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Curso: Direito

Disciplina: Civil - Direito das Coisas


Data de Entrega: 24/10/2020
Docente: Miria Soares Enéias
Discente: Ana Cristina Viana Dias CPD: 32908

1. DIREITO DAS COISAS


É um conjunto de normas, em regra obrigatórias, que destinam a regular o direito
atribuído à pessoa sobre bens corpóreos moveis ou imóveis, de conteúdo econômico.
Alcançando a aquisição, o exercício, a conservação e a perda dos direitos sobre os bens.

1.1. Diferenças entre direitos reais e obrigacionais


O direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa,
com exclusividade e contra todos, tendo como elementos essenciais, o sujeito ativo, a coisa e a
relação ou poder do sujeito sobre a coisa, chamado domínio.
Já o direito obrigacional, consiste numa relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode
exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e
tem, como elementos essenciais, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação.

DIFERENÇAS
DIREITO REAL DIREITO OBRIGACIONAL
Sujeito: um único sujeito; Sujeito: (dualidade) sujeito ativo e passivo;
Ação: ação real contra quem indistintamente Ação: ação pessoal que se dirige apenas
detiver a coisa; contra o individuo que figura na relação
jurídica;
Objeto: a coisa; Objeto: a prestação;
Abandono: a direito real pode ser Abandono: a obrigação não pode ser
abandonado; abandonada;
Sequela: o direito real segue seu objeto onde Sequela: não incide;
quer que se encontre (jus persequendi);
Usucapião: modo de aquisição do direito. Usucapião: não incide.

1.2. Características dos direitos reais


• Taxatividade (art. 1.225 do CC): o número dos direitos reais é limitado, taxativo.
Direitos reais são somente os enumerados na lei (numerus clausus);
• Absolutismo (arts. 1.226 e 1.227 do CC): os direitos reais exercem-se erga omnes, ou
seja, contra todos os que devem abster-se de molestar o titular;
• Direito de Sequela (art. 1.228 do CC): o titular do direito real pode perseguir a coisa
em poder de terceiros onde quer que se encontre;
• Aderência: o direito real permanece incidindo sobre o bem, ainda que este circule de
mão em mão e se transmita a terceiros, pois o aludido direito segue a coisa (jus
persequendi), em poder de quem quer que ela se encontre.
• Publicidade: os direitos reais sobre imóveis só se adquirem depois da transcrição, no
registro de imóveis, do respectivo título – art. 1.227 do CC; sobre moveis, só depois da
tradição – arts. 1.226 e 1.267 do CC;
• Prescrição aquisitiva (arts. 1.238 a 1.244, 1.260 a 1.262 e 1.379 do CC): a passagem
do tempo poderá gerar aquisição de direitos;
• Privilégio (art. 1.477 do CC): o credito real não se submete à divisão, tendo em vista a
existência de ordem entre os credores. Aquele que primeiro apresentar o credito será o
credor privilegiado.

2. POSSE: ORIGEM E EFEITOS


ORIGEM
A origem da posse é questão controvertida, malgrado se admita que em Roma tenha
ocorrido o seu desenvolvimento. As diversas soluções propostas costumam ser reunidas em
dois grupos: no primeiro, englobam-se as teorias que sustentam ter a posse sido conhecida do
direito antes dos interditos; a segunda, figuram todas aquelas que consideram a posse mera
consequência do processo reivindicatório.
Dentre as teorias do primeiro grupo, destaca-se a de Niubuhr, adotada por Savigny.
Costumavam os romanos distribuir aos cidadãos uma parte dos terrenos conquistados e reservar
para a cidade a parte restante. Como as constantes vitorias dessem a Roma grandes extensões
de terra, resolveu-se conceder aos particulares a fruição das áreas destinadas as cidades, para
que não ficassem improdutivas, repartindo-as em pequenas propriedades denominadas
possessiones. Essas concessões eram feitas a título precário e tinham natureza diferente da
propriedade quiritaria. Não podiam, por isso, ser defendidas pelas reivindication, restrita ao
titular da propriedade. Para que não permanecessem indefesas, criou-se um processo especial,
inspirados nas formas de defesa da propriedade, denominado interdito possessório.
Dentre as teorias que afirmam ter a posse surgido como uma consequência do processo
reivindicatório desponta a de Ihering, segundo a qual os interditos possessórios, na sua origem,
constituíam incidentes preliminares do processo reivindicatório. Antes que este assumisse
forma contenciosa regular em juízo, o pretor podia entregar a posse da coisa litigiosa a qualquer
das partes. A contemplada não se eximia, todavia, do ônus de produzir provas de seu direito.
Depois de passar por diversas fases, esse processo preparatório adquiriu independência,
desvinculando-se do petitório.
Discute-se ate hoje a origem da posse e dos interditos possessórios, sem que se possa
apontar com certeza qual das teorias expostas reflete a verdadeira história do aludido instituto.

EFEITOS

O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de


esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.

Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de


outro direito sobre a coisa.

Resistência à tomada da posse

O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria


força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do
indispensável à manutenção, ou restituição da posse.

Alegação de outrem

Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que


tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso.

Ação de esbulho
O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que
recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era.

Não aplicação

O disposto nos itens antecedentes não se aplica às servidões não aparentes, salvo quando
os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este o
houve.

Frutos

O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.

Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de
deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos
com antecipação.

Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são


separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.

O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como
pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé;
tem direito às despesas da produção e custeio.

Perda ou deterioração

O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der
causa.

O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que


acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do
reivindicante.

Indenização

O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis,


bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.

Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe


assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo


da evicção ainda existirem.

O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o


direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo
valor atual.
2.1. Função Social da Posse
A função social da posse esta eminentemente voltada não só para o conceito de posse e sua
natureza jurídica, como também para o seu dever social, ou seja, tem a função de satisfazer as
necessidades básicas de uma sociedade, como moradia e trabalho, que pressupõem o valor do
ser humano, o conceito de cidadania, o direito de proteção à personalidade e à própria vida.

2.2. Natureza Jurídica da Posse


Há uma grande divergência a respeito da natureza jurídica da posse, e mesmo que muitos
séculos tenham se passado, ainda a discussão persiste, dividindo-se a doutrina em três correntes.
• Savigny: posse é um fato, se considerada em si mesma, e um direito, se considerada nos
efeitos que gera.
• Ihering: posse é um direito, já que é um interesse juridicamente protegido.
• Bevilaqua: posse é mero estado de fato, protegido pela lei em atenção à propriedade.

2.3. Classificação da Posse


A) Posse Direta e Indireta.
Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em
virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo
o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

B) Posse Exclusiva, Composse e Posses Paralelas


Posse Exclusiva
Uma única pessoa exerce a posse.
Composse
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre
ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.
• Composse pro diviso
Os copossuidores estabelecem uma divisão de fato para a utilização pacifica do direito
de cada um.
• Composse pro indiviso
Todos os copossuidores exercem ao mesmo tempo e sobre a totalidade da coisa, os
poderes de fato.
Posse Paralelas
Sobreposição de posses, divididas em direta e indireta

C) Posse Justa e Injusta


Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.
Posse justa: é aquela cuja aquisição não repugna ao Direito.
Posse Injusta: será por outro lado posse injusta aquela adquirida por meio do uso da força
ou ameaça (violência), ardil (clandestinidade) ou abuso da confiança (precariedade).

• Posse Violenta: a que se adquire por ato de força, seja ela natural ou física, seja moral
ou resultante de ameaças que incutam na pessoa sério receio. A violência estigmatiza
a posse, independentemente de exercer-se sobre a pessoa do espoliado ou preposto
seu, como ainda do fato de emanar do próprio espoliador ou de terceiro1.
• Posse Clandestina: clandestina é a posse que se adquire por via de um processo de
ocultamento. Contrapõe-se a que é tomada de forma pública e aberta. Segundo Caio
Mário é um defeito relativo que só pode ser acusado pela vítima contra o esbulhador.
Assim, perante outras pessoas esta posse produz efeitos normais.
• Posse Precária: é, por exemplo, a do fâmulo da posse, isto é, daquele que recebe a
coisa com a obrigação de restituir e arroga-se na qualidade de possuidor, abusando da
confiança, ou deixando de devolvê-la ao proprietário, ou ao legítimo possuidor. Este
vício inicia-se no momento em que o possuidor precarista recusa atender à revogação
da autorização anteriormente concedida.
• Esbulho a céu aberto - também terá praticado esbulho

Cessação da violência e da clandestinidade


Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não
autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a
violência ou a clandestinidade.
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando,
tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é
violentamente repelido.

A Conversão da Posse Injusta em Justa


A posse injusta não se pode converter em justa quer pela vontade ou pela ação do
possuidor, quer pelo decurso do tempo.
No entanto, nada impede que uma posse inicialmente injusta venha a tornar-se justa,
mediante a interferência de uma causa diversa, como seria o caso de quem tomou pela
violência comprar do esbulhado, ou de quem possui clandestinamente herdar do desapossado.
Reversamente, a posse de início escorreita entende-se assim permanecer, salvo se
sobrevier mudança na atitude do possuidor como é o exemplo do locatário (possuidor direto)
que se recusa a restituir o bem ao locador. Nesse caso, no momento da recusa a posse justa,
converte-se em injusta.

D) Posse de Boa e de Má-Fé


Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a
aquisição da coisa.
Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as
circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente.

E) Posse com Justo Título.


Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede
a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo
prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.
Em suma, posso ter posse de boa-fé sem justo título, mas tendo justo título há uma
presunção relativa de boa-fé.

F) Posse Nova e Posse Velha


• Posse nova é a de menos de ano e dia
• Posse velha é ano e dia ou mais

Art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á


provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das
outras por modo vicioso. CPC
Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da
Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do
esbulho afirmado na petição inicial.
Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não
perdendo, contudo, o caráter possessório.
Art. 562. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a
expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração, caso contrário, determinará
que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência
que for designada.

G) Posse Natural e Posse Civil ou Jurídica


• Posse Natural exercício de poderes de fato sobre a coisa.
• Posse Civil ou jurídica é a que se transmite ou adquire mediante título, como por
exemplo, na tradição ficta.

H) Posse Ad Interdicta e Ad Usucapionem


• Posse Ad Interdicta: posse que autoriza a utilização dos interditos proibitórios. Para
ela existir basta que o possuidor demonstre os elementos essenciais da
posse, corpus e animus, e a moléstia, mas não conduz a usucapião, como no caso do
locatário.
• Posse Ad Usucapionem: posse que autoriza a aquisição do bem por usucapião. Aqui
será necessário o preenchimento de vários requisitos além dos elementos essenciais à
posse: boa-fé; decurso do tempo suficiente à aquisição; posse mansa e pacífica; que
se funde em justo título, salvo no caso de usucapião extraordinário; que seja
como animus domini, tendo o possuidor a coisa como sua.

3. PROPRIEDADE

3.1. Fundamento
3.2. Conceito
Propriedade nada mais é que “o direito real de usar, fruir, dispor e reivindicar a coisa sobre
a qual recai, respeitando sua função social”.
3.3. Limitações
3.4. Função Social da Propriedade

O direito de propriedade é um direito real complexo, constante no art. 1.228 do Código


Civil, mediante faculdades reais de usar, gozar/fruir, dispor e reivindicar da coisa, conforme a
sua função social.
Além disso, a Constituição Cidadã prevê o direito de propriedade no artigo 5º, inciso
XXII, de forma que representa um direito e uma garantia fundamental. Noutro vértice, no art.
5º, inciso XXIII, a Lei Maior dispõe que a propriedade deverá atender a sua função social.
O direito de propriedade é relativo, sendo a função social seu limitador constitucional.
A percepção atual da propriedade é dela ser uma relação entre pessoas, e não mais uma
relação “pessoa e objeto”, já que, há algum tempo, ela era vista como um poder absoluto de
uma pessoa sobre uma coisa. Mediante o desenvolvimento da sociedade, atualmente a
propriedade é vista de acordo com o interesse coletivo, ressaltando o seu papel social.

3.5. Aquisição e Perda da Propriedade

Modo de aquisição da propriedade


Pode se dar por:
• Ato inter vivos
Registro do titulo
Realizado no cartório de registro de imóveis, onde o alienante continua sendo
considerado proprietário, antes do registro.
Enquanto não ocorrer o registro do titulo translativo, o alienante continua a ser havido
como dono do imóvel.
O registro “tem presunção relativa de veracidade” então, cabe ação de retificação ou
anulação do registro.
Se nessa ação, o registro vier a ser cancelado, o proprietário (que cancelou o registro)
pode reivindicar o imóvel para si.

Usucapião
Requisitos Gerais
Posse com animus domini (posse com animo de dono, possui como se for dono)
Posse continua e sem oposição
Pelo tempo legal
Requisitos específicos
Variam conforme o tipo da usucapião.

Acessão
Segundo modo de aquisição da propriedade por ato inter vivos, podendo dar-se, por:
Formação de ilhas;
Por aluvião;
Por avulsão;
Por abandono de álveo;
Por plantações ou construções.

• Ato causa mortis

Perda da propriedade
O simples não uso, sem as características de abandono, não determina a sua perda, se
não foi usucapido por outrem, ainda que se passem mais de 15 (quinze) anos.
O artigo 1.275 do Código Civil enumera alguns casos de perda da propriedade, tais
como: alienação, renúncia, abandono, perecimento e a desapropriação. Os três primeiros são
modos voluntários, sendo o perecimento e a desapropriação modos involuntários da perda da
propriedade.
O Código Civil traz ainda outras formas, as quais estão enumeradas nos
artigos 1.276 e 1.228, §§ 3º, 4º e 5º, complementando o rol taxativo do Código.

Modos de perda da propriedade:


• Alienação
A alienação ocorre por meio de contrato pelo qual o titular transfere a propriedade a
outra pessoa. Pode ser a título oneroso, como na compra e venda de um bem, ou a título
gratuito, como na doação de um imóvel. Em qualquer dos casos, os efeitos da perda da
propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo, como bem
preceitua o artigo 1.275, parágrafo único, do Código Civil.
• Renúncia
Ela será ato unilateral, pelo qual o titular abre mão de seus direitos sobre a coisa, de
forma expressa. Para isso, o ato renunciativo de imóvel deve também ser registrado no
Registro de Imóveis competente. Exige-se ainda a escritura pública para a “renúncia de
direitos reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo
vigente no País” (artigo 108 do Código Civil). De igual modo, quando ocorrer a renúncia à
sucessão aberta, esta deve constar expressamente de instrumento público ou ser tomada por
termo nos autos.
• Abandono
Importante mencionar que o abandono também ocorre por ato unilateral, pelo qual o
titular abre mão de seus direitos sobre a coisa. Podendo ocorrer, por exemplo, quando o
proprietário não tem meios de pagar os impostos que oneram o imóvel. Por isso, a conduta
do proprietário caracteriza-se, no abandono, pela intenção de não mais ter a coisa para si.
Assim, abandonado o imóvel, qualquer pessoa pode dele apossar-se.
• Perecimento da coisa
Já a perda da propriedade pelo perecimento da coisa decorre de ato involuntário,
através de acontecimentos naturais (terremoto, raio, incêndio, etc.) ou de ato voluntário, como
no caso de uma destruição por seu titular.
• Desapropriação administrativa por necessidade ou utilidade pública ou interesse
social
Neste caso, trata-se de um procedimento administrativo em que o Poder Público, de
forma compulsória (forçada), priva alguém de uma propriedade e a adquire para si, mediante
indenização, desde que fundada em interesse público. Destaca-se que essa indenização deverá
ser prévia, justa, pagável em dinheiro ou se o sujeito passivo concordar, poderá ser pago em
título de dívida pública com cláusula de correção monetária.
• Direito de requisição da propriedade particular
Aqui o Estado, em prol do interesse público, constitui alguém na obrigação de prestar
um serviço ou ceder, mesmo que de forma transitória, a utilização de uma coisa, obr igando a
indenização pelos prejuízos que arcar ao obrigado. Permite-se, ainda, que a autoridade
competente use, provisoriamente, a propriedade em casos de perigo iminente, como guerra
ou comoção intestina, além dos casos de implantação de um traçado viário, a fim de que seja
promovida a política habitacional popular.
• Desapropriação judicial baseada na posse pro labore ou posse-trabalho
Este instituto tem fundamento na função social da propriedade, sendo promovida
quando o proprietário é privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área,
na posse ininterrupta e de boa-fé, desde que tenha mais de 05 (cinco) anos, de considerável
número de pessoas, sendo que estas tenham, conjuntamente ou separadamente, realizadas
obras e serviços que, pelo juiz como considerados de interesse social e econômico relevante,
fixando o magistrado inclusive a justa indenização devida ao proprietário, assim, pago o
preço, terá como validade de um título para registro imobiliário com o nome de seus
possuidores, conforme §§ 4º e 5º do artigo 1.228 do Código Civil.
• Usucapião
Outra forma de perda da propriedade imóvel é a usucapião, visto que, quando uma
parte adquire o direito real de propriedade e de outros direitos, o seu antigo titular perde a
propriedade por um conjunto de motivos, como o descuido e desleixo, podendo ser ainda por
não cumprir a sua função social.
• Acessão
Na acessão, assim como na usucapião, também há a figura de dois sujeitos, sendo que
um deles adquire a propriedade imóvel nas suas formas, tais como: por formação de ilhas;
por aluvião; por avulsão; por abandono de álveo e por plantações ou construções
(artigo 1.248, CC).
• Implemento de condição resolutiva
Decorre quando a propriedade é resolúvel, extinguindo o direito pela verificação,
transmitindo a outrem.
• Confisco
É ato do Estado de forma unilateral, sem indenização, devido o cultivo ilegal de
plantas psicotrópicas (art. 243, da Constituição Federal).

3.5.1. Usucapião e suas Modalidades

A usucapião, ocorre quando uma parte adquire o direito real de propriedade e de outros
direitos, o seu antigo titular perde a propriedade por um conjunto de motivos, como o descuido
e desleixo, podendo ser ainda por não cumprir a sua função social.

Modalidades da Usucapião

Usucapião extraordinária
Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como
seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no
Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor
houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de
caráter produtivo.
Requisitos:

• Posse por 15 anos


• Não precisa de justo título ou boa-fé
• Prazo pode ser reduzido para 10 anos, se o possuidor (que vai usucapir) fez do imóvel sua
morada ou fez obra de caráter produtivo

Usucapião ordinária
Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido
adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.
Requisitos:

• Posse por 10 anos


• Precisa de justo título ou boa-fé
• Prazo pode ser reduzido para 5 anos, se o usucapiente fez do imóvel sua morada ou fez
obras de caráter relevante

Usucapião especial (constitucional) urbana


Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta
metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.
• 1o O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a
ambos, independentemente do estado civil.
• 2o O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor
mais de uma vez.
Requisitos:
• Posse de 5 anos
• Área urbana
• Posse direta – morada habitual (nas outras espécies de usucapião o usucapiente pode, por
exemplo, arrendar ou alugar o imóvel, nesta espécie de usucapião não pode!)
• Limitação de área: Tamanho de área de até 250m²
• Não pode ser dono de outro imóvel (nem rural, nem urbano)
• Só pode fazer uso dessa usucapião uma única vez

Usucapião especial (constitucional) rural


Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a
cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Requisitos:

• Posse de 5 anos
• Área rural
• Posse direta – morada habitual ou tornou a área produtiva com seu trabalho ou de sua família
• Limitação de área: Até 50 hectares
• Não pode ser dono de outro imóvel (nem rural, nem urbano)
• Pode usar mis de uma vez (pois a CF/88 não repete a exigência de que só pode fazer uso
dessa usucapião uma única vez)

Usucapião conjugal
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição,
posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta
metros quadrados) cuja propriedade dívida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou
o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
• 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
• 2o(VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
Requisitos:

• Posse de 2 anos
• Área urbana
• Limitação de área: Até 250m²
• Propriedade que dividia com o ex-conjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar
• Moradia
• Não pode ser dono de outro imóvel (nem rural, nem urbano)

Usucapião coletiva
Art. 10 da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade)
Requisitos:

• Posse por 5 anos


• Posse por população de baixa renda
• Posse para finalidade de morada
O juiz atribuirá uma fração ideal a cada possuidor. A área usucapida passa a ser um
condomínio entre os moradores.
A sentença que reconhece a usucapião é declaratória (não é constitutiva, não cria a
usucapião, apenas declara sua existência como ocorrida, tanto que o usucapiente já pode arguir
sua usucapião como matéria de defesa – Súmula 237 STF)
Súmula 237, STF – A usucapião pode ser arguida em defesa.
Aplicam-se as regras do CC quanto à impedimento, suspensão e interrupção da
prescrição.
Ex: Estou na posse com animus domini. Se eu mandar um bilhete para o proprietário
falando que devolverei, mas não devolvo, o bilhete vale para interromper a prescrição
aquisitiva.
4. DIREITOS DE VINZINHANÇA
As regras que constituem o direito de vizinhança destinam-se a evitar conflitos de
interesses entre proprietários de prédios contíguos. Tem sempre em mira a necessidade de
conciliar o exercício do direito de propriedade com as relações de vizinhança, uma vez que
sempre é possível o advento de conflitos entre os confinantes.

Do Uso Anormal da Propriedade

O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências


prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de
propriedade vizinha – art. 1.277 do CC.

Atenção: proíbem-se as interferências considerando-se a natureza da utilização, a


localização do prédio, atendidas as normas que distribuem as edificações em zonas e os limites
ordinários de tolerância dos moradores da vizinhança.

Das Arvores Limítrofes


“A arvore, cujo o tronco estiver na linha divisória, presume-se pertencer em comum aos
donos dos prédios confinantes”.
Sendo assim, pertencera a ambos proprietários a arvore, os frutos e seu tronco. Deste
modo, caso seja, cortada ou arrancada, devera ser repartida entre os donos. Devendo haver o
consentimento dos donos para tais atos.
Com relação aos frutos que caírem naturalmente, pertencera ao dono do solo onde
tombarem, se este for de propriedade particular.
E “as raízes e os ramos da arvore, que ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser
cortadas, ate o plano vertical divisório, pelo proprietário do terreno invadido”.

Das águas

O dono ou o possuidor do prédio inferior é obrigado a receber as águas que correm


naturalmente do superior, não podendo realizar obras que embaracem o seu fluxo. A condição
natural e anterior do prédio inferior não pode ser agravada por obras feitas pelo dono ou
possuidor do prédio superior – art. 1.288 do CC.
O proprietário tem direito de construir barragens, açudes ou outras obras para
represamento de água em seu prédio. Se as águas represadas invadirem prédio alheio, será o
seu proprietário indenizado pelo dano sofrido, deduzido o valor do benefício obtido – art. 1.292
do CC.

Do Direito de construir

O proprietário construirá de maneira que o seu prédio não despeje águas, diretamente,
sobre o prédio vizinho – art. 1.300 do CC.
É proibido abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio
do terreno vizinho – art. 1.301 do CC.

Da Passagem Forçada
“O dono do prédio que não tiver acesso à via pública, nascente ou porto, pode, mediante
pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar passagem, cujo o rumo será
judicialmente fixado, se necessário”.

Do Uso do Prédio Vizinho


O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o vizinho entre no prédio,
mediante aviso prévio, para:
• Dele temporariamente usar; quando indispensável à reparação, construção, reconstrução
ou limpeza de sua casa ou do muro divisório;
• Apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que ai se encontram casualmente.
• Aplica-se também aos casos de limpeza ou recuperação de esgotos, goteiras, parelhos
higiênicos, poços e nascentes e ao aparo de cerca viva.

Hipóteses estas, desde que demonstrada a necessidade temporária de ingresso no prédio do


vizinho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

BRASIL, Código Civil de 1916. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 17ª Ed. São Paulo: 2002, v.4.

TARTUCE, Flavio, Direito Civil, v 4: direito das coisas. 12ª Ed. Ver., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020.

GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito Civil Brasileiro, volume 5: direito das coisas/ 12ª Ed.
– São Paulo: Saraiva, 2017.

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