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GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO

E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA – GEPAM


30ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ASSISTÊNCIA DA CAPITAL

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE


DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE
SALVADOR-BAHIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA


BAHIA, por seus Promotores de Justiça abaixo assinados, integrantes
do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Patrimônio Público
e da Moralidade Administrativa - GEPAM, no exercício de suas
atribuições legais, fundamentados no art. 129, III e IV, da
Constituição Federal, no art. 138, III, da Constituição Estadual, na Lei
Nº8.625/12.02.93, no art. 5o, da Lei Nº7.347/85, nos art. 72, I, IV, e
74, da Lei Complementar Estadual Nº11/18.01.96, e art. 17 da Lei
Nº8.429/92, lastreado nos documentos e cópia inclusa do
Procedimento Administrativo nº 008/2011 – SIMP
003.0.120431/2011, vem perante V.Exa. propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA, com pedido liminar

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA - GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL DE DEFESA


DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA – GEPAM -Av. Joana
Angélica, 1312, Prédio Anexo, 4º Andar – Nazaré CEP 40050-001 Salvador – Bahia Tel.:
(71) 3103-6827/ 6823
1
GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO
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30ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ASSISTÊNCIA DA CAPITAL

em face de JOÃO BORGES HEGOUET NETO, brasileiro, separado,


delegatário do Registro de Imóveis – 7º Ofício da Comarca de
Salvador, RG 0057769702 SSP-BA, CPF nº 02919559591,
domiciliado à Av. Professor Magalhães Neto, nº 1550, Edf. Premier
Tower Empresarial, salas 201/205, Pituba, CEP 41.810-012, nesta
Capital, telefone para contato 9988.0650/3451.0261, BRUNO
ANDRADE GOES MONTEIRO, brasileiro, casado, pecuarista, RG
0517169177 SSP-BA, CPF nº 67100570549, domiciliado à Rua
Valdemar Falcão, nº 1763, apt. 901, Edf Antonieta Leite, Horto
Florestal, CEP 40295-010, nesta Capital, telefone para contato
91254200/33471606, COUTINHO IMÓVEIS LTDA., pessoa jurídica
de direito privado, CNPJ: 13.122.932/0001-59, domiciliada na Av.
Tancredo Neves,nº 620, Edifício Mundo Plaza, salas 216/218, Torre
Empresarial, Caminho das Àrvores, Salvador - Bahia - Brasil - CEP
41.820-020 Tel: 55. 71. 2101-3188 fax: 55. 71. 2101-3197, KLEBER
ROCHA CAVALCANTE, brasileiro, casado, corretor de imóveis, RG
03783351 03, CPF nº 482308805 06, domiciliado à Rua Passárgada,
866, casa 75, Itapuã, CEP 41620-430, nesta Capital, e endereço
profissional na Coutinho Imóveis, telefones para contato
99878006/21013188, e BYRON GOMES DE ALENCAR, brasileiro,
casado, corretor de imóveis, RG 1418957216 SSP-BA, CPF nº
294663693-34, domiciliado à Rua Raul Leite, nº 594, apt. 702, Vila
Laura, nesta Capital, e endereço profissional na Coutinho Imóveis,
telefones para contato 30141114/ 99833545, pelos seguintes motivos
de fato e de direito:

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1 - Inicialmente, requer o benefício da


isenção do pagamento de custas, por se tratar de ação patrocinada
pelo Ministério Publico.

I. OS FATOS

I.I. Esclarecimento preliminar sobre o objeto da ação

2 - A presente ação se refere a


irregularidades cometidas com referência a atos registrais praticados
no âmbito do 7º Ofício de Imóveis desta capital baiana. Tais atos
deram respaldo à unificação de áreas representativas de três
terrenos então pertencentes a BRUNO ANDRADE GOES
MONTEIRO1, o segundo acionado, e, em particular, à retificação
de dimensão dos terrenos unificados, proceder que não guardou
observância com a exigência legal de preservação da segurança
inerente aos atos de registro público, e que tampouco atendeu às
cautelas mínimas de correção que deve pautar a atuação dos agentes
públicos, terminado por configurar a prática de improbidade
administrativa pelo agente público, com o beneficiamento indevido de
particulares.

I.II. Resumo acerca de dados registrais do imóvel ‘terreno’


objeto da apuração

1
Doravante, simplesmente BRUNO MONTEIRO.

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3 - Na Travessa Joana Capistrano de


Carvalho, s/nº, bairro Patamares, nesta cidade, BRUNO MONTEIRO
adquiriu direitos sobre área de terreno em decorrência de carta de
adjudicação datada de 05 de dezembro de 2002 e expedida por força
de sentença prolatada pelo juízo da 4ª Vara de Família da capital. A
aquisição se originou, conforme a decisão judicial, de “direitos
decorrentes de promessa de venda do imóvel objeto desta matrícula”,
e se formalizou no processo de inventário dos bens de JOSÉ NILDO
GOES MONTEIRO e de VERA LUCIA ANDRADE GOES.

4 - Em verdade, BRUNO MONTEIRO foi


beneficiado, no referido inventário, com a aquisição de direitos
decorrentes de promessa de venda de imóvel com respeito a três
áreas, vinculadas às seguintes matrículas: 10.466, datada de
28.05.1996; 24.746, datada de 17.01.2006; e 24.747, datada de
17.01.2006, tendo sido as respectivas averbações procedidas em
17.01.2006 à margem de seus registros originais (documentos de fls.
372, 373 e 374).

5 - Conforme as matrículas originais,


respectivamente, as áreas tinham dimensões distintas, a saber: a de
matrícula nº 10.466 apresentava, aproximadamente, 844,00m²
(oitocentos e quarenta e quatro metros quadrados) (fls. 372); a de
nº 24.746 media 1.008,00m² (mil e oito metros quadrados) (fls.
373); enquanto a de nº 24.747 media 4.899,00m² (quatro mil,
oitocentos e noventa e nove metros quadrados) (fls. 374).

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6 – As três áreas, somadas, mediam


6.751,00m² (seis mil, setecentos e cinquenta e um metros
quadrados), número ao qual se chega a partir da soma das
dimensões de cada uma das áreas constantes das respectivas
matrículas. Um cálculo, portanto, matematicamente aritmético.

7 - Tais matrículas, esclareça-se,


originalmente foram abertas no 3º Ofício de Imóveis da capital, tendo
sido, posteriormente, absorvida a área de competência deste pela
circunscrição de competência do 7º Ofício de Imóveis da capital, ao
qual, portanto, coube efetuar tanto a averbação da carta de
adjudicação em favor de BRUNO MONTEIRO, quanto os atos
registrais relativos às áreas, conforme abaixo se explicará.

8 – Em sequência, o titular de direito sobre


as três áreas anteriormente descritas, BRUNO MONTEIRO,
requereu, e assim procedeu o primeiro acionado, então Oficial de
Registro Titular do 7º Ofício de Imóveis, a um ato registral de
unificação das três matriculas anteriormente descritas. Segundo o
pedido que protocolou,

“Em face das áreas serem contíguas, objetivando


viabilizar empreendimento imobiliário sobre as
mesmas, o Requerente resolveu unificá-las física e
juridicamente, conforme prevê o art.234 c/c o
parágrafo único do art. 235, da Lei 6.015, de
31.12.1973 (LRP); e, para tanto, contratou profissional
competente para proceder com o respectivo

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levantamento topográfico planimétrico (...)” (fls.


2
381) .

9 – Com respeito a esse requerimento, o


primeiro acionado procedeu à unificação das matrículas de
números 10.466, 24.746 e 24.747, gerando uma nova matrícula, a
de nº 30.291, datada de 30.07.2008 (fls. 378).

10 – No mesmo requerimento, BRUNO


MONTEIRO pleiteou ainda a retificação da área sobre a qual detinha
os direitos aqui já mencionados. Efetivamente, BRUNO MONTEIRO,
agregando ao pedido de unificação, afirmou na citada peça que

“tendo-se constatado – mediante simples e preliminar


cálculo matemático feito a partir das medidas
perimetrais das indicadas áreas – estar a respectiva
documentação, no que diz respeito à área total do
imóvel unificado “intra muros”, ou seja, dentro de seus
limites territoriais originais, sem alteração de divisas, a
qual é, na realidade, de 9.042,33m² e não de
6.751,00m², como erroneamente constou até a
presente data das citadas fichas de matrícula números
10.466, 24.746 e 24.747 do Registro Geral desse
Cartório, e, conforme as descrições originais,
corrigindo-se e suprimindo-se os erros e omissões
encontrados (...)” (fls. 382) (grifos iniciais nossos).

2
Na parte concernente ao pedido propriamente dito da petição, BRUNO
MONTEIRO solicita que “sejam procedidas nas citadas Matrículas 10.466, 24.747 e
24.747, os atos averbatórios de unificação dos imóveis seus objetos, encerrando-se
as mesmas e abrindo-se para a área resultante de tal fusão, matrícula própria do
Registro Geral...”.
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11 - Tal pretensão foi acolhida, tendo sido


incluída na nova matrícula 30.291 a medida de 9.042,33m² (nove
mil quarenta e dois metros quadrados). Consignou esse ato
registral que
“Conforme requerimento de 24 de julho de 2008,
firmado pelo proprietário BRUNO ANDRADE GOES
MONTEIRO, já qualificado, do qual uma via arquivei
com os documentos legais que o instruíram, e, foi
devidamente formalizado com a observância da
previsão constante do art. 1.247 do Código Civil e do
que estabelecem os arts. 167, inciso II, nº5 – parte
final, 212, 246 - §1º e 213 – incisos I –“a”, “b” e “e” e
II, da Lei Federal nº6.015, de 31.12.1973 (LRP) (...) –
AVERBO, nesta data, a RETIFICAÇÃO
ADMINISTRATIVA DA ÁREA TOTAL DO IMÓVEL OBJETO
DESTA MATRÍCULA, SEM ALTERAÇÃO DE SUAS
MEDIDAS PERIMETRAIS, mediante procedimento de
levantamento topográfico planimétrico cadastral (...)”
(fls. 375, verso).

12 - Ainda na confecção do ato de averbação


da pretensão atendida de BRUNO MONTEIRO, o então Oficial de
Registro consignou que

“Observação: Anuíram ao objeto desta averbação, os


vizinhos proprietários dos imóveis confrontantes. Dou
fé. Salvador, 30 de julgo de 2008. O OFICIAL (fls.
376) (grifamos).

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13 - Posteriormente, o terreno em questão foi


negociado com a Lizconstruções Empreendimentos e Participacões
Ltda., consoante documento de fls. 376-379, tendo a referida
empresa ali iniciado as obras, ainda em curso, do empreendimento
imobiliário denominado Residencial Mario Cravo, um conjunto de
3(três) torres residenciais e 252(duzentos e cinquenta e dois)
apartamentos, conforme docs. de fls. 16 e ss. e 38.

I.III. Dos documentos apresentados com os requerimentos de


unificação de matrícula – retificação de área

14 - O requerimento apresentado por BRUNO


MONTEIRO se fez acompanhar de alguns documentos. Atendendo à
requisição do Ministério Público, o Oficial de Registro titular do 7º
ofício os remeteu, consoante resposta do mesmo à fl. 371, sendo os
seguintes:

a. “Memorial Descritivo” elaborado pela


empresa Topografia Litoral Norte (fls. 386), acompanhado da
“Relação de Coordenadas UTM’s” (fls. 387);
b. “Anotação de Responsabilidade Técnica”,
figurando como contratante Bruno Andrade Goes Monteiro e como
contratado Antonio Carlos Melo dos Santos (fls. 388) e seu
respectivo comprovante de pagamento (fls. 389);
c. “Planta Topográfica” elaborada pela
empresa mencionada no item “a”, através do profissional JOÃO ODIN
DE VASCONCELOS, da qual constam, além do retratação gráfica

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propriamente dita do terreno cujo levantamento topográfico se fez,


quatro assinaturas, ou melhor, duas assinaturas e duas rubricas, que
dizem respeito aos confrontantes da área ali indicados, conforme
abaixo melhor se especificará (fls. 391).

II. DO RELATO E EXAME DAS ILEGALIDADES EXISTENTES

II.I. A falsidade de assinaturas de confrontantes do terreno:


inobservância da Lei de Registros Públicos. Concorrência de
responsabilidade por parte do Oficial de Registro Imobiliário

15 – Embora formalmente aparentasse o


preenchimento de todas as exigências legais, a concretização dos
atos registrais já descritos buscou ocultar sérias irregularidades,
todas elas protegidas pela atuação em colaboração recíproca do
primeiro acionado e dos particulares interessados na perfecção do
ato.

16 – Em primeiro lugar, o ato registral foi


perfeccionado com a aposição de “assinaturas” (sic)
comprovadamente falsificadas, consignadas na planta topográfica
apresentada como anexo do requerimento subscrito por BRUNO
MONTEIRO e encaminhado em conjunto com os prepostos da
COUTINHO IMOBILIÁRIA.

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17 – De fato, a referida planta topográfica


contempla a “assinatura” (sic) (no caso de duas delas, meros
“sinais gráficos indecifráveis”) do que seriam os quatro confrontantes
do terreno: Carlos Mariano Souza, Dílson Gomes, Condomínio
Jardim Califórnia e Colégio Maristas.

18 – As assinaturas, com efeito, não estão ali,


diga-se, por mero capricho ou por formalidade inócua. Existe
expressa exigência legal no sentido de sua consignação em
requerimentos como o tramitado por BRUNO MONTEIRO no cartório
do 7º Ofício de Imóveis, ou seja, que pretendem a retificação de
área. Essa exigência não é de menor valor, dado que, muito pelo
contrário, busca promover a segurança do ato registral e precatar a
possível instauração de conflitos envolvendo os lindeiros, e mesmo de
fraudes, uma vez que, ao existirem, induzem à presunção de que os
confrontantes anuem ao pedido do interessado.

19 – Sob outro ponto de vista, a exigência de


assinatura dos confrontantes possibilita ao Oficial de Registro aferir,
juntamente com a análise de outros aspectos, o grau de veracidade
das alegações do interessado. Dito isso, resulta claro que o papel do
Oficial de Registro, obviamente, não pode ser passivo, tampouco
omisso e desdenhoso, menos ainda doloso, no sentido de que,
apresentados os documentos e atendidas eventuais formalidades
complementares, os pleitos que analisa devem ser atendidos 3. Por

3
Como diz WEST, as decisões negativas significam uma disposição definitiva
(WEST, Willian F.. Controlling the Bureaucracy: Institutional Constraints in Theory
and Practice. Armonk/London. M. E. Sharp, 1995, p. 25).
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suposto que, considerando a gravidade das funções que exerce, o


Oficial de Registro vela pela legalidade, veracidade, segurança dos
atos registrais, que, se não tratadas sob o influxo de tais deveres,
pode resultar em prejuízos, presentes e futuros, a terceiros e à
coletividade, e em benefícios a pessoas físicas e jurídicas que atuem
de forma ilícita.

20 – Nesse sentido, a Lei nº6.015/1973 – Lei


de Registros Públicos4 estabelece as circunstâncias e os requisitos
diante dos quais devem ser adotadas diversas providências pelo
Oficial de Registro, entre as quais encontram-se os dispositivos
concernentes à assinatura.

21 - Segundo o art. 213, caput, I, “e”, e II, da


LRP, respectivamente:

Art. 213. O oficial retificará o registro ou a averbação:


I - de ofício ou a requerimento do interessado nos
casos de:
e) alteração ou inserção que resulte de mero cálculo
matemático feito a partir das medidas perimetrais
constantes do registro;
II - a requerimento do interessado, no caso de inserção
ou alteração de medida perimetral de que resulte, ou
não, alteração de área, instruído com planta e
memorial descritivo assinado por profissional
legalmente habilitado, com prova de anotação de
responsabilidade técnica no competente Conselho

4
Doravante LRP.

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Regional de Engenharia e Arquitetura - CREA, bem


assim pelos confrontantes.

22 – Um primeiro aspecto relevante para


entender tanto o texto legal – em que pese, neste particular, sua
obviedade – e a ilegalidade que se está apontando, é exatamente o
significado da palavra assinatura. Sabe-se que nenhuma palavra
contida em texto legal é desprovida de função e significado. Por certo
que, dadas determinadas condições, nas quais o contexto externo por
vezes é determinante, interpretações de texto, e mesmo de
expressões do vernáculo, individualmente, “ajustam” e “se ajustam”
a certos significados, a priori e aparentemente afastados de qualquer
dúvida.

23 – Não é o caso do vocábulo assinatura,


constante do texto da LRP. Assinatura, segundo o dicionário online
Webdicionario5, possui os seguintes significados:

Nome assinado. 2. Direito que se tem a alguma


publicação ou comodidade mediante certo preço por
determinado tempo. 3. Ato de assinar. 4. Despacho do
chefe de Estado. 5. Assinatura à escala: impressão de
um filete no meio da medianiz, entre a primeira e a
última página de cada folha de máquina pertencente a
uma obra, e deslocado progressivamente de folha para
folha. 6. Assinatura de caderno: algarismo que cada
página inicial do caderno ostenta na margem branca de

pé.
5
http://www.webdicionario.com/assinatura. Consultado em 11 de junho de
2012.
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24 – Nota-se, portanto, a clarividência do


significado do vocábulo. No caso objeto de análise na ação que ora se
propõe, “assinatura” se enquadra na definição nº “1”, i.e., “nome
assinado”. Não poderia ser diferente a exigência legal, e quando se
aprecia o esquema legal conformador da hipótese normativa em
questão, o que resulta induvidoso é que pela assinatura há que se
identificar de quem se trata o confrontante que assina.

25 - Por outro lado, e somente por


argumentar, o mesmo dicionário esclarece que o vocábulo rubrica
significa, no que nos interessa aqui, “Assinatura curta ou abreviada”6.
Trata-se, portanto, de conceito inaplicável à previsão normativa.

26 – Voltando-se os olhos para a planta


topográfica apresentada ao cartório do 7º Ofício de Imóveis da capital
e aceita pelo respectivo titular, nota-se que existem ali, somente,
duas assinaturas, as quais guardam correspondência com os nomes
das pessoas a quem supostamente se referem, a saber, Carlos
Mariano de Souza e Dílson Gomes.

27 – Existem, todavia, outras duas


expressões gráficas sequer assemelhadas a rubricas – muito menos a
assinaturas – cujo “desenho” não autoriza, a quem quer que seja,
deduzir pela sua correspondência com as pessoas, físicas ou
jurídicas, a que supostamente deveriam dizer respeito.

6
http://www.webdicionario.com/rubrica, consultado em 24 de maio de 2012.

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28 – De fato, os confrontantes Condomínio


Jardim Califórnia e Colégio Marista estão supostamente anuindo à
descrição gráfica contida na planta topográfica através de suas
“assinaturas” (sic). Estas, entretanto, não são suscetíveis de
facilitar qualquer indício de identificação de quem seriam os
respectivos autores.

29 - Ainda assim, o titular do 7º Ofício de


Imóveis aceitou o documento como válido e procedeu à feitura
do ato registral. E o fez com preterição proposital e evidente da
qualidade das exigências legais aplicáveis.

30 – Tanto isso é certo que o representante


legal do Condomínio Jardim Califórnia, Sr. JORGE VALTER
MENESES MAIA7, protocolou em diversos órgãos públicos (inclusive
neste órgão ministerial) representações reclamando, dentre outras
coisas, contra a falsidade da assinatura aposta na citada planta no
local destinado à sua pessoa, na condição de representante do
Condomínio (ou Associação) Jardim Califórnia.

31 – Tendo uma das representações do Sr.


JORGE MAIA desencadeado uma investigação de natureza penal –
Inquérito Policial nº173/2011, tramitado na Delegacia de Crimes
Econômicos e Contra o Patrimônio Público (DECECAP), uma das
providencias adotadas pela autoridade policial foi solicitar ao

7
Doravante JORGE MAIA.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA - GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL DE DEFESA


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Angélica, 1312, Prédio Anexo, 4º Andar – Nazaré CEP 40050-001 Salvador – Bahia Tel.:
(71) 3103-6827/ 6823
14
GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO
E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA – GEPAM
30ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE ASSISTÊNCIA DA CAPITAL

Departamento de Polícia Técnica da Polícia Civil baiana exame de


“Determinação de Autoria Gráfica”, com o objetivo de determinar se a
“manifestação gráfica” aposta na planta topográfica como sendo de
autoria do Sr. JORGE MAIA, de fato, ao mesmo correspondia.

32 – Procedida a perícia, o resultado apontou


que
“a referida rubrica se apresenta como um símbolo
gráfico indecifrável, iniciando com ataque em gancho
que se desenvolve em movimento de flexão, seguido de
traços circulares em forma de arcadas, divergindo
completamente do padrão gráfico PP, fornecido pelo
Sr. Jorge Valter Meneses Maia, nesta Coordenação (vide
ilustrações na pagina seguinte)” (fls. 322 a 328)
(negritos não originais)8.

33 – Entretanto, no cartório do 7º Ofício de


Imóveis, esse “símbolo gráfico indecifrável” foi tranquilamente aceito
como representativo de uma “assinatura” legalmente exigida. Ainda
que não seja de responsabilidade do oficial de registro a colheita das
assinaturas (papel, aliás, para o qual atuou ativamente, conforme
adiante se detalhará), a este compete, sem sombra de dúvidas, a
proteção do interesse público indiscutível na garantia da
legalidade dos atos registrais, que amparam uma série de outros
direitos, em cadeia, de terceiros, que se estendem por prazo

8
Vale registrar que o citado Inquérito Policial concluiu pelo indiciamento do
Oficial de Registro e de BRUNO MONTEIRO, conforme cópia do relatório inserta
nos autos (fls. 391-395).
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indefinido. Não pode operar, portanto, com incúria, imprecisão, culpa


ou, muito menos, má-fé.

34 – Já no bojo da investigação patrocinada


por esta Promotoria de Justiça, se houve por bem atentar ainda para
outro “símbolo gráfico indecifrável”, relativo ao confrontante
Colégio Marista, constante da mesma planta topográfica já referida.
Realmente, tal “símbolo” guarda uma característica muito similar ao
aposto como sendo de origem do Condomínio Jardim Califórnia: não
se pode identificar qualquer vestígio de quem seria o seu
responsável.

35 – Nesse sentido, foi oficiada a direção


daquele estabelecimento de ensino, encaminhando-lhe cópia da
planta topográfica, com o objetivo de que confirmasse, ou não, a
autenticidade do “símbolo gráfico indecifrável” ali aposto como
sendo de algum representante do colégio. Em resposta ao Ofício
nº104/2012-30ªPJA-GEPAM (fls. 416), a direção do Colégio
Marista, categoricamente, negou a autenticidade do que fora
reputado “assinatura” pelo Oficial de Registro de Imóveis do 7º Ofício
da capital, afirmando que

“(...) a assinatura, aposta na citada planta topográfica,


não foi reconhecida como sendo de Diretores,
que, naquele ano, detinham poderes plenos,

outorgados pela mantenedora” (fls. 418)


(grifamos).

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36 – Forma-se, portanto, um panorama em


que o termo “assinatura” empregado no art. 213 da LRP teve seu
significado dolosamente desvirtuado pelo Oficial de Registro, para ser
irrestritamente aceito documento no qual os “símbolos gráficos
indecifráveis” ali existentes (em lugar das assinaturas legalmente
exigidas), como sendo de dois confrontantes de terreno,
secundassem deferimento de pedido de retificação de área, em
dimensão muito expressiva, como adiante se analisará. Não bastasse
isso, tais “símbolos gráficos indecifráveis”, ademais de carecer de
valor jurídico pela falta de correspondência com o exigido por lei
(assinaturas), foram falsificados.

37 – A inobservância das exigências legais


descortinou a situação de fato de todas as cautelas almejadas pela
LRP; facilitou a perfecção de ato registral público distanciado da
necessária veracidade. Não poderia o Oficial de Registro aceitar as
evidentemente suspeitas “assinaturas” (sic) e, muito menos,
consignar no ato registral perfeccionado que “Anuíram ao objeto
desta averbação, os vizinhos proprietários dos imóveis confrontantes”
(fls. 376). Tal proceder, contextualizado com as demais
circunstâncias que aqui se narrarão, revela a sua intenção dolosa de
favorecer BRUNO MONTEIRO e a IMOBILIARIA COUTINHO
IMÓVEIS.

38 – Como salienta a doutrina, calcada na


praxe dos tribunais,

“As anuências devem constar da planta, conforme


prevê o §2º do inciso II do artigo 213 da LRP. Porém,

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considera-se que a anuência poderá ser formalizada em


instrumento específico (público ou particular), desde
que não seja possível inseri-las na própria planta,
devendo conter a descrição completa e o desenho
gráfico do imóvel a ser retificado, número da
matrícula, nome do proprietário, local e data e
assinaturas reconhecidas por autenticidade9
(grifamos).

39 – Não poderia ser diferente, quando, como já


se disse, e se repete ao longo desta actio, o dever do Oficial de
Registro de Imóveis de defender o interesse público é superior a
qualquer desejo de colaboração pessoal em favor de quem quer que
seja, de modo que “dependendo do caso, para melhor convencimento
e segurança do Registrador, poderão ser exigidos outros
documentos10”.

II.II. A extensão da área retificada: de 6.751,00m² para


9.042,33m²(aumento de 34%). Impossibilidade de retificação
administrativa, principalmente na forma como se deu, e
irregularidades correlatas

40 – Tudo quanto se disse até o presente


adquire maior relevância ao colocarmos atenção na proporção de
área acrescentada à medida inicialmente registrada com
9

http://www.lamanapaiva.com.br/mostra_novidades.phpid_novidades=24&id_notici
as_area=1. “O reconhecimento deve ser por autenticidade conforme exige o artigo
221 da LRP e o artigo 369 do CPC”, salienta o mesmo autor, no mesmo texto.
10
Idem.

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relação às três matrículas anteriores, que resultaram, após a


unificação de que tratamos anteriormente, numa nova matrícula, a de
nº30.291. Nas matrículas inicialmente concernentes às três áreas
unificadas vemos as áreas que cada uma possuía, conforme se vê na
tabela 1:

MATRÍCULA ÁREA
10.466 844,00m²
24.746 1.008,00m²
24.747 4.899,00m²
TOTAL 6.751,00M²

41 – Com efeito, considerando a nova medida


consignada na matrícula nº30.291, houve o acréscimo de
2.291,33m² (dois mil, duzentos e noventa e um metros
quadrados e trinta e três centésimos), ou, em percentual, de
33,94% (trinta e quatro por cento). Nesse passo, as cautelas
legais recomendariam ainda maior cuidado por parte do Oficial de
Registro; entretanto, o inverso se deu.

42 – Realmente, é preciso assinalar que está


o Oficial de Registro adstrito, em sua atuação, aos princípios
específicos do direito notarial, a saber: da segurança jurídica; da
economia; da forma; da imediação; da rogação; do consentimento;
da unidade formal do ato; e da notoriedade ou da fé pública. É o
Oficial de Registro o guardião de tais princípios, e segundo VENOSA

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“pelo princípio da responsabilidade, os oficiais


respondem pelos prejuízos causados por culpa ou dolo,
pessoalmente ou por seus prepostos”11.

43 – Feito o parênteses para assinalar o quão


grave é o cometido atribuído aos oficiais de registro de imóveis, em
especial diante de situação fática como a ora analisada, volvamos ao
fato de que a retificação da área, em tais proporções, não houvesse
também a malfadada aceitação das “assinaturas” (sic), indicava, no
mínimo, a necessária adoção de cautelas adicionais ou mesmo
a consulta ao juiz corregedor ou ao juiz de registros públicos,
através do procedimento de dúvida12.

44 – Note-se que o Oficial de Registro do 7º


Ofício da capital admitiu um aumento de área inadmissível do ponto
de vista legal, superando em muito o limite razoável, para procedê-la
com tamanha informalidade. Volta-se a dizer, a retificação
administrativa não pode fazer as vezes de sentença
declaratória. Mas a deliberada e ilícita intenção de colaborar com os
interessados privados sacrificou todas as normas concernentes à boa
prática notarial.

11
VENOSA, Sílvio de Salvio. A nova retificação de registro imobiliário. 2005.
Disponível em: <http://www.colegioregistralrs.org.br>. Acesso em: 08 jun. 2012,
p. 01.
12
"’Dúvida’ é pedido de natureza administrativa, formulado pelo oficial, a
requerimento do apresentante do título imobiliário, para que o juiz competente
decida sobre a legitimidade de exigência feita, como condição do registro
pretendido" (SWENSSON, Walter Cruz; [et al]. Lei de Registros Públicos Anotada. 4.
ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2006, p. 500.
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45 – Nesse sentido, os limites à possibilidade


de retificação de área com ou sem levantamento dos confrontantes,
bem assim do nível de segurança exigido na atuação do Oficial de
Registro, devem ser encontrados com a conjugação da LRP com o
Código Civil13, que no seu art. 500, §1º, estabelece:

Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o


preço por medida de extensão, ou se determinar a
respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer
dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o
direito de exigir o complemento da área, e, não sendo
isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou
abatimento proporcional ao preço.

§1º Presume-se que a referência às dimensões foi


simplesmente enunciativa, quando a diferença
encontrada não exceder de um vigésimo da área
total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de
provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado
o negócio (g.n.).

46 - Uma vez superado o limite de 5%


(cinco por cento), tanto o levantamento das medidas dos
confrontantes quanto a declinação da apreciação do pedido a outra
instância são de lei,tendo em conta que

“o art. 500 do Estatuto Civil, que admite como razoável


e dentro das diferenças normais e aceitáveis de uma
medição, uma variação de até 5% (cinco por cento), de

13
Doravante CC.

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forma que, se a expansão de medidas não


ultrapassar este percentual, a necessidade de
levantamento dos confrontantes não se mostra
necessária. Evidentemente que tal exigência de
apuração da medida dos confrontantes somente se
justifica em circunstâncias excepcionais, não se
aplicando, por razões óbvias, aos imóveis rurais. Mas
nos casos de divisas instáveis ou que registrem
expansão superior a 5% (cinco por cento), tal
exigência se justifica, posto que a questão de
retificação atua sobre a titularidade patrimonial,
de forma que a ciência ou anuência dos
confrontantes deve vir cercada dos melhores
esclarecimentos possíveis”14 (grifamos).

47 – Não foi, como vimos, a forma de atuar


do Oficial de Registro do 7º Ofício da capital. Não houvesse a
intenção deliberada de conjugar esforços com os demais acionados
para lograr o fim ilícito, poderia o Oficial de Registro louvar-se de
outras diligências para sustentar seu convencimento,

“mesmo que aparentemente tenham sido


cumpridos todos os requisitos previstos em lei
(apresentação dos documentos e das anuências
necessários), o mesmo poderá realizar diligências
para constatar, com seus próprios sentidos, a real
situação do imóvel, sua correta localização,
15
caracterização etc. ” (grifamos)

14

Conformehttp://www.lamanapaiva.com.br/mostra_novidades.phpid_novidades=24
&id_noticias_area=1, já citado.
15
Idem.

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II.II.a. Da inexistência de marcos anteriores a legitimar a


retificação da área

48 - O Oficial de Registro assumiu a perfecção


de um ato absolutamente irregular ainda por uma outra razão:
segundo sua versão, somente o fez “porque se tratava de uma
situação de mero calculo matemático” e que assim havia entendido
“porque as áreas lineares ou limítrofes do terreno foram mantidas,
conforme o referido levantamento topográfico, igualmente pautando
a sua decisão no fato de que na planta que lhe apresentaram
constavam as assinaturas dos confrontantes do terreno” (conforme
termo de declarações de fls. 534).

49 – Sucede que o profissional que realizou o


levantamento topográfico e fez o memorial descritivo, JOÃO ODIN DE
VASCONCELOS, afirmou em oitiva procedida neste Ministério Público
que, contratado por BRUNO MONTEIRO, este

“não chegou a apresentar ao declarante os


documentos de propriedade; que Bruno mostrou a
área cercada da que alegava ser o proprietário, e sobre
a qual o declarante realizaria o serviço (...) que o
declarante não teve contato com as matrículas cuja
unificação foi pedida em cartório pelo Sr. Bruno, a qual,
inclusive, só tomou conhecimento nesta audiência; ”
(fls. 412-413) (g.n.).

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50 – Nesse passo, o levantamento topográfico


não se valeu de qualquer referência precedentemente
existente de marcos consignados em qualquer documento,
louvando-se, exclusivamente, segundo o citado profissional, na
indicação de BRUNO MONTEIRO da

“área cercada que possuía e foi com base nisso que


procedeu ao levantamento, sem questionar qualquer
dúvida sobre isso, já que Bruno apresentou a área
como sendo de sua propriedade” (fls. 413).

51 – De extrema relevância, na linha do que


se vem argumentando, é a afirmação do mencionado profissional no
sentido de que

“analisando neste momento, as três matrículas


anteriores referentes à área de Bruno, pode afirmar que
não teria condições de chegar a qualquer
conclusão no levantamento topográfico caso não
existissem as cercas; que, se não houvesse a cerca,
seriam necessários todos os marcos geradores de
vértices para realização do levantamento; que, por
não conhecer as citadas matrículas, e mesmo as
conhecendo, não poderia confrontar as áreas nela
descritas com a área constante do levantamento
topográfico realizado pelo declarante, dada a
inexistência de marcos” (fls. 413) (grifos nossos).

52 – Resulta evidente, portanto, que o oficial


de registro indevidamente desconsiderou a inexistência de marcos

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previamente consignados nas matrículas anteriores e atendeu,


integralmente, ao pedido do requerente da retificação, BRUNO
MONTEIRO, em prejuízo do seu dever de zelar pela fidedignidade
dos atos registrais públicos. Obviamente, não tendo as matrículas
anteriores os citados marcos, logicamente na matrícula gerada a
partir da unificação de área surgiram novos marcos, originados a
partir da unilateral indicação do então proprietário do bem, BRUNO
MONTEIRO, e “capturadas no levantamento topográfico e traduzidas
no memorial descritivo já referidos.

53 – O uso dos marcos consignados na nova


matrícula para o fim pretendido pelos interessados foi indevido e
resultou em resultado fraudulento à lei, pois, ao inexistir a utilização
de marcos nas matrículas anteriores pelo topógrafo, não poderia o
Oficial de Registro, sob nenhuma hipótese, considerar uma “situação
de mero erro matemático”, pois o único parâmetro numérico de
que dispunha, baseado nas anteriores matrículas, para chegar
a qualquer conclusão matemática quanto à área do terreno
eram as medidas constantes de cada uma delas, as quais,
matematicamente, somente chegam aos 6.751,00m².

54 - Portanto, o uso da retificação


administrativa, através de levantamento topográfico, como forma de
atender ao pleito de aumento da área formulado por BRUNO
MONTEIRO, dependeria de se haver tido em conta os documentos
anteriores que respaldassem as alegações do mesmo, sem prejuízo

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de outras provas que poderia a Oficial de Registro exigir. De fato,


pontua a doutrina, pautada pela atuação de tribunais diversos:

“Segundo o Doutor Venício Antônio de Paula Salles, Juiz


de Direito Titular da 1ª Vara dos Registros Públicos de
São Paulo-SP, “em atenção e respeito ao princípio da
instância, a retificação de ofício, a exemplo do que
ocorria nos casos tipificados como erro evidente, não
pode ser deflagrada quando a retificação se mostrar
dependente da produção de novas provas. A retificação
de ofício se limita à superação de imperfeições
viabilizadas pela utilização de documentos pré-
existentes.
Neste contexto, e com tal limitação, é de se admitir a
retificação de ofício para efeito de ser complementada a
informação tabular, a partir de uma certa base
documental, como a migração de informações
extraídas do título causal, de outros documentos
oficiais, ou de dados ou informações tabulares
existentes ou anteriormente retificadas”16
(grifamos).

III. Da colaboração entre os acionados para a consecução do


ato registral ímprobo

55 - Em princípio, houve uma colaboração


amistosa, não conflituosa, entre os três acionados. BRUNO
MONTEIRO contou com os serviços da COUTINHO IMÓVEIS,
através dos prepostos desta, KLEBER ROCHA CAVALCANTE e

16
Idem.

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BYRON GOMES DE ALENCAR, em vários sentidos: (i) para negociar


o imóvel com interessados na sua aquisição, que resultou na venda à
empresa LIZ CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA., assim
como (ii) para encaminhar a documentação “burocrática” relativa à
regularização da situação do terreno com respeito à unificação de
matrículas, retificação de área, obtenção de escritura etc.

56 – Com esse objetivo, BRUNO MONTEIRO


manteve diversas reuniões com KLEBER ROCHA CAVALCANTE e
BYRON GOMES DE ALENCAR, o primeiro gerente e o segundo
corretor da COUTINHO IMÓVEIS, objetivando ajustar e dar todo o
encaminhamento à conclusão de todas os acertos firmados. BRUNO
MONTEIRO esteve na sede da COUTINHO IMÓVEIS diversas vezes
com KLEBER CAVALCANTE e com BYRON ALENCAR, assim como
compareceu com o último ao terreno a ser vendido, ao Colégio
Maristas (para oferecer o bem à venda) e ao Condomínio Jardim
Califórnia (para obter a assinatura do representante). Além disso,
BYRON ALENCAR, a mando de KLEBER CAVALCANTE, esteve
como o Oficial de Registro JOÃO HEGOUET com o objetivo de tratar
da regularização do terreno par a venda (leia-se, unificação e
retificação de área)17.

57 – O problema de dissensão começou a


acontecer quando JORGE MENESES descobriu a fraude cometida
com respeito à sua “assinatura” (sic) aposta na planta topográfica.

17
V., ilustrativamente, fls. 320-321, 329-330, 438-441, 529-532, 533-
535, 537-540).
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Daí em diante, todos os envolvidos nos fatos começaram a atribuir-se


reciprocamente a autoria das ilegalidades praticadas18.

58 – A confiança e sintonia de ação entre os


envolvidos no fato aqui narrado transcorreu com fluidez, inclusive a
planta topográfica foi deixada sob os cuidados do Oficial de Registro,
que devolveu a BRUNO MONTEIRO e à COUTINHO IMÓVEIS
uma cópia da mesma, da qual, então, constava a assinatura de dois
confrontantes, Carlos Mariano de Souza e Dílson Gomes, a primeira
colhida por BRUNO MONTEIRO e a segunda por BYRON ALENCAR,
e o carimbo do cartório do 7º Ofício de Registro de Imóveis. (fls.
517-519). Posteriormente, apareceram na planta que restou incluída
no procedimento de unificação-retificação os “sinais gráficos
indecifráveis” já descritos.

59 - O fato é que o negócio com a LIZ


CONSTRUÇÕES E EMPREENDIMENTOS LTDA. foi concretizado,
tendo a COUTINHO IMÓVEIS e seus prepostos logrado os lucros
gratificações pretendidos, enquanto BRUNO MONTEIRO recebido o
valor de R$ 3.549.243,38 (três milhões, quinhentos e quarenta
e nove mil reais, duzentos e quarenta e três reais e trinta e
oito centavos) pela venda do imóvel19.

60 – As ilegalidades perpetradas pelo Oficial


de Registro ainda não se sabe lhe resultaram benefícios diretos ou

18
Conforme, além de págs. mencionadas na nota anterior, a de fls. 354 –
termo de acareação realizada na DECECAP.
19
Segundo o contrato de fls. 12-15.

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indiretos natureza econômica ou financeira, porém tal aspecto poderá


ser avaliado, tendo em conta medidas complementares que adiante
se solicitam.

61 – A implosão do “pacto de colaboração” se


deu com a denúncia de JORGE MENESES, e tanto diante do
Ministério Público quanto da Polícia Civil todos os envolvidos aqui
citados buscaram evadir-se das respectivas responsabilidades no
cometimento das ilicitudes ora narradas, atribuindo-se-as
reciprocamente, de modo que a falsificação das “assinaturas” (sic) e
o ilegal aumento do terreno teriam que ser admitidos como obra de
geração espontânea!

62 - Ao assim atuar, o oficial de registro


praticou ato que fez as vezes de verdadeira sentença declaratória de
usucapião, preterindo uma série de precauções legais para conceder
indevidamente a retificação do tamanho da área. Se não havia
marcos anteriores a partir dos quais cotejar com os marcos obtidos
com o levantamento topográfico, como reputar, o oficial de registro,
a existência de mero “mero erro de cálculo matemático”?.

2. DO DIREITO

2.1.Da Constituição Federal

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63 - Elegeu a Carta Magna princípios


basilares e que orientam a atuação dos agentes públicos condutores
da gestão da res publica e que consistem, ainda, em parâmetros da
correspondente prestação de contas e da responsabilização dos que
desbordam de seus limites. Com efeito, reza a Lei Maior:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade
e eficiência e, também, ao seguinte: (grifamos)

2.2. Da disciplina da legislação ordinária

2.2.1. Da LRP e da Lei de Organização Judiciária do Estado da


Bahia

64 - A proteção aos princípios e valores


albergados na Constituição Federal é traduzida em uma série de
disposições de natureza infraconstitucional que, às vezes, não se
limitam a reproduzir os mandamentos da Carta Magna, traduzindo
em minúcias o sentido proposto pela expressão constituinte.

65 - Nesse passo, é com tal perspectiva que


a LRP estabelece que:

Art. 28. Além dos casos expressamente consignados, os


oficiais são civilmente responsáveis por todos os

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prejuízos que, pessoalmente, ou pelos prepostos ou


substitutos que indicarem, causarem, por culpa ou
dolo, aos interessados no registro.
Parágrafo único. A responsabilidade civil independe da
criminal pelos delitos que cometerem.

66 - Por sua vez, a Lei de Organização


Judiciária do Estado da Bahia, Lei nº 10.845, de 27 de novembro de
2007, prevê:

Art. 262 - Constituem deveres dos servidores da


Justiça:
I - manter conduta irrepreensível, exercendo com zelo,
eficiência e dignidade as funções de seu cargo,
acatando as ordens dos seus superiores hierárquicos e
cumprindo fielmente as normas atinentes a custas,
emolumentos e despesas processuais.

2.2.2. DA incidência da Lei de Improbidade Administrativa


(LIA - Lei Nº 8.429/1992)

2.2.2.1. A legitimidade passiva dos acionados

67 - A Lei nº 8.429/1992, em seu art. 2º,


define quem são os agentes públicos passíveis de responder nos
termos de seus dispositivos legais, em cujo espectro se enquadra,
perfeitamente, o acionado. Merece repetida o que diz a LIA:

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Art. 2º. Reputa-se agente público, para os efeitos desta


Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente
ou sem remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função nas entidades mencionadas no artigo anterior 20
(g.n.).

68 - Por outro lado, os concorrentes,


indutores ou beneficiários do ato ímprobo dos agentes públicos
também são suscetíveis de responder nos termos da LIA, consoante
disciplina o seguinte dispositivo normativo da mesma:

Art. 3º. As disposições desta Lei são aplicáveis, no que


couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
induza ou concorra para a prática do ato de
improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma
direta ou indireta.

2.2.2.2. Da caracterização dos atos de improbidade


administrativa no presente caso

69 - Contém a LIA dispositivos legais que


conceituam, em formulações distintas, as condutas que,

20
Art. 1º. Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de
entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com
mais de 50% (cinqüenta por cento) do patrimônio ou da receita anual, serão
punidos na forma desta Lei (grifamos).
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genericamente, caracterizam atos atentatórios à improbidade


administrativa.

70 - Prevê, entretanto, no art. 4º, a


vinculação de todos os agentes sobre quem incidem suas normas aos
princípios da administração pública. Vejamos:

Art. 4º. Os agente públicos de qualquer nível ou


hierarquia são obrigados a velar pela estrita
observância dos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade e publicidade no
trato dos assuntos que lhes são afetos (g.n.).

71 - Minudenciando a definição do que seja


ato de improbidade administrativa passível de responsabilização
conforme seus dispositivos legais, a LIA descreve diversas condutas
dos arts. 9º ao 11. Com referência ao que aqui nos interessa, temos
o que diz o art. 11, inciso I:

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa


que atenta contra os princípios da administração
pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade
às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento ou diverso daquele previsto na regra de
competência;;

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72 - A presente ação demonstra que o Oficial


de Registro de Imóveis - o primeiro acionado – deliberadamente
violou os princípios da legalidade, moralidade e eficiência, todos
albergados na Carta Magna e na legislação infraconstitucional, em
especial no caput do art. 11 da LIA.

73 – Além disso, com respeito à violação do


inciso I do art. 11 da LIA, o primeiro acionado praticou atos de
ofício com o fim de facilitar a consecução de resultado ilícito.
Cometeu, no dizer de MEIRELLES, a “violação moral da lei”, vale
dizer, “utilizando motivos e meios imorais para a prática de um ato
administrativo aparentemente legal”, “disfarçado sob o capuz da
legalidade e do interesse público”21. Seu proceder, nesse sentido,
resulta evidenciado pela concorrência, com os particulares envoltos
na questão, na consecução e utilização de “sinais gráficos
indecifráveis” à guisa de assinaturas de confrontantes do terreno
antes pertencente a BRUNO MONTEIRO, sempre alicerçado na
concorrente atuação de KLEBER CAVALCANTE e BYRON ALENCAR,
pela COUTINHO IMÓVEIS. Além do mais, preteriu dolosamente a
observância da LRP e do CC para concretizar o aumento de área
pedido por BRUNO MONTEIRO e de interesse de interesse de todos os
acionados.

74 - Decorrência direta das ações e omissões


ilegais do Oficial de Registro de Imóveis foi o enriquecimento
patrimonial de BRUNO MONTEIRO, da COUTINHO IMÓVEIS e de
21
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26.ed. São Pulo:
Malheiros, 2001, p. 105.
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KLEBER CAVALCANTE e BYRON ALENCAR, através do


recebimento de valor pela venda do terreno, quanto ao primeiro, em
condições que, em verdade, não corresponderiam ao valor
efetivamente lhe devido, dado o aumento da área do terreno; e,
quanto ao segundo, pela percepção pela comissão lhe paga pela
intermediação da venda do terreno à Lizconstruções
Empreendimentos e Participacões Ltda., em parte transferida aos
demais acionados.

3. Do pedido liminar de afastamento liminar do primeiro


acionado

75 - Segundo dispõe a LIA, no seu art. 20,


parágrafo único:
Art. 20 (...)
Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa
competente poderá determinar o afastamento do
agente público do exercício do cargo, emprego ou
função, sem prejuízo da remuneração, quando a
medida se fizer necessária à instrução processual.

76 - Numa leitura inicial, a conclusão a que se


chegaria é a de que somente na hipótese de “necessidade à instrução
processual” estrita se permite a medida cautelar de afastamento.

77 - Entretanto, a interpretação do dispositivo


em comento da LIA, por óbvio, deve ser conjugada em função do

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sistema jurídico brasileiro. Nesse sentido, duas outras perspectivas


incidem, necessariamente, no particular.

78 - A primeira delas, concernente ao poder


geral de cautela que se insere numa das faculdades inerentes ao
exercício do poder jurisdicional, em defesa da prevalência do direito,
função primordial do magistrado. Nesse sentido, partindo da premissa
inicial do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art.5º, XXXV, da
Constituição Federal), ao juiz se atribui, através do art. 798 do
Código de Processo Civil, o poder geral de cautela, pelo qual a
proteção do interesse disputado na causa, e mesmo seus aspectos
laterais, devem ser resguardados pela atuação precavida e eficiente
do magistrado:

Art. 798. Além dos procedimentos cautelares


específicos, que este Código regula no Capítulo II deste
Livro, poderá o juiz determinar as medidas
provisórias que julgar adequadas, quando houver
fundado receio de que uma parte, antes do julgamento
da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil
reparação. (g.n.)

79 - Promovendo também a concretização do


princípio constitucional estabelecido no art. 5º da Lei Magna, outra
norma infraconstitucional relaciona-se ao tema: a Lei nº7.347/1985
estabelece, no seu art. 12º, a possibilidade de adoção de medidas de
cautela pelo magistrado:

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Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com


ou sem justificação prévia, em decisão sujeita a
agravo.

80 - A segunda perspectiva que apontamos


advém do fato de que a República Federativa do Brasil é signatária da
Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção de 2003, a
Convenção de Mérida, celebrada de 9 a 11 de dezembro de 2003, na
Cidade de Mérida, México. O Brasil foi o 41º Estado a assiná-la, tendo
sido aprovada pelo Decreto Legislativo 348, de 18.05.2005,
ratificada em 15.06.2005 e vigente em nosso ordenamento jurídico
desde 31 de janeiro de 2006, com a sua promulgação pelo
Decreto Presidencial nº 5.687.

81 - Essa convenção, no seu artigo 30, item


6, estabelece que:
6. Cada Estado-Parte considerará a possibilidade de
estabelecer, na medida em que ele seja concordante
com os princípios fundamentais de seu ordenamento
jurídico, procedimentos em virtude dos quais um
funcionário público que seja acusado de um delito
qualificado de acordo com a presente Convenção possa,
quando proceder, ser destituído, suspenso ou
transferido pela autoridade correspondente, tendo
presente o respeito ao princípio de presunção de
inocência” (grifamos).

82 - Como vemos, a Convenção de Mérida vai


mais além da norma prevista na LIA, ao estabelecer a possibilidade,

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mais do que razoável, de suspensão, destituição e transferência do


envolvido para outras atividades enquanto durar o processo e sempre
respeitado o princípio da presunção de inocência.

83 - Tais previsões normativas expressadas


nas perspectivas que acima ressaltamos, oferecem diversas
possibilidades ao magistrado para precatar a ordem e o interesse
públicos, sempre à luz da Constituição (art.5º, XXXV) e do poder
geral cautelar infraconstitucional (aqui incluídas as previsões em
convenções internacionais acolhidas e vigentes em nosso
ordenamento jurídico). Farta, portanto, a fumaça do bom direito.

84 - No caso em apreciação, o Oficial de


Registro de Imóveis, primeiro acionado, atuou de maneira
incompatível com os fundamentais valores que sua função visa
proteger. Transitando sua atuação entre a grotesca aceitação de
documentos descumpridores das exigências legais, portanto
imprestáveis para o fim permitido em lei, e a tentativa de sutil
“interpretação” da LRP em função do interesse privado que pretendia
atender, tem-se como seguro o risco absoluto ao interesse público,
caso permaneça o mesmo no pleno exercício de suas funções, nisso
residindo o perigo da demora22.

22
“também o “periculum in mora” pode referir-se não só a interesses ou
direitos com conteúdo econômico, mas também àqueles sem essa conotação. A
expressão é aberta e comporta ampla margem de interpretação”. José Roberto dos
Santos Bedaque. Improbidade Administrativa (questões polêmicas e atuais).
Malheiros: São Paulo, 2003, pág.299.
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85 - A jurisprudência de diversos tribunais


brasileiros orienta a interpretação da medida de afastamento cautelar
no sentido aqui defendido, a ver:

“É do interesse público que função tão relevante para


gestão do município esteja indene de qualquer dúvida
no campo da improbidade. E, além, disso, o
afastamento, por ser meramente cautelar, não
significa prejuízo pessoal irreparável, sobretudo
quando o Estatuto dos Servidores Públicos (Lei
8.112/90, art. 147) e a própria Lei de Improbidade
(art. 20) admitem o afastamento do funcionário até
mesmo quando processados no âmbito administrativo.
A medida encontra amparo jurídico na faculdade que
tem juiz de, no âmbito de seu poder geral de
cautela, decidir da forma que entende mais adequada
para garantir a regular instrução do processo.” (TNSP-
AgInst) (g.n.).

"AGRAVO REGIMENTAL. SUSPENSÃO DE LIMINAR.


PEDIDO DE AFASTAMENTO TEMPORÁRIO DE PREFEITO.
INVESTIGAÇÃO POR ATOS DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. INDÍCIOS DE MALVERSAÇÃO DO
DINHEIRO PÚBLICO. GARANTIA AO BOM ANDAMENTO
DA INSTRUÇÃO PROCESSUAL. LESÃO À ORDEM
PÚBLICA. – Visualiza-se, no caso, risco de grave lesão à
ordem pública, consubstanciada na manutenção, no
cargo, de agente político sob investigação por atos de
improbidade administrativa, perfazendo um total de 20
ações ajuizadas até o momento, nas quais existem
indícios de esquema de fraudes em licitações,
apropriação de bens e desvio de verbas públicas. –

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Além disso, o afastamento do agente de suas funções


objetiva garantir o bom andamento da instrução
processual na apuração das irregularidades apontadas.

Conforme salientou o ilustre representante do


Ministério Público Federal, "a existência de indícios
concretos de perda de legitimidade do mandatário para
o exercício do cargo público, comprometendo o voto de
confiança dado nas urnas". Bem ressaltou "em casos
como nos autos, o interesse público em afastar o
agente ímprobo deve estar acima do interesse
particular do mandatário em permanecer no cargo
especialmente quando este utiliza-se do mandato para
criar obstáculos ao devido processo legal e às
investigações dos órgãos públicos". (STJ, AgRg na SLS
467/PR - Corte Especial - Rel. Min. Barros Monteiro – J.
07/11/2007) (g.n.).

86 - Nesse passo, com fundamento nos arts.


20, parágrafo única da LIA, art. 798 do Código de Processo Civil e
art. 12 da Lei da Ação Civil Pública, na Convenção das Nações Unidas
Contra a Corrupção de 2003, aprovada pelo Decreto Legislativo 348,
de 18.05.2005, ratificada em 15.06.2005 e vigente em nosso
ordenamento jurídico desde 31 de janeiro de 2006, com a sua
promulgação pelo Decreto Presidencial nº 5.687, requer o Ministério
Público o afastamento cautelar do primeiro acionado, Oficial de
Registro de Imóveis do 7º Ofício da Capital, devendo o mesmo ser
suspenso de suas funções ou designado ao exercício de outra função
impeditiva de promover a obstrução da instrução do processo e de
infringir o interesse público no sentido questionado nesta ação, e,

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sobretudo, de renovar a prática de atos de natureza similar aos aqui


denunciados.

87 – Com respeito ao prazo do afastamento


ora requerido, sugerimos o previstos na Lei nº 10.845, de 27 de
novembro de 2007:
Art. 276 - A autoridade que determinar a abertura do
processo administrativo disciplinar poderá suspender o
servidor, por até 60 (sessenta) dias, prorrogáveis por
igual período, desde que a permanência do indiciado,
no cargo, possa prejudicar a investigação dos fatos.

4. Do pedido principal e dos requerimentos

88 - Em razão do expendido, requer, com


especial atenção, de Vossa Excelência:

a. A notificação dos acionados, para,


querendo, oferecer manifestação por escrito, na forma e para os fins
do art. 17, § 7º, da Lei 8.429/92;
b. Recebida a inicial, proceda-se à citação
do Estado da Bahia/BA, na pessoa de seu representante legal, nos
termos do art. 12, I do Código de Processo Civil, para, querendo,
integrar a lide, nos termos do art. 17, § 3º, da Lei acima referida,
devendo ser observado que esta citação deverá preceder à dos
acionados;

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c. Após a citação acima mencionada, e com


ou manifestação nos autos do Estado da Bahia, requer sejam os
acionados citados, para, querendo, contestar a ação, no prazo
legal, sob pena de confissão quanto a matéria de fato, e sob os
efeitos da revelia;
d. a condenação dos acionados, nas sanções
previstas no art. 12, III, da Lei 8.429/92, no que couber e segundo
critérios de proporcionalidade e razoabilidade, especialmente: o
ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública,
suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos,
pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor da
remuneração percebida pelo agente público dano e proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo
prazo de 3 (três) anos, bem como às parcelas decorrentes do ônus da
sucumbência;
e. seja requisitado, sob pena de possível
adoção de outras medidas de natureza cautelar:
(a) a BRUNO MONTEIRO, comprovantes de
pagamento (recibos, contratos, cheques, depósito bancário etc) pelos
serviços prestados por COUTINHO IMÓVEIS e KLEBER ROCHA
CAVALCANTE e BYRON GOMES DE ALENCAR, e de taxas,
emolumentos, tributos ou quaisquer outros valores pagos ao 7º Ofício
de Registro de Imóveis ou mesmo ao seu titular, diretamente ou por
terceiros, tanto pelos procedimentos de unificação matrícula e de

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retificação de área, como os demais concernentes à compra e venda


do terreno em questão;
(b) a COUTINHO IMÓVEIS, comprovantes
de pagamento das comissões/gratificações ou qualquer forma de
premiação lhe pagas por BRUNO MONTEIRO pela comercialização
do terreno em questão com a LIZ CONSTRUÇÕES E
EMPREENDIMENTOS LTDA., ou mesmo pagas por esta úçtima.
Além de comprovantes de pagamento de comissões/gratificações ou
qualquer forma de premiação a KLEBER ROCHA CAVALCANTE e
BYRON GOMES DE ALENCAR pela mesma razão (recibos,
contratos, DAJ's, cheques) pelos serviços prestados na referida
transação, provenientes de BRUNO MONTEIRO ou de outra pessoa
física ou jurídica, inclsuive da LIZ CONSTRUÇÕES E
EMPREENDIMENTOS LTDA. Por fim, comprovantes de pagamento
de quaisquer taxas, tributos, emolumentos ou quaisquer outros
valores pagos ao 7º Ofício de Registro de Imóveis ou mesmo ao seu
titular, diretamente ou por terceiros, tanto pelos procedimentos de
unificação matrícula e de retificação de área, como os demais
concernentes à compra e venda do terreno em questão;
(c) ao 7º Ofício de Registro de Imóveis da
capital, ou mesmo à Corregedoria-Geral de Justiça, cópia dos DAJ's
ou de outros documentos lhes façam as vezes e que registrem os
valores pagos tanto pelos procedimentos de unificação matrícula e de
retificação de área, como os demais concernentes à compra e venda
do terreno em questão.

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89 - Protesta pela produção de todos os


meios e prova em direito admitidos, especialmente prova
documental, pericial, testemunhal, com a oitiva das testemunhas
oportunamente arroladas.

90 - Dá-se à causa o valor de R$


3.549.243,38 (três milhões, quinhentos e quarenta e nove mil reais,
duzentos e quarenta e três reais e trinta e oito centavos), para
efeitos meramente fiscais.

Pede Deferimento.
Salvador-BA, em 18 de junho de 2012.

ADRIANO ASSIS CÉLIA BOAVENTURA


Promotor de Justiça Promotora de Justiça

RITA TOURINHO
Promotora de Justiça

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA - GRUPO DE ATUAÇÃO ESPECIAL DE DEFESA


DO PATRIMÔNIO PÚBLICO E DA MORALIDADE ADMINISTRATIVA – GEPAM -Av. Joana
Angélica, 1312, Prédio Anexo, 4º Andar – Nazaré CEP 40050-001 Salvador – Bahia Tel.:
(71) 3103-6827/ 6823
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