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Superior Tribunal de Justiça

CARTA ROGATÓRIA Nº 3.723 - DE (2008/0282857-0)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator):


Cuida-se de carta rogatória encaminhada pelo Ministério das
Relações Exteriores, a pedido da Embaixada da República Federal da
Alemanha, na qual o Procurador Geral da República de Regensburg solicita
"Auxílio judiciário mútuo em matéria penal " para instruir procedimento de
investigação lá inaugurado contra o cidadão brasileiro H P C.

Estes, os fatos e o objeto da comissão, traduzida na origem:


"Aqui procedem-se investigações contra o arguido
acima mencionado por motivo de sabotagem de
computador em 300 casos no mínimo, cada vez com
espionagem de dados, conforme artigos 202a, 303a, 303b
do Código Penal Alemão, baseado nos seguintes fatos:
A lesada, a firma CipSoft GmbH,
Gabelsbergerstrasse, 11, 93047 Regensburg/Alemanha,
desenvolve e opera o jogo de papeis 'online' 'Tibia'. Neste
jogo participam diariamente 600.000 pessoas em todo o
mundo. Para o uso de todas as funções deste jogo cabe a
todos os participantes um montante mensal que atualmente
é pago de um grande número dos chamados 'premium
clientes'.
No período de 01.05.2007 e 27.05.2007 bem como de
07.08.2007 a 27.08.2007 foram atacados os servidores da
lesada através de ataques de internet. Depois de setembro
de 2007 procederam-se mais ataques. Naqueles ataques
foram estabelecidas, através de manipulação de dados,
ligações entre os diversos computadores controlados pelos
autores e os servidores da lesada e, em seguida, foram
enviados muitos pacotes de dados gerados aleatoriamente
através dessas ligações em, pelo menos, 300 casos, para

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provocar uma sobrecarga dos computadores operados pela
lesada. A modificação dos dados pelos autores resultou em
extensos trabalhos de manutenção necessários da lesada
que devia pagar pelo menos 50.000,- euros para este fim.
Seguidamente rescindiram pelo menos 5.000 clientes da
lesada os seus contratos de uso, por motivo da sobrecarga.
Assim surgiram danos para a lesada no valor de 100.000,-
euros no mínimo.
Esses fatos baseiam-se somente nas indicações
comunicadas pela lesada, particularmente nos documentos
entregados sobre a correspondência por e-mail entre o
arguido e outras pessoas. Conforme as informações de um
representante da lesada já foi contatada, via um escritório
de advogados no Brasil, o provedor de internet Telesp que
supostamente provém a ligação do arguido. Como foi dito,
prometeram ali o armazenamento provisório dos dados dos
protocolos das ligações.
A lesada investigou propriamente e suspeita como
autor principal H P C [nossas as adaptações], também
chamado 'Morientes (vide anexo 5).
O suspeito baseia-se igualmente ao anexo 7 que
reproduz, conforme as indicações da lesada, uma
entrevista com Morientes que foi supostamente publicada
em 09.05.2007 no site brasileiro dos adeptos do jogo
'Tibia'
(http://forum.portaltibia.com.br/indes.php?showtopic=297
2&st=0; CD-ROM/Other information about
Morientes/interview with Morientes-original.txt).
Até o presente momento não foi possível interrogar o
autor.
Solicito investigar se a pessoa com o nome H P C
[nossas as adaptações], também chamado 'Morientes' (vide
anexo 5) de modo algum existe.
Se for possível identificar essa pessoa, ficaria desde
já muito grato se o arguido fosse interrogado pela
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delegacia policial competente acerca das acusações e que
me enviassem um termo de interrogatório às nossas
autoridades.
Seria de interesse, interrogar o arguido se participou
no delito ou quais são as suas explicações sobre as
investigações da lesada.
Se o arguido referir-se a documentos em sua posse,
solicito que o arguido seja comunicado a deixar os
originais ou cópias desses documentos que podem ser
enviados junto com o termo do interrogatório.
O arguido deverá ser informado antes do
interrogatório sobre os seus direitos conforme artigo 163
a, parágrafos 1, 2 e 4, bem como artigo 136 do Código do
Processo Penal Alemão. O teor destes dispositivos está
incluído na folha de aviso anexada.
(...)" (fls. 5/7).
Em pronunciamento inicial, o Ministério Público Federal requereu
fosse corrigida a autuação, a fim de constar somente as iniciais do interessado,
e opinou pela concessão do exequatur , para a realização do interrogatório (fl.
45).

À fl. 47 dos autos, consta despacho do Ministro Presidente


determinando a tramitação do feito em segredo de justiça e a intimação do
interessado para, querendo, oferecer impugnação.

Devidamente intimado, o interessado, por intermédio do advogado


constituído, apresentou sua resposta, ocasião em que fez juntar aos autos
declaração de hipossuficiência e cópia autenticada de documentos pessoais (RG
e CPF) e do comprovante de endereço.

Aduz que o exequatur não há de ser concedido, eis que "A exordial
da carta rogatória, bem como os documentos que a instruem, não possuem a
autenticação pelo cônsul brasileiro, nem tampouco, a competente tradução por
tradutor oficial juramentado no Brasil (art. 5º, inciso IV, da Resolução nº 09). " (fl.
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64).

Alega, também, que "A legislação penal brasileira considera


inimputável o menor de 18 (dezoito) anos (art. 27, CP). Isto posto, verifica-se na
exordial que os fatos se deram nas datas de 01/05/2007 à 27/05/2007 e 07/08/2007 à
27/08/2007 e, na época dos fatos, o Impugnante era inimputável. Portanto, o
interrogatório do Impugnante seria totalmente contrario a legislação penal brasileira,
ofendendo cabalmente a soberania nacional. " (fl. 64).

Por fim, sustenta, além de incompetência absoluta da Justiça


Alemã, nos termos do artigo 7º, inciso II, alínea "b", do Código Penal
Brasileiro, ofensa à ordem pública, pois que "(...) as condutas imputadas ao
Impugnante não são tipificadas como crime na legislação pátria (art. 5º, XXXIX,
CF/88). " (fl. 65).

Ouvido, o Parquet Federal ofertou o seguinte parecer:


"1. A rogatória foi cumprida em parte, com a
localização e identificação do interessado, que ainda não
foi ouvido.
2. Não procede a impugnação na parte em que
questiona a autenticidade da comissão, requisito que
resulta preenchido com a tramitação pela via diplomática.
3. Contudo, os fatos ocorreram entre 01.05.2007 e
27.08.2007, antes de o interessado, nascido em 08.09.1989,
completar dezoito anos. Era ele, portanto, inimputável à
época dos fatos (art. 27 do Código Penal; art. 104 do
Estatuto da Criança e do Adolescente).
4. Não há, pois, como cogitar de responsabilização
penal do interessado, embora a menoridade não exclua a
responsabilidade civil pelo dano patrimonial. Porém, a
comissão vale como notícia de ato infracional, nos termos
da legislação de menores, pelo qual o menor responde até
atingir a idade 21 anos (arts. 2º, 120, § 2º, e 121, § 5º, do
Estado da Criança e do Adolescente), havendo previsão
legal quanto a serem ouvidos o infrator e seus responsáveis
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(ECA, art. 186, caput). Portanto, a diligência rogada, para
ouvir o infrator, não se afigura contrária à ordem jurídica.
5. Acrescento ainda que, considerada a menoridade
do interessado, a autoridade rogante poderá aditar a
rogatória para solicitar outras diligências, v.g., a
inquirição dos pais ou responsáveis.
6. Assim, tendo em vista a peculiaridade do caso,
opino: (a) que o Juízo Rogante seja informado dos
qualificativos do interessado e da inimputabilidade penal
dele; (b) que esta comissão seja convertida em notícia de
ato infracional e encaminhada ao Juízo da Infância e
Juventude, que decidirá sobre as medidas cabíveis,
inclusive quanto à necessidade de ouvir o interessado,
sendo que, em caso afirmativo, cópia desse termo deverá
ser transmitida ao Juízo Rogante." (fls. 74/75).
A mim distribuídos, trouxe os autos para julgamento plenário, por
força da legislação de regência.

É o relatório.

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CARTA ROGATÓRIA Nº 3.723 - DE (2008/0282857-0)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator):


Senhor Presidente, recuso, de saída, as alegações do interessado de que a carta
rogatória não reúne condições de admissibilidade, por não possuir a chancela
do cônsul brasileiro e estar desacompanhada de tradução por tradutor oficial ou
juramentado no Brasil.

É que é firme a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça e


do Supremo Tribunal Federal na compreensão de que a tramitação da carta
rogatória pela via diplomática ou pela autoridade central lhe confere a
necessária legalidade e autenticidade, não obstante a versão para o vernáculo
ter sido feita na origem.

Vejam-se, a propósito, os seguintes precedentes:


"AGRAVO REGIMENTAL. CARTA ROGATÓRIA.
TRADUÇÃO. AUTENTICIDADE DOS DOCUMENTOS.
- No caso, a ausência de tradução dos documentos
não prejudica a compreensão do objeto da rogatória.
- O pedido foi encaminhado a esta Corte por meio da
autoridade central, o que lhe confere a necessária
legalidade e autenticidade.
- Agravo regimental (AgRgCR nº
improvido."
2.920/IT, Relator Ministro Cesar Asfor Rocha, in DJe
3/11/2008).

"AGRAVO REGIMENTAL. CARTA ROGATÓRIA.


OFENSA À ORDEM PÚBLICA E À SOBERANIA
NACIONAL. INOCORRÊNCIA.
1. No tocante à alegada nulidade da intimação prévia,
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nenhum prejuízo adveio ao interessado, uma vez que houve
manifestação sua contra a concessão do exequatur nas
oportunidades previstas nos arts. 8º e 11 da Resolução n.
9, de 4 de setembro de 2005, da Presidência deste
Tribunal.
2. A tradução juramentada dos documentos que
compõem a comissão, assim como a chancela consular,
são desnecessárias quando a tramitação ocorre via
autoridade central.
3. Os requisitos estabelecidos no Código de Processo
Civil, art. 202, somente são aplicáveis às rogatórias ativas,
o que não é o caso.
4. A simples citação do agravante para responder aos
termos de ação proposta no Tribunal americano, por si só,
não apresenta qualquer situação de afronta à ordem
pública ou à soberania nacional.
5. Segundo entendimento firmado pelo Excelso
Pretório, 'a recusa da jurisdição estrangeira não constitui
obstáculo à concessão do exequatur para a citação, uma
vez que não é o caso de competência absoluta da
jurisdição brasileira, mas sim relativa, o que não afasta, de
plano, a competência da justiça rogante para julgar o
feito' (CR-AgR n.10.686/EU, Relator Ministro Maurício
Corrêa, DJ de 3.10.2003).
Agravo regimental (AgRgCR nº
improvido."
1.596/US, Relator Ministro Barros Monteiro, in DJ
26/2/2007 - nossos os grifos).

"AGRAVO REGIMENTAL. CARTA ROGATÓRIA.


AUTENTICIDADE DE DOCUMENTOS. TRADUÇÃO.
INSTRUÇÃO. AUSÊNCIA DE DOCUMENTOS.
DILIGÊNCIA.
– Infere-se a autenticidade dos documentos que
instruem a carta rogatória vinda pela via diplomática ou

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pela autoridade central, a despeito de a tradução ter sido
feita na origem;
– Negar a presunção de autenticidade de documentos
com trânsito no Ministério da Justiça é colocar em suspeita
a lisura do órgão do poder público brasileiro competente
para processar os intentos rogatórios.
– Há de ser dada oportunidade ao país rogante, por
meio de sua Embaixada, para suprir eventual falha
material na apresentação das cartas rogatórias.
Agravo regimental (AgRgCR nº
improvido."
1.000/AR, Relator Ministro Barros Monteiro, in DJ
1º/8/2006).

"(...) 3. Tratando-se de comissão rogatória, o trânsito


pela via diplomática, modalidade, aliás, usual de tal
espécie, confere autenticidade aos documentos que a
instruem, não obstante a versão para o vernáculo seja feita
na origem (CR 3749, iter alia). Somente são objeto de
tradução autêntica os intentos rogatórios que ingressem na
Corte pelas mãos do particular interessado e desde que
obtenham na origem a chancela brasileira (C.C.R.R. 3.317,
3.428, 3.350, iter alia) (RTJ 115/90)." (CR nº 10.367/AT,
Relator Ministro Marco Aurélio, in DJ 1º/8/2002).
Desacolho, também, a arguição de ofensa à soberania nacional,
pois a norma que prescreve "Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no
estrangeiro: os crimes: praticados por brasileiro " (Código Penal, artigo 7º, inciso
II, alínea "b"), estabelece que tal hipótese de extraterritorialidade da lei penal
brasileira depende do concurso de algumas condições, entre as quais a de "não
ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena " (alínea "d"
do parágrafo 2º), a evidenciar caso de conhecimento inicial do Estado
estrangeiro.

Merece prosperar, todavia, a tese da defesa de possível ofensa à


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ordem pública.

Dispõe o artigo 27 do Código Penal:


"Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na
legislação especial."
Exsurge da norma, reproduzida no artigo 228 da Constituição da
República, que os menores de 18 anos no Brasil são penalmente inimputáveis,
ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial, no caso a Lei nº
8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), que preceitua, no seu artigo
104, "São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas
previstas nesta Lei ".

Na espécie dos autos, o próprio Ministério Público Federal


reconhece que os fatos narrados na carta rogatória, que ocorreram no período
de 1º de maio de 2007 a 27 de agosto de 2007, são anteriores à data em que o
interessado H P C atingiu a maioridade penal, já que nascido aos 8 de setembro
de 1989, como provam os documentos de fl. 69 dos autos.

Em suma, o interessado, aos olhos da legislação pátria, é


penalmente inimputável, vale dizer, não pratica objetivamente crimes, podendo,
eventualmente, ser responsabilizado pela prática de ato infracional, que não
resulta em pena privativa de liberdade stricto sensu , mas nas denominadas
medidas sócio-educativas (artigos 112 e seguintes da Lei nº 8.069/90).

Lado outro, o artigo 784 do Código de Processo Penal determina


que "As cartas rogatórias emanadas de autoridades estrangeiras competentes não
dependem de homologação e serão atendidas se encaminhadas por via diplomática e
desde que o crime, segundo a lei brasileira, não exclua a extradição ", sendo certo
que o artigo 77, incisos II e IV, da Lei nº 6.815/80 assenta que "Não se
concederá a extradição quando: (...) II - o fato que motivar o pedido não for
considerado crime no Brasil ou no Estado requerente ; (...) IV - a lei brasileira
impuser ao crime a pena de prisão igual ou inferior a 1 (um) ano ".
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Dessa forma, seja porque os fatos lá ocorridos não são
considerados crime no Brasil e, sim, ato infracional, seja porque a sanção
eventualmente cabível segundo a lei brasileira não consiste em pena de prisão,
inviável, nos termos propostos, o atendimento ao pedido de cooperação
internacional, cujo objetivo derradeiro era o interrogatório do menor brasileiro
H P C, investigado pela prática dos seguintes crimes do Código Penal Alemão:
"Artigo 202a (Espionagem dos dados)
Parágrafo 1:
Quem gera para si ou para uma outra pessoa acesso
não autorizado a dado que não são destinados ao seu uso e
que são protegidos especialmente contra um acesso não
autorizado, isso, sob a infração da proteção de acesso,
será punido com uma pena privativa até 3 anos ou com um
multa pecuniária.
Parágrafo 2:
São somente dados no sentido do parágrafo 1 aqueles
que são armazenados ou transmitidos eletrônica ou
magneticamente de uma maneira não perceptível.
Artigo 303a (Modificação de dados)
Parágrafo 1:
Quem apaga, supressa, faz inutilizáveis ou altera
dados ilegalmente (artigo 202a, parágrafo 1) será punido
com uma pena privativa até 2 anos ou com uma multa
pecuniária.
Parágrafo 2-3:
...
Artigo 303b (Sabotagem de computador)
Parágrafo 1:
Quem atrapalha consideravelmente o processamento
de dados que é para uma outra pessoa de uma importância
fundamental por
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1. cometer um delito descrito no artigo 303a,
parágrafo 1;
2. adicionar ou transferir dados (artigo 202a,
parágrafo 2) na intenção de fazer mal a uma outra pessoa;
ou
3. destruir uma instalação para o processamento de
dados ou uma portadora de dados, será punido com uma
pena privativa até 3 anos ou com uma multa pecuniária.
Parágrafo 2:
Se tratar-se de um processamento de dados destinado
a uma organização alheia, uma empresa alheia ou um
órgão de administração pública de significado essencial, a
pena será uma pena privativa até 5 anos ou com uma multa
pecuniária.
Parágrafo 3:
A tentativa é punível.
Parágrafo 4:
Em casos particularmente graves do parágrafo 2 a
pena será uma pena privativa de 6 meses até 10 anos. Um
caso particularmente grave dá-se geralmente se o autor
1. causa uma perda de patrimônio de uma dimensão
superior
2. age profissionalmente ou como membro de uma
quadrilha que se juntou para cometer continuamente
crimes de sabotagem de computador
3. ...
Parágrafo 5:
..." (fls. 7/8).
Não desconheço, vale gizar, precedente deste Superior Tribunal de
Justiça no sentido de que "O princípio da dupla incriminação não incide em se
tratando de medidas de assistência de primeiro nível, que, por ausência de gravame,
podem ser qualificadas como meramente procedimentais " (AgRg na Carta
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Rogatória nº 1.433/BE, Relator Ministro Barros Monteiro, in DJ 6/8/2007),
mas não vejo possível o Estado brasileiro colaborar para instrução de
procedimento investigatório criminal que poderá resultar numa condenação
penal que ele mesmo não admite.

De resto, embora invocada pelo Ministério Público Federal a


peculiaridade da espécie, ao que parece diante da extensão dos fatos, não há
como deferir as diligências requeridas, por incabível, ainda que tivessem sido
arrolados pelo Parquet os tipos penais equiparados (Lei nº 8.069/90, artigo
103), a conversão da carta rogatória em exame, por parte deste Tribunal e nos
seus autos, "em notícia de ato infracional ", a ser encaminhada ao Juízo da
Infância e da Juventude, nem tampouco modificar o objeto da solicitação,
restrito à seara penal, sem prejuízo da iniciativa do Ministério Público, no
âmbito de suas atribuições, perante o Juízo competente.

Pelo exposto, indefiro a concessão do exequatur .

É O VOTO.

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