma servidão, e sim uma serventia que pode se
transformar em direito real se o domínio dos prédios
passarem a titulares diferentes.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Da Extinção das Servidões


Art. 1.388 CC: O dono do prédio serviente tem direito,
pelos meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora
o dono do prédio dominante lho impugne:
I - quando o titular houver renunciado a sua servidão;
II - quando tiver cessado, para o prédio dominante, a
utilidade ou a comodidade, que determinou a constituição
da servidão;
III - quando o dono do prédio serviente resgatar a
servidão.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.389 CC: Também se extingue a servidão, ficando


ao dono do prédio serviente a faculdade de fazê-la
cancelar, mediante a prova da extinção:
I - pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma
pessoa;
II - pela supressão das respectivas obras por efeito de
contrato, ou de outro título expresso;
III - pelo não uso, durante dez anos contínuos.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Usufruto
É o direito conferido a alguém, durante certo tempo, de
gozar ou fruir de um bem cuja propriedade pertence a
outrem.

O usufruto pode ser apontado como o direito real de


gozo ou fruição por excelência, pois há a divisão
igualitária dos atributos da propriedade (GRUD) entre as
partes envolvidas.
Direitos Reais na Coisa Alheia

O usufruto é o direito real, conferido a alguma pessoa,


durante certo tempo, que a autoriza a retirar, de coisa
alheia, frutos e utilidades, que ele produza.

Usufruto é o desmembramento da propriedade, de caráter


temporário, em que o titular tem o direito de usar e
perceber frutos da coisa, sem afetar-lhe a substância.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.390 CC: O usufruto pode recair em um ou mais


bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou
parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os
frutos e utilidades.

Art. 1.391 CC: O usufruto de imóveis, quando não resulte


de usucapião, constituir-se-á mediante registro no Cartório
de Registro de Imóveis.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Partes do usufruto
Como primeira parte, há o usufrutuário que, como o
próprio nome já diz, tem os atributos de usar (ou utilizar)
e fruir (ou gozar) a coisa – GU.
Repise-se que esses são os atributos diretos, que formam
o domínio útil.
O usufrutuário mantém a posse direta sobre o bem, tendo
o contato corpóreo imediato.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A outra parte é o nu-proprietário, que tem os atributos de


reivindicar (ou buscar) e dispor (ou alienar) a coisa – RD.

É assim chamado justamente por estar despido dos


atributos diretos, relativos ao domínio útil, que estão com
o usufrutuário.
Tem a posse indireta ou imediata da coisa, diante do
exercício do direito real.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Dos Direitos do Usufrutuário


Art. 1.394 CC: O usufrutuário tem direito à posse, uso,
administração e percepção dos frutos.
Art. 1.396 CC: Salvo direito adquirido por outrem, o
usufrutuário faz seus os frutos naturais, pendentes ao
começar o usufruto, sem encargo de pagar as despesas de
produção.
Parágrafo único. Os frutos naturais, pendentes ao tempo
em que cessa o usufruto, pertencem ao dono, também
sem compensação das despesas.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.398 CC: Os frutos civis, vencidos na data inicial do


usufruto, pertencem ao proprietário, e ao usufrutuário os
vencidos na data em que cessa o usufruto.

Os frutos civis provêm de uma relação jurídica. São,


enfim, os rendimentos produzidos pela utilização
econômica da coisa principal, decorrentes da
concessão do uso e gozo da coisa (ex: juros, pensões,
foros, aluguéis, prestações periódicas, em dinheiro,
decorrentes da concessão do uso e gozo do bem).
Direitos Reais na Coisa Alheia

Dos Deveres do Usufrutuário


Art. 1.402 CC: O usufrutuário não é obrigado a pagar as
deteriorações resultantes do exercício regular do usufruto.
Art. 1.403 CC: Incumbem ao usufrutuário:
I - as despesas ordinárias de conservação dos bens no
estado em que os recebeu;
II - as prestações e os tributos devidos pela posse ou
rendimento da coisa usufruída.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.406 CC: O usufrutuário é obrigado a dar ciência ao


dono de qualquer lesão produzida contra a posse da coisa,
ou os direitos deste.

Art. 1.407 CC: Se a coisa estiver segurada, incumbe ao


usufrutuário pagar, durante o usufruto, as contribuições
do seguro.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Extinção do usufruto
O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no
Cartório de Registro de Imóveis:
➢ pela renúncia ou morte do usufrutuário;
➢ pelo termo de sua duração;
➢ pela cessação do motivo de que se origina;
➢ pela consolidação;
➢ pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o
usufruto recai.
Direitos Reais na Coisa Alheia

➢ a “cessão do motivo de que se origina”, pois o usufruto


poderá ter sido constituído para certa finalidade — por
exemplo alimentar — e, uma vez exaurido este fim, o
direito não mais se justificaria.
➢ a “cessão do motivo de que se origina”, pois o usufruto
poderá ter sido constituído para certa finalidade — por
exemplo alimentar — e, uma vez exaurido este fim, o
direito não mais se justificaria.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Classificação
• Classificação quanto ao objeto que recai
➢ O usufruto próprio ou regular é aquele que recai
sobre bens infungíveis e inconsumíveis.
Ao final, o usufrutuário deve restituir os bens que
recebeu.
➢ Por outra via, o usufruto impróprio, irregular ou
quase usufruto recai sobre bens fungíveis e
consumíveis.
Direitos Reais na Coisa Alheia

• Classificação quanto à extensão


➢ Levando-se em conta a sua extensão ou amplitude na
relação com bens acessórios, o usufruto total ou
pleno é aquele que abrange todos os acessórios da
coisa e os seus acrescidos.
➢ O usufruto parcial ou restrito tem seu conteúdo
delimitado na instituição, podendo não abranger todos
os acessórios da coisa objeto do instituto.
Direitos Reais na Coisa Alheia

• Classificação quanto à duração


➢ o usufruto temporário ou a termo se dá quando da
instituição já se estabelece seu prazo de duração.
➢ o usufruto vitalício está presente caso seja estipulado a
favor de pessoa natural, sem previsão de prazo ou
termo final, ocasião em que é considerado como
vitalício e se extingue com a morte do usufrutuário.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Uso
O direito real de uso pode ser constituído de forma
gratuita ou onerosa, havendo a cessão apenas do atributo
de utilizar a coisa, seja ela móvel ou imóvel (o U do
GRUD).
São partes do direito real em comento:
a) o proprietário, aquele que faz a cessão real da coisa;
b) o usuário, que tem o direito personalíssimo de uso ou
utilização da coisa.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Gonçalves (2019), o uso nada mais é do que um usufruto


limitado. Destina-se a assegurar ao beneficiário a utilização
imediata de coisa alheia, limitada às necessidades do
usuário e de sua família.
Exemplo de uso: seria o cultivo da terra para
subsistência.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.412 CC: O usuário usará da coisa e perceberá os


seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de
sua família.
§ 1º Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário
conforme a sua condição social e o lugar onde viver.
§ 2º As necessidades da família do usuário compreendem
as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e das pessoas de seu
serviço doméstico.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Habitação
O direito real de habitação constitui o mais restrito dos
direitos reais de fruição, eis que apenas é cedida uma parte
do atributo de usar, qual seja, o direito de habitar o imóvel
(fração do U do GRUD).
São partes da habitação:
a) o proprietário, que transmite o direito;
b) o habitante, que tem o direito de moradia em seu
benefício.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.414 CC: Quando o uso consistir no direito de


habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito
não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente
ocupá-la com sua família.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.415 CC: Se o direito real de habitação for conferido


a mais de uma pessoa, qualquer delas que sozinha habite a
casa não terá de pagar aluguel à outra, ou às outras, mas
não as pode inibir de exercerem, querendo, o direito, que
também lhes compete, de habitá-la.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.831 CC: Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que


seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da
participação que lhe caiba na herança, o direito real de
habitação relativamente ao imóvel destinado à residência
da família, desde que seja o único daquela natureza a
inventariar.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Concessão de uso especial para moradia e concessão


de direito real de uso
Tais direitos reais referem-se a áreas públicas, geralmente
invadidas e urbanizadas por favelas. Houve um claro
intuito de regularização jurídica das áreas favelizadas,
dentro da política de reforma urbana, para que a situação
de antidireito passe a ser tratada pelo Direito.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A Lei federal 10.257/2001 – Estatuto da Cidade –


regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição
Federal que versam a respeito da política urbana,
enumerando em seu artigo 4º os instrumentos para a sua
efetivação.
A concessão de uso especial para fins de moradia consta
da Medida Provisória 2.220/2001. A citada MP recebeu
algumas alterações pela Lei 13.465/2017.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Dispõe a dita Medida Provisória, em seu art. 1º:


Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como
seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, até
duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público
situado em área com características e finalidade urbanas, e
que o utilize para sua moradia ou de sua família, tem o
direito à concessão de uso especial para fins de moradia
em relação ao bem objeto da posse, desde que não seja
proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro
imóvel urbano ou rural.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 1o A concessão de uso especial para fins de moradia


será conferida de forma gratuita ao homem ou à mulher,
ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2o O direito de que trata este artigo não será
reconhecido ao mesmo concessionário mais de uma vez.
§ 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo
continua, de pleno direito, na posse de seu antecessor,
desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da
sucessão.
Direitos Reais na Coisa Alheia

O art. 2.º da MP admite a concessão de uso especial para fins


de moradia coletiva.
Art. 2o: Nos imóveis de que trata o art. 1o, com mais de
duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de
dezembro de 2016, por população de baixa renda para sua
moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
cuja área total dividida pelo número de possuidores seja
inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por
possuidor, a concessão de uso especial para fins de moradia
será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores
não sejam proprietários ou concessionários, a qualquer título,
de outro imóvel urbano ou rural.
Direitos Reais na Coisa Alheia

As concessões de moradia, individual e coletiva, serão


garantidas igualmente aos ocupantes, regularmente
inscritos, de imóveis públicos, com até duzentos e
cinquenta metros quadrados, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, que estejam situados
em área urbana, na forma do regulamento (art. 3.º da
MP).
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 4o No caso de a ocupação acarretar risco à vida ou à


saúde dos ocupantes, o Poder Público garantirá ao
possuidor o exercício do direito de que tratam os arts. 1o e
2o em outro local.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 5o É facultado ao Poder Público assegurar o


exercício do direito de que tratam os arts. 1o e 2o em outro
local na hipótese de ocupação de imóvel:
I - de uso comum do povo;
II - destinado a projeto de urbanização;
III - de interesse da defesa nacional, da preservação
ambiental e da proteção dos ecossistemas naturais;
IV - reservado à construção de represas e obras
congêneres; ou
V - situado em via de comunicação.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Já em relação a concessão de direito real de uso:

Art. 7o, Decreto-lei 271/1967, incluído pela Lei nº


11.481/2007: É instituída a concessão de uso de terrenos
públicos ou particulares remunerada ou gratuita, por tempo
certo ou indeterminado, como direito real resolúvel, para
fins específicos de regularização fundiária de interesse social,
urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra,
aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das
comunidades tradicionais e seus meios de subsistência ou
outras modalidades de interesse social em áreas urbanas.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 1º A concessão de uso poderá ser contratada, por


instrumento público ou particular, ou por simples têrmo
administrativo, e será inscrita e cancelada em livro
especial.
§ 2º Desde a inscrição da concessão de uso, o
concessionário fruirá plenamente do terreno para os fins
estabelecidos no contrato e responderá por todos os
encargos civis, administrativos e tributários que venham a
incidir sobre o imóvel e suas rendas.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 3º Resolve-se a concessão antes de seu têrmo, desde que


o concessionário dê ao imóvel destinação diversa da
estabelecida no contrato ou têrmo, ou descumpra cláusula
resolutória do ajuste, perdendo, neste caso, as benfeitorias
de qualquer natureza.
§ 4º A concessão de uso, salvo disposição contratual em
contrário, transfere-se por ato inter vivos , ou por
sucessão legítima ou testamentária, como os demais
direitos reais sôbre coisas alheias, registrando-se a
transferência.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 5o Para efeito de aplicação do disposto


no caput deste artigo, deverá ser observada a anuência
prévia:
I - do Ministério da Defesa e dos Comandos da
Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, quando se
tratar de imóveis que estejam sob sua administração;
e
II - do Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência de República, observados os termos do
inciso III do § 1o do art. 91 da Constituição Federal.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Laje
O direito real de laje ingressou no ordenamento jurídico
brasileiro através da Medida Provisória 759 de dezembro
de 2016, que deu origem à Lei 13.465 de 11 de julho de
2017. O reconhecimento legislativo deste direito
real trouxe a possibilidade de regularização de muitas
situações que existem de fato, porém de difícil solução
registral.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Com a implementação da nova lei, é possível que, aquele


que deseja construir (ou já construiu) sobre ou sob uma
construção já existente, obtenha a matrícula da sua
unidade, isto é, é possível fazer o registro deste direito,
obtendo o adquirente, um título oponível erga omnes.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Trata-se de situação muito comum, especialmente nos


grandes centros urbanos, em que o proprietário do ‘andar
térreo’ cede o direito de uso e moradia para que um
terceiro construa ‘a sua casa’ no andar de cima. É o
popular ‘puxadinho’. Assim, passam a coexistir unidades
imobiliárias autônomas, de titularidades distintas, situadas
em uma mesma área. O reconhecimento desse direito —
embora, claro, exija a nossa cuidadosa interpretação no
caso concreto — reverencia a função social (STOLZE,
2019).
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.510-A, CC: O proprietário de uma construção-


base poderá ceder a superfície superior ou inferior de sua
construção a fim de que o titular da laje mantenha
unidade distinta daquela originalmente construída sobre o
solo.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 1º O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o


subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em
projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma,
não contemplando as demais áreas edificadas ou não
pertencentes ao proprietário da construção-base.
§ 2º O titular do direito real de laje responderá pelos
encargos e tributos que incidirem sobre a sua unidade.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 3º Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma


constituída em matrícula própria, poderão dela usar, gozar
e dispor.
§ 4º A instituição do direito real de laje não implica a
atribuição de fração ideal de terreno ao titular da laje ou a
participação proporcional em áreas já edificadas.
Direitos Reais na Coisa Alheia

§ 5º Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor


sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito
real de laje.
§ 6º O titular da laje poderá ceder a superfície de sua
construção para a instituição de um sucessivo direito real
de laje, desde que haja autorização expressa dos titulares
da construção-base e das demais lajes, respeitadas as
posturas edilícias e urbanísticas vigentes.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Direitos de garantia — penhor, anticrese e hipoteca


Penhor
De acordo com Tartuce (2019), como primeiro direito real
de garantia sobre coisa alheia, o penhor é constituído
sobre bens móveis (em regra), ocorrendo a transferência
efetiva da posse do bem do devedor ao credor (também
em regra).
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.431 CC: Constitui-se o penhor pela transferência


efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou a
quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de
uma coisa móvel, suscetível de alienação.
Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e
de veículos, as coisas empenhadas continuam em poder
do devedor, que as deve guardar e conservar.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Partes do penhor:
Devedor pignoratício: aquele que dá a coisa em garantia,
proprietário do bem, tendo a dívida em seu desfavor.
Credor pignoratício: que tem o crédito e o direito real de
garantia a seu favor.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Não se pode esquecer que a instituição do penhor será


efetivada por instrumento, seja ele público ou particular.
Em suma, a sua constituição é um ato jurídico formal,
pela exigência de forma escrita, sob pena de nulidade.
Art. 1.432 CC: O instrumento do penhor deverá ser
levado a registro, por qualquer dos contratantes; o do
penhor comum será registrado no Cartório de Títulos e
Documentos.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Extinção do Penhor:
Art. 1.436 CC: Extingue-se o penhor:
I - extinguindo-se a obrigação;
II - perecendo a coisa;
III - renunciando o credor;
IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de
credor e de dono da coisa;
Direitos Reais na Coisa Alheia

Espécies de Penhor:
Penhor Rural;
Penhor Agrícola;
Penhor Pecuário;
Penhor Industrial e Mercantil;
Penhor de Direitos e Títulos de Crédito;
Penhor de Veículos;
Penhor Legal.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Hipoteca
Para Gomes (2004), a hipoteca é um direito real de
garantia em virtude do qual um bem imóvel, que continua
em poder do devedor, assegura ao credor, precipuamente,
o pagamento de uma dívida.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Para Diniz (2019), a hipoteca é o direito real de garantia


que grava coisa imóvel ou bem que a lei entende por
hipotecável, pertencente ao devedor ou a terceiro, sem a
transmissão de posse ao credor, conferindo a este o
direito de promover a sua venda judicial, pagando-se
preferentemente, se inadimplente o devedor.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A hipoteca é o direito real de garantia sobre coisa alheia


que recai sobre bens imóveis, como regra, em que não há
a transmissão da posse da coisa entre as partes
(TARTUCE, 2019).
Direitos Reais na Coisa Alheia

São partes da hipoteca:


a) devedor hipotecante – aquele que dá a coisa em
garantia, podendo ser o próprio devedor ou terceiro;
b) credor hipotecário – tem o benefício do crédito e do
direito real.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A hipoteca, pela sua origem, pode ser convencional, legal


ou judicial.
A hipoteca convencional tem origem em um contrato, ou
seja, pela livre manifestação de vontade dos interessados.
A hipoteca judicial decorre de uma sentença condenatória
ou decisão judicial, assegurando a sua execução ou
garantindo alguma obrigação assumida por uma das partes
em um processo.
A hipoteca legal é determinada pela lei para garantir
determinadas obrigações, conforme disposto no artigo
1.489 do Código Civil.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.489 CC: A lei confere hipoteca:


I - às pessoas de direito público interno (art. 41) sobre os
imóveis pertencentes aos encarregados da cobrança, guarda ou
administração dos respectivos fundos e rendas;
II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a
outras núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior;
III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do
delinqüente, para satisfação do dano causado pelo delito e
pagamento das despesas judiciais;
IV - ao co-herdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da
partilha, sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente;
V - ao credor sobre o imóvel arrematado, para garantia do
pagamento do restante do preço da arrematação.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Registro da Hipoteca
Art. 1.492 CC: As hipotecas serão registradas no cartório
do lugar do imóvel, ou no de cada um deles, se o título se
referir a mais de um.
Parágrafo único. Compete aos interessados, exibido o
título, requerer o registro da hipoteca.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Extinção da Hipoteca
Art. 1.499 CC: A hipoteca extingue-se:
I - pela extinção da obrigação principal;
II - pelo perecimento da coisa;
III - pela resolução da propriedade;
IV - pela renúncia do credor;
V - pela remição;
VI - pela arrematação ou adjudicação.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.500 CC: Extingue-se ainda a hipoteca com a


averbação, no Registro de Imóveis, do cancelamento do
registro, à vista da respectiva prova.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Anticrese
A anticrese é um direito real de garantia pouco usual no
Brasil, sendo certo que houve propostas de sua retirada
quando da elaboração do Código Civil Brasileiro de 2002.

Por meio desse direito real de garantia, um imóvel é dado


em garantia e transmitido do devedor, ao credor, podendo
o último retirar da coisa os frutos para o pagamento da
dívida, em havendo uma compensação.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Como se percebe, a anticrese está no meio do caminho


entre o penhor e a hipoteca, tendo características de
ambos. Com a hipoteca tem em comum o fato de recair
sobre imóveis, como é corriqueiro. Do penhor, há a
similaridade em relação à transmissão da posse. De
diferente, a retirada dos frutos do bem.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.506 CC: Pode o devedor ou outrem por ele, com a


entrega do imóvel ao credor, ceder-lhe o direito de
perceber, em compensação da dívida, os frutos e
rendimentos.
§ 1º É permitido estipular que os frutos e rendimentos do
imóvel sejam percebidos pelo credor à conta de juros, mas
se o seu valor ultrapassar a taxa máxima permitida em lei
para as operações financeiras, o remanescente será
imputado ao capital.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Partes da anticrese:
a) o devedor anticrético – aquele que dá o imóvel em
garantia, transferindo a posse ao credor;
b) o credor anticrético – recebe o imóvel em garantia,
ficando com a sua posse e dele retirando os seus frutos.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Direito à coisa — promessa de compra e venda

O contrato de compra e venda é o negócio jurídico


principal pelo qual uma das partes (vendedora) se obriga a
transferir a propriedade de uma coisa móvel ou imóvel à
outra (compradora), mediante o pagamento de uma
quantia em dinheiro (preço).
Direitos Reais na Coisa Alheia

Já o contrato de promessa ou compromisso de


compra e venda é um contrato preliminar que tem como
objeto um negócio futuro de venda e compra. Por meio
dele, o vendedor continua titular do domínio que somente
será transferido após a quitação integral do preço.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Gomes (2004) dispõe que não se trata, por certo, de um


contrato preliminar comum, mas, sim, de uma verdadeira
promessa bilateral sui generis, na medida em que,
potencialmente, gera um direito real à aquisição da coisa e
comporta execução específica.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Isso porque, ao celebrá-lo, as partes envolvidas


(promitente ou compromissário vendedor e promitente
ou compromissário comprador) assumem a obrigação de
fazer o contrato definitivo de compra e venda, mediante a
outorga de escritura de venda do imóvel compromissado.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.418 CC: O promitente comprador, titular de direito


real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros,
a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da
escritura definitiva de compra e venda, conforme o
disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa,
requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.

Você também pode gostar