Você está na página 1de 22

LEGISLAÇÃO

EMPRESARIAL
APLICADA

Janaina Dihl
Conceito, teoria geral dos
créditos e títulos de crédito
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Conceituar títulos de crédito e suas modalidades.


 Reconhecer os princípios gerais que norteiam os títulos de crédito.
 Identificar a classificação dos títulos de crédito.

Introdução
A palavra crédito tem origem ao termo latim credĭtum, que significa coisa
confiada ou acredita. Por essa razão, a noção de crédito está associada
a qualquer relação ou transação que demonstra crença ou confiança.
Na Idade Média, o comércio operava por meio de troca. Os títulos
de crédito surgiram com o objetivo de facilitar a circulação da moeda,
uma vez que a troca de mercadorias não interessava mais aos grandes
produtores. Assim, para facilitar a circulação da moeda e aumentar a
confiança entre o credor e o devedor, surgiram os títulos de crédito.
Neste capítulo, você conhecerá o conceito, as modalidades, os prin-
cípios e a classificações dos títulos de crédito.

Crédito
Do ponto de vista jurídico, crédito é a obrigação ou o direito do sujeito ativo
em uma relação obrigacional, na qual se assegura a possibilidade do credor em
exigir a prestação do devedor. O crédito não se resume ao conceito de quantia
em dinheiro, pois é um direito de fruição. O credor é aquele em proveito de
quem a prestação deve ser executada.
Partindo da distinção civilista entre os direitos absolutos, em virtude da qual
o sujeito passivo (devedor) tem o dever jurídico de caráter patrimonial em favor
do sujeito ativo (credor), a obrigação pode ser definida como relação jurídica.
2 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

Por esse motivo, no Direito romano, os credores eram aqueles que deram
dinheiro emprestado, todos aos quais se devia alguma coisa, por uma causa
qualquer (MENDONÇA, 2003).

Título de crédito
Os títulos de crédito são documentos que representam a obrigação do devedor
perante o credor, não se confundindo com a obrigação propriamente dita.
Segundo Cesare Vivante (apud MARTINS, 1998, p. 5), “[...] é o documento
necessário ao exercício de um direito literal e autônomo nele mencionado”.
Os títulos de crédito têm duas origens, uma extracambial (p. ex., cheque,
contrato de compra e venda, etc.) e a origem cambial (p. ex., avalista), dessa
forma, as consequências jurídicas da situação que representa são distintas.
Independentemente da modalidade do título, é certo que esses títulos
beneficiam o credor, pois a obrigação do devedor está representada por um
documento hábil, facilitando não só a sua circulação do crédito (endosso),
como a efetividade na execução do título (cobrança).
No Brasil, existem dezenas de modalidades de títulos de créditos. Neste
capítulo, vamos apresentar as principais modalidades que garantem a maioria
das operações de crédito no mercado brasileiro, que são: letra de câmbio,
duplicata, cheque e nota promissória e debênture.
Atualmente, as legislações aplicáveis aos títulos de créditos são:

 Artigos 887 a 903 do Código Civil (CC) de 2002.


 Nota promissória e Letra cambial – Decreto nº. 2.044, de 31 de dezembro
de 1908.
 Duplicatas – Lei nº. 5474, de 18 de julho de 1968.
 Cheque – Lei nº. 7357, de 2 de setembro de 1985.
 Lei Uniforme de Genebra, sancionada pelo Decreto nº. 57663, de
24 de janeiro de 1966.
 Lei das Sociedades por Ações – Lei nº. 6404, de 15 de dezembro de 1976.

Antes de tratarmos das modalidades de títulos de crédito, faz-se necessário


conceituar alguns atos jurídicos.

Aceite: o ato cambial pelo qual o sacado concorda em acolher a ordem incor-
porada pelo título se chama aceite.
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 3

Endosso: endosso é o ato cambial pelo qual o credor de um título de crédito,


com cláusula a ordem (que pode ser expressa ou tácita), transfere seus di-
reitos a uma terceira pessoa. Nesse caso, temos a figura do endossante, que
é aquele que transfere o título, e a do figuro do endossatário, que é quem
recebe o título.
Ainda, o endosso pode ser em branco, identificado, ou endosso-mandato
(que transmite ao endossatário o poder de cobrar o título), e, por último, o
endosso-caução. Segundo Coelho (2016, p. 226), “[...] o endosso-caução é o
instrumento adequado para a instituição de penhor sobre o título de crédito”.

Aval: o avalista é responsável da mesma forma que seu avalizado, sendo


autônoma a obrigação do avalista. Contudo, uma vez o avalista realizando
o pagamento, poderá voltar-se contra o avalizado e todos os devedores do
avalizado.

Letra de câmbio

A letra de câmbio é uma ordem de pagamento a terceiros, que pode ser à vista
ou a prazo. Nessa relação, há três posições no título: o sacador, o sacado, ou
aceitante, e o beneficiário da ordem ou tomador.
A letra de câmbio consiste em uma ordem de pagamento, em que uma
pessoa ordena que uma segunda pessoa pague determinado valor a uma
terceira. Trata-se de um de título de crédito negociável no mercado. Desse
conceito se extrai:

 Sacador: quem dá a ordem de pagamento.


 Sacado: a quem a ordem é dirigida.
 Tomador: beneficiário da ordem.

Para que a letra de câmbio possa produzir efeitos, a Lei determina os


seguintes requisitos:

a) A denominação letra de câmbio inserida no próprio texto;


b) A ordem de pagar determinada quantia;
c) O nome do sacado (pessoa que deve pagar);
d) O nome do tomador (pessoa que deve ser paga);
e) O lugar do pagamento ou a indicação do lugar ao lado do nome do sacado;
f) O local e a data do saque;
g) A assinatura do sacador (quem passa a letra).
4 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

Contudo, alguns requisitos, se não preenchidos, dão lugar à presunção sem


comprometer a sua validade. São eles:

 Ausência de indicação da data do pagamento. Deve-se considerar


como à vista.
 Ausência de indicação especial do local designado ao pagamento. Nesse
caso, entende-se o local do domicílio do sacado.
 Ausência de indicação do local onde foi transmitido o título. Considera-se,
nesse caso, o local transcrito ao lado do nome do sacador.

Ainda em casos de letra de câmbio preenchida de forma incompleta ou


em branco, o STF assim se manifestou na súmula 387: “A cambial emitida
ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de
boa-fé antes da cobrança ou do protesto”. Dessa forma, se o credor de boa-fé
preencher a letra, poderá protestá-la.

Aceite: a letra de câmbio é uma ordem de pagamento dada pelo sacador em


face do sacado. Contudo, como bem expressa Fabio Ulhoa Coelho, “[...] o
sacado não tem nenhuma obrigação cambial pelo só fato de o sacador ter-lhe
endereçado a ordem de pagamento” (COELHO, 2016, p. 223).
Assim, a Lei determina que somente após o ato do aceite o sacado estará
vinculado ao cumprimento da obrigação cambial, sendo lícita a recusa.
Tal recusa pode ser parcial ou total e produz o vencimento antecipado da
letra. Contudo, para evitar o vencimento antecipado, a lei assegura ao sacador
introduzir uma cláusula não aceitável, proibindo a apresentação da letra antes
do vencimento.

Endosso: a letra de câmbio é um título sacado, em regra, com a cláusula a


ordem. Dessa forma, permite-se que o credor negocie o crédito por ela repre-
sentado mediante transmissão de titularidade do crédito.

Aval: o aval é um ato cambial de garantia de pagamento do título em favor do


avalizado. Essa garantia poderá ser dada por um terceiro ou pelo próprio sacador.

Duplicata

A duplicata, ou duplicata mercantil, é uma espécie de título de crédito que


comprova as operações mercantis. No Brasil, ela é regulada pela Lei nº. 5.474,
de 18 de julho de 1968 (Lei das Duplicatas).
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 5

O conjunto de duplicatas é denominado de carteira, ou seja, um conjunto de


ativos financeiros que tem como portador tanto a pessoa física como a jurídica.
Um convênio celebrado entre o Ministério da Fazenda e as Secretarias Esta-
duais da Fazenda possibilitou, aos comerciantes, a adoção da nota fiscal-fatura.
Esse sistema permite ao comerciante emitir uma única relação de mercadorias
vendidas, em cada operação que realizar, produzindo os efeitos da fatura mer-
cantil e, para o Direito tributário, os da nota-fiscal.
Para o comerciante que utiliza o sistema da NF-fatura, este não poderá
deixar de emitir o documento em qualquer operação que realize, mesmo
em casos de venda a prazo. Da fatura, ou da NF-Fatura, o vendedor poderá
extrair a duplicata.
A duplicata é um título cambial, tanto para venda de mercadorias, como
para documentar a prestação de serviços.
São requisitos da duplicata:

a) A denominação duplicata;
b) A data da emissão e o número de ordem;
c) O número da fatura;
d) A data certa do vencimento ou a declaração de ser à vista;
e) O nome e o domicílio do vendedor e do comprador;
f) A importância de pagar;
g) O local para pagamento;
h) A cláusula a ordem;
i) A declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de
pagá-la dada pelo aceite;

Aceite: recebendo a duplicata, o comprador poderá assinar o título e devolvê-lo no


prazo de 10 dias; devolver o título ao vendedor sem assinatura; devolver o título
ao vendedor acompanhado de declaração expressa quanto aos motivos da recusa;
não devolver o título e comunicar ao vendedor o seu aceite, desde que eventual
instituição financeira cobrada esteja de acordo; não devolver o título sem justificar.
De todo modo, qualquer que seja a postura do comprador, em nada latera
a responsabilidade cambial prevista em Lei.

Endosso: a duplicata admite endosso, tendo os mesmos efeitos da legislação


cambiária.

Aval: o pagamento da duplicata poderá ser assegurado por aval, sendo o


avalista equiparado, cujo nome aquele indicar.
6 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

Cheque

Cheque é ordem de pagamento à vista, emitido contra um banco, mediante


fundos disponíveis do emitente, em poder do sacado, provenientes de depósito
ou de contrato de abertura de crédito.
Dessa forma, a essência do cheque não pode ser descaracterizada por
acordo entre as partes, no que diz respeito à ordem à vista.
Requisitos:

a) A denominação cheque expressa no título;


b) A ordem incondicional e pagar determinada quantia;
c) O nome do sacado a quem a ordem é dirigida;
d) O lugar de pagamento;
e) A data e o lugar de emissão;
f) A assinatura do sacador ou de seu mandatário com poderes especiais.

A regra de circulação do cheque obedece às mesmas regras da letra de


câmbio, salvo três diferenças:

 O cheque não admite endosso-caução.


 O endosso feito pelo sacado é nulo como endosso.
 O endosso realizado após o prazo para apresentação gera efeitos de
cessão civil de crédito.

Ainda, o cheque tem quatro modalidades:

1. Cheque administrativo: é emitido pelo próprio sacado para liquidação em


uma de suas agências. É muito utilizado para operações que envolvem
grandes valores.
2. Cheque visado: quando o banco lança declaração de suficiência de
fundos.
3. Cheque cruzado: utilizado para depósito em conta. Nesse caso, pode
ser geral, em que o emitente não identifica o banco, ou especial,
quando o emitente identifica o estabelecimento bancário entre os
dois traços.
4. Para se levar em conta: nessa modalidade, o emitente proíbe o pagamento
do título em dinheiro, mediante inscrição transversal no verso do título.
Tem o mesmo objetivo do cheque cruzado.
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 7

Aceite: o cheque não é passível de aceite, uma vez que o banco (sacado) não
é devedor da obrigação jurídica,

Endosso: o cheque admite endosso, desde que constante a cláusula a ordem,


bem como o impedimento não a ordem, seguindo as mesmas regras da letra
de câmbio.

Aval: o pagamento do cheque pode ser garantido por aval, no todo ou em


parte, prestado por terceiro, exceto o sacado. Nesse caso, é lançado no cheque
ou na folha de alongamento pela expressão por aval e firmado pelo avalista.
O prazo para apresentação do cheque deve ser em 30 dias da emissão
quando emitido na mesma praça e 60 dias quando for emitido em praça diversa.
Se o portador não apresentar o cheque em tempo hábil ou não comprovar a
recusa de pagamento, perde-se o direito de execução contra o emitente, se
no período da apresentação havia saldo na conta bancária. Todavia, o banco
poderá liquidar o cheque, mesmo que fora do prazo de apresentação, desde
que não esteja prescrito o direito à ação executiva.
O sacado pode impedir a liquidação sustando o cheque. Nesses casos
existem duas modalidades:

 Revogação ou contraordem: nessa modalidade, deverá ser realizada


por carta extrajudicial ou judicial. Seus efeitos serão gerados somente
após o prazo de apresentação.
 Oposição: tanto o emitente quanto o portador autorizado poderão
fazê-lo por escrito e em razão e direito, por fato relevante. Exemplos:
extravio ou roubo.

O cheque poderá ser utilizado também como meio de prova judicial e


liquidação da obrigação.

Cheque sem fundos

O cheque representa uma ordem de pagamento. Se dois ou mais cheques forem


apresentados e o banco identificar insuficiência de fundos, deve-se preferir
o cheque que tem data mais antiga, ou seja, aquele que foi emitido primeiro.
O cheque comporta duas tentativas de apresentações, mas o credor não é
obrigado a apresentar o cheque duas vezes para ingressar com ação judicial
de cobrança. Nesse caso, basta uma única devolução pelo banco.
8 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

O direito de ação de cobrança de cheque prescreve em 6 meses, contados


da expiração do prazo de apresentação, sendo o mesmo prazo em caso de um
coobrigado ao pagamento do cheque contra o outro, contados do dia em que
pagou o título.

Nota promissória

A nota promissória é um título de crédito que constitui uma promessa incon-


dicional de pagamento. O devedor se compromete a pagar ao credor uma certa
quantia de dinheiro em um determinado prazo.
Requisitos:

a) A denominação nota promissória;


b) O dia do vencimento;
c) A indicação da data e local onde é emitida;
d) A indicação do local onde se deve efetuar o pagamento;
e) A promessa de pagamento;
f) O nome do beneficiário;
g) Assinatura do devedor;

As regras que guarnecem a nota promissória são as mesmas da letra de


câmbio, salvos algumas exceções:

 A nota promissória é uma promessa de pagamento, enquanto a letra


de câmbio é uma ordem.
 O subscritor da nota promissória é o seu devedor principal, o que torna
o protesto facultativo nesse caso.
 O aval em branco favorece o subscritor.

Debênture

A debênture é regulada pela Lei nº. 6.404/76 (sociedades por ações), em seus
artigos 52 a 74, e Lei nº. 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que regula o mer-
cado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Trata-se de um título representativo de empréstimo/dívida que gera um
direito de crédito a um determinado investidor. Ou seja, o investidor terá
direito a receber uma remuneração do emissor (juros) e, periodicamente ou
no vencimento do título, receberá estorno do valor investido (principal).
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 9

As debêntures são emitidas por sociedades anônimas de capital aberto


ou fechado e utilizadas para reestruturar dívidas ou financiar projetos da
empresa/companhia.
Importa salientar que, diferentemente da compra de ações, um debenturista
não se torna sócio da empresa, mas, sim, credor de uma dívida. Todavia, podem
ser convertidas em ações (Art. 57 da Lei nº. 6.404/76).
Requisitos:

a) Denominação, sede, prazo de duração e objeto da companhia;


b) Data da constituição da companhia e do arquivamento e da publicação
dos seus atos constitutivos;
c) Data da publicação da ata da assembleia-geral que deliberou sobre a
emissão;
d) Data e ofício do registro de imóveis em que foi inscrita a emissão;
e) Denominação Debênture e a indicação da sua espécie, pelas pala-
vras com garantia real, com garantia flutuante, sem preferência ou
subordinada;
f) Designação da emissão e da série;
g) Número de ordem;
h) Valor nominal e cláusula de correção monetária, se houver, condições
de vencimento, amortização, resgate, juros, participação no lucro ou
prêmio de reembolso e a época em que serão devidos;
i) Condições de conversibilidade em ações, se for o caso;
j) Nome do debenturista;
k) Nome do agente fiduciário dos debenturistas, se houver;
l) Data da emissão do certificado e assinatura de dois diretores da
companhia;
m) Autenticação do agente fiduciário, se for o caso.

Preenchidos os requisitos, as debêntures distribuídas ou admitidas à


negociação no mercado terão obrigatoriamente a intervenção de agente
fiduciário. O agente fiduciário será nomeado e deverá aceitar a função
na escritura de emissão das debêntures. Somente podem ser nomeados
agentes fiduciários as pessoas naturais que satisfaçam os requisitos para
o exercício de cargo em órgão de administração da companhia e as ins-
tituições financeiras que, especialmente autorizadas pelo Banco Central
do Brasil, tenham por objeto a administração ou a custódia de bens de
terceiros (BRASIL, 1976).
10 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

Todo e qualquer título de crédito advém de uma obrigação, de um ato comercial


jurídico válido, mas nem todo ato ou obrigação gera um título de crédito.

Princípios gerais do crédito cambiário


Os princípios dos títulos de crédito decorrem de um longo processo histórico,
do qual os comerciantes vêm desenvolvendo e aprimorando os mecanismos
de tutela do crédito comercial.
Grande parte dos doutrinadores atribuem três princípios básicos aos títulos
de crédito, são eles: cartularidade, literalidade e autonomia. Contudo, Rubens
Requião (2003) admite mais dois elementos, embora não sejam comuns a todos
os títulos de crédito, são eles: independência e abstração.

Cartularidade
A palavra carturalidade vem de cártula (papel). Para que o credor de um título
de crédito possa exercer o seu direito sob ele, é indispensável que esteja de
posse do documento original.
Em virtude desse princípio, ou seja, dessa condição, mesmo que a pessoa
seja detentora do crédito, ela não poderá promover uma execução judicial do
crédito, ou pedido de falência, instruindo o processo com cópia xerográfica do
documento.
A apresentação do título original não garante que o apresentante seja o
efetivo possuidor do título, ou seja, não garante que ele tenha o direito de
exigir o crédito deste. Ademais, o pagante do título deve exigir que este lhe
seja entregue para que possa inutilizá-lo, a fim de evitar a circulação do
crédito para terceiro de boa-fé, que terá o direito de lhe cobrar a importância
consignada no título.
Contudo, existem algumas exceções de aplicabilidade desse princípio em
virtude da informalidade dos negócios comerciais. Nesse caso, estamos tra-
tando da Lei de Duplicatas, em seu parágrafo 2º, do art. 15, no qual se admite
a apresentação da duplicata sem a sua apresentação pelo credor.
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 11

Princípio da literalidade
Segundo esse princípio, o crédito não terá eficácia nos atos jurídicos instru-
mentalizados na cártula. Dessa forma, o título será literal porque somente
será considerado o que nele estiver escrito.
Em síntese, a literalidade dá a certeza quanto à natureza, ao conteúdo e à
modalidade da prestação prometida/determinada.

Princípio da autonomia
A autonomia representa uma independência nas relações obrigacionais, em razão
de que o terceiro de boa-fé exercita o próprio direito, não podendo ser cons-
trangido pelas obrigações assumidas. Em outras palavras, os vícios em relações
existentes entre as partes anteriores não afetam o direito do possuidor atual.
Essa autonomia é inerente à sua circulação e é uma garantia de negociabi-
lidade do título, na medida em que a pessoa que recebe o mesmo não precisa
questionar a origem do crédito determinado.

Princípio da independência
Alguns títulos de crédito não se vinculam a nenhum documento, valendo-se
por si só. Assim, simplifica-se e se agiliza a circulação dos títulos de crédito.
Exemplo: letra de câmbio.
Em eventual processo de execução de um cheque, o título é suficiente,
não precisando, em regra, ser acompanhado de outros documentos, como
contratos, notas fiscais, etc.

Princípio da abstração
Esse princípio ocorre quando o título de crédito é colocado em circulação
por pessoas que não têm relação jurídica entre si, como ocorre no endosso.
Contudo, deve haver uma compatibilidade entre esse princípio da abstração
e o princípio da boa-fé, eis que não se pode permitir contrariedades à justiça,
protegendo os credores de má-fé. Isto é, se o credor está de boa-fé, ele não deve
ser afetado por situações causais. Por outro lado, se o credor está de má-fé,
não há motivo para protegê-lo e, por isso, ele poderá ser afetado pelo negócio
jurídico que deu origem ao título.
12 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

Fabio Ulhoa Coelho (2016) considera este como um subprincípio da au-


tonomia, porque, embora formulados diferentemente, em nada acrescenta a
disciplina do princípio da autonomia.

Princípio da inoponibilidade das exceções pessoais


Alguns doutrinadores defendem que esse princípio decorre do princípio da
autonomia, pois se trata apenas do aspecto processual daquele princípio, com
isso, vem sendo considerado um dos mais importantes princípios relacionados
ao título de crédito, pois, se não existir autonomia, não existe possibilidade
de caráter circulatório e obrigações cambiárias.
Se a obrigação cambiária persiste independentemente de quaisquer cir-
cunstâncias relativas às demais obrigações assumidas no mesmo título de
crédito, ao devedor é vedado recusar o pagamento ao portador pela oposição
de exceções, com base nas suas relações pessoais com os demais obrigados.
Assim, no entendimento de Fábio Ulhoa Coelho (2016), o portador de
boa-fé não pode ser responsabilizado nem prejudicado por exceções pessoais
que não lhe dizem respeito.
Essa autonomia cambiária traduz a segurança jurídica do direito ao título
de crédito, pois o novo adquirente do título não precisa questionar sobre a va-
lidade daquelas obrigações, ressalvando-se apenas quanto à validade do título.
Assim, o princípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros
de boa-fé se encontra expresso no art. 17 da Lei Uniforme de Genebra, no que
se relaciona às letras de câmbio e às notas promissórias:

Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao
portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador
ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra
tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

Àquele que adquiriu o título, em geral por endosso, não tendo participado
da relação obrigacional que o originou, não será imputada a validade. Segundo
Arnaldo Rizzardo, “Para a própria segurança do crédito transmitido, não se
faz acompanhar o mesmo das restrições fundadas em direito pessoal, ou de
questões que dizem respeito exclusivamente aos que formaram o título”.
Certamente, se há um vício na relação pessoal do atual devedor com o
portador do título de crédito, poderá este ser discutido, o mesmo se dando
relativamente a aspectos não pessoais, conforme cita Fran Martins (1998):
“Certamente, há exceções oponíveis: assim, havendo defeito de forma do título
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 13

(faltando, por exemplo, um requisito essencial), pode o obrigado escusar-se do


pagamento ao portador porque não foi observado o rigor cambiário”.
Mas por óbvio, se comprovada a má-fé do beneficiário do título, caberá
exceções.

Um dos princípios que, quando não respeitados, ensejam a inépcia da inicial é o da


cartularidade. Pesquise o rol de jurisprudências dos Tribunais.
Leia mais acessando o link a seguir.

https://goo.gl/ueA4dg

Classificação dos títulos de crédito


Segundo Fabio Ulhoa Coelho (2016), os títulos de credito classificam-se em:

Quanto ao modelo
Vinculados: devem atender a um padrão específico, definido em Lei, para a
criação do título. Exemplos: cheque e duplicata mercantil.

Livres: são os títulos que não exigem um padrão obrigatório de emissão,


basta que constem os requisitos mínimos exigidos em Lei. Exemlos: letra de
câmbio e nota promissória.

Quanto à estrutura
Ordem de pagamento: por esta estrutura, o saque cambial dá origem a três
situações jurídicas distintas: sacador ou emitente, que dá a ordem para
que outra pessoa pague; sacado, que recebe a ordem e deve cumpri-la;
e beneficiário, que recebe o valor descrito no título. Exemplos: letra de
câmbio e cheque.

Promessa de pagamento: envolve apenas duas situações jurídicas: promitente


devedor e beneficiário credor, que receberá a dívida do promitente. Exemplo:
nota promissória.
14 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

Quanto a hipóteses de emissão


Títulos causais: são aqueles que necessitam de um vínculo com a causa que
lhes deu origem, constando expressamente no título a obrigação pelo qual o
título foi assumido. Podem circular por endosso.
Arnaldo Rizzardo os classifica como títulos de crédito impróprios, isto
é, aqueles que têm a forma de cambiários, pelo menos na exigibilidade do
crédito, apresentando todos os requisitos de certeza e liquidez dos títulos
cambiários, sendo imprescindível, na sua caracterização, a origem causal,
porquanto existem em função de um negócio que determinou a sua emissão.
Exemplo: duplicata, cuja emissão depende da prévia venda de mercadorias
ou da prestação de serviços (RIZZARDO, 2015).

Títulos não causais/abstratos: são aqueles que não mencionam a origem,


podendo ser criados por qualquer motivo.
Alguns consideram títulos de crédito próprios, em que se sobressaem a
abstração, a confiança que merece quem assina e a circularidade. Destacam-se
a nota promissória, que é uma promessa de pagamento, e a letra de câmbio,
esta como ordem de pagamento, sendo ambas de certa importância a uma
pessoa determinada ou à sua ordem.
Ressalvadas algumas divergências doutrinárias, inclui-se o cheque, que é
uma ordem de pagamento à vista, em favor do subscritor ou de outra pessoa
que consta escrita, ou simplesmente ao portador, o que bem expressa a circu-
laridade, porém, sem exigência de uma determinação prévia de justificativa
por sua emissão.

Quanto à circulação
Títulos ao portador: são aqueles que não identificam o credor e, em razão
disso, são transmissíveis pela tradição.

Títulos nominativos: são aqueles que identificam o credor, o que pressupõe


a prática de um negócio jurídico cambial. Podem ser a ordem ou a não ordem.
Os nominativos a ordem circulam mediante tradição acompanhada de endosso.
Já os nominativos não a ordem circulam com a tradição acompanhada de
cessão civil de crédito.
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 15

No link a seguir, você pode ler sobre o posicionamento do STJ (Superior Tribunal de
Justiça) quanto ao protesto de duplicatas.

https://goo.gl/bkJNQz

Se a sua empresa vende um produto ou serviço para outro negócio e emite uma
duplicata referente à transação, é possível utilizá-la para acessar o crédito bancário.
É simples: a duplicata é apresentada em um banco, o qual tem uma linha de crédito
especial para isso, e esta deve ser reembolsada na data do vencimento do título.
Como você tem a comprovação de crédito pendente com o cliente, o banco empresta
o dinheiro equivalente ao valor de face do título, que você espera receber até a data do
vencimento. Em alguns casos, o próprio banco se responsabiliza por cobrar o sacado.
Esse é um expediente comum em micro e pequenas empresas que precisam de
capital de giro.

1. A duplicata ou duplicata mercantil faturas, porém, em casos de


é uma espécie de título de crédito vendas a prazo, deverá ser
que comprova as operações emitida mais de uma duplicata
mercantis. Assinale a opção correta para satisfazer todas as
quanto a uma venda a prazo. prestações ou série de duplicatas.
a) A opção da adoção da nota c) A opção da adoção da
fiscal-fatura permite ao nota fiscal-fatura permite
comerciante emitir relação ao comerciante emitir uma
de mercadorias vendidas em única relação de mercadorias
cada operação que realizar, vendidas; a regra geral é: ser
produzindo os efeitos da fatura emitida duplicata mercantil
mercantil e, para o direito para várias faturas, porém, em
tributário, os da nota fiscal. casos de vendas a prazo, deverá
b) A regra geral é: ser emitida ser emitida duplicata em que
duplicata mercantil para várias constem todas as prestações ou
16 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito

série de duplicatas, uma para e) Sacador.


cada prestação, distinguindo-se 4. O saque cambial dá origem a
a numeração pelo acréscimo três situações jurídicas distintas:
de letra do alfabeto. sacador ou emitente, que dá a
d) A duplicata não admite endosso. ordem para que outra pessoa
e) O comprador poderá deixar pague; sacado, que recebe a ordem
de aceitar a duplicata e deve cumpri-la; e beneficiário,
por qualquer motivo. que recebe o valor descrito no
2. Para que o credor de um título de título. Ex.: letra de câmbio e
crédito possa exercer o seu direito cheque. Neste enunciado, estamos
sob ele, é indispensável que este tratando de qual critério de
esteja de posse do documento classificação do título de crédito?
original. Em virtude desse princípio, a) Quanto ao modelo vinculado.
ou seja, dessa condição, mesmo b) Quanto à hipóteses
que a pessoa seja detentora do de títulos causais.
crédito, ela não poderá promover c) Quanto à hipóteses de
uma execução judicial do crédito, títulos não causais.
ou um pedido de falência, d) Quanto à estrutura de
instruindo o processo com cópia promessa de pagamento.
xerográfica do documento. De e) Quanto à estrutura de
qual princípio estamos falando? ordem e pagamento.
a) Princípio da inoponibilidade 5. O prazo para apresentação do
das exceções pessoais. cheque deve ser de até 30 dias
b) Princípio da literalidade. da emissão, quando emitido na
c) Princípio da cartularidade. mesma praça, e 60 dias quando
d) Princípio da autonomia. for emitido em praça diversa, de
e) Princípio da independência. acordo com o artigo 33 da Lei
3. _____________ é o ato cambial pelo n.º 7.357/85. Em caso de ação de
qual o credor de um título de crédito execução dessa modalidade de
com cláusula a ordem (que pode título, qual o prazo prescricional?
ser expressa ou tácita) transfere a) 3 anos.
seus direitos a uma terceira pessoa. b) 5 anos.
De que ato estamos tratando? c) 6 meses.
a) Avalista. d) 1 ano.
b) Endosso. e) Só prescreve se não foi
c) Aceite. apresentado duas vezes ao banco.
d) Sacado.
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 17

BRASIL. Decreto n. 2.044, de 31 de dezembro de 1908. Define a letra de câmbio e a nota


promissória e regula as operações cambiais. Brasília, DF, 1908. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dpl/DPL2044-1908.htm>. Acesso
em: 02 maio 2018.
BRASIL. Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966. Promulga as Convenções para
adoção de uma lei uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias.
Brasília, DF, 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
antigos/d57663.htm>. Acesso em: 02 maio 2018.
BRASIL. Lei n. 5.474, de 18 de julho de 1968. Dispõe sobre as Duplicatas, e dá outras
providências. Brasília, DF, 1968. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l5474.htm>. Acesso em: 02 maio 2018.
BRASIL. Lei n. 6.385, de 07 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o mercado de valores
mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Brasília, DF, 1976. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L6385.htm>. Acesso em: 02 maio 2018.
BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Brasília, DF, 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L6404con-
sol.htm>. Acesso em: 02 maio 2018.
BRASIL. Lei n. 7.357, de 02 de setembro de 1985. Dispõe sobre o cheque e dá outras pro-
vidências. Brasília, DF, 1985. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l7357.htm>. Acesso em: 02 maio 2018.
BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF, 2002.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso
em: 02 maio 2018.
COELHO, F. U. Manual de direito comercial: direito de empresa. 28. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2016.
MARTINS, F. Títulos de crédito. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998. v. 1.
MENDONÇA, J. X. C. de. Tratado de direito comercial. Campinas: Russell, 2003. v. 3, t. 2.
REQUIÃO, R. Curso de direito comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
RIZZARDO, A. Títulos de crédito. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
RIZZARDO, A. Títulos de crédito. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
Leituras recomendadas
AQUINO, L. G. de. O crédito no direito empresarial: 01 semana da coluna da “Descor-
tinando o Direito Empresarial”. 2015. Disponível em: <http://estadodedireito.com.
br/o-credito-no-direito-empresarial-01-semana-da-coluna-da-descortinando-o-
-direito-empresarial/>. Acesso em: 04 abr. 2018.
GUSMÃO, M. Lições de direito empresarial. 8. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

Você também pode gostar