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Aula 1: Sistema dos juizados especiais..........................................................................................

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Introdução ............................................................................................................................. 2
Conteúdo................................................................................................................................ 4
A previsão constitucional e as leis ordinárias regulamentadoras da matéria ........ 4
Competência para legislar ............................................................................................... 4
Lei nº 9.099/1995 ............................................................................................................... 5
As três normas de sistemas ............................................................................................. 7
Aspectos históricos absolutamente relevantes ......................................................... 10
Procedimento sumariíssimo .......................................................................................... 12
Efetivação de direitos ...................................................................................................... 12
O sistema dos juizados especiais cíveis – características fundamentais previstas
na constituição ................................................................................................................. 13
Juízes togados, ou togados e leigos ............................................................................ 13
Competentes para “causas de menor complexidade” ............................................. 14
Resumindo: Competentes para “causas de menor complexidade”....................... 16
Procedimentos: oral e sumariíssimo............................................................................ 17
Exemplo de procedimentos sumariíssimo ................................................................. 19
Recursos permitidos (apenas) para turmas de juízes “de primeiro grau” ............. 20
Atividade proposta .......................................................................................................... 22
Referências........................................................................................................................... 25
Exercícios de fixação ......................................................................................................... 26
Notas ........................................................................................................................................... 34
Chaves de resposta ..................................................................................................................... 38
Aula 1 ..................................................................................................................................... 38
Exercícios de fixação ....................................................................................................... 38

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 1


Introdução
Nesta primeira aula, você conhecerá a previsão constitucional do sistema dos
juizados especiais cíveis, entendido como aquele que contém os juizados
estaduais (ora denominados de “comuns”) e os juizados “fazendários” em
sentido lato, isto é, aqueles nos quais estão inseridos os “fazendários estaduais”
e os “fazendários federais”. Esses são comumente denominados “federais”,
apenas; no entanto, também são “fazendários”, razão da opção ora
apresentada.
Essas 3 (três) modalidades em conjunto são regidas pelas Leis nº 9.099/1995,
nº 10.259/2001 e nº 12.153/2009 e formam o que podemos chamar de sistema
dos juizados, o que justifica a utilização da referida palavra em itálico e, assim,
elimina eventual interpretação equivocada da expressão.
A presente disciplina aborda as características fundamentais desse sistema,
previstas no inciso I do art. 98 da Constituição da República Federativa de
1988, bem como a relação das referidas leis entre si e delas com outros
comandos legislativos (como o Código de Processo Civil).

Objetivo:
1. Conhecer os aspectos históricos fundamentais a respeito dos juizados
especiais, a fim de se compreender, desde logo, o significado e a previsão
constitucional do sistema que o compõem, bem como do conhecimento da
relação entre as leis que o formam e delas com o Código de Processo Civil;

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2. Compreender as características essenciais impostas pelo legislador da Carta
de 1988.

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Conteúdo
A previsão constitucional e as leis ordinárias regulamentadoras da
matéria
O Artigo 98, I, da Constituição da República de 1988 preceitua que a União, no
Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão Juizados Especiais,
providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a
conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
complexidade, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos,
nas hipóteses previstas em lei, a transação e julgamentos de recursos por
turmas de juízes de primeiro grau.

Estava traçado o caminho, portanto, para se ir além do que já existia, ou seja,


para se ultrapassar os limites da acanhada Lei dos juizados de pequenas causas
até então existentes, por força da Lei nº 7.244/1984 (o seu histórico será
tratado mais adiante). E assim se procedeu: foi editada a Lei nº 9.099/1995,
a qual, inclusive, expressamente revogou a mencionada Lei nº 7.244/1984
(anterior, portanto, à Carta de 1988).

Competência para legislar


Em 1999, já atendendo aos anseios da doutrina a respeito da matéria, tivemos
o acréscimo de um parágrafo (atualmente, “primeiro”) naquele referido Artigo
98 da Constituição, autorizando que lei federal dispusesse sobre a criação de
juizados especiais no âmbito da Justiça Federal.

1 - Coube ao legislador ordinário agir. Foi editada a Lei nº 10.259/2001, que


“dispõe sobre a instituição dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito
da Justiça Federal”.

2 - O sistema estava completo, então? Não, pois a Lei nº 10.259/2001 não


tratava de juizados fazendários, no plano estadual e municipal. Apenas, no
plano federal, como salientado.

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3 - Para complementar o tratamento e torná-lo efetivamente integral, o
legislador ordinário tinha de tratar desses juizados, o que apenas foi
providenciado em 2009, por meio da Lei nº 12.153, que “dispõe sobre os
Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito
Federal, dos Territórios e dos Municípios”.

4 - Você pode estar se perguntando: como se dá, enfim, a relação dessas Leis
entre elas próprias? Elas são reciprocamente aplicáveis, formando um
microssistema completo? As Leis n° 10.259/2001 e nº 12.153/2009 alteraram a
Lei nº 9.099/1995, naquilo em que essa seja com aquelas incompatível? A
primeira delas (Lei nº 9.099/95) pode ser tratada como a lei geral dos juizados,
entendida como aquela que traz seus fundamentos básicos e, portanto,
aplicável subsidiariamente às demais. É nela também que estarão os preceitos
específicos aos juizados “comuns”, entendidos como os “não fazendários” (no
plano federal, estadual ou municipal).

5 - E quanto às outras? Ora, as outras serão as leis específicas para as suas


respectivas fazendas. Recorre-se a elas quando se tratar de juizado federal (Lei
nº 10.259/2001) ou de juizado fazendário estadual/municipal (Lei nº
12.153/2009). Naquilo em que essas forem omissas, aplica-se a lei geral, ou
seja, da Lei nº 9.099/1995.

Lei nº 9.099/1995
Conheça um pouco mais sobre a Lei nº 9.099/1995:

Lei nº 9.099/1995
“Parte geral” do procedimento Dispositivos aplicáveis somente aos
sumariíssimo. “juizados não fazendários”.
Por exemplo: Artigo 8º, que trata da
Por exemplo: Artigo 2º, que trata dos
capacidade de ser parte naqueles
princípios norteadores.
juizados, e não exatamente nos

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“fazendários” e “federais”.
Aplicação subsidiária às leis:
Lei nº 10.259/2001 Lei nº 12.153/2009 Voltemos a um ponto: as leis posteriores
Juizados especiais (nºs 10.259/2001 e 12.153/2009)
Juizados especiais cíveis fazendários alteraram a primeira (9.099/1995)?
cíveis federais. (planos estadual e Descubra a seguir.
municipal).

Aplicação subsidiária às leis:

As leis posteriores (nºs 10.259/2001 e 12.153/2009) não alteraram a primeira


(9.099/1995). É a ampla conclusão enxergada na jurisprudência, não obstante
vozes contrárias. Há, é verdade, quem prefira tratar esse sistema como um
microssistema, caracterizador de um estatuto dos juizados, formado,
portanto, por leis que se interagem reciprocamente – com o que não podemos
concordar, por razões que ainda vamos ver mais adiante. Ocorre, repita-se, que
a primeira lei (9.099/1995) serve de base fundamental às demais (10.259/2001
e 12.153/2009), que lhe complementam nos aspectos fazendários (estadual,
municipal e federal) necessários. No entanto, formariam, de fato, um
microssistema, caso as duas leis posteriores houvessem também modificado a
primeira, formando uma total interatividade e reciprocidade.

Repita-se, pois, que, apesar de respeitarmos a afirmação de que esses três


diplomas legislativos formariam, reunidos, um microssistema processual
próprio, distinto do CPC, ainda que a ele se tenha de recorrer para se completar
(DONIZETTI, 2016, p. 738 repetindo CÂMARA), não enxergamos uma
reciprocidade entre as três normas. Existe uma unidade, por conta do
compartilhamento dos mesmos princípios informativos, da adoção de rito
basicamente igual e da remissão feita entre as 3 legislações (DONIZETTI, 2016,
p. 739) mas tão somente relação de subsidiariedade em relação à Lei 9.099/95.

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Por isso, não podemos concordar com as afirmações de Elpídio Donizetti e
Alexandre Câmara, segundo os quais as leis mencionadas foram um só
estatuto, complementando-se reciprocamente.

As três normas de sistemas


Assim sendo, prefere-se, neste curso, denominar esse conjunto de três normas
de sistema, e não propriamente microssistema. Não exatamente por
discordamos sobre efetivamente as Leis posteriores o terem inovado; elas
trazem alterações importantes e, certamente, muito mais adequadas do que a
primeira (9.099/1995). Mas essa reciprocidade (que daria ensejo ao referido
microssistema) careceria de uma determinação legal que não se fez presente, o
que faz com que o ordenamento, por conseguinte, não a aceite. Pois bem: e
quanto ao Código de Processo Civil? Como se dá sua incidência nesse sistema
dos juizados?

Leis sob estudo


Precisamos concordar com parte da doutrina, segundo a qual, mesmo diante da
ausência específica em duas das leis sob estudo (nºs 9.099/1995 e
10.259/2001) a respeito da aplicação subsidiária do Código de Processo Civil,
esse é aplicável, desde que, sobre o ponto em particular a ser aplicado, não se
trate nas leis especiais, bem como a forma com que o CPC normatize não
contrarie os princípios norteadores do procedimento sumariíssimo.

THEODORO JUNIOR, 2016, p. 607, por exemplo, assim afirma: “Embora a Lei
n. 9.099/95 seja omissa a respeito, é intuitivo que, nas lacunas das normas
específicas do Juizado Especial, terão cabimento as regras do novo Código de
Processo Civil, mesmo porque o seu art. 318, parágrafo único, contém a
previsão genérica que suas normas gerais sobre procedimento comum aplicam-
se subsidiariamente aos procedimentos especiais e aos processos de execução.
Além disso, o NCPC, em seu art. 1.046, parágrafo 2º, explicita que
permanecem vigentes “as disposições especiais dos procedimentos regulados
em outras leis, aos quais se aplicará supletivamente este Código”. Completa

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nosso pensamento a norma fundamental do processo civil, inserida no art. 1º
do NCPC, nestes termos: “o processo civil será ordenado, disciplinado e
interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidas na
CRFB, observando-se as disposições deste Código”.

Temos de lembrar do ENUNCIADO 161 (XXXVIII FONAJE – Novembro de 2015),


segundo o qual, considerado o princípio da especialidade, o CPC/2015 somente
terá aplicação ao Sistema dos Juizados Especiais nos casos de expressa e
específica remissão ou na hipótese de compatibilidade com os critérios previstos
no art. 2º da Lei 9.099/95.

Um razoável exemplo de aplicação é o que consta no art. 1062 do CPC/2015,


segundo o qual se aplica aos juizados o Incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, regulamentado nos artigos 133 a 137 do mesmo
estatuto.

Pode-se requerê-lo na própria petição inicial ou em outro momento processual,


caso em que (nesta última hipótese, por exemplo, em fase de execução), faz-se
necessário o respeito ao contraditório, cumprindo-se o estabelecido no art. 135
do CPC/2015.

Nos juizados, porém, tem-se uma situação atípica, qual seja, não será possível
recorrer da decisão a respeito à desconsideração, diante da inaplicabilidade do
art. 1015 do CPC/2015.

Ainda sobre a aplicação subsidiária, não poderíamos deixar de mencionar os


arts. 294 e seguintes do CPC/2015, em que se tem a normatização das tutelas
provisórias, gênero que tem como espécies as tutelas de urgência (antecedente
ou incidente) e de evidência (apenas incidente). As tutelas de urgência,
genericamente falando, abrangem as medidas de natureza cautelar
(instrumental, isto é, não satisfativa) e antecipada (satisfativa), requeridas
anteriormente ao “processo principal” ou incidentemente. A tutela de evidência
tem sempre natureza antecipada (satisfativa) e somente pode ser requerida ao
longo da fase de conhecimento, no que se costuma denominar de “processo
principal”.

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Dito isso, é de se esclarecer que somente as tutelas provisórias incidentes são
aplicáveis ao procedimento sumariíssimo. As antecedentes são absolutamente
incompatíveis com os Juizados Especiais, por conta do procedimento próprio a
estes peculiar, não conciliável com a especialidade dos artigos 303 e 304 do
CPC/2015.

Por exemplo, na tutela antecipada de urgência antecedente, o demandante


limita-se a apresentar determinada petição inicial incompleta, sendo certo que,
uma vez deferida (a tutela), sua não impugnação provoca a estabilização. Ora,
nos Juizados não fazendários, em primeiro lugar, sequer cabe recurso contra
esta (ou qualquer outra) decisão interlocutória, o que geraria uma automática
estabilização. Ademais, no procedimento sumariíssimo, há um rito próprio, com
designação da audiência imediatamente após a propositura da ação, impedindo
a aplicação simultânea do previsto nos referidos artigos do CPC/2015 (303 e
304) e do previsto na Lei 9.099/95.

Quanto aos prazos processuais, por sua vez, é defendido na doutrina, que se se
considerar como compatível com o Sistema dos Juizados Especiais o art. 220 do
CPC/2015, que prevê a suspensão do curso dos prazos processuais entre os
dias 20 de dezembro a 20 de janeiro. DONIZETTI (2016, p. 796). No Estado do
Rio de Janeiro, porém, por Resolução (número 02/2016, do COJES), foi vedada
a aplicação. Igualmente, lê-se no ENUNCIADO 164 (XXXVIII FONAJE –
Novembro de 2015) que “o artigo 229, caput, do CPC/2015 não se aplica ao
Sistema de Juizados Especiais”.

Um excelente exemplo de eventual colisão e não aplicação é o que se dá em


relação ao art. 489 do CPC/2015, em relação ao qual há o ENUNCIADO 162
(XXXVIII FONAJE – Novembro de 2015): não se aplica ao Sistema dos Juizados
Especiais a regra do art. 489 do CPC/2015 diante da expressa previsão contida
no art. 38, caput, da Lei 9.099/95.

Por fim, sobre a mesma questão da subsidiária, lembremos do art. 292 do


CPC/2015, que estabelece a obrigatoriedade de se fixar a pretensão de
indenização por danos morais, que deve ser aliado à própria Lei 9.099/95,
segundo a qual não se pode admitir, a princípio, pedido genérico. Logo, pode-

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se defender, principalmente agora (pós novo CPC), a impossibilidade de se
deixar ao inteiro arbítrio do juiz tal fixação.

Aplicação subsidiária
É verdade que deporia contra essa aplicação subsidiária (do CPC) o fato de que
o Artigo 92 da Lei nº 9.099/1995 faz menção específica ao Código de Processo
Penal, citação não repetida em relação ao estatuto processual civil maior. Essa
opção legislativa, no entanto, não é tida por doutrina e jurisprudência como
suficiente a afastar sua aplicação – não apenas pela necessidade prática,
demonstrada ao longo dos anos, mas também porque o próprio legislador
parece ter se “retratado”, já que, no corpo da Lei nº 12.153/2009 (Artigo 27),
frisou, expressamente, a referida aplicação.

Carência de normas suprida


E diga-se mais: mesmo com o socorro do CPC, vimo-nos diante da carência de
normas supridas com regulamentações internas tal como as resoluções de
tribunas e conselhos (conforme exemplos dos quais trataremos mais adiante),
assim como os próprios enunciados do FONAJE e FONAJEF, utilizados também
neste curso como importantes fontes, tal como o fazem, a propósito, os juízos
singulares e turmas recursais.

Aspectos históricos absolutamente relevantes


Agora vamos entender como chegamos até essa complexa normatização! Você
já ouviu falar das small courts dos EUA?

Início da década de 80
No início da década de 80, o advogado e secretário executivo do Programa
Nacional da Desburocratização, João Piquet Carneiro, viajou aos Estados Unidos
(EUA), especificamente à Nova York, a fim de melhor conhecer as experiências
internacionais no tratamento de conflitos de baixo valor econômico.

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Juizados de pequenas causas de Nova York
Deparou-se, pois, com os juizados de pequenas causas de Nova York (small
claim court), criados para descongestionar o Poder Judiciário. Surpreendeu-se,
pelo número expressivo de processos julgados e de forma célere. Registra-se
na literatura que, em 1982, os referidos órgãos daquele país haviam julgado
70.000 casos, especificamente causas até US$ 1.000 (mil dólares).

Características principais das small courts


São características principais das small courts: cada juizado era presidido por
um juiz togado, com assistência de diversos árbitros escolhidos entre
advogados com ampla experiência profissional; apenas pessoas físicas, maiores
de 19 anos de idade, poderiam apresentar ações nos juizados; as pessoas
jurídicas somente poderiam figurar no polo passivo; a presença de advogado
era facultativa; a competência dos juizados era relativa; as decisões dos
árbitros eram irrecorríveis.

Elaboração do anteprojeto que deu ensejo à Lei nº 7.244/1984


Após a relatada viagem aos EUA, nomeou-se no Brasil uma comissão de juristas
responsável pela elaboração do anteprojeto que deu ensejo à Lei nº
7.244/1984, embrião do que hoje é a Lei nº 9.099/1995.

Ampliação do acesso à justiça


Não se discute, após se entender esse histórico e tudo o mais quanto se lê
neste material, serem os juizados especiais o produto de tensão existente entre
os interesses de ampliação do acesso à justiça e de desafogamento da máquina
judiciária. Simultaneamente, assegura-se o acesso ao Poder Judiciário para
solução de causas de menor complexidade de forma inteiramente gratuita em
1º grau de jurisdição, sem permissão de recursos à 2ª instância, com claro
incentivo à conciliação.

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Procedimento sumariíssimo
Como você já percebeu, um procedimento sumariíssimo não nos era estranho,
ou seja, não era algo novo no direito brasileiro.

Em 1988, portanto, já tínhamos a Lei nº 7.244/1984, propositalmente revogada


por ocasião da primeira lei (pós-1988) pertinente ao sistema de que estamos
tratando neste curso. E é fácil perceber por que o legislador constituinte, em
1988, estava evidentemente empenhado em desenvolver o procedimento até
então aplicado aos “juizados de pequenas causas”, por meio da criação de
órgãos especiais para
“causas de menor complexidade”.

A celeridade e a necessidade de instrumentos aptos a fortalecê-la constituíram


evidente preocupação, primeiramente, do legislador constituinte e, em seguida,
das leis ordinárias dele derivadas.

Efetivação de direitos
Você já teve ou conhece alguém que teve o dissabor (e, muitas vezes, ainda
está tendo) de aguardar anos (talvez, décadas) pela efetivação de direitos, os
quais, apesar de reconhecidos pelo legislador, parecem inalcançáveis?

A demora do processo jurisdicional sempre foi um entrave para a efetividade


dos direitos subjetivos (ou mesmo potestativos) dos jurisdicionados. Valendo-se
de importantes palavras de Marinoni, já que não tem sentido que o Estado
proíba a justiça de mão própria, mas não confira ao cidadão um meio adequado
e tempestivo para solução de seus conflitos e se o tempo do processo
configura, certamente, um prejuízo à parte que tenha razão, é certo que
quanto mais demorado for o processo civil, mais ele prejudicará alguns e
interessará a outros.

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Definitivamente, era preciso agir, não? Era preciso “construir” normas mais
complexas do que a Lei nº 7.244/1984 até então existente, ampliando o acesso
à justiça e sua democratização.

O sistema dos juizados especiais cíveis – características


fundamentais previstas na constituição
Nesse contexto e sob a influência dessas demandas e preocupações, impôs o
referido Artigo 98, I, CR/1988, as seguintes características a esses “órgãos
competentes para causas de menor complexidade”:

 Juízes togados, ou togados e leigos;


 Competentes para “causas de menor complexidade”;
 Procedimentos: oral e sumariíssimo;
 Permitindo-se recursos (apenas) para turmas de juízes “de primeiro
grau”.

Essas são quatro características fundamentais baseadas naquelas em que foram


construídas (ao menos se buscou construir) as leis ordinárias que cuidaram de
reger essa importante matéria. Precisamos entender, ainda que de forma
genérica, a pretensão do legislador constituinte de 1988. E o faremos
apresentando cada uma dessas características, conforme a seguir.

Juízes togados, ou togados e leigos


Essa é uma autorização ímpar no ordenamento jurídico brasileiro, qual seja,
permitir o julgamento por juízes “leigos”, os quais, verdadeiramente, leigos não
são, mas sim juízes não togados, cuja atuação é regulamentada, em primeiro
lugar, pelo legislador ordinário (Lei nº 9.099/1995) e regida e organizada por
cada Estado segundo suas normatizações próprias. Por exemplo, prevê o Artigo
7º da Lei nº 9.099/1995 que serão os leigos, preferencialmente, advogados de
mais de cinco anos de advocacia de experiência.

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A atuação de árbitros nas “pequenas cortes” dos EUA inspirou, certamente,
essa permissão constitucional relativamente diferenciada. Não absolutamente,
já que sabemos da competência constitucional do Poder Legislativo, por
exemplo, para exercer excepcionalmente a jurisdição, e, com isso, vemos a
atuação jurisdicional de não togados.

Assim como naquele país, os juízes togados aqui não são dispensados. Os
togados podem, naturalmente, exercer sua condução processual judicante
isoladamente (ainda que auxiliado pelos serventuários), enquanto os leigos
atuarão, necessariamente, com os togados, ou seja, sob sua “direção” e
“orientação”, segundo o que o legislador ordinário previsse.

Valemo-nos do Artigo 40 da Lei nº 9.099/1995, por meio do qual se percebe


que o juiz togado pode optar por não homologar a decisão do juiz leigo e:
• Proferir outra sentença, em substituição à do juiz leigo;
• Converter a homologação em diligência, determinando a
complementação de provas que reputar indispensáveis, proferindo-se,
em seguida, nova decisão.

Competentes para “causas de menor complexidade”


A competência para “causas de menor complexidade” consiste na característica
principal dessas “pequenas cortes” reforçadas pela carta de 1988. Veja só:

Lei nº 9.099/1995

Juizados especiais - A Lei nº 9.099/1995 chama-as de juizados especiais


fundamentalmente por conta da “menor complexidade” que tem íntima relação
com as demais características (ou mesmo poderíamos dizer ser sua causa).

Permite a atuação de juízes leigos - Permite-se a atuação de juízes leigos,


impõem-se procedimentos oral e sumariíssimo e mitigam-se os recursos, tudo
por conta, essencialmente, da menor complexidade que se instaura.

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Lei nº 7.244/1984

Critério único às “pequenas causas” - Afastando-se da essência da Lei nº


7.244/1984, não se limitou o legislador constituinte a ter como critério único as
“pequenas causas”. Ao falar em “menor complexidade”, abriu espaço para
“causas grandes”, ou seja, de grande valor, serem encaminhadas aos juizados,
desde que, por critérios razoavelmente objetivos, pudessem ser considerada
como de “menor complexidade”.

Menor complexidade - Quando falamos hoje em juizados especiais cíveis,


estamos falando da denominação dada pelo legislador ordinário (Lei nº
9.099/1995) aos órgãos para causas de “menor complexidade”, previstos pela
Constituição (Artigo 98, I), que são competentes para: “pequenas causas” de
“menor complexidade”, assim consideradas em função de seu valor, dentre
outros critérios que as enquadram como “menor”. Outras causas igualmente de
“menor complexidade”, por critérios razoavelmente objetivos, independente do
valor, ou seja, ainda que se tratem de “grandes causas”.

Causas de “menor complexidade”

Exemplo 1 - “Pequenas causas” de “menor complexidade”: ação de indenização


por danos morais, com pedido de condenação em valor de R$ 15.000,00
(quinze mil reais) proposta por pessoa física capaz em face de fornecedor que
incluiu seus dados em órgão restritivo de crédito, indevidamente. Nesse
exemplo, preocupou-se em limitar o valor, por ser esse um dos critérios. Mas
também se fazia necessário não violar as demais características impositivas da
“menor complexidade”.

Exemplo 2 - Outras causas igualmente de “menor complexidade”, independente


do valor: ação de ressarcimento por danos (cujos valores já estão liquidados)
causados em acidente de veículo de via terrestre, proposta por pessoa física
capaz que pede a condenação de outrem, responsável pela colisão, ao

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 15


pagamento de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), sendo certo que, para solução
da lide, não será necessária outra prova senão documental e oral. Outras
características devem ser observadas: não depender de perícia; não depender a
tutela de um procedimento especial e de observação obrigatória, como ocorre
com a ação de consignação em pagamento ou ação de prestação de contas.

Juizado de pequenas causas X juizados especiais cíveis

Artigo 24 - Para encerrar esse item, não poderíamos deixar de lembrar que,
nesse contexto, a Constituição da República, em seu Artigo 24, X, menciona o
que o dispositivo chama de juizado de pequenas causas, enquanto o Artigo 98,
I (da mesma carta), por sua vez, fala em juizados especiais cíveis.

Dicotomia “pequenas causas” x “menor complexidade” - O legislador ordinário,


por meio da Lei nº 9.099/1995, deixou evidente que seriam esses órgãos a
mesma coisa. Tratam-se do mesmo órgão, conclusão a que se chega ao se
perceber que a referida lei optou pela revogação (pura e simples) da Lei nº
7.244/1984. Criou-se um só órgão jurisdicional, chamado de juizado especial
cível, com competência para causas cíveis de pequeno valor e de menor
complexidade, independente do valor, como antes se disse.

Resumindo: Competentes para “causas de menor complexidade”


Vejamos, pois, o seguinte quadro conclusivo:

Artigos 24, X e 98, I, CRFB/1988


Juizados especiais cíveis, ou órgãos competentes para “causas de
menor complexidade”
“Lei geral” (Lei nº 9.099/1995)
“Menor complexidade” pelo valor “Menor complexidade” independente
do valor
Exemplo: Exemplo:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 16


Artigo 3º, I: causas até o equivalente Art. 3º, II: causas enumeradas no
a 40 (quarenta) salários mínimos art. 275, II, do antigo CPC/73 (que
permanece em vigor, para efeito da
Lei 9.099/95, assunto do qual já
vamos tratar novamente),
independente de seu valor.

Procedimentos: oral e sumariíssimo


É bastante relevante perceber a forma com que o legislador constituinte dispôs
a respeito: menciona duas características autônomas (portanto, distintas). O
procedimento deverá ser oral e sumariíssimo. Essas pessoas, ao se socorrerem
dos juizados, devem encontrar um processo em que vigore duas características
diferentes e marcantes:

Procedimento oral
Um modelo processual em que, além da simples prevalência da palavra falada
sobre a escrita, haja postulados em que o juiz dirigente do processo,
verdadeiramente, valha-se da simplicidade oriunda de sua utilização em
detrimento das formalidades dos registros escritos (ratio constituinte). O
processo oral não é, então, apenas um modelo de processo em que se usa
prevalentemente a palavra falada. Trata-se de um modelo processual que,
como ensinava Chiovenda, baseia-se em cinco postulados fundamentais:
• Prevalência da palavra falada sobre a escrita;
• Concentração dos atos processuais em audiência;
• Imediatidade entre o juiz e a fonte da prova oral;
• Identidade física do juiz;
• Irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias.

Procedimento sumariíssimo

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 17


Um procedimento mais célere do que o modelo já conhecido como “sumário”,
por isso, denominado de sumariíssimo. Esse procedimento necessita de uma
eliminação de determinados atos inerentes aos demais procedimentos e
concentração em atos que, verdadeiramente, devam existir para não ferirmos
as garantias constitucionais intransponíveis do processo.

É permitido a nós, intérpretes, compreender a vontade do legislador


constituinte: tornar a celeridade um ponto fundamental ao alcance dos
propósitos dos juizados, de aproximação do jurisdicionado do Estado-juiz,
elevação do acesso à justiça e ampliação da efetivação dos direitos cujas
causas sejam de “menor complexidade”. Essa celeridade, por sua vez, seria
alcançada, dentre outras causas, por meio da simplificação do procedimento,
especificamente, eliminando e concentrado atos.

Atenção
Não estamos aqui a dizer, portanto, que, no procedimento
sumariíssimo, prevalece a oralidade ou mesmo que isso significa a
preponderância da palavra falada sobre a escrita. A determinação
constitucional dá-se nos seguintes termos: são dois modelos
processuais que devem coexistir em prol de um benefício maior,
isto é, a elevação da efetivação de direitos por intermédio da
elevação do acesso à justiça àqueles cujas lides enquadrem-se
nas “causas de menor complexidade”.

Citemos passagem doutrinária histórica a respeito do tema:


acesso à justiça, longe de confundir-se com acesso ao judiciário,
significa algo mais profundo; pois importa no acesso ao justo
processo, como conjunto de garantias capaz de transformar o
mero procedimento em um processo tal, que viabilize, concreta e
efetivamente, a tutela jurisdicional.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 18


Exemplo de procedimentos sumariíssimo
Por exemplo, no momento da apresentação da demanda, já é designada a data
da audiência (da qual o autor já toma ciência) e, independente de autuação, já
são expedidos os documentos necessários à citação do réu. Isso não ocorre, de
fato, no Procedimento Sumário. Comparemos melhor, por exemplo, as
sequências do antigo procedimento sumário, de que tratava o art. 275, CPC
(revogado) e do sumariíssimo, ora sob estudo:

Ordinário Distribuição Designação Audiência de Respostas do Saneamento Instrução Sentença


da Ação da Audiência Conciliação Réu
de
Conciliação

SUMARIÍS- Distribuição Citação AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO, INSTRUÇÃO E JULGAMENTO:


-SIMO: da ação, já
com
designação
da data da A
C I J e
expedição
dos
documentos
necessários à
citação do
réu.
Tentativa de Apresentação da Instrução Sentença
conciliação contestação probatória

Observa-se, facilmente, que, enquanto no sumário, temos, de forma clara,


cinco ou seis momentos processuais distintos, separados, comumente, por
meses, no sumariíssimo, esses momentos são reduzidos a três, isto é, em
regra, a metade. E nem se está falando da celeridade gerada.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 19


Recursos permitidos (apenas) para turmas de juízes “de primeiro
grau”
Você verá como o legislador, seja o constituinte ou o ordinário, consegue
“enrolar-se” nas próprias palavras e induzir o leitor desatento a conclusões
absolutamente equivocadas.

Você tem dúvida de que “grau de jurisdição” não é sinônimo de “instância”?


Você tem dúvida de que, ao se julgar um recurso contra sentença, está sendo
exercido um segundo grau de jurisdição?

Você sabe, certamente, que não são sinônimos e que, ao se julgar um recurso
contra sentença, não se exerce um primeiro grau de jurisdição. Bem, vamos
entender por que foram relembrados os conceitos anteriormente. Estabelece-se
no Artigo 98, I, da carta de 1988 que eventual recurso que haja será
encaminhado a juízes “de primeiro grau”.

Já o Artigo 41 da Lei nº 9.099/1995, buscando atender à determinação


constitucional, estabeleceu, por sua vez, o cabimento de recurso “para o
próprio Juizado”, o qual será julgado por uma turma composta por três juízes
togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição. Afirma, por fim, o Artigo
46 da mesma Lei nº 9.099/1995 que existirá um julgamento em “segunda
instância”.

Diga-se, de imediato e ainda antes de se adequar as palavras mal utilizadas


pelo legislador, que os juizados, evidentemente, fazem parte da 1ª instância,
assim como os demais juízos singulares que compõem, regularmente, suas
respectivas justiças (Estadual e Federal). Também é fato que faz parte das
questões fundamentais dos juizados o não cabimento de recursos à 2ª
instância, consoante indubitável interpretação do Artigo 98, I, CRFB/1988.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 20


Percebe-se, portanto, que o recurso contra sentença, nos juizados, não é
julgado pelo “próprio juizado” e nem por uma “segunda instância”. Os
equívocos dos comandos legislativos acima, enfim, são notórios.

Dessa forma, o primeiro grau de jurisdição está intimamente vinculado à


competência originária exercida no caso sob análise, seja em 1ª ou 2ª
instância. O segundo grau de jurisdição estará presente se o órgão jurisdicional
(independente da instância, diga-se novamente) estiver, no caso sob análise
(frise-se, também), julgando determinado recurso (classificado como ordinário),
principalmente contra sentença.

Atenção
Certamente, “grau de jurisdição” e “instância” não se confundem.
Enquanto o primeiro está relacionado com a função exercida,
especificamente, no caso sob análise, o segundo caracteriza uma
“divisão” (ou “classificação”) naturalmente (portanto,
previamente) estabelecida entre os órgãos jurisdicionais, segundo
a atividade que, em regra, prestam.

Por tudo isso, não podemos confundir:

• Ao se propor a ação pelo procedimento sumariíssimo, esta


é dirigida à 1ª instância (como parte da Justiça Estadual ou
Federal, mas não do respectivo tribunal);
• O recurso contra a respectiva sentença (ou, ainda, nos
casos específicos de recurso contra decisões
interlocutórias, previstos nas Leis nº 10.259/2001 e nº
12.153/2009) não é direcionado à 2ª instância, pois a
competência do tribunal, no procedimento sumariíssimo,
não é admitida, consoante pacífica interpretação do Artigo
98, I,CRFB/1988;

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 21


• São julgados, precisamente, esses recursos, portanto,
pelas chamadas turmas recursais, compostas de três
juízes, os quais, contudo, não atuam em 1º grau, mas sim
em evidente 2º grau de jurisdição.

Atividade proposta
O sistema dos juizados tem um procedimento diferenciado segundo
características próprias impostas pelo legislador ordinário, as quais, certamente,
se por um lado são capazes de ampliar o acesso à justiça e a celeridade, podem
comprometer a segurança jurídica, diante de decisões construídas em uma
relação jurídica processual cujo contraditório e ampla defesa foram mitigados.
Disserte a respeito desse confronto, apresentando elementos que demonstrem
essa mitigação e conclua a respeito de eventual inconstitucionalidade das Leis
nº 10.259/2001 e nº 12.153/2009 ao determinarem a competência absoluta
dos juizados de que tratam.

Chave de resposta: A busca incessante por economia e celeridade cria,


justamente, um conflito objeto do enunciado, qual seja, entre o acesso e
democratização da justiça gerados pelos juizados e o eventual
comprometimento da segurança jurídica em razão de uma possível exacerbada
simplificação existente em seu procedimento, o que se agrava quando
lembramos que, nos juizados estaduais fazendários e federais, sua
competência, por lei, é absoluta.

Veja o que se espera de um pós-graduado.


Espera-se do pós-graduando que passe e contra-argumente os fundamentos
abaixo, retirados da obra de importante doutrinador carioca Alexandre Freitas
Câmara (2012, p. 19-21), Juizados especiais cíveis estaduais federais e da
fazenda pública: uma abordagem crítica:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 22


 O caráter obrigatório dos juizados de natureza fazendário seria
inconstitucional, por se tratar de um sistema processual capaz de produzir
resultados inaceitáveis.
 No curso que se desenvolve perante os juizados especiais cíveis não cabe
recurso especial, o que significa dizer que, embora os juizados apliquem a
legislação federal, suas decisões não se submetem ao controle do STJ.
 As decisões de mérito transitadas em julgado, proferidas pelos juizados
especiais cíveis, não ficam sujeitas à ação rescisória.
 Nos processos que tramitam pelos juizados, cada parte só pode arrolar três
testemunhas.

O doutrinador em questão ainda defende:

(...) Casos outros há, porém, em que não há qualquer


peculiaridade no direito material capaz de justificar a
criação de procedimentos diferenciados para prestação da
tutela jurisdicional. Nesses casos são razões de política
legislativa que levam à criação desses modelos
diferencias, considerando o legislador que determinada
hipótese, embora pudesse ser tratada pelas vias
ordinárias, merece tratamento diferenciado. É o que se
dá, por exemplo, no procedimento monitório ou no
mandado de sentença. Os casos que se submetem a essas
vias processuais também poderiam ser deduzidas pelas
vias ordinárias. Pareceu ao legislador, porém, que valia a
pena estabelecer mecanismos de tratamento diferenciado,
capaz de permitir a obtenção de tutela jurisdicional mais
rapidamente, ou de forma mais eficaz, através de
procedimentos diferenciados.

(...) Nos casos em que a prestação da tutela jurisdicional


se dá de modo diferenciado por razões de direito material,
só através do meio diferenciado será possível prestar a

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 23


tutela jurisdicional ao titular do direito. De outro lado,
quando se está diante de uma hipótese em que a
prestação da tutela jurisdicional se dá de modo
diferenciado por razões políticas, e não por conta das
peculiaridades do direito material, a tutela jurisdicional –
que poderia ser também obtida pelas vias ordinárias e via
diferenciada – está posta no sistema à disposição do
demandante como opção, podendo ele escolher entre a
via ordinária e a via diferenciada.

(...) Ainda durante a vacatio legis, em Congresso


destinado exclusivamente ao estudo da Lei 9.099/95, tive
a honra de participar de um painel dedicado ao exame dos
Juizados Especiais Cíveis, composto também pelos
professores Gustavo Tepedino, Paculo Cezar Pinheiro
Carneiro, Helcio Alves de Assumpção, Luiz Felipe Salomão
e Dilson Neves Chagas, em que sustentei o caráter
opcional dos juizados especiais. (...) Posteriormente,
vários outros autores se manifestaram no mesmo sentido,
entre os quais Candido Rangel Dinamarco, Athos Gusmão
Carneiro e José Eduardo Carreira Alvim. (...)

Os argumentos em questão são bastante coerentes e, de fato, chamam a


atenção para a realidade segundo a qual o procedimento sumariíssimo tem
seus benefícios, aos quais, contudo, contrapõem-se tanto à queda de
rendimento quanto à qualidade das decisões e, consequentemente, do justo
processo.

Porém, devemos saber (ainda que seja, eventualmente, para discordar) que a
ordem jurídica, considerada como um todo, e os tribunais superiores estão
dando legitimidade cada vez mais a instrumentos que sumarizam os processos
em prol da celeridade e tempestividade, ainda que em detrimento da segurança
jurídica (mesmo porque a própria ordem jurídica e os tribunais não concordam
que essa segurança estaria prejudicada).

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 24


Assim, o que se pode concluir é que, ao aplicar a razoabilidade a fim de se
decidir a respeito de confrontos como esse (entre a apreciação jurisdicional
célere e devida apreciação), o STF, por exemplo, e os próprios juristas
responsáveis pelos últimos projetos de lei destinados às reformas processuais
(incluindo o projeto de novo Código de Processo Civil) têm evidenciado que
aproximar o jurisdicionado do Judiciário, abrindo-lhe mais (e não,
necessariamente, melhor) as portas, bem como torná-lo capaz de julgar mais
processos (e mais uma vez: não, necessariamente, melhor) são as demandas a
serem satisfeitas, ainda que, eventualmente, com algum comprometimento da
devida (justa) apreciação dessas matérias.

Fiquemos, para encerrar, com os seguintes exemplos do estatuto processual


maior (Código de Processo Civil): art. 332, art. e 932.

Referências
CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados especiais cíveis estaduais federais e
da fazenda pública: uma abordagem crítica. 7ª ed. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2012.
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo:
Atlas, 2015.
CUNHA, Luciana Gross. Juizado especial: criação, instalação, funcionamento
e democratização do acesso à justiça. São Paulo: Saraiva, 2009.
DIDIER JUNIOR, Fred. Curso de Direito Processual Civil, 17 ed. v.1.
Salvador: Jus Podium, 2015.
DIDIER JUNIOR, Fred, BRAGA, Paula Sarmo, OLIVEIRA, Rafael Alexandria.
Curso de Direito Processual Civil, 11 ed. v.2. Salvador: Jus Podium, 2016.
DIDIER JUNIOR, Fred, CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito
Processual Civil, 13 ed. v.3. Salvador: Jus Podium, 2016.
DONIZETTI, Elpidio. Curso didático de direito processual civil. 19 ed. São
Paulo: Atlas, 2016.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 25


FLEXA, Alexandre, MACEDO, Daniel, BASTOS, Fabrício. Novo Código de
Processo Civil – temas inéditos, mudanças e supressões.2 ed. Salvador:
Jus Podium, 2016.
FONAJE. [Site do Fórum Nacional de Juizados Especiais. Apresenta
conteúdo sobre serviços judiciários prestados em Juizados Especiais].
Disponível em: <http://www.fonaje.org.br>. Acesso em: 29 ago. 2014.
MARINONI, Luiz Guilherme Bittencourt. O custo e o tempo do processo civil
brasileiro. Porto Alegre: Síntese, 2002.
PINHO. Humberto Dalla Bernadina de Pinho. Direito processual civil
contemporâneo – teoria geral do processo. 6 ed. São Paulo: Saraiva,
2016.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56 ed.
Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2015.
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 50 ed.
Vol. II. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
WATANABE, Kazuo (Coord.). Juizado especial de pequenas causas. São
Paulo: RT, 1985.
XAVIER, Flavia da Silva; SAVARIS, José Antonio. Manual dos recursos nos
juizados especiais federais. 2ª ed. Curitiba: Juruá, 2011.

Exercícios de fixação
Questão 1

Segundo o art. 98, I, da Constituição da República de 1988, a União, no Distrito


Federal criará juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e
leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas
cíveis de menor complexidade, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo.
Logo:

a) O legislador constituinte originário (portanto, em 1988) já autorizava a


União a criar seus juizados especiais federais. O legislador ordinário, por
conveniência sua, criou-os apenas em 2001, por meio da Lei
10.259/2001.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 26


b) Ainda que determine o referido dispositivo que a competência seja para
a conciliação e execução de causas cíveis de menor complexidade, seria
possível ao juiz homologar acordo em valor equivalente a 80 (oitenta)
salários mínimo e a execução ocorreria no próprio juizado.

c) As causas de menor complexidade são todas aquelas cujo valor não


exceda a 40 (quarenta) salários mínimos.

d) Para que um procedimento seja considerado como oral, basta que


prevaleça a palavra falada sobre a escrita.

Questão 2

Clara, pessoa física capaz, propôs ação de indenização por danos morais, no
valor equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos, em face de Cristano,
pessoa física igualmente capaz, perante o juizado especial cível estadual (não
fazendário). Considerando-se o exposto, e eventuais alterações mencionadas
nas respectivas questões, responda: caso a referida ação fosse proposta
perante a Vara Cível do foro do domicílio do Réu, qual seria a resposta correta?

I. O juiz deveria declinar da competência para o competente juizado especial


cível, considerando-se os termos do art. 98, I, da CRFB/1988, já que a causa
está dentro do teto do procedimento sumariíssimo.

II. O juiz deveria suspender o processo, dando prazo ao autor para que
optasse, expressamente, em prosseguir pelo procedimento comum ou desistir
da ação para, em seguida, propô-la perante o juizado especial cível
competente.

III. O juiz deveria extinguir o processo, proferindo-se sentença sem resolução


de mérito, considerando-se a competência absoluta dos juizados.

a) É verdadeira apenas a assertiva I

b) É verdadeira apenas a assertiva II

c) É verdadeira apenas a assertiva III

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 27


d) São todas incorretas

Questão 3

Clara, pessoa física capaz, propôs ação de indenização por danos morais, no
valor equivalente a 40 (quarenta) salários mínimos, em face de Cristano,
pessoa física igualmente capaz, perante o juizado especial cível estadual (não
fazendário). Considerando-se o exposto, e eventuais alterações mencionadas
nas respectivas questões, responda: tivesse a referida ação valor de causa de
60 (sessenta) salários mínimos (e não 40 salários mínimos, como dito no
enunciado), qual seria a resposta correta?

a) O juiz (do juizado) poderia condenar o réu em valor até o equivalente a


60 (sessenta) salários mínimos, já que a Lei nº 10.259/2001 alterou a Lei
nº 9.099/1995, por lhe ser posterior e tratar da mesma matéria.

b) O juiz deveria indeferir a petição inicial, por incompetência do juizado


especial cível, na forma dos artigos 3º, I e 51, II, ambos da Lei nº
9.099/1995.

c) A audiência de conciliação, instrução e julgamento deveria ser


designada, regularmente, considerando-se a possibilidade de transação
em valor superior ao do teto, como também pelo fato de que o valor que
exceder ao teto (de 40 salários mínimos) é passível de renúncia.

d) O juiz deveria declinar da competência para a Vara Cível ou órgão


equivalente competente, a fim de que ação prossiga pelo procedimento
comum.

Questão 4

Entre as Leis nº 8.078/1990 (art. 90) e 7.347/1985 (art. 21) forma-se,


efetivamente, um microssistema. Considerando-se que essa assertiva seja
verdadeira, opte pela alternativa correta:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 28


a) Segundo o entendimento doutrinário e jurisprudencial predominante, isso
não se repete no sistema dos juizados, o que se demonstra, por
exemplo, por se ter mantido a competência dos juizados estaduais não
fazendários em causas até 40 (quarenta) salários mínimos.

b) É, exatamente, o que ocorre entre as três leis dos juizados (9.099/1995,


10.259/2001 e 12.153/2009), o que se considera bastante justo, já que
as leis posteriores têm redações muito mais apropriadas ao moderno
processo civil.

c) Pelas mesmas razões do enunciado, pode-se dizer que existe um


Estatuto dos juizados formado, exatamente, por suas três Leis
(9.099/1995, 10.259/2001 e 12.153/2009).

d) A ação civil pública objeto do estatuto dos processos coletivos formado


pelas leis mencionadas no enunciado é cabível perante os juizados.

Questão 5

Comparando-se os juizados especiais cíveis atuais (estaduais não fazendários)


brasileiros e as small courts dos EUA, podem ser identificadas as seguintes
características em comum, exceto:

I - A competência de natureza relativa.

II - A presença de advogado, em regra, não obrigatória.

III - A capacidade de ser parte autora exclusive de pessoas físicas.

Opte pela alternativa correta:

a) Somente a assertiva I possui característica distinta entre ambos os


países.

b) Somente a assertiva II possui característica distinta entre ambos os


países.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 29


c) Somente a assertiva III possui característica distinta entre ambos os
países.

d) Em todas as assertivas, as características são iguais em ambos os países.

Questão 6

Foi proposta ação de cobrança no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), de que é


autora determinada empresa (S/A), que teve como faturamento no último ano
valor superior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), tendo como ré
pessoa física capaz. A ação seguiu pelo procedimento sumário.

Considerando-se o exposto, e eventuais alterações mencionadas nas


respectivas questões, responda: entre o procedimento pelo qual tramita a ação
do enunciado e o procedimento sumariíssimo, temos em comum:

a) São competentes para julgar a causa juízes togados ou togados e leigos.

b) Todas as decisões proferidas hão de ser, invariavelmente,


fundamentadas.

c) Prevalece, em ambos os procedimentos, a palavra falada sobre a escrita.

d) Não é possível recorrer das decisões interlocutórias, em separado.

Questão 7

Foi proposta ação de cobrança no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), de que é


autora determinada empresa (S/A), que teve como faturamento no último ano
valor superior a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais), tendo como ré
pessoa física capaz. A ação seguiu pelo procedimento sumário.

Considere que a ação narrada no enunciado houvesse sido proposta perante o


Juizado Especial Cível estadual não fazendário. Logo:

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 30


a) O juiz deveria indeferir a petição inicial, por incompetência do juizado
especial cível, na forma dos artigos 3º, I e 51, II, ambos da Lei nº
9.099/1995.

b) A audiência de conciliação, instrução e julgamento deveria ser


designada, regularmente, considerando-se a possibilidade de transação
entre as referidas partes, mesmo nos juizados.

c) O juiz deveria declinar da competência para a Vara Cível ou órgão


equivalente competente, a fim de que a ação prossiga pelo procedimento
comum.

d) O juiz deveria proferir a chamada "sentença liminar de improcedência",


na forma do art. 332, do CPC/2015, considerando-se que a pessoa
jurídica em questão não poderia ser autora nos juizados.

Questão 8

Em ação pelo procedimento sumariíssimo, os pedidos foram acolhidos e contra


essa decisão foi interposto recurso, julgado pelo colegiado competente. Logo:

1. O recurso em questão é julgado em 2ª instância, tal como diz o art. 46 da


Lei nº 9.099/1995.

2. O recurso em questão é julgado por juízes em exercício em 1º grau de


jurisdição, tal como diz o art 98, I da Constituição de 1988.

3. Contra essa decisão, na verdade, não cabia recurso, razão pela qual sequer
deveria ter sido recebido.

a) Somente a assertiva I está correta

b) Somente a assertiva II está correta

c) Somente a assertiva II está correta

d) Nenhuma está correta

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 31


Questão 9

Foi movida ação de indenização decorrente de acidente de veículo terrestre em


sede de juizado especial cível estadual não fazendário, em que se pede o valor
equivalente a 90 salários mínimos. Trata-se de lide entre pessoas físicas e
capazes. Logo, é possível afirmar:

1. Essa ação é considerada, em princípio, como “de menor complexidade”, não


obstante não se tratar de uma “pequena causa”.

2. Essa ação apenas não será considerada como “de menor complexidade”,
caso tenha alguma característica que a exclua da competência dos juizados,
como, por exemplo, necessidade de perícia complexa.

3. Essa ação poderia ter sido ajuizada valendo-se o autor do procedimento


sumário.

Diante do exposto, é possível afirmar que:

a) Todas estão corretas

b) Apenas I e II estão corretas

c) Apenas II e III estão corretas

d) Apenas I e III estão corretas

Questão 10

Viu-se nesta aula que se permite julgamento por árbitros. A respeito da


arbitragem e os juizados é possível afirmar, exceto:

a) Não obstante a Lei nº 9.099/1995 permitir recurso contra a sentença e


contra as sentenças que homologam o laudo arbitral, não é cabível
recurso.

b) Não obstante a lei de arbitragem (Lei nº 9.307/1996) estabelecer que a


decisão do árbitro não está sujeita à homologação do juiz togado, como
também não obstante ser uma lei especial e posterior à Lei nº
9.099/1995, é necessário, nos juizados, a homologação em questão.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 32


c) Respeitando-se o que determina a lei de arbitragem (Lei nº 9.307/1996),
os árbitros são escolhidos, livremente, pelos litigantes, entre pessoas
capazes e de sua confiança.

d) O juiz, assim como o arbitro, pode adotar a decisão que reputar mais
justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e às exigências do
bem comum.

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 33


Anteprojeto: Watanabe, um dos autores do refeito anteprojeto, frisou
naquela oportunidade (inicio da década de 1980) que a ideia da criação dos
juizados em questão estaria ligada, especialmente, ao que ele próprio
denominou de litigiosidade contida, ou seja, o fato de que muitos conflitos
sociais não seriam resolvidos de forma satisfatória, por não serem
encontradas no Judiciário respostas eficazes ou por simplesmente não se ter
acesso ao Judiciário – pela renúncia total ao direito pelo prejudicado
(principalmente por conta da crença de que a justiça seja lenta, cara,
complicada e, por isso, além de dificil, ser inútil ir ao Judiciário em busca da
tutela do direito). Oportunamente, lembra-se da exposição de motivos da
referida lei, segundo a qual o sistema teria como público-alvo o cidadão
comum, na solução dos conflitos de reduzido valor econômico, que, pelos
altos custos da demanda, lentidão e quase certeza da inviabilidade ou
inutilidade do ingresso em juízo, deixava de ingressar no Judiciário.

Aplicação: Pensou o legislador na efetividade prática de seu incentivo à


conciliação (um dos princípios tratados no item anterior), de forma que o
consensualismo superaria a necessidade de um aprofundamento
procedimental pelas leis sob estudo. A realidade demonstrou-se diferente. A
concentração de atos em audiência, seguida da composição amigável nem
sempre se faz presente, principalmente nos processos que tramitam perante
os juizados fazendários (lato), cujo polo passivo não tem essa prática como
hábito, ainda que, legalmente, nesse caso, pudesse fazê-lo. Leia-se, a
propósito, obra de Xavier e Savaris (2011, p. 38): a partir da leitura de seu
trabalho, pode ser observado como os quase 20 anos da publicação da Lei nº
9.099/1995 deixaram claro que ela e as duas outras (principais) que a
complementaram (10.259/2001 e 12.153/2009) são insuficientes para
regulamentar todo o procedimento sumariíssimo, tornando-se essencial o
socorro do Código de Processo Civil, sob pena de se dar oportunidade a uma
instabilidade procedimental gerada pela aplicação desenfreada de

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 34


mecanismos diversos frutos da criatividade individual de cada magistrado que
se veja diante de uma ação perante esse importante “órgão competente para
causas de menor complexidade”.

Art. 27: Aplica-se, subsidiariamente, o disposto nas Leis nº 5.869, de 11 de


janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), nº 9.099, de 26 de setembro de
1995 e nº 10.259, de 12 de julho de 2001.

Juizados de pequenas causas: Em 1981, o Ministério da


Desburocratização formou uma comissão para discutir a criação dos juizados
especiais, inicialmente denominados de “pequenas causas”. Foi presidida por
João Carneiro e constituída por Kazuo Watanabe, Candido Rangel Dinamarco
e Ada Pellegrini Grinover, dentre outros. O grupo tinha a tarefa de elaborar o
anteprojeto de lei dos referidos juizados, que recebeu, posteriormente, o
número de 1.950/1983.
Em agosto de 1983, foi encaminhado ao Congreso Nacional o referido projeto
e sua respectiva justificativa elaborada pelo ministro Hélio Beltrão. Durante
sua tramitação, não houve mudanças significativas no texto, cuja aprovação
na Câmara e no Senado foi sancionada pelo Presidente da República em
novembro de 1984, dando ensejo à Lei nº 7.244/1984, que já tinha as
seguintes características marcantes enfatizadas, inclusive, em sua exposição
de motivos: (i) início do procedimento por meio de apresentação de pedido
escrito ou oral; (ii) descabimento de intervenção de terceiros, inclusive
assistência; (iii) facultatividade de opção pelo rito; (iv) a busca permanente
de conciliação; (v) a simplicidade, informalidade, oralidade, economia
processual, celeridade e a amplitude dos poderes do juiz.

Lei nº 9.099/1995: Não se apresentava como suficientemente preparada a


regulamentar o procedimento sumariíssimo de que pudesse participar a
fazenda pública como parte. Ao contrário, veda, como se vê, por exemplo,
em seu art. 8º, as pessoas jurídicas de direito público e as empresas públicas
da União. Em parte, suas limitações vinham do próprio comando

NOVOS INSTRUMENTOS PROCESSUAIS 35


constitucional originário, não autorizador, em princípio, de juizados especiais
no âmbito da Justiça Federal.

Microssistema: Defende Alexandre Freitas Câmara (2012, p. 4) que, ao


sentir dele, elas formam entre si um só estatuto, ou seja, um microssistema.
Veja-se: “É certo por um lado, que a Lei dos Juizados Federais afirma,
expressamente, que a Lei dos juizados estaduais lhe é subsidiariamente
aplicável. A recíproca, porém, embora não esteja expressa, também é
verdadeira. Não há qualquer razão para que não se possa aplicar nos
juizados estaduais as conquistas e inovações contidas na Lei dos Juizados
Federais, sempre que entre os dois diplomas não haja qualquer
incompatibilidade (...)”. Por exemplo, fosse um microssistema, a competência
dos juizados especiais cíveis comuns, regulamentados, primeiramente, pela
Lei nº 9.099/1995, teria sido elevada a causas cujo valor não ultrapassassem
60 (sessenta) salários mínimos, como também seria de natureza absoluta.
Não é verdade uma afirmação nem a outra. Veja-se, a propósito, o:
“Enunciado 133 do FONAJE – O valor de alçada de 60 salários mínimos
previsto no artigo 2º da Lei 12.153/09, não se aplica aos Juizados Especiais
Cíveis, cujo limite permanece em 40 salários mínimos (XXVII Encontro –
Palmas/TO)”.

Parágrafo: Inicialmente, “único”; posteriormente a Emenda Constitucional


45/2004 criou o parágrafo 2º, o que o fez se tornar, naturalmente, um
“parágrafo 1º”.

Retratado: O termo, obviamente, está sendo utilizado de maneira informal,


para demonstrar que, entre as Leis nº 9.099/1995 e nº 12.153/2009, parece
ter ocorrido uma evidente evolução, já que, inicialmente, não se viu a
necessidade de menção do CPC, expressamente, ao passo que, 14 anos
depois, com a experiência de todo esse período, percebeu-se a
essencialidade de sua aplicação.

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Sumariíssimo: A palavra tem, de fato, duas vogais “i”, segundo a norma
padrão da língua portuguesa, por se tratar do superlativo de sumário,
exatamente como foi previsto (e escrito) pelo legislador constituinte.

Turmas recursais: Seguem três bons exemplos ilustrados com o CPC e com
enunciados do FONAJE:
I. Aplicação da tutela de urgência, seja de natureza antecipada ou cautelar,
desde que incidental. Respeito, por exemplo, aos arts. 294 e seguintes (CPC)
(exceto os instrumentos precedentes, que não são aplicáveis, como a tutela
antecipada antecedente), considerando-se as necessidades do direito
material, cujos titulares, muitas vezes, não dispõem de semanas ou meses
(eventualmente, nem mesmo de dias) a espera da audiência designada,
como é caso de antecipação de tutela relativa à saúde (para impor, por
exemplo, uma obrigação de fazer à determinada seguradora de saúde e/ou
hospital de autorização e realização de uma cirurgia absolutamente essencial
à vida do paciente-demandante);
II. Permissão de julgamentos monocráticos, nas turmas recursais, de recurso
interposto contra sentença, em aplicação subsidiária do art. 932 (CPC), ao
menos na parte em que permite (e em que termos permite) essa espécie de
decisão – vê-se total adequação dessa possibilidade com os princípios
norteadores, por simplificar e agilizar o trâmite recursal;
III. Aplicação do prazo de 15 dias para pagamento da obrigação de pagar
estipulada em sentença, assim como todo o caput (pelo menos) do art. 523
(CPC), que também estipula a multa de 10 %, caso seja ele (prazo)
desrespeitado.

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Aula 1
Exercícios de fixação
Questão 1 - B
Justificativa: Cada alternativa se justifica pelo seguinte:
Apenas após a Emenda Constitucional número 22, de 2009, autorizou-se a
União a criar, no âmbito da Justiça Federal, os respectivos juizados especiais,
denominados, então, de juizados especiais federais.
Sim, devidamente autorizado pelo art. 57 da Lei nº 9.099/1995.
Como se viu ao longo da Aula, temos as causas de menor complexidade
segundo valor e aquelas que o são segundo outros critérios por conveniência
do Legislador, como as causas mencionadas no (revogado) art. 275, II, do
antigo CPC (o novo CPC prevê um (único) procedimento comum, sem a atual
divisão em ordinário e sumário).
Vivemos, segundo a determinação constitucional, um verdadeiro modelo oral de
processo, o que significa, além da prevalência da palavra falada sobre a escrita,
outras características, como a imediatidade do juiz e a irrecorribilidade das
decisões interlocutórias em separado.

Questão 2 - D
Justificativa: Seguindo o que já dispunha a Lei nº 7.244/1984, bem como o
próprio modelo previsto nos EUA, a competência dos juizados especiais cíveis
estaduais não fazendários é relativa. É, portanto, opção do demandante valer-
se dele ou, se preferir, utilizar o procedimento comum. E, se assim preferir
(valer-se do procedimento comum), nada poderá o juiz fazer, senão permitir
que o processo prossiga, regularmente, desde que, evidentemente, preencha
os requisitos processuais conhecidos, como condições da ação e pressupostos.

Questão 3 - C

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Justificativa: Considerando-se os artigos 3º e 57 da Lei nº 9.099/1995, existe,
de fato, a possibilidade de transação, bem como de renúncia, caso não haja a
transação. Logo, não há porque proferir-se sentença liminarmente.

Questão 4 - A
Justificativa: Não há esse microssistema, como apresentado, pela simples razão
de que não existe a reciprocidade de mão dupla prevista no estado dos
processos coletivos. É o que se vê no Enunciado 133 do FONAJE (o valor de
alçada de 60 salários mínimos previsto no artigo 2º da Lei nº 12.153/2009 não
se aplica aos juizados especiais cíveis, cujo limite permanece em 40 salários
mínimos (XXVII Encontro – Palmas/TO).

Questão 5 - C
Justificativa: Nos EUA, apenas pessoas físicas capazes poderiam propor ação
nos órgãos competentes para “pequenas causas”, enquanto nos juizados atuais
determinadas pessoas jurídicas, como microempresas, podem ser autoras, o
que foi feito, justamente, com o propósito de ampliar o acesso à justiça por
intermédio do procedimento sumariíssimo.

Questão 6 - B
Justificativa: A característica presente na alínea B é uma das garantias
constitucionais fundamentais do processo, presente no art. 93, IX, da
CRFB/1988 e, portanto, presente em ambos os procedimentos.
Todas as outras são características apenas do procedimento sumariíssimo.

Questão 7 - A
Justificativa: A possibilidade de transação não ultrapassa questões processuais
de ordem pública, tal como a capacidade. Somente as pessoas físicas capazes e
as jurídicas exclusivamente mencionadas no art. 8º da Lei nº 9.099/1995
podem ser autoras, fato que, se desrespeitado, impõe ao juiz que profira
sentença na forma do art. 51, inciso II, da mesma lei.

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Questão 8 - D
Justificativa: Como vimos em nossa aula, e pelas razões nela expostas, não há
atuação da 2ª instância, em sede de juizados, sendo certo que os recursos
contra as sentenças (e as decisões de tutela de urgência, nos juizados de
natureza fazendária) são encaminhados a órgãos colegiados de 1ª instância,
mas em 2º grau de jurisdição, pela competência recursal exercida.

Questão 9 - A
Justificativa: Aprendemos nesta aula que as causas são de “menor
complexidade” segundo seu valor e também outros critérios definidos pelo
legislador, como as ações de despejo para uso próprio e as ações mencionadas
no (revogado) art. 275, II, do CPC (sem correspondente no CPC/2015). Assim,
independente do valor, como a lide mencionada no enunciado encontra-se no
art. 3º da Lei 9.099/1995, é considerada como de “menor complexidade” e,
facultativamente, pode ser apresentada ao juizado competente.

Questão 10 - C
Justificativa: Respeita-se o Enunciado 7 do FONAJE (XXXIV ENCONTRO),
segundo o qual a sentença que homologa o laudo arbitral é irrecorrível.
Também é verdade que se deve respeitar, quanto à escolha dos árbitros, o que
dispõe a Lei nº 9.099/1995 e não a Lei nº 9.307/1996, segundo entendimento
doutrinário e jurisprudencial a respeito da matéria. Segundo a Lei nº
9.099/1995 (art. 24), o árbitro será escolhido entre os juízes leigos.

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