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BENS PÚBLICOS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Prof. Edilson
2. CONCEITOS DE BENS PÚBLICOS
CC - art. 98:
São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito
público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que
pertencerem.
Hely Lopes Meirelles1 afirma que “bens públicos são todas as coisas, corpóreas ou
incorpóreas, imóveis, móveis e semoventes, créditos, direitos e ações, que pertençam, a qualquer
título, às entidades estatais, autárquicas, fundacionais e empresas governamentais”.
3. AFETAÇÃO E DESAFETAÇÃO
I - Afetação: Quando determinado bem público está vinculado à uma destinação
especifica. Exemplo. Ambulância do SAMU que transporta pessoas doentes.
II - Desafetação: Ocorre quando determinado bem público não está sendo utilizado.
Exemplo. Ambulância do SAMU que se encontra abandonada por não poder mais funcionar, é um
bem desafetado.
4. CLASSIFICAÇÃO
4.1. Quanto à titularidade (Federais, Estaduais, Distritais e Municipais)
4.1.1. Bens públicos federais (art. 20 da CF)
Exemplos: Terras devolutas definidas em lei (inc. II); lagos, rios que banhem mais de um
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou
dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais (inc. III) ilhas
oceânicas, costeiras, fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias
marítimas; (inc. IV); os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica
exclusiva (inc. V); o mar territorial, de marinha e seus acrescidos (incs. VII e VII); os
potenciais de energia hidráulica (inc. VIII); os recursos minerais, inclusive os do subsolo
(inc. IX); as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos (inc.
X) e as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios (inc. XI).
OBSERVAÇÃO: O disposto no art. 20 é um rol exemplificativo. Não constam por exemplo edifícios
públicos, navios da marinha, etc.
4.1.2. Bens públicos estaduais (art. 26 da CF)
Exemplos: águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito,
ressalvadas, as decorrentes de obras da União (inc. I); as áreas, nas ilhas oceânicas e
costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União,
Municípios ou terceiros (inc. II); as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União (inc.
III) e as terras devolutas não compreendidas entre as da União (inc. IV).
OBSERVAÇÃO: O disposto no art. 26 também é um rol exemplificativo. Não constam por exemplo
os prédios estaduais, veículos da polícia militar etc.
4.1.3. Bens públicos distritais (art. 32 da CF)
A Constituição Federal trata do Distrito Federal no art. 32, mas não faz alusão aos bens
públicos que lhe pertencem. Assim, estende-se ao Distrito Federal, o rol dos bens que a Carta
Magna atribui aos Estados e Municípios.
4.1.4. Bens públicos municipais
A Constituição Federal também não faz alusão aos bens públicos que pertencem aos
municípios. A regra que se admite em princípio, é que os bens que se encontrarem dentro dos

1Op. cit. p. 549.


limites do Município, e não pertencerem à União ou aos Estados, pertencem ao Município. Por
exemplo, as ruas, praças, edifícios públicos, etc.
4.2. Quanto à destinação (art. 99 do CC)
Os bens públicos quanto à destinação, classificam-se bens de uso comum do povo, bens
de uso especial e bens dominicais.
I - Bens de uso comum do povo: São aqueles que podem ser usados livremente por
todos. São exemplos. Os rios, mares, estradas, ruas e praças.
OBSERVAÇÃO: Em regra, o uso dos bens públicos é gratuito, mas excepcionalmente podem ser
remunerados, conforme for estabelecido legalmente pela entidade a cuja administração
pertencerem (art. 103 do CC). É o caso por exemplo dos pedágios e estacionamentos em vias
públicas (em alguns lugares chamados de zona azul).
II - Bens de uso especial: São aqueles utilizados pela Administração Pública, para a
prestação de serviços públicos ou administrativos podendo ser móveis ou imóveis.
São exemplos: edifícios públicos (escolas, hospitais, delegacias de polícia, fórum),
computadores, mesas, carteiras escolares, equipamentos hospitalares, veículos, aviões da
Força Aérea, tanques de guerra do Exército, navios e submarinos da Marinha etc.
III - Bens dominicais: Não estão sendo utilizados pela Administração Pública. Ou seja,
não tem uma destinação específica, estando assim desafetados. São exemplos, as terras devolutas,
terrenos de marinha, edifícios públicos que não sendo utilizados (desativados ou abandonados)
bens móveis inservíveis, dentre outros.
OBSERVAÇÃO: Um bem dominical, poderá se tornar um bem de uso especial se lhe for dado
destinação especifica, o que se dá pela afetação.
5. PRERROGATIVAS DOS BENS PÚBLICOS
São elas: alienabilidade condicionada (inalienabilidade), impenhorabilidade,
imprescritibilidade e não onerabilidade.
5.1. Alienabilidade condicionada (inalienabilidade)
Em regra, os bens públicos não podem ser alienados. Porém, a inalienabilidade dos
bens públicos não é absoluta, podendo a Administração Pública aliená-los, desde que observados
os procedimentos legais.
Os bens públicos dominicais, por não possuírem uma destinação especifica (desafetados)
podem ser alienados, observando-se os requisitos legais, os quais encontram-se nos art. 17 da Lei
8.666/1993:
I - Demonstração de interesse público devidamente justificado (art. 17, caput);
II - Avaliação prévia dos bens móveis e imóveis (art. 17, caput e inc. II);
III - Quando imóveis, dependerá de autorização legal para órgãos da administração direta
e entidades autárquicas e fundacionais, e, para todos, inclusive as entidades paraestatais (art. 17,
inc. I);
IV - Licitação: Como regra, a alienação deve ser precedida de licitação na modalidade de
concorrência, no caso de bens imóveis, sendo dispensada nas hipóteses de dação em pagamento;
doação; permuta; investidura, e outras elencadas no art. 17, inc. I, alíneas “a” a “i”.
OBSERVAÇÃO: No caso de bens móveis, a licitação é dispensada nas hipóteses de doação;
permuta; venda de ações, títulos; bens produzidos ou comercializados por órgãos ou entidades da
Administração Pública, e materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da
Administração Pública (art. 17, inc. I, alíneas “a” a “f”). Já a alienação de bens públicos móveis
deverá, como regra, ser precedida de leilão (art. 19, III).
5.2. Impenhorabilidade
O objetivo da impenhorabilidade é a proteção do bem público, por isso os mesmos não
estão sujeitos à penhora. Dessa forma, os terceiros que tenham créditos contra a Fazenda
Pública, originados de sentenças judiciais, terão os pagamentos efetuados pelo regime de
precatórios.
OBSERVAÇÕES:
1ª. O pagamento no regime de precatório se dá na ordem cronológica de apresentação,
exceto para os débitos de natureza alimentícias os quais serão pagos com preferência sobre todos
os demais débitos e os titulares que tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de
expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, haverá
preferência de pagamento sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado
em lei;
2ª. Há ainda a possibilidade do pagamento ser efetuado diretamente pela Fazenda Pública,
excluindo-se o sistema de precatórios na hipótese de pagamentos de obrigações definidas em leis
como de pequeno valor em virtude de sentença judicial transitada em julgado (art. 100, §§ 1°, 2°, 3º
e 6º da CF).
5.3. Imprescritibilidade
A imprescritibilidade significa que os bens públicos não podem ser adquiridos pela
usucapião (prescrição aquisitiva). Assim, um particular não pode alegar direito de propriedade
sobre bem público pela usucapião.
A Constituição Federal dispõe que os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião, não importando se localizados em área urbana (art. 183, § 3°), ou zona rural (art. 191,
parágrafo único).
O Código Civil dispõe expressamente que os bens públicos não estão sujeitos a usucapião
(art. 102).
5.4. Não-onerabilidade
A não-onerabilidade significa que o bem público não pode ser dado como garantia, em
caso de inadimplemento da obrigação, o pagamento da obrigação se dá por precatório ou RPV.
6. EXEMPLOS DE BENS PÚBLICOS EM ESPÉCIE NA CF

I - Terras devolutas - bens dominicais (art. 26, IV da CF);


II - Terrenos de marinha e seus acrescidos (art. 20, VII da CF)
Os “acrescidos de terreno de marinha” são áreas que antes eram submersas e viraram
terra, entretanto não desloca o início do terreno de marinha, foi apenas acrescentado.
Exemplo. Aterro do flamengo, no Rio de Janeiro, onde houve o aterro de uma parte do
mar aumentando a parte terrena;
III - Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios (art. 230, da CF)
São inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis (art. 230, § 1º),
classificads como de uso especial por possuírem destinação específica, segundo Maria
Sylvia Zanella Di Pietro2.
OBSERVAÇÃO: Na visão do STF “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios, embora
pertencentes ao patrimônio da União (CF, art. 20, XI), acham-se afetadas, por efeito de destinação
constitucional, a fins específicos voltados, unicamente, à proteção jurídica, social, antropológica,
econômica e cultural dos índios, dos grupos indígenas e das comunidades tribais. (RE 183.188, Rel.
Min. Celso de Mello, julgamento em 10.12.1996, Primeira Turma, DJ de 14.2.1997);
IV - Faixa de fronteira (art. 20, § 2º)
A faixa de fronteira é de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das
fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do
território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei (art. 20, § 2°).
A Lei nº 6.634/1979, que dispõe sobre a faixa de fronteira, afirma em seu art. 1° que é
considerada área indispensável à Segurança Nacional a faixa interna de 150 Km (cento e cinquenta
quilômetros) de largura, paralela à linha divisória terrestre do território nacional, que será designada
como Faixa de Fronteira.

2Op cit. p. 776.


OBSERVAÇÃO: Conforme leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro3 “existem terras particulares
nessa faixa, que ficam sujeitas a uma série de restrições estabelecidas em lei, em benefício da
segurança nacional”.
6.6. Plataforma continental (art. 20, V).
Conforme previsão constitucional, os recursos naturais da plataforma continental e da zona
econômica exclusiva pertencem à União.
OBSERVAÇÃO: A Lei 8.617/1993 que trata do mar territorial, a zona contígua, a zona econômica
exclusiva e a plataforma continental brasileiros, dispõe em seu art. 11 que a plataforma continental
do Brasil compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar
territorial, até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se
mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não
atinja essa distância.

3Op. cit. p. 783.

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