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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROMOTOR DE JUSTIÇA DA COMARCA DE

CEDRO, ESTADO DO CEARÁ.

Os vereadores abaixo assinados, vêm a presença de Vossa Excelência,


com fulcro no art.6⁰ da Lei n⁰ 7.347⁄85, nos termos do art. 129 da Constituição
Federal, combinado com os artigos 3⁰ e 5⁰, da Lei Complementar n⁰ 40⁄1981 e
artigos 5⁰ e 8⁰, parágrafos 1⁰ e 2⁰, da Lei n⁰ 7.347⁄85, apresentar a presente
PROVOCAÇÃO, nos termos a seguir descritos ꓽ

Desde outrora, com que a Lei Complementar n⁰ 40⁄1981, em seus artigos


3⁰, I e III, já determinava quais seriam as atribuições do Ministério Público
Estadual, dentre estas, a de promover ação civil pública, nos termos de lei.
Vejamos ꓽ

Art. 3⁰ - São funções institucionais do Ministério Público


I – Velar pela observância da Constituição e das leis, e promover-
lhes a execução ꓼ
(...)
III – promover ação civil pública nos termos da lei.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, tais competências


foram ratificadas e⁄ou ampliadas, passando o Ministério Público a atuar junto à
Justiça na defesa da ordem jurídica e dos interesses da sociedade e individuais
indisponíveis, bem como, zelar pela fiel observância e cumprimento da
Constituição e das leis.

Art. 129 – São funções institucionais do Ministério Público ꓽ


(...)
II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços
de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição,
promovendo as medidas necessárias a sua garantia ꓼ
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos ꓼ
(...)
VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua
competência, requisitando informações r documentos para instruí-
los, na forma da Lei complementar mencionada no artigo anterior ꓼ
VII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito
policial, indicando os fundamentos jurídicos de suas manifestações
processuais ꓼ
IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

Por conseguinte, a Lei n⁰ 7.347⁄85, em seu art. 5 ⁰, delimita quem são os


legitimados capazes de ajuizar Ação Civil Pública, incluso, o Ministério Público,
na pessoa do seu representante legal.

Art. 5⁰ - Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação


cautelar ꓽ
(...)
I – o Ministério Público ꓼ
(...)

Já o art. 6⁰ do citado instrumento legal, assegura que ꓽ

Art. 6⁰ - Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá


provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe
informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e
indicando-lhe os elementos de convicção.
Consubstancialmente, o art. 8⁰, em seus parágrafos 1 ⁰ e 2 ⁰, indicam as
ações cabíveis ao Ministério Público, capazes de averiguar situações e coletar
provas que julgue suficientes para fundamentar o ajuizamento da ação civil
pública.

Art. 8⁰ - O Ministério Público poderá instaurar, sob a presidência,


inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou
particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que
assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
§ 1⁰ - O Ministério Público poderá instaurar sob sua presidência,
inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou
particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo que
assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.
(...)
A presente PROVOCAÇÃO lastreia-se nas recentes decisões proferidas
pelas cortes jurídicas pátrias e em entendimentos e decisão firmada pela Corte
Superior, referendadas pelo Supremo Tribunal Federal – STF, pertinentes a
direitos adquiridos por Servidores Públicos, neste caso específico, os
municipais do município de Cedro, Estado do Ceará, referente ao ‟terço de
férias” a ser calculado com base nos 45 (quarenta e cinco) dias, e não
somente, nos 30 (trinta) dias conforme vem sido aplicado pela gestão pública
municipal.

DIREITO ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. MAGISTÉRIO


MUNICIPAL. FÉRIAS ANUAIS DE 45 (QUARENTA E CINCO( DIAS.
TERÇO CONSTITUCIONAL DE FÉRIAS SOBRE TODO O
PERÍODO. QUESTÃO CONSTITUCIONAL. POTENCIAL
MULTIPLICADOR DA CONTROVÉRSIA. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. COM REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
Manifestação da Senhora Ministra Rosa Weber (Presidente)ꓽ
Trata-se de recurso extraordinário interposto, com fundamento no
art. 102, III, a, da Constituição Federal, pelo Município de Boa
Viagem⁄CE, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do
Estado do Ceará, que, em sede de apelação, manteve a sentença
de primeiro grau. Na origem, a recorrida, servidora pública municipal
(professora), ajuizou ação ordinária contra o município de Boa
Viagem⁄CE, com o objetivo primordial de ter reconhecido, nos termos
da Lei municipal 652⁄1997, o direito a 45 (quarenta e cinco) dias de
férias anuais e a incidência do adicional de 1⁄3 (um terço) de férias
sobre todo o período em referência. O juízo de primeiro grau, após

Data vênia, que citado direito deve constar da legislação municipal que
rege a classe dos profissionais do magistério em efetivo exercício de suas
atividades docentes, a qual, passaremos a adiante discorrer ꓽ

Em primeiro momento, destacamos o contido na Carta Magna Federal,


que em seu art.7⁰, XVII, que assim dista ꓽ

Art. 7⁰ - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de


outros que visem a melhoria de sua condição social ꓽ
(...)
XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
terço a mais do que o salário normal ꓼ
(...)
Idêntico direito encontra-se assegurado na Lei Orgânica do município de
Cedro, em seu art. 119, VIII ꓽ

Art. 119 – São direitos do servidor público, entre outros ꓽ


(...)
VIII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço
a mais do valor do salário normal ꓼ
(...)

Consta da Carta Magna Municipal, em sue artigo 19, VIII e XXX, 117,
inciso 2⁰, e 118, ‟caput”, o seguinte ꓽ

Art. 19 – Compete ao Município de Cedro, no exercício de sua


autonomia ꓽ
(...)
VIII – Instituir o regime jurídico único de seus servidores, bem como,
estabelecer os planos de carreira e zelar pela valorização
profissional e remuneração condigna dos mesmos ꓼ
(...)
XXX - Suplementar a legislação federal e a estadual, no que couber ꓼ
(...)

Art. 117 – O Município, no âmbito de sua competência, instituirá


regime jurídico único e planos de carreira para servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações ꓼ
(...)
§ 2⁰ - Aplicam-se a esses servidores o disposto no art. 7 ⁰, IV, VI, VII,
VIII, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII, XXIII e XXX da
Constituição da República.

Art. 118 – O Executivo encaminhará à Câmara Municipal Projeto de


Estatuto do Servidor Público Municipal, estabelecendo regime
jurídico único para os servidores da administração pública direta, das
autarquias e das fundações, empresas municipais e de economia
mista sob o controle majoritário do município.
(...)

Complementarmente, em seus artigos 77, XI, define sobre a legislação


complementar, incluso, o Estatuto do Magistério ꓽ

Art. 77 – São Leis complementares, dentre outras ꓽ


(...)
XI – Estatuto do Magistério ꓼ
(...)
O Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Municipais de Cedro,
Lei Municipal n⁰ 090⁄2000, em seu art. 95, ‟caput”, discorre ꓽ

Art. 95 0 O servidor gozará, obrigatoriamente, 3º (trinta) dias


consecutivos de férias por ano, concedidas de acordo com escala
organizada pela chefia imediata.

No entanto, no dito diploma legal, em seu art. 235, determina que o


Grupo Ocupacional do Magistério Municipal, sujeitar-se-ão ao distado no
Estatuto do Magistério Municipal. Vejamos ꓽ

Art. 235 – Os servidores que compõem o Grupo Magistério Municipal


sujeitar-se-ão às normas desta Lei e às disposições legais
específicas da categoria, definidas no Estatuto do Magistério
Municipal.

Nesse interregno, compulsando o Estatuto do Magistério Municipal, Lei


n⁰ 098⁄2000, inicialmente, em seu art. 1⁰, ‟caput”.

Art. 1⁰ - Esta Lei disciplina o exercício das atividades de Magistério


do Sistema de Ensino Público Municipal e estabelece direitos,
deveres e vantagens para os Profissionais de Educação.
(...)

Aduz-se o contido no seu art. 45, em que assegura aos Profissionais de


Educação o gozo de 45 (quarenta e cinco) dias de férias anuais.

Art. 45 – Aos Profissionais da Educação, em exercício de regência


de classe nas Instituições de Ensino Público Municipal, e nas
creches a estas integradas, serão assegurados 45 (quarenta e
cinco) dias de férias anuais, a serem gozadas nos períodos de
recesso, conforme o interesse da escola, fazendo jus ao demais
integrantes do magistério a 30 (trinta) dias por ano.

Ocorre que em 02 de julho de 2008, por força da Lei Municipal n ⁰ 247, foi
Instituído o novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários do Grupo Ocupacional
do Magistério - PCCS⁄MAG, revogando o anterior, ou seja, a Lei n ⁰ 097, de 11
de dezembro de 2000.
Não obstante, citado dispositivo, em seu artigo 60, revogou as
disposições em contrário previstas no Estatuto do Magistério, senão vejamos ꓽ

Art. 60 – Ficam revogadas as disposições em contrário em


especial aquelas previstas no Estatuto do Magistério e as
disposições da Lei n⁰ 097⁄2000, que instituiu o Plano de Carreiras e
Remuneração do Magistério, tudo em consonância com a Legislação
Federal e a Lei Orgânica do Município de CEDRO e demais Normas
da Administração de Pessoal do Poder Executivo Municipal.
(destacamos)

Todavia, torna-se salutar para clarear o entendimento da tese em relato,


buscar, na íntegra, o real significado do termo ‟disposições em contrário”, com
fito a correlacionar o que se deu por alterado por força da nova legislação.

Nesse mister, colhe-se e traz-se, o contido na Enciclopédia Jurídica da


PUCSP, pertinente ao termo ‟revogação em contrário”, é o mesmo que prever a
eliminação das ‟disposições incompatíveis”.

Existem duas formas de revogação, a expressa e a tácita, sendo que a


primeira citada, ‟compreende a situação em que existe uma declaração na
própria lei pela qual o legislador quer declará-la extinta em todos os seus
dispositivos, quer ao apontar os seus artigos, alíneas, incisos e parágrafos, que
teve em vista a abolir”. Já a segunda, ocorre quando uma lei nova é
incompatível com a lei anterior, ou quando regula inteiramente a matéria de que
tratava a lei anterior.

Neste interregno, Excelência, nota-se claramente que o legislador, em


momento algum, teve a intenção de revogar, por completo, na íntegra, o
estatuto do magistério, e exemplo do que o fez com a Lei n ⁰ 097⁄2000, que
instituiu o Plano de Carreiras e Remuneração do Magistério.

Quando este se reportou ao Estatuto do Magistério, Lei n ⁰ 098⁄2000, a


revogação se deu de forma tácita, restringindo, tão somente, as ‟disposições
em contrário”, não alcançando assim o direito guerreado, qual seja, os 45
(quarenta e cinco) dias de férias para os profissionais do magistério em efetivo
exercício de suas atividades docentes, pois, sequer, tal assunto, encontra-se
inserido ou tratado na nova lei.

Nesse diapasão, torna-se público e notório o descumprimento por parte


da Administração Pública Municipal da legislação em vigor, usurpando dos
profissionais do magistério em efetivo exercício de suas atividades docentes,
pertencentes a Rede de Ensino Municipal, o direito adquirido da concessão dos
15 (quinze) dias de férias remuneradas, cabendo imediato reparo e reposição
de tal benefício, caracterizando-se como apropriação indébita.

Por oportuno, não há de se falar em falta de condições por parte do


Município em arcar com as despesas, uma vez que, somente com o percentual
do desconto do Imposto de Renda Retido na Fonte, a ser descontado dos
recursos recolhidos do repasse da verba do Precatório do FUNDEF, estimado
em cerca de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais), por si só, já seria
suficiente para atender a demanda, até mesmo porque, se trata de recurso
advindos da própria rubrica da educação, perfeitamente compatível, devendo o
Ministério Público, pleitear em juízo, de forma cautelar, sua retenção para fins
de indenização advinda da propositura Ação Civil Pública, neste ato,
provocada.

Diante do exposto, requeremos ꓽ

I – Que seja reconhecida e provida a presente PROVOCAÇÃO, procedendo a


análise dos fatos e fundamentos emanados;

II – Que seja ajuizada Ação Civil Pública para garantia do direito dos 45
(quarenta e cinco) dias de férias para os profissionais do magistério
pertencentes a Rede de Ensino Municipal, em efetivo exercício de suas
atividades docentes.

III - Que na citada ação, seja requerido o pagamento do adicional referente aos
15 (quinze) dias de férias não repassados aos profissionais, retroativos ao vigor
da Lei 098⁄2000, que assegurou tal benefício.
IV – Que seja requerido medida cautelar com antecipação de tutela,
resguardando os recursos advindos dos recolhimentos do IRRF retido do
repasse das verbas do precatório do FUNDEF, para efeito de resguardo da
futura indenização.

Cedro-CE, 04 de dezembro de 2023.

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