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Exmo. Dr. Juiz de Direito da__ Vara Cível da Comarca de ...

/RJ

“Ninguém respeita a Constituição, mas


todos acreditam no futuro da Nação.”
– Renato Russo

AUTOR, [qualificação], residente e domiciliado à [endereço],


vem perante Vossa Excelência, por seus advogados que esta subscrevem,
instrumento de mandato incluso, com endereço para recebimento de notificação
na [endereço], CEP 25946-280, e-mail ..., com fulcro no artigo 5º, inciso
LXXIII, da Constituição da República e Lei nº 4.717 de 29 de junho de 1965,
propor a presente AÇÃO POPULAR COM PEDIDO DE LIMINAR, em face de

1. MUNICÍPIO DE ..., pessoa jurídica de direito público, com


sede na Av. ..., CNPJ nº ...;
2. [2º RÉU], PREFEITO DO MUNICÍPIO DE ...;
3. [3º RÉU], INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DOS
SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS DE ..., autarquia
municipal, com sede na Av. ..., CNPJ nº ...;
4. [4º RÉU], DIRETOR PRESIDENTE DO INSTITUTO DE
PREVIDÊNCIA DOS SERVIDORES PÚBLICOS MUNICIPAIS
DE ...;

pelas razões de fato e de Direito que se seguem:

I – PRELIMINARES

1. DA PROCEDÊNCIA DA JUSTIÇA GRATUITA

O Autor deixa de recolher as custas judiciais com fulcro no


inciso LXXIII, do Artigo 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil:

“Art. 5º, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade
de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente
e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada
má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;” -
grifou-se.

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2. DA CONCEPÇÃO DA AÇÃO POPULAR

A Lei da Ação Popular, nº4.717/65, foi integralmente


recepcionada pela Constituição de 1988 que reafirma o seu propósito no inciso
LXXIII do Art. 5º.
Dentre a farta doutrina sobre o tema, colacionamos aqui o
ensinamento do saudoso Ministro do Supremo Tribunal Federal e professor
universitário Teori Albino Zavascki:

“Um instrumento de defesa de interesses difusos e coletivos é a ação


popular, prevista em nossa legislação infra constitucional na Lei nº 4.717,
de 1965. Com a configuração que lhe deu a CF de 1988, esta ação visa
a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural. Legitima-se como demandante o
cidadão, ou seja, pessoa física que esteja no gozo dos seus direitos
políticos.
Admite-se não apenas pretensão anulatória do ato lesivo, mas
igualmente a de tutela preventiva tendente a impedir sua prática
e, ainda, se for o caso, a de tutela cautelar para suspender-lhe a
execução. A coisa julgada tem eficácia erga omnes, salvo em caso de
improcedência por insuficiência de provas. O autor da ação popular
legitima-se como tal porque, ainda quando esteja imediatamente
demandando proteção a direito titularizado em nome de determinada
pessoa jurídica, está, na verdade, defendendo mediatamente interesses
da sociedade, a quem pertencem, em última análise, os bens tutelados. É
por isso que se afirma que também a ação popular, sob este aspecto,
constitui instrumento de defesa de interesses coletivos, e não
individuais.” – grifou-se.
Destarte, a presente ação popular, como se verá adiante,
pretende preservar a legalidade, impessoalidade e a moralidade administrativa,
e, mormente o erário público, tendo em vista o pagamento de proventos, que
são exclusivos dos servidores efetivos, a servidores não concursados,
contrariando decisão em repercussão geral e de efeito vinculante erga omnes,
do Supremo Tribunal Federal.

II – DA LEGITIMIDADE ATIVA

A Ação Popular continua sendo regulamentada pela Lei


nº4.717/1965, que com suas alterações posteriores, deve ser interpretada à luz
da Constituição de 1988, e estabelece em seu artigo 1º, assim como o inciso
LXXIII da Constituição Federal, que qualquer cidadão é parte legítima para
pleitear a anulação ou decretação da nulidade de ato lesivo ao patrimônio
público.

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“Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação ou
a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União, do
Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios...”

E, de acordo com o §3º do Artigo 1º da lei regulamentadora,


tem-se o título de eleitor como documento hábil e suficiente para credenciar o
autor da Ação Popular em juízo.

III – DA LEGITIMIDADE PASSIVA

Na Ação Popular podem figurar como réus pessoas jurídicas,


públicas ou privadas, pessoas físicas, enfim todos aqueles que foram
responsáveis pelo dano ou que obtiveram algum benefício com a lesão ao
patrimônio público. É o que dispõe o art. 6º da Lei nº 4.717/1965:

“Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e as


entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou
praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado
oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.”

Destarte, figuram como responsáveis pelos atos lesivos ao


patrimônio público, o Prefeito do Município de ... e a Diretora Presidente do
Instituto de Previdência dos Servidores Públicos Municipais de ...

IV - DOS FATOS

No julgamento do Tema 1157 de repercussão geral de


recursos repetitivos o Supremo Tribunal Federal, pacificou o entendimento já
manifesto por farta jurisprudência, de que os servidores que ingressaram no
serviço público sem prestar concurso, antes da Constituição Federal de 1988
não são efetivos, por conseguinte não têm direito às vantagens e benefícios
exclusivos dos efetivos, como as estipuladas nos Planos de Cargos Carreiras e
Salários, por exemplo, a progressão na carreira. Aduz, ainda, a decisão, que
tais servidores não precisariam devolver os valores recebidos indevidamente
ANTES DESTA DECISÃO, mas que após este julgamento não mais poderiam
receber tais benefícios irregulares.

Esta decisão foi amplamente divulgada e bastante discutida


no município de ...: na Câmara Municipal, no Sindicato dos Servidores Públicos,
na imprensa local, nas redes sociais, no Poder Executivo e até nas esquinas da
cidade; tornando-se fato público e notório.

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[DISCORRER SOBRE FATOS LOCAIS]

Ocorre que ignorando propositalmente a decisão do Supremo


Tribunal Federal, com os órgãos de controle se fazendo de cegos, o Poder
Executivo municipal, em flagrante má-fé, não só continuou o pagamento das
vantagens indevidas aos servidores não efetivos mas ainda, e mais ainda,
resolveu por premiar os alcançados pela decisão com uma incorporação vitalícia
dos benefícios irregulares na forma de aposentadorias suspeitas, sublimadas
com indenizações estratosféricas.

A publicação das aposentadorias no Diário Oficial nº ...


(anexo) demonstra o enquadramento de servidores NÃO EFETIVOS no Plano de
Cargo, Carreiras e Salários – PCCS e os benefícios exclusivos dos efetivos que
incorporaram de forma ilegal.

Pelo que se vê a legalidade, a impessoalidade e a moralidade


administrativa são deliberadamente ignorados para conceder benesses a alguns
servidores e lesar: o erário público, os servidores efetivos e o instituto de
previdência municipal.

V–DO DIREITO

Toda a fundamentação legal utilizada para a concessão das


aposentadorias apontadas é aplicável exclusivamente para os servidores
efetivos. Alguns são beneficiários da estabilidade excepcional conferida pelo
art.19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), e outros nem
mesmo estáveis são, pois não contavam com cinco anos de serviço continuado
ao Município à época da Constituição.

O conceito de servidor público efetivo é definido de forma


bastante clara na legislação municipal, em consonância com a Constituição
Federal:

“Lei Complementar Municipal nº 168/2013:


Art. 10. Para efeito desta reestruturação de Cargos, Carreiras e Salários,
considera-se:
I - Cargo Público Efetivo: Conjunto de atribuições e responsabilidades
que se cometem a um servidor, criado por lei, com denominação própria,
atribuições específicas, número certo de vagas e vencimento pago pelos
cofres públicos municipais, destinado a ser preenchido por pessoa
aprovada e classificada em Concurso Público;” - grifou-se.

“Lei Complementar Municipal nº 167/2013

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Art. 15. Os provimentos dos cargos efetivos ocorrerão mediante
aprovação prévia em concurso público de provas ou provas e títulos
e serão autorizados por ato do Prefeito Municipal, mediante solicitação
dos órgãos públicos municipais, desde que haja vaga e dotação
orçamentária para atender às despesas dele decorrentes.” – grifou-se.

Constituição Federal:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou
emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo
em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;” –
grifou-se.

Emenda Constitucional nº 41/2003:


“Art. 6º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas
estabelecidas pelo art. 40 da Constituição Federal ou pelas regras
estabelecidas pelo art. 2º desta Emenda, o servidor da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e
fundações, que tenha ingressado no serviço público até a data de
publicação desta Emenda poderá aposentar-se com proventos integrais,
que corresponderão à totalidade da remuneração do servidor no
cargo efetivo em que se der a aposentadoria, na forma da lei,
quando, observadas as reduções de idade e tempo de contribuição
contidas no § 5º do art. 40 da Constituição Federal, vier a preencher,
cumulativamente, as seguintes condições:...”

Portanto, após plenamente demonstrado que os


SERVIDORES PÚBLICOS EFETIVOS, são somente aqueles aprovados em
concurso público, é importante trazer aos autos a ementa da decisão do STF
que consolidou o entendimento de que os servidores não concursados não
podem ser enquadrados nos planos de cargos e carreiras dos efetivos e nem
fazem jus aos benefícios a estes concedidos (anexo o inteiro teor do Acórdão).

“TEMA 1157 DA REPERCUSSÃO GERAL. SERVIDOR ADMITIDO SEM


CONCURSO PÚBLICO NA VIGÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO PRETÉRITA.
IMPOSSIBILIDADE DE ENQUADRAMENTO NO PLANO DE CARGOS,
CARREIRA E REMUNERAÇÃO IMPLEMENTADO PARA SERVIDORES
PÚBLICOS EFETIVOS. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 37, INCISO II, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DA TESE FIRMADA NA ADI 3.609/AC.
AGRAVO CONHECIDO. PROVIMENTO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
DENEGAÇÃO DA ORDEM. 1. O Plenário do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
no julgamento da ADI 3609, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe
de 30/10/2014, declarou a inconstitucionalidade da Emenda

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Constitucional 38/2005, da Constituição do Estado do Acre, que previa a
efetivação de servidores públicos providos sem concurso público até 31
de dezembro de 1994, mesmo que não se enquadrassem na estabilidade
excepcional prevista no artigo 19 do ADCT da Constituição Federal, por
violação ao artigo 37, II, da Constituição Federal. 2. A modulação dos
efeitos realizada por esta CORTE no julgamento da ADI 3609 não conferiu
efetividade aos servidores que ingressaram no serviço público estadual
sem concurso até 5/2/2015. A concessão de efeitos prospectivos teve por
escopo conceder ao Estado tempo suficiente para a realização de
concurso público para o preenchimento dos cargos que foram ocupados
de forma inconstitucional, visando a evitar a paralisação de serviço
público essencial. 3. Inexistência de direito líquido e certo ao
reenquadramento no novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração
(PCCR), criado para servidores efetivos admitidos mediante concurso
público e instituído pela Lei Estadual 2.265, de 31 de março de 2010, com
alterações promovidas pela Lei Estadual 3.104, de 29 de dezembro de
2015, ambas do Estado do Acre, uma vez que foi admitido em 13 de maio
de 1986, sem concurso público e contratado pelo regime celetista. 4.
Dispensada a devolução de valores eventualmente recebidos de boa-fé
até a data de conclusão do presente julgamento tendo em vista a
natureza jurídica de verba alimentar das quantias percebidas. 5. Agravo
conhecido para DAR PROVIMENTO ao Recurso Extraordinário do Estado, e
DENEGAR A SEGURANÇA. 6. Fixação, para fins de repercussão geral, da
seguinte tese ao Tema 1157: “É vedado o reenquadramento, em novo
Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de servidor admitido sem
concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988,
mesmo que beneficiado pela estabilidade excepcional do artigo 19 do
ADCT, haja à vista que esta regra transitória não prevê o direito à
efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal e decisão
proferida na ADI 3609 (Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, DJe.
30/10/2014)”.
(STF - ARE: 1306505 AC 1001607-66.2019.8.01.0000, Relator:
ALEXANDRE DE MORAES, Data de Julgamento: 28/03/2022, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: 04/04/2022)

O ministro relator Alexandre de Moraes, brilhantemente


enfatizou no seu voto que a vedação ao reenquadramento está em consonância
com o princípio da confiança e da segurança jurídica: “Se nem mesmo os
servidores que preenchem os requisitos do artigo 19 do ADCT fazem jus aos
benefícios conferidos aos que ingressaram na Administração Pública mediante
prévia realização de concurso público, com menos razão pode-se cogitar a
continuidade de situação notoriamente inconstitucional, em que servidor
contratado pelo regime celetista, sem concurso público, sem qualquer
estabilidade, usufrui de benefícios legalmente previstos apenas para servidores
públicos efetivos”, pois tal regra transitória prevê apenas a estabilidade e não o
direito à efetividade, porque para ser considerado efetivo, o servidor deve ser
aprovado em concurso público, sendo, portanto, vedada a extensão dos
direitos e vantagens dos ocupantes de cargos efetivos àqueles
admitidos sem o crivo do certame público.

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Em subserviência cega ao Executivo Municipal, a Direção do
Instituto ignora a sua função de gestor previdenciário relativamente à
concessão, manutenção e cancelamento dos benefícios de aposentadoria e
pensão, deixando de observar artigos fundamentais da lei que dispõe sobre a
organização do Regime de Previdência Social dos Servidores Públicos Municipais
de ..., a começar por quem são os seus beneficiários. De acordo com o artigo ...
da Lei nº ..., os seus segurados são somente os servidores públicos TITULARES
DE CARGOS EFETIVOS e seus pensionistas, informando no seu Parágrafo Único
que todos os demais cargos da Administração Municipal estão excluídos deste
regime previdenciário.

E, ainda, de acordo com o art. 40 da Constituição Federal,


com a redação dada pela EC nº 103/2019, pertencem ao regime próprio de
previdência social tão somente os servidores titulares de cargos efetivos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, incluídas suas
autarquias e fundações.

Nesse contexto, urge trazer à baila o entendimento


jurisprudencial do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, cuja transcrição
segue abaixo:

“COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. INGRESSO NO SERVIÇO


PÚBLICO SEM CONCURSO, ANTES DO ADVENTO DA CF/88.
SUPERVENIÊNCIA DE REGIME JURÍDICO ESTATUTÁRIO. TRANSMUDAÇÃO
DE REGIME. IMPOSSIBILIDADE. A superveniência de regime jurídico
estatutário não convola o contrato de trabalho do empregado admitido
pela Administração Pública, antes da promulgação da CF/88, na hipótese
de ausência de prévia aprovação em certame público, permanecendo o
pacto laboral regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Sendo
esse o caso dos autos, de se declarar a competência da Justiça do
Trabalho para processar e julgar a presente reclamação trabalhista.
Recurso provido. (TRT-7 - RO: 00014777820195070032 CE, Relator:
MARIA ROSELI MENDES ALENCAR, Data de Julgamento: 22/05/2020, 1ª
Turma, Data de Publicação: 22/05/2020)”

Conforme se extrai do próprio Acórdão do Tema 1157,


situações flagrantemente inconstitucionais não podem ser consolidadas pelo
decurso do tempo, sendo incabíveis as alegações de direito o, segurança
jurídica ou decadência administrativa. Destaque-se algumas das jurisprudências
que ilustram o referido acórdão:

“Ementa: Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo.


Direito Administrativo. Decadência. Anulação de ato
inconstitucional. Súmula nº 473/STF. Servidor público. Cargos

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públicos. Acumulação. Licitude. Discussão. Fatos e provas.
Reexame. Impossibilidade. Legislação infraconstitucional. Ofensa
reflexa. Precedentes. 1. A jurisprudência da Corte consolidou
entendimento no sentido da possibilidade de a
Administração Pública corrigir seus atos quando eivados de
inconstitucionalidade, sem que isso importe em ofensa aos
princípios da segurança jurídica e do direito adquirido.
Precedentes. 2. Não se presta o recurso extraordinário para o
reexame do conjunto fático-probatório da causa, tampouco para a
análise da legislação infraconstitucional. Incidência das Súmulas
nºs 279 e 636/STF. 3. Agravo regimental não provido.
4.Inaplicável o art. 85, § 11, do CPC, haja vista tratar-se, na
origem, de mandado de segurança (art. 25 da Lei nº 12.016/09)”
(ARE 985.614-AgR/PE, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Segunda Turma,
DJe. 20/6/2017).” – grifado no original.

“EMENTA Direito Constitucional. Repercussão geral. Direito


Administrativo. Anistia política. Revisão. Exercício de autotutela da
administração pública. Decadência. Não ocorrência. Procedimento
administrativo com devido processo legal. Ato flagrantemente
inconstitucional. Violação do art. 8ºdo ADCT. Não comprovação de
ato com motivação exclusivamente política. Inexistência de
inobservância do princípio da segurança jurídica. Recursos
extraordinários providos, com fixação de tese. 1. A Constituição
Federal de1988, no art. 8º do ADCT, assim como os diplomas que
versam sobre a anistia, não contempla aqueles militares que não
foram vítimas de punição, demissão, afastamento de suas
atividades profissionais por atos de motivação política, a exemplo
dos cabos da Aeronáutica que foram licenciados com fundamento
na legislação disciplinar ordinária por alcançarem o tempo legal de
serviço militar (Portaria nº 1.104-GM3/64). 2. O decurso do lapso
temporal de 5 (cinco) anos não é causa impeditiva bastante para
inibir a Administração Pública de revisar determinado ato, haja
vista que a ressalva da parte final da cabeça do art. 54 da Lei nº
9.784/99 autoriza a anulação do ato a qualquer tempo, uma vez
demonstrada, no âmbito do procedimento administrativo, com
observância do devido processo legal, a má-fé do beneficiário. 3.
As situações flagrantemente inconstitucionais não devem
ser consolidadas pelo transcurso do prazo decadencial
previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, sob pena de
subversão dos princípios, das regras e dos preceitos
previstos na Constituição Federal de 1988.Precedentes. 4.
Recursos extraordinários providos. 5. Fixou-se a seguinte tese: “No
exercício de seu poder de autotutela, poderá a Administração
Pública rever os atos de concessão de anistia a cabos da

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Aeronáutica relativos à Portaria nº 1.104, editada pelo Ministro de
Estado da Aeronáutica, em 12 de outubro de 1964quando se
comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente
política, assegurando-se ao anistiado, em procedimento
administrativo, o devido processo legal e a não devolução das
verbas já recebidas.” (RE 817338, Rel. Min. DIASTOFFOLI, Tribunal
Pleno, DJe. 31/07/2020) – grifo nosso.

E, assim dispõe o art. 4º, inciso I, da Lei nº 4717/65:

“Art. 4º São também nulos os seguintes atos ou contratos, praticados ou


celebrados por quaisquer das pessoas ou entidades referidas no art. 1º.
I - A admissão ao serviço público remunerado, com desobediência,
quanto às condições de habilitação, das normas legais, regulamentares
ou constantes de instruções gerais.”

Corrobora farta jurisprudência:

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. INGRESSO NO SERVIÇO


PÚBLICO SEM CONCURSO. 1- É NULO DE PLENO DIREITO QUALQUER
ATO ADMINISTRATIVO DO QUAL RESULTE O INGRESSO NO
SERVIÇO PÚBLICO SEM O CONCURSO EXIGIDO PELA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 2- AGRAVO PROVIDO. (TRF-5 - AGTR: 2564
PE 0018655-88.1993.4.05.0000, Relator: Desembargador Federal Hugo
Machado, Data de Julgamento: 19/10/1995, Primeira Turma, Data de
Publicação: DJ DATA-22/12/1995)” – grifo nosso.

“ADMINISTRATIVO. APELAÇÃO. AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA.


JUSTIÇA GRATUITA. INGRESSO NO SERVIÇO PÚBLICO SEM CONCURSO.
1. Com o advento da Constituição Federal de 1988, a investidura em
cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a
natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em
lei, ex vi do art. 37, inciso II, da Carta Política. 2. Conforme os autos o
apelante exercia as funções de Auxiliar de Serviços Gerais do quadro de
funcionários do Município desde fevereiro de 1994, requerendo sua
efetivação no cargo público em dezembro de 2011, sendo nomeado por
ato do Prefeito daquela municipalidade em 01 de fevereiro de 2012. 2.
Contudo, após a posse do atual Prefeito, o recorrente foi informado que
não fazia mais parte do quadro de servidores efetivos do Município
apelado, ocasião em que foi exonerado. 3. Assim, ao compulsar os autos,
constato que não há no bojo do processo, nenhum documento
comprovando que o apelante foi admitido no serviço público por meio de
prévia aprovação em concurso público de provas ou provas e títulos,
como determina o art. 37, II, CF/88. 4. Deste modo, a exoneração ou
demissão do apelante do quadro de pessoal do Município, encontra
guarida na Carta Magna, porquanto, o recorrente foi nomeado sem
prévia aprovação em concurso público, apontando vícios de

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ilegalidade, não abancando ofensa a qualquer princípio ou
garantia no ordenamento jurídico. Demais disso, restam patentes
nestes autos que o gestor público representante do Município apelado,
não praticou nenhum ato de irregularidade ao exonerar o Impetrante da
função de Auxiliar de Serviços Gerais, tendo em vista que obedeceu às
regras da Constituição Federal, como bem fez a decisão recorrida. 5.
Recurso conhecido e improvido, à unanimidade. (TJ-PI - AC:
00004390420138180026 PI, Relator: Des. José James Gomes Pereira,
Data de Julgamento: 10/08/2017, 2ª Câmara de Direito Público)” –
grifou-se

Além de todo o exposto, importa trazer ao caso em tela a


Súmula Vinculante 43, segundo a qual “é inconstitucional toda modalidade de
provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em
concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a
carreira na qual anteriormente investido.”

Uma vez que, conforme demonstrado, os órgãos de controle


quedaram-se inertes frente aos atos ilegais apontados, não procedendo a
apuração que se faz necessária, só resta aos órgãos oficiais de controle externo
a sua averiguação e ao Poder Judiciário promover os atos cabíveis para o
cumprimento da Constituição, com o entendimento consolidado pela suprema
corte do país. Urge que o Município dedique o tratamento correto e legal aos
seus servidores concursados e não concursados estáveis, tendo em vista que a
efetividade não se dá por uma mera nomenclatura lançada no contracheque.

VI–DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

Conforme o disposto na Lei nº4.717/65 em seu Art. 5º, §4º,


é cabível a suspensão liminar do ato lesivo na defesa do patrimônio público, e o
Art. 300 do Código de Processo Civil, indica que a tutela de urgência será
concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

A probabilidade do direito se evidencia nos fatos e


argumentos articulados ao longo desta peça combinados com a farta e
pacificada jurisprudência apresentada. Destacando-se, ainda, a consciente
ilicitude praticada com o intuito de não dar cumprimento à decisão do STF, e
que as provas são eminentemente documentais.

O perigo de dano se consubstancia no fato de que já se tem


um enorme prejuízo ao erário, que será aumentado substancialmente se

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continuarem as concessões de atos de aposentadorias irregulares. E ainda está
presente o risco ao resultado útil do processo se não forem imediatamente
bloqueados os valores recebidos indevidamente, de forma a se possibilitar a sua
futura restituição aos cofres públicos.

Estando presentes a verossimilhança das alegações e o


fundado receio de dano irreparável, é indispensável que seja antecipada a tutela
a fim de se determinar que venham aos autos as informações das formas de
investidura dos servidores aposentados a partir do julgamento do Tema 1157, e
em seguida sejam bloqueados bens/valores dos réus beneficiados ilegalmente
no montante total pago sob o título “Folha Rescisao” (documentos anexos) e,
subsidiariamente dos réus praticantes dos atos ilegais, até que se apure a sua
correição, incluindo o respeito a ordem cronológica de pagamento, de forma a
se garantir um futuro ressarcimento ao erário. Insta, ainda, que se determine a
suspensão de concessões de aposentadorias pelo Regime Próprio de Previdência
Social – RPPS, a servidores não efetivos, até o julgamento do mérito desta lide.

VII. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, requer o autor:

1) a concessão do pedido de ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA, a fim de:


a) determinar que o Município não mais classifique como efetivos os
servidores não aprovados em concurso público;
b) determinar que os réus tragam aos autos as informações sobre as datas e
formas de investidura nos cargos públicos dos servidores aposentados no
período de ... até ..., especificando os seus cargos originais, juntando a
publicação desses atos de investidura;
c) a suspensão da concessão de novas aposentadorias a servidores não
efetivos pelo Regime Próprio de Previdência Social – RPPS;
d) o bloqueio de bens/valores no montante das indenizações pagas a fim de
se resguardar o erário público;
2) seja fixada multa de R$ 10.000,00 (dez mil reais) por dia para o caso de
descumprimento do comando acima determinado, sem prejuízo de eventual
responsabilidade criminal e por improbidade administrativa das autoridades
responsáveis;
3) a CITAÇÃO dos réus para, querendo, apresentar defesa, sob pena de revelia;
4) a notificação do Ministério Público para que tome conhecimento e atue no
presente feito;
5) a isenção de custas judiciais nos termos do artigo 5º, inciso LXXIII, da CRFB;

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6) ao final, seja julgado TOTALMENTE PROCEDENTE o pleito autoral, para que
sejam anulados os atos de aposentadoria ilegais com o respectivo
ressarcimento aos cofres públicos;
7) a condenação dos Réus no pagamento de custas e honorários advocatícios, a
serem fixados por Vossa Excelência entre o mínimo de 10% e o máximo de
20% do valor da causa.

Por fim, protesta por todos os meios de prova admitidos em


direito.
Dá-se à causa o valor de R$ ... (... reais e ... centavos) 1.

Nestes Termos,

Pede Deferimento.

Local, data.

Advogado Advogado
OAB/RJ ... OAB/RJ ...

1
Fixa-se aqui o valor da causa considerando o somatório das indenizações pagas na Folha de Pagamento de ... aos ...
réus beneficiados com vantagens exclusivas de servidores efetivos.

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