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EMPRESARIAL
APLICADA
Janaina Dihl
Conceito, teoria geral dos
créditos e títulos de crédito
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A palavra crédito tem origem ao termo latim credĭtum, que significa coisa
confiada ou acredita. Por essa razão, a noção de crédito está associada
a qualquer relação ou transação que demonstra crença ou confiança.
Na Idade Média, o comércio operava por meio de troca. Os títulos
de crédito surgiram com o objetivo de facilitar a circulação da moeda,
uma vez que a troca de mercadorias não interessava mais aos grandes
produtores. Assim, para facilitar a circulação da moeda e aumentar a
confiança entre o credor e o devedor, surgiram os títulos de crédito.
Neste capítulo, você conhecerá o conceito, as modalidades, os prin-
cípios e a classificações dos títulos de crédito.
Crédito
Do ponto de vista jurídico, crédito é a obrigação ou o direito do sujeito ativo
em uma relação obrigacional, na qual se assegura a possibilidade do credor em
exigir a prestação do devedor. O crédito não se resume ao conceito de quantia
em dinheiro, pois é um direito de fruição. O credor é aquele em proveito de
quem a prestação deve ser executada.
Partindo da distinção civilista entre os direitos absolutos, em virtude da qual
o sujeito passivo (devedor) tem o dever jurídico de caráter patrimonial em favor
do sujeito ativo (credor), a obrigação pode ser definida como relação jurídica.
2 Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito
Por esse motivo, no Direito romano, os credores eram aqueles que deram
dinheiro emprestado, todos aos quais se devia alguma coisa, por uma causa
qualquer (MENDONÇA, 2003).
Título de crédito
Os títulos de crédito são documentos que representam a obrigação do devedor
perante o credor, não se confundindo com a obrigação propriamente dita.
Segundo Cesare Vivante (apud MARTINS, 1998, p. 5), “[...] é o documento
necessário ao exercício de um direito literal e autônomo nele mencionado”.
Os títulos de crédito têm duas origens, uma extracambial (p. ex., cheque,
contrato de compra e venda, etc.) e a origem cambial (p. ex., avalista), dessa
forma, as consequências jurídicas da situação que representa são distintas.
Independentemente da modalidade do título, é certo que esses títulos
beneficiam o credor, pois a obrigação do devedor está representada por um
documento hábil, facilitando não só a sua circulação do crédito (endosso),
como a efetividade na execução do título (cobrança).
No Brasil, existem dezenas de modalidades de títulos de créditos. Neste
capítulo, vamos apresentar as principais modalidades que garantem a maioria
das operações de crédito no mercado brasileiro, que são: letra de câmbio,
duplicata, cheque e nota promissória e debênture.
Atualmente, as legislações aplicáveis aos títulos de créditos são:
Aceite: o ato cambial pelo qual o sacado concorda em acolher a ordem incor-
porada pelo título se chama aceite.
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Letra de câmbio
A letra de câmbio é uma ordem de pagamento a terceiros, que pode ser à vista
ou a prazo. Nessa relação, há três posições no título: o sacador, o sacado, ou
aceitante, e o beneficiário da ordem ou tomador.
A letra de câmbio consiste em uma ordem de pagamento, em que uma
pessoa ordena que uma segunda pessoa pague determinado valor a uma
terceira. Trata-se de um de título de crédito negociável no mercado. Desse
conceito se extrai:
Duplicata
a) A denominação duplicata;
b) A data da emissão e o número de ordem;
c) O número da fatura;
d) A data certa do vencimento ou a declaração de ser à vista;
e) O nome e o domicílio do vendedor e do comprador;
f) A importância de pagar;
g) O local para pagamento;
h) A cláusula a ordem;
i) A declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de
pagá-la dada pelo aceite;
Cheque
Aceite: o cheque não é passível de aceite, uma vez que o banco (sacado) não
é devedor da obrigação jurídica,
Nota promissória
Debênture
A debênture é regulada pela Lei nº. 6.404/76 (sociedades por ações), em seus
artigos 52 a 74, e Lei nº. 6.385, de 7 de dezembro de 1976, que regula o mer-
cado de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Trata-se de um título representativo de empréstimo/dívida que gera um
direito de crédito a um determinado investidor. Ou seja, o investidor terá
direito a receber uma remuneração do emissor (juros) e, periodicamente ou
no vencimento do título, receberá estorno do valor investido (principal).
Conceito, teoria geral dos créditos e títulos de crédito 9
Cartularidade
A palavra carturalidade vem de cártula (papel). Para que o credor de um título
de crédito possa exercer o seu direito sob ele, é indispensável que esteja de
posse do documento original.
Em virtude desse princípio, ou seja, dessa condição, mesmo que a pessoa
seja detentora do crédito, ela não poderá promover uma execução judicial do
crédito, ou pedido de falência, instruindo o processo com cópia xerográfica do
documento.
A apresentação do título original não garante que o apresentante seja o
efetivo possuidor do título, ou seja, não garante que ele tenha o direito de
exigir o crédito deste. Ademais, o pagante do título deve exigir que este lhe
seja entregue para que possa inutilizá-lo, a fim de evitar a circulação do
crédito para terceiro de boa-fé, que terá o direito de lhe cobrar a importância
consignada no título.
Contudo, existem algumas exceções de aplicabilidade desse princípio em
virtude da informalidade dos negócios comerciais. Nesse caso, estamos tra-
tando da Lei de Duplicatas, em seu parágrafo 2º, do art. 15, no qual se admite
a apresentação da duplicata sem a sua apresentação pelo credor.
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Princípio da literalidade
Segundo esse princípio, o crédito não terá eficácia nos atos jurídicos instru-
mentalizados na cártula. Dessa forma, o título será literal porque somente
será considerado o que nele estiver escrito.
Em síntese, a literalidade dá a certeza quanto à natureza, ao conteúdo e à
modalidade da prestação prometida/determinada.
Princípio da autonomia
A autonomia representa uma independência nas relações obrigacionais, em razão
de que o terceiro de boa-fé exercita o próprio direito, não podendo ser cons-
trangido pelas obrigações assumidas. Em outras palavras, os vícios em relações
existentes entre as partes anteriores não afetam o direito do possuidor atual.
Essa autonomia é inerente à sua circulação e é uma garantia de negociabi-
lidade do título, na medida em que a pessoa que recebe o mesmo não precisa
questionar a origem do crédito determinado.
Princípio da independência
Alguns títulos de crédito não se vinculam a nenhum documento, valendo-se
por si só. Assim, simplifica-se e se agiliza a circulação dos títulos de crédito.
Exemplo: letra de câmbio.
Em eventual processo de execução de um cheque, o título é suficiente,
não precisando, em regra, ser acompanhado de outros documentos, como
contratos, notas fiscais, etc.
Princípio da abstração
Esse princípio ocorre quando o título de crédito é colocado em circulação
por pessoas que não têm relação jurídica entre si, como ocorre no endosso.
Contudo, deve haver uma compatibilidade entre esse princípio da abstração
e o princípio da boa-fé, eis que não se pode permitir contrariedades à justiça,
protegendo os credores de má-fé. Isto é, se o credor está de boa-fé, ele não deve
ser afetado por situações causais. Por outro lado, se o credor está de má-fé,
não há motivo para protegê-lo e, por isso, ele poderá ser afetado pelo negócio
jurídico que deu origem ao título.
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Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao
portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador
ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir a letra
tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.
Àquele que adquiriu o título, em geral por endosso, não tendo participado
da relação obrigacional que o originou, não será imputada a validade. Segundo
Arnaldo Rizzardo, “Para a própria segurança do crédito transmitido, não se
faz acompanhar o mesmo das restrições fundadas em direito pessoal, ou de
questões que dizem respeito exclusivamente aos que formaram o título”.
Certamente, se há um vício na relação pessoal do atual devedor com o
portador do título de crédito, poderá este ser discutido, o mesmo se dando
relativamente a aspectos não pessoais, conforme cita Fran Martins (1998):
“Certamente, há exceções oponíveis: assim, havendo defeito de forma do título
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https://goo.gl/ueA4dg
Quanto ao modelo
Vinculados: devem atender a um padrão específico, definido em Lei, para a
criação do título. Exemplos: cheque e duplicata mercantil.
Quanto à estrutura
Ordem de pagamento: por esta estrutura, o saque cambial dá origem a três
situações jurídicas distintas: sacador ou emitente, que dá a ordem para
que outra pessoa pague; sacado, que recebe a ordem e deve cumpri-la;
e beneficiário, que recebe o valor descrito no título. Exemplos: letra de
câmbio e cheque.
Quanto à circulação
Títulos ao portador: são aqueles que não identificam o credor e, em razão
disso, são transmissíveis pela tradição.
No link a seguir, você pode ler sobre o posicionamento do STJ (Superior Tribunal de
Justiça) quanto ao protesto de duplicatas.
https://goo.gl/bkJNQz
Se a sua empresa vende um produto ou serviço para outro negócio e emite uma
duplicata referente à transação, é possível utilizá-la para acessar o crédito bancário.
É simples: a duplicata é apresentada em um banco, o qual tem uma linha de crédito
especial para isso, e esta deve ser reembolsada na data do vencimento do título.
Como você tem a comprovação de crédito pendente com o cliente, o banco empresta
o dinheiro equivalente ao valor de face do título, que você espera receber até a data do
vencimento. Em alguns casos, o próprio banco se responsabiliza por cobrar o sacado.
Esse é um expediente comum em micro e pequenas empresas que precisam de
capital de giro.