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Superior Tribunal de Justiça

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.231.426 - RJ (2018/0005619-7)

RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO


AGRAVANTE : LUCIMAR MENDES DE ARAUJO
ADVOGADO : LEONARDO DOS SANTOS RIVERA E OUTRO(S) - RJ163173
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
EMENTA
PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. ARTS. 121, § 2º, I, E 211, AMBOS DO CP. TEMPESTIVIDADE.
DUPLICIDADE DA INTIMAÇÃO DE INADMISSIBILIDADE DO RECURSO
ESPECIAL. VIA DJE E ELETRÔNICA. PREVALÊNCIA DA INTIMAÇÃO
ELETRÔNICA. FALTA DE ASSINATURA NO RELATÓRIO DE INQUÉRITO
POLICIAL. MERA IRREGULARIDADE. IMPRONÚNCIA. FALTA DE PROVAS.
SÚMULA 7/STJ. EXCLUSÃO DE QUALIFICADORA. REVISÃO DO JULGADO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. A jurisprudência do STJ tem entendimento pela prevalência da intimação
eletrônica sobre a realizada via DJe, na hipótese de duplicidade de intimações.
Precedente: AgInt no AREsp 903.091/RJ, Rel. Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 16/3/2017, DJe 27/3/2017. (AgInt nos
EDcl no AREsp 981.940/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA
TURMA, julgado em 16/05/2017, DJe 16/06/2017).
2. A falta de assinatura no relatório de exame de local não constitui nulidade por se tratar
de mera irregularidade, mormente porque sequer houve a demonstração de prejuízo.
3. Eventuais vícios ocorridos no inquérito policial não se transmudam automaticamente
para o processo, por se tratar de peça meramente informativa, destinada à sustentação
de admissibilidade da inicial acusatória.
4. Encontrando-se a sentença de pronúncia devidamente fundamentada, desconstituição
das premissas fáticas nela assentadas, para reconhecer a inexistência de lastro
probatório para a pronúncia e para a inclusão da qualificadora, exigiria revolvimento
fático-probatório, o que encontra óbice na Súmula 7 do STJ.
5. Agravo regimental provido para conhecer do agravo em recurso especial mas
negar-lhe provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos
votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, dar provimento ao agravo para
conhecer do agravo em recurso especial, mas negar-lhe provimento, nos termos do voto do
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Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Maria Thereza de Assis
Moura, Sebastião Reis Júnior e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Brasília (DF), 14 de agosto de 2018 (Data do Julgamento)

MINISTRO NEFI CORDEIRO


Presidente e Relator

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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.231.426 - RJ (2018/0005619-7)

RELATOR : MINISTRO NEFI CORDEIRO


AGRAVANTE : LUCIMAR MENDES DE ARAUJO
ADVOGADO : LEONARDO DOS SANTOS RIVERA E OUTRO(S) - RJ163173
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO NEFI CORDEIRO (Relator):


Trata-se de agravo regimental interposto em face de decisão que não conheceu do
agravo em recurso especial.
Alega a tempestividade do recurso, sob o argumento de que, ao considerar como
início do prazo recursal o simples envio da intimação eletrônica, a decisão agravada se
equivocou, uma vez que a contagem do prazo começa com a efetiva consulta à
intimação no respectivo portal eletrônico do tribunal de justiça ou, então, de forma
tácita, nos termos do art. 5º, § 3º da Lei 11.419/2006 (fl. 1366).
Requer a reconsideração da decisão atacada ou a apresentação do feito em mesa
para que a Turma dê provimento ao agravo regimental para que seja admitido e provido o
recurso especial.
Contrarrazões opostas pelo Ministério Público, pugnando pelo improvimento do
recurso.
É o relatório.

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VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO NEFI CORDEIRO (Relator):


Inicialmente, não conheço dos recursos interpostos às fls. 1375/1434 ante a
preclusão consumativa.
A decisão emanada da Presidência desta Corte foi proferida nos seguintes termos (fls.
1348/1349):
Trata-se de AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL interposto
contra decisão que inadmitiu recurso especial.
É o relatório. Decido.
Inicialmente, de acordo com os Enunciados Administrativos do
os
STJ n. 02 e 03, os requisitos de admissibilidade a serem observados são os
previstos no Código de Processo Civil de 1973, se a decisão impugnada tiver
sido publicada até 17 de março de 2016, inclusive; ou, se publicada a partir de
18 de março de 2016, os preconizados no Código de Processo Civil de 2015.
Mediante análise dos autos, verifica-se que a parte Recorrente foi
intimada do acórdão recorrido em 12/05/2017, sendo o recurso especial
interposto somente em 06/06/2017.
Dessa forma, o recurso é manifestamente intempestivo, porquanto
interposto fora do prazo de 15 (quinze) dias corridos, nos termos do art. 994, VI,
c.c. os arts. 1.003, § 5.º e 1.029, todos do Código de Processo Civil, bem como o
art. 798 do Código de Processo Penal.
Ademais, verifica-se que a parte Recorrente foi intimada da
decisão agravada em 27/06/2017, sendo o agravo somente interposto em
21/07/2017.
Dessa forma, o recurso é manifestamente intempestivo, porquanto
interposto fora do prazo de 15 (quinze) dias corridos, nos termos do art. 994,
VIII, c.c. os arts. 1.003, § 5.º, 1.042, caput, do Código de Processo Civil, bem
como do art. 798 do Código de Processo Penal.
A propósito, nos termos do § 6.º do art. 1.003 do Código de
Processo Civil, "o recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato
de interposição do recurso", o que impossibilita a regularização posterior.
Veja-se que a segunda-feira de carnaval, a quarta-feira de cinzas,
os dias que precedem a sexta-feira da paixão e, também, o dia de Corpus
Christi, não são feriados forenses, previstos em lei federal, para os tribunais de
justiça estaduais. Caso essas datas sejam feriados locais deve ser colacionado o
ato normativo local com essa previsão, por meio de documento idôneo, no
momento de interposição do recurso.
Ante o exposto, com base no art. 21-E, V, do Regimento Interno
do Superior Tribunal de Justiça, NÃO CONHEÇO do recurso.
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Publique-se. Intimem-se.

No caso, a decisão de inadmissibilidade foi publicada no DJERJ em 27/6/2017 (fl.


1314) e, em 6/7/2017, houve a intimação eletrônica (fl. 1315), tendo sido interposto o agravo
em recurso especial em 21/7/2017 (fl. 1317).
De fato, consoante a jurisprudência desta Corte, havendo duplicidade de intimações,
prevalece a intimação eletrônica, motivo pelo qual reconsidero a decisão atacada a fim de
reconhecer a tempestividade do agravo. Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.
TEMPESTIVIDADE. PROCESSO ELETRÔNICO REGIDO PELA LEI
11.419/2006. INTIMAÇÃO DO ACÓRDÃO RECORRIDO REALIZADA EM
DUPLICIDADE, VIA DJE E ESPECÍFICA DIRIGIDA AO CAUSÍDICO.
ATO PREVALECENTE PARA FINS DE CONTAGEM DO PRAZO
RECURSAL. ALÍNEA "C". NÃO DEMONSTRAÇÃO DA DIVERGÊNCIA.
FALTA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO LEGAL OBJETO DE
INTERPRETAÇÃO DIVERGENTE. DEFICIÊNCIA NA
FUNDAMENTAÇÃO. SÚMULA 284/STF.
1. Cinge-se a controvérsia a definir o ato de intimação
considerado válido para fins de interposição Recurso Especial quando, no
processo regido pela Lei 11.419/2006, há intimação eletrônica específica
dirigida ao causídico acompanhada publicação via DJe.
2. A jurisprudência do STJ tem entendimento pela
prevalência da intimação eletrônica sobre a realizada via DJe, na
hipótese de duplicidade de intimações. Precedente: AgInt no AREsp
903.091/RJ, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma,
julgado em 16/3/2017, DJe 27/3/2017.
[...]
5. Agravo Interno não provido.
(AgInt nos EDcl no AREsp 981.940/RJ, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/05/2017, DJe
16/06/2017).

Passo ao exame da pretensão recursal.


Quanto à ilegalidade do inquérito por falta de assinatura do Delegado, o voto
condutor assim referiu (fl. 1214):
Quanto a esta última, exclusão de relatório não assinado, como
bem salientado pelo juízo, infere-se mera irregularidade, não se vislumbrando
qualquer prejuízo quanto a existência da peça.
Registra-se, que a peça limita-se a descrição preambular do
ocorrido, realizada no momento de flagrância, mostrando-se irrelevante a
perquirição ao subscritor como pretende a defesa, haja vista a peça apenas
apresentar o quadro aferível na oportunidade e primeiros contatos. Para o
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reconhecimento efetivo de eventual prejuízo, com vistas a retirada da peça,
faz-se necessária a demonstração efetiva de dano à parte, quanto a perquirição
sobre o ponto, que não será o elemento mais discutido de prova contido nos
autos. Dessarte, não vislumbrando relevância na pretensão apontada, não se
infere qualquer razão com vistas a afastar-se o entendimento já grassado pelo
juízo quanto ao ponto.

A falta de assinatura no relatório de exame de local não constitui nulidade por se


tratar de mera irregularidade, mormente porque sequer houve a demonstração de prejuízo.
Cumpre ressaltar que o reconhecimento da nulidade depende da demonstração do
prejuízo concreto sofrido pela parte, ante a incidência do princípio pas de nullité sans grief,
previsto no art. 563 do CPP, o que não ocorreu no caso.
Ademais, eventuais vícios ocorridos no inquérito policial não se transmudam
automaticamente para o processo por se tratar de peça meramente informativa destinada a
formação da opinio delicti do titular da ação penal, conforme jurisprudência consolidada
desta Corte:
PROCESSO PENA E PENAL. HABEAS CORPUS
SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. INADEQUAÇÃO. TRÁFICO
DE DROGAS. NULIDADES: ILICITUDE DA PROVA COLHIDA NA
FASE INQUISITORIAL E INTEMPESTIVIDADE DAS ALEGAÇÕES
FINAIS DA ACUSAÇÃO. MATÉRIAS NÃO DEBATIDAS PELO
TRIBUNAL DE ORIGEM. INDEVIDA SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA.
ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE
DE EXAME NA VIA ELEITA. CAUSA DE DIMINUIÇÃO DO ART. 33, §
4º, DA LEI N. 11.343/2006. NATUREZA DA SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE VALORADA TAMBÉM NA PRIMEIRA FASE. BIS IN
IDEM. REGIME PRISIONAL. CIRCUNSTÂNCIA JUDICIAL
DESFAVORÁVEL SEMIABERTO. MANIFESTO CONSTRANGIMENTO
ILEGAL VERIFICADO. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM
CONCEDIDA DE OFÍCIO.
[...]
3. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que
eventuais vícios ocorridos no inquérito policial não maculam a ação
penal dele derivada.
[...]
10. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida,
de ofício, para aplicar o redutor do art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 na
fração de 2/3, afastando o bis in idem verificado, e, por conseguinte,
estabelecer a reprimenda final em 1 ano e 10 meses de reclusão, a ser
cumprida em regime inicial semiaberto, mais o pagamento de 221
dias-multa.
(HC 285.952/ES, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS,
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QUINTA TURMA, julgado em 19/10/2017, DJe 25/10/2017.)

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO


REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO
ESPECIAL. HOMICÍDIO CULPOSO. TRÂNSITO. VIOLAÇÃO DO ART.
619 DO CPP. SÚMULA 284/STF. ALEGAÇÃO DE VÍCIO NO
INQUÉRITO POLICIAL NÃO CONTAMINA A AÇÃO PENAL.
PRINCÍPIO PAS DE NULLITÉ SANS GRIEF. COMPROVAÇÃO DO
PREJUÍZO. NECESSIDADE. INTERROGATÓRIO REALIZADO ANTES
DA VIGÊNCIA DA LEI N. 11.719/2008, QUE MODIFICOU O ART. 400
DO CPP. AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE RENOVAÇÃO DO ATO.
PENA-BASE FIXADA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. VETORIAL DAS
CIRCUNSTÂNCIAS DO DELITO. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
LEGALIDADE.
[...]
2. É cediço neste Superior Tribunal que, não sendo o
inquérito policial indispensável à propositura da ação penal e dada sua
natureza informativa, eventuais nulidades ocorridas na fase
extrajudicial não têm o condão de macular a ação penal (RHC
50.011/PE, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 25/11/2014, DJe 16/12/2014).
3. Quanto à ilegalidade da perícia realizada em sede de
inquérito policial nos discos de tacógrafo do caminhão, a Corte de origem
consignou que a defesa elaborou laudo pericial particular, o qual revelou
redução de velocidade no dia do evento, aproximadamente às 22h18min, a
partir de 94,6 km/h até atingir o repouso, fl. 368. Ou seja, a velocidade
excessiva foi constatada pelo próprio perito contratado pelo réu. Assim,
evidenciado o exercício da ampla defesa, inexistindo prejuízo (e-STJ fls.
604). No campo da nulidade no processo penal, vigora o princípio pas de
nullité sans grief, segundo o qual, o reconhecimento de nulidade exige a
comprovação de efetivo prejuízo (art. 563 do Código de Processo Penal).
No presente caso, o Tribunal a quo afastou a ocorrência de qualquer
prejuízo por ter sido realizada perícia contratada pelo acusado, que
concluiu pela velocidade excessiva. Assim, não há nulidade a ser sanada.
[...]
6. Agravo regimental não provido.
(AgRg nos EDcl no REsp 1290291/RS, Rel. Ministro
REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
27/09/2016, DJe 05/10/2016.)

Quanto à alegação de que a pronúncia se fundou apenas em prova indiciária e


inexistem indícios de autoria, extrai-se do acórdão recorrido, a seguinte fundamentação (fls.
1214/1216):
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É de conhecimento comum, que a sentença de pronúncia tem
natureza de decisão interlocutória mista não terminativa, pois encerra, apenas,
uma etapa procedimental no curso do processo penal relativo aos crimes
cometidos contra a vida.
Desta forma, o magistrado, em tal ato, realiza um mero juízo de
admissibilidade quanto ao pleito acusatório formulado, permitindo seja a causa
levada a julgamento pelo juiz natural da causa, vale dizer, o Tribunal do Júri.
Assim, tratando-se de juízo prévio, sem um aprofundado exame
probatório da causa, restando presentes a materialidade e indícios suficientes
de autoria, imperiosa a decisão de pronúncia, sob pena de se furtar à
competência constitucional do Júri Popular.
No tocante à fundamentação desta decisão, o §1º do artigo 413 do
Código de Processo Penal dispõe que esta "limitar-se-á à indicação da
materialidade do fato e da existência de indícios de autoria e de participação,
devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que julgar incurso o acusado e
especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de penaU.
Cotejada a norma em questão com a decisão combatida,
constata-se a obediência desta aos preceitos legais.
Da análise do mosaico probatório angariado aos autos,
contata-se a existência de indícios suficientes de autoria e de materialidade
alicerçadores da pronúncia atacada.
A informante do juízo, MARIA LÚCIA DOS NASCIMENTO, mãe
da vítima, afirmou em suas declarações, que a acusada, na condição de
companheira da vítima, era má com a mesma, a tendo lhe agredido em várias
oportunidades. Declarou, que a acusada afirmava que iria matar a vítima e que
havia muita discussão sobre a propriedade do bar que pertencia a ambos.
Referidas declarações foram referendadas pelo informante do
Juízo, ANTONILDO DO NASCIMENTO, irmão da vítima.
As testemunhas ELIZABETE CARNEIRO DE OLIVEIRA e JOSÉ
SALVINO DO AMARANTE FILHO afirmaram que a acusada compareceu a
padaria em que ambos trabalhavam e chamou Elizabete para ajudá-la, muito
nervosa, pois tinha acontecido alguma coisa. Consta dos autos, que Elizabete ao
chegar na residência do casal, viu uma parte da perna da vítima.
A testemunha JOÃO LUIZ CAVALCANTE asseverou que
trabalhou no bar da vítima e da acusada no dia dos fatos até aproximadamente
4 horas da manhã, deixando, ao sair, ambos acompanhados de uma terceira
pessoa. Afirmou que, próximo às 5 horas da manhã, a acusada telefonou-lhe
avisando que a vítima estava morta.
As demais testemunhas ouvidas prestaram declarações que não
esclareceram os fatos.
Diante de tais elementos de prova, inquestionáveis os indícios
suficientes de autoria e de materialidade, competindo ao Júri Popular aferir
quanto ao acerto da necessidade de um juízo de censura.

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Como se vê, o exame fático da matéria é reservado exclusivamente às instâncias
ordinárias e modificar as premissas fáticas alcançadas pelo Tribunal de origem, acolhendo-se a
tese de falta de provas para a pronúncia, encontra obstáculo na Súmula 7/STJ. A propósito:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º,
INCISO IV, DO CP). IMPRONÚNCIA. LASTRO PROBATÓRIO MÍNIMO.
INDÍCIOS DE AUTORIA. EXISTÊNCIA. REVISÃO INVIÁVEL.
REEXAME DO ACERVO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ.
AGRAVO DESPROVIDO.
1. Não há violação ao artigo 413 do Código de
Processo Penal quando o Tribunal de origem, de forma fundamentada,
considerando a inexistência de elementos que pudessem justificar o
acolhimento da tese de negativa de autoria, entendeu que a decisão de
pronúncia está devidamente justificada.
2. A pronúncia do réu para o julgamento pelo
Tribunal do Júri não exige a existência de prova cabal da autoria do
delito, sendo suficiente, nessa fase processual, a mera existência de
indícios da autoria, devendo estar comprovada, apenas, a materialidade
do crime, uma vez que vigora o princípio do in dubio pro societate.
3. Desse modo, somente será possível a impronúncia do
réu pelo Togado singular, quando restar devidamente evidenciado nos
autos a negativa de autoria, sob pena de usurpação da competência do
Tribunal do Júri.
4. A desconstituição do julgado, no intuito de abrigar
o pleito defensivo absolutório, não encontra espaço na via eleita,
porquanto seria necessário a este Tribunal Superior de Justiça
aprofundado revolvimento do contexto fático-probatório, providência
incabível em Recurso Especial, conforme já assentado pela Súmula n. 7
desta Corte.
5. Agravo regimental improvido.
(AgRg no AREsp 1084726/RS, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 10/04/2018, DJe 20/04/2018.)

De acordo com a jurisprudência desta Corte, a sentença de pronúncia não encerra


juízo condenatório, porquanto se refere a mera admissibilidade da acusação, bastando, para
tanto, a verificação da existência de materialidade e de indícios de sua autoria. Nesse sentido,
confira-se:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL.
PENAL E PROCESSO PENAL. DECISÃO DE PRONÚNCIA. EXCESSO
DE LINGUAGEM. NÃO OCORRÊNCIA. COMPATIBILIDADE ENTRE
TENTATIVA E DOLO EVENTUAL. PRECEDENTES DESTA CORTE.
INEXISTÊNCIA DE PROVAS DA AUTORIA. COMPROVAÇÃO DO

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DOLO. PRETENSÃO DE DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA.
EXCLUSÃO DE QUALIFICADORAS. REEXAME FÁTICO E
PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. A pronúncia não manifesta procedência da
pretensão punitiva, mas apenas viabiliza a competência do Tribunal do
Júri para, diante dos elementos probatórios, julgar o réu culpado ou
inocente quanto ao crime a ele imputado, ou mesmo submetê-lo a uma
outra ordem de imputação. Havendo grau de certeza razoável, isso é
fator o bastante para que seja remetido o feito ao Conselho de Sentença,
onde a defesa poderá exercer amplamente a tese contrária à imputação
penal.
[...]
4. Seria necessária uma análise de todo o substrato
fático dos autos para verificar se as qualificadoras incluídas na pronúncia
são manifestamente improcedentes ou descabidas, procedimento este
incabível na via dos recursos excepcionais.
5. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1405123/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 18/12/2014,
DJe 04/02/2015).

Acerca da falta de fundamentação para o reconhecimento da qualificadora tipificada


no art. 121, § 2º, I, do CP, assentou o Tribunal de origem que deve ser mantida,
igualmente, qualificadora imputada, porquanto há indícios de que o crime foi cometido
com o objetivo da acusada tornar-se a proprietária sozinha do bar que a mesma possuía
com a vítima (fl. 1216).
Ressalte-se que esta Corte possui o entendimento de que é possível a exclusão das
qualificadoras do homicídio quando manifestamente improcedentes. Todavia, tendo o Tribunal
a quo mantida a qualificadora, com base na aferição do acervo probatório, rever tal
entendimento demandaria necessariamente a incursão ao conjunto fático-probatório, o que
também atrai o óbice da Súmula 7/STJ. Confiram-se os seguintes precedentes:
PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
COLEGIALIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. HOMICÍDIO QUALIFICADO
TENTADO. PRONÚNCIA. INDÍCIOS DE AUTORIA E
MATERIALIDADE. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DA ACUSAÇÃO.
IN DUBIO PRO SOCIETATE. ACÓRDÃO RECORRIDO EM
CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.
PRETENSÃO DE IMPRONÚNCIA. DESCABIMENTO.
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. EXCLUSÃO DE
QUALIFICADORAS. INVIABILIDADE. PRESERVAÇÃO DA
COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. PRECEDENTES.
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PRETENSÃO RECURSAL. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO.
1. O julgamento monocrático do agravo em
recurso especial, com esteio em óbices processuais e na jurisprudência
dominante do Superior Tribunal de Justiça, tem respaldo nas disposições
do Código de Processo Civil e do Regimento Interno desta Corte
Superior. Precedentes.
2. As pretensões recursais, de que não haveria
indícios mínimos da autoria delitiva e das qualificadoras do motivo
torpe e do emprego de meio que resultou em perigo comum para
embasar a pronúncia, demandariam imprescindível reexame dos
elementos fático-probatórios dos autos, o que é defeso no âmbito do
recurso especial, em virtude do disposto na Súmula 7 desta Corte.
3. Agravo regimental improvido (AgRg no AREsp
1203624 / DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA,
julgado em 03/04/2018, DJe 09/04/2018, grifei).

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO


REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO
QUALIFICADO. PRONÚNCIA. QUALIFICADORAS. EXCLUSÃO.
IMPOSSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI.
REEXAME DO CONJUNTO PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ.
1. A decisão de pronúncia só pode excluir
qualificadora quando manifestamente improcedente, de modo que
qualquer dúvida razoável sobre sua incidência deve ser dirimida pelo
Conselho de Sentença. Precedentes.
2. Para se concluir de forma diversa do entendimento
do Tribunal de origem, isto é, de que as qualificadoras são
manifestamente improcedentes, seria inevitável o revolvimento das
provas carreadas aos autos, procedimento sabidamente inviável na
instância especial, em razão do óbice da Súmula n. 7/STJ.
3. Agravo regimental desprovido (AgRg no AREsp
1219771 / BA, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA,
julgado em 20/03/2018, DJe 04/04/2018, grifei).

Ante o exposto, voto por dar provimento ao agravo regimental para conhecer do
agravo em recurso especial mas negar-lhe provimento.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

AgRg no
Número Registro: 2018/0005619-7 PROCESSO ELETRÔNICO AREsp 1.231.426 /
RJ
MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00600731320128190001 201724700558 901002072011

PAUTA: 14/08/2018 JULGADO: 14/08/2018

Relator
Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro NEFI CORDEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. NICOLAO DINO DE CASTRO E COSTA NETO
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
AGRAVANTE : LUCIMAR MENDES DE ARAUJO
ADVOGADOS : ANTONIO PEDRO MELCHIOR MARQUES PINTO - RJ154653
LEONARDO DOS SANTOS RIVERA - RJ163173
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado

AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : LUCIMAR MENDES DE ARAUJO
ADVOGADO : LEONARDO DOS SANTOS RIVERA E OUTRO(S) - RJ163173
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, deu provimento ao agravo para conhecer do agravo
em recurso especial, mas negar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Antonio Saldanha Palheiro, Maria Thereza de Assis Moura, Sebastião
Reis Júnior e Rogerio Schietti Cruz votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1736739 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 24/08/2018 Página 12 de 4

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