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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 9

15/05/2023 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.065 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


AGTE.(S) : MÁRCIO SIQUEIRA BATTIROLA
ADV.(A/S) : VLADIMIR DE AMORIM SILVEIRA
AGDO.(A/S) : JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JÚRI DO FORO
CENTRAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
BENEF.(A/S) : NÃO INDICADO

Ementa: DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO EM


RECLAMAÇÃO. RECURSO QUE NÃO ATACA O FUNDAMENTO DA
DECISÃO AGRAVADA. INVIABILIDADE DO RECURSO.
1. A petição de agravo regimental não impugnou o único
fundamento da decisão agravada. Nesses casos, é inadmissível o agravo,
conforme orientação do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
2. Agravo não conhecido.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da


Primeira Turma da Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual, por
unanimidade de votos, em não conhecer do agravo interno, nos termos
do voto do Relator.
Brasília, 5 a 12 de maio de 2023.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO - Relator

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AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.065 RIO GRANDE DO SUL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


AGTE.(S) : MÁRCIO SIQUEIRA BATTIROLA
ADV.(A/S) : VLADIMIR DE AMORIM SILVEIRA
AGDO.(A/S) : JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JÚRI DO FORO
CENTRAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
BENEF.(A/S) : NÃO INDICADO

RELATÓRIO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. Trata-se de agravo contra decisão monocrática pela qual


neguei seguimento à reclamação nos seguintes termos:

1. Trata-se de reclamação, com pedido de liminar, ajuizada


por Márcio Siqueira Battirola contra decisão proferida nos
Autos nº 5018970-50.2023.8.21.7000, pela 1ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ/RS), que
não conheceu do habeas corpus, por não se poder falar “em
excesso de prazo na conclusão do processo; se já, como citado,
há uma condenação, não se pode falar em ‘perda de higidez da
prisão preventiva’”.
2. O autor alega que “a situação dos autos contrariou o
entendimento do Supremo nas ADIs 6.581 e 6.582 no sentido de
que as prisões preventivas devem ser reavaliadas a cada 90 dias
durante todo o processo de conhecimento até o julgamento em
segunda instância”.
3. O órgão reclamado prestou informações.
4. A Procuradoria-Geral da República opina pelo não
conhecimento da reclamação, em parecer assim ementado:
PROCESSO PENAL. RECLAMAÇÃO. HABEAS CORPUS.
PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA

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FORMAÇÃO DA CULPA. INSTRUÇÃO DEFICIENTE DOS


AUTOS. ADI N. 6.581 E N. 6.582. AUSÊNCIA DE ADERÊNCIA
ESTRITA ENTRE O ATO RECLAMADO E OS PARADIGMAS
APONTADOS COMO VIOLADOS. PARECER PELO NÃO
CONHECIMENTO DA RECLAMAÇÃO.
5. É o relatório. Decido.
6. A ausência da juntada da decisão reclamada ensejaria a
abertura de prazo para emenda da inicial, nos termos dos arts.
318, VI, 320 e 321 do CPC. Não obstante, da consulta ao
andamento do processo de origem (na página eletrônica do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul), já é
possível afirmar a inviabilidade da reclamação. Assim, em
observância ao princípio da celeridade processual, desde logo
aprecio o pedido.
7. A reclamação dirigida a esta Corte só é cabível quando
se sustenta usurpação de sua competência, ofensa à autoridade
de suas decisões ou contrariedade a súmula vinculante (CF/88,
arts. 102, I, l, e 103-A, § 3º). Tratando-se de alegação de violação
a decisão dotada de efeito vinculante, há necessidade de relação
de aderência estrita entre o ato impugnado e o paradigma
supostamente violado.
8. Os paradigmas tidos como violados, ADIs 6.581 e 6.582,
fixaram interpretação conforme a Constituição, ao parágrafo
único, do art. 316, do Código de Processo Penal (CPP), com a
redação dada pela Lei 13.964/2019 (Pacote Anticrime),
entendendo que o Juízo competente deverá ser acionado a rever
a legalidade e a atualidade dos fundamentos da prisão
preventiva em 90 dias, bem como que a ausência da reavaliação
da medida, em tal prazo, não implica revogação automática da
custódia. Na oportunidade, entendeu-se que tal dispositivo se
aplica até o final do processo de conhecimento, quando se
encerra a análise de fatos e provas pelo tribunal de 2º grau, mas
não vale para prisões cautelares decorrentes de sentença
condenatória de 2ª instância ainda não transitadas em julgado.
Veja-se, nesse sentido, a ementa dos paradigmas, em que o
Ministro Alexandre de Moraes ficou redator para o acórdão :

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CONSTITUCIONAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL.ART.


316, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI 13.964/2019.
DEVER DO MAGISTRADO DE REVISAR A NECESSIDADE
DE MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA A CADA
NOVENTA DIAS. INOBSERVÂNCIA QUE NÃO ACARRETA
A REVOGAÇÃO AUTOMÁTICA DA PRISÃO.
PROVOCAÇÃO DO JUÍZO COMPETENTE PARA
REAVALIAR A LEGALIDADE E A ATUALIDADE DE SEUS
FUNDAMENTOS. OBRIGATORIEDADE DA REAVALIAÇÃO
PERIÓDICA QUE SE APLICA ATÉ O ENCERRAMENTO DA
COGNIÇÃO PLENA PELO TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU
DE JURISDIÇÃO. APLICABILIDADE NAS HIPÓTESES DE
PRERROGATIVA DE FORO. INTERPRETAÇÃO CONFORME
À CONSTITUIÇÃO. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
1. A interpretação da norma penal e processual penal exige
que se leve em consideração um dos maiores desafios
institucionais do Brasil na atualidade, qual seja, o de evoluir nas
formas de combate à criminalidade organizada, na repressão da
impunidade, na punição do crime violento e no enfrentamento
da corrupção. Para tanto, é preciso estabelecer não só uma
legislação eficiente, mas também uma interpretação eficiente
dessa mesma legislação, de modo que se garanta a preservação
da ordem e da segurança pública, como objetivos
constitucionais que não colidem com a defesa dos direitos
fundamentais.
2. A introdução do parágrafo único ao art. 316 do Código
de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 13.964/2019,
teve como causa a superlotação em nosso sistema penitenciário,
especialmente decorrente do excesso de decretos preventivos
decretados. Com a exigência imposta na norma, passa a ser
obrigatória uma análise frequente da necessidade de
manutenção de tantas prisões provisórias.
3. A inobservância da reavaliação prevista no dispositivo
impugnado, após decorrido o prazo legal de 90 (noventa) dias,
não implica a revogação automática da prisão preventiva,

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devendo o juízo competente ser instado a reavaliar a legalidade


e a atualidade de seus fundamentos. Precedente.
4. O art. 316, parágrafo único, do Código de Processo
Penal aplica-se até o final dos processos de conhecimento, onde
há o encerramento da cognição plena pelo Tribunal de segundo
grau, não se aplicando às prisões cautelares decorrentes de
sentença condenatória de segunda instância ainda não
transitada em julgado.
5. o artigo 316, parágrafo único, do Código de Processo
Penal aplica-se, igualmente, nos processos em que houver
previsão de prerrogativa de foro.
6. Parcial procedência dos pedidos deduzidos nas Ações
Diretas.
9. O ato reclamado, por sua vez, é decisão que “não
conheceu do habeas corpus, por não se poder falar ‘em excesso
de prazo na conclusão do processo; se já, como citado, há uma
condenação, não se pode falar em ‘perda de higidez da prisão
preventiva’.”
10. A revisão de ofício, da prisão cautelar, a cada 90 dias é
voltada ao Juízo que decretou a custódia preventiva,
providência que deve ser tomada no curso da investigação ou
do processo. Nos presente caso, conforme informado pelo juízo
reclamado, já houve condenação. Senão vejamos:
Em resposta ao solicitado por Vossa Excelência, em
relação ao processo nº 5018970-50.2023.8.21.7000, informo que,
monocraticamente, não conheci do habeas corpus, porque os
motivos do pedido de revogação da prisão preventiva são
juridicamente inapropriados. Isto porque, se já há um
julgamento com condenação, não se pode falar em excesso de
prazo, tampouco, em perda da higidez da prisão preventiva.
Irresignada, a Defesa interpôs agravo regimental contra a
decisão referida acima. O recurso foi julgado pela 1ª Câmara
Criminal no dia 9 de março de 2023. Os Desembargadores, por
maioria, rejeitaram o agravo regimental.
11. Dito isso, não há, nos presentes autos, decisão que
permita a reavaliação da prisão nos moldes do que foi decidido

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nas ADIs 6.581 e 6.582. De modo que carece a presente


reclamação de aderência entre o ato reclamado e os paradigmas
tidos por violados; exigência imprescindível para o cabimento
da presente reclamação (Rcl 12.887-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli).
12. Diante do exposto, com base no art. 21, § 1º, do
RI/STF, nego seguimento à reclamação. Fica prejudicado o
pedido liminar.
13. Em caso de interposição de recurso, deve a parte trazer
aos autos as decisões pertinentes proferidas nos Autos nº
5018970- 50.2023.8.21.7000, sob pena de não conhecimento.

2. A parte agravante junta documentos e reitera os


fundamentos da petição inicial.

3. É o relatório.

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AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.065 RIO GRANDE DO SUL

VOTO:

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

1. O agravo não pode prosperar, tendo em vista que a parte


agravante não atacou o único fundamento da decisão recorrida.

2. Nos termos dos art. 317, § 1º, do RI/STF, cabe à parte


agravante impugnar os fundamentos da decisão que pretender reformar.
Nesse sentido, vejam-se: Rcl 8.974-AgR, Rel. Min. Teori Zavascki; Rcl.
2.703-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes; Rcl 5.684-AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski; Rcl 9.344-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli; Rcl 12.967-AgR, Relª.
Minª. Cármen Lúcia. Esse entendimento foi, inclusive, incorporado pelo
art. 932, III, do CPC/2015.

3. No caso dos autos, neguei seguimento à reclamação pela


falta da necessária relação de aderência estrita entre a decisão reclamada
e o paradigma tido por violado. Conforme documentação anexada ao
presente agravo (a qual não foi instruída junto à reclamação quando do
seu ajuizamento), o reclamante já foi julgado e condenado pelo Tribunal
do Juri, sem notícia de recurso, de forma que existe condenação em
definitivo. Portanto, trata-se de hipótese que torna desnecessária a revisão
da prisão (a qual já deixou de ser cautelar), conforme a jurisprudência
desta Corte.

4. Tal fundamento não foi enfrentado pelo agravante, o qual


se limitou a reiterar os argumentos da inicial. O agravo passou ao largo
do fundamento da decisão monocrática, não o impugnando.

5. Diante do exposto, não conheço do agravo.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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6. É como voto.

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Extrato de Ata - 15/05/2023

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NA RECLAMAÇÃO 58.065


PROCED. : RIO GRANDE DO SUL
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
AGTE.(S) : MÁRCIO SIQUEIRA BATTIROLA
ADV.(A/S) : VLADIMIR DE AMORIM SILVEIRA (75834/RS)
AGDO.(A/S) : JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JÚRI DO FORO CENTRAL DA
COMARCA DE PORTO ALEGRE
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
BENEF.(A/S) : NÃO INDICADO

Decisão: A Turma, por unanimidade, não conheceu do agravo


interno, nos termos do voto do Relator. Primeira Turma, Sessão
Virtual de 5.5.2023 a 12.5.2023.

Composição: Ministros Luís Roberto Barroso (Presidente),


Cármen Lúcia, Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Disponibilizaram processos para esta Sessão os Ministros Rosa


Weber e André Mendonça (não participaram do julgamento desses
feitos os Ministros Luiz Fux e Cármen Lúcia, respectivamente) e
Dias Toffoli.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

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