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JUSTIÇA FEDERAL, MAIS PRECISAMENTE DA 4ª VARA
FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ALAGOAS, PARA
PROCESSAR E JULGAR O PROCESSO Nº 0803836-
61.2019.4.05.8000.
I – RELATÓRIO
Eis trecho da decisão agravada, exarada pelo Juízo da 3ª Vara Federal da Seção
Judiciária de Alagoas (ID 4050000.15763757), que explica os fatos narrados na petição
inicial do processo nº 0803836-61.2019.4.05.8000:
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visando subsidiar e consolidar o Plano de Contingência a ser aplicado pela Defesa
Civil, com as medidas preventivas necessárias à defesa e proteção da população
afetada. Todavia, esclareceu não possuir qualquer interesse jurídico na causa que
justificasse sua intervenção no processo, fosse na condição de parte ou de
terceiro interessado (Id. 4058000.4593629).
8. A União e a Agência Nacional de Mineração (ANM) requereram dilação
do prazo (Id. 4058000.4593630), pleito deferido pelo Juízo.
9. Nesse ínterim, o Ministério Público Federal (MPF) informou que vinha
atuando extrajudicialmente na apuração dos fatos, por meio de inquérito civil
público e grupo de trabalho instituído no âmbito da Procuradoria da República em
Alagoas, e defendeu a existência de interesse federal na causa, mencionando que
o Ministério Público Estadual, por meio da 66ª Promotoria de Justiça da Capital,
havia declinado de suas atribuições em favor do Parquet federal, encaminhando-
lhe os autos do Processo MP nº 09.2018.00000637-5.
10. O MPF alegou, em suma, que caberia à Justiça Federal processar e
julgar a demanda: (i) por envolver extração de recursos minerais, bens que
integram o patrimônio da União; (ii) por competir privativamente à União legislar
sobre jazidas, minas e outros recursos minerais e metalurgia; (iii) porque a
autorização de lavra e exploração mineral no País, assim como sua fiscalização,
cabem à Agência Nacional de Mineração (ANM), uma autarquia federal; (iv) pois o
Ministério de Minas e Energia, por meio da Portaria MME nº 20/2019, determinou
ao Serviço Geológico do Brasil – SGB/CPRM e à ANM que, no âmbito de suas
competências, priorizassem e intensificassem suas ações de diagnóstico e
monitoramento da instabilidade geológica no bairro do Pinheiro, em Maceió/AL; (v)
porque o dano ambiental decorrente da atividade minerária define a competência
da Justiça Federal; (vi) porque a União repassou recursos ao Município de
Maceió/AL para ações da Defesa Civil; (vii) por existirem poços de extração no
Complexo Estuarino Lagunar Mundaú Manguaba – CELMM, que abrangem águas
federais (Id. 4058000.4593630).
11. A despeito da manifestação do Ministério Público Federal, a União, em
sua resposta, escusou-se de intervir no feito, considerando sobretudo que, no
contexto do processo, o pedido de reparação das supostas vítimas, por danos
materiais e morais suportados, não traria prejuízo ao patrimônio público federal (Id.
4058000.4593630).
12. Diante da manifestação do Ministério Público Federal, os demandantes
atravessaram petição alegando que o objeto da ação difere daquele que o Parquet
federal pretende proteger, e sustentaram a possibilidade de coexistirem ações nos
âmbitos estadual e federal. Destacaram que o declínio de atribuições, proposto
pela 66ª Promotoria de Justiça da Capital, não foi homologado pelo Conselho
Superior do Ministério Público de Alagoas, o qual decidiu pela manutenção, no
âmbito estadual, do inquérito civil instaurado pelo MPE/AL para acompanhar a
segurança das edificações no bairro do Pinheiro.
13. Esclareceram que, por meio desta ação, almejam exclusivamente
garantir indenizações por danos morais e materiais causados pela conduta da
Braskem S. A., pessoa jurídica de direito privado, sem discutir os impactos
ambientais causados no subsolo pela atividade de mineração, inexistindo
interesse federal no litígio.
14. Os demandantes também sustentaram que a existência de questões
relacionadas aos impactos e danos ambientais, por si só, não gera presunção
absoluta de interesse da União. Colacionaram à petição precedentes do Tribunal
de Justiça de Santa Catarina, no julgamento da AC nº 2010.087747-1 e da AC nº
000908041.2007.8.24.0020, nos quais restou assentado que compete à Justiça
Estadual processar e julgar ação civil pública fundada em danos materiais e
morais a determinada população, mesmo que decorrente de atividades de
mineração, não obstante o subsolo se inserir no patrimônio da União. Isso porque,
se as ações individuais promovidas pelos cidadãos que tiveram seus imóveis
atingidos por danos estruturais haveriam de tramitar perante a Justiça Estadual,
não faria sentido deslocar o julgamento da ação coletiva envolvendo os mesmos
interesses para a Justiça Federal (Id. 4058000.4593631).
15. Consta dos autos requerimento de intervenção no processo, na
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condição de amicus curiae, formulado pela FAMECAL – Federação das
Associações de Moradores e Entidades Comunitárias de Alagoas, em conjunto
com a Associação dos Moradores do Mutange, Associação dos Moradores do
Saem e da Associação Comunitária de Moradores do Bebedouro (Id.
4058000.4593634).
16. Após, veio aos autos pronunciamento da Agência Nacional de
Mineração (ANM), autarquia da União, sustentando que, muito embora esteja
entre suas atribuições fiscalizar a atividade de mineração, não possui interesse
jurídico em intervir na lide, pois a causa de pedir e o pedido desta demanda não
impugnam atos ou omissões a si imputados (Id. 4058000.4593642).
17. Tendo em vista a manifestação do Ministério Público Federal,
defendendo que a causa seria de competência absoluta e privativa da Justiça
Federal, a Braskem, com fundamento no entendimento firmado na Súmula nº 150
do Superior Tribunal de Justiça, requereu a remessa dos autos à Justiça Federal,
para proferir decisão sobre a existência de interesse jurídico federal na causa (Id.
4058000.4593642).
18. O pleito foi acolhido pelo Juízo da 2ª Vara Cível, porém, a diligência foi
condicionada ao exaurimento do prazo recursal. Irresignada, a Braskem requereu
que a remessa fosse imediata, por não caber agravo de instrumento contra a
decisão; o novo requerimento foi acolhido e o feito veio à Seção Judiciária de
Alagoas, sendo distribuído livremente para este Juízo da 3ª Vara Federal (Id.
4058000.4593643).
19. Ato contínuo, a Braskem peticionou novamente nos autos, alegando a
existência de conexão entre esta demanda e a ação civil pública ajuizada pelo
Ministério Público Federal, materializada nos autos do processo nº 0803662-
52.2019.4.05.8000, em tramitação no Juízo Federal da 4ª Vara de Alagoas, o qual
seria prevento para processar e julgar a causa (Id. 4058000.4614973).
20. O requerimento foi deferido pelo MM. Juiz Federal Substituto, em
exercício, que declinou da competência em favor do Juízo da 4ª Vara Federal,
reconhecendo ser devida a reunião dos processos, com fundamento na regra do
Art. 59 do Código de Processo Civil (Id. 4058000.4615676).
21. Recebido o Ofício nº 129/2019, do Juízo da 2ª Vara Cível da Capital,
juntou-se aos autos o aditamento à petição inicial apresentado pelos
demandantes, delimitando o pedido principal à condenação da Empresa Ré ao
pagamento, a título de danos morais e materiais, da quantia de R$
6.709.440.000,00 (seis bilhões, setecentos e nove milhões, quatrocentos e
quarenta mil reais), aos moradores afetados (Id.'s 4058000.4617887,
4058000.4617915, 4058000.4617916).
22. Em seguida, o processo foi redistribuído ao Juízo da 4ª Vara Federal
(Id. 4058000.4648442).
23. Prontamente, a Braskem atravessou nova petição nos autos, na qual
encampou as alegações anteriormente deduzidas pelo Ministério Público Federal,
acerca da competência da Justiça Federal, e reiterou a necessidade de reunir os
processos para processamento simultâneo, em decorrência da alegada conexão
processual (Id. 4058000.4637321).
24. O Juízo da 4ª Vara Federal proferiu decisão rejeitando a conexão entre
as ações, porém, deixou de suscitar o conflito negativo de competência,
considerando a relevância social desta ação e “no intento de evitar delongas
processuais a ocasionarem mais prejuízos a considerável parte da população
maceioense que, por certo, espera a solução da lide em prazo razoável” (Id.
4058000.4631098).
25. O processo foi redistribuído, retornando a este Juízo da 3ª Vara Federal
(Id. 4058000.4648442).
26. Colhe-se, então, pronunciamento conjunto do Ministério Público Federal
(MPF) e da Defensoria Pública da União (DPU), explicando que, ao arguir a
existência de interesse no litígio, o MPF supunha que a ação versasse sobre
questão de natureza ambiental. Porém, considerando que, no aditamento à
petição inicial, fora esclarecido que o pedido estaria delimitado aos direitos
individuais homogêneos das comunidades afetadas, não abarcando direitos
difusos e coletivos, advindos de danos morais, patrimoniais e ambientais, não
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haveria interesse federal na causa. Requereram, enfim, que o processo fosse
remetido à vara de origem na Justiça Estadual (Id. 4058000.4653001).
27. Inconformada, a Braskem peticionou nos autos divergindo da posição
adotada pelo MPF e DPU, ao fundamento de que a manutenção da competência
da Justiça Federal independeria dos pedidos formulados, pois o interesse federal
residiria na causa de pedir da ação. Aduziram que os pedidos indenizatórios
amparam-se na pretensa responsabilização da empresa por sua atividade de
extração mineral em Alagoas, o que demandaria diligências junto a órgãos e
entidades federais. No ensejo, ressaltou que o aditamento à petição inicial,
formulado pelos demandantes, seria intempestivo, porque protocolado mais de 30
(trinta) dias depois da efetivação da tutela cautelar, requerendo que fosse
declarada a perda da eficácia da medida liminar deferida (Id. 4058000.4669596).
28. Logo depois, a Braskem peticionou novamente, desta feita para trazer à
colação precedentes de jurisprudência do TRF da 4ª Região e do TRF da 1ª
Região (Id. 4058000.4676340).
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II – FUNDAMENTAÇÃO
Antes de mais nada, convém apresentar um breve histórico dos fatos ocorridos.
O bairro de Pinheiro, na Cidade de Maceió/AL, foi atingido por fortes chuvas no dia
15 de fevereiro de 2018, e após referido evento, verificou-se o surgimento de uma fissura
na região, com aproximadamente 283 metros, além de outras rachaduras nas vias e
imóveis da área.
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4058000.4877898.
Pois bem.
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Art. 55. Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o
pedido ou a causa de pedir.
§ 1º Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo
se um deles já houver sido sentenciado.
§ 2º Aplica-se o disposto no caput:
I - à execução de título extrajudicial e à ação de conhecimento relativa ao mesmo
ato jurídico;
II - às execuções fundadas no mesmo título executivo.
§ 3º Serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar
risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos
separadamente, mesmo sem conexão entre eles.
1 NERY JÚNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 338/339.
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No bojo do processo nº 0803662-52.2019.4.05.8000, o Ministério Público Federal
esclarece que sua atuação “visa à proteção do meio ambiente ecologicamente
equilibrado, direito fundamental previsto no art. 225, CR/88, bem como a proteção dos
demais direitos fundamentais relativamente às pessoas colocadas como vítimas
diretas dos danos observados nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange,
consistente na abertura de crateras, fissuras e trincas em imóveis e nas vias
públicas, seja a partir das chuvas ocorridas em fevereiro de 2018, seja a partir dos
abalos sentidos em março de 2018. Registre-se, ainda, o resultado dos estudos
levados a efeito pelo Serviço Geológico do Brasil – CPRM, constante do Relatório
Síntese – Estudos sobre a Instabilidade do Terreno nos Bairros Pinheiro, Mutange e
Bebedouro em Maceió/AL, divulgado por ocasião da audiência pública do dia 8 de maio
de 2019” (ID 4058000.4521696).
Ao final, o Ministério Público Federal formula os seguintes pedidos na ação civil
pública nº 0803662-52.2019.4.05.8000 (ID 4058000.4521696):
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1.3.A – o cancelamento imediato da Licença ambiental de
Operação nº 157/2016 – IMA/GELIC referente aos poços 17, 16, 27, 28, 29,
30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38;
1.3.B – a abstenção de licenciamento de novos poços, inclusive o
do 39, eventualmente solicitados pela ré BRASKEM S/A;
1.4 – À AGÊNCIA NACIONAL DE MINERAÇÃO – ANM:
1.4.A – o monitoramento da realização de estudos de sonar, para
avaliação da geometria do interior das cavidades resultantes da extração
de sal-gema, por meio de perfil sônico – ou de outro método
tecnologicamente adequado caso não seja viável o estudo por sonar – nos
demais 26 (vinte e seis) poços, cujos estudos ainda não foram
realizados/concluídos, de forma a possibilitar a avaliação da estabilidade
das paredes e teto de todas cavernas, nos termos do pedido 1.2.B;
1.4.B – a análise dos planos de fechamento dos poços,
apresentados pela BRASKEM, na forma do que requerido nos itens 1.2.A e
1.2.C, emitindo o respectivo parecer/relatório técnico, no prazo de 15 dias,
a contar do seu recebimento;
1.4.C – com a finalização de cada perfil sônico – ou outro método
tecnologicamente adequado, caso não seja viável o estudo por sonar – na
linha do pedido 1.2.B, no prazo de 15 dias, a revisão do respectivo plano
de fechamento das minas (PFM) anteriormente apresentado pela ré
BRASKEM S/A;
1.4.D – o monitoramento da execução dos planos de fechamento
dos poços, apresentados pela BRASKEM S/A, após a análise nos termos
em que requerido nos itens 1.4.B e 1.4.C, emitindo o respectivo
parecer/relatório técnico;
2) A cominação de multa diária em valor a ser estipulado pelo prudente
arbítrio desse MM. Juízo Federal em caso de descumprimento da ordem
judicial, com sucedâneo no artigo 12, parágrafo 2º da Lei nº 7347/85, sem
prejuízo do artigo 461, § 3º, do Código de Processo Civil em caso de
descumprimento da decisão judicial;
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(ID 4050000.15763759).
Ora, não há como garantir que a BRASKEM S/A repare os danos patrimoniais
sofridos pelos proprietários dos imóveis (objeto do processo nº 0803836-
61.2019.4.05.8000), se a causa e a extensão dos danos estão sendo aferidas na
demanda de nº 0803662-52.2019.4.05.8000 (em trâmite na 4ª Vara Federal da Seção
Judiciária de Alagoas).
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entidade federal atestar o seu interesse na causa e, em consequência, atrair a
competência da Justiça Federal à luz do art. 109 da Constituição Federal, uma vez que o
Superior Tribunal de Justiça, por meio do enunciado da Súmula 150, consolidou
entendimento no sentido de que “Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência
de interesse jurídico que justifique a presença no processo, da União, suas autarquias ou
empresas públicas”.
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decorrentes todos eles de um único evento, qual seja, o desastre ambiental
consistente no rompimento da barragem de Fundão, no dia 5 de novembro de
2015, ocorrido na unidade industrial de Germano, entre os distritos de Mariana e
Ouro Preto (cerca de 100 km de Belo Horizonte). 10. Nos termos do art. 2º da Lei
7.347/85, o legislador atrelou dois critérios fixadores ou determinativos de
competência, sendo o primeiro o local do fato – que conduz à chamada
competência “relativa”, prorrogável, porque fundada no critério território,
estabelecida, geralmente, em função do interesse das partes; o outro –
competência funcional – que leva à competência “absoluta”, improrrogável e
inderrogável, porque firmada em razões de ordem pública, em que se prioriza a
higidez do próprio processo. 11. A questão que se coloca como premente na
hipótese, decorrente da tutela dos interesses difusos, caracterizados pela
indeterminação dos sujeitos e indivisibilidade do objeto, é como se dará a fixação
do foro competente quando o dano vai além de uma circunscrição judiciária. Outra
resposta não há, senão pela prevenção. 12. Muito embora o conflito positivo de
competência aqui erigido tenha se instaurado entre o Juízo estadual e o Juízo
federal de Governador Valadares, há outras questões mais amplas a serem
consideradas para que se possa definir, com a maior precisão possível, o foro
federal em que devem ser julgadas as ações em comento. 13. Existente ação civil
pública com escopo mais amplo (danos ambientais strito sensu e danos pessoais
e patrimoniais), já em curso na 12ª Vara Federal de Belo Horizonte-MG, na qual o
Ministério Público Federal se habilitou, inclusive, como litisconsorte ativo
(Processo n. 60017-58.2015.4.01.3800). Além dessa, tramitam na 12ª Vara
Federal de Belo Horizonte-MG a Ação Popular n. 0060441-03.2015.04.01.3800 e a
Ação Civil Pública n. 0069758-61.2015.4.01.3400, sendo partes nesta última a
União Federal e outros em face da Samarco Mineração S.A. e outros. 14. Na Ação
Civil Pública n. 0069758-61.2014.4.01.3400, observa-se que entre os pedidos
formulados na inicial está a garantia de fornecimento de água à população dos
Municípios que estão com abastecimento de água interrompido em função do
rompimento da barragem, além da garantia de fornecimento de água para
dessedentação dos animais nas áreas dos Municípios atingidos pelo rompimento
das barragens. 15. Mostra-se caracterizada a relação de pertinência entre as
ações civis públicas manejadas em Governador Valadares/MG, com vistas ao
abastecimento de água potável à população local, com essa outra ação civil
(n. 0069758-61.2014.4.01.3400) que tramita na 12ª Vara Federal de Belo
Horizonte, cujo objeto é mais abrangente, englobando as primeiras, pois
busca a garantia de fornecimento de água potável à população de todos os
Municípios que tiveram o abastecimento interrompido em função da poluição
do Rio Doce com a lama advinda do rompimento da barragem de Fundão. 16.
Termo de transação e de ajustamento de conduta firmado entre a União, Samarco
e outros, expressamente prevendo que as divergências de interpretação
decorrentes do acordo serão submetidas ao Juízo da 12ª Vara Federal da Seção
Judiciária de Minas Gerais. 17. Dessas circunstâncias, observa-se que a 12ª
Vara Federal da Secção Judiciária de Minas Gerais possui melhores
condições de dirimir as controvérsias aqui postas, decorrentes do acidente
ambiental de Mariana, pois além de ser a Capital de um dos Estados mais
atingidos pela tragédia, já tem sob sua análise processos outros, visando
não só a reparação ambiental stricto sensu, mas também a distribuição de
água à população dos Municípios atingidos, entre outras providências, o que
lhe propiciará, diante de uma visão macroscópica dos danos ocasionados
pelo desastre ambiental do rompimento da barragem de Fundão e do
conjunto de imposições judiciais já direcionadas à empresa Samarco, tomar
medidas dotadas de mais efetividade, que não corram o risco de ser
neutralizadas por outras decisões judiciais provenientes de juízos distintos,
além de contemplar o maior número de atingidos. EXCEÇÕES À REGRA
GERAL. 18. Há que se ressalvar, no entanto, as situações que envolvam aspectos
estritamente humanos e econômicos da tragédia (tais como o ressarcimento
patrimonial e moral de vítimas e familiares, combate a abuso de preços etc) ou
mesmo abastecimento de água potável que exija soluções peculiares ou locais, as
quais poderão ser objeto de ações individuais ou coletivas, intentadas cada qual
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no foro de residência dos autores ou do dano. Nesses casos, devem ser levadas
em conta as circunstâncias particulares e individualizadas, decorrentes do
acidente ambiental, sempre com base na garantia de acesso facilitado ao Poder
Judiciário e da tutela mais ampla e irrestrita possível. Em tais situações, o foro de
Belo Horizonte não deverá prevalecer, pois significaria óbice à facilitação do
acesso à justiça, marco fundante do microssistema da ação civil pública. 19.
Saliento que em outras ocasiões esta Corte de Justiça, valendo-se do
microssistema do processo coletivo, aplicou a regra específica de prevenção
estabelecida na Lei de Ação Civil Pública para definir o foro em que deveriam ser
julgadas as ações coletivas. Precedentes. DISPOSITIVO. 20. Conflito de
competência a que se julga procedente para ratificar a liminar proferida pela
Ministra Laurita Vaz, no exercício da Presidência, e determinar a competência
definitiva do Juízo da 12ª Vara Federal da Seção Judiciária de Minas Gerais, em
Belo Horizonte, para apreciar e julgar a causa, determinando a remessa da Ação
Cautelar n. 0395595-67.2015.8.13.0105 e da Ação Civil Pública n. 0426085-
72.2015, ambas em tramitação no Juízo de Direito da 7ª Vara Cível da Comarca
de Governador Valadares/MG, e da Ação Civil Pública n. 9362-43.2015.4.01.3813,
em curso no Juízo da 2ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Governador
Valadares/MG, ficando a critério do Juízo da 12ª Vara Federal da Seção Judiciária
de Minas Gerais a convalidação dos atos até então praticados. ..EMEN:
(CC – CONFLITO DE COMPETENCIA – 144922 2015.03.27858-8, DIVA MALERBI
(DESEMBARGADORA CONVOCADA TRF 3ª REGIÃO), STJ – PRIMEIRA
SEÇÃO, DJE DATA:09/08/2016 ..DTPB:.)
III – CONCLUSÃO
Assinado digitalmente
MARCELO ALVES DIAS DE SOUZA
Procurador Regional da República
MADS/MCBS
L:\2019\Processos Eletrônicos\Civel\AGTR\Parecer\PJE 0807513-43.2019.4.05.0000 - AGTR. Ambiental. Dano ambiental. Atividade mineração.
Competência Federal. Pelo provimento do agravo.odt
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