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EXCELENTÍSSIMO SR. DR.

JUIZ DA VARA FEDERAL DE XXX DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE


XXX
JOAO, brasileiro, estado civil XXX, profissã o XXX, residente e domiciliado na rua XXX, n.
XXX, bairro XXX, na cidade de (cidade)/(uf), vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, por seu advogado constituído pelo instrumento de procuraçã o anexo e que
recebe intimaçõ es de foro em geral em seu endereço profissional sito na rua XXX, n. XXX,
bairro XXX, na cidade de XXX, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, com fulcro
nos termos do art. 5º, LXXIII, da CRFB/ 88 e da Lei n. 4.7 17/65 , ajuizar a presente
AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE LIMINAR
em face do Sr. XXX, Senador da República, com domicílio profissional no Prédio do
Senado Federal, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília – DF, pelos motivos que passará
a expor.
1. DOS FATOS
JOÃ O, já qualificado, indignou-se ao saber, em abril de 2009, por meio da imprensa, que o
Sr. Senador XXX, que merecera seu voto nas ú ltimas eleiçõ es, havia determinado a reforma
total de seu gabinete, orçada em mais de R$ 1.000.000,00, a qual seria custeada pelo
Senado Federal. A referida reforma incluía aquecimento e resfriamento com controle
individualizado para o ambiente e instalaçã o de ambiente físico para projeçã o de filmes em
DVD, melhorias que o autor considera suntuosas, incompatíveis com a realidade brasileira.
O Sr. Senador XXX declarara, em entrevistas, que os gastos com a reforma seriam
necessá rios para a manutençã o da representaçã o adequada ao cargo que exerce. Tendo
tomado conhecimento de que o processo de licitaçã o já se encerrara e que a obra nã o havia
sido iniciada, o Autor, temendo que nenhum ente pú blico tomasse qualquer atitude para
impedir o início da referida reforma, dirigiu-se a uma delegacia de polícia civil, onde foi
orientado a que procurasse a Polícia Federal. Supondo tratar-se de um “jogo de empurra-
empurra”, o Autor preferiu procurar ajuda deste profissional de advocacia para aconselhar-
se a respeito da providência legal que poderia ser tomada no caso, resolvendo por ajuizar a
presente Açã o Popular, instrumento há bil a anular atos lesivos ao patrimô nio pú blico.
2. DO DIREITO
Da descriçã o dos fatos, resta inescusá vel a desproporcional lesividade ao patrimô nio
pú blico potencializada pela reforma do gabinete do Sr. Senador XXX. Assim, como disposto
na Constituiçã o da Republica Federativa do Brasil, precisamente em seu artigo 5º, LXXIII,
qualquer cidadã o é parte legítima para propor açã o popular que vise a anular ato lesivo ao
patrimô nio pú blico ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa,
ao meio ambiente e ao patrimô nio histó rico e cultural. Ademais, os requisitos legais estã o
presentes nos artigos da Lei n.º 4.717, de 1.965 abaixo transcritos:
“Art. 1.º Qualquer cidadã o será parte legítima para pleitear a anulaçã o ou a declaraçã o de
nulidade de atos lesivos ao patrimô nio da Uniã o, do Distrito Federal, dos Estados, dos
Municípios, de entidades autá rquicas, de sociedades de economia mista ( Constituiçã o
Federal, art. 141, § 38), de sociedades mú tuas de seguro nas quais a Uniã o represente os
segurados ausentes, de empresas pú blicas, de serviços sociais autô nomos, de instituiçõ es
ou fundaçõ es para cuja criaçã o ou custeio o tesouro pú blico haja concorrido ou concorra
com mais de cinqü enta por cento do patrimô nio ou da receita â nua, de empresas
incorporadas ao patrimô nio da Uniã o, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, e
de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades subvencionadas pelos cofres pú blicos
Art. 2.º Sã o nulos os atos lesivos ao patrimô nio das entidades mencionadas no artigo
anterior, nos casos de:
a) incompetência;
b) vício de forma;
c) ilegalidade do objeto;
d) inexistência dos motivos;
e) desvio de finalidade.
Cumpre destacar que houve lesã o ao patrimô nio pú blico, pois foi utilizado dinheiro do
Senado Federal para beneficiar um agente político em suas pretensõ es pessoa is, em
termos de melhorias do seu pró prio gabinete, o que de forma expressa é vedado pela
Constituiçã o, nos termos do art. 37, caput, já que a administraçã o pú blica direta e indireta
de qualquer dos Poderes da Uniã o, dos Esta dos, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência.
Havendo, portanto, expressa violaçã o ao princípio da moralidade, uma vez que o dinheiro
pú blico e a má quina pú blica foram gastos para atender fins pessoa is.
Também pode ser aplicado ao caso em tela o disposto no art. 4º, I, da Lei n. 4.717/65, que
estabelece que sejam também nulos os atos ou contratos, praticados ou celebrados por
quais quer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º da Lei n. 4.7 17/65, com o por
exemplo, a admissã o ao serviço pú blico remunerado, com desobediência, quanto à s
condiçõ es de habilitaçã o, das normas legais, regulamentares ou constantes de instruçõ es
gerais.
3. DOS REQUISITOS DA AÇÃO POPULAR
Instrumento da cidadania, a Açã o Popular imprescinde da demonstraçã o do prejuízo
material, posto visar, também, os princípios da administraçã o pú blica, mormente o da
moralidade pú blica, como já sedimentado pelo Supremo Tribunal Federal. Para o
cabimento da açã o popular, basta a ilegalidade do ato administrativo a invalidar, por
contrariar normas específicas que regem a sua prá tica ou por se desviar dos princípios que
norteiam a Administraçã o Pú blica, dispensá vel a demonstraçã o de prejuízo material aos
cofres pú blicos, nã o é ofensivo ao inc. LXXIII do art. 5.º da Constituiçã o Federal, norma esta
que abarca nã o só o patrimô nio material do Poder Pú blico, como também o patrimô nio
moral, o cultural e o histó rico.
No presente caso, entã o, aliada à real possibilidade iminente de prejuízo ao Erá rio, temos
que o princípio da moralidade está sendo severamente afetado, mormente em época de
cortes orçamentá rios no nosso País, com a previsã o de milhõ es de desempregados, e,
ademais, os Presidentes do Senado anteriores já vinham recebendo de há muito tempo
autoridades em seu Gabinete, que, certamente, a ninguém envergonhou no tocante à s
instalaçõ es.
4. DOS REQUISITOS DA MEDIDA LIMINAR
Conforme estabelece o art. 5º, § 4º, da Lei n. 4. 717/65, na defesa do patrimô nio pú blico
caberá à suspensã o liminar do ato lesivo impugnado. Observa-se que, no caso em tela, a
situaçã o atenta contra a moralidade administrativa, princípio expresso no caput do art. 37
da Constituiçã o Federal, o que demonstra inequivocamente o fumus boni iuris. Já o
periculum in mora faz-se presente, visto que o processo licitató rio já se encerrou. Em bora
as obras ainda nã o tenham s e iniciado, necessá rio se faz evitar que os gastos sejam
efetuados, tendo em vista a enorme dificuldade de reembolso ou ressarcimento futuro do
Erá rio por parte do Político.
Assim, presentes os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, é cabível e
necessá ria à concessã o da liminar.
5. DA COMPETÊNCIA DO JUÍZO
Isso posto, envolvendo interesse da Uniã o que, inclusive, pode vir a atuar ao lado do autor
na presente açã o, é competente o Foro Federal sem privilégio de foro, contudo. Bem assim
posto na Lei n.º 4.717, de 1965:
“Art. 5.º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da açã o,
processá -la e julgá -la o juiz que, de acordo com a organizaçã o judiciá ria de cada Estado, o
for para as causas que interessem à Uniã o, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
§ 1.º Para fins de competência, equiparam-se atos da Uniã o, do Distrito Federal, do Estado
ou dos Municípios os atos das pessoas criadas ou mantidas por essas pessoas jurídicas de
direito pú blico, bem como os atos das sociedades de que elas sejam acionistas e os das
pessoas ou entidades por elas subvencionadas ou em relaçã o à s quais tenham interesse
patrimonial.
§ 2.º Quando o pleito interessar simultaneamente à Uniã o e a qualquer outra pessoas ou
entidade, será competente o juiz das causas da Uniã o, se houver; quando interessar
simultaneamente ao Estado e ao Município, será competente o juiz das causas do Estado, se
houver.
§ 3.º A propositura da açã o prevenirá a jurisdiçã o do juízo para todas as açõ es, que forem
posteriormente intentadas contra as mesmas partes e sob os mesmos fundamentos.”
Ademais, assim dispõ e o § 2.º do art. 109 da Constituiçã o da Republica Federativa do Brasil:
“§ 2.º As causas intentadas contra a Uniã o poderã o ser aforadas na seçã o judiciá ria em que
for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à
demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal.”
Por fim, exigir do autor, pessoa de parcos recursos financeiros, que se desloque até Brasília
seria um absurdo jurídico e social, dado o desenho especial da açã o popular.
6. DO PEDIDO
Ante o exposto, requer a Vossa Excelência que se digne a:
a) deferimento da tutela provisó ria para o propó sito da assinatura do contrato (Art. 5º, 4º
LAP + Art. 300 CPC);
b) a citaçã o por precató ria do réu, nos prazos e termos do inciso IV do art. 7.º da Lei n.º
4.717, de 1965, com có pia desta inicial e documentos juntados;
c) a oitiva do representante do Ministério Pú blico Federal (Art. 6º, § 4º, LAP);
d) a intimaçã o da Uniã o para se manifestar, conforme disposto no § 3.º do art. 6.º da Lei n.º
4.717, de 1965;
e) a confirmaçã o da sentença com a anulaçã o de quaisquer atos administrativos tomados
pelo demandado na presente açã o visando despesas objeto da presente açã o popular e,
caso já tenha havido alguma despesa, o ressarcimento por parte do réu ao erá rio por
despesas que venham a ser efetuados e já tenham sido efetuadas ao longo do processo, com
comunicaçã o ao Ministério Pú blico para as devidas açõ es penal e de improbidade que
entender pertinentes;
f) requerimento de provas (Art. 369 CPC).
g) a condenaçã o do Réu na sucumbência, a ser fixada por Vossa Excelência, nos termos do
art. 12 da Lei n.º 4.717, de 1965, bem como nas custas.
Dá -se à presente causa o valor estimado de R$ 1.000.000,00 (um milhã o de reais).
Termos em que pede e espera deferimento.
Cidade XXX , data XXX
Advogado XXX
OAB n. XXX/ UF XXX

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