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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0701.12.031472-2/002 Númeração 0314722-


Relator: Des.(a) Teresa Cristina da Cunha Peixoto
Relator do Acordão: Des.(a) Teresa Cristina da Cunha Peixoto
Data do Julgamento: 11/06/2015
Data da Publicação: 22/06/2015

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMÓVEIS RURAIS -


ÁREA DE RESERVA LEGAL - AVERBAÇÃO REALIZADA NOS MOLDES
DO ART.17, VI, DA LEI ESTADUAL 14.309/2002 - SUPERVENIÊNCIA DO
NOVO CÓDIGO FLORESTAL (LEI 12.651/12) - LICENCIAMENTO
AMBIENTAL - REGULARIDADE - OUTORGA DE USO DE RECURSOS
HÍDRICOS - NECESSIDADE NÃO COMPROVADA - CADASTRAMENTO
DE USO INSIGNIFICANTE - OBRIGATORIEDADE - SENTENÇA
REFORMADA EM PARTE.

1. Tendo os recorrentes impugnado os termos do decisório, em observância


ao disposto no artigo 514 do Código de Processo Civil, apresentando razões
recursal com dialeticidade em relação ao julgado primevo, o recurso merece
conhecimento.

2. Consoante dispõe o Novo Código Florestal, o ato de instituição de reserva


legal atualmente se concretiza através da inscrição no CAR - Cadastro
Ambiental Rural, pelo que, por atualmente constituir mera faculdade do
proprietário a adoção de tal medida, não pode mais o registro ser imposto
coercitivamente pela via judicial, inexistindo, neste aspecto, qualquer
violação ao meio-ambiente por parte do requerido.

3. Tratando-se de fato constitutivo do autor (art.333, I, CPC), cabia ao


"Parquet" comprovar que a atividade de exploração dos réus demanda o uso
significativo de recursos hídricos, não se podendo presumir tal obrigação
pela simples natureza de atividade rural, de modo que, inexistindo quaisquer
provas nos autos de que o caso concreto se enquadre nas hipóteses
descritas nos incisos I a V do art.12, descabe impor a obrigação de obtenção
de outorga.

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4. Preliminar rejeitada. Recurso parcialmente provido.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0701.12.031472-2/002 - COMARCA DE UBERABA -


APELANTE(S): EVALDO OLIVEIRA RESENDE, WENDER OLIVEIRA
RESENDE, GERALDO OLIVEIRA RESENDE E OUTRO(A)(S) -
APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em REJEITAR A PRELIMINAR E DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO
RECURSO DE APELAÇÃO.

DESA. TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO

RELATORA.

A SRA. DESA. TERESA CRISTINA DA CUNHA PEIXOTO (RELATORA)

VOTO

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Cuida-se de "Ação Civil Pública" ajuizada pelo Ministério Público do


Estado de Minas Gerais em face de Gerando Oliveira Resende, Wender
Oliveira Resende e Evaldo Oliveira Resende, alegando que os réus são
proprietários dos imóveis rurais matriculados sob os nº. 3.913 e 43.232, do 2º
Cartório de Registro de Uberaba e os imóveis se encontram irregulares no
que tange ao cumprimento da legislação ambiental, haja vista que não
possuem a área de reserva legal averbada a margem da respectiva matrícula
como determina a Lei Estadual 14.309/2002 e não possuem licença
ambiental válida. Afirmou, ainda, que os demandados não providenciaram o
licenciamento ambiental e o pedido de outorga de uso de recursos hídricos,
necessários para o desempenho de quaisquer atividades nas propriedades
rurais. Ressaltou que mesmo com o advento do Novo Código Florestal (Lei
12.651/2012), a situação dos requeridos permanece irregular, já que citado
diploma padece de inconstitucionalidade, por implicar retrocesso social na
proteção do meio-ambiente. Por tais fundamentos, requer que os
demandados sejam condenados a "providenciarem a averbação das áreas
de reserva legal dos imóveis rurais objetos das matrículas nº. 3.913 e 43.232,
do 2º Cartório de Registro de Imóveis da Comarca de Uberaba"; "a obtenção
do devido licenciamento ambiental e da outorga para uso do recurso hídrico
ou cadastro de uso insignificante junto ao IGAM - Instituto Mineiro de Gestão
das Águas"; bem como: "a apresentação de planta, em meio digital, no
formato 'dxf' ou 'dwg', da propriedade rural, devidamente identificada,
conforme o Registro de Imóveis" (fl.26).

O MM. Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da Comarca de Uberaba indeferiu


o pedido liminar às fls. 36/37, ensejando a interposição do Agravo de
Instrumento n.º 1.0701.12.031472-2/001, ao qual foi negado seguimento (fls.
81/85).

Os réus contestaram às fl. 91/103, alegando, resumidamente, que: a)


conforme disposto no Novo Código Florestal, ficou dispensada a
obrigatoriedade de averbação da reserva legal à margem da matricula do
imóvel, passando tal procedimento a ser tratado como mera faculdade,
tornando-se obrigatório, a partir de então, apenas o

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registro junto ao órgão ambiental competente por meio de inscrição no


Cadastro Ambiental Rural; b) que a legislação Estadual encontra-se com
eficácia suspensa, na medida em que é anterior à Lei Federal que trata sobre
normas gerais; c) que não há o preenchimento dos pressupostos que
autorizam a concessão de urgência, pelo que requer seu indeferimento. Por
fim, requereram a improcedência do pedido autoral.

Impugnação às fl. 104/127.

Na sentença de fl. 131/133-v, o MM. Juiz de Direito da 5ª Vara Cível da


Comarca de Uberaba julgou procedente o pedido da exordial, ordenando à
parte ré: "a) promover a averbação da área de reserva legal do imóvel, no
prazo de 180 dias, observando-se a gratuidade do ato, pena multa diária de
R$300,00, ao teto de R$100.000,00; b) providencias a obtenção do devido
licenciamento ambiental e da outorga para o uso do recurso hídrico ou
cadastro de uso insignificante junto ao IGAM - Instituto Mineiro de Gestão de
Águas; c) providenciar a apresentação de planta, em meio digital, no formato
'dxf' ou 'dwg', da propriedade rural, devidamente identificada no mesmo
prazo" (fl. 133-v). Além de condenar os réus ao pagamento das custas e
despesas processuais.

Inconformados, apelaram os réus às fls. 136/140, aduzindo, em síntese,


que a Lei Federal 4.771/65 (Antigo Código Florestal) foi revogada pela Lei
Federal 12.651/12 (Novo Código Florestal), a qual criou o CAR - Cadastro
Ambiental Rural, desobrigando a averbação de reserva legal em registro
imobiliário. Asseveraram que, conforme determinação judicial, "já procedeu à
averbação da reserva legal no imóvel matriculado sob o nº 46.232, porém
diante da dificuldade encontrada para registro tanto no cartório de registro de
imóveis quanto nos demais órgãos públicos, ainda não foi possível finalizar"
(fl. 137). Alegaram que "o dever do Ministério Público não é penalizar o
homem do campo, que já sofre com a falta de incentivos por parte do Estado,
mas agir junto aos órgãos competentes a fim de regularizar e implantar o
CAR, dando aos proprietários de imóveis rurais prazo para que sejam
regularizadas suas propriedades, para

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que assim se torne efetiva a proteção ao meio ambiente" (fl. 139) Por fim,
requereram a seja a sentença primeva caçada, para que se determine que "a
averbação da reserva legal ainda não finalizada seja processada nos termos
dos artigos da legislação ambiental vigente, e concedido o prazo definido no
parágrafo 3º do Artigo 29 da Lei 12.651/2012 e Artigo 31 da Lei 20.922/2013,
após a implantação do CAR pelos órgãos públicos competentes, para
regularização e averbação da área de reserva legal em sua propriedade
rural, assim como a proceder ao licenciamento ambiental e a outorga ou
declaração de uso insignificante de água , por se tratar de procedimentos
interligados e se feitos em conjunto gera economia ao proprietário rural." (fl.
140).

Preparo realizado à fl. 141.

Contrarrazões apresentadas às fls. 148/158.

Os autos foram distribuídos por prevenção derivada do Agravo de


Instrumento nº. 1.0701.12.031472-2/001, vindo conclusos (fls.159/161).

Em seu parecer de fls. 164/168 a douta Procuradoria-Geral de Justiça


opinou pelo não conhecimento do recurso e, caso conhecido, pelo seu
desprovimento.

I - PRELIMINAR DE NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO.

Preliminarmente, sustentou o representante da Procuradoria geral de


Justiça do Estado de Minas Gerais que o recurso "não deve ser conhecido,
porquanto as razões recursais estão dissociadas da decisão.

Contudo, verifico que o recurso de apelação interposto pela parte


requerida preenche o apontado requisito/pressuposto extrínseco de
admissibilidade recursal, qual seja, o de regularidade formal (art. 514,

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II, do CPC).

Sobre o tema, leciona FREDIE DIDIER JR. e LEONARDO JOSÉ


CARNEIRO DA CUNHA:

8.3.7. Regularidade formal. O princípio da dialeticidade dos recursos

Para que o recurso seja conhecido, é necessário, também, que preencha


determinados requisitos formais que a lei exige; que observe ''a forma
segundo a qual o recurso deve revestir-se.''

Assim, deve o recorrente, por exemplo, sob pena de inadmissibilidade de seu


recurso: a) apresentar as suas razões, impugnado especificamente as razões
da decisão recorrida; b) juntar as peças obrigatórias no agravo de
instrumento; c) juntar, em caso de recurso especial fundado na divergência
jurisprudencial, a prova da divergência, bem como transcrever trechos do
acórdão recorrido...

Princípio da dialeticidade. De acordo com este princípio, exige-se que todo


recurso seja formulado por meio de petição na qual a parte, não apenas
manifeste sua inconformidade com ato judicial impugnado, mas, também e
necessariamente, indique os motivos de fato e de direito pelos quais requer o
novo julgamento da questão nele cogitada. Na verdade, trata-se de princípio
ínsito a todo processo, que é essencialmente dialético. (Curso Processual
Civil. Meios de Impugnação às Decisões Judiciais e Processo nos Tribunais.
V3. Editora Juspodvm. 2008. Pág. 60)

No caso em espeque, a despeito de terem os apelantes mencionado


acordo firmado entre as partes, não se limitaram a tal afirmativa, tendo
logrado êxito em impugnar os termos da sentença de primeiro grau,
pretendendo a reforma da sentença.

Portanto, tendo os recorrentes impugnado os termos do decisório, em


observância ao disposto no artigo 514 do Código de Processo

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Civil, apresentando razões recursal com dialeticidade em relação ao julgado


primevo, o recurso merece conhecimento.

Pelo exposto, rejeito a preliminar argüida pela Procuradoria-Geral de


Justiça do Estado de Minas Gerais e conheço do recurso de apelação,
porque presentes seus pressupostos extrínsecos e intrínsecos de
admissibilidade.

II - MÉRITO

Feito o necessário resumo do caso, observo que a matéria controvertida


cinge-se em definir se há eventuais irregularidades relativas ao licenciamento
ambiental e à outorga de uso de recursos hídricos, à luz da legislação
ambiental de regência.

Registro inicialmente que as certidões imobiliárias constantes dos autos


demonstram que os réus são proprietários de imóveis situados no Município
de Santa Rosa, Comarca de Uberaba, matriculados sob os nº. 3.913
(Fazenda Mutum, fl. 30/31), nº. 46.323 (Fazenda Mutum - f.32/33).

Nos termos do caput do artigo 225 da Constituição da República de 1988,


"todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações", disciplinando a Lei nº 7.347/85 a ação civil
pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente.

Nesse mister, em relação ao pedido de averbação, dispõe o Novo Código


Florestal que o ato de instituição de reserva legal atualmente se concretiza
através da inscrição no CAR - Cadastro Ambiental Rural, constituindo,
portanto, mera faculdade conferida ao proprietário a averbação perante o
registro de imóveis.

Cumpre transcrever o que dispunham os artigos 1º, parágrafo 2º, inciso


III, e 16, inciso III e parágrafos 2º e 8º do Antigo Código

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Florestal, a respeito da área de reserva legal:

Art. 1° (...)

§ 2º Para os efeitos deste Código, entende-se por:

III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse


rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso
sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos
processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e
proteção de fauna e flora nativas;

Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as


situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não
sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica,
são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva
legal, no mínimo:

III - vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou


outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País;
(...)

§ 2o A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo apenas


ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com
princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento,
ressalvadas as hipóteses previstas no § 3o deste artigo, sem prejuízo das
demais legislações específicas. (...)

§ 8º A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de


matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a
alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas
neste Código.

Conforme se infere do dispositivo supra transcrito, o Antigo Código


Florestal impunha ao proprietário a obrigação de manter intactos ao menos
20% (vinte por cento) de imóvel rural situado em

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área de floresta, a título de reserva legal destinada à manutenção do


equilíbrio ambiental, averbando-a a margem da inscrição da matrícula do
bem, com o escopo de dar publicidade ao ato.

Não obstante, o Novo Código Florestal (Lei nº. 12.651/2012) trouxe


significativas alterações na normatização da reserva legal, dispondo no artigo
3º, inciso III, artigo 12, inciso II e artigo 18, parágrafos 1º e 4º, na redação
dada pela Lei nº. 12.727/2012:

Art. 3º Para os efeitos desta Lei, entende-se por:

(...) III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou


posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o
uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural,
auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover
a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna
silvestre e da flora nativa;

Art. 12. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação
nativa, a título de Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas
sobre as Áreas de Preservação Permanente, observados os seguintes
percentuais mínimos em relação à área do imóvel, excetuados os casos
previstos no art. 68 desta Lei:

(...) II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento).

Art. 18. A área de Reserva Legal deverá ser registrada no órgão ambiental
competente por meio de inscrição no CAR de que trata o art. 29, sendo
vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer
título, ou de desmembramento, com as exceções previstas nesta Lei.

§ 1º A inscrição da Reserva Legal no CAR será feita mediante a


apresentação de planta e memorial descritivo, contendo a indicação das
coordenadas geográficas com pelo menos um ponto de amarração, conforme
ato do Chefe do Poder Executivo.

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§ 4º O registro da Reserva Legal no CAR desobriga a averbação no Cartório


de Registro de Imóveis, sendo que, no período entre a data da publicação
desta Lei e o registro no CAR, o proprietário ou possuidor rural que desejar
fazer a averbação terá direito à gratuidade deste ato.

Da leitura desse texto normativo, depreende-se que o Novo Código


Florestal continua a proteger o meio-ambiente através da imposição de que o
proprietário mantenha 20% (vinte por cento) do imóvel com cobertura de
vegetação nativa, a título de reserva legal, alterando-se, todavia, a forma de
se regularizar e de dar publicidade ao ato de instituição de reserva legal, que
agora se concretiza através da inscrição no CAR - Cadastro Ambiental Rural,
registro público de âmbito nacional.

Nesta senda, parece-me que a alteração da forma de registro do ato,


consistente na substituição da averbação junto à matrícula pela inscrição
perante o CAR, objetiva exatamente ampliar a proteção ambiental, uma vez
que a instituição do registro público eletrônico de âmbito nacional viabiliza a
integração de informações sobre as propriedades e posses rurais, compondo
uma base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e
econômico e combate ao desmatamento (artigo 29 da Lei n.º 12.561/12), o
que seria faticamente impossível se fosse mantida a forma de controle
anterior.

Não sem razão, a desobrigação legal levou à edição do Provimento nº


242/CGJ, de 11 de dezembro de 2012, cujo artigo 1º revogou o Provimento
nº 92/GACOR/2003 e o Aviso nº 30/GACOR/2003, que tratavam sobre a
averbação de reserva legal junto ao registro de imóveis.

Anoto, inclusive, que no âmbito do Estado de Minas Gerais o Cadastro


Ambiental Rural já se encontra instalado por meio do SICAR-MG (informação
disponível em: http://www.semad.mg.gov.

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br/cadastro-ambiental-rural).

Nessa linha, por atualmente constituir mera faculdade do proprietário a


adoção de tal medida, tenho que o registro não mais pode ser imposto
coercitivamente pela via judicial, inexistindo, neste aspecto, qualquer
violação ao meio ambiente por parte dos requeridos, decidindo nesse sentido
esta Corte de Justiça:

EMENTA: PROCESSO CIVIL - AMBIENTAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA -


AVERBAÇÃO NO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS E
CERCAMENTO DA ÁREA - DECLARAÇÃO DE IMPROCEDÊNCIA EM
RELAÇÃO AO PLEITO DE AVERBAÇÃO - NOVO CÓDIGO FLORESTAL -
DESOBRIGAÇÃO DO REGISTRO NO CRI - SENTENÇA MANTIDA EM
SEDE DE REEXAME NECESSÁRIO CONHECIDO DE OFÍCIO - RECURSO
VOLUNTÁRIO PREJUDICADO . 1. É cabível o reexame necessário da
sentença de improcedência proferida em ação civil pública, de acordo com
aplicação analógica do art. 19, da Lei nº 4.717/1965. 2. De acordo com o §4º,
do art. 18, da Lei n. 12.651/2012, a obrigação de averbação da reserva legal
à margem do registro imobiliário, então imposta pela Lei n. 4.771/1965, a
partir de 25/05/2012 restou transmudada para mera facultatividade, até a
definitiva implementação do Programa de Regularização Ambiental. 3. A
previsão contida no art. 167, inciso II, item 22, da Lei de Registros Públicos,
no sentido de que deve ser averbada no registro de imóveis a reserva legal,
não pode ser desvencilhada da regulamentação do tema, operada pela Lei n.
12.651/2012, e não tem o condão de, autonomamente, sustentar obrigação
rechaçada pela normatização específica. 4. Circunscrito o pedido autoral
denegado em Primeiro Grau à imposição da obrigação de averbar a reserva
legal no CRI, e verificada a inexigibilidade da referida implementação pela
novel legislação, a manutenção da sentença analisada é medida que se
impõe. 5. Sentença mantida em sede de reexame necessário. Recurso
voluntário prejudicado. (TJMG, 6ª CaCiv, AC nº. 1.0713.12.002292-4/001, rel.
Des. Corrêa Júnior, j. em 10/09/2013).

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - AVERBAÇÃO DE


RESERVA LEGAL - OBRIGATORIEDADE: INEXISTENTE - NOVO CÓDIGO

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FLORESTAL - PERDA SUPERVENIENTE DO OBJETO. 1. Com a


publicação do novo Código Florestal (Lei no 12.651/2012), a obrigatoriedade
da averbação da reserva legal em Cartório de Registro de Imóveis não mais
existe, bastando apenas a averbação no Cadastro Ambiental Rural (CAR). 2.
Destarte, a ação em curso cujo objeto é tal averbação deve ser extinta pela
perda superveniente do objeto. (TJMG, 7ª CaCiv, AC nº. 1.0713.11.002160-
5/001, rel. Des. Oliveira Firmo, j. em 26/02/2013).

De igual maneira, não subsiste a pretensão ministerial no que concerne à


outorga para uso dos recursos hídricos.

Nesse aspecto, cumpre transcrever o art.12 da Lei Federal 9.433/97


(Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, dentre outras
providências):

Art. 12. Estão sujeitos a outorga pelo Poder Público os direitos dos seguintes
usos de recursos hídricos:

I - derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água


para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo
produtivo;

II - extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou insumo


de processo produtivo;

III - lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou


gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou
disposição final;

IV - aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

V - outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água


existente em um corpo de água.

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§ 1º Independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em


regulamento:

I - o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de


pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural;

II - as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes;

III - as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

§ 2º A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de


energia elétrica estará subordinada ao Plano Nacional de Recursos Hídricos,
aprovado na forma do disposto no inciso VIII do art. 35 desta Lei, obedecida
a disciplina da legislação setorial específica.

Do mesmo teor o artigo 18 da Lei Estadual nº. 13.199/99 (Dispõe sobre a


política estadual de recursos hídricos):

Art. 18 - São sujeitos a outorga pelo poder público, independentemente da


natureza pública ou privada dos usuários, os seguintes direitos de uso de
recursos hídricos:

I - as acumulações, as derivações ou a captação de parcela da água


existente em um corpo de água para consumo final, até para abastecimento
público, ou insumo de processo produtivo;

II - a extração de água de aqüífero subterrâneo para consumo final ou


insumo de processo produtivo;

III - o lançamento, em corpo de água, de esgotos e demais efluentes líquidos


ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou
disposição final;

IV - o aproveitamento de potenciais hidrelétricos;

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V - outros usos e ações que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade


da água existente em um corpo de água.

§ 1º - Independem de outorga pelo poder público, conforme definido em


regulamento, o uso de recursos hídricos para satisfação das necessidades
de pequenos núcleos populacionais distribuídos no meio rural, bem como as
acumulações, as derivações, as capacitações e os lançamentos
considerados insignificantes.

§ 2º - A outorga e a utilização de recursos hídricos para fins de geração de


energia elétrica ficam condicionadas a sua adequação ao Plano Nacional de
Recursos Hídricos, aprovado na forma do disposto na Lei Federal nº 9.433,
de 8 de janeiro de 1997, e ao cumprimento da legislação setorial específica.

Ora, na espécie, tratando-se de fato constitutivo do autor (art.333, I,


CPC), cabia ao "Parquet" comprovar que a atividade de exploração dos réus
demanda o uso significativo de recursos hídricos, não se podendo presumir
tal obrigação pela simples natureza de atividade rural, de modo que,
inexistindo quaisquer provas nos autos de que o caso concreto se enquadre
nas hipóteses descritas nos incisos I a V do art.12, descabe impor a
obrigação de obtenção de outorga.

Contudo, não se deve olvidar que, mesmo nos casos de uso


insignificante de recursos hídricos, é preciso que o proprietário do imóvel
efetue o cadastramento junto ao IGAM - Instituto Estadual de Gestão das
Águas, de modo a obter a Certidão de Registro de Uso Insignificante da
Água, nos termos do art.26 da Portaria 49/2010:

Art. 26. Será obrigatório o cadastramento dos usos de recursos hídricos


considerados insignificantes, respeitados os critérios aprovados pelo
Conselho Estadual de Recursos Hídricos, até a definição dos critérios por
Unidade de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos - UPGRH, pelo
respectivo comitê de bacia, no

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âmbito do plano diretor de recursos hídricos, a fim de se assegurar o controle


quantitativo e qualitativo dos usos da água e o efetivo exercício dos direitos
de acesso à água.

III - DISPOSITIVO

Com tais considerações, rejeito a preliminar e dou parcial provimento ao


recurso, para manter os réus obrigados apenas a efetuarem o cadastramento
dos usos de recursos hídricos considerados insignificantes junto ao IGAM, de
modo a obterem a respectiva Certidão de Registro de Uso Insignificante da
Água relativamente aos imóveis rurais objeto das matrículas sob os nº. 3.913
e 46.232, perante o Cartório de Registro de Imóveis do 2º Ofício da Comarca
de Uberaba

Custas ex lege.

DES. ROGÉRIO COUTINHO (REVISOR) - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. PAULO BALBINO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "REJEITARAM A PRELIMINAR E DERAM PARCIAL


PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO"

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