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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL.
PARTIDO BETA, partido político com representaçã o no Congresso Nacional, devidamente
registrado no Tribunal Superior Eleitoral, inscrito no CNPJ sob nº, com sede em (endereço
completo com CEP), representado, na forma de seu Estatuto Social, pelo seu Presidente
(nome completo) vem por seus procuradores in fine que esta subscreve (procuraçã o em
anexo) respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no art. 102 § 1º e 103,
inciso VIII da Constituiçã o Federal, Art. 1º da Lei Federal n 9.882/99,Art. 3º da Lei Federal
nº 9.882/99ajuizar a presente:
AÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL
Com pedido de concessão de medida liminar,
contra os artigos 11 e 12 da Lei Orgâ nica do Município Alfa, ato da Câ mara Municipal do
Município Alfa de natureza pré constitucional e indicacomo preceitos constitucionais
vulnerados o art. 1º, caput, (Princípio Republicano);Art. 22, inciso I, (violaçã o à
competência legislativa exclusiva da Uniã o),princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV,
CRFB);princípio da separaçã o de poderes (arts. 2º e 60 § 4º, III, CRFB);art. 29 caput e inciso
X (que dispõ em sobre os municípios e sobre as respectivas leis orgâ nicas, todos da
Constituiçã o da Repú blica.

Ato do poder público


A presente ADPF insurge-se contra os artigos 11 e 12 da Lei Orgâ nica do Município cuja
publicaçã o ocorreu em 30 de maio de 1985 que estabelece no seu Art. 11, diversas
condutas como crime de responsabilidade do Prefeito, entre elas o nã o atendimento, ainda
que justificado, a pedido de informaçõ es da Câ mara Municipal, inclusive com previsã o de
afastamento imediato do Prefeito a partir da abertura do processo político.Convém
esclarecer que tratar-se de norma municipal e anterior à CRFB/88 (Art. 1º, pará grafo ú nico,
inciso I, e do Art. 4º, § 1º, ambos da Lei nº 9.882/99).
Ultrapassado tal ponto, acresça-se que o Art. 12 da norma municipal contém previsã o que
define a competência de processamento e julgamento do Prefeito pelo cometimento de
crimes comuns perante Justiça Estadual de primeira instâ ncia. Insta salientar, que já existe
representaçã o oferecida por Vereadores da oposiçã o com o objetivo de instaurar processo
de apuraçã o de crime de responsabilidade com fundamento no referido ato normativo.
I – Preliminarmente
1. Legitimação ativa
Como se depreende do Art. 2º da Lei 9.882/99 os legitimados à proposiçã o de argü içã o de
descumprimento de preceito fundamental constam no rol taxativo do artigo 103, inciso
VIII, da CRFB/88.[1]
Art. 2o Podem propor arguiçã o de descumprimento de preceito fundamental:
I - os legitimados para a açã o direta de inconstitucionalidade.[2]
A seu turno, os legitimados à proposiçã o de açã o direta de inconstitucionalidade sã o:
Presidente da Repú blica; Mesa do Senado Federal; Mesa da Câ mara dos Deputados; Mesa
de Assembléia Legislativa ou da Câ mara Legislativa do Distrito Federal; Governador de
Estado ou do Distrito Federal; Procurador-Geral da Repú blica; Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil; partido político com representaçã o no Congresso Nacional;
confederaçã o sindical ou entidade de classe de â mbito nacional.
Conforme preconiza Dirley da Cunha Jú nior:
"Impõ e-se recordarque tais legitimados ativos nã o sã o partes materiais na açã o, pois nã o
tem nenhuma disponibilidade sobre a mesma, haja vista que, em processos de natureza
objetiva, nã o existem partes litigantes".[3]
Os legitimados universais sã o o Presidente da Repú blica, a Mesa do Senado Federal, a Mesa
da Câ mara dos Deputados, Procurador Geral da Repú blica, o Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil e o partido político com representaçã o no Congresso Nacional,
porquanto possuem interesse, em face de suas atribuiçõ es, em manter a preservaçã o da
Ordem Constitucional estã o dispensados de demonstrar a pertinência temá tica ou
interesse de agir, o que só é exigido de Governador de Estado, a Mesa da Assembléia
Legislativa, da Confederaçã o Sindical e das Entidades de Classe de â mbito Nacional há que
se demonstrar a pertinência temá tica, o interesse de agir.
Nota-se, efetivamente, que o requerente é parte legítima para ingressar com a
presenteADPF, porquanto possui representaçã o no Congresso Nacional, ou seja, subsume-
se ao quanto disposto no art. 103 VII da Carta Magna.[4]
Caracterizada a legitimidade ativa, sã o demonstrados os requisitos de cabimento da ADPF,
consoante legislaçã o de regência.
1. Cabimento da ADPF
A Arguiçã o de Preceito Fundamental está prevista no art. 102, § 1º, da Constituiçã o Federal,
regulamentada pela Lei nº 9.882/99 e aplicá vel contra atos comissivos ou omissivos dos
Poderes Pú blicos que importem em lesã o ou ameaça de lesã o aos princípios e regras mais
relevantes da ordem constitucional.[5]
Art. 1o A arguiçã o prevista no § 1o do art. 102 da Constituiçã o Federal será proposta
perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou reparar lesã o a preceito
fundamental, resultante de ato do Poder Pú blico.
Pará grafo ú nico. Caberá também arguiçã o de descumprimento de preceito fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato
normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituiçã o; [6]
Por conseguinte, a ADPF exprime a preocupaçã o do constituinte em aperfeiçoar a rede de
açõ es, recursos e garantias que visam preservar a supremacia constitucional. Nessa ó tica, a
ADPF deve colmatar lacunas e nã o substituir garantias e açõ es existentes ou concorrer com
elas, para evitar que se torne mais complexo e instá vel o sistema de controle de
constitucionalidade.[7]
Convém frisar que para a Doutrina há duas modalidades de ADPF: a autô noma, que
representa uma típica modalidade de jurisdiçã o constitucional abstrata, desvinculada de
qualquer caso concreto e a incidental, que pressupõ e a existência de uma determinada lide
intersubjetiva, na qual tenha surgido uma controvérsia constitucional relevante. Nesse
sentido, a presente ADPF é do tipo autô noma.
Nesse particular, a interpretaçã o conjunta a que se deve proceder do caput do art. 1 e do
inciso I, pará grafo ú nico, do Artigo1, da Lei n 9.882 de 1999, que contemplam
respectivamente a arguiçã o direta ou autô noma e a arguiçã o incidental, exige uma
compreensã o extensiva ou amplaobjeto dessas modalidadesde arguiçã oe uma
compreensã o restritiva dos requisitos de sua admissibilidade, uma vez que o propó sito que
sempre conduziu o legislador foi o de criar um mecanismo eficaz e abrangente de
assituaçõ es lesivas a preceitos fundamentais, e jamais limitados a certas situaçõ es.[8]
Segundo entendimento jurídico-constitucional, a arguiçã o de descumprimento dirige-se a
defesa dos princípios fundamentais originá rios da Magna-Carta. Iniciada por açã o judicial
de controle de constitucionalidade, utilizando um parâ metro distinto e circunscrito a esse
instituto.
Para Dirley Cunha, na Açã o de Descumprimento de Preceito Fundamental a inobservâ ncia
constitucional, compreende um viés mais vasto, envolvendo também a profanaçã o indireta
da obra constitucional. Para oreferido autor, no que se refere ao descumprimento em sede
de arguiçã o, este conceito pode ocorrer por meio de descriçã o de lei ou ato normativo,
sejam eles, infra legais como regulamentos ou em virtude da expediçã o de ato nã o
normativo, envolvendo, atos jurídicos individuais ou concretos.
Para Dirley da Cunha (p. 364 -365), a Lei nº 9.882/99delimitou-se o conceito de
“descumprimento” restringindo apenas aos atos emanados pelo poder pú blico, sendo eles
de cunho meramente normativos ou nã o, incluindo também as omissõ es. Ressaltando que
só existirá de fato descumprimento para efeitos de argü içã o em causa, somente por meio
atos de açã o ou omissã o do poder pú blico que violarem ou desconsiderarem o princípio
fundamental constitucional.
Nas palavras de DimitriDimoulis, cabe sempre ADPF contra:
a) atos normativos oriundos de autoridades municipais, por estarem excluídos da açã o
direta de inconstitucionalidade, conforme o art. 102, I, a, da CF.
b) atos normativos anteriores à entrada em vigor da Constituiçã o, contra os quais,
conforme jurisprudência assentada do STF, nã o cabe açã o direta de inconstitucionalidade
nem Açã o direta de Constitucionalidade. (art. 1.º, pará grafo ú nico, I, da Lei 9.882/1999).
Neste sentido, os artigos 11 e 12 foram publicados em 1985, logo anteriores à Consituiçã o,
atendem a tal requisito.
Como dito, o artigo 11 ora questionado estabelece diversas condutas como crime de
responsabilidade do Prefeito, entre elas o nã o atendimento, ainda que justificado, a pedido
de informaçõ es da Câ mara Municipal, inclusive com previsã o de afastamento imediato do
Prefeito a partir da abertura do processo político. A referida norma foi publicada em 1985,
portanto, é de natureza pré- constitucional anterior à CRFB/88, de cará ter municipal, logo,
submete-se à ADPF.
Ultrapassado tal ponto, acresça-se que o Art. 12 da norma municipal contém previsã o que
define a competência de processamento e julgamento do Prefeito pelo cometimento de
crimes comuns perante Justiça Estadual de primeira instâ ncia. Insta salientar, que já existe
representaçã o oferecida por Vereadores da oposiçã o com o objetivo de instaurar processo
de apuraçã o de crime de responsabilidade com fundamento no referido ato normativo.
Portanto, face ao exposto e em homenagem ao princípio da subsidiariedade, a Arguiçã o de
preceito Fundamental traduz-se na ú nica açã o que de controle objetivo de
constitucionalidade aplicá vel, cabível, consoante Art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99.
1.1A violação a preceito fundamental
Os artigos 11 e Art. 12 da Lei Orgâ nica do Município Alfaviolam flagrantemente o art. 1º,
caput, (princípio republicano), bem como art. 22, inciso I, (violaçã o à competência
legislativa exclusiva da Uniã o), princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV, CRFB,
princípio da separaçã o de poderes (arts. 2º e 60 § 4º, III, CRFB), Art. 29,caput e inciso X
(que dispõ em sobre os municípios e sobre as respectivas leis orgâ nicas, todos da
Constituiçã o da Repú blica).
1.2 Inexistência de outro meio capaz de sanar a lesão ou ameaça ( subsidiariedade)
§ 1o Nã o será admitida arguiçã o de descumprimento de preceito fundamental quando
houver qualquer outro meio eficaz de sanar a lesividade.[9]
Destarte, em face docará ter acentuadamente objetivo da arguiçã o de descumprimento, o
juízo de subsidiariedade há de ter em vista, especialmente, os demais processos objetivos já
consolidados no sistema constitucional.[10]
Princípio da subsidiariedade (art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99): inexistência de outro meio
eficaz de sanar a lesã o, compreendido no contexto da ordem constitucional global, como
aquele apto a solver a controvérsia constitucional relevante de forma ampla, geral e
imediata. A existência de processos ordiná rios e recursos extraordiná rios nã o deve excluir,
a priori, a utilizaçã o da argü içã o de descumprimento de preceito fundamental, em virtude
da feiçã o marcadamente objetiva desta açã o.”[11]
Diante desse contexto, a ADPF é instrumento constitucional apto ao controle de
legitimidade do direito pré-constitucional, do direito municipal em face da Constituiçã o
Federal e nas controvérsias sobre direito pó s-constitucional já revogada ou cujos efeitos já
se exauriram. Nesses casos, em face do nã o cabimento da açã o direta de
inconstitucionalidade, nã o há como deixar de reconhecer a admissibilidade da arguiçã o de
descumprimento.[12]
Também por aplicaçã o da regra da subsidiariedade, será cabível, em tese, a arguiçã o de
descumprimento de preceito fundamental tendo por objeto o reconhecimento da
constitucionalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal.
Para SARLET, concebida como instrumento de peculiar de defesa dos princípios
fundamentais constitucionais a arguiçã o de descumprimento tem papel primordial no
controle de constitucionalidade. Influenciada pelos direitos espanhol e alemã o, a legislaçã o
brasileira adota um critério no qual, nã o havendo outra forma, outra maneira de sanar o
bem jurídico do ofendido, será permitida a utilizaçã o da arguiçã o de descumprimento de
preceito fundamental. Sendo tal hipó tese admitida ú nica e exclusivamente, somenteem
casos de inexistência no arcabouço jurídico estatal, de instrumentoscapazes de supri de
forma célere, eficaz e completa esta funçã o. Por fim, de acordo com o entendimento
doSuperior Tribunal do Federal a perspectiva de uso de outros recursos processuais, por
conseguinte nã o seriam motivos suficientes para explicar o apelo a subsidiariedade.
(SARLET,p. 396-401)
A partir da consagraçã o da arguiçã o no direito brasileiro, entretanto, os atos municipais
nã o estã o mais a salvo do controle abstrato de constitucionalidade do Supremo Tribunal
Federal, com o que passarã o a sujeitar – se, a semelhança dos atos federais e estaduais, a
eficá cia erga omnes da decisã odeclarató ria de inconstitucionalidade.[13] Logo, como dito, a
ADPF consubstancia-se em ú nica açã o de controle constitucionalidade cabível contra
norma municipal pré-constitucional, de acordo com o estabelecido no Art. 1º, pará grafo
ú nico, inciso I, e do Art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99.
Nas palavras de Dirley da Cunha, pode-se assegurar que o Supremo Tribunal Federal, se
nã o dispunha de competência originá ria para o controle abstrato de normas municipais
contestadas em face da Constituiçã o Federal, porque a açã o direta de inconstitucionalidade
nã o comportava esse tipo de controle, foi dotado, com a arguiçã o, de competência para
exercita- lo, por determinaçã o da pró priaConstituiçã o.[14]
Na arguiçã o de descumprimento de preceito fundamental exige-se a demonstraçã o de
controvérsia jurídica relevante, capaz de afetar a presunçã o de legitimidade de lei ou da
interpretaçã o judicial adotada. [15]
“A arguiçã o de descumprimento de preceito fundamental foi concebida pela Lei 9.882/99
para servir como um instrumento de integraçã o entre os modelos difuso e concentrado de
controle de constitucionalidade, viabilizando que atos estatais antes insuscetíveis de
apreciaçã o direta pelo Supremo Tribunal Federal, tais como normas préconstitucionais ou
mesmo decisõ es judiciais atentató rias a clá usulas fundamentais da ordem
constitucional."(ADPF 127)
Com efeito, a ADPF cumpre os requisitos constitucionais para a sua proposiçã o, quais
sejam:
(a) existir lesã o ou ameaça a preceito fundamental;
(b) lesã o ser causada por atos comissivos dos Poderes Pú blicos;
(c) nã o existir nenhum outro instrumento apto a sanar esta lesã o ou ameaça.
Em síntese, restam atendidos, na íntegra os seus pressupostos.
II - NO MÉRITO: DOS PRECEITOS FUNDAMENTAIS VIOLADOS
Em razã o da extrema violaçã o aos princípios aqui aduzidos e sob a perspectiva de Konrad
Hesse, a Constituiçã o é dotada de força normativa, pois as pessoas mais aderem à
Constituiçã o do que as repelem. A tese central do referido autor é afirmar que o texto
constitucional possui uma pretensã o de eficá cia e visa a imprimir ordem e conformaçã o à
realidade política e social. Para ele há intençõ es que podem ser realizadas e que permitem
assegurar a força normativa da Constituiçã o.
Em termos puramente ló gicos, Hesse considera que negar a força à Constituiçã o é negar o
direito constitucional enquanto ciência jurídica e por conseqü ência a negaçã o da Teoria
Geral do Estado. Ele expô s, também, os limites e as possibilidades da atuaçã o da
Constituiçã o jurídica e os pressupostos de eficá cia da Constituiçã o. Assim, sã o premissas
fundantes de seu pensamento, a argumentaçã o de que a norma constitucional nã o tem
existência autô noma em face da realidade. A sua essência reside em sua vigência, onde a
pretensã o de eficá cia nã o pode ser separada das condiçõ es histó ricas de sua realizaçã o.
Reitera, nesse contexto, que a Constituiçã o nã o configura apenas a expressã o de um ser,
mas também de um dever ser.
Diante desse panorama, é cediço que atos quersejam municipais, estaduais ou federais,
demandam sincronicidade com os princípios expressos e implícitos da Constituiçã o.
Convém aduzir que a jurisprudência tem compreendido que a lesã o a preceito fundamental
nã o se concretiza somente na hipó tese de possível afronta a um princípio fundamental,
como também a regras que confiram densidade normativa ou significado específico a esse
princípio. Com efeito, os pressupostos constitucionais restaram violados, notadamente, a
separaçã o de poderes, a competência exclusiva da Uniã o para legislar sobre crime de
responsabilidade.
O Supremo Tribunal Federal tem destacado que compete à Corte o juízo acerca do que se
há de compreender, no sistema constitucional brasileiro, como preceito fundamental. Neste
aspecto, vinculam-se os preceitos fundamentais da ordem constitucional aos direitos e
garantias fundamentais (art. 5º, dentre outros). Destarte, sã o também preceitos
fundamentais os princípios protegidos pela clá usula pétrea do art. 60,§ 4º, da CF: o
princípio federativo, a separaçã o de poderes e o voto direto, secreto, universal e perió dico.
[16]
“Destarte”, um juízo mais ou menos seguro sobre a lesã o de preceito fundamental
consistente nos princípios da divisã o de Poderes, da forma federativa do Estado ou dos
direitos e garantias individuais exige, preliminarmente, a identificaçã o do conteú do dessas
categorias na ordem constitucional e, especialmente, das suas relaçõ es de
interdependência. [17]
Neste diapasã o, sã o destacados os preceitos violados e cotejados com os princípios
constitucionais e o sistema de valores construídos sob a égide doEstado Democrá tico de
Direito.
1. Artigo 1º, caput, (princípio republicano).
A Constituiçã o Federal de 1988 estabelece o estado Brasileiro como um ente federativo,
consoante disposiçã o de exercício tipo federativo.Neste sentido, os artigos ora impugnados
violam o art. 22, I, da CRFB/88, tendo em vista que matéria é de direito penal e a
competência é legislativa e privativa da Uniã o, o que trasngride todo o sistema republicano
e a divisã o de competências.
Logo, os artigos 11 e 12 da Lei Municipal agridem frontalmente o sistema jurídico,
porquanto nã o mantém compatibilidade material com os valores que a Constituiçã o. Ora, a
repartiçã o de competências é nú cleo inafastá vel de organizaçã o politico administrativo
brasileiro.
Neste particular, o crime de responsabilidade traduz-se em competência legislativa
exclusiva da Uniã o. A norma municipal padece de vício de constitucionalidade, pois é
materialmente inconstitucional.
b) Art. 22, inciso I, (violação à competência legislativa exclusiva da União)
Neste aspecto preconiza o Art. 22 da Constituiçã o que compete privativamente à Uniã o
legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrá rio, marítimo, aeroná utico,
espacial e do trabalho;
Como dito, verbera, nesse rastro, que a referida norma vulnera o pacto federativo, o
princípio republicano, notadamente o art. 22 I, da CRFB/88, porquanto a matéria é afeta ao
direito penal e a competência é legislativa e privativa da Uniã o. Desta forma, houve violaçã o
ao princípio federativo.
Conforme se depreende da Rcl 2.138, Rel. Min.Nelson Jobim:
A sujeiçã o dos agentes pú blicos à s conseqü ências jurídicas de seu pró prio comportamento
é inerente e consubstancial, desse modo,ao regime republicano, que constitui, no plano de
nosso ordenamento positivo, uma das mais relevantes decisõ es políticas fundamentais
adotadas pelo legislador constituinte brasileiro.
c) Artigo 2º (violação ao princípio da separação de poderes)
A Constituiçã o converter-se-á em força ativa, baseia-se na compreensã oda necessidade e do
valor de urna ordem normativa inquebrantá vel, que proteja o Estado contra o arbítrio
desmedido e disforme. (HESSE, 1991, p. 19-20).
Art. 18. A organizaçã o político-administrativa da Repú blica Federativa do Brasil
compreende a Uniã o, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autô nomos, nos
termos desta Constituiçã o.[18]
É possível inferir, portanto, flagrante ofensa, à separaçã o de poderes, ao devido processo
legislativo e à competência legislativa exclusiva da Uniã o, porquanto o crime de
responsabilidade é matéria afeta à Uniã o. De tal modo que o referido ato municipal usurpa
competência estabelecida na Constituiçã o. Logo, restaram fulminados os Art. 22, inciso I, da
CRFB/88, Sú mula Vinculante 46/STF que assevera que a definiçã o dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento sã o
de competência legislativa privativa da Uniã o.
Nesse diapasã o, para assegurar a má xima proteçã o constitucional de tal preceito, outros
precedentes sã o paradigmá ticos acerca da invasã o de competência no que pertine aos
crimes de responsabilidade, como é demonstrado abaixo:
"A definiçã o das condutas típicas configuradoras do crime de responsabilidade e o
estabelecimento de regras que disciplinem o processo e julgamento dos agentes políticos
federais, estaduais ou municipais envolvidos sã o da competência legislativa privativa da
Uniã o e devem ser tratados em lei nacional especial (art. 85 da Constituiçã o da Repú blica)".
(ADI 2220, Ministra Relatora Cá rmen Lú cia, Tribunal Pleno, julgamento em 16.11.2011, DJe
de 7.12.2011)
Diante deste contexto, acrescente-se que o STF já decidira em sede de controle concentrado
nessa mesma linha, destacando-se as ADIs1.890 MC (Rel. Min. Celso de Mello, j. 10.12.1998)
e 1.628 (Rel. Min. Eros Grau, j. 10.08.2006), e, mais recentemente, na ADI 4.791 (Rel. Min.
Teori Zavascki, j. 12.02.2015) e nas ADIs 4.792 e 4.800 (Rel. Min. Cá rmen Lú cia, j.
12.02.2015), nas quais, por maioria de votos, esta Corte declarou inconstitucionais
dispositivos semelhantes, presentes nas Constituiçõ es Estaduais do Paraná , Espírito Santo
e Rondô nia, respectivamente, vencido, nesse ponto, o Min. Marco Aurélio." (ADI 4764,
Relator Ministro Celso de Mello, Redator do acó rdã o Ministro Roberto Barroso, Tribunal
Pleno, julgamento em 4.5.2017, DJe de 15.8.2017). [19]
d) Violação ao Artigo 29, caput e inciso X (que dispõem sobre os municípios e sobre
as respectivas leis orgânicas
Importante, porém, aduzir que o Art. 29, inciso X, CRFB/88, prescreve sobre os municípios
e sobre as respectivas leis orgâ nicas. Nesse diapasã o, o referido dispositivo diz que os
Prefeitos possuem a prerrogativa de foro perante o Tribunal de Justiça em crimes comuns.
Ao revés, o artigo 12 da lei municipal prevê a competência de processamento e julgamento
do Prefeito pelo cometimento de crimes comuns perante Justiça Estadual de primeira
instâ ncia, ato que ofende como dito o devido processo legal e a competência do Tribunal de
Justiça, que nã o se confunde com Justiça Estadual de primeira instâ ncia. Em face do
exposto, vê-se que os artigos ora combatidos revestem-se de vícios insaná veis de
inconstitucionalidade formal e material e porquanto sã o ilícitos os atos submetidos a tais
fundamentos, como o possível afastamento do cargo de Prefeito Municipal. Dito, isso é
fundamental expor a necessá ria concessã o de medida liminar, consoante possibilidade
expressa da legislaçã o de regência.
Neste particular, os artigos ora impugnados nã o observaram as regras de competência
delineada na Constituiçã o e para, além disso, subverteram o devido processo legal.
e) Violação ao Artigo 5º, LIV (devido processo legal)
A Constituiçã o proclama um sistema axioló gico, lastreado por princípios basilares, tais
como o da dignidade da pessoa humana e o da proporcionalidade. Nesse contexto,
proporcionalidade e razoabilidade sã o noçõ es que assumiram um papel de destaque no
direito constitucional contemporâ neo. (SARLET, 2012). De tal modo que guardam entre si
uma forte relaçã o com as noçõ es de justiça, equidade, isonomia, moderaçã o.
Para o referido autor, apenas na aplicaçã o desses princípios é que se logra obter a
construçã o de um significado constitucional à soluçã o dos conflitos.
Imperioso aduzir que o art. 226, § 6º da CRFB possui eficá cia plena, com aplicabilidade
imediata. À luz de tais consideraçõ es, ressalve-se que a eficá cia da Constituiçã o relaciona-se
com o plano de concretizaçã o constitucional, no sentido da busca da aproximaçã o tã o
íntima quanto possível entre o dever ser normativo e o ser da realidade social.[20]
Nesse diapasã o, reza a Carta Magna que ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal (art. 5º, LIV da CF).Nesse ínterim, o devido processo legal tem
como início a experiência constitucional americana do due process of law e por sua vez é
reconduzida à Magna Carta de 1215, que é embrioná ria no que tange aos direitos humanos
e ao pró prio movimento constitucionalista de proteçã o de excessos arbitrais do Estado em
relaçã o ao indivíduo, atuando como um direito de defesa. (NOVELINO, 2014).
Segundo (NERY, 2014) a atual tendência processualista é alinhar os princípios processuais
com os princípios constitucionais. Dentro dessa ó tica, o processo passa a ser visto como um
instrumento a serviço da ordem constitucional, razã o pela qual precisa refletir as bases do
regime democrá tico nela proclamados.
A regularidade formal de uma decisã o nã o basta, é necessá rio que seja substancialmente
devida, trazendo o conceito de devido processo legal substantivo. Desse importante
princípio surgem os postulados da proporcionalidade, acesso à justiça, juiz natural, ampla
defesa, contraditó rio, igualdade entre as partes e celeridade processual. [21]. Portanto, fere
o devido processo legal a imposiçã o de crime de responsabilidade ao Prefeito, porquanto o
Ente nã o possui tal competência.
6. DO PEDIDO LIMINAR
Insta salientar, que já existe representaçã o oferecida por Vereadores da oposiçã o com o
objetivo de instaurar processo de apuraçã o de crime de responsabilidade com fundamento
no referido ato normativo.
Com efeito, a Lei nº 9.882/99 prevê a possibilidade de concessã o de medida cautelar na
arguiçã o de descumprimento, mediante decisã o da maioria absoluta dos membros do
Tribunal. Em caso de extrema urgência ou de perigo de lesã o grave, ou ainda durante o
período de recesso, a liminar poderá ser concedida pelo relator ad referendum do tribunal
Pleno (art. 5º e § 1º).
Esclareça-se que em face de disputa política local, já há , inclusive representaçã o oferecida
por Vereadores da oposiçã o com o objetivo de instaurar processo de apuraçã o de crime de
responsabilidade com fundamento no referido Art. 11 da Lei Orgâ nica, a qual poderá ser
analisada a qualquer momento.
Pelo exposto requer que seja sustada a eficá cia do Art. 11 da Lei Municipal do Município
Alfa em face da Constituiçã o da Repú blica e em decorrência obstar o prosseguimento da
representaçã o contra o Prefeito por crime de responsabilidade.
Precipuamente, deve-se observar que, por tratar-se de situaçã o em que o perigo na demora
para a concessã o da tutela definitiva satisfativa pode ocasionar danos irrepará veis à parte
autora, resta caracterizada a possibilidade do pleito da tutela de urgência satisfativa em
cará ter antecedente, conforme o nosso novo Có digo de processo Civil brasileiro nos
oportuna em seu art. 294, § ú nico, in verbis:
Art. 294. A tutela provisó ria pode fundamentar-se em urgência ou evidência.Pará grafo
ú nico. A tutela provisó ria de urgência, cautelar ou antecipada, pode ser concedida em
cará ter antecedente ou incidental.
Desta forma, observa-se que o novo Có digo Processual Civilestabeleceu alguns requisitos
para que a tutela provisó ria de urgência satisfativaseja concedida, notadamente, a
demonstraçã o da probabilidade do direitoe do perigo de dano ou ilícito.Por seu turno, a
probabilidade do direito a ser provisoriamente satisfeito ou realizado é a plausibilidade de
existência desse mesmo direito. O bem conhecido fumus boni iuris (ou fumaça do bom
direito).
Assim, a tutela provisó ria de urgência pressupõ e, também, a existência de elementos que
evidenciem o perigo que a demora no oferecimento da prestaçã o jurisdicional (periculum
in mora) representa para a efetividade da jurisdiçã o e a eficaz realizaçã o do direito.
Portanto, está nítido o direito que a Requerente possui em ter seu pleito de tutela cautelar
de urgência antecedente concedido, com fundamento no artigo 5º, § 3º da Lei9.882/99,
requer a suspensã o do trâ mite da açã o fundada em crime de responsabilidade oferecida em
desfavor do prefeito de acordo com o artigo 11 da lei orgâ nica municipal de 1985, uma vez
que nã o houve qualquer conduta que venha ser imputado ao Prefeito.
7.DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer:
a) a oitiva do Procurador Geral da Repú blica com fulcro no art. 7º, lei. 9.882/99.
b) solicitaçã o de informaçõ es à Câ mara dos Vereadores pela ediçã o da Lei em respeito ao
estabelecido no § 2º, art. 5º e art. 6º da Lei. 9.882/99.
c) O deferimento da liminar e o julgamento definitivode procedência da ADPF.
d) Sustaçã o da eficá cia do artigo 11 e 12 da Lei Orgâ nica do Município Alfa em face da
Constituiçã o da Repú blica e em decorrência obstar o prosseguimento da representaçã o
contra o Prefeito por crime de responsabilidade.
e) Que seja declarada a inconstitucionalidade dos Artigos 11 e 12 da Lei Orgâ nica do
Município Alfa em face da Constituiçã o da Repú blica por incompatibilidade formal e
material à Constituiçã o.
Para prova dos alegados, instrui a presente exordial com có pia dos dispositivos legais ora
impugnados, consoante art. 3º da Lei 9.882/99.
Dá -se à causa o valor de R$ 10.000, 00.
Termos em que,
Pede deferimento
Brasília, 30 de outubro de 2017
ADVOGADO
OAB/ DF
1. Art. 103 CFRB. Disponível em planalto.gov.br ↑
2. BRASIL. Lei 9.882 ↑
3. Dirley da Cunha Jú nior. 2011, p 447. ↑
4. Art. 103. Podem propor a açã o direta deinconstitucionalidade e a açã o declarató ria de
constitucionalidade:
I - o Presidente da Repú blica;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câ mara dos Deputados;
IV a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câ mara Legislativa do Distrito Federal;
V o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da Repú blica;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederaçã o sindical ou entidade de classe de â mbito nacional. ↑
5. Art. 102: § 1.º A arguiçã o de descumprimento de preceito fundamental, decorrente
desta Constituiçã o, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. ↑
6. BRASIL. Lei 9.882 de 03 de dezembro de 1999. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9882.htm ↑
7. Dirley da Cunha, p. 380. ↑
8. Dirley da Cunha. Direito Constitucional. P. 379. ↑
9. BRASIL. Lei. 9882 de 03 de dezembro de 1999. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9882.htm ↑
10. ADPF 126-MC, Relator Min. Celso de Mello. Decisã o monocrá tica, julgamento em
19.12.2007. ↑
11. STF. ADPF 33, Pleno, Rel. Min. Gilmar Mendes, julg. 07.12.2005. ↑
12. MENDES. Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 9 ed. 2014. P.1250. ↑
13. Dirley da Cunha em seu livro Curso de Direito Constitucional, 9ed, p.379, 2015. ↑
14. Dirley da Cunha em seu livro Curso de Direito Constitucional, 9ed, p.379, 2015. ↑
15. Gilmar Ferreira Mendes. 2014. p.1247. ↑
16. Dirley da Cunha em seu livro Curso de Direito Constitucional, 9ed, p.379, 2015. ↑
17. Ministro Gilmar Mendes bem explicitou na ADPF-MC 33 (DJ 27.10.2006). ↑
18. BRASIL. Constituiçã o da Republica Federativa do Brasil. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm> ↑
19. http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=2368 ↑
20. BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional contemporâ neo, p.305. ↑
21. DIDIER 2014, em Curso de Processo Civil, p.53 ↑

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