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Da propriedade privada imobiliária, seus contornos
constitucionais e sua múltipla funcionalidade
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Introdução
A propriedade imobiliária pode ser observada, sob a ótica da evolução sistêmica, como
um direito que surgiu em face de decisões que foram sendo tomadas e comunicadas ao
longo do tempo, sem que se seja possível estabelecer, a priori, o momento em que teve
início o processo histórico de juridicização da apropriação da terra, transformando-a no
direito de propriedade. Todavia, é possível especular que desde a época Neolítica o
homem, ao se fixar na terra, começa o processo de apropriação, porque isso era a
condição necessária para a construção das primeiras moradias permanentes.
Que todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes, e têm
certos direitos inatos, dos quais, quando entram em estado de sociedade, não podem
por qualquer acordo privar ou despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da
liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de buscar e obter
felicidade e segurança.
Além disso, de acordo com a Constituição, as diretrizes da ordem econômica têm três de
seus pilares fundados na propriedade privada, que são as funções social, econômica e
ambiental. Esta última corroborada com o direito fundamental ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, como bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, o que impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações, o que pode levar a uma dedução
hipotética no sentido de que a propriedade imobiliária no Brasil é multifuncional,
destacando-se as funções econômica, social e ambiental.
Esses efeitos são comandos que se conectam com outros títulos e capítulos da
Constituição, em especial a ordem econômica e financeira, no âmbito da qual estão
compreendidos, entre outros, os títulos atinentes às políticas urbana, agrícola e fundiária
e da reforma agrária, assim como o capítulo que trata do meio ambiente. Portanto, a
funcionalidade do direito de propriedade está condicionada por um conjunto de princípios
e valores finalísticos, definidos pelo texto constitucional. Instaurou-se, portanto, uma
nova ordem política e jurídica, concebida numa perspectiva democrática e com forte
conotação social, ao colocar o homem na posição de centralidade, assegurando-lhe
direitos e garantias fundamentais.
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Ainda que o direito de propriedade possa ser considerado como um direito excludente,
porque assegura ao seu titular direitos de defesa e, além disso, exclui os não
proprietários de sua apropriação legítima, certo é que a finalidade da propriedade não
pode ficar restrita aos interesses puramente privados. A função social representa a
contrapartida que o proprietário deve outorgar em face da sociedade em razão da
apropriação privada de um bem finito, por isso o Estado pode intervir no
condicionamento do exercício do direito de propriedade sempre que o interesse público
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justifique, nos termos da lei e do Direito .
Mas afinal, o que vem a ser a função social da propriedade e qual é o seu fundamento? A
função social da propriedade é a teleologia constitucional condicionante do exercício do
direito de propriedade, no âmbito de suas faculdades de usar, gozar, dispor e reaver. E,
neste aspecto, se por um lado, é garantido o direito de propriedade, por outro, o
conteúdo e o exercício do direito de propriedade estão condicionados ao atendimento de
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constitucionais e sua múltipla funcionalidade
A propriedade urbana cumpre sua função social somente quando atender às exigências
fundamentais de ordenação da cidade previstas no plano diretor, o qual deve ser
elaborado democraticamente por cada município, em sintonia com os vetores
constitucionais e, em caso de não cumprimento da função social, é facultado aos
municípios, sempre mediante lei específica para a área incluída no plano diretor, exigir,
nos termos do Estatuto da Cidade, do proprietário de solo urbano não edificado,
subutilizado ou não utilizado, que promova a função social, por meio de seu adequado
aproveitamento.
Além das funções social e econômica, a propriedade privada também possui uma função
ambiental, que muitas vezes vem associada à noção de função social, sob a
denominação de “função socioambiental” da propriedade, como se traduzissem o mesmo
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significado . Trata-se, contudo, do encontro de dois direitos fundamentais, o direito de
propriedade e o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado, em que o segundo
condiciona o exercício do primeiro, com vistas a assegurar a sustentabilidade ambiental
intergeracional, em benefício da dignidade da pessoa humana.
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sustentabilidade ambiental , que, a despeito de integrar a noção geral de
sustentabilidade, tem como foco a proteção e a manutenção a longo prazo dos recursos
naturais, através de planejamento, poupança, comportamentos adequados e nos
resultados pró-ecologia-ambiente.
No âmbito federal, a função ambiental do solo está condicionada por estatutos jurídicos,
como, por exemplo, o Código Florestal, a Lei do Parcelamento do Solo Urbano, a Lei
Federal 8.629, de 25 de fevereiro de 1993 (LGL\1993\77), que regulamenta e disciplina
disposições relativas à reforma agrária. A água está sujeita a um regime jurídico de
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direito público , distinto, portanto, do regime jurídico de direito privado incidente sobre
a propriedade do imóvel, por se tratar de um bem da espécie de uso comum do povo,
afastando qualquer possibilidade de ser considerado como dominical ou de propriedade
do titular do direito de propriedade do solo.
Conclusões
Essa dimensão objetiva irradia comandos que se conectam com outros títulos e capítulos
da Constituição, em especial a ordem econômica e financeira, no âmbito da qual estão
compreendidos, entre outros, os títulos atinentes às políticas urbana, agrícola e fundiária
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constitucionais e sua múltipla funcionalidade
e da reforma agrária, assim como o capítulo que trata do meio ambiente. Portanto, a
funcionalidade do direito de propriedade está condicionada por um conjunto de princípios
e valores finalísticos, definidos pelo texto constitucional. Instaurou-se, portanto, uma
nova ordem política e jurídica, concebida numa perspectiva democrática e com forte
conotação social, ao colocar o homem na posição de centralidade, assegurando-lhe
direitos e garantias fundamentais.
Referências bibliográficas
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição Federal de 1988. 10. ed. São
Paulo: Malheiros Editores, 2005.
SILVA, Américo Luís Martins. A ordem constitucional econômica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2003.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2003.
TAVARES, André Ramos. Direito constitucional econômico. São Paulo: Método, 2003.
Mello.
7 O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa
grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente
(CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada,
observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados
na própria Constituição da República. O acesso à terra, a solução dos conflitos sociais, o
aproveitamento racional e adequado do imóvel rural, a utilização apropriada dos
recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente constituem elementos
de realização da função social da propriedade ([ADI 2.213 MC, rel. Min. Celso de Mello, j.
04.04.2002, P, DJ 23.04.2004] = MS 25.284, rel. Min. Marco Aurélio, j. 17.06.2010, P,
DJe 13.08.2010).
8 “O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa
grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente
(CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada,
observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados
na própria Constituição da República” (Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI
2213-0/DF). Rel. Min. Celso de Mello.
10 “Estação ecológica – Reserva florestal na Serra do Mar – Patrimônio nacional (CF, art.
225, § 4º.) – Limitação administrativa que afeta o conteúdo econômico do direito de
propriedade – Direito do proprietário à indenização. [...] A circunstância de o Estado
dispor de competência para criar reservas florestais não lhe confere, só por si –
considerando-se os princípios que tutelam, em nosso sistema normativo, o direito de
propriedade --, a prerrogativa de subtrair-se ao pagamento de indenização
compensatória ao particular, quando a atividade pública, decorrente do exercício de
atribuições em tema de direito florestal, impedir ou afetar a válida exploração econômica
do imóvel por seu proprietário. A norma inscrita no art. 225, § 4º, da Constituição deve
ser interpretada de modo harmonioso com o sistema jurídico consagrado pelo
ordenamento fundamental, notadamente com a cláusula que, proclamada pelo art. 5º,
XXII, da Carta Política, garante e assegura o direito de propriedade em todas as suas
projeções, inclusive aquela concernente à compensação financeira devida pelo Poder
Público ao proprietário atingido por atos imputáveis à atividade estatal. O preceito
consubstanciado no art. 225, 4º, da Carta da Republica, além de não haver convertido
em bens públicos os imóveis particulares abrangidos pelas florestas e pelas matas nele
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referidas (Mata Atlântica, Serra do Mar, Floresta Amazônica brasileira), também não
impede a utilização, pelos próprios particulares, dos recursos naturais existentes
naquelas áreas que estejam sujeitas ao domínio privado, desde que observadas as
prescrições legais e respeitadas as condições necessárias à preservação ambiental. A
ordem constitucional dispensa tutela efetiva ao direito de propriedade (CF/88, art. 5º,
XXII)” (RE 134.297, rel. Min. Celso de Mello, j. 13.06.1995, 1ª Turma, DJ 22.09.1995).
12 SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 22. ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2003.
21 Idem.
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