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PROCESSO PENAL 3 – RECURSOS 

 
● TEORIA GERAL DOS RECURSOS (arts. 574 a 667 CPP)

1. CONCEITO DE RECURSO

a) Edgar Magalhães Noronha

É a providência legal imposta ao juiz ou concedida à parte interessada, objetivando nova


apreciação da decisão ou da situação processual, com o fim de corrigi-la, modifica-la ou
confirma-la.

b) Paulo Lúcio Nogueira

É um meio pelo qual se provoca o reexame da decisão​ proferida e, em regra, por um juízo superior.

c) Fernando Tourinho

No sentido estrito, recurso nada mais é do que o remédio jurídico-processual pelo qual se provoca
o reexame de uma decisão.

d) Art. 458 do PL 8.045/2010

Direito de manifestação de decisão desfavorável de uma pessoa acusada da prática de uma


infração perante um outro juiz ou tribunal.

2. TERMOS EM SENTIDO ESTRITO

a) Juízo ​a quo

Representa a primeira instância para se processar o pedido, independentemente do grau.

b) Juízo ​ad quem

É o juízo competente para julgar a demanda.

c) Juízo de prelibação (Tourinho)

É o juízo de admissibilidade, sendo a fase de análise dos pressupostos processuais.

O pedido pode ser conhecido ou não conhecido.

d) Juízo de delibação

É o juízo de mérito, em que o recurso poderá ser provido, improvido ou parcialmente provido.
3. FUNDAMENTOS GERAIS DE JUSTIFICAÇÃO DOS RECURSOS

a) Falibilidade humana

Com base na ideia de que a racionalidade humana pode apresentar versões variadas sobre uma
mesma questão, qualidade inerente à condição humana, esse fundamento refere-se ao fato de que
a probabilidade de erro em uma decisão proferida por um juízo colegiado é menor quando
comparada a um juízo monocrático​. Esse reexame, via de regra, conduz a uma análise mais justa
do processo.

b) Necessidade psicológica

Ainda que reconhecendo o acerto de determinada decisão judicial, ​subsiste o interesse em


apresentá-la a uma segunda leitura por razões de convicção psicológica​, seja para ratifica-la ou
altera-la, a fim de se obter uma decisão mais próxima daquilo que seja adequado para determinado
contexto. Relaciona-se à busca da certeza e justiça no âmbito jurídico.

c) Razões históricas

Desde a época do império era possível apresentar o posicionamento em sentido contrário perante
o Imperador acerca de determinada decisão.

4. PRESSUPOSTOS DOS RECURSOS

a) Lógico

Refere-se à ​possibilidade de reexame​, o que pressupõe a existência de uma decisão anterior.

b) Fundamental

Refere-se à ​necessidade de se demonstrar o dano ocasionado à parte​, sob pena de ser decretada
carência do interesse de agir. Independentemente do grau de lesividade, esta deve restar
demonstrada, de forma que o juízo ​ad quem possa reconhecer os argumentos como válidos e
suficientes à modificação da decisão, na extensão ou não do pedido do recorrente.

Súmula 438 STJ: É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva
com fundamento em pena hipotética​, independentemente da existência ou sorte do processo penal.
Assim, não se pode deixar de receber denúncia ou queixa-crime ainda que seja hipótese de crime
prescrito, porquanto inexiste juridicamente a figura da prescrição em abstrato.

Segundo o entendimento da súmula, estando presentes os elementos para recebimento da


denúncia ou queixa-crime (art. 43 CPP), restaria ​comprovada a ocorrência de lesividade,
pressuposto fundamental para o recebimento do recurso​, independentemente da prescrição em
abstrato do crime.

Todavia, ​a jurisprudência se contrapõe à súmula​:


HC Nº 461.959 STJ (Reynaldo Soares da Fonseca) → Deve a ordem ser concedida para declarar a
prescrição da pretensão punitiva estatal, pela pena em abstrato, relativamente ao crime do art. 307,
do Código Penal, extinta a punibilidade, conforme o art. 107, inciso IV, do Código Penal.

AgRg no Resp Nº 1.131.349 STJ (Nefi Cordeiro) → Não subsistem a utilidade e o interesse
recursais, tendo em vista que, ainda que provido o recurso para receber a queixa-crime por
difamação e injúria, os fatos nela narrados foram praticados em 15/03/2007, ou seja, há mais de 8
anos, já atingidos pela prescrição da pretensão punitiva pela pena em abstrato.

5. PRESSUPOSTOS OBJETIVOS

a) Tempestividade

Refere-se à ​interposição do recurso dentro do prazo adequado​. Recurso intempestivo não


ultrapassa o juízo de admissibilidade/prelibação → Não é conhecido.

b) Previsibilidade / Cabimento / Autorização legal

Exigência de se apontar o fundamento legal do recurso no direito interno​, esteja ou não inserido no
Código de Processo Penal. Exceção: recursos regimentais e correição parcial não se encontram no
CPP.

Recursos regimentais → tribunais podem dispor da modificação dos prazos na tramitação interna
dos seus recursos, nunca diminuindo, mas sempre ampliando-os. Serão extintos no novo CPP.

Correição parcial → encontra-se positivada na lei federal que trata do processamento interno da
justiça federal.

c) Adequação

Reivindica a utilização de um recurso para cada situação​, ou seja, o recurso próprio para
determinada decisão. Para Tourinho, com base no Princípio da Unirrecorribilidade Recursal ou
Singularidade, significa afastar a possibilidade jurídica de utilização de mais de um recurso para
uma mesma hipótese.

OBS.: Princípio da fungibilidade recursal (Teoria do “recurso indiferente” ou “tanto-vale”).

Na hipótese de dúvida acerca de qual instrumento utilizar, em razão de ausência de definição legal
expressa​, não havendo erro grosseiro ou má-fé e sendo o recurso inadequado interposto dentro do
prazo daquele que seria adequado, é admitida a fungibilidade recursal. Ex.: hipóteses de
revogação tácita.

Erro não grosseiro

Fungibilidade recursal Ausência de má-fé

Interposição dentro do prazo do recurso adequado

AgRg nos EDcl no Resp Nº 1.725.903 (Jorge Mussi): Este STJ possui entendimento jurisprudencial
no sentido de admitir a incidência do princípio da fungibilidade recursal caso não reste configurada
a existência de erro grosseiro, prejuízo para a parte, má-fé ou a inobservância do prazo
estabelecido em lei para o recurso a ser substituído.
Art. 579 CPP. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro.

d) Formalidade legal / Regularidade procedimental

Refere-se à ​observância dos requisitos exigidos por lei para processamento de determinado
recurso​.

Ex.: Se o recurso admite juízo de retratação, o pedido obrigatoriamente deve ser feito, pois decorre
de efeito regressivo. “Requer em sede de retratação que o juízo modifique a sua decisão; na
hipótese de ser mantida, requer a remessa dos autos ao tribunal ​ad quem​”.

e) Inexistência de fato impeditivo ou extintivo (Capez)

Refere-se ​àquilo que pode inibir o recurso antes ou após o protocolo do mesmo​. Ex.: não se
conhece recurso cuja decisão se pretende ir contra súmula vinculante (impeditivo); renúncia ao
direito de recorrer (impeditivo).

Antigamente, a ação penal pública admitia como fato extintivo a ​deserção por fuga do réu​, o que foi
revogado tacitamente com a promulgação da Constituição Federal. Em 2008​, o art. 594 do CPP foi
revogado expressamente pela Lei 11.719. Ademais, ​o STJ editou a Súmula 347, segundo a qual “​o
conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão​”. Já o STF decidiu pela
inconstitucionalidade do dispositivo legal, vez que ​atentava contra o princípio da ampla defesa e da
presunção de inocência​.

Outra modalidade de deserção se dava por ausência de recolhimento do preparo, o que não se
admite mais ​na ação penal pública​, visto que ​as custas serão recolhidas ao final do processo​, após
o trânsito em julgado.

Todavia, ​nos casos de ação penal privada, poderá haver deserção por não recolhimento do
preparo​, desde que intimado para fazê-lo, o recorrente não o tenha feito no prazo adequado, não
sendo conhecido o recurso por fato extintivo. Poderá ocorrer também por desistência do recurso
(perempção).

Deserção por fuga do réu - HC 95.186 (Nefi Cordeiro): O não conhecimento da apelação por
deserção, diante da fuga do réu após interposto o recurso, constitui violação ao direito de defesa,
sanável por meio de ​habeas corpus.​

Deserção – Ação Penal Pública: AgRg nos EDiv no REsp nº 1.346.605 (Reynaldo Soares): Esta
Corte já decidiu que, em se tratando de ação penal pública, somente se admite a exigência do
pagamento de custas processuais após a condenação definitiva, não havendo falar em deserção
do recurso por falta de preparo.

Deserção - Ação Penal Privada: AgRg no REsp nº 1.767.556 (Laurita Vaz): O comando normativo
contido no §4º do art. 1.007 do Código de Processo Civil é expresso ao exigir, para os casos em
que a parte deixa de comprovar o pagamento do preparo no ato da interposição do recurso, após a
devida intimação do patrono da parte, o recolhimento em dobro do respectivo valor, sob pena de
deserção. In casu, tratando-se de ação penal privada e verificado que, embora realizada a
intimação para tanto, não foi efetuado no prazo designado o recolhimento em dobro do preparo
recursal, não há como afastar a deserção, nos termos da Súmula nº 187 do Superior Tribunal de
Justiça.
Súmula 187 STJ: É deserto o recurso interposto para o Superior Tribunal de Justiça, quando o
recorrente não recolhe, na origem, a importância das despesas de remessa e retorno dos autos.

f) Princípio da Unirrecorribilidade Recursal ou Singularidade (Tourinho)

Quando se processa o Recurso Especial no STJ, se há interesse em levar a matéria ao STF, o


Recurso Extraordinário deve ser processado concomitantemente. Quando se publica o acordão
acerca de determinada apelação, é facultado à parte interessada manejar embargos de
infringência, em se tratando de decisão por maioria, bem como interpor Recurso Especial e
Recurso Extraordinário. Dessa forma, em uma mesma decisão cabem três recursos diferentes, o
que à priori poderia caracterizar ofensa ao princípio da unirrecorribilidade recursal. Todavia, como
cada recurso exige um fundamento diferente, tal suposição não se aplica. A doutrina, a exemplo de
Fernando Tourinho, afirma que essa hipótese é uma exceção ao princípio.

RE → Repercussão geral

Fundamentos do recurso REsp → Prequestionamento

EInf → Voto vencido

6. PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS (Juízo de Prelibação/Admissibilidade - Tourinho)

a) Legitimidade

É a autorização legal para quem pode recorrer ou responder ao recurso (legitimidade recursal ativa
ou passiva). Verifica-se se recurso foi interposto por quem deveria fazê-lo, que, em regra, são autor
e réu. ​Na apelação​, ocorre uma situação incomum: ​a legislação autoriza o recurso por quem é
vítima direta ou indireta do crime (terceiro juridicamente interessado)​, não sendo parte no processo,
posto que é representada pelo MP. Tal hipótese será mantida no novo CPP.

b) Interesse jurídico

Deve ser demonstrada a ocorrência de lesividade na decisão judicial.

7. CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS

Paulo Lúcio Nogueira

a) Quanto à origem Voluntário: quando a parte tem interesse em manifestar seu


inconformismo

Obrigatório/Necessário/Anômalo/De ofício/​Ex officio:​ ​quando a decisão judicial, independentemente


da vontade das partes, se obriga a um reexame necessário, mesmo
havendo concordância do MP​. Na verdade, ocorre tão somente a
remessa do processo pelo juiz​, o qual deverá apontar o artigo que
determina o envio para o tribunal, após certificado o fim do prazo para
interposição do recurso voluntário. ​Deixará de existir com a reforma do
CPP​ (art. 461 PL 8.045/10).

Art. 574 CPP. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão
ser interpostos, de ofício, pelo juiz:

I - ​da sentença que conceder habeas corpus​;

II - ​da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o
crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411.

Nem todos possuem necessariamente natureza constitucional

Mirabete ↑

↑ Constitucional: MS, mandado de injunção, REsp, RE, habeas corpus

b) Quanto à fonte formativa Legal: apelação, habeas corpus, carta testemunhável, RESE

Regimental (regimentos internos dos tribunais): ag. regimental*

OBS.: Os recursos podem fazer parte de mais de uma classificação.

*Art. 752 PL 8.045/10 → São os tribunais de todos os graus de jurisdição proibidos de criar novos
recursos em seus respectivos regimentos internos.

8. DOS EFEITOS DOS RECURSOS

a) Devolutivo / ​Tantum devolutum quantum appellatum

Diferentemente do efeito suspensivo, ​o efeito devolutivo presume-se, dispensando previsão legal​.


Devolução da matéria para o juízo ​ad quem​, competente para rever a decisão judicial. A
transferência será de competência limitada quando a matéria for delimitada pelas razões do
recurso. Quando não se delimita, presume-se a devolução integral da matéria. O efeito devolutivo
se subdivide em:

I) Reiterativo: quando a decisão judicial impugnada ​não pode ser revista pelo juízo prolator​, o qual
é competente apenas para fazer o juízo de admissibilidade do recurso. Ex.: apelação.

II) Iterativo: quando se permite que ​somente o juízo prolator reveja sua própria decisão​. Juízo ​a quo
é igual ao juízo ​ad quem.​ Ex.: embargos de declaração.

III) Misto: quando o recurso pode ser julgado tanto pelo juízo prolator (juízo de retratação) quanto
pelo tribunal superior, no caso de mantida a decisão. Ex.: RESE.

OBS.: ​Com a reforma do CPP, os recursos da defesa terão obrigatoriamente a devolução integral
da matéria​.

Art. 461, §2º PL 8.045/10 → O recurso da defesa devolve integralmente o conhecimento da matéria
ao tribunal.
b) Suspensivo

Exige previsão legal. Inibe a execução provisória daquilo que consta na decisão judicial. ​Deve-se
mencionar com base em qual hipótese se requer a aplicação do efeito suspensivo​.

Exceção: Sentença absolutória não possui efeito suspensivo → Art. 596 CPP: A apelação da
sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto imediatamente em liberdade.

Súmula 604 STJ → Mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso
criminal interposto pelo Ministério Público.

AgRg no HC 380.419 STJ → O manejo do mandado de segurança como sucedâneo recursal,


notadamente com o fito de obter medida não prevista em lei, revela-se de todo inviável, sendo,
ademais, impossível falar em direito líquido e certo na ação mandamental quando a pretensão
carece de amparo legal. ​Não cabe mandado de segurança com o escopo de dar efeito suspensivo
ao agravo em execução​. Nos termos do art. 197 da LEP, o recurso de agravo em execução não
comporta efeito suspensivo, salvo no caso de decisão que determina a desinternação ou liberação
de quem cumpre medida de segurança.

Art. 197 LEP → Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito
suspensivo.

Art. 584 CPP. Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de
livramento condicional e dos incs. XV, XVII e XXIV do art. 581.

§1º Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do no VIII do art. 581,


aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598.

§2º O recurso da pronúncia suspenderá tão-somente o julgamento.

§3º O recurso do despacho que julgar quebrada a fiança suspenderá unicamente o efeito de perda
da metade do seu valor.

c) Extensivo

Não diz respeito a um recurso em espécie, mas a hipótese excepcional em que houver pluralidade
no polo passivo da demanda. ​Sempre que no processo existirem dois ou mais réus, os benefícios
proferidos num determinado recurso em razão de vícios processuais serão estendidos para o réu
não recorrente. Todavia, se a matéria objeto do recurso for personalíssima, o recurso não terá
efeito extensivo. Ex.: vício na citação → efeito extensivo.

Art. 580 CPP. No caso de concurso de agentes, a decisão do recurso interposto por um dos réus,
se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos outros.

d) Regressivo

Relaciona-se ao ​juízo de retratação → possibilidade legal de o juiz se retratar da decisão. Difere,


contudo, do pedido de reconsideração.

Tal qual o efeito suspensivo, o efeito regressivo ​depende de autorização legal​. Ex.: RESE, carta
testemunhável, agravo em execução.
Deve-se fazer dois pedidos​: requer que o juízo modifique sua decisão; na hipótese de ser mantida
a decisão, requer a remessa dos autos para o tribunal ​ad quem.​

9. RECURSOS EM ESPÉCIE

9.1 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO (RESE)

a) Conceito

Nucci → As decisões que comportam o RESE, regra geral, tem natureza interlocutória.

Posicionamento segundo uma interpretação taxativa ​→ Meio de impugnação para examinar


decisões especificadas em lei, independentemente de sua natureza jurídica​.

Eugênio Pacelli → Como o próprio nome indica, o mencionado recurso foi elaborado para aplicação
restrita, ou seja, estritamente nos casos assinalados em lei. E isso porque se cuida de recurso
previsto para a impugnação de apenas algumas decisões interlocutórias. ​Defende que, da decisão
que determina o “sursisinho” (art. 89 Lei 9099/95), por se tratar de decisão interlocutória no âmbito
do JECRIM, é cabível a interposição do RESE pela parte discordante. Todavia, esta não foi a
opção do legislador, em face da especialidade e simplicidade processual dos crimes de
competência da L. 9099/95, considerados de menor potencial ofensivo, visto que possuem
repercussão social mínima.

Nestor Távora → Defende a possibilidade de se interpretar extensivamente as hipóteses do artigo


581 do CPP.

OBS.: Com a reforma do CPP, o RESE deixa de existir para se tornar agravo.

b) Prazos

​Para manifestar o inconformismo (recurso em sentido estrito)​ → ​5 dias​ (art. 586)

Prazo

Para apresentar as razões e contrarrazões do recurso → 2 dias (art. 588)

Importante para fins de intimação

c) Interposição do RESE

O recorrente deverá apresentar o recurso perante o juízo prolator, apontando qual hipótese em
razão da qual requer interposição do RESE. Antes de julgar, o juiz intima o recorrido, o qual deverá
contrarrazoar o recurso. Em razão da possibilidade jurídica do juízo de retratação, na oportunidade
das razões e contrarrazões, ambas as partes deverão realizar também o pedido de remessa dos
autos para o tribunal ​ad quem​, uma vez que não se abrirá outro prazo para interposição de recurso
caso a nova decisão venha a ser desfavorável para a parte que não havia recorrido.

OBS.: O legislador autorizou a interposição via oral do RESE.

d) Dos efeitos

Efeitos → Devolutivo, regressivo misto e, em algumas hipóteses, suspensivo.

I) Devolutivo → Presumido. Deve-se apresentar ao tribunal a extensão das razões para modificar
total ou parcialmente a decisão judicial. Local próprio: razões e contrarrazões.

II) Regressivo (art. 589) → Depende de expressa previsão legal, quando o legislador admite o juízo
de retratação.

III) Suspensivo (art. 584) → ​Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de
concessão de livramento condicional e dos incs. XV, XVII e XXIV do art. 581. Assim, deve-se
mencionar qual a hipótese que comporta a aplicação do efeito suspensivo ao RESE.

XV → ​que denegar (juízo de admissibilidade) a apelação​ ​ou a julgar deserta​;

XVII → que decidir sobre a ​unificação de penas​ (revogado tacitamente);

XXIV → que ​converter a multa em detenção ou em prisão simples​ (revogado tacitamente);

e) Hipóteses de cabimento

Fracionamento das hipóteses pelo legislador → Rol taxativo.

Inc. 6º → Revogado EXPRESSAMENTE pela L. 11689/08, que altera o art. 416 CPP;

Art. 581 Incs. 11, 12, 17, 19, 20, 21, 22 e 23 → Revogados TACITAMENTE pela L. 7210/84
(LEP);

Inc. 24 → Revogado TACITAMENTE pelo art. 51 do CP;

Art. 416 CPP → Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação.

Art. 197 LEP → o Agravo em Execução passou a ser o recurso utilizado no âmbito da execução
penal, independentemente da natureza da decisão. Além de se tratar de lei especial, a LEP é
posterior ao CPP. Todavia, ​o legislador não revogou expressamente as hipóteses do RESE
referentes à execução da pena​. Havendo interposição de RESE em alguma delas, ​aplicável o
princípio da fungibilidade recursal,​ ante a inexistência de erro grosseiro.

STF → Sumulou o prazo do Agravo em Execução em 5 dias, ante a omissão do legislador.


Obs.: Observar o gozo de primazia da apelação, em caso de decisão proferida no âmbito de
sentença definitiva.

Art. 51 CP. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de
valor, aplicando-se lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública,
inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

Art. 581 CPP​. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:

I - que não receber a denúncia ou queixa;

Embora uma parcela da jurisprudência tem aplicado o princípio da fungibilidade recursal para
interposição de RESE ​na hipótese de absolvição sumária tendo em vista a rejeição da denúncia ou
queixa, ​o recurso cabível é a apelação, ante a literalidade do art. 416 do CPP, pois caracterizaria
hipótese evidente de ​erro grosseiro​. Ademais, a absolvição sumária caracteriza uma decisão
terminativa, pois resolve o mérito sem a necessidade de instrução processual.

Art. 416 CPP. Contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá apelação.

No âmbito do JECRIM, o recurso cabível contra rejeição de denúncia ou queixa é a apelação​, pois
se trata de rito sumaríssimo (art. 82 L. 9.099/95).

TJSP RESE 0071411-94.2016.8.26.0050 (Freitas Filho) → Furto, art. 155, §4º, IV CP. Cassação da
decisão que indeferiu o recebimento da denúncia. Necessidade de prosseguimento do feito.
Afastamento do reconhecimento do princípio da insignificância. Pedido de designação de outro juiz
para a realização da instrução e julgamento. Rito específico previsto no CPP, não sendo esse o
recurso apropriado. Recurso parcialmente concedido.

II - que concluir pela incompetência do juízo;

Quando o juiz deixa de receber a queixa ou denúncia por se declarar incompetente, ocorrendo a
redistribuição do feito.

TJSP RESE 0008060-81.2014.8.26.0224 (Camargo Aranha Filho) → Crime de lesão corporal leve.
Decisão que declarou a incompetência do juízo. ​Deram provimento ao recurso ministerial para fixar
a competência do Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Comarca de
Guarulhos para conhecer e julgar a presente ação penal. Incidência da Lei Maria da Penha decorre
da presença cumulativa dos vetores relação familiar, violência de gênero e situação de
vulnerabilidade da vítima em relação ao agressor, ainda que entre irmãos. Embora se tratasse de
lesão corporal de natureza leve, o tribunal decidiu com base no contexto em que o crime fora
praticado.

TJRJ RESE 0013851-11.2013.8.19.0014 (João Ziraldo Maia) → ​Deram provimento ao recurso


ministerial contra decisão que reconheceu a incompetência do Juizado da Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher para julgar crime de desobediência decorrente de descumprimento de
medida protetiva. A conduta atribuída ao denunciado não pode ser isolada do contexto fático de
violência doméstica e familiar contra a mulher, valendo notar que a mesma não atenta somente
contra a Administração da Justiça, mas atinge, igualmente, a mulher.

III - que julgar procedentes as exceções (art. 95 CPP), salvo a de suspeição;

A exceção de incompetência se aproxima da hipótese mencionada pelo inciso II. Todavia, se


distinguem quanto à fundamentação. ​Enquanto no caso do inciso II a incompetência é declarada de
ofício pelo juiz, no inciso III ela decorre de julgamento a pedido da parte que alegou a
incompetência​.

Litispendência

Exceções peremptórias Ilegitimidade de parte

Coisa julgada

Exceções dilatórias ​Suspeição

Incompetência de juízo

IV – que pronunciar o réu;

Até 2008, o RESE também era cabível para impronúncia. Todavia, em razão da natureza jurídica
de sentença definitiva, determinou-se que o recurso adequado para decisão de impronúncia é a
apelação (art. 416 CPP). Assim, não cabe aplicação do princípio da fungibilidade recursal.

HC 367.761 STJ (Nefi Cordeiro) → Ressalvada pessoal compreensão diversa, uniformizou o


Superior Tribunal de Justiça ser inadequado o writ em substituição a recursos especial e ordinário,
ou de revisão criminal, admitindo-se, de ofício, a concessão da ordem ante a constatação de
ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia. Conforme previsão expressa do art. 416, do
Código de Processo Penal, contra a decisão de impronúncia caberá recurso de apelação. ​A
interposição de recurso em sentido estrito contra a decisão de impronúncia configura erro
grosseiro, não havendo que se falar em incidência do princípio da fungibilidade recursal​. Habeas
corpus não conhecido, mas concedida a ordem, de ofício, para cassar o acórdão impugnado e
restabelecer a decisão de impronúncia.

V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento
de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em
flagrante;

​Decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a ​fiança

Hipóteses Decisão que indeferir requerimento de ​prisão preventiva​ ou revogá-la

Decisão que conceder ​liberdade provisória​ ​ou relaxar a prisão em flagrante


Revogação tácita

VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008)

VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor;

Fiança (arts. 327, 328 e 341) → natureza interlocutória → RESE

OBS.: ​Se a fiança for cassada na sentença, o recurso cabível é a apelação, que goza de primazia
em relação ao RESE.

Toda decisão que isoladamente possui um recurso próprio mas ela se encontra na sentença
definitiva, o apelo passa a ter gozo de primazia (art.593 CPP).

VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade (art. 107 CP);

O recurso cabível depende de onde a matéria foi deferida:

I) Se no curso do processo → RESE

II) Se na sentença → Apelação

III) Se na execução penal → Agravo em Execução

IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da


punibilidade;

Mesma análise do inc. VIII.

X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus;

OBS.: CF → Recurso Ordinário Constitucional (arts. 102, II, “a” e 105, II, “a” CF)

Dentre as hipóteses do ROC, está a decisão denegatória de HC nos tribunais. Assim, ​apenas os
HC julgados em primeira instância serão objeto do RESE.

XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;

Agravo em Execução (LEP).

Se a decisão sobre o SURSIS for na sentença, o apelo goza de primazia.

XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional;

Agravo em Execução (LEP).


XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte;

Tem natureza de decisão interlocutória.

XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir;

Está mais relacionado à natureza administrativa da decisão. Inconformidade dirigida a ato do juiz
relacionado à organização do júri.

XV - que denegar a apelação ​ou a julgar deserta​;

Denegar → Juízo de prelibação ou admissibilidade.

As duas modalidades de deserção não se aplicam mais (fuga do réu e ausência de recolhimento de
preparo).

XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;

Tem natureza de decisão interlocutória.

XVII - que decidir sobre a unificação de penas;

Agravo em Execução (LEP).

XVIII - que decidir o incidente de falsidade;

É a exceção pois se trata de decisão que não possui natureza interlocutória​. Relaciona-se à
decisão sobre falsidade em processo apenso, que será juntada no processo principal. Embora a
natureza de sentença definitiva, a literalidade da norma determina que o recurso cabível é o RESE.

XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado;

Agravo em Execução (LEP).

XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra;

Agravo em Execução (LEP).

XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774;

Agravo em Execução (LEP).


XXII - que revogar a medida de segurança;

Agravo em Execução (LEP).

XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a
revogação;

Agravo em Execução (LEP).

XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples.

Revogado tacitamente pelo art. 51 do CP.

9.2 APELAÇÃO (ARTS. 593/606 CPP)

a) Conceito

Recurso genérico cabível da sentença definitiva, com força definitiva e das decisões do Tribunal do
Júri​, nas hipóteses mencionadas expressamente nesse dispositivo. (MIRABETE)

Ex.: Impronúncia → decisão interlocutória com força definitiva, pois encerra uma fase do
procedimento.

​Amplo​: possibilidade de devolução integral da matéria para o tribunal

Características ​Residual​: subsidiário em relação aos recursos especificados em lei

​Goza de primazia​: em se tratando de sentença definitiva, o apelo tem


preferência

Apelação Plena ou Total → Devolução integral (decisão impugnada + processo)

Parcial

Assim, o juiz competente em matéria de apelação tem a oportunidade de não apenas analisar a
fundamentação da sentença, mas tentar compreender que razões ensejaram aquela
fundamentação, assegurando a necessidade psicológica de reexame dos fatos. No atual Código,
tem-se a liberdade de se delimitar a matéria a ser devolvida para o tribunal, por meio das razões de
apelação, o que não será mais possível com a reforma do CPP.

Art. 461 PL 8.045/10. O recurso poderá ser interposto pelas partes e, nas hipóteses previstas em
lei, pela vítima, pelo assistente ou por terceiro juridicamente prejudicado.

§1º Ao acusado é facultado interpor o recurso pessoalmente, por petição ou termo nos autos, caso
em que o juiz intimará ou, se necessário, nomeará defensor para apresentar as razões.
§2º O recurso da defesa devolve integralmente o conhecimento da matéria ao tribunal.

Diferentemente do RESE, que possui hipóteses especificadas em lei, o apelo é um recurso


genérico, atuando de forma residual nos casos em que a lei não prevê um recurso próprio.

Gozo de primazia → está relacionado ao momento em que foi proferida a decisão. Se a hipótese
admitir mais de um recurso, em se tratando de sentença definitiva, cabível apenas a apelação. Ex.:
decisão sobre fiança (apelação > RESE).

Diferente do recurso em sentido estrito, é denominado de recurso por excelência, de onde se extrai
quase todos os pressupostos da teoria geral dos recursos.

Relaciona-se à necessidade de reexame por um juízo colegiado em detrimento do juízo


monocrático, mitigando a probabilidade de erro em uma decisão judicial.

​Decisão definitiva​ (I)

Hipóteses de cabimento​ com base no gênero ​Decisão com força definitiva​ (II)

​Decisão proferida pelo Tribunal do Júri​ (III)

(I) A sentença definitiva, absolutória ou condenatória, pode ser positiva ou negativa em relação ao
pedido ministerial.

(II) Abrange as decisões que não encerram o processo, mas são de cunho meritório. Ex.: decisão
de impronúncia, que encerra uma fase do processo no sentido de alterar o juiz natural para o
julgamento da lide.

(III) ​Doutrinariamente, o recurso da decisão cujo enfrentamento do mérito se deu pelo tribunal
popular é chamado de APELAÇÃO DE FUNDAMENTAÇÃO VINCULADA, porquanto obrigatória a
menção da(s) alínea(s) que fundamenta(m) o recurso​. Assim, não se conhece do apelo com base
apenas no inciso III, mas tão somente com base na(s) alínea(s) “x” do inciso III. ​As hipóteses do
inciso III são chamadas de DECISÕES SUBJETIVAMENTE COMPLEXAS, em razão da
duplicidade do juiz natural para fases distintas (juiz presidente - togado e juiz popular – tribunal do
júri).

Recurso genérico → Rol exemplificativo

Art. 593​. Caberá apelação no prazo de 5 dias:

I​ - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular;

II​ - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não
previstos no Capítulo anterior;

III​ - das decisões do Tribunal do Júri, quando:

a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia;


b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados;

c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança;

d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos.

§1º Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas dos
jurados aos quesitos, o tribunal ​ad quem​ fará a devida retificação.

§2º Interposta a apelação com fundamento no III, c, deste artigo, o tribunal ​ad quem​, se Ihe der
provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança.

§3º Se a apelação se fundar no III, d, deste artigo, e o tribunal ​ad quem se convencer de que a
decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para
sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.

§4º Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda que
somente de parte da decisão se recorra. → GOZO DE PRIMAZIA

b) Prazo ​Apelação: 5 dias

​Razões: 8 dias (3 dias para contravenções)

Exceção: ​JECRIM → prazo único de 10 dias​ (§1º, art. 82, L. 9.099/95).

OBS.: Art. 480 ​PL 8.045/10 → prazo único de 15 dias​.

Tourinho → Nada obstante o legislador ter estabelecido o prazo de 8 dias para as razões, esse
prazo não precisa ser observado, pois foi criado para o advogado que não se encontrava na
comarca quando publicada a sentença.

Independentemente do exercício, deve ser observado o prazo das razões para fins de intimação.

Com a reforma do CPP, haverá um prazo único para manifestar o inconformismo e apresentar as
razões do apelo.

Art. 462 PL 8.045/10 → O recurso será interposto por petição dirigida ao órgão judicial competente,
acompanhada de razões, que compreenderão os fundamentos de fato e de direito e o pedido de
nova decisão.

c) Habilitado

É o assistente de acusação, auxiliar do Ministério Público.

A habilitação pode ocorrer no processo, que é a regra, ou após a prolação da sentença. Em se


tratando da possibilidade de reexame integral da matéria, o legislador permitiu que a vítima
contrate advogado para apelar da decisão. É a apelação por quem até então não tinha legitimação
para atuar no processo.
Quando apenas apela da sentença, a vítima é considerada assistente não habilitado​, pois não
possui existência jurídica, mas de fato.

Por não ser parte no processo, o legislador concedeu ao assistente não habilitado o prazo de 15
dias. Todavia, o mesmo dispositivo legal conferiu igual prazo para quem já estava habilitado​,
violando o princípio da paridade de armas. Em razão disso, ​a jurisprudência estabeleceu o prazo
de 5 dias para o assistente habilitado. Com a reforma do CPP, o prazo para o assistente habilitado
passará a ser de 5 dias.

Art. 598 CPP. Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença
não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das
pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá
interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo.

Parágrafo único. O prazo para interposição desse recurso será de 15 dias e correrá do dia em que
terminar o do Ministério Público.

STJ AgRg no HC 334.270 (Antônio Saldanha Palheiro) → Nos termos da jurisprudência deste
Tribunal Superior, se o assistente de acusação está habilitado nos autos, deve ser aplicado o prazo
de 5 dias para apelação. Ainda, deve ser o assistente intimado da sentença, daí decorrendo o
prazo referenciado, ou a partir do término do período conferido ao Ministério Público para
interposição de seu apelo.

OBS.: ​Súmula 210 STF → ​O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive
extraordinariamente​, na ação penal, nos casos dos arts. 584, §1º, e 598 do CPP.

O auxiliar de acusação ​não fica vinculado à manifestação ministerial​, pois tem autonomia e
independência para requerer também o que entender de direito, em complementação ao pedido do
Ministério Público, sendo-lhe, contudo, vedada a repetição daquilo que já foi requerido por este.
Assim, o fato de o Ministério Público não recorrer não significa que o assistente de acusação não
possa fazê-lo.

STF HC 102.085 (Cármen Lúcia) → O assistente de acusação tem legitimidade para recorrer da
decisão que absolve o réu nos casos em que o Ministério Público não interpõe recurso. A
manifestação do promotor de justiça, em alegações finais, pela absolvição da Paciente e, em seu
parecer, pelo não conhecimento do recurso não altera nem anula o direito do assistente de
acusação de recorrer da sentença absolutória.

d) Razões

Momento em que se apresenta os argumentos para reforma da decisão judicial. O prazo para
arrazoar começará a contar da data da intimação da defesa. Mesmo tendo advogado, se este for
intimado e não apresentar as razões, ainda assim não se tem por expirado o prazo. ​Pelo princípio
da oficiosidade, deverá o juiz intimar a Defensoria Pública para apresentar as razões. Somente
após o término do prazo para a defensoria haverá a remessa dos autos para o tribunal ​ad quem,​
ainda que ausentes as contrarrazões. Assim, tem-se que ​as razões são necessárias; porém, sua
ausência constitui mera irregularidade, pois presume-se a devolução integral da matéria. Em
contrapartida, a falta de intimação da Defensoria Pública acarretará a nulidade do processo.
Pela reforma do CPP, as razões da defesa passarão a ser plenas​, devolvendo obrigatoriamente
toda a matéria para o tribunal ​ad quem​. Assim, quando o tribunal reconhecer matéria favorável ao
acusado, ele poderá modificar a decisão mesmo não tendo provocação do réu nesse sentido. Está
relacionado à busca pela verdade real, uma vez que tanto o juiz quanto as partes possuem o
mesmo interesse no processo.

Art. 600 CPP. Assinado o termo de apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo de
oito dias cada um para oferecer razões, salvo nos processos de contravenção, em que o prazo
será de três dias.

§1º Se houver assistente, este arrazoará, no prazo de três dias, após o Ministério Público.

§2º Se a ação penal for movida pela parte ofendida (queixa-crime), o Ministério Público terá vista
dos autos, no prazo do parágrafo anterior. → ​Custos legis (​ princípio da legalidade e da
indivisibilidade da ação penal privada)

§3º Pluralidade de apelantes/apelados → Prazos comuns

Efeito diferido → §4º Se o apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que
deseja arrazoar na superior instância serão os autos remetidos ao tribunal ​ad quem onde será
aberta vista às partes, observados os prazos legais, ​notificadas​ as partes pela publicação oficial.

Refere-se à possibilidade de apresentação das razões no tribunal ​ad quem,​ DESDE QUE requerido
quando da interposição do recurso. Neste particular, o juízo ​ad quem é diferente do juízo ​a quo,​
não tendo este competência para rever sua própria decisão (efeito devolutivo reiterativo).

Para o Tourinho, isso significava apenas a possibilidade para o advogado de ter mais tempo para
elaboração das razões. Posteriormente, contudo, acabou considerando a hipótese pura e
simplesmente como uma opção do legislador.

e) Juntada de documentos novos

Em função da possibilidade de reexame integral ou parcial da matéria, ​a jurisprudência tem


admitido a juntada de novos documentos mesmo após a prolação da sentença​. Essa hipótese tem
como fundamento a ​busca pela verdade real​, de forma que, se eventualmente, algum documento
novo possa esclarecer os fatos de forma diversa, o tribunal deverá dele tomar conhecimento.

Documento novo → produzido após o fato criminoso, sendo desconhecido, ou após a prolação da
sentença​. Fato superveniente autoriza o reconhecimento de prova que possa esclarecer o crime,
bem como sua autoria. Se a prova surgiu depois e se enquadra no conceito de superveniente,
poderá ser apresentada no momento em que surgiu e, coincidentemente, após a prolação da
sentença. Deve-se observar o princípio do contraditório, de forma que a parte ​ex adversa possa
dele tomar conhecimento e ter a oportunidade de se manifestar (impugnar).

Na hipótese de documento novo juntado pelo apelado, o juiz deverá intimar o apelante para se
manifestar como entender de direito, sob pena de anulação do processo por ausência de intimação
do recorrente.
STJ HC 28.879 (Félix Fisher) → Havendo documentos novos, juntados às contrarrazões, deve ser
dado vista ao apelante para que se manifeste sobre estes.

f) Obrigatoriedade das razões e contrarrazões

As razões são, em tese, obrigatórias, uma vez que demonstram o interesse de agir a partir do grau
de lesividade sofrido pela parte recorrente, pressuposto para o recebimento do recurso (juízo de
prelibação ou admissibilidade). Todavia, ​o STJ decidiu que a ausência ou intempestividade das
razões não induzem ao não-conhecimento da apelação interposta, havendo presunção de
devolução integral da matéria. Nesse sentido, ​sua ausência não ​constitui vício, mas ​mera
irregularidade​, diferentemente da ​falta de intimação para sua apresentação, que por sua vez
caracteriza nulidade processual.

Art. 601 CPP. Findos os prazos para razões, os autos serão remetidos à instância superior, com as
razões ou sem elas, no prazo de 5 dias, salvo no caso do art. 603, segunda parte, em que o prazo
será de trinta dias.

STJ AgRg no HC 179.776 (Sebastião Reis Júnior) → Advogado constituído devidamente intimado.
Inércia na apresentação das razões recursais. Necessidade da prévia intimação do réu para
constituir novo patrono. Falta de nomeação de defensor público ou dativo para suprir a falta.
Cerceamento de defesa caracterizado. Acordão da apelação anulado.

STJ HC 191.023 (Laurita Vaz) → Não configura nulidade a ausência de apresentação das razões
do recurso de apelação, interposto nos termos do §4º do art. 600 do Código de Processo Penal, por
omissão do advogado constituído pelo réu, não obstante ter sido devidamente intimado pela
imprensa oficial, como ocorreu no caso. ​A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou o
entendimento no sentido de que a ausência de razões da apelação e de contrarrazões à apelação
do Ministério Público não é causa de nulidade por cerceamento de defesa, se o defensor
constituído pelo réu foi devidamente intimado para apresentá-las.

g) Apelação simultânea

Quando ambas as partes apelam da decisão​, em se tratando de processo físico. O MP arrazoa


primeiro, depois se abre prazo em dobro para o réu arrazoar e contrarrazoar. Após, os autos
retornam para o MP fazer as contrarrazões.

h) Deserção

Antigamente, havia deserção por ausência de recolhimento do preparo e em decorrência da fuga


do réu, o que impedia o conhecimento do recurso. ​Após a CF/88, não se admitiu mais a deserção
por fuga do réu​ (princípio da ampla defesa).
STJ HC 95.186 (Nefi Cordeiro) → O não conhecimento da apelação por deserção, diante da fuga
do réu após interposto o recurso, constitui violação ao direito de defesa, sanável por meio de
habeas corpus.​

Súmula 347 STJ → ​O conhecimento de recurso de apelação do réu independe de sua prisão​.

Em caso de ação penal pública, não ocorrerá a deserção, uma vez que o recolhimento do preparo
e demais custas processuais só será efetuado após o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória.

STJ AgRg nos EREsp 1.346.605 (Reynaldo Soares) → Interpretando o art. 804 do Código de
Processo Penal, esta Corte já decidiu que, ​em se tratando de ação penal pública, somente se
admite a exigência do pagamento de custas processuais após a condenação definitiva​, não
havendo falar em deserção do recurso por falta de preparo.

Em caso de ação penal privada, o recurso só será considerado deserto desde que, intimado para
comprovar o recolhimento do preparo, o recorrente deixe de fazê-lo dentro do prazo adequado.

Art. 806, §2º CPP. A falta do pagamento das custas, nos prazos fixados em lei, ou marcados pelo
juiz, importará renúncia à diligência requerida ou deserção do recurso interposto.

STJ AgRg no REsp 1.651.330 (Joel Parcionik) → Esta Corte Superior firmou seu entendimento no
sentido de que, nas hipóteses de ação penal privada somente será declarada a deserção recursal
após seja oportunizada à parte a efetivação do preparo, em homenagem aos princípios da
instrumentalidade das formas e do duplo grau de jurisdição.

OBS.: ​A deserção por falta de recolhimento do preparo deixa de existir com a reforma do CPP​.

Art. 472 PL 8.045/10. Os recursos serão interpostos e processados independentemente de preparo


e de pagamento de custas ou despesas.

i) Efeitos

I - Devolutivo

Presumido (independe de previsão legal).

II - Suspensivo

Regra geral, a apelação impede a execução provisória da pena.

Art. 597 CPP → A apelação de sentença condenatória terá efeito suspensivo.

Exceções: sentença absolutória e sentença com recurso do ofendido.

Art. 596 CPP → A apelação da sentença absolutória não impedirá que o réu seja posto
imediatamente em liberdade.

Art. 598 CPP → Nos crimes de competência do Tribunal do Júri, ou do juiz singular, se da sentença
não for interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal, o ofendido ou qualquer das
pessoas enumeradas no art. 31, ainda que não se tenha habilitado como assistente, poderá
interpor apelação, que não terá, porém, efeito suspensivo.

III - Extensivo

Art. 580 CPP → ​No caso de concurso de agentes (art. 25 CP), a decisão do recurso interposto por
um dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,
aproveitará aos outros.

j) Reformatio

Exclusividade → Não se fala em ​reformatio​ quando ambas as partes recorrem.

I - ​Reformatio in melius

É a reforma de uma decisão que favorece o réu em recurso exclusivo da acusação.

É admitida porque não há vedação legal.

STJ AgRg no Resp 1.186.155 (Ribeiro Dantas) → Esta Corte firmou compreensão no sentido de
que é admitida a ​reformatio in melius​, em sede de recurso exclusivo da acusação, sendo vedada
somente a ​reformatio in pejus.​

II -​ Ne/Non Reformatio in pejus

É a reforma de uma decisão que agrava a situação do réu em recurso exclusivo da defesa.

É proibida, a teor do art. 617 do CPP → O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões
ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a
pena, quando somente o réu houver apelado da sentença.

STJ HC 477.781 (Laurita Vaz) → Em julgamento de recurso de apelação interposto exclusivamente


pelo condenado, o Tribunal de segundo grau não pode agravar os termos da sentença, sob pena
de violação da regra do ​ne reformatio in pejus​, prevista no art. 617, ​in fine​, do Código de Processo
Penal.

III -​ Ne/Non Reformatio in pejus​ indireta

É a reforma que agrava a situação do réu em recurso exclusivo da defesa, provido para anular a
decisão anterior.

Também é proibida, não podendo a nova decisão agravar a situação do réu, ainda que resulte de
novo julgamento.

STJ HC 459.335 (Reynaldo Soares) → A vedação da ​reformatio in pejus indireta não obsta que se
proceda a uma nova valoração das circunstâncias em que o delito se consumou, em novo
julgamento perante o Tribunal do Júri (soberania do tribunal popular), mas impede que seja
agravada a situação do paciente, com o incremento de sua reprimenda ou o recrudescimento do
seu regime de cumprimento.

STJ EDcl no AgRg no AREsp 596.663 (Jorge Mussi) → A proibição do agravamento da situação do
acusado, prevista no artigo 617 do Código de Processo Penal, também se estende aos casos em
que há a anulação da decisão recorrida, por intermédio de recurso exclusivo da defesa ou por meio
de impetração de ​habeas corpus,​ de tal sorte que o órgão julgador que vier a proferir novo
julgamento ficará vinculado aos limites da pena ​in concreto imposta na decisão anulada, não
podendo, de forma alguma, recrudescer a sanção, sob pena de operar-se a vedada ​reformatio in
pejus​ indireta.

k) Legitimidade

Réu, MP e assistente de acusação, habilitado ou não.

Art. 31 CPP. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o
direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão.

Art. 461 PL 8.045/10. O recurso poderá ser interposto pelas partes e, nas hipóteses previstas em
lei, pela vítima, pelo assistente ou por terceiro juridicamente prejudicado (assistente não habilitado).

l) Da renúncia ao direito de apelação

Súmula 705 STF → ​A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do
 defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.

Refere-se ao ​princípio da verdade real​, em detrimento da vontade pessoal do réu. Se há elementos


para identificar o equívoco da decisão judicial, o tribunal não poderá recusar o recebimento do
recurso.

STJ RHC 50.739 (Reynaldo Soares) → Com efeito, não tendo a defesa dativa sido intimada
pessoalmente da condenação, não houve juízo acerca do cabimento de recurso, o qual, acaso
fosse positivo, prevaleceria sobre a manifestação do recorrente. Conforme dispõe o verbete n.
705/STF, a renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não
impede o conhecimento da apelação por este interposta.

9.3 EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE

Art. 609, parágrafo único CPP. ​Quando não for unânime a decisão de segunda instância,
desfavorável ao réu​, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos
dentro de 10 dias, a contar da publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for
parcial, ​os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência.
a) Conceito

Recurso privativo da defesa cabível da decisão não unânime de segunda instância, desfavorável
ao réu.

Finalidade → Fazer prevalecer o voto vencido.

Magalhães Noronha defende a tese de que a conjunção aditiva “e” implica a existência de dois
recursos diferentes. Todavia, ​como a fonte legal de ambos os recursos é única, não há que se falar
em ofensa ao pressuposto da adequação ou princípio da unirrecorribilidade​. Pode-se apontar,
contudo, uma falha na redação legislativa, ao apresentar fundamentos diferentes para o mesmo
recurso.

Infringente → Visa à modificação do acordão sobre o mérito da decisão. Erro​ in judicando.​

De nulidade → Versa sobre matéria estritamente processual (preliminar). Capaz de tornar inválido
o acordão ou processo. Erro​ in procedendo​.

EXCEÇÃO: Art. 538 do ​CPPM → Legitimação também do Ministério Público.

b) Capacidade postulatória

“​Desfavorável ao réu” → Recurso como ​manifestação exclusiva da defesa.

NUCCI e PACELLI defendem a tese de desnecessidade de capacidade postulatória. Por conta da


redação do parágrafo único do art. 609, prevalece o entendimento no sentido de se assegurar o
acesso à justiça e o princípio da ampla defesa, através do conhecimento dos embargos infringentes
e de nulidade eventualmente opostos pelo réu, independentemente de sua capacidade postulatória.

c) Prazo

Fora a apelação no âmbito do JECRIM, é o único recurso que possui o prazo de 10 dias.

Atualmente, os prazos para oposição de EIN e interposição de RE e REsp correm simultaneamente


quando da publicação do acordão, não havendo possibilidade de se aguardar o desfecho dos EIN
para o manejo dos recursos aos tribunais constitucionais, o que será mudado com a reforma do
CPP.

Art. 496 PL 8.045/10 ​→ ​O prazo para interposição dos recursos extraordinário e especial ficará
sobrestado até que o recorrente seja intimado da decisão dos embargos infringentes, inclusive em
relação à parte unânime do acórdão recorrido.

​15d​ RE → STF

Sentença Acordão

​15d​ REsp → STJ

Decisão por maioria ​10d​ Embargos infringentes

desfavorável ao réu e de nulidade (EIN)


Vício em questão de direito → Decisão por maioria contra o réu → Embargo de
nulidade

Apelação

​Vício em questão de mérito → Decisão por maioria contra o réu → Embargo


infringente

d) Pressupostos

​De 2ª instância

Decisão ​Por maioria

​Voto vencido favorável ao réu

e) EIN e ação penal originária

I – Ação penal originária de tribunal de 2º grau

Não admite. Cabível apenas de decisão de Tribunal de Justiça que, em julgamento de recursos
opostos às decisões de primeiro grau, for desfavorável à defesa.

STJ AgRg no Ag 1.321.228 (Jorge Mussi) → É inadmissível a interposição de embargos


infringentes contra acordão não unânime que julgou, na Corte Estadual, ação penal originária.

II – Ação penal originária no STF (art. 333, inc. I, RI/STF)

Como a Ação Penal Originária se inicia no Tribunal, em razão de competência por prerrogativa de
função, o acordão proferido equivale a uma sentença, o que teoricamente inviabilizaria a oposição
de EIN. Todavia, embora regimento interno não possa legislar sobre matéria processual, ​o STF
admitiu o manejo do recurso, o que será vedado com a reforma do CPP.

STF Ação Penal 409 (Celso de Mello) → Os embargos infringentes de julgado proferido pelo
Supremo Tribunal Federal em sede de processo penal originário ainda subsistem em nosso
ordenamento positivo, eis que a norma inscrita no art. 333, inciso I, do RI/STF foi recebida pela
vigente Constituição da República com força e eficácia de lei.

III – Ação penal originária no STJ

Não admite, pelas mesmas razões no caso de ação penal originária no Tribunal de Justiça.
STJ EDcl no AgRg no AREsp 1.224.190 (Ribeiro Dantas) → É pacífico nesta Corte Superior o
entendimento de que os embargos infringentes, no processo penal, só podem ser interpostos
contra as decisões de segunda instância que apreciarem os recursos em sentido estrito ou as
apelações.

f) Cabimento

Em razão da redação legislativa insuficiente, há posicionamentos distintos acerca dos ​recursos


cujas decisões​, uma vez preenchidos os pressupostos, ​autorizem a oposição de EIN.

I – ​Eduardo Espínola Filho → ​Todos os recursos em segunda instância​, bastando o preenchimento


dos pressupostos. Independentemente da origem e de como se chegou a uma decisão colegiada,
se se tratar de decisão por maioria e desfavorável ao réu, cabível os EIN, pois não há qualquer
menção no parágrafo único do art. 609 do CPP dos recursos que, ao serem apreciados, autorizem
a oposição de EIN. Todavia, este posicionamento nunca foi adotado.

II – ​Mirabete → ​Apelo e RESE​. Através de uma interpretação sistêmica, analisa as hipóteses de


cabimento em função do capítulo em que se insere o parágrafo único do art. 609 do CPP.

STJ EDcl no AgRg no AREsp 1.224.190 (Ribeiro Dantas) → É pacífico nesta Corte Superior o
entendimento de que os embargos infringentes, no processo penal, só podem ser interpostos
contra as decisões de segunda instância que apreciarem os recursos em sentido estrito ou as
apelações.

III – ​Ada Pellegrini Grinover → ​Apelo, RESE e Agravo à Execução​. Atualizou a matéria ao incluir o
Agravo à Execução entre as hipóteses de cabimento em razão da revogação tácita da interposição
do RESE para decisões proferidas no âmbito da execução penal. Pela ​jurisprudência pacífica​,
admite-se o Agravo à Execução como hipótese de cabimento.

STJ AgRg no AREsp 337.324 (Félix Fisher) → É pacífico o entendimento sufragado pelo STJ no
sentido de que a necessidade de exaurimento das instâncias ordinárias para a interposição de
recurso especial torna imperioso o aviamento de embargos infringentes contra decisões
desfavoráveis ao réu, proferidas de forma não unânime pelos Tribunais, no julgamento de
apelações, recursos em sentido estrito e agravos em execução.

g) Do efeito suspensivo

Existem três correntes:

I – ​Por ausência de previsão legal, não possui efeito suspensivo.

II – Doutrinariamente, admite-se o efeito suspensivo na parte da divergência.

III – ​Jurisprudência pacífica → Tem efeito suspensivo para, diante o não exaurimento da instância
de segundo grau, obstar a execução provisória da pena​. Embora o STF autorize a execução
provisória a partir da decisão do tribunal de segundo grau, apenas em havendo o esgotamento da
matéria na segunda instância poderá se executar provisoriamente a decisão. Assim, embora os
EIN não possuam efeito suspensivo, não poderá haver execução provisória quando de sua
oposição.

Esgotamento na segunda instância → Execução provisória

Oposição de EIN → Ausência de esgotamento na segunda instância → Efeito suspensivo indireto

STJ HC 424.949 (Jorge Mussi) → Na espécie, ainda estão pendentes de julgamento os embargos
infringentes opostos contra o acordão proferido no julgamento do recurso de apelação, o que
impede a execução provisória das sanções impostas aos pacientes, à luz do que foi decidido pela
Corte Suprema. Ordem concedida para suspender a execução provisória das penas impostas aos
pacientes até o esgotamento da jurisdição ordinária.

9.4 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO / ACLARATÓRIOS (arts. 382 e 619/620 CPP)

a) Conceito

Mecanismo para esclarecimento de uma decisão​, a fim de torná-la exequível.

É possível a oposição de aclaratórios não apenas em face de sentença, mas de toda e ​qualquer
decisão com natureza de mérito, cujo cunho valorativo possa causar prejuízos para uma das
partes. ​Nesse sentido, ​não é possível a oposição de aclaratórios em face das decisões de “mero
expediente”.

Art. 382 CPP. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 dias, pedir ao juiz que declare a
sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão.

Art. 619 CPP. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão
ser opostos embargos de declaração, no prazo de 2 dias contados da sua publicação, quando
houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão.

Tourinho

Embargos de “Embarguinhos” → oponíveis em face de sentença.

Declaração Embargos de declaração propriamente ditos → oponíveis em face do acordão.

Com reforma do CPC, a jurisprudência incorporou por analogia a hipótese de erro material.

STJ EDcl no AgRg no AREsp 992.183 (Joel Parcionik) → ​Os embargos de declaração são cabíveis
quando houver ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão​, a teor do art. 619 do CPP, ​e
erro material​, conforme o art. 1.022, III, do CPC.

Art. 497 PL 8.045/10 → Cabem embargos de declaração quando:

I – houver, na decisão, obscuridade ou contradição;


II – for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal.

§1º Os embargos só terão efeito modificativo na medida do esclarecimento da obscuridade, da


eliminação da contradição ou do suprimento da omissão, ouvida a parte contrária no prazo de 5
dias.

§2º Os embargos serão opostos uma única vez, no prazo de 5 dias, em petição dirigida ao juiz ou
relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso.

§3º O juiz julgará os embargos no prazo de 5 dias. No tribunal, o relator apresentará os embargos
em mesa na sessão subsequente, independentemente de intimação, proferindo voto.

b) Alteração / Modificação da decisão

Os embargos de declaração objetivam apenas o esclarecimento da decisão. Contudo, será


atribuído o efeito infringente (ou modificativo) nas situações em que, sanada a omissão,
contradição ou obscuridade, a alteração decorra como consequência natural da correção então
efetuada​.

Efeito infringente → Conhecimento dos embargos de declaração com efeitos modificativos.

STJ EDcl no AgRg no REsp 1.623.639 (Reynaldo Soares) → Embargos de declaração acolhidos
para, conferindo-lhe efeitos infringentes, reconhecer a tempestividade do recurso especial, cujo
mérito será oportunamente apreciado.

STJ EDcl no AgRg no REsp 1.772.104 (Reynaldo Soares) → Embargos de declaração acolhidos
com efeitos infringentes para declarar extinta a punibilidade do recorrente.

OBS.: ​Com a reforma do CPP, haverá a inclusão do efeito modificativo​ (art. 497, §1º PL 8.045/10).

c) Embargos de declaração e necessidade de manifestação da parte contrária

Nos embargos de declaração, não se ouve a parte contrária, SALVO hipótese de efeito
modificativo​, em que será indispensável a intimação do embargado para se manifestar
(“contrarrazoar”).

STJ EDcl nos EDcl no EREsp 1.021.634 (Ribeiro Dantas) → A jurisprudência desta Corte, seguindo
a do STF, consolidou-se no sentido de que ofende os princípios do contraditório ​e da ampla defesa
o julgamento de embargos declaratórios com efeitos infringentes sem ouvir a parte contrária (art.
5º, inc. LV, da CF).

d) Prazo

Arts. 382 e 619 CPP → ​2 dias​.


Exceção → Possibilidade de redefinição de prazo por Regimento Interno. Ex.: art. 337, §1º do
RI/​STF (prazo de 5 dias)​.

STF ARE 989.296 (Edson Fachin) → É intempestivo o recurso de embargos de declaração, em


matéria criminal, que não observa o prazo de interposição de 5 dias estabelecido no art. 337, §1º,
do RISTF e contado na forma do art. 798 do CPP.

OBS.: Com a reforma, o prazo passará de 2 para 5 dias (art. 497, §2º PL 8.045/10).

e) Interposição e legitimidade

Os embargos podem ser opostos apenas por autor e réu​, pois o esclarecimento da decisão judicial
interessa somente a ambos. Diferentemente da apelação, o terceiro não habilitado não possui
legitimidade para oposição de aclaratórios.

STJ EDcl no AgRg no Ag 1.422.500 (Ribeiro Dantas) → A legitimidade para recorrer constitui
requisito de admissibilidade dos recursos, razão pela qual não se revelam cognoscíveis os
Embargos de Declaração opostos por quem não seja parte no processo.

f) Interposição e limite para o seu manuseio

Atualmente, não há limite para oposição de embargos de declaração​. Como seu manuseio
interrompe o prazo para interposição do recurso principal, ​se for constatada a natureza protelatória
dos embargos, os tribunais, quando da rejeição dos mesmos, anteciparão o trânsito em julgado da
decisão, caso ela não venha a comportar o manejo de outro recurso principal. Assim, torna-se
possível a execução da decisão, o que não poderia ser feito nem mesmo de forma provisória em
função dos embargos de declaração.

Pela reforma do CPP​, haverá limite para oposição de embargos de declaração.

Art. 497, §2º PL 8.045/10. ​Os embargos serão opostos uma única vez, no prazo de 5 dias​, em
petição dirigida ao juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso.

g) Embargos de declaração e interrupção do prazo de interposição de outros recursos

A suspensão de uma decisão só poderá ocorrer a partir da previsão expressa do efeito suspensivo,
o que não ocorre na hipótese de oposição dos aclaratórios, que inibem a execução provisória em
que pese a ausência de previsão legal do efeito suspensivo. ​Essa anomalia se dá em virtude da
natureza dos aclaratórios, uma vez que a decisão judicial que depende de esclarecimento não
possui eficácia para ser executada. Com a publicação da nova decisão, ainda que de conteúdo
idêntico à anterior, reabre-se o prazo para interposição de outros recursos.

Assim, tem-se que ​o efeito suspensivo é uma decorrência da oposição dos embargos de
declaração​, que visam o esclarecimento da decisão.

Embargos de declaração Suspensão dos efeitos da decisão


Interrupção do prazo para interposição do recurso principal

OBS.: ​Só há interrupção do prazo para interposição do recurso principal DESDE QUE conhecidos
os embargos de declaração (juízo de prelibação), independentemente de terem sido rejeitados ou
acolhidos. Se os embargos não foram conhecidos, não há interrupção do prazo.

AgRg no AREsp 1.347.409 (Laurita Vaz) → Intempestividade. Embargos de Declaração. Recurso


inadmissível. Ausência de interrupção ou suspensão do prazo. É pacífico o entendimento de que o
único recurso cabível contra a decisão que inadmite recurso especial é o agravo, motivo pelo qual a
oposição de embargos declaratórios, mormente quanto rejeitados, não tem o condão de
interromper o prazo recursal para o recurso adequado.

AgRg nos EDcl no AREsp 1.322.344 (Reynaldo Soares) → É intempestivo o recurso especial
interposto após o prazo legal de 15 dias. A jurisprudência, visando coibir abusos e o
desvirtuamento do efeito interruptivo dos embargos, firmou a compreensão de que a oposição de
embargos aclaratórios, quando intempestivos ou manifestamente incabíveis, não tem o condão de
interromper o prazo para a interposição do recurso especial.

OBS.: Atualmente, apenas o CPC prevê a interrupção dos prazos. ​Com a reforma do CPP, haverá
previsão da interrupção em razão dos embargos de declaração.

Art. 498 PL 8.045/10 → Os embargos de declaração tempestivos interrompem o prazo de


interposição de recursos para qualquer das partes, ainda quando não admitidos.

h) Efeito suspensivo (impeditivo)

Embora não haja previsão legal do efeito suspensivo dos embargos de declaração, decorre da sua
natureza impedir a eficácia da decisão embargada, porquanto outra decisão será proferida em
razão da interrupção do seu prazo com o manejo dos aclaratórios.

HC 486.558 (Reynaldo Soares) → Na espécie, todavia, embora eventuais recursos especial e


extraordinário não sejam dotados de efeito suspensivo, a jurisdição das instâncias ordinárias ainda
não se encerrou. Contra o julgamento do recurso de apelação foram opostos, no caso, embargos
declaratórios que pendem de julgamento. Desse modo, ​diante da ausência de exaurimento no
julgamento nas instâncias ordinárias​, revela-se prematuro o início da execução provisória da pena.

HC 383.276 (Maria Thereza) → Embora determinado o imediato cumprimento da pena, com a


expedição do mandado de prisão, encontra-se pendente o julgamento, pelo Tribunal ​a quo,​ dos
embargos de declaração opostos pela defesa, cujo efeito suspensivo impede, por ora, a expedição
da ordem de prisão, vez que ainda não confirmada a condenação por colegiado de segundo grau.

i) Oposição dos embargos para fins de “prequestionamento”

Prequestionamento → Pressuposto para interposição do recurso especial.


A matéria que se pretende levar para o tribunal constitucional deve ter sido objeto de julgamento
anterior, ou seja, deve ter havido o enfretamento da matéria nas instâncias ordinárias, com a
demonstração de ofensa à norma infraconstitucional.

Prequestionar significa obrigar o enfretamento nas instâncias inferiores da matéria que se pretende
a análise pelo tribunal constitucional.

Embora não haja menção legal expressa acerca da possibilidade de utilização dos embargos para
fins de prequestionamento, se houver interesse em levar a matéria ao STJ, poderá a decisão ser
embargada em face de omissão, com a finalidade de fazer constar na mesma o dispositivo
infraconstitucional a que se pretende alegar a ofensa.

Os embargos de declaração, em sendo manejados para fins de prequestionamento, tem por base
as hipóteses de cabimento do art. 619 e, portanto, imprescindível a demonstração de que a decisão
embargada se mostrou obscura, contraditória, ambígua ou omissa.

STJ EDcl no RMS 56.799 (Reynaldo Soares) → Os embargos de declaração, ainda que manejados
para fins de prequestionamento, somente se prestam a corrigir ​error in procedendo e possuem
fundamentação vinculada, dessa forma, para seu cabimento, imprescindível a demonstração de
que a decisão embargada se mostrou obscura, contraditória, ambígua ou omissa, conforme
disciplina o art. 619 do Código de Processo Penal, ou mesmo para correção de erro material, o que
não ocorreu na espécie.

Assim, o prequestionamento será uma decorrência do esclarecimento da decisão.

9.5 EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA

a) Conceito

Os embargos de divergência permitem o enfrentamento pelas Cortes Superiores de matéria que,


nas suas frações, tem posições diferentes. Assim, tem-se a possibilidade de obrigar o tribunal
constitucional a se manifestar de forma uníssona a respeito de matérias que são objeto de
divergência no âmbito da própria Corte.

Divisões STF → Entre 1ª e 2ª Turma ou entre Turma e Pleno

STJ → Entre 5ª e 6ª Turma (Terceira Seção) ou entre Turma e Corte Especial

Só se fala em embargos de divergência quando a decisão embargada decorre de Recurso Especial


ou Recurso Extraordinário. Se o acordão embargado é oriundo de um outro recurso, não se
conhece dos embargos de divergência opostos em face dele.

“Acordão paradigma” → ​É o acordão que será apresentado como o que possui a decisão correta
para o caso concreto. Todavia, ​não há intenção de uniformização jurisprudencial​. Se o acordão
paradigma tiver sido superado, ​estando a matéria pacificada no sentido do acordão embargado, os
embargos não serão conhecidos​.

OBS.: ​Não cabem embargos de divergência de decisão monocrática​. Se a decisão da corte


constitucional tiver sido monocrática, interpõe-se agravo interno ou agravo regimental para obrigar
o julgamento da matéria de forma colegiada.
NUCCI → É o recurso “interposto” contra a decisão do STF (RE ou Agravo) ou do STJ (REsp), que
divergir do julgamento de outra Turma, da Seção ou do Plenário, com a finalidade de uniformizar a
jurisprudência (entre as partes, e não da Corte).

RE e REsp → Lei nº 8.038/90.

b) Hipóteses de cabimento

I – Em Recurso Especial, quando divergir do julgamento de outra Turma, Seção ou do Órgão


Especial (arts. 266/267 RI STJ);

II – Em Recurso Extraordinário, quando divergir do julgado de outra Turma ou do Plenário na


interpretação do direito federal (arts. 335/336 RI STF);

III – Súmula 168 STJ: ​Não cabem embargos de divergência quando a jurisprudência do Tribunal se
firmou no mesmo sentido do acórdão embargado.

AgRg nos EREsp 1.378.862 (Maria Thereza) → Acordão embargado no mesmo sentido da
jurisprudência desta Corte. Incidência do Enunciado nº 168/STJ. Agravo regimental a que se nega
provimento.

IV – Não é possível a utilização dos embargos de divergência em face de decisão proferida em


recurso que não seja o RE ou REsp.

STJ AgRg nos EREsp 1.182.126 (Eliana Calmon) → São inadmissíveis embargos de divergência
na hipótese em que o julgado paradigma invocado tenha sido proferido em sede de recurso
ordinário em mandado de segurança.

c) Prazo

Arts. 267 RI/STJ e 334 RI/STF → ​15 dias para oposição de embargos de divergência e
contrarrazões da parte embargada.

d) Necessidade de preparo

A oposição de embargos de divergência requer o recolhimento do preparo​. Analogia ao art. 1.007


do CPC.

AgRg nos EREsp 235.268 (Adilson Vieira Macabu) → Os embargantes não comprovaram o
recolhimento das custas judiciais no ato de interposição dos embargos de divergência. Ante o
exposto, indefiro liminarmente os embargos de divergência.

9.6 EMBARGOS DE TERCEIRO (arts. 125/132 CPP)


Arts. 125 CPP → Medidas assecuratórias → Sequestro → Bens imóveis relacionados com a
atividade criminosa (“pena acessória”).

Na prática, o termo engloba tanto bens móveis quanto imóveis.

No novo CPP (art. 624 PL 8.045/10), será resolvido o problema concernente ao tratamento dos
bens imóveis, considerando-se que no direito civil o sequestro pode ser de bens móveis ou
imóveis. Na nova redação ​haverá menção expressa do sequestro tanto de bens móveis quanto
imóveis.

Medida precária → Possibilidade de causar prejuízo à parte → ​O embargado poderá requerer ao


juiz a condição de depositário fiel do bem​.

A busca pela reversão da decisão de decretação do sequestro, que surtirá efeito de imediato,
poderá ser feita através dos embargos de terceiro, em razão da natureza cautelar e precária da
medida.

Os embargos de terceiro são um mecanismo para desfazer o decreto de sequestro em face dos
bens.

Art. 129 CPP. O sequestro autuar-se-á em apartado e admitirá embargos de terceiro (alheio ao fato
criminoso). → Poderá ter decisão definitiva

Art. 130 CPP. O sequestro poderá ainda ser embargado:

I - pelo acusado, sob o fundamento de não terem os bens sido adquiridos com os proventos da
infração;

II​ ​- pelo terceiro, a quem houverem os bens sido transferidos a título oneroso, sob o fundamento de
tê-los adquirido de boa-fé.

Parágrafo único. ​Não poderá ser pronunciada decisão nesses embargos antes de passar em
julgado a sentença condenatória.

Os embargos de terceiro podem ser opostos tanto pelo próprio acusado no processo-crime quanto
pelo terceiro propriamente dito, adquirente de boa-fé e alheio ao fato criminoso​. Todavia, o
legislador atribuiu equivocadamente o termo “boa-fé” ao sujeito envolvido na prática do crime.

Se o recurso for da decisão do sequestro no sentido definitivo, será interposta apelação. Mas o
recurso da decisão cautelar se dará através dos embargos de terceiro. Assim, nenhuma decisão
em embargos de terceiro será definitiva, devendo aguardar o desfecho do processo-crime. A posse
eventualmente obtida será provisória durante o curso do processo.

STJ → Essa lógica de aguardar o desfecho do processo-crime para se ter a decisão definitiva
sobre os embargos de terceiro só se aplica ao sujeito envolvido na prática do crime. ​Todavia,
quando o embargante for terceiro alheio ao fato criminoso, o juiz deverá julgar os embargos de
forma definitiva. Assim, ​o fundamento para esses embargos ​será o art. 129 CPP, que não
apresenta a ressalva de se aguardar o trânsito em julgado da sentença condenatória para se
proferir decisão definitiva.
a) Conceito

Recurso cabível contra o sequestro​, ou seja, a apreensão de bens destinada a assegurar a


efetividade de uma futura execução para entrega de coisa certa (apreensão de bem determinado).

b) O sequestro autuar-se-á em apartado

Art. 129 → Admitirá embargos de terceiro.

Art. 130 → Pelo acusado (inc. I) e pelo terceiro (inc. II).

No entanto, decorre do parágrafo único do art. 130 que não poderá ser pronunciada decisão
nesses embargos antes de passar em julgado a sentença condenatória.

Logo, o CPP distingue as hipóteses:

Art. 129 → Cuida da defesa apresentada por terceiro de boa-fé, completamente alheio à prática da
infração penal. Nesse caso, não poderá aguardar o término da ação penal.

Art. 130 → Quando há, de algum modo, vínculo do embargante com o autor da infração penal ou
com a prática do delito, sujeitando o embargante ao trânsito em julgado da sentença proferida na
ação penal.

STJ AgRg na Petição 9.938 (Nancy Andrighi) → Em regra, o terceiro pode opor-se ao sequestro
alegando que o bem nunca pertenceu ao acusado e que não pode configurar proveito de crime, o
que se enquadra na hipótese do art. 129 do CPP e permite o levantamento imediato da medida
assecuratória incidente sobre o bem equivocadamente conscrito, com o julgamento de procedência
dos embargos de terceiro a qualquer tempo. Na hipótese de o terceiro alegar que, apesar de o bem
ter pertencido ao suspeito ou acusado e poder configurar proveito de crime, foi adquirido a título
oneroso e de boa-fé, ou que o bem não foi adquirido do suspeito ou acusado dolosamente ou com
culpa grave, os embargos somente poderão ter seu mérito apreciado após o trânsito em julgado da
ação penal principal.

c) Recurso cabível

A apelação é o recurso cabível da decisão dos embargos​ (art. 593, inc. II CPP).

Incidente → Decisão terminativa → Apelação

d) Procedimento
Autuado o sequestro em apartado, os embargos serão opostos nele.

e) Levantamento do sequestro por absolvição

Se o réu for absolvido por sentença transitada em julgado, tem-se o levantamento do sequestro
(art. 131, inc. III CPP).

STJ RMS 49.801 (Ribeiro Dantas) → A sentença absolutória, ainda que recorrível, implica a
revogação das medidas assecuratórias, DESDE QUE os bens objeto da constrição não mais
interessem ao processo. Caso contrário, impõe-se aguardar o trânsito em julgado.

9.7 REVISÃO CRIMINAL (arts. 621/631 CPP)

a) Conceito

É ação penal “​sui generis​” que busca corrigir um erro provocado por decisão judicial desfavorável
ao réu que haja transitado em julgado.

Assim, ​constitui um mecanismo que objetiva o desfazimento da coisa julgada para fazer valer a
verdade real em detrimento do erro judiciário​, seja ele ​in procedendo ou ​in judicando​, em razão de
fatos supervenientes.

O legislador não estabelece necessariamente o reexame do fato que ensejou a condenação


somente na primeira instância, sendo possível buscar a desconstituição do trânsito em julgado
também da decisão de segundo grau. ​Não há necessidade de esgotamento da instância ordinária​.

Trata-se de medida excepcionalíssima.

Hélio Tornaghi: É o remédio dado pela lei para o desfazimento da coisa julgada no caso de ser ou
ficar evidente a ocorrência de erro judiciário. → Buscar a declaração do erro com a finalidade de
reparação, prevista constitucionalmente, do dano decorrente de erro judiciário.

Ada Pellegrini: É induvidosamente ação autônoma de impugnação da sentença passada em


julgado, de competência dos tribunais.

Logo, ​a revisão criminal poderá desconstituir:

I) Sentenças (juízos singulares ou do tribunal do júri);

II) Acórdãos.

OBS.: ​A revisão criminal é cabível apenas de decisão condenatória​, sendo um recurso exclusivo da
defesa. Assim, o juízo competente não possui livre-convencimento para conhecer revisão criminal
em face de decisão absolutória.
b) Natureza jurídica

Quando uma decisão transita em julgado, o processo de conhecimento deixa de existir e se


convola em um mecanismo de eficácia, denominado de guia de execução penal.

Em face de sua localização no rol de recursos do CPP, a revisão criminal possui natureza jurídica
recursal.

Todavia​, enquanto que no recurso há possibilidade de alteração da decisão no âmbito do mesmo


processo​, na revisão criminal não se faz o reexame da decisão, mas dos fatos, inaugurando-se
uma nova relação jurídica, razão pela qual também possui natureza jurídica de ação penal
impugnativa de uma decisão irrecorrível.

Natureza jurídica Recursal

Ação impugnativa ou rescisória

c) Relação processual

I) Juízo rescindente ou revidente: Juízo prolator da sentença / acordão condenatório.

II) Juízo rescisório ou revisório: Juízo competente para proferir a nova decisão na revisão criminal.

d) Prazo

Art. 622 CPP. A revisão poderá ser requerida ​em qualquer tempo​, antes da extinção da pena ou
após. → Possibilidade de reparação

Diferentemente do processo civil, não há prazo prescricional​ para propositura de revisão criminal.

Requisito → Trânsito em julgado de sentença penal condenatória​.

e) Pressupostos

Vício Erro ​in procedendo​: vício na aplicação da lei penal ou processual penal.

Erro ​in judicando:​ vício na instrução probatória, com valoração inadequada das provas.

Não se fala em revisão criminal se não restar demonstrado o erro judiciário.

“​O erro judiciário é a mola propulsora da revisão criminal​.” (PAULO RANGEL)

f) Das condições da ação (Teoria da Asserção)

​Legitimidade
Condições da ação ​Interesse de agir

​Possibilidade jurídica do pedido

Ausência → Carência de ação → Não conhecimento da revisão criminal

REsp 1.354.838 (Campos Marques) → ​O ajuizamento da revisão criminal pressupõe a presença


das condições da ação, sob pena de carência da ação. Logo, pressupõe o respeito à Teoria da
Asserção, que permite a verificação das condições com base nos fatos narrados na inicial
(alegações do autor).

g) Legitimidade ativa ​ad causam

​“Réu”​ (condenado, independentemente de capacidade postulatória)

Art. 623 CPP ​Procurador legalmente habilitado

​Cônjuge / Ascendente / Descendente / Irmão​ (art. 31 CPP)

STJ HC 339.194 (Ribeiro Dantas) → Consolidado está o entendimento nesta Corte Superior no
sentido de que a capacidade postulatória para ajuizar pleito de revisão criminal pode ser exercida
pelo próprio réu, nos termos do art. 623 do CPP.

STJ HC 300.331 (Jorge Mussi) → A determinação de abertura de vista à Defensoria Pública para
apresentação das razões do pedido é providência adotada em benefício do requerente, com o
objetivo de garantir a efetividade da ampla defesa e do contraditório.

OBS.: ​A morte do réu não obstará o prosseguimento da ação​.

Pela literalidade do art. 623, trata-se de recurso exclusivo da defesa. Logo, não há possibilidade de
legitimação do MP no polo ativo. Todavia, a jurisprudência admite excepcionalmente tal
possibilidade quando o pedido do ​Parquet (​ fiscal da lei) for ao encontro dos interesses do
condenado, em caso de inércia deste.

TRF-1 RVCR 16474-71.2006 (Rosimayre Gonçalves) → Embora haja divergência doutrinária


acerca da legitimidade do Ministério Público Federal para figurar no polo ativo e firmes precedentes
jurisprudenciais no sentido da impossibilidade, impende, na hipótese dos presentes autos, admitir a
​ ederal, considerando a condenação de réu inimputável.
ação titularizada pelo ​Parquet F

OBS.: ​Não há revisão criminal ​pro societate​.

STJ HC 358.916 (Antônio Saldanha) → Só há revisão criminal em favor do réu, porquanto cabe a
ele a demonstração da ocorrência efetiva de erro na decisão atacada. Logo, não há revisão
criminal ​pro societate​, e, portanto, o MP não tem legitimidade para formalizar a revisão criminal.

RVCR 10430000904-10.2014 (Paulo Fontes) →

h) Legitimidade passiva ​ad causam


Não há legitimado passivo ​ad causam​ no sentido estrito, pois não há interesse contraposto.

O Ministério Público, no segundo grau, assume a função de ​custos legis​, podendo inclusive
reconhecer a necessidade de se declarar o erro judiciário.

i) Competência

Art. 624 CPP. As revisões criminais serão processadas e julgadas:

I ​- pelo Supremo Tribunal Federal, quanto às condenações por ele proferidas;

II ​- pelo Tribunal Federal de Recursos, Tribunais de Justiça ou de Alçada, nos demais casos.

OBS.: ​Não existe revisão criminal na primeira instância​ (juízo singular ou tribunal do júri).

O fato de não se exigir o esgotamento das instâncias ordinárias não significa dizer que a revisão
criminal possa ser proposta no primeiro grau, por ausência de previsão legal.

Regra geral, o juízo competente é aquele que proferiu a decisão final condenatória​.

Sentença condenatória → Competência do TJ/TRF;

Acordão condenatório do TJ/TRF → Competência do TJ/TRF;

Acordão condenatório do STJ → Competência do STJ; Se não alterou a decisão, será do TJ/TRF;

Acordão condenatório do STF → Se não alterou a decisão, será do TJ/TRF; Se o STF alterar a
decisão, será sua competência.

OBS.: ​Juizado Especial → Competência da Turma Recursal, segundo jurisprudência do STJ, ante
a ausência de previsão na Lei nº 9.099/95.

a) STF → Quanto às condenações por ele proferidas (art. 102, inc. I, “j” CF/88);

b) TRF’s e TJ’s → Nos demais casos (art. 108, inc. I, “b” CF/88);

TJRO: Tribunal Pleno (art. 109, inc. I, “b” RI/TJRO).

c) As Turmas Recursais são competentes para julgar as revisões criminais de suas próprias
decisões.

STJ CC 47.718 (Jane Silva) → ​A falta de previsão legal específica para o processamento da ação
revisional perante o Colegiado Recursal não impede seu ajuizamento​, cabendo à espécie a
utilização subsidiária dos ditames previstos no CPP.

Logo, ​a competência para revisão criminal é do Tribunal prolator da decisão final (acórdão
revidendo) que enfrentou o mérito, alterando a decisão, porém mantendo a condenação​.

STJ HC 193.434 (Jorge Mussi) → É do Tribunal prolator da decisão final ou em razão de recurso, a
competência para rescindir, originariamente, seus julgados.
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j) Efeitos

I – Devolutivo → Presumido

II – Extensivo (art. 580 CPP – questões não personalíssimas e pluralidade de réus)

k) Hipóteses de cabimento (art. 621 CPP)

Rol taxativo + Recurso de fundamentação vinculada (exigência de menção ao dispositivo legal,


devendo inclusive demonstrar se se trata da primeira ou segunda parte do inciso).

OBS.: Hamilton Carvalhido defende outras hipóteses de cabimento, com lastro no art. 3º do CPP.

REsp 418.399 (Hamilton Carvalhido) → A própria lei estabelece hipóteses taxativas para o
ajuizamento da revisão criminal, o que não afasta, segundo a melhor doutrina, a interpretação
extensiva ​in bonam partem​.

AgRg no AREsp 511.248 (Félix Fischer) → ​A revisão criminal consiste em ação de fundamentação
vinculada, e torna imprescindível a adequação do pleito a uma das hipóteses taxativamente
elencadas no artigo 621 do CPP​. Isso porque, o mero inconformismo da defesa com a fixação da
pena imposta, e sem abranger uma das hipóteses legais, não constitui vício a ser sanado através
desta via processual.

A propositura da revisão criminal poderá ser por um, no mínimo, dos fundamentos expressos no
art. 621 do CPP.

Não há limites para proposição da revisão criminal, desde que não seja pelo mesmo fundamento,
podendo ainda utilizar-se do mesmo fundamento em caso de provas diferentes. Assim, ​é possível
propor a revisão criminal mais de uma vez, desde que não seja reiteração da anterior​.

Inc. I → Quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal (i)

à evidência dos autos (ii)

Inc. II → Quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos


comprovadamente falsos (iii)

Inc. III → Quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do


condenado

de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena

(i) Contrariedade à lei penal Material

Processual

Abrange inclusive a superveniência de lei mais benéfica.

(ii) Refere-se à distorção dos elementos probatórios no âmbito da instrução criminal.


RevCr STJ 3.900 (Reynaldo Soares) → A condenação penal teria sido contrária à evidência dos
autos, merecendo revisão.

(iii) Necessidade de se provar que a sentença se fundamentou em prova viciada.

(iv) Prova nova → antes inexistente ou desconhecida. Necessidade de se provar porque não foi
produzida à época ou seu desconhecimento.

Não há instrução probatória na revisão criminal → Prova pré-constituída​.

Quando a prova nova for testemunhal → ​Justificação prévia: Requerimento na primeira instância
para que se reconheça judicialmente o depoimento que se pretende utilizar na revisão criminal.

Quando a prova nova for documental → Exame grafotécnico de forma incidental.

OBS.: Ada Pellegrini Grinover, de forma isolada, defende que o próprio tribunal competente para a
revisão criminal poderá fazer a instrução probatória, não sendo necessária a realização de
justificação prévia.

RevCr 197 (Fernando Gonçalves) → Inadmissível a instrução probatória na via eleita. Necessária a
hipótese dos autos, torna-se imprescindível a justificação prévia perante o juízo de 1º grau.

(v) Relacionado a descuido na dosimetria da pena. Mesmo havendo autorização legal para revisão
criminal, a nova dosimetria sempre respeitará o teto da pena anteriormente aplicada, com base no
princípio da ​ne reformatio in pejus.​

STJ AgRg na RevCr 3.289 (Antônio Saldanha) → A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei n.
8.072/1990 (revogado) somente se aplica aos crimes cometidos com violência real ou grave
ameaça, devendo ser extirpada da condenação imposta ao agravante, que se valeu em sua
conduta apenas da denominada violência presumida.

OBS.: ​Só se pode utilizar revisão criminal em face de sentença condenatória. Todavia, em se
tratando de sentença absolutória IMPRÓPRIA (art. 386, parágrafo único, inc. III), doutrina e
jurisprudência admitem sua utilização em caso de erro judiciário, uma vez que a imposição de
medida de segurança equivale à hipótese de cumprimento de pena​.

REsp 1.664.607 (Maria Thereza) → A revisão criminal é uma ação autônoma de impugnação, que
tem natureza constitutiva e busca desconstituir uma sentença penal condenatória ou absolutória
imprópria transitada em julgado.

l) Revisão Criminal para alteração de decisão do Tribunal do Júri

Não admite → Não se conhece em respeito à soberania dos vereditos​.

HC 261.316 (Moura Ribeiro) → A prova produzida não descartou a possibilidade de o delito ter sido
cometido com recurso que dificultou a defesa da vítima, circunstância que permite a mantença da
qualificadora na pronúncia, cabendo ao Tribunal do Júri, por íntima convicção, decidir sobre esta.

Súmula 713 STF → O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos
fundamentos da sua interposição.
REsp 1.557.465 (Jorge Mussi) → O CPP, em seu art. 621, elenca, de forma taxativa, as hipóteses
de cabimento da revisão criminal, as quais não podem ser alteradas, ainda mais para desconstituir
condenação imposta por decisão soberana do Tribunal do Júri.

Admite → Embora a matéria não tenha sido pacificada, a corrente que prevalece é no sentido de
admissibilidade​. É possível, em revisão criminal, a absolvição por parte do tribunal de réu
condenado pelo Tribunal do Júri, ​uma vez que:

(i) Constitui garantia constitucional fundamental.

(ii) Deve prevalecer o direito do réu à liberdade.

(iii) Não há, na revisão criminal, previsão expressa de separação dos juízos rescindente e
rescisório.

(iv) Preserva-se a soberania dos vereditos enquanto pena máxima a ser aplicada​.

Frederico Marques → A soberania dos vereditos não pode ser atingida enquanto preceito para
garantir a liberdade do réu. Todavia, se ela é desrespeitada em nome dessa mesma liberdade,
atentado algum se comete contra o texto constitucional. Assim, se a finalidade da soberania é
resguardar o ​jus libertatis,​ absurdo seria manter essa intangibilidade quando se demonstra que o
júri o condenou erradamente. (1962, A instituição do Júri).

REsp 1.686.720 (Sebastião Reis) → A jurisprudência desta Corte é uníssona no sentido de admitir
a revisão criminal do veredicto condenatório emanado do Tribunal do Júri, calcada no entendimento
de que o direito à liberdade prevalece em confronto com a soberania dos veredictos.

REsp 1.050.816 (Rogério Cruz) → Diante do conflito entre os princípios da soberania dos vereditos
e da dignidade da pessoa humana, ambos sujeitos à tutela constitucional, cabe conferir prevalência
a este, considerando-se a repugnância que causa a condenação de um inocente por erro judiciário.

m) A “sentença” do processo revisional (decisão proferida por acórdão)

Art. 626. Julgando procedente a revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da


infração

absolver o réu

modificar a pena

anular o processo

Parágrafo único. De qualquer maneira, não poderá ser agravada a pena imposta pela decisão
revista.

​Ne reformatio in pejus

Recursos cabíveis
RE e REsp;

Recurso inominado (art. 625, §3º CPP);

Agravo interno regimental (decisões monocráticas);

Embargos de declaração.

n) Revisão criminal e mudança jurisprudencial

Refere-se à possibilidade de se trazer uma orientação jurisprudencial nova acerca da matéria


objeto da revisão criminal, em se tratando de questão pacificada em sentido oposto à tendência
jurisprudencial da época em que a decisão revista foi proferida. Geralmente relacionado a casos de
diminuição de pena.

RevCr STJ 3.900 (Reynaldo Soares) → A condenação penal teria sido contrária à evidência dos
autos, merecendo revisão.

o) Indenização por erro judiciário

Art. 5º, LXXV CF. O Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar
preso além do tempo fixado na sentença.

Art. 630 CPP. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa
indenização pelos prejuízos sofridos.

§1º Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a condenação
tiver sido proferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, se o tiver sido pela
respectiva justiça.

§2º A indenização não será devida:

a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio impetrante,


como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder;

b) se a acusação houver sido meramente privada.

O autor pode requerer justa indenização pelos prejuízos sofridos:

A indenização não é um efeito automático da revisão e, portanto, deve ser requerida.

Uma vez reconhecido o direito, haverá a necessidade de liquidação e execução no juízo cível em
face da União, DF ou Estado (liquidação de sentença perante a Vara da Fazenda Pública).

OBS.: A responsabilidade do Estado é objetiva e decorre do §6º do art. 37 da CF/88.

9.8 CARTA TESTEMUNHÁVEL (arts. 639/646 CPP)


a) Conceito

Art. 639. Dar-se-á carta testemunhável:

I - da decisão que denegar o recurso;

II - da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo ​ad
quem.​

É o recurso que, na ausência de outro específico, se interpõe da decisão que não recebeu ou não
deu seguimento ao interposto pelo interessado, a fim de que este seja admitido e julgado pelo juízo
ad quem (MIRABETE).

É um recurso que ​não possibilita o reexame do mérito da decisão judicial, mas tão somente o
destravamento do recurso principal​. Meio de impugnação para destravar o recurso principal que
não foi conhecido ou se foi conhecido não lhe foi dado seguimento, ​quando não houver outro
recurso cabível​ (Princípio da Adequação ou Unirrecorribilidade).

Portanto, o caráter do recurso é ​subsidiário​. O legislador não apontou as hipóteses específicas de


cabimento. Em havendo meios de impugnação do entrave à insurgência, a carta não deve ser
conhecida. Ex.: Da decisão que denegar o apelo → RESE.

b) Natureza jurídica

i) Recursal

ii) Instrumental

c) Partes

i) Testemunhante → Requerente (art. 642), quando deveria ser o “escrivão”, pois que este
testemunha o ocorrido com o recurso. O recurso é dirigido ao Diretor de Cartório, que deverá
prestar esclarecimentos.

ii) Testemunhado → Juiz.

d) Hipóteses de cabimento (rol taxativo)

Da decisão que denegar o recurso;

Art. 639

Da decisão que obstar à expedição e seguimento do recurso conhecido ao juízo ​ad


quem;​
Do RESE

Cabível do não recebimento Do ​habeas corpus

Agravo à execução

Da apelação, pois cabível o RESE (art. 581, inc. XV)

Incabível do Do RE e REsp, pois cabível o agravo (caput do art. 1.042 CPC)

não recebimento Dos embargos infringentes e de nulidade, pois cabível o agravo regimental

Dos embargos de declaração

OBS.: Se a carta for provida, ocorrerá o destravamento do recurso principal, que por sua vez
poderá ser provido ou improvido. Tal qual como ocorre no agravo, é possível adentrar-se no mérito
do RESE na carta, por autorização legal. Se a carta for instruída na integralidade do processo com
as peças principais, incluindo portanto o RESE, ao dar provimento à carta testemunhável, o
Tribunal PODERÁ, de igual modo, julgar o RESE. Mas o julgamento deste não é efeito automático,
pois o objeto da carta é destravar o recurso principal.

Como o RESE possui efeito regressivo, ao ser destravado, o recurso será julgado pelo juízo
prolator da decisão. Em caso de improvimento, o RESE será encaminhado ao Tribunal ​ad quem.​

e) Efeitos

i) Devolutivo, por presunção legal.

ii) Regressivo, pois o legislador atribui o mesmo tratamento dado ao RESE.

Art. 643. Extraído e autuado o instrumento, observar-se-á o disposto nos arts. 588 a 592, no caso
de recurso em sentido estrito, ou o processo estabelecido para o recurso extraordinário, se deste
se tratar.

Art. 646. A carta testemunhável não terá efeito suspensivo.​ → ​Desnecessário.

TJRO HC 1010-19.2006.001.2402 (José Antônio) → Mandado de segurança interposto com a


finalidade de conferir efeito suspensivo à carta testemunhável, requerida contra a decisão que não
recebeu o recurso em sentido estrito contra a sentença que pronunciou o réu, por intempestividade.
Situação de risco criada, tendo em vista que o julgamento do acusado, pelo Tribunal do Júri, estava
aprazado para os dias próximos, sendo inviável a apreciação da dita carta testemunhável antes do
júri. Recomendável, nestas circunstâncias, a agregação do efeito suspensivo postulado, para que o
júri não fosse realizado antes do julgamento da carta testemunhável e esclarecimento sobre a
tempestividade do recurso em sentido estrito. → NÃO SE APLICA

STJ RMS 23.152 (Felix Fisher) → A devida comprovação do direito líquido e certo é condição
intransponível à concessão do mandado de segurança. Na hipótese vertente, tal circunstância não
se encontra evidenciada em razão da não concessão de efeito suspensivo a carta testemunhável,
pois há, inclusive, dispositivo legal (art. 646 do CPP) neste sentido.

f) Prazo

Deve ser requerida em 48 horas do despacho que denegar ou obstar seguimento do recurso.
Contudo, a contagem do prazo deve ser compreendida a partir da intimação (art. 798, §5º, “a”,
CPP), seguindo a regra do prazo processual.

O prazo recursal deve fluir somente após a intimação do ato sujeito à impugnação.

Art. 640. A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, conforme
o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, indicando o
requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas.

Súmula 710 STF → No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

REsp 54.846 (Edson Vidigal) → ​O prazo para interposição de Carta Testemunhável corre a partir
da intimação do despacho denegatório​.

OBS.: O Diretor de Cartório tem o prazo de 5 dias para responder. Se na resposta ele resolver o
problema da tramitação, a carta não irá para o tribunal. Diferentemente dos outros recursos, a
instrução da carta exige a certidão do cartório. Portanto, após a resposta do Diretor de Cartório
(testemunho), a carta deverá ser protocolada pelo rito do recurso principal. Ex.: RESE / Agravo à
execução → 5 dias para protocolar – 2 dias para contrarrazões. HC não tem prazo.

g) Procedimento

Petição dirigida ao Diretor de Cartório, com a juntada do protocolo do recurso principal, requerendo
esclarecimentos.

TJRJ CT 0024951-29.2018.819.0000 (Antônio Duarte) → Carta testemunhável formalizada contra a


decisão que deixou de receber recurso em sentido estrito. Por independência funcional entende-se
a autonomia de convicção, por ausência de hierarquização dos membros do Ministério Público ao
exercerem seu mister, podendo agir do modo que melhor lhes aprouver, desde que respeitados
parâmetros legalmente impostos a todos os membros da instituição. Provimento da carta
testemunhável, para determinar o recebimento do recurso em sentido estrito, e o seu regular
processamento.

TJMT CT 0051585-55.2016.811.0000 (Gilberto Giraldelli) → Por força do art. 639 do CPP, a carta
testemunhável constitui medida adequada para combater a decisão que deixa de receber recurso,
que o denega ou obsta seu seguimento para o juízo ad quem, haja vista o seu caráter subsidiário e
a inexistência de remédio processual específico para desconstituir o gravame. Ainda que o juízo a
quo esteja eventualmente convencido da ausência de algum ou alguns dos requisitos de
admissibilidade recursal, porquanto sua manifestação é precária, uma vez que realiza o juízo de
admissibilidade de forma diferida, não pode obstar o seguimento da irresignação para o juízo ad
quem, a quem incumbe o juízo definitivo de admissibilidade do recurso. Não verificada a alardeada
identidade entre as teses vinculadas no recurso cujo seguimento restou indeferido ainda no
primeiro grau, e no habeas corpus já julgado por esta eg. Corte de Justiça, cai por terra a
obstaculização do processamento do recurso sob esse argumento, a autorizar o provimento da
carta testemunhável. A teor dos arts. 644 e 645 do CPP, uma vez extraído e autuado o
instrumento, a carta testemunhável terá o mesmo rito do recurso denegado, cujo mérito deverá ser
imediatamente julgado se devidamente instruída. Se inválida a intimação do defensor dativo do réu,
porquanto feita pela imprensa oficial ao invés de pessoalmente, e realizada a intimação pessoal do
condenado depois de determinada a sua intimação por edital, tem-se que foi equivocada a
decretação do trânsito em julgado da sentença em inobservância ao novo termo a quo do prazo
recursal, impondo-se, pois, o processamento do recurso de apelação sujo seguimento restou
denegado a título de intempestivo. Carta testemunhável provida para destravar o recurso em
sentido estrito interposto contra a decisão que negou seguimento ao apelo defensivo manejado em
face da sentença condenatória. Provimento do recurso em sentido estrito para afastar o trânsito em
julgado do decisum, e autorizar o regular processamento do recurso de apelação.

TJRO 0005561-44.2013.8.22.0007 (Sandra Silvestre) → Por não ser pacífico o entendimento, em


âmbito doutrinário e jurisprudencial, acerca do recurso mais adequado para impugnar decisão que
concede medidas protetivas de urgência, torna-se imperiosa a aplicação do princípio da
fungibilidade, tudo com intuito de resguardar o direito do duplo grau de jurisdição do recorrente,
reconhecendo o recurso em sentido estrito como se próprio fosse.

h) Incoerências dos dispositivos legais (revogação tácita e desuso da norma)

Art. 640. A carta testemunhável será requerida ao ​escrivão​, ou ao secretário do tribunal, conforme
o caso, nas ​quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, indicando o
requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas. Escrivão é o termo utilizado para
segurança pública, o correto é “escrevente”. O prazo é de 2 dias da intimação, conforme artigo 798
do CPP. Secretário do tribunal → Diretor do Cartório.

Art. 641. O ​escrivão​, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à parte e, no prazo máximo
de cinco dias, no caso de recurso no sentido estrito, ​ou de sessenta dias, no caso de recurso
extraordinário, fará entrega da carta, devidamente conferida e concertada. ​REVOGAÇÃO TÁCITA:
Caso o RE não seja conhecido, o recurso cabível é o Agravo, em virtude de alteração pela Lei
8.038/90 (regulamenta o RE e o REsp) e posteriormente pelo CPC de 2015, incluindo a figura do
agravo para atacar decisão de hipótese de cabimento da carta testemunhável, no caso de RE.

Art. 642. O ​escrivão​, ou o secretário do tribunal, que se negar a dar o recibo, ou deixar de entregar,
sob qualquer pretexto, o instrumento, será suspenso por trinta dias. O juiz, ou o presidente do
Tribunal de Apelação​, em face de representação do ​testemunhante​, imporá a pena e mandará que
seja extraído o instrumento, sob a mesma sanção, pelo substituto do escrivão ou do secretário do
tribunal. Se o testemunhante não for atendido, poderá reclamar ao presidente do tribunal ​ad quem,​
que avocará os autos, para o efeito do julgamento do recurso e imposição da pena. Impropriedade
legislativa referente à imposição de medida administrativa (suspensão por 30 dias) em lei federal. A
conduta de descumprimento de determinação judicial. Não estará dispensada a instauração de
PAD. Tribunal de Apelação → Tribunal de Justiça. Testemunhante → Requerente (autor do
pedido). Avocar → Determinar, estando em desuso em razão do processo virtual.
Art. 643. Extraído e autuado o instrumento, observar-se-á o disposto nos arts. 588 a 592, no caso
de recurso em sentido estrito, ​ou o processo estabelecido para o recurso extraordinário, se deste
se tratar.​ Revogação tácita.

Art. 644. O tribunal, câmara ​ou turma a que competir o julgamento da carta, se desta tomar
conhecimento, mandará processar o recurso, ou, se estiver suficientemente instruída, decidirá logo,
de meritis. Turma → STJ e STF. Processar o recurso → Apenas enfrentará o juízo de prelibação e
o mérito da carta (seguimento do recurso principal). Se a carta estiver devidamente instruída,
poderá julgar o mérito do ​recurso principal​ (RESE, Agravo ou HC).

Art. 645. O processo da carta testemunhável na instância superior seguirá o processo do recurso
denegado. O rito do agravo equivale ao rito do RESE. O habeas corpus, na prática, é concedido de
ofício.

Art. 646. A carta testemunhável não terá efeito suspensivo.

9.9 CORREIÇÃO PARCIAL (ordinária)

a) Conceito

Equipara-se à figura de impugnação. A fonte que enseja construção doutrinária acerca da correição
parcial no capítulo dos recursos é a Lei 5.010/66, que organiza a Justiça Federal de primeira
instância. Nas hipóteses em que o juiz tem determinada obrigação com relação ao rito processual e
deixa de cumpri-la, tumultua-se o processo, podendo as partes recorrerem da decisão proferida por
meio da correição parcial.

Constitui ​mecanismo para corrigir a regularidade processual (procedimento). Trata-se, portanto,


das hipóteses de ​error in procedendo​, a fim de restabelecer a ordem processual. Todavia, ​além do
vício na decisão judicial, deverá ser demonstrado o prejuízo decorrente da manutenção da decisão
viciada.

É um remédio processual que permite às partes corrigir ​error in procedendo dos juízes que
acarretam inversão tumultuária da ordem processual, quando o ato judicial não estiver sujeito à
impugnação por via recursal. (EDILSON MOUGENOT)

Princípio norteador → Devido processo legal.

Caráter subsidiário → Sua utilização depende da demonstração de inexistência de outro recurso.

b) Natureza jurídica

A correição parcial não se encontra no rol dos recursos.

Error in procedendo​ → Meio instrumental para restabelecimento da ordem processual.

Se é possível a determinação de qualquer conteúdo em relação à decisão principal, possibilitando


o reexame da matéria, possui natureza recursal.

Anômalo: Súmula 160 das Mesas de Processo Penal da USP (Ada Pelegrini)

É recurso Clandestino: Fernando Capez


Judicial: AgRg no RMS 38.537 (Sebastião Júnior)

Não é recurso, porquanto não previsto em legislação processual.

Administrativo ou de mero direito de petição (Mirabete e Sérgio Pinto Martins)

Características

Administrativo-disciplinar (Frederico Marques)

c) Sistema e previsão legal da correição parcial

Art. 6º, I, Lei 5.010/66. Ao Conselho da Justiça Federal compete conhecer de correição parcial
requerida pela parte ou pela Procuradoria da República, no prazo de 5 dias, contra ato ou
despacho do Juiz de que não caiba recurso, ou comissão que importe erro de ofício ou abuso de
poder.

Art. 142 do Decreto 9.623/1911 (organização judiciária do DF).

Art. 5º, I e II, Lei 12.016/91. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar: I - de ato
do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução; II - de
decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo.

Súmula 267 do STF: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição.

LC 35/75 (LOMAN). Art. 127. Nas Justiças da União, os Estados e do Distrito Federal e dos
Territórios, poderão existir outros órgãos com funções disciplinares e de correição, nos termos da
lei, ressalvadas as competências dos previstos nesta. Art. 129. O magistrado, pelo exercício em
órgão disciplinar ou de correição, nenhuma vantagem pecuniária perceberá, salvo transporte e
diária para alimentação e pousada, quando se deslocar de sua sede.

Art. 96, I, “b”, CF. Compete privativamente aos tribunais organizar suas secretarias e serviços
auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade
correicional respectiva.

Art. 368 do RI/TJRO.

d) Da inconstitucionalidade ou constitucionalidade da correição parcial

É inconstitucional ante a ausência de previsão em lei processual.

É ​constitucional​ em razão da Lei nº 5.010/66. → Entendimento pacificado

e) Relação processual
Corrigente: Requerente (CPP - “testemunhante”).

Corrigido: Magistrado.

f) Legitimidade

​ Réu

​MP

Qualquer parte Querelante

Assistente da acusação

Querelado

g) Pressupostos

(i) Existência de despacho ou decisão que contenha erro ou abuso de poder que provoque a
inversão tumultuária do processo.

→ Existência de um processo judicial; Admite-se, excepcionalmente, de decisões em outros


processos/procedimentos, como o inquérito policial.

→ Que o ato praticado seja por uma autoridade.

(ii) Que não haja recurso próprio (decisão irrecorrível) ou não possa ser a decisão impugnada por
MS.

(iii) Que o ato resulte prejuízo processual à parte.

TJRO CP 0003722-63.2017.8.22.0000 (Daniel Ribeiro Lagos) → Se a lei processual penal vigente


autoriza ao magistrado prosseguir na instrução, ouvindo testemunhas, podendo, inclusive,
sentenciar, mesmo na pendência de devolução da carta pelo juízo deprecado, em reverência à
celeridade processual, a eventual declaração de nulidade em decorrência de inversão de fórmulas
do processo fica condicionada à prova do prejuízo.

TJRO CP 2002012387-49.2008.8.22.0000 (Walter Waltenberg) → O indeferimento do pedido de


degravação dos testemunhos prestados em juízo e arquivados em CD-ROOM causa tumulto
processual e prejuízo às partes no tocante ao acesso às provas, constituindo violação aos
princípios do devido processo legal e contraditório e ampla defesa.

h) Error in procedendo
Erro do magistrado que causa tumulto processual (subversão da ordem legal dos atos do
processo).

i) Exemplos de atos tumultuários do juiz

I – Da decisão que, no recebimento da denúncia, altera a classificação do delito*. Há divergência


sobre o cabimento de correição parcial nesta hipótese, visto que o juiz tem o dever institucional de
apontar corretamente o crime imputado ao réu, fazendo se necessária a recapitulação dos fatos
apresentados na denúncia.

II – ​Se o juiz inverter a ordem dos depoimentos de testemunhas (defesa antes das de acusação).

III – ​De indeferimento do pedido do MP para volta dos autos do Inquérito à Delegacia de Polícia.

IV – ​De indeferimento de pedido para realização de diligências.

V – ​Quando a defesa apresentar o rol de testemunhas fora do prazo e o juiz aceitar (tumulto de
favorecimento).

VI – ​Revelia em audiência a que o réu não pôde comparecer, presentes prévia justificativa e
solicitação de redesignação de nova audiência.

VII – ​De indeferimento de pedido para a expedição de ofício para localização da vítima; de
indeferimento de pedido para realização de perícia.

VIII – ​De indeferimento de oitiva de informante.

IX – ​Da decisão que determina a constituição de advogado no procedimento adotado pela Lei
Maria da Penha.

TJRJ CP 0014547-84.2016.8.19.0000 (Mônica Oliveira) → Decisão que indeferiu a baixa dos autos
do Inquérito à Delegacia para que esta realizasse diligências e determinou que o MP oferecesse
denúncia ou se manifestasse sobre o arquivamento, no prazo de 5 dias.

TJRJ CP 0025176-20.2016.8.19.0000 (Katya Monnerat) → Pedido do MP de expedição de ofícios


para localização da vítima, mas indeferido pelo juiz ao argumento que o parquet teria condições de
obtê-los. Negativa do juízo reclamado que, na hipótese, atenta contra a celeridade processual e
cria embaraços à persecução penal.

TJRJ CP 0014137-26.2016.8.19.0000 (Flávio Fernandes) → Denegação de Juntada da FAC. Peça


Regularmente Requerida pelo Ministério Público, além de ser Imprescindível para o julgamento do
feito.

TJSP CP 2054482-05.2016.8.26.0000 (Edison Brandão) → Insurgência em face da decisão do MM.


Juiz a quo que indeferiu o pleito Ministerial de requerimento de laudo pericial para constatar o
rompimento e obstáculo. Tal providência poderia inclusive ser por ele solicitada de ofício, em busca
pela verdade real.
TJSP CP 2117199-82.2018.8.26.0000 (Willian Campos) → Inversão tumultuária dos atos
processuais. Deferimento do livramento condicional sem análise do pleito de progressão ao regime
aberto.

TJSP CP 2196661-88.2018.8.26.0000 (Damião Cogan) → Decisão do Juízo a quo indeferindo


oitiva de informante em razão de considerá-la testemunha que excede o número legal previsto no
art. 422 do CPP. Interpretação restritiva. Evidente ​error in procedendo​. No número máximo de
testemunhas não se computam os informantes, as testemunhas referidas e o ofendido. Inversão
tumultuária caracterizada.

TJSP CP 2091994-51.2018.8.26.0000 (Sérgio Ribas) → Decisão que, em pedido de medida


protetiva, exigiu da vítima de violência doméstica a constituição de advogado no prazo trinta dias,
sob pena de extinção da proteção judicial. Alegação de ​error in procedendo.​ Admissibilidade.
Inversão tumultuária caracterizada. Em se tratando de medidas protetivas, a mulher não precisa
estar acompanhada de advogado para buscar proteção judicial.

TJSP CP 2065921-08.2019.8.26.0000 (Lauro de Mello) → Magistrado do processo de


conhecimento que declarou extinta a multa. Impossibilidade. Extinção que só pode ser reconhecida
pelo juízo da execução.

9.10 HABEAS CORPUS (arts. 647/667 CPP)

Art. 5º, LXVIII, CF. Conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado
de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.

a) Origem

Direito Romano – “In​terdictum de libero homine exhibendo”​ – Garantia dada ao cidadão romano de
se locomover livremente.

Inglaterra – Magna Carta de 1215 – Imposta pelos barões ingleses ao Rei João Sem Terra.

No Brasil:

(i) Constituição de 1824 já consagrava o habeas corpus para a tutela de ir e vir.

(ii) Definitivamente constitucionalizado em 1891, art. 72, §22 (amplo, inclusive o MS).

(iii) Com a emenda de 1926 limitou somente por tutela de ir e vir.

(iv) Suspenso pelo AI-5 (13/12/68) no governo de Costa e Silva em seu art. 10.

(v) Previsto por todas as Constituições a partir de 1981.

(vi) Com a Constituição de 1934, prevendo o MS, não se discutia mais sobre a sua concessão que
não a liberdade pessoal.

b) Conceito
Habeas corpus → “Tomar o corpo”

Remédio constitucional para defesa do direito de ir e vir, quer de forma preventiva, quer de forma
repressiva. (Paulo Lúcio Nogueira)

OBS.: ​Abrange também o direito de permanecer​.

O habeas corpus presta-se ao controle e revisão de pronunciamento que violem o direito líquido e
certo do paciente, diretamente relacionado à liberdade.

c) Classificação

Liberatório​: Já existe o constrangimento ilegal (decisão) e o sujeito está preso → Alvará de soltura

Suspensivo​: Já existe o constrangimento ilegal, mas o sujeito ainda não foi preso →
Contramandado de prisão

Preventivo​: Dá-se quando há ameaça de constrangimento → Salvo-conduto

d) Legitimidade

Qualquer pessoa

Ativa → Ampla Maior / Menor

Louco

Pessoa jurídica

Passiva → O coautor é uma autoridade (ex.: Estado-juiz, MP, delegado de polícia, CPI etc).

OBS.: Cabível contra particular.

Impetrante → Requerente do habeas corpus

Partes Paciente → Beneficiado pela concessão da ordem / writ (detém o direito subjetivo)

Impetrado → Enseja o risco de limitação à liberdade de ir e vir ou de permanecer

e) Natureza jurídica

Remédio → Natureza jurídica constitucional. Segundo Ada Pelegrini, como se trata de garantia
constitucional, não possui natureza recursal.

Todavia, como consta do rol de recursos do CPP, também possui natureza recursal.
f) Capacidade postulatória

Habeas corpus → Garantia constitucional → Desnecessidade de capacidade postulatória pelo


impetrante.

Em caso de HC impetrado na primeira instância, em que não há necessidade de capacidade


postulatória, também não haverá exigência de representação processual em grau recursal, sob
pena de restrição do acesso à justiça.

Quando o HC tiver sido impetrado por representação na primeira instância ou quando impetrado
pela primeira vez nos tribunais superiores, exige-se capacidade postulatória.

Súmula 115 STJ: Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem
procuração nos autos. → Exigência de capacidade postulatória nos tribunais superiores.

Na prática, se o recurso não foi conhecido por ausência de representação processual, em havendo
constrangimento ilegal, o habeas corpus deverá ser concedido de ofício.

Art. 654, §2º. Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas
corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer
coação ilegal.

Assim, não se exige capacidade postulatória para impetrar HC em primeira instância. Se a decisão
for desfavorável, o impetrante poderá recorrer sem capacidade postulatória. Entretanto, em
segunda instância, obrigatória a capacidade postulatória para impetrar o HC​.

AgRg no RHC 98.889 (Felix Fischer) → Na instância especial é inexistente recurso interposto por
advogado sem procuração nos autos. Enunciado n. 115 da Súmula deste Tribunal. ​Não obstante se
considere que na impetração de habeas corpus não se exija a produção de instrumento de
mandato, uma vez que qualquer um do povo pode impetrar o remédio heroico, ​tal faculdade não se
estende à interposição do respectivo recurso ordinário. A comprovação da capacidade postulatória
em recurso dessa natureza somente é dispensada na hipótese em que pessoa leiga seja o
impetrante e o recorrente.

RHC 75.766 (Joel Paciornik) → A despeito da existência da Súmula 115/STJ, esta Corte Superior
tem entendido que, ​considerando a desnecessidade da demonstração da capacidade postulatória
na impetração de habeas corpus, fica dispensada também sua demonstração nos casos em que
tanto o habeas corpus originário quanto o recurso em habeas corpus forem interpostos por leigo​.
Recurso ordinário em habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para relaxar a
prisão preventiva.

g) Competência

Contra decisão proferida por:


Autoridade policial → Juiz

Particular → Juiz

Juiz / Promotor → TJ

Juiz Federal / Procurador → TRF

Juiz do Trabalho → TRT (art. 114, IV, CF/88)

Ato de tribunal / Ato isolado de membro de tribunal → STJ

Tribunais Superiores → STF

Prisão civil (alimentos) → Órgão jurisdicional civil

Juiz do JECRIM → Turma Recursal

Turmas Recursais → TJ / TRF (L. 9.099/95 → STF)

HC 86.834 (Marco Aurélio) → A competência para o julgamento do habeas corpus é definida pelos
envolvidos – paciente e impetrante. ​Estando os integrantes das turmas recursais dos juizados
especiais submetidos​, nos crimes comuns e nos de responsabilidade, ​à jurisdição do tribunal de
justiça ou do tribunal regional federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas
impetrados contra ato que tenham praticado​. Uma vez ocorrida a declinação da competência,
cumpre preservar o quadro decisório decorrente do deferimento de medida acauteladora, ficando a
manutenção, ou não, a critério do órgão competente.

h) Hipóteses de cabimento (rol exemplificativo)

Art. 647​.​ Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

I - quando não houver justa causa;

Justa causa Autoria: responsabilidade da conduta

Crime em tese: conduta típica

O trancamento do inquérito ou da ação penal por ausência de justa causa exige:

(i) Atipicidade da conduta;

(ii) Ausência de lastro probatório mínimo de autoria ou de materialidade;

(iii) Ocorrência de causa de extinção da punibilidade*;

OBS.: Existem posições divergentes quanto à possibilidade de trancamento quando a causa de


extinção de punibilidade for a prescrição, posto que há jurisprudência se contrapondo ao enunciado
de súmula que entendeu a questão de forma diversa.

HC 500.629 (Felix Fischer) → O trancamento da ação penal por meio do habeas corpus é medida
excepcional, que somente deve ser adotada quando houver inequívoca comprovação da
atipicidade da conduta, da incidência de causa de extinção da punibilidade ou da ausência de
indícios de autoria ou de prova sobre a materialidade do delito.

HC 480.079 (Sebastião Reis) → A análise da justa causa para prosseguimento das investigações
pressupõe a liquidez dos fatos, requisito inafastável, pois o exame aprofundado de provas é
inadmissível no espectro processual do habeas corpus, cuja impetração pressupõe ilegalidade ou
abuso de poder flagrante a ponto de ser demonstrada de plano, o que não ocorre na espécie.
Hipótese em que o inquérito policial, iniciado em 14/12/2015, embora envolva investigação
extremamente complexa, encontra-se encerrado desde 9/4/2018. Os autos foram encaminhados ao
Ministério Público Federal há cerca de um ano e, desde então, sem nenhuma justificativa
apresentada neste feito, aguardam inertes análise para oferecimento da denúncia. Caracterizada a
ineficiência estatal, impõe-se o trancamento do inquérito policial por excesso de prazo. Ordem
concedida para trancar o referido inquérito policial em relação ao paciente.

RHC 84.450 (Sebastião Reis) → Não obstante o recorrente figurar como um dos sócios da pessoa
jurídica, não foi descrito o necessário nexo causal entre a conduta a ele atribuída e a ofensa ao
bem jurídico tutelado pela norma penal. Apesar de ser difícil a demonstração da individualização da
conduta, da atenta leitura da peça acusatória, verifica-se que não se demonstrou de que forma o
recorrente concorreu para o fato delituoso descrito na acusação, ou seja, não se demonstrou o
mínimo vínculo entre o acusado e o crime a ele imputado, o que é inadmissível. Recurso em
habeas corpus provido para trancar a ação penal proposta contra o recorrente, em razão do
reconhecimento da inépcia formal da denúncia, sem prejuízo de que outra seja oferecida, desde
que preenchidas as exigências legais, com extensão dos efeitos aos corréus, nos termos do art.
580 do Código de Processo Penal.

RHC 110.651 (Reynaldo Soares) → Passou-se a admitir, no entanto, a incidência do princípio da


insignificância quando se tratar de posse de pequena quantidade de munição, desacompanhada de
armamento capaz de deflagrá-la, uma vez que ambas as circunstâncias conjugadas denotam a
inexpressividade da lesão jurídica provocada. Precedentes do STF e do STJ. A situação
apresentada possui, a meu ver, a nota de excepcionalidade que autoriza a incidência do referido
princípio, porquanto apreendidas 2 munições calibre .38, não deflagradas, e 1 munição, calibre .32,
deflagrada, ambas de uso permitido, desacompanhadas de arma de fogo, dentro de uma
residência. Recurso em habeas corpus provido para trancar a Ação Penal n.
0020462-49.2015.8.08.0035.

RHC 106.772 (Reynaldo Soares) → Da leitura do artigo 7º, inciso IX, da Lei 8.137/1990, percebe-se
que se trata de delito contra as relações de consumo não transeunte, que deixa vestígios materiais,
sendo indispensável, portanto, a realização de perícia para a sua comprovação, nos termos do
artigo 158 do Código de Processo Penal. Neste caso, não foi realizada perícia para comprovar que
a mercadoria apreendida era imprópria para o consumo, havendo apenas o relato do órgão de
vigilância sanitária afirmando que algumas mercadorias estavam embaladas de modo inadequado
e outras não continham identificação do produtor ou importador. Tais elementos não se mostram
suficientes para autorizar a persecução criminal, que, diante de elementos mais sólidos que
sustentem a materialidade delitiva, carece de justa causa. Recurso ordinário em habeas corpus
provido para trancar a Ação Penal n. 0001790-91.2016.8.24.0041.

II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;

Hipóteses Preso que já cumpriu a pena


Excesso de prazo na formação da culpa (tempo da prisão cautelar)

Súmula nº 52 STJ: Encerrada a instrução criminal, fica superada a alegação de constrangimento


por excesso de prazo. → Não computa-se o tempo para prolação da sentença.

HC 457.022 (Nefi Cordeiro) → Sabe-se que o prazo para a conclusão do processo não tem as
características de fatalidade e de improrrogabilidade, sendo imprescindível raciocinar com o juízo
de razoabilidade para definir o excesso de prazo, não se ponderando a mera soma aritmética dos
prazos para os atos processuais. Revela-se desproporcional a manutenção da prisão preventiva,
tendo em vista que o paciente foi preso cautelarmente em 25/9/2016, há 2 anos, e o delito pelo
qual responde tem pena máxima em abstrato de 4 anos de reclusão. Habeas corpus concedido,
para a soltura do paciente Adeilson Belmont Da Cruz, o que não impede nova e fundamentada
decisão de necessária cautelar penal, inclusive menos gravosa do que a prisão processual.

HC 482.141 (Sebastião Reis) → Hipótese em que o inquérito policial, iniciado em 28/5/2009,


embora seja extremamente complexo (conta com cinco investigados, exigiu o deferimento de
mandados de busca e apreensão e requisições ao consulado norte-americano, além de perícias
em documentos e nos computadores apreendidos), passou por atrasos também decorrentes das
mudanças do Distrito Policial responsável pelas investigações e da esfera do Poder Judiciário
competente para o julgamento, e nenhum desses atos pode ser imputado ao investigado. Apesar
de a atuação do paciente (que é advogado) ter contribuído para causar certa demora na conclusão
das investigações, peticionando dezenas de vezes nos autos e requerendo diversos pedidos
distintos, até o momento, passados quase 10 anos, o inquérito não reuniu os elementos probatórios
necessários para formação da opinio delicti e não há nenhuma perspectiva de chegar a seu fim.
Caracterizada a ineficiência estatal, impõe-se o trancamento do inquérito policial por excesso de
prazo. Ordem concedida para trancar o referido inquérito policial.

Súmula nº 527 STJ → ​O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite
máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado.

Súmula nº 21 STJ: Pronunciado o réu, fica superada eventual delonga em sua prisão decorrente de
excesso de prazo na finalização da primeira etapa do processo afeto ao Júri (​judicium
accusationis​).

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;

HC 45.210 (Laurita Vaz) → O Tribunal a quo, ao argumento de ser inadmissível o exame da


competência do juízo processante na via do habeas corpus, não se manifestou sobre a questão,
razão pela qual não pode ser examinada pelo Superior Tribunal de Justiça, sob pena de incorrer
em vedada supressão de instância. Contudo, quando desnecessária incursão na seara probatória,
é cabível discutir em sede de habeas corpus a competência do Juízo que ordena a coação ilegal,
nos exatos termos, do art. 648, inciso III, do Código de Processo Penal. Outrossim, não existe
recurso próprio contra a decisão de exceção de incompetência quando o Magistrado reconhece a
competência do Juízo, sendo o habeas corpus o único meio de afastar eventual ilegalidade da
decisão. Writ parcialmente concedido para, remetendo-se os autos para o Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios, determinar que a Corte a quo julgue a ordem de habeas corpus.
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;

V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;

Abrange a hipótese de hipossuficiência do paciente, quando arbitrada a fiança.

VI - quando o processo for manifestamente nulo;

Art. 652. Se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade do processo, este será
renovado.

HC 279.583 (Maria Thereza) → Ocorre nulidade, por cerceamento de defesa, se o advogado


constituído pelos pacientes não foi intimado do julgamento dos embargos infringentes, dando-se
início ao processo de execução. Hipótese em que se deu ciência do acórdão apenas ao parquet, à
Defensoria Pública e ao advogado da corré, sem a cientificação dos defensores dos pacientes, por
evidente equívoco. Como foi garantido aos pacientes o direito de recorrer em liberdade, de rigor
que eles possam permanecer nessa condição, com a regularização da intimação da defesa e
prosseguimento do feito. Writ concedido para anular o trânsito em julgado da condenação imposta
aos pacientes na ação penal aqui tratada, a fim de que a defesa seja regularmente intimada do
julgamento dos embargos infringentes, garantido o direito de recorrerem em liberdade, se por outro
motivo não estiverem presos.

VII​ ​- ​quando extinta a punibilidade​.

HC 70.279 (Ilmar Galvão) → Transcorridos mais de dois anos entre a data da publicação, na
imprensa, dos fatos ofensivos a honra do então querelante e a data em que foi julgado o recurso
em sentido estrito, visando a desconstituir a decisão que rejeitou a queixa-crime, cabia ao Tribunal
declarar, ex officio, extinta a punibilidade do paciente em relação aos crimes nela capitulados (art.
61 do CPP). Não o fazendo e, ao revés, determinando ao juízo de primeiro grau a reapreciação da
admissibilidade da queixa-crime, incidiu o Tribunal em evidente ilegalidade, a ensejar reparação
pela via do habeas corpus (art. 648, VII, do CPP). Ordem concedida para se declarar, nos termos
do art. 107, IV, do Código Penal, extinta a punibilidade do paciente pelos crimes descritos na
queixa-crime.

i) Quando não é cabível o HC (algumas hipóteses)

I – Em caso de punição disciplinar;

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, ​salvo nos casos de punição disciplinar​.

AgInt no RHC 70.421 (Antonio Palheiro) → Nos termos do art. 142, §2º, da Constituição Federal,
“não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares”. ​A flexibilização dessa
regra​, na linha da orientação jurisprudencial firmada, ​ocorre somente no caso de alegação de vício
formal do procedimento​, situação inocorrente na espécie. A. desprovido.
OBS.: Cabível o HC no caso em que a punição disciplinar tenha decorrido de procedimento eivado
de nulidade.

II – Durante o estado de sítio (arts. 138, I e II e 139 CF/88);

III – Para apressar sentença ou recurso;

TJSP HC 0084245-56.2014.8.26.0000 (Ivana David) → Impetração visando acelerar apelação


interposta. Impossibilidade. Writ que não se presta para agilizar recurso pendente de julgamento
Precedentes. Ordem Denegada.

IV – Para discutir a pena de multa;

Súmula nº 693 STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou
relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.

V – Contra a decisão de Turma do STF proferida em RE ou HC.

Súmula nº 606 STF: Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de
Turma, ou do Plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso.

j) Recursos

HC concedido em 1ª instância → RESE / ​Ex officio

HC denegado em 1ª instância → RESE

HC denegado pelo TJ / TRF → ROC para o STJ (art. 105, II, “a” CF)

HC denegado em última instância → ROC para o STF (art. 102, II, “a” CF)

k) Questões diversas e controvertidas

I – HC para discutir dosimetria da pena;

RHC 109.902 (Felix Fischer) → Com efeito, “Esta Quinta Turma decidiu que é inidônea a utilização
de condenações anteriores transitadas em julgado para se inferir como negativa a personalidade
ou a conduta social do agente”. Ademais, o STJ tem entendido que a valoração negativa da
conduta social e da personalidade se afigura ilegal quando fundada em conceitos e expressões
vagas e genéricas, que não denotem concretamente elementos que possam ser objetivamente
extraídos dos autos. Precedentes. Circunstâncias do crime. A motivação dedicada à majoração da
pena-base, no caso em análise, é genérica e não revela elemento acidental. As circunstâncias
judiciais não podem ser consideradas de forma genérica e abstrata, sendo indispensável a
demonstração de elementos concretos. Precedentes. Recurso ordinário em habeas corpus
parcialmente conhecido e, nesta extensão, provido para afastar as circunstâncias judicias negativas
referentes à conduta social, à personalidade e às circunstâncias do crime e, por conseguinte, fixar
a reprimenda do ora recorrente em 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, em regime inicial
semiaberto, mais o pagamento de 11 (onze) dias-multa, ante a prática do delito previsto no art. 14
da Lei n. 10.826/2003.

HC 465.525 (Felix Fischer) → A via do writ somente se mostra adequada para a análise da
dosimetria da pena, quando não for necessária uma análise aprofundada do conjunto probatório e
houver flagrante ilegalidade. In casu, há de se reconhecer desproporção no quantum de
exasperação da pena-base, uma vez que a pena foi fixada em sete anos acima do mínimo legal,
lastreando-se em apenas duas circunstâncias judiciais desfavoráveis. Precedentes. ​Habeas Corpus
não conhecido. Ordem concedida de ofício​, para fixar a pena definitiva em 6 (seis) anos e 8 (oito)
meses de reclusão, e 666 (seiscentos e sessenta e seis) dias-multa, mantidos os demais termos da
condenação.

II – HC e prevenção;

Não haverá prevenção na primeira instância, apenas na segunda​.

Súmula nº 706 STF: é relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por
prevenção.

REsp 197.661 (Maria Thereza) → No âmbito interno dos Tribunais, a competência por prevenção é
regulada pelo regimento interno, sendo que, no caso dos autos, a Câmara julgadora não pode ser
tida por incompetente se o interessado não arguiu a sua impugnação em momento oportuno, qual
seja, até o início do julgamento.

HC 133.376 (Maria Thereza) → Hipótese em que se sustenta ser nulo o recurso em sentido estrito,
por não ter sido distribuído por prevenção ao relator do habeas corpus anteriormente julgado pela
Corte de origem. Tendo sido o recurso em sentido estrito distribuído, por prevenção, à mesma
Câmara Criminal que havia julgado o ​mandamus,​ haja vista a transferência do anterior Relator para
outro órgão julgador, inexiste o apontado vício. Nos termos do art. 102 do Regimento Interno do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o julgamento anterior de uma causa gera a prevenção
do órgão julgador, não do Relator. Habeas corpus denegado.

III – Desistência do paciente;

A desistência do habeas corpus pelo paciente não impede o reconhecimento do constrangimento


ilegal, devendo a ordem ser concedida de ofício​.

IV – Exigência de exame de provas;

HC → ​Prova pré-constituída​.

HC 417.971 (Felix Fischer) → Inviável o exame acerca da alegada impossibilidade de reparar o


dano na via estreita do habeas corpus, ​instrumento que não permite aprofundado exame do acervo
fático probatório​. Habeas corpus não conhecido.

V – HC em favor de pessoa jurídica;


A CF traz a possibilidade de a pessoa jurídica figurar no polo passivo da ação penal (art. 225, §3º
CF).

Admite-se a empresa como paciente desde que, cumulativamente:

(i) Para fins de trancamento da ação penal por ausência de justa causa;

(ii) Nos casos de crimes ambientais;

(iii) Pessoas físicas também figurem conjuntamente no polo passivo da impetração​.

RHC 101.398 (Jorge Mussi) → A hipótese cuida de denúncia que narra suposto delito praticado por
intermédio de pessoa jurídica, a qual, por se tratar de sujeito de direitos e obrigações, e por não
deter vontade própria, atua sempre por representação de uma ou mais pessoas naturais. Embora
em um primeiro momento o elemento volitivo necessário para a configuração de uma conduta
delituosa tenha sido considerado o óbice à responsabilização criminal da pessoa jurídica, é certo
que nos dias atuais esta é expressamente admitida, conforme preceitua, por exemplo, o artigo 225,
§3º, da Constituição Federal. Ainda que tal responsabilização seja possível apenas nas hipóteses
legais, é certo que a personalidade fictícia atribuída à pessoa jurídica não pode servir de artifício
para a prática de condutas espúrias por parte das pessoas naturais responsáveis pela sua
condução. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia formulada em obediência aos requisitos
traçados no artigo 41 do Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente a conduta típica,
cuja autoria é atribuída ao paciente devidamente qualificado, circunstâncias que permitem o
exercício da ampla defesa no seio da persecução penal, na qual se observará o devido processo
legal. Nos chamados crimes societários, embora a vestibular acusatória não possa ser de todo
genérica, é válida quando, apesar de não descrever minuciosamente as atuações individuais dos
acusados, demonstra um liame entre o seu agir e a suposta prática delituosa, estabelecendo a
plausibilidade da imputação e possibilitando o exercício da ampla defesa, caso em que se
consideram preenchidos os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal.

RHC 33.432 (Maria Thereza) → É inepta a denúncia que não descreve os fatos de maneira
suficiente, não se sabendo, ao certo, se o fato tido por delituoso é a pesca ou a comercialização de
pescados de forma irregular. Mera condição de sócio da pessoa jurídica não é suficiente, por si só,
para desencadear a persecutio criminis, se não demonstrado um mínimo de indício de que tenha,
ativa e diretamente, participado das ações delituosas (autoria). Recurso provido para anular a
denúncia por inépcia, sem prejuízo de que outra seja oferecida.

HC 83554 (Gilmar Mendes) → Responsabilidade penal objetiva. Crime ambiental previsto no art. 2º
da Lei nº 9.605/98. Evento danoso: vazamento em um oleoduto da Petrobrás. Ausência de nexo
causal. Responsabilidade pelo dano ao meio ambiente não-atribuível diretamente ao dirigente da
Petrobrás. Existência de instâncias gerenciais e de operação para fiscalizar o estado de
conservação dos 14 mil quilômetros de oleodutos. Não-configuração de relação de causalidade
entre o fato imputado e o suposto agente criminoso. Diferenças entre conduta dos dirigentes da
empresa e atividades da própria empresa. Problema da assinalagmaticidade em uma sociedade de
risco. Impossibilidade de se atribuir ao indivíduo e à pessoa jurídica os mesmos riscos. Habeas
Corpus concedido.

AgRg no MS 24.639 (Reynaldo Soares) → De mais a mais, é completamente descabido afirmar


que o uso do habeas corpus deveria ser estendido também às pessoas jurídicas, sob pena de
ofensa ao princípio da isonomia, se o que está em jogo, no habeas corpus, é a tutela da liberdade
(do direito de ir e vir) que não atinge a pessoa jurídica.

HC 306.117 (Jorge Mussi) → Prevalece na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que a


pessoa jurídica não pode figurar como paciente em habeas corpus, uma vez que o remédio
constitucional configura instrumento destinado a tutelar a liberdade de locomoção, bem jurídico não
titularizado pelos entes morais. O presente writ será analisado apenas no tocante à pessoa física.

VI – HC substitutivo de recurso ordinário.

Não se admite o manejo do HC em substituição a recursos ordinários, tampouco como sucedâneo


de revisão criminal, por ser considerado o meio processual inadequado. Contudo, o estado-juiz não
pode deixar de declarar a ilegalidade da prisão, se flagrante em sede de liminar, determinando
posteriormente a redistribuição do feito para análise do mérito.

HC 492.433 (Ribeiro Dantas) → Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação
no sentido de que não cabe habeas corpus substitutivo do recurso legalmente previsto para a
hipótese, impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado. ​Writ não conhecido. Ordem concedida, de ofício​, a
fim de trancar a Ação Penal n. 0091114-20.2018.8.19.0050, ante a atipicidade material da conduta.

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