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TERESINA
2019
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Abstract: This paper aims to analyze the institute of use in public areas. To realize a
thematic how to approach a social function and a presumption of priority of the state.
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Pós Graduando em Direito Agrário e Ambiental. Pós Graduado em Direito Eleitoral, pela Escola do
TRE-PI. Bacharel em Direito pelo Instituto Camilo Filho, inscrito na OAB/PI, sob no 7779.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o instituto da usucapião em
áreas públicas. Para realizar a temática o presente Artigo abordará a função social e
a presunção de prioridade do estado.
As terras devolutas são bens públicos com natureza peculiar, pelo modo
como foram concebidas no ordenamento jurídico não há óbice à usucapião desse
tipo de terras. A usucapião é uma forma originária de aquisição do direito de
propriedade sobre um bem móvel ou imóvel em função de haver utilizado tal bem
por determinado lapso temporal, contínua e incontestadamente, como se fosse o
real proprietário desse bem.
A função social da propriedade é uma condição ao direito de propriedade. Ela
determina que a propriedade urbana ou rural deverá, além de servir aos interesses
do proprietário, atender às necessidades e interesses da sociedade. Isto significa
que uma propriedade rural ou urbana não deve atender apenas aos interesses de
seu proprietário, mas também ao interesse da sociedade. A propriedade presume-se
plena e exclusiva, até prova em contrário.
A inexistência de registro imobiliário de imóvel objeto de ação de usucapião
não induz presunção de que o bem seja público (terras devolutas), cabendo ao
Estado provar a titularidade do terreno como óbice ao reconhecimento da prescrição
aquisitiva.
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consumo, urbana ou rural, maior ou menor de 250 m 2, pública ou privada etc.), não é
possível uma concepção ou análise unitária da propriedade (TEPEDINO;
SCHREIBER, 2002, p. 41).
Pode-se definir o direito de propriedade como o poder jurídico atribuído a uma
pessoa de usar, gozar e dispor de um bem, corpóreo ou incorpóreo, em sua
plenitude e dentro dos limites estabelecidos na lei, bem como de reivindicá-lo de
quem injustamente o detenha. Assim Gonçalves afirma:
A utilização deve ser feita, dentro dos limites legais e de acordo com a função
social da propriedade. A atual Constituição Federal dispõe que a propriedade
atenderá a sua função social (art. 5º, XXIII). Também determina que a ordem
econômica observará a função da propriedade, impondo freios à atividade
empresarial (art. 170, III).
O conceito de função social da propriedade tem sentido polissêmico, variando
de acordo com os valores dominantes, tornando a propriedade conexa com o
desenvolvimento da sociedade e expurgando o conceito individualista que a
caracterizava. A especificação do conceito de função social da propriedade deverá
ser determinada por lei específica, o que a torna uma norma constitucional de
eficácia contida, devendo uma lei infraconstitucional delimitar o seu sentido (AGRA,
2018).
O art. 182 da Constituição determina que a propriedade urbana cumpre sua
função social quando se conforma às exigências fundamentais de ordenação da
cidade expressas no plano diretor (§ 2º).
O plano diretor é uma lei ordinária editada pelo Município que trata do uso e
da ocupação do solo urbano, estabelecendo as diretrizes da política de
desenvolvimento urbano. Constitui ele “o instrumento básico da política de
desenvolvimento e de expansão urbana” (§ 1º). Sua instituição é obrigatória para
cidades com número de habitantes superior a vinte mil.
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Os imóveis rurais, por sua vez, têm sua função social cumprida quando
explorados em consonância com as disposições do art. 186 da CR. Segundo a
norma, se tem por cumprida a função social da propriedade rural quando ela atende
simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos
seguintes requisitos:
O imóvel rural que não está cumprindo sua função social pode ser
desapropriado pelo Poder Público. Quando a desapropriação for destinada ao
programa de reforma agrária, é de competência exclusiva da União, a qual, após
declarar o imóvel de interesse social, procederá à desapropriação mediante
pagamento de prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula
de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do
segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei (art. 184, caput).
Tendo em vista a grande fragmentação dos documentos legais que integram
a ordem jurídica, não merece críticas o legislador ao trazer, para o texto da Lei Civil,
alguns desses enunciados que limitam o direito de propriedade (NADER, 2016).
Nessa ordem, o Código Civil de 2002 proclama que:
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corpórea (res mancipi ou res nec mancipi), pela posse durante um tempo
determinado. A usucapião ou prescrição aquisitiva, em Roma, resultou da
unificação, promovida por Ulpiano, da usucapio, que se referia aos fundos itálicos,
com a praescriptio, aplicável aos fundos provinciais (NADER, 2016).
A evolução da prescrição no direito romano não acusa uma linha nítida e
segura; Justiniano, unificando a aquisitiva e a extintiva, não concorreu para aclará-la,
e o direito canônico, espiritualizando-a pela preponderância do elemento ético da
boa-fé, tão pouco; acrescente-se, ainda, a falta de método, de ordem, de
sistematização das ordenações, e logo se vê que o instituto se deveria apresentar
cercado de obscuridade (PEREIRA, 2017).
A usucapião justifica-se pelo sentido social e axiológico das coisas,
premiando aquele que se utilizou do bem de forma útil, em prejuízo de quem deixa
escoar o tempo, sem dele utilizar-se ou que não se insurja que o outro o faça, como
se dono fosse, ou seja, não seria justo suprimir o uso e gozo de bem (móvel ou
imóvel) de quem dele cuidou, produziu ou residiu por longo espaço de tempo, sem
oposição (VENOSA, 2007).
Embora haja várias espécies de usucapião é possível a formulação de seu
conceito unitário, capaz de revelar o conteúdo básico que lhe é inerente. Assim
NADER a definiu:
A posse terá que ser contínua, ou seja, é a posse em que o possuidor durante
todo o prazo teve a coisa a sua disposição, ou seja, o possuidor tem o poder físico
sobre a coisa. Não há que se confundir poder físico (posse contínua) com contato
físico permanente com a coisa (MELLO, 2017).
A posse ad usucapionem, além de contínua, mansa e pacífica, deve-se
prorrogar por um prazo previsto em lei. Enquanto este lapso temporal previsto em lei
não se completar, não há que se falar na usucapião (prescrição aquisitiva). Vale
lembrar que neste prazo poderão incidir as causas que obstam, suspendem ou
interrompem a prescrição (conforme art. 1.244 do CCB), inibindo, pois, a usucapião.
O Enunciado 497 da V Jornada de Direito Civil informa que “o prazo, na ação
de usucapião, pode ser completado no curso do processo, ressalvadas as hipóteses
de má-fé processual do autor”.
Além dos pressupostos acima mencionados, deve-se levar em consideração
que a posse deverá ser exercida aninus domini, ou seja, a posse deverá ser
exercida pelo possuidor com ânimo (com intenção) de dono da coisa. Ora, daí se
conclui que os não possuidores e os possuidores diretos não poderão invocar a
usucapião. O possuidor direto não poderá alegar a usucapião (por exemplo, o
locatário, o comodatário, o depositário, etc.), já que inexiste o animus domini.
O bem a ser usucapido deve ser suscetível de prescrição aquisitiva, ou seja, o
bem deve restar hábil a ser usucapido. Os bens públicos não podem ser adquiridos
por usucapião. Daí não serem hábeis a usucapião. Os bens quanto ao titular do
domínio podem ser classificados como: bens públicos e bens particulares (MELLO,
2017).
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único, do Texto Maior ao afirmar que “os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião.
Nem toda coisa é suscetível de ser usucapida. Os bens públicos não podem
figurar como objeto em quaisquer espécies (NADER, 2016).
Bens públicos são os que integram o domínio da União, Estados, Distrito
Federal, Municípios, autarquias e fundações de Direito Público, além dos afetados à
prestação de serviços públicos. Quanto às terras devolutas, que são terrenos vagos
e alienáveis, há divergências doutrinárias quanto à possibilidade de serem
usucapidas (NADER, 2016).
A Constituição contempla os bens da União:
caso, por exemplo, de bem dessa espécie relegado ao abandono e que, por essa
razão, serviu de moradia a determinada família ou conjunto de famílias, durante
lapso de tempo suficiente para a aquisição da propriedade por usucapião, estando
presentes os demais pressupostos legais (ROSENVALD; FARIAS, 2017).
Mas há doutrinadores que afirmam que tal entendimento é minoritário na
doutrina. Embora a tese seja sedutora, seria necessário, para que pudesse vingar,
rever o conceito de propriedade, super dimensionando a valorização de sua função
social, o que não é aceito pela maioria dos juristas e aplicadores do direito. Seria
mister, ainda, flexibilizar substancialmente o que consta da Constituição Federal
(TARTUCE; SIMÃO, 2008).
No entanto, esse entendimento vem se modificando no STJ que vem
considerando que tais propriedades consideradas como terras de ninguém, numa
ação de usucapião desse tipo, não basta a ausência de registro para que um bem
pertença ao domínio público, sendo, portanto, ônus da Fazenda Pública provar que
tal bem lhe pertença, sob pena de, não o fazendo, ser deferida a propriedade a
quem já tem a posse.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
públicos e sim mera detenção, sendo impossível a configuração dos requisitos para
usucapião.
Por outro lado, já existem entendimentos dos Tribunais que bem cuja
titularidade não é conhecida, ou seja, o imóvel que não possui registro de
propriedade, não pode ser havido como “terra devoluta”, cabendo ao Estado tal
comprovação, e os tribunais vêm mantendo essa mesma linha.
Aqui surge uma grande necessidade de o Estado identificar e ter informação
de quais áreas não são particulares, para poder efetivamente arrecadá-las e
incorporar no patrimônio de Estado, sob pena dessas áreas passarem ao domínio
de particular por usucapião, não por que o tenha sido permitido usucapião em bem
público, mas porque não vigora a previsão ‘irus tantum’ que o bem é público,
cabendo ao Estado o dever de provar que área pertence a ele.
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REFERÊNCIAS
GOMES, Orlando. Direitos reais. 15. ed. Atualizado por Humberto Theodoro Júnior.
Rio de Janeiro: Forense, 1999.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 5: direito das coisas.
12. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
MELLO, Cleyson de Moraes. Direito civil: direito das coisas. Rio de Janeiro: Maria
Augusta Delgado, 2017.
NADER, Paulo Curso de direito civil, volume 4: direito das coisas. 7. ed. rev.,
atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
PEREIRA, Caio Mário da Silva, Instituições de direito civil. 25. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direitos reais. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2007