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SEJA BEM-VINDA(O)!

AGUARDAREMOS ALGUNS MINUTOS E LOGO INICIAREMOS


NOSSA AULA.
Direito Civil – Teoria Geral
Profa. Msc. Luísa Vanessa Carneiro da Costa
Direitos Reais
Direitos Reais na Coisa Alheia

São denominados direitos reais sobre coisas alheias


porque seu objeto não é coisa própria, mas coisa da
própria propriedade de outra pessoa. Caracterizam-se
pela oponibilidade erga omnes e pelo poder de sequela.
Direitos Reais na Coisa Alheia

A oponibilidade Erga Omnes, significa que uma


pessoa titular de direito real sobre uma coisa, é livre
para exercer seu poder sobre esta, cabendo a todos os
demais, o dever de respeitar o exercício de tal direito,
daí o termo oponível contra todos.
Direito de Sequela é uma expressão jurídica que
significa o poder ou a prerrogativa de alguém perseguir
um bem onde quer que ele se encontre,
independentemente de quem o detenha. 
Direitos Reais na Coisa Alheia

Os direitos reais na coisa alheia, em face do Código


Civil, podem ser subdivididos em:
a) direitos de gozo ou fruição — superfície, servidão,
usufruto, uso, habitação, concessão de uso especial para
moradia, concessão de direito real de uso e laje;
b) direitos de garantia — penhor, anticrese e hipoteca;
c) direito à coisa — promessa de compra e venda.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Direitos de gozo ou fruição


Os direitos reais de gozo ou fruição são situações reais
em que há a divisão dos atributos relativos à
propriedade ou domínio, do GRUD, antes exposto.
Como o próprio nome indica, transmitem-se a outrem os
atributos de gozar ou fruir a coisa, com maior ou menor
amplitude.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Há, portanto, nos institutos que serão abordados


situações de propriedade restrita ou limitada, ou, em
outras palavras, casos em que o titular do domínio não
concentra, em suas únicas mãos, todos os atributos da
propriedade descritos no art. 1.228 do Código Civil.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Art. 1.228 CC: O proprietário tem a faculdade de usar,


gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder
de quem quer que injustamente a possua ou detenha.
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Superfície
O direito de superfície substituiu a antiga enfiteuse.
O proprietário pode conceder a outrem o direito de
construir ou de plantar em seu terreno, por tempo
determinado, mediante escritura pública devidamente
registrada no Cartório de Registro de Imóveis, segundo
o art. 1.369.
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Art. 1.369 CC: O proprietário pode conceder a outrem


o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por
tempo determinado, mediante escritura pública
devidamente registrada no Cartório de Registro de
Imóveis.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Algumas características devem ser destacadas:


a) o direito real de superfície concede ao seu titular o
direito de construir ou plantar em terreno alheio, sem
descaracterizar ou prejudicar a substância da coisa
principal;
b) é sempre pactuado em caráter temporário,
diferentemente, pois, da enfiteuse, que era perpétua;
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c) a sua constituição somente se dará por escritura


pública, devidamente registrada no Cartório de Registro
de Imóveis;
d) não se admite a realização de obra no subsolo,
ressalvada a hipótese de haver previsão contratual
expressa neste sentido.
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Art. 1.370 CC: A concessão da superfície será gratuita


ou onerosa; se onerosa, estipularão as partes se o
pagamento será feito de uma só vez, ou parceladamente.
 
Art. 1.371 CC: O superficiário responderá pelos
encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel.
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Art. 1.372 CC: O direito de superfície pode transferir-


se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus
herdeiros.
Parágrafo único. Não poderá ser estipulado pelo
concedente, a nenhum título, qualquer pagamento pela
transferência.
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Art. 1.375 CC: Extinta a concessão, o proprietário


passará a ter a propriedade plena sobre o terreno,
construção ou plantação, independentemente de
indenização, se as partes não houverem estipulado o
contrário.
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Servidão
O termo “servidão” tem origem na palavra latina
servitudo, de servus, reportando-nos a um sentido de
subserviência, de submissão.
 
Por meio desse instituto real, um prédio proporciona
utilidade a outro, gravando o último, que é do domínio
de outra pessoa. Em suma, a servidão reapresenta um
tapete de concessão em benefício de outro proprietário.
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Servidão: é a utilização de um prédio por outro. Tal


utilização não pode ser indispensável, mas se faz
necessária ou vantajosa ao prédio chamado de
dominante.
a) prédio dominante – aquele que tem a servidão a seu
favor;
b) prédio serviente – imóvel que serve o outro, em
detrimento do seu domínio.
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A servidão, direito real peculiar que é, apresenta algumas


características bem delineadas pela doutrina, a saber:
Predialidade – como exposto, só se admitem servidões sobre
prédios, ou seja, sobre bens imóveis corpóreos, excluindo-se os
bens móveis e imateriais.
Acessoriedade – as servidões não podem existir sozinhas,
havendo necessidade de um prédio sobre o qual recaem.
Ambulatoriedade – a servidão acompanha o prédio no caso de
sua transmissão.
Indivisibilidade – a servidão não se adquire nem se perde por
partes, como regra, sendo indivisível.
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Art. 1.378 CC: A servidão proporciona utilidade para o


prédio dominante, e grava o prédio serviente, que
pertence a diverso dono, e constitui-se mediante
declaração expressa dos proprietários, ou por
testamento, e subseqüente registro no Cartório de
Registro de Imóveis.
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A servidão constitui um ônus real que é imposto


voluntariamente a um prédio, chamado de serviente, em
favor de outro (o dominante), em virtude do qual o
proprietário do prédio serviente perde o exercício de
algum de seus direitos dominiais sobre ele, ou tolera
que o proprietário do prédio dominante se utilize dele,
tornando seu prédio mais útil.
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Art. 1.379 CC: O exercício incontestado e contínuo de


uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art.
1.242, autoriza o interessado a registrá-la em seu nome
no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a
sentença que julgar consumado a usucapião.
Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o
prazo da usucapião será de vinte anos.
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Art. 1.242 CC: Adquire também a propriedade do


imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com
justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
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Do Exercício das Servidões


Art. 1.380 CC: O dono de uma servidão pode fazer
todas as obras necessárias à sua conservação e uso, e, se
a servidão pertencer a mais de um prédio, serão as
despesas rateadas entre os respectivos donos.
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Art. 1.381 CC: As obras a que se refere o artigo


antecedente devem ser feitas pelo dono do prédio
dominante, se o contrário não dispuser expressamente o
título.
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Uma vez que a servidão impõe uma limitação ao direito


do titular do prédio serviente, o seu exercício deverá ter,
por consequência, caráter restritivo:

Art. 1.385 CC: Restringir-se-á o exercício da servidão


às necessidades do prédio dominante, evitando-se,
quanto possível, agravar o encargo ao prédio serviente.
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§ 1º Constituída para certo fim, a servidão não se pode


ampliar a outro.
§ 2º Nas servidões de trânsito, a de maior inclui a de
menor ônus, e a menor exclui a mais onerosa.
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§ 3º Se as necessidades da cultura, ou da indústria, do


prédio dominante impuserem à servidão maior largueza,
o dono do serviente é obrigado a sofrê-la; mas tem
direito a ser indenizado pelo excesso.
Este parágrafo, nitidamente, leva em conta o princípio
da função social, especialmente em uma perspectiva
econômica.
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É necessário que os prédios pertençam a donos diversos.


Se pertencerem ao mesmo proprietário, este estará
simplesmente usando o que é seu, sem que se estabeleça
uma servidão, e sim uma serventia que pode se
transformar em direito real se o domínio dos prédios
passarem a titulares diferentes.
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Da Extinção das Servidões


Art. 1.388 CC: O dono do prédio serviente tem direito,
pelos meios judiciais, ao cancelamento do registro, embora
o dono do prédio dominante lho impugne:
I - quando o titular houver renunciado a sua servidão;
II - quando tiver cessado, para o prédio dominante, a
utilidade ou a comodidade, que determinou a constituição
da servidão;
III - quando o dono do prédio serviente resgatar a servidão.
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Art. 1.389 CC: Também se extingue a servidão, ficando


ao dono do prédio serviente a faculdade de fazê-la
cancelar, mediante a prova da extinção:
I - pela reunião dos dois prédios no domínio da mesma
pessoa;
II - pela supressão das respectivas obras por efeito de
contrato, ou de outro título expresso;
III - pelo não uso, durante dez anos contínuos.
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Usufruto
É o direito conferido a alguém, durante certo tempo, de
gozar ou fruir de um bem cuja propriedade pertence a
outrem.
 
O usufruto pode ser apontado como o direito real de
gozo ou fruição por excelência, pois há a divisão
igualitária dos atributos da propriedade (GRUD) entre
as partes envolvidas.
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O usufruto é o direito real, conferido a alguma pessoa,


durante certo tempo, que a autoriza a retirar, de coisa
alheia, frutos e utilidades, que ele produza.
 
Usufruto é o desmembramento da propriedade, de
caráter temporário, em que o titular tem o direito de usar
e perceber frutos da coisa, sem afetar-lhe a substância.
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Art. 1.390 CC: O usufruto pode recair em um ou mais


bens, móveis ou imóveis, em um patrimônio inteiro, ou
parte deste, abrangendo-lhe, no todo ou em parte, os
frutos e utilidades.

Art. 1.391 CC: O usufruto de imóveis, quando não


resulte de usucapião, constituir-se-á mediante registro
no Cartório de Registro de Imóveis.
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Partes do usufruto
Como primeira parte, há o usufrutuário que, como o
próprio nome já diz, tem os atributos de usar (ou
utilizar) e fruir (ou gozar) a coisa – GU.
Repise-se que esses são os atributos diretos, que
formam o domínio útil.
O usufrutuário mantém a posse direta sobre o bem,
tendo o contato corpóreo imediato.
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A outra parte é o nu-proprietário, que tem os atributos de


reivindicar (ou buscar) e dispor (ou alienar) a coisa – RD.

É assim chamado justamente por estar despido dos


atributos diretos, relativos ao domínio útil, que estão com
o usufrutuário.
Tem a posse indireta ou imediata da coisa, diante do
exercício do direito real.
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Dos Direitos do Usufrutuário


Art. 1.394 CC: O usufrutuário tem direito à posse, uso,
administração e percepção dos frutos.
Art. 1.396 CC: Salvo direito adquirido por outrem, o
usufrutuário faz seus os frutos naturais, pendentes ao começar
o usufruto, sem encargo de pagar as despesas de produção.
Parágrafo único. Os frutos naturais, pendentes ao tempo em
que cessa o usufruto, pertencem ao dono, também sem
compensação das despesas.
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Art. 1.398 CC: Os frutos civis, vencidos na data inicial


do usufruto, pertencem ao proprietário, e ao
usufrutuário os vencidos na data em que cessa o
usufruto.
 
Os frutos civis provêm de uma relação jurídica. São,
enfim, os rendimentos produzidos pela utilização
econômica da coisa principal, decorrentes da
concessão do uso e gozo da coisa (ex: juros, pensões,
foros, aluguéis, prestações periódicas, em dinheiro,
decorrentes da concessão do uso e gozo do bem).
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Dos Deveres do Usufrutuário


Art. 1.402 CC: O usufrutuário não é obrigado a pagar as
deteriorações resultantes do exercício regular do usufruto.
Art. 1.403 CC: Incumbem ao usufrutuário:
I - as despesas ordinárias de conservação dos bens no
estado em que os recebeu;
II - as prestações e os tributos devidos pela posse ou
rendimento da coisa usufruída.
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Art. 1.406 CC: O usufrutuário é obrigado a dar ciência


ao dono de qualquer lesão produzida contra a posse da
coisa, ou os direitos deste.
 
Art. 1.407 CC: Se a coisa estiver segurada, incumbe ao
usufrutuário pagar, durante o usufruto, as contribuições
do seguro.
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Extinção do usufruto
O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no
Cartório de Registro de Imóveis:
 pela renúncia ou morte do usufrutuário;
 pelo termo de sua duração;
 pela cessação do motivo de que se origina;
 pela consolidação;
 pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto
recai.
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 a “cessão do motivo de que se origina”, pois o


usufruto poderá ter sido constituído para certa
finalidade — por exemplo alimentar — e, uma vez
exaurido este fim, o direito não mais se justificaria.
 a “cessão do motivo de que se origina”, pois o
usufruto poderá ter sido constituído para certa
finalidade — por exemplo alimentar — e, uma vez
exaurido este fim, o direito não mais se justificaria.
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Classificação
• Classificação quanto ao objeto que recai
 O usufruto próprio ou regular é aquele que recai
sobre bens infungíveis e inconsumíveis.
Ao final, o usufrutuário deve restituir os bens que
recebeu.
 Por outra via, o usufruto impróprio, irregular ou
quase usufruto recai sobre bens fungíveis e
consumíveis.
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• Classificação quanto à extensão


 Levando-se em conta a sua extensão ou amplitude na
relação com bens acessórios, o usufruto total ou
pleno é aquele que abrange todos os acessórios da
coisa e os seus acrescidos.
 O usufruto parcial ou restrito tem seu conteúdo
delimitado na instituição, podendo não abranger
todos os acessórios da coisa objeto do instituto.
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• Classificação quanto à duração


 o usufruto temporário ou a termo se dá quando da
instituição já se estabelece seu prazo de duração.
 o usufruto vitalício está presente caso seja estipulado
a favor de pessoa natural, sem previsão de prazo ou
termo final, ocasião em que é considerado como
vitalício e se extingue com a morte do usufrutuário.
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Uso
O direito real de uso pode ser constituído de forma
gratuita ou onerosa, havendo a cessão apenas do
atributo de utilizar a coisa, seja ela móvel ou imóvel (o
U do GRUD).
São partes do direito real em comento:
a) o proprietário, aquele que faz a cessão real da coisa;
b) o usuário, que tem o direito personalíssimo de uso ou
utilização da coisa.
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Gonçalves (2019), o uso nada mais é do que um


usufruto limitado. Destina-se a assegurar ao beneficiário
a utilização imediata de coisa alheia, limitada às
necessidades do usuário e de sua família.
Exemplo de uso: seria o cultivo da terra para
subsistência.
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Art. 1.412 CC: O usuário usará da coisa e perceberá os


seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de
sua família.
§ 1º Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário
conforme a sua condição social e o lugar onde viver.
§ 2º As necessidades da família do usuário
compreendem as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e
das pessoas de seu serviço doméstico.
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Habitação
O direito real de habitação constitui o mais restrito dos
direitos reais de fruição, eis que apenas é cedida uma
parte do atributo de usar, qual seja, o direito de habitar o
imóvel (fração do U do GRUD).
São partes da habitação:
a) o proprietário, que transmite o direito;
b) o habitante, que tem o direito de moradia em seu
benefício.
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Art. 1.414 CC: Quando o uso consistir no direito de


habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito
não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente
ocupá-la com sua família.
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Art. 1.415 CC: Se o direito real de habitação for


conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que
sozinha habite a casa não terá de pagar aluguel à outra,
ou às outras, mas não as pode inibir de exercerem,
querendo, o direito, que também lhes compete, de
habitá-la.
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Art. 1.831 CC: Ao cônjuge sobrevivente, qualquer que


seja o regime de bens, será assegurado, sem prejuízo da
participação que lhe caiba na herança, o direito real de
habitação relativamente ao imóvel destinado à
residência da família, desde que seja o único daquela
natureza a inventariar.
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Concessão de uso especial para moradia e concessão


de direito real de uso
Tais direitos reais referem-se a áreas públicas,
geralmente invadidas e urbanizadas por favelas. Houve
um claro intuito de regularização jurídica das áreas
favelizadas, dentro da política de reforma urbana, para
que a situação de antidireito passe a ser tratada pelo
Direito.
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A Lei federal 10.257/2001 – Estatuto da Cidade –


regulamentou os artigos 182 e 183 da Constituição
Federal que versam a respeito da política urbana,
enumerando em seu artigo 4º os instrumentos para a sua
efetivação.
A concessão de uso especial para fins de moradia consta
da Medida Provisória 2.220/2001. A citada MP recebeu
algumas alterações pela Lei 13.465/2017.
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Dispõe a dita Medida Provisória, em seu art. 1º:


Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como
seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel
público situado em área com características e finalidade
urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua
família, tem o direito à concessão de uso especial para
fins de moradia em relação ao bem objeto da posse,
desde que não seja proprietário ou concessionário, a
qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. 
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§ 1o  A concessão de uso especial para fins de moradia


será conferida de forma gratuita ao homem ou à mulher,
ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2o  O direito de que trata este artigo não será
reconhecido ao mesmo concessionário mais de uma vez.
§ 3o  Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo
continua, de pleno direito, na posse de seu antecessor,
desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da
sucessão.
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O art. 2.º da MP admite a concessão de uso especial para


fins de moradia coletiva.
Art. 2o: Nos imóveis de que trata o art. 1o, com mais de
duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados até 22 de
dezembro de 2016, por população de baixa renda para sua
moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
cuja área total dividida pelo número de possuidores seja
inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por
possuidor, a concessão de uso especial para fins de moradia
será conferida de forma coletiva, desde que os possuidores
não sejam proprietários ou concessionários, a qualquer
título, de outro imóvel urbano ou rural.  
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As concessões de moradia, individual e coletiva, serão


garantidas igualmente aos ocupantes, regularmente
inscritos, de imóveis públicos, com até duzentos e
cinquenta metros quadrados, da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, que estejam situados
em área urbana, na forma do regulamento (art. 3.º da
MP).
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Art. 4o  No caso de a ocupação acarretar risco à vida ou


à saúde dos ocupantes, o Poder Público garantirá ao
possuidor o exercício do direito de que tratam os arts.
1o e 2o em outro local.
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Art. 5o  É facultado ao Poder Público assegurar o exercício


do direito de que tratam os arts. 1o e 2o em outro local na
hipótese de ocupação de imóvel:
I - de uso comum do povo;
II - destinado a projeto de urbanização;
III - de interesse da defesa nacional, da preservação
ambiental e da proteção dos ecossistemas naturais;
IV - reservado à construção de represas e obras
congêneres; ou
V - situado em via de comunicação.
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Já em relação a concessão de direito real de uso:

Art. 7o, Decreto-lei 271/1967, incluído pela Lei nº


11.481/2007: É instituída a concessão de uso de terrenos
públicos ou particulares remunerada ou gratuita, por tempo
certo ou indeterminado, como direito real resolúvel, para fins
específicos de regularização fundiária de interesse social,
urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra,
aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das
comunidades  tradicionais e seus meios de subsistência ou
outras modalidades de interesse social em áreas urbanas.      
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§ 1º A concessão de uso poderá ser contratada, por


instrumento público ou particular, ou por simples têrmo
administrativo, e será inscrita e cancelada em livro
especial.
§ 2º Desde a inscrição da concessão de uso, o
concessionário fruirá plenamente do terreno para os fins
estabelecidos no contrato e responderá por todos os
encargos civis, administrativos e tributários que venham
a incidir sobre o imóvel e suas rendas.
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§ 3º Resolve-se a concessão antes de seu têrmo, desde


que o concessionário dê ao imóvel destinação diversa da
estabelecida no contrato ou têrmo, ou descumpra
cláusula resolutória do ajuste, perdendo, neste caso, as
benfeitorias de qualquer natureza.
§ 4º A concessão de uso, salvo disposição contratual em
contrário, transfere-se por ato inter vivos , ou por
sucessão legítima ou testamentária, como os demais
direitos reais sôbre coisas alheias, registrando-se a
transferência.
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§ 5o  Para efeito de aplicação do disposto no caput deste


artigo, deverá ser observada a anuência prévia:           
I - do Ministério da Defesa e dos Comandos da Marinha,
do Exército ou da Aeronáutica, quando se tratar de
imóveis que estejam sob sua administração; e          
II - do Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência de República, observados os termos do
inciso III do § 1o do art. 91 da Constituição Federal.   
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Laje
O direito real de laje ingressou no ordenamento jurídico
brasileiro através da Medida Provisória 759 de
dezembro de 2016, que deu origem à Lei 13.465 de 11
de julho de 2017. O reconhecimento legislativo deste
direito real trouxe a possibilidade de regularização de
muitas situações que existem de fato, porém de difícil
solução registral.
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Com a implementação da nova lei, é possível que,


aquele que deseja construir (ou já construiu) sobre ou
sob uma construção já existente, obtenha a matrícula da
sua unidade, isto é, é possível fazer o registro deste
direito, obtendo o adquirente, um título oponível erga
omnes. 
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Trata-se de situação muito comum, especialmente nos


grandes centros urbanos, em que o proprietário do
‘andar térreo’ cede o direito de uso e moradia para que
um terceiro construa ‘a sua casa’ no andar de cima. É o
popular ‘puxadinho’. Assim, passam a coexistir
unidades imobiliárias autônomas, de titularidades
distintas, situadas em uma mesma área. O
reconhecimento desse direito — embora, claro, exija a
nossa cuidadosa interpretação no caso concreto —
reverencia a função social (STOLZE, 2019).
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Art. 1.510-A, CC:  O proprietário de uma construção-


base poderá ceder a superfície superior ou inferior de
sua construção a fim de que o titular da laje mantenha
unidade distinta daquela originalmente construída sobre
o solo.      
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§ 1º O direito real de laje contempla o espaço aéreo ou o


subsolo de terrenos públicos ou privados, tomados em
projeção vertical, como unidade imobiliária autônoma,
não contemplando as demais áreas edificadas ou não
pertencentes ao proprietário da construção-base.       
§ 2º O titular do direito real de laje responderá pelos
encargos e tributos que incidirem sobre a sua
unidade.      
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§ 3º Os titulares da laje, unidade imobiliária autônoma


constituída em matrícula própria, poderão dela usar,
gozar e dispor.    
§ 4º A instituição do direito real de laje não implica a
atribuição de fração ideal de terreno ao titular da laje ou
a participação proporcional em áreas já edificadas.       
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§ 5º Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor


sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao
direito real de laje.   
§ 6º O titular da laje poderá ceder a superfície de sua
construção para a instituição de um sucessivo direito
real de laje, desde que haja autorização expressa dos
titulares da construção-base e das demais lajes,
respeitadas as posturas edilícias e urbanísticas vigentes.
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Direitos de garantia — penhor, anticrese e hipoteca


Penhor
De acordo com Tartuce (2019), como primeiro direito
real de garantia sobre coisa alheia, o penhor é
constituído sobre bens móveis (em regra), ocorrendo a
transferência efetiva da posse do bem do devedor ao
credor (também em regra).
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Art. 1.431 CC: Constitui-se o penhor pela transferência


efetiva da posse que, em garantia do débito ao credor ou
a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele,
de uma coisa móvel, suscetível de alienação.
Parágrafo único. No penhor rural, industrial, mercantil e
de veículos, as coisas empenhadas continuam em poder
do devedor, que as deve guardar e conservar.
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Partes do penhor:
Devedor pignoratício: aquele que dá a coisa em
garantia, proprietário do bem, tendo a dívida em seu
desfavor.
Credor pignoratício: que tem o crédito e o direito real
de garantia a seu favor.
Direitos Reais na Coisa Alheia

Não se pode esquecer que a instituição do penhor será


efetivada por instrumento, seja ele público ou particular.
Em suma, a sua constituição é um ato jurídico formal,
pela exigência de forma escrita, sob pena de nulidade.
Art. 1.432 CC: O instrumento do penhor deverá ser
levado a registro, por qualquer dos contratantes; o do
penhor comum será registrado no Cartório de Títulos e
Documentos.
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Extinção do Penhor:
Art. 1.436 CC: Extingue-se o penhor:
I - extinguindo-se a obrigação;
II - perecendo a coisa;
III - renunciando o credor;
IV - confundindo-se na mesma pessoa as qualidades de
credor e de dono da coisa;
Direitos Reais na Coisa Alheia

Espécies de Penhor:
Penhor Rural;
Penhor Agrícola;
Penhor Pecuário;
Penhor Industrial e Mercantil;
Penhor de Direitos e Títulos de Crédito;
Penhor de Veículos;
Penhor Legal.
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Hipoteca
Para Gomes (2004), a hipoteca é um direito real de
garantia em virtude do qual um bem imóvel, que
continua em poder do devedor, assegura ao credor,
precipuamente, o pagamento de uma dívida.
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Para Diniz (2019), a hipoteca é o direito real de garantia


que grava coisa imóvel ou bem que a lei entende por
hipotecável, pertencente ao devedor ou a terceiro, sem a
transmissão de posse ao credor, conferindo a este o
direito de promover a sua venda judicial, pagando-se
preferentemente, se inadimplente o devedor.
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A hipoteca é o direito real de garantia sobre coisa alheia


que recai sobre bens imóveis, como regra, em que não
há a transmissão da posse da coisa entre as partes
(TARTUCE, 2019).
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São partes da hipoteca:


a) devedor hipotecante – aquele que dá a coisa em
garantia, podendo ser o próprio devedor ou terceiro;
b) credor hipotecário – tem o benefício do crédito e do
direito real.
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A hipoteca, pela sua origem, pode ser convencional, legal ou


judicial.
A hipoteca convencional tem origem em um contrato, ou seja,
pela livre manifestação de vontade dos interessados.
A hipoteca judicial decorre de uma sentença condenatória ou
decisão judicial, assegurando a sua execução ou garantindo
alguma obrigação assumida por uma das partes em um processo.
A hipoteca legal é determinada pela lei para garantir
determinadas obrigações, conforme disposto no artigo 1.489 do
Código Civil.
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Art. 1.489 CC: A lei confere hipoteca:


I - às pessoas de direito público interno (art. 41) sobre os imóveis
pertencentes aos encarregados da cobrança, guarda ou administração
dos respectivos fundos e rendas;
II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras
núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior;
III - ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do
delinqüente, para satisfação do dano causado pelo delito e
pagamento das despesas judiciais;
IV - ao co-herdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da
partilha, sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente;
V - ao credor sobre o imóvel arrematado, para garantia do
pagamento do restante do preço da arrematação.
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Registro da Hipoteca
Art. 1.492 CC: As hipotecas serão registradas no
cartório do lugar do imóvel, ou no de cada um deles, se
o título se referir a mais de um.
Parágrafo único. Compete aos interessados, exibido o
título, requerer o registro da hipoteca.
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Extinção da Hipoteca
Art. 1.499 CC: A hipoteca extingue-se:
I - pela extinção da obrigação principal;
II - pelo perecimento da coisa;
III - pela resolução da propriedade;
IV - pela renúncia do credor;
V - pela remição;
VI - pela arrematação ou adjudicação.
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Art. 1.500 CC: Extingue-se ainda a hipoteca com a


averbação, no Registro de Imóveis, do cancelamento do
registro, à vista da respectiva prova.
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Anticrese
A anticrese é um direito real de garantia pouco usual no
Brasil, sendo certo que houve propostas de sua retirada
quando da elaboração do Código Civil Brasileiro de
2002.

Por meio desse direito real de garantia, um imóvel é


dado em garantia e transmitido do devedor, ao credor,
podendo o último retirar da coisa os frutos para o
pagamento da dívida, em havendo uma compensação.
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Como se percebe, a anticrese está no meio do caminho


entre o penhor e a hipoteca, tendo características de
ambos. Com a hipoteca tem em comum o fato de recair
sobre imóveis, como é corriqueiro. Do penhor, há a
similaridade em relação à transmissão da posse. De
diferente, a retirada dos frutos do bem.
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Art. 1.506 CC: Pode o devedor ou outrem por ele, com


a entrega do imóvel ao credor, ceder-lhe o direito de
perceber, em compensação da dívida, os frutos e
rendimentos.
§ 1º É permitido estipular que os frutos e rendimentos
do imóvel sejam percebidos pelo credor à conta de
juros, mas se o seu valor ultrapassar a taxa máxima
permitida em lei para as operações financeiras, o
remanescente será imputado ao capital.
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Partes da anticrese:
a) o devedor anticrético – aquele que dá o imóvel em
garantia, transferindo a posse ao credor;
b) o credor anticrético – recebe o imóvel em garantia,
ficando com a sua posse e dele retirando os seus frutos.
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Direito à coisa — promessa de compra e venda

O contrato de compra e venda é o negócio jurídico


principal pelo qual uma das partes (vendedora) se
obriga a transferir a propriedade de uma coisa móvel ou
imóvel à outra (compradora), mediante o pagamento de
uma quantia em dinheiro (preço).
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Já o contrato de promessa ou compromisso de


compra e venda é um contrato preliminar que tem
como objeto um negócio futuro de venda e compra. Por
meio dele, o vendedor continua titular do domínio que
somente será transferido após a quitação integral do
preço.
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Gomes (2004) dispõe que não se trata, por certo, de um


contrato preliminar comum, mas, sim, de uma
verdadeira promessa bilateral sui generis, na medida em
que, potencialmente, gera um direito real à aquisição da
coisa e comporta execução específica.
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Isso porque, ao celebrá-lo, as partes envolvidas


(promitente ou compromissário vendedor e promitente
ou compromissário comprador) assumem a obrigação
de fazer o contrato definitivo de compra e venda,
mediante a outorga de escritura de venda do imóvel
compromissado.
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Art. 1.418 CC: O promitente comprador, titular de


direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de
terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a
outorga da escritura definitiva de compra e venda,
conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se
houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.

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