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FACULDADE VERDE NORTE – FAVENORTE

CAMPUS MATO VERDE


BACHARELADO EM DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO ADMINISTRATIVO II


PROFESSOR: Cássio Murilo Camargo Filho
PERÍODOS: 7º/9º CICLO: 1º ANO: 2024

BENS PÚBLICOS

1. DOMÍNIO PÚBLICO

Antes de conceituar bens públicos, devemos entender o significado de domínio público, possuindo
essa expressão dois tipos de sentido: amplo e estrito. Vejamos:

• Domínio público em sentido amplo, também denominado domínio eminente, está relacionado ao
poder exercido pelo Estado sobre todos os bens, sejam eles públicos ou privados, que se localizem
em seu território. É utilizado para fundamentar as limitações estatais impostas aos particulares. Por
exemplo, no uso de seu poder de polícia, poderá a Administração limitar a altura das novas
construções com a finalidade de preservar o interesse público;

• Domínio público em sentido estrito está relacionado ao conjunto de bens pertencentes ao Estado.
É, literalmente, o próprio patrimônio público, ou seja, são os bens públicos.

1.1 Bens públicos

Não existe um consenso doutrinário acerca da conceituação dos bens públicos. Entretanto, deve-se
adotar a corrente majoritária (embasada no Código Civil de 2002), a qual considera como públicos todos os
bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público. Vejamos:

Art. 98, CC. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros
são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.

Portanto, são considerados públicos os bens pertencentes aos entes federativos (União, Estados,
Distrito Federal e Municípios), às autarquias (incluindo as associações públicas) e às fundações públicas
que utilizarem o regime de direito público. Ficam, dessa forma, excluídos da categorização os bens
pertencentes às empresas públicas e sociedades de economia mista, em virtude de estas adotarem a
personalidade de direito privado.

Importante verificar o posicionamento de Celso Antônio Bandeira de Melo (que adota a corrente
mista), o qual preleciona que serão bens públicos aqueles afetados à prestação de serviços públicos.
Vejamos:

[...] todos os bens que estiverem sujeitos ao mesmo regime público deverão ser havidos como bens públicos. Ora, bens particulares
quando afetados a uma finalidade pública (enquanto estiverem) ficam submissos ao mesmo regime dos bens de propriedade
pública. Logo, têm que estar incluídos no conceito de bem público.

Em resumo, podemos dizer que, enquanto o Código Civil (corrente dominante) se importa com a
titularidade do bem, classificando como públicos os bens apenas se pertencentes às pessoas de direito
público, a corrente mista (minoritária) entende como públicos os bens utilizados para a prestação de
serviços públicos, ou seja, não leva em consideração quem é o titular do bem, e, sim, para qual tipo de
atividade ele serve.

2. TITULARIDADE DOS BENS PÚBLICOS

Os bens públicos podem ser federais, estaduais, distritais ou municipais. A Constituição Federal
não elencou quais os bens pertencentes ao Distrito Federal e aos Municípios, mencionando, apenas, quais
os bens de titularidade da União e dos Estados. Vejamos.

Bens da União (art. 20, CF)

I – os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;


II – as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de
comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III – os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites
com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias
fluviais;
IV – as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras,
excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambien tal
federal, e as referidas no art. 26, II;
V – os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI – o mar territorial;
VII – os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII – os potenciais de energia hidráulica;
IX – os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X – as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI – as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
Bens dos Estados (art.26, CF)

I – as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as
decorrentes de obras da União;
II – as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou
terceiros;
III – as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV – as terras devolutas não compreendidas entre as da União.

3. ESPÉCIES DE BENS PÚBLICOS

A classificação mais importante envolvendo os bens públicos é aquela que considera sua
destinação. Segundo o Código Civil, os bens públicos podem ser de uso comum do povo, de uso especial ou
dominical.

Uso comum do povo

Art. 99, CC. São bens públicos: I – os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças.

Observe que o Código Civil não conceituou o que seriam tais bens, mas apenas exemplificou
alguns locais que se enquadram em tal classificação. De forma prática, podemos dizer que esses bens
servem para o uso geral das pessoas, não possuindo uma finalidade específica em sua utilização.

Ponto interessante é o fato de o uso poder ser gratuito ou oneroso, pois, ainda que se pague uma
taxa, não haverá a descaracterização do bem, ou seja, ele continuará sendo considerado de uso comum do
povo.

Art. 103, CC. O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, conforme for estabelecido legalmente pela entida de
a cuja administração pertencerem.

Uso especial

Art. 99, CC. São bens públicos: [...] II – os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento
da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias.

Esse tipo de bem possui uma finalidade específica. Por exemplo, uma escola pública estadual é
um bem público (pertencente ao Estado) usado especialmente para a educação.

Pode existir, nessa categoria, o enquadramento tanto de bens imóveis (ex.: prédios da prefeitura,
de um hospital público e do Tribunal de Justiça) quanto de bens móveis (ex.: carros da polícia).

Por fim, cabe observar que nem sempre a Administração será a usuária direta dos bens. Cite-se o
caso das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, que, segundo a jurisprudência, são enquadradas
como bens de uso especial em virtude da necessidade de preservação da área. Nesse caso, temos os
chamados bens de uso especial indireto.

Uso dominical

Art. 99, CC. São bens públicos: [...]

III – os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real,
de cada uma dessas entidades.
De forma simples, podemos classificar os bens dominicais como aqueles pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público que, entretanto, não estão sendo usados para nenhuma finalidade, seja
genérica ou específica. Assim, teremos bens desafetados, ou seja, que não possuem uma utilidade pública.

Podemos citar como exemplo os carros da polícia que não estejam mais em funcionamento, as
terras devolutas e os bens móveis sucateados.

4. CARACTERÍSTICAS DOS BENS PÚBLICOS

Os bens públicos são regidos por um regime diferenciado daquele dos bens privados, possuindo,
dessa forma, prerrogativas e restrições que decorrem dos princípios da supremacia e da indisponibilidade.

São quatro os atributos principais: imprescritibilidade, impenhorabilidade, não onerabilidade e


alienabilidade condicionada.

Imprescritibilidade

Segundo o art. 1.238 do Código Civil:

Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade,
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o
registro no Cartório de Registro de Imóveis.

Os bens privados estão sujeitos ao fenômeno da usucapião, ou seja, poderá uma pessoa adquirir
determinado bem (privado) se exercer a posse por determinado tempo, de forma contínua e inconteste.

Entretanto, por expressa vedação legal, os bens públicos não podem ser adquiridos por usucapião.
Logo, o Estado não perderá seu patrimônio pelo simples abandono e decurso do tempo.

Art. 102, CC. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.


Art. 183, § 3.º, CF. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Por fim, vale salientar que essa característica se aplica a todas as espécies de bens públicos,
inclusive aos de uso dominical.

Súmula 340, STF. Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos, não podem ser adquiridos
por usucapião.
Impenhorabilidade

Os bens privados estão sujeitos à penhora, ou seja, caso determinada pessoa possua dívidas e
venha a ser processada por isso, poderá o juiz determinar a venda dos bens desse particular com a
finalidade de pagar os credores, saldando, dessa forma, os débitos.

No entanto, os bens públicos não estão sujeitos à penhora; eles são impenhoráveis, e, ainda que a
Fazenda Pública possua valores a pagar, não poderá o Poder Judiciário ordenar a venda desses bens, pois
isso causaria um enorme prejuízo à continuidade da prestação dos serviços públicos.

Então, pergunta-se: como o Estado paga seus débitos?

Simples, pelo sistema de precatórios instituído pelo art. 100 da Constituição Federal. Vejamos:

Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-
ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação
de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

Portanto, o Poder Público pagará os seus débitos em ordem cronológica, mediante a


disponibilidade da dotação orçamentária.

Por fim, cabe ressaltar que essa característica se aplica a todas as espécies de bens públicos (uso
comum do povo, uso especial e uso dominical).

ATENÇÃO: Caso a empresa pública/sociedade de economia mista desempenhe atividade econômica, todos
os seus bens seguirão as regras do regime estritamente privado. Portanto, poderão ser, por exemplo,
penhorados. Todavia, caso a estatal tenha como função a prestação de serviços públicos, apesar de seus
bens continuarem sendo privados, poderão estes gozar de algumas prerrogativas públicas, por exemplo, a
impenhorabilidade e a imprescritibilidade.

Não onerabilidade

Um particular poderá oferecer seus bens como garantia de pagamento de seus débitos, utilizando-
se de institutos do Direito Civil, tais como a hipoteca, o penhor e a anticrese.

Art. 1.419, CC/2002. Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem dado em garantia fica sujeito, por vínculo
real, ao cumprimento da obrigação.

Entretanto, no tocante aos bens públicos, eles não podem ser objeto de nenhum ônus real de
garantia. Logo, não seria possível, por exemplo, um prédio público ser hipotecado como forma de garantir
o pagamento de dívidas estatais.
Por fim, cabe ressaltar que essa característica se aplica a todas as espécies de bens públicos (uso
comum do povo, uso especial e uso dominical).

Alienabilidade condicionada

Os bens privados podem ser livremente alienados pelos seus proprietários. Entretanto, no caso dos
bens públicos, a regra é diametralmente oposta, ou seja, como regra, não poderá haver a alienação deles.

Como sabemos, os bens subdividem-se em três espécies diferentes: uso comum do povo, uso
especial (afetados) e os de uso dominical (desafetados). E hoje, de forma indiscutível, podemos afirmar
que só poderão ser alienados os bens de uso dominical, ou seja, aqueles que não estejam sendo utilizados
para nenhuma finalidade pública específica.

Corroborando esse entendimento, temos o próprio texto do Código Civil:

Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificaçã o,
na forma que a lei determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.

Em resumo, podemos dizer que para existir a alienação o bem deverá estar previamente
desafetado.

4.1 Afetação x desafetação

Um bem público afetado é aquele possuidor de alguma destinação, podendo esta ser genérica
(bem de uso comum do povo) ou específica (bem de uso especial).

Por sua vez, o bem caracterizado como desafetado é aquele que, apesar de pertencer ao Poder
Público, não está sendo usado para nenhuma finalidade. Enquadram-se nessa categoria os bens de uso
dominical.

Entretanto, tal classificação não é estanque, ou seja, um bem afetado poderá se tornar desafetado
e vice-versa. Por exemplo, poderá o Poder Público, mediante lei específica, transformar um bem de uso
especial em bem de uso dominical.
O procedimento de afetação é bastante simples, pois bastará a destinação do bem para que este
se torne de uso comum do povo ou especial. Por exemplo, em determinado município, existia um terreno
público inutilizado (bem de uso dominical) e, depois de certo tempo, foi construída uma praça naquele
local. Perceba que, nesse caso, existiu uma afetação, tornando-se aquela localidade um bem de uso comum
do povo.

O procedimento de desafetação, por sua vez, é bem mais complexo, pois, para que se efetive, faz-
se necessária a edição de uma lei específica ou a produção de um ato administrativo expresso. Assim, o
não uso do bem não o torna de maneira automática bem de uso dominical; faz-se imprescindível a
manifestação expressa do Poder Legislativo (lei específica) ou do Executivo (ato administrativo).

Cumpre observar que poderá existir a desafetação em virtude de fatos da natureza. Por exemplo,
um incêndio destruiu por completo determinado posto de saúde (bem de uso especial), e, após a devida
perícia, ficou demonstrado que não havia mais a possibilidade de funcionamento daquele local. Nesse caso,
o bem passará a ser considerado de uso dominical.

4.2 Alienação de bens públicos

Como sabemos, só poderá existir a alienação dos bens de uso dominical, logo, por consequência
lógica, são inalienáveis os bens de uso comum do povo e de uso especial.

O procedimento da venda dos bens públicos encontra-se disciplinado na lei geral de licitação e
contratos (Lei 8.666/1993) e na Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos (Lei 14.133/2021). Para
facilitar o entendimento completo do tema, vamos subdividir o estudo analisando de forma separada a
alienação dos bens móveis e imóveis.

Alienação de bens móveis

Art. 76 da lei 14.133/2021. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público
devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: [...] II – quando móveis, dependerá de
avaliação prévia e de licitação (...)

Perceba, com a simples leitura do texto legal, que alguns requisitos são imprescindíveis para que
exista a venda. São eles:

1. O bem deve estar desafetado – não custa lembrar que só poderão ser vendidos os bens de uso
dominical.
2. Deve existir interesse público – logicamente, como a alienação dos bens públicos é excepcional,
deverá existir a motivação, ou seja, uma fundamentação estatal explicando as razões da venda.

3. Deve haver avaliação prévia – esta serve para fixar o valor do bem. Portanto, quando esse bem for
alienado, já será de conhecimento público o valor mínimo de compra.

4. Há necessidade de licitação – para que se garanta a observância dos princípios da impessoalidade e


moralidade administrativa, deverá existir um prévio procedimento licitatório para que se concretize
a venda dos bens públicos. E, no caso dos bens móveis, como regra, deverá ser adotado o leilão
como modalidade licitatória.

Art. 22, § 5.º, Lei 8.666/1993. Leilão é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para a venda de bens móveis
inservíveis para a administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados [...].

Art. 17, § 6.º, Lei 8.666/1993. Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou globalmente, em quantia não superior ao lim ite
previsto no art. 23, inciso II, alínea “b” desta Lei, a Administração poderá permitir o leilão.

Alienação de bens imóveis

Lei 14.133/2021, Art. 76. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de interesse público
devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes normas: I – tratando-se de bens imóveis, inclusive
os pertencentes às autarquias e às fundações, exigirá autorização legislativa e dependerá de licitação na modalidade leilão, [...].

Perceba que, no caso dos bens imóveis, além dos requisitos analisados (bem desafetado, interesse
público, avaliação prévia e licitação), deverá existir uma autorização legislativa no caso de a alienação ser
relacionada a um bem público.

Como analisamos, os bens públicos são aqueles pertencentes às pessoas jurídicas de direito público
(União, Estados, Distrito Federal, Municípios, Autarquias e Fundações Públicas); todos os outros, segundo o
Código Civil, são privados. Dessa forma, a lei de licitação não exigiu a autorização legislativa para qualquer
ente pertencente à Administração Pública, mas apenas para aquelas que adotem a personalidade de direito
público. Vejamos.

Quanto à modalidade licitatória adotada, deve-se usar, por expressa disposição legal, a
concorrência:

Art. 22, § 3.º, Lei 8.666/1993. A concorrência é a modalidade de licitação cabível, qualquer que seja o valor de seu objeto, tanto na
compra ou alienação de bens imóveis, ressalvado o disposto no art. 19 [...]

Observe, ao final do texto, que se menciona o art. 19 como forma de excepcionar o uso obrigatório
da concorrência. Vejamos o que ele diz:

Art. 19. Os bens imóveis da Administração Pública, cuja aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de dação em
pagamento, poderão ser alienados por ato da autoridade competente, observadas as seguintes regras: [...] III – adoção do
procedimento licitatório, sob a modalidade de concorrência ou leilão.

Resumidamente, podemos dizer que, quando o Poder Público desejar vender seus bens imóveis,
deverá fazer a alienação mediante a modalidade concorrência. Entretanto, caso esse imóvel venha a ser
fruto de um procedimento judicial ou de uma dação em pagamento, a alienação poderá ser efetiva pela
concorrência ou pelo leilão.

imaginemos dois exemplos:


Ex. 1: João, por um procedimento judicial, foi condenado por tráfico de droga. No curso do processo, ficou
comprovado que vários de seus imóveis foram adquiridos pelo recebimento de dinheiro advindo da venda de
entorpecentes. Logo, o Poder Público, ao receber esses bens, poderá vendê-los mediante: concorrência ou leilão.

Ex. 2: Maria estava devendo o pagamento do IPTU da sua residência há vários anos. A fim de quitar o débito, ofereceu
ao município, como forma de saldar sua dívida, um terreno. Nesse caso, aceitando o Poder Público o terreno ofertado
em dação em pagamento,5 poderá providenciar a alienação deste mediante: concorrência ou leilão.

Por fim, cabe observar que, se o imóvel pertencer à União, deverá ser seguido o procedimento
específico da Lei 9.636/1998.

Art. 23. A alienação de bens imóveis da União dependerá de autorização, mediante ato do Presidente da República, e será sempre
precedida de parecer da SPU quanto à sua oportunidade e conveniência. § 1.º A alienação ocorrerá quando não houver interesse
público, econômico ou social em manter o imóvel no domínio da União, nem inconveniência quanto à preservação ambiental e à
defesa nacional, no desaparecimento do vínculo de propriedade. § 2.º A competência para autorizar a alienação poderá ser
delegada ao Ministro de Estado da Fazenda, permitida a subdelegação.

5. USO DOS BENS PÚBLICOS PELOS PARTICULARES

Os bens públicos podem ser usufruídos pelos particulares de forma normal ou anormal.

O uso normal é aquele dentro do escopo do bem, por exemplo, o particular que usa uma praça
pública para lazer e as ruas para se locomover em seu carro está gozando desses bens dentro da finalidade
esperada.

Entretanto, em algumas situações, o particular almeja uma finalidade diversa para aquele bem, por
exemplo, a utilização da praça pública para a realização de um casamento privado. Nesse caso, estaremos
diante de um uso anormal (também denominado especial).

Pode, segundo a doutrina majoritária, o uso anormal ser subdividido em uso especial remunerado e
privativo:

a) Uso especial remunerado: nesse caso, o particular terá de realizar o pagamento de determinado
valor para poder utilizar o bem. Cite-se o caso do pagamento de pedágio em determinada rodovia.

b) Uso especial privativo: nesse caso, o particular deseja utilizar determinado bem público sem a
interferência de terceiros. Podemos exemplificar com o fechamento de uma praça pública para a
celebração de um casamento. Observe que, nessa hipótese, poderá o Poder Público conceder o uso
anormal ou não.

5.1 Formas de consentimento estatal para uso especial de bens públicos

Autorização de uso

Quando o particular almeja utilizar, de forma privativa, determinado bem público para seu
interesse puramente privado, deverá solicitar ao Poder Público uma autorização.

Vamos imaginar, por exemplo, o caso dos moradores de determinado local que desejam fechar a
rua para a realização de uma festa junina. Perceba que, nesse caso, os particulares objetivam utilizar um
bem de uso comum do povo (rua) em benefício puramente privado; logo, precisarão receber do Poder
Público uma liberação.

Entretanto, o Estado vai analisar se a autorização é conveniente e oportuna, ou seja, o ato


dependerá puramente da discricionariedade do Poder Público, não podendo o interesse privado contrariar
o interesse público.

Além de discricionário, o ato de autorização será precário, podendo a Administração gerar a


extinção desta a qualquer momento.

Por fim, para que a autorização venha a ser concedida, não precisará o particular participar de uma
licitação, podendo a liberação ser ofertada de maneira gratuita ou onerosa.

Principais características da autorização:

1. Ato administrativo (unilateral);

2. Ato discricionário;

3. Precário;

4. Interesse particular;

5. Não precisa de licitação;

6. O uso pode ser gratuito ou oneroso.

Permissão de uso

A permissão é ato administrativo unilateral, discricionário e precário. No entanto, diferentemente


do que ocorre na autorização, o uso do bem público será feito em prol do interesse predominantemente
público.

Cite-se, como exemplo, a permissão para que o particular instale uma banca de jornal na calçada.
Perceba que, nesse caso, existe o interesse coletivo relacionado ao acesso à informação.

Uma observação faz-se necessária. Como dissemos, a regra é que a permissão seja ofertada a título
precário, logo, em caso de revogação desta por parte do Poder concedente, não será oferecido ao
particular direitos indenizatórios. Entretanto, de forma excepcional, poderá a Administração conceder a
denominada permissão condicionada estabelecendo um prazo determinado de vigência do ato, gerando,
assim, maior estabilidade ao permissionário. Logicamente, nesse último caso, existindo uma rescisão
antecipada da permissão, caberá ao particular lesado o direito de receber uma indenização.
Por fim, deve ser ressaltada a necessidade de prévio procedimento licitatório para que o Poder
Público conceda a permissão ao particular. Essa imposição ocorre, especialmente, em virtude dos princípios
da impessoalidade e moralidade.

Principais características da permissão:

1. Ato administrativo (unilateral).

2. Ato discricionário.

3. Precário (regra).

4. Interesse público.

5. Precisa de licitação.

6. O uso pode ser gratuito ou oneroso.

Concessão de uso

Diferentemente dos institutos da autorização e permissão, que são concedidos mediante um ato
administrativo, a concessão de uso de bem público é um contrato administrativo formalizado após prévio
procedimento licitatório.

A finalidade desse instituto é conceder ao particular o uso mais duradouro de determinado espaço
público. Podemos citar como exemplo a concessão para instalação de um Box em um mercado público.

Logicamente, como a formalização da concessão se dá mediante um contrato administrativo


assinado por prazo fixado, caso haja a rescisão antecipada do vínculo por razões de interesse público, ou
seja, sem culpa do particular contratado, terá este direito a receber uma indenização.

Por fim, assim como nas outras formas de consentimento estatal, a concessão pode ser ofertada de
forma gratuita ou onerosa.

Principais características da concessão:

1. Contrato administrativo.

2. Prazo determinado.

3. Uso mais duradouro do bem público.

4. Interesse público.

5. Precisa de licitação.

6. O uso pode ser gratuito ou oneroso.

Concessão de direito real de uso

É um contrato administrativo que transfere a um particular o direito real de uso de um bem


público, podendo, inclusive, o concessionário transferir esse título por ato inter vivos ou por sucessão
legítima ou testamentária.

A disposição dessa forma de concessão encontra-se disciplinada no Decreto 271/1967. Vejamos:

Art. 7.º É instituída a concessão de uso de terrenos públicos ou particulares remunerada ou gratuita, por tempo certo ou
indeterminado, como direito real resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de interesse social, urbanização,
industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comunidades tradicion ais e
seus meios de subsistência ou outras modalidades de interesse social em áreas urbanas. [...] § 4.º A concessão de uso, salvo
disposição contratual em contrário, transfere-se por ato inter vivos, ou por sucessão legítima ou testamentária, como os demais
direitos reais sobre coisas alheias, registrando-se a transferência.

Concessão de uso especial para fins de moradia

Essa concessão será ofertada de forma gratuita ao homem ou à mulher, independentemente do


estado civil, que preencha os requisitos instituídos pela Medida Provisória 2.220/2001:

Art. 1.º Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,
até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público situado em área com características e finalidade urbanas, e que o
utilize para sua moradia ou de sua família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem
objeto da posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou rural. § 1.º A
concessão de uso especial para fins de moradia será conferida de forma gratuita ao homem ou à mulher, ou a ambos,
independentemente do estado civil. § 2.º O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo concessionário mais de
uma vez. § 3.º Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, na posse de seu antecessor, desd e que já
resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão.

6. FORMAS DE AQUISIÇÃO DE BENS

Para que o Estado atinja seus fins, é preciso utilizar-se das mais variadas espécies de bens. Alguns
deles já estão integrados em seu acervo, mas outros precisam se adquiridos de terceiros pelas mais
diversas razões de ordem administrativa.

São inúmeros os mecanismos através dos quais a União, os Estados, o Distrito Federal, os
Municípios e suas autarquias e fundações de direito público conseguem que bens de terceiros ingressem
em seu acervo.

Esses bens geralmente são privados, mas quando adquiridos pelas pessoas públicas convertem-se
em bens públicos.

Classificação
A aquisição divide-se em dois grupos:

• Aquisição originária:
Na aquisição originária não há a transmissão da propriedade por qualquer manifestação de vontade. A
aquisição é direta. O adquirente independe da figura do transmitente.

Ex: Cessão por aluvião, em que a margem ribeirinha se vai ampliando por extensão provocada pelas águas.

• Aquisição derivada

Já na aquisição derivada alguém transmite um bem ao adquirente mediante certas condições por eles
estabelecidas. Esse tipo de aquisição rende ensejo à discussão sobre vícios da vontade e sobre o próprio
negócio jurídico de transferência do bem.
Ex: é a aquisição que resulta de contrato de compra e venda, com a transcrição do título do Registro de
Imóveis.

Contratos
Entre as várias formas pelas quais o Poder Público adquire bens, destaca-se a dos contratos. Como
qualquer particular, o Estado pode celebrar contratos visando adquirir bens, já que as entidades em que se
subdivide são dotadas de personalidade jurídica, com aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações.

ATENÇÃO!
Primeiramente, todos esses contratos são de natureza privada, sendo, por conseguinte, regulados
pelo direito privado. Os princípios que sobre eles incidem não recebem o influxo de cláusulas de privilégio
ou exorbitantes do direito comum, como ocorre nos contratos administrativos.

Ressalve-se, contudo, que a compra de bens móveis necessários aos fins administrativos se
caracteriza como contrato administrativo, incidindo, por conseguinte, todas as prerrogativas atribuídas por
lei ao Poder Público (art. 37, XXI, da CF).

Usucapião
O Código Civil admite expressamente a usucapião como forma de aquisição de bens (art. 1.238,
Código Civil) e estabelece algumas condições necessárias à consumação aquisitiva, como a posse do bem
por determinado período, a boa-fé em alguns casos e a sentença declaratória da propriedade.

A União, um Estado ou Município, ou ainda uma autarquia pode adquirir bens por usucapião? Sim,
a lei civil, ao estabelecer os requisitos para a aquisição da propriedade por usucapião, não descartou o
Estado como possível titular do direito. E esses bens, uma vez consumado o processo aquisitivo, tornar-se-
ão bens públicos.

Desapropriação

A desapropriação é um procedimento administrativo pelo qual o poder público, mediante prévia


declaração de necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, impõe ao proprietário a perda de
um bem, substituindo-o por justa indenização, em dinheiro.

O Código Civil trata da desapropriação como forma de perda da propriedade imóvel (art. 1.275, V,
Código Civil).

Os bens desapropriados transformam-se em bens públicos tão logo ingressem no patrimônio do


expropriante. Mesmo que venham a ser repassados a terceiros, como no caso da reforma agrária, os bens
desapropriados permanecem como bens públicos enquanto não se dá a transferência.

Acessão

A acessão é outra das formas de aquisição de bens imóveis, como previsto no art. 1.248 do Código
Civil. Significa que passa a pertencer ao proprietário tudo o que aderir à propriedade, revelando um
acréscimo a esse direito.

A acessão pode efetivar-se:


• pela formação de ilhas: Sendo importante verificar em que águas isso ocorreu. E a ilha é formada
em águas territoriais ou nos rios que pertencem à União será ela bem federal. Ao contrário, se a
formação se der em águas estaduais, a forma aquisitiva beneficiará o Estado.

• por aluvião: é o fenômeno pelo qual as águas vão vagarosamente aumentando as margens dos rios,
ampliando a extensão da propriedade ribeirinha.

• por avulsão: é o desprendimento repentino de determinada área de terra que passa a ficar anexa a
outra propriedade.

• pelo abandono de álveo: Ocorre quando as águas do rio deixam de percorrer seu leito, o rio, tendo
secado, se transforma em solo comum.

Aquisição Causa Mortis

No sistema adotado pelo Código Civil revogado (art. 1.603, V), os Municípios, o Distrito Federal e a
União figuravam na relação dos sucessores hereditários legítimos.

O Código vigente, no entanto, não mais inclui aquelas pessoas federativas no elenco da vocação
hereditária. (art. 1.829, CC).

Não obstante, consigna que, não sobrevivendo cônjuge, companheiro ou algum outro parente
sucessível, ou, ainda, tendo havido renúncia por parte dos herdeiros, a herança se devolve ao Município ou
ao Distrito Federal, se localizada em seus respectivos territórios, ou à União, caso esteja situada em
território federal (art. 1.844, CC).

Os Estados podem ser contemplados na sucessão testamentária? Sim, podendo, em


consequência, receber bens por via de testamento, como ocorre com as pessoas jurídicas em geral. Ao
momento em que os bens oriundos do testamento passam a integrar o acervo da pessoa federativa
beneficiária, também terão a natureza de bens públicos.

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