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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE BRASÍLIA

CURSO DE DIREITO

FLÁVIO ROBERTO TEIXEIRA RAMOS

IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS (IGF)


Tributação e justiça social em um país com grande concentração de rendas

Brasília - DF

2021
FLÁVIO ROBERTO TEIXEIRA RAMOS

IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS (IGF)


Tributação e justiça social em um país com grande concentração de rendas

Artigo Científico Jurídico apresentado ao Centro


Universitário Estácio de Brasília, Curso de Direito,
como requisito parcial para conclusão da disciplina
Trabalho de Conclusão de Curso.

Orientador(a): Benevenuto Silva dos Santos

Brasília – DF

Campus Taguatinga 2021


RESUMO

O presente trabalho visa demonstrar o desafio enfrentado pelo Estado na busca


efetiva de justiça social e o combate à concentração de renda com ênfase na da
instituição de um novo tributo (Imposto sobre grandes fortunas – IGF). Cumpre-se
também enfatizar como a instituição deste imposto seria um instrumento adequado
para contribuir com a redução das desigualdades sociais e regionais no país. Logo,
instituição do IGF mostra-se com uma alternativa viável ao combate às
desigualdades sociais sendo um dos meios para se atingir a justiça social. Como
ferramenta para se alcançar a justiça tributária e reduzir as grandes mazelas sociais,
o IGF também poderia auxiliar na distribuição justa de renda. Assim, mostra-se um
grande desafio ao Estado para solucionar a equação que visa reduzir
desigualdades. Nessa perspectiva, aborda-se a importância desse tributo como meio
de obtenção de recursos, advindos de uma parcela da população tida como
privilegiada, dada suas condições financeira e patrimonial bem acima da média das
demais classes sociais.

Palavras-chave: tributos, princípios tributários, tributos em espécie, IGF,


competência tributária, concentração de renda, justiça social, resultados.
ABSTRACT

This paper aims to demonstrate the challenge faced by the State in combating the
concentration of income with emphasis on the institution of a new tax (Tax on large
fortunes - IGF). A challenge to the state to solve the equation that aims to reduce
inequalities. In this perspective, we approach the importance of this tax as a means
of obtaining resources, coming from a portion of the population seen as privileged,
given its financial and patrimonial conditions well above the average of the other
social classes.

Keywords: taxes, tax principles, IGF, tax jurisdiction, income concentration, social
justice, results.
SUMÁRIO

1. Introdução. 2. Princípios tributários. 3. Tributos. 3.1 Tributos em espécie. 3.2.


Classificação. 4. Imposto sobre grandes fortunas (IGF) 5. A Função social do tributo,
O combate à Concentração de renda no Brasil e a Justiça social. 6. Conclusão. 7.
Referências.
INTRODUÇÃO

O presente artigo visa à análise das finalidades dos tributos, em especial


o imposto sobre grandes fortunas (IGF), sua função social, assim como, demonstrar
quais os impactos sociais causados pela tributação. A política fiscal tem o dever de
fortalecer as populações mais vulneráveis, identificando essas disparidades,
corrigindo e direcionando o orçamento para essas populações por meio de políticas
públicas. Somente assim o tributo cumprirá plenamente sua função social, de
instrumento de promoção da redução das desigualdades sociais, da efetivação do
princípio da dignidade humana e, enfim, da busca da justiça social. Nesse contexto,
faz-se necessária a abordagem dos princípios constitucionais que compõem os
alicerces do sistema normativo brasileiro, ressaltando os princípios que regulam a
ordem econômica e a ordem social.  A política tributária não pode, apenas, objetivar
a arrecadação para os interesses próprios do Estado, ou seja, ela tem que ser vista,
também, como um instrumento capaz de efetivar políticas públicas que permitam
alcançar a justiça social. 

Dessa forma, entende-se que na medida em que se tributa de forma mais


humanizada e em conformidade com os princípios constitucionais, efetiva-se a
justiça social, uma vez que, além do Estado tributar para arcar com suas próprias
despesas, ele também deve se responsabilizar pelas necessidades da população,
permitindo que a maioria menos privilegiada tenha acesso a melhores condições de
vida.

Assim, observa-se a relevância da adoção de políticas públicas que


equilibre e distribua a carga tributária vigente no Brasil, pois o Estado vale-se das
finalidades fiscal e extrafiscal dos tributos para auxiliá-lo a cumprir com algumas de
suas obrigações como, manter ou procurar estabilizar o mercado econômico,
fornecer receita ao erário, garantir os Direitos Fundamentais previstos na
Constituição federal a todos os cidadãos, dentre outros propósitos sociais e
econômicos importantes para o crescimento do Estado. Logo, para que possa ser
alcançada a função social dos tributos em sua acepção real, é necessário que o
Estado cumpra seu objetivo de proporcionar o bem-estar dos indivíduos, a
diminuição das desigualdades e a justiça, através de políticas públicas que
desenvolvam socialmente e financeiramente o país, cumprindo assim o seu papel.
Por fim, tão expressiva acerca da justiça social, cabe relembrar que o tributo
constitui não apenas expediente arrecadatório, mas instrumento de transformação
social e de efetivação da justiça social.

PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS

Os princípios do Direito Tributário são normas (constitucionais) que


limitam, regulam a pratica de competência tributária, fazendo com que alguns
valores tenham melhor efetividade no ordenamento jurídico. Podemos considerá-
los como fundamentos normativos que nos indicam a direção a ser tomada, um
passo inicial. Assim, os princípios do direito tributário nos guiam na interpretação e
aplicação dos dispositivos normativos na relação obrigacional tributária, entre
sujeitos ativos e sujeitos passivos São prolongamentos dos princípios constitucionais
no sentido de serem garantias ao contribuinte e as bases de todo ordenamento
jurídico, são a base e alcance dos sentidos regrados pelo ordenamento. Dessa
forma, sendo os princípios a base do ordenamento de onde as regras jurídicas
devem surgir e ter sua direção a proteção do contribuinte deve ser o início e o fim, a
fonte, o objeto e o objetivo auto executório de todo regramento que surja em relação
a tributação nacional.

Dentre os princípios do direito tributário, alguns recebem maior


destaque pelos doutrinadores, como: Legalidade ou Isonomia, Anterioridade,
Capacidade contributiva, Irretroatividade.
O princípio da legalidade: consiste num dos fundamentos do Estado
Democrático de Direito. No campo tributário, este princípio quer significar que
ninguém é obrigado a recolher tributo sem que, anteriormente, haja lei que traga sua
definição: Este princípio é fundamental na aplicação das diretrizes do direito
tributário. De acordo com o art. 150, da Constituição Federal (CF), o Estado não
pode exigir ou aumentar tributos sem que seja aprovada uma lei para tal.

Conforme Roque Antonio Carrazza assegura:

O princípio da legalidade é uma


das mais importantes colunas sobre as quais
se assenta o edifício jurídico do direito
tributário. A raiz de todo ato administrativo
tributário deve encontrar-se numa norma
legal, nos termos expressos do art. 5º, II, da
Constituição da República

Princípio da igualdade ou isonomia: está consignado no artigo 150, II,


da CF, e assegura tratamento uniforme do Estado para com os contribuintes que se
encontrem em situação equivalente. Todavia, existem situações em que faz-se
necessário que o Estado trate desigualmente alguns contribuintes a fim de atender
com rigor ao princípio da igualdade. Realmente, aquele que tem maior capacidade
contributiva deve pagar imposto maior, pois só assim estará sendo igualmente
tributado. A igualdade consiste, no caso, na proporcionalidade da incidência à
capacidade contributiva, em função da utilidade marginal da riqueza. Destarte, por
mais que pareça contraditório à primeira vista, tratar todos os contribuintes com
igualdade não significa, em regra, tratá-los de forma exatamente igual.

Princípio da anterioridade: art. 150, III, b, da CF, comum do campo


tributário, diz que a lei que cria ou aumenta tributo, ao entrar em vigor, fica com sua
eficácia suspensa até o início do próximo exercício financeiro, quando incidirá e
produzirá todos os seus efeitos no mundo jurídico (não adia a cobrança e sim
suspende a eficácia, não há incidência). Este princ. e o da segurança jurídica evitam
a surpresa

Princípio da Capacidade Contributiva: faz parte do princípio da


isonomia, consiste em tratar os desiguais de modo desigual, podendo assim. O
tributo ser cobrado de acordo com as possibilidades de cada um – art. 145, § 1º.

Princípio da Irretroatividade: O princípio da irretroatividade está descrito


no artigo 150, inciso III, alínea "a" da Constituição Federal, lá está versado que é
vedado aos entes cobrar tributos a fatos que ocorreram antes da vigência da lei que
os instituiu ou aumentou. Não há dificuldades na interpretação deste princípio, basta
compreender que novo tributo só poderá ser cobrado a fatos geradores presentes e
futuros, assim como complementa o artigo 105 do Código Tributário Nacional.

TRIBUTOS

A existência do Estado Fiscal está atrelada à existência de tributos. Na


medida do agigantamento das tarefas estatais, cabe ao ordenamento prever os
meios para o Estado financiar seus gastos. Cogita-se, aqui, obtenção de receita
pública. A receita pública, por sua vez, pode decorrer de alguma riqueza produzida
pelo próprio Estado. A riqueza assim gerada terá origem numa atividade do
Estado (preços públicos) ou será uma remuneração pelo emprego de
patrimônio público (juros sobre empréstimos públicos, royalties pelo uso de bens
públicos etc.). Em qualquer dos casos, vê-se que o Estado, agente econômico que
atua no mercado, está gerando riquezas. Os valores assim recebidos pelo Estado
constituem um acréscimo de riqueza para o País. Diz-se, assim que se está diante
de receitas originárias do Estado. Opõem-se a estas as receitas derivadas, que,
implicam transferência ao Estado de riqueza gerada pelo particular. O Conceito de
Tributo, de acordo com o ordenamento jurídico brasileiro, encontra-se explicitado no
artigo 3º do Código Tributário Nacional. O tributo é um gênero que abrange várias
espécies. O entendimento da doutrina é que existem 5 (cinco) espécies de tributos,
assim, chamada teoria pentapartite. Ao ler a nossa Constituição Federal veremos
que a mesma fala em apenas 3 espécies no seu artigo 145, inc. I, II, III, que são: os
impostos, as taxas e as contribuições de melhorias. Conforme o Art. 3º do CTN:
Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se
possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada
mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Assim, entendemos que
todos os quesitos que ensejam a caracterização de um tributo encontram-se
delineados na redação do artigo 3º, do Código Tributário Nacional, ao conceituar que
tributo (1) é toda prestação pecuniária: O tributo é prestação pecuniária conforme se
observa na parte inicial do artigo 3º, em análise, assim entendida como uma
obrigação do cidadão de prestar dinheiro ao Estado. A pecúnia é representada pela
prestação em dinheiro, em moeda corrente no país ou em cheque, conforme
preleciona o artigo 162, I, do CTN:

“Art. 162. O pagamento é efetuado:

I – em moeda corrente, cheque ou vale postal”;

(2) compulsória: O tributo é prestação compulsória por ser uma obrigação


não decorrente de contrato, não possuindo assim caráter de voluntariedade ou
facultatividade em relação ao seu cumprimento, o que ocasiona em seu caráter de
compulsoriedade, não dando assim ao cidadão azo de autonomia de vontade, uma
vez que o seu pagamento é obrigatório.

(3) em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir: a prestação tributária


é pecuniária, isto é, seu conteúdo é expresso em moeda, não sendo admitido a
instituição de tributo como obrigação a ser quitada com bens diversos de dinheiro.
Em suma, importa salientar que ordenamento jurídico brasileiro
desconhece o pagamento de tributos de forme in natura, assim entendida como a
forma diversa de moeda, ou in labore, assim entendido como o pagamento do tributo
mediante a prestação de serviços perante o Poder Público.

(4) que não constitua sanção por ato ilícito: tributo não se confunde com
a penalidade pecuniária decorrente do inadimplemento da obrigação tributária. Ou
seja, tributo não é multa, e a multa não é tributo. Logo, tributo não pode ser
confundido com a multa uma vez que esta decorre do inadimplemento de uma
obrigação tributária, não consistindo no objeto da obrigação principal, qual seja o
pagamento do tributo em si.

(5) instituída em lei: Tal quesito previsto no artigo em referência diz


respeito ao fato de que só a lei pode instituir o tributo. Tal fator decorre diretamente
do corolário princípio da estrita legalidade tributária, insculpido nos artigos 150, I, da
Constituição Federal de 1988 c/c art. 97, I, do Código Tributário Nacional, os quais,
em suma, possuem o preceito normativo o qual estabelece que “somente a lei pode
estabelecer a instituição de um tributo ou sua extinção”.

(6) cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada:


Conforme dicção do artigo 142 do Código Tributário Nacional: Compete
privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo
lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a
ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria
tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo
caso, propor a aplicação da penalidade cabível. “Parágrafo único. A atividade
administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de
responsabilidade funcional”.

TRIBUTOS EM ESPÉCIES

As classificações das espécies tributárias são feitas por dois ramos


distintos do direito, Direito Tributário e Direito Constitucional. O Código Tributário
Nacional classifica três espécies pertencentes ao gênero tributo: impostos,
taxas e contribuições de melhoria (Artigo 5º do Código Tributário Nacional).
A Constituição Federal classifica outras espécies não codificadas: empréstimos
compulsórios, contribuições sociais interventivas econômicas e contribuições
profissionais (Artigos 147 e 148 da Constituição Federal).

CLASSIFICAÇÃO

São espécies tributárias citadas na Constituição Federal:

1. Imposto

2. Taxa

3. Contribuição de melhoria

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão


instituir os seguintes tributos:

I - impostos;

II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização,


efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao
contribuinte ou postos a sua disposição;

III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

4. Empréstimo compulsório

Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir


empréstimos compulsórios:

I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade


pública, de guerra externa ou sua iminência;

II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante


interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".

5. Contribuição especial 149, 149-a, 195, 212 e 240

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais,


de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou
econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir


contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação
pública, observado o disposto no art. 150, I e III. 

Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o


caput, na fatura de consumo de energia elétrica.

Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os


Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da
receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na
manutenção e desenvolvimento do ensino.

Art. 240. Ficam ressalvadas do disposto no art. 195 as atuais


contribuições compulsórias dos empregadores sobre a folha de salários, destinadas
às entidades privadas de serviço social e de formação profissional vinculadas ao
sistema sindical.

Destes, apenas o imposto, a taxa e a contribuição de melhoria são


previstos no CTN. Isto ocorre porque o CTN é anterior à CF 88, de forma que novas
modalidades tributárias foram instauradas na CF.

IMPOSTO

Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma
situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte.

Imposto é um tributo não vinculado (de fato gerador não vinculado, ou


seja, seu fato gerador é opcional do indivíduo, não advindo do Estado), depende de
ato ou fato pertinente ao particular, normalmente a revelação de riqueza, do qual
independe ação do Estado.

Fato gerador: o fato gerador do imposto deve ser determinada situação


econômica pertinente à esfera econômica privada. A aquisição de um bem pelo
particular, por exemplo. Se não se adquirisse o determinado bem, não se pagaria o
imposto a ele correspondente.

Exemplos:

Imposto de Renda » deve-se auferir determinado valor de renda


anualmente para se aplicar o imposto ao indivíduo.

IPTU » ser proprietário de um imóvel leva o indivíduo a ter a obrigação de


pagar este imposto.

A Constituição Federal proíbe que a receita de um imposto seja vinculada,


ou seja, o Estado não pode dizer o que a receita daquele determinado imposto irá
custear, podendo ela ser usada de acordo com a presente necessidade do Estado.
Existem algumas exceções à vinculação:

Art. 167. São vedados:

IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,


ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem
os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de
saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de
atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos
arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito
por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º
deste artigo;

Caso seja feita vinculação fora das exceções prevista na CF, haverá
provável crime de responsabilidade.

Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da


República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:

VI - a lei orçamentária;

IMPOSTOS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

7 impostos da União:
 Imposto de Importação (II),

 Imposto de Exportação (IE),

 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI),

 Imposto sobre Operações Financeiras (IOF),

 Imposto Territorial Rural (ITR),

 Imposto de Renda (IR) e

 Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF – previsto mas ainda não


regulamentado).

A União pode instituir outros impostos mediante lei complementar, desde


que não incidam cumulativamente com outro imposto sobre um mesmo fato gerador.

A União também pode criar um imposto extraordinário em caso de guerra.

Art. 154. A União poderá instituir:

I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior,


desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo
próprios dos discriminados nesta Constituição;

II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários,


compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos,
gradativamente, cessadas as causas de sua criação.

3 impostos dos Estados:

 Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA),

 Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS),

 Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCMD)

3 impostos dos Municípios:

 Imposto sobre Serviço (ISS),

 Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e

 Imposto sobre Transmissão de Bens Inter-vivos (ITBI)


TAXA

 Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito
Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como
fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou
potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto
à sua disposição.

        Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato
gerador idênticos aos que correspondam a impôsto nem ser calculada em função do
capital das emprêsas.

A taxa tem fato gerador vinculado, ou seja, seu fato gerador é uma


atividade estatal a qual não se dá somente quando da vontade do beneficiado, mas
independentemente dela, ou seja, o Estado presta um serviço independentemente
da requisição do beneficiado e, por conta deste serviço prestado e aproveitado, é
que se dará o pagamento compulsório da taxa.

Há pagamento de taxa pela utilização de serviços públicos pelo


indivíduo ou prestação do Poder de Polícia. [Estas características é que
diferenciam mais fortemente a taxa do imposto!]

A taxa ser um tributo vinculado também implica que o Estado não pode
cobrar a taxa sem prestar um serviço ou o Poder de Polícia.

A taxa não pode ter a mesma base de cálculo do imposto

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão


instituir os seguintes tributos:

(...)

§ 2º As taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos

Exemplos

Taxa de serviço público: taxa judiciária, taxa de coleta de lixo, taxa de


esgoto, taxa de limpeza e conservação de logradouros.
Taxa de poder de polícia: taxa de emissão de passaportes, taxas de
licenciamento e fiscalização (alvarás/certidões, ambiental, porte de arma, CNH).

Todas as taxas têm por trás de si uma atividade Estatal que aproveita aos
indivíduos divisivelmente (uti singuli), ou seja, é possível auferir quem aproveitou
do serviço prestado e quando o fez, pois é possível aproveitar do serviço de forma
individualizada. Não é como funciona a iluminação de vias públicas, por exemplo, a
qual não permite que se individualize quem foram as pessoas a usar o serviço.

CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA

Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados,


pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições,
é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização
imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o
acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

O indivíduo remunera o Estado em razão de uma obra pública que


ocasione valorização imobiliária aos particulares. Possui este tributo fato gerador
vinculado, portanto.

Exemplo: Estado constrói metrô. Os particulares que moram naquele


bairro terão seus imóveis valorizados e, portanto, o Estado poderá cobrar
contribuição de melhorias daquelas pessoas.

A contribuição de melhoria tem um limite no seu valor. O valor total a ser


cobrado dos particulares via contribuição de melhoria não pode ser maior do que a
valorização do imóvel, e também não pode ser maior do que o valor que o Estado
gastou na obra. Pode-se falar nos princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

Assim, se o imóvel valorizou-se em 40 mil reais, seu dono não poderá


pagar mais do que isso em razão da contribuição de melhoria.

Se o Estado gastou 5 milhões para construir determinada obra, não


poderá cobrar mais do que isso dos particulares (considerada a soma da
contribuição de todos os particulares que tiveram seus imóveis valorizados por
determinada obra).

EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO

Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir


empréstimos compulsórios:

I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade


pública, de guerra externa ou sua iminência;

II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante


interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b".

Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo


compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição.

É um tributo que só pode ser cobrado nas hipóteses da CF, ou seja:


atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra
externa ou sua iminência ou  investimento público de caráter urgente e de relevante
interesse nacional.

Os valores que o Estado arrecadar devem ser utilizado para custear as


despesas que o ocasionaram.

Exemplo: em razão de uma guerra, parte de uma cidade é destruída. O


Estado cobra o empréstimo compulsório dos indivíduos, que deve ser
utilizado, obrigatoriamente, para custear as despesas da reconstrução do local.

Assim como todo empréstimo, os valores devem ser restituídos aos


indivíduos posteriormente. A lei que instituir o empréstimo compulsório deve
dispor sobre as condições para devolução dos valores.

CONTRIBUIÇÕES ESPECIAIS
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais,
de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou
econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º,
relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

  § 1º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão,


por meio de lei, contribuições para custeio de regime próprio de previdência social,
cobradas dos servidores ativos, dos aposentados e dos pensionistas, que poderão
ter alíquotas progressivas de acordo com o valor da base de contribuição ou dos
proventos de aposentadoria e de pensões.

 § 1º-A. Quando houver deficit atuarial, a contribuição ordinária dos


aposentados e pensionistas poderá incidir sobre o valor dos proventos de
aposentadoria e de pensões que supere o salário-mínimo.

 § 1º-B. Demonstrada a insuficiência da medida prevista no § 1º-A para


equacionar o deficit atuarial, é facultada a instituição de contribuição extraordinária,
no âmbito da União, dos servidores públicos ativos, dos aposentados e dos
pensionistas.

§ 1º-C. A contribuição extraordinária de que trata o § 1º-B deverá ser


instituída simultaneamente com outras medidas para equacionamento do deficit e
vigorará por período determinado, contado da data de sua instituição.

 § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de


que trata o caput deste artigo:

 I -  não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;

II -  incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou


serviços;

III -  poderão ter alíquotas:

         a)  ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o


valor da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro;

         b)  específica, tendo por base a unidade de medida adotada.


  § 3º A pessoa natural destinatária das operações de importação poderá
ser equiparada a pessoa jurídica, na forma da lei.

  § 4º A lei definirá as hipóteses em que as contribuições incidirão uma


única vez.

 Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir


contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação
pública, observado o disposto no art. 150, I e III. 

São tributos previstos constitucionalmente e qualificados por seus


resultados/sua destinação. Há três espécies de contribuição especial:

1. contribuição social, geral ou de seguridade;

2. contribuição de intervenção no domínio econômico;

3. contribuição de interesse de categoria profissional ou


econômica (corporativa).

Este tipo de tributo existe para cobrir uma serie de despesas que o
Estado tem, mas não conseguia aferir receita através das outras modalidades
tributárias.

Pode haver bitributação em decorrência da característica de


excepcionalidade desta espécie de tributo. Isto ocorre quando a contribuição tem
finalidade igual a que outro fato gerador de um outro tributo visa a alcançar.     

IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS (IGF)

O Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) é um tributo com previsão


na Constituição Federal de 1988, mas que ainda não houve a regulamentação.
Trata-se de um imposto federal, ou seja, de competência exclusiva da União para
sua instituição e aplicação (Constituição Federal, art. 153, inciso VII), demanda lei
complementar para a sua regulamentação que não foi aprovada até hoje. Além de
ser o único imposto previsto na Constituição que não foi instituído, o IGF parece se
adequar a um ideal de justiça fiscal. Também parece ser uma alternativa mais fácil
em relação a uma eventual reforma de todo sistema tributário, que nos parece
distante de ocorrer no Brasil. Por ainda não ter sido regulamentado, não pode ser
aplicado.

Em consonância, faz-se pertinente a transcrição de entendimento do


professor Hugo de Brito MACHADO (2010, p. 345-346), assim disposto:

“O imposto sobre grandes


fortunas é um caso raríssimo de
competência tributária não exercida. Embora
autorizada sua criação desde o advento da
Constituição de 1988, o Congresso Nacional
até agora não votou a lei complementar
necessária para definir o que se deve
entender como grande fortuna. […] A
verdadeira razão para a não criação do
imposto sobre grandes fortunas não está
relacionada a aspectos técnicos ou
administrativos. É simplesmente uma
questão política. Uma questão relacionada
ao exercício do poder e à influência sobre
quem o exerce”.

Para tanto, se faz necessário analisar o Imposto sobre Grandes Fortunas


sob uma perspectiva não só econômica, mas também social, bem como entender
por que ainda não foi implementado no país apesar de sua expressa previsão na
Constituição Federal de 1988.

Conforme art. 153 inciso VII da Constituição “compete à União instituir


imposto sobre grandes fortunas, nos termos de lei complementar”. Embora
prescinda de lei instituidora, decorre do texto constitucional que: a competência, ou
seja, aptidão para instituir o IGF, é da União; sua hipótese de incidência será a
titularidade sobre grande fortuna, localizada no território brasileiro. O sujeito ativo,
pessoa jurídica de direito público titular da competência para exigir seu
cumprimento (art. 119, CTN), deverá ser definido pela lei que o instituir, sendo
presumível que será a União, e o sujeito passivo, pessoa obrigada ao pagamento
do tributo (art. 121, CTN)- será o titular de grande fortuna. Dessa forma, caberá à
lei instituidora definir os critérios quantitativos do IGF, quais sejam a  base de
cálculo que é o valor do conjunto de bens que compõe grande fortuna, e
as alíquotas, percentuais aplicados à base de cálculo para aferição do valor devido
a título de tributo.

Podemos perceber claramente, que a implementação do IGF no Brasil


está prevista no artigo 153 da Constituição Federal, desde que com a ocorrência de
aprovação de lei completar, mas nunca saiu do papel.  Uma nova proposta, em
tramitação na Câmara dos Deputados, visa a aplicação do imposto com alíquota
de 2,5% sobre o valor de bens de pessoas físicas ou jurídicas que tenham
patrimônio líquido superior a R$50 milhões. Além do patrimônio líquido, o imposto
também se aplica a imóveis de uso pessoal e aeronaves com valor acima de R$5
milhões, automóveis a partir de R$500 mil e embarcações com montante superior a
R$1 milhão. 

O enquadramento do IGF terá como base os valores dos bens declarados


à Secretaria da Receita Federal do Brasil e a arrecadação com o tributo será
destinada, exclusivamente, à construção de unidades de ensino ou de saúde –
credenciadas pelos governos federal, estadual e municipal. Representa uma
modalidade tributária de caráter eminentemente extrafiscal, a promoção da justiça e
da igualdade tributária por meio de uma taxação progressiva de acordo com a
capacidade contributiva do cidadão tendo por consequência a redistribuição de
renda.

Um tributo como o IGF tem como escopo instrumentalizar o bem comum


social, não se coadunando com a ideia de Estado Democrático de Direito uma
sociedade tão desigual, onde a maioria das pessoas vive em condições de
miserabilidade, enquanto poucos usufruem dos benefícios do capital. O jurídico, o
econômico e o político devem ser pensados conjuntamente, para que a tributação
cumpra com sua função social. O imposto seria cobrado, portanto, sobre aqueles
patrimônios considerados grandes fortunas, ou seja, ficaria estabelecida uma
alíquota (porcentagem) que define em quanto o patrimônio deve ser tributado.

A definição de “grandes fortunas”, por sua vez, gera bastante


controvérsia, pois pode ter diferentes pontos de vista no debate. Esse é um
imposto que somente uma parcela da população com uma renda muito alta
pagaria. Dessa forma, não teria impacto sobre a maioria dos cidadãos
brasileiros. O IGF deve, portanto, começar no topo da pirâmide, –identificar o
0,1% da população que tem a maior renda do país, tributar seus ativos e
estabelecer regras mais rígidas contra sonegação do imposto. Ou seja, em
síntese, quando falamos sobre taxar grandes fortunas, não estamos falando
sobre cidadãos com casa própria ou um carro, mas sim sobre o 0,1% mais rico
da população brasileira. 

Nesse contexto, quase 1/3 da renda total do país acaba se


concentrando em uma camada social que representa apenas 1% da
população. Já os 10% mais ricos do Brasil concentram 41,9% da renda total . a
implementação do IGF não faria com que os mais ricos deixassem de ser ricos
e poderia significar um ganho importante em políticas públicas para os mais
pobres. 

O debate a respeito do IGF é recheado de opiniões sobre o sucesso


ou não dessa política tributária. O principal ponto  contra o IGF trata-se da fuga
de capitais. A fuga de capital ocorre quando as pessoas residentes de um
país levam seu capital para outro país, ou seja, levam suas fábricas ou aplicam
seu dinheiro no exterior. Um dos motivos pelos quais pode ocorrer essa fuga é
por conta do pagamento de impostos, pois os proprietários de ativos buscam
minimizar os pagamentos para o governo. Além dessa razão, a fuga de capital
também pode ser ocasionada por cenários de instabilidade
política e desvalorização cambial. 
Diversos projetos de Lei com o intuito de regulamentar o IGF já passaram
pela câmara dos deputados, contudo até o momento nenhum desses projetos foram
aprovados. Em ordem cronológica, os seguintes projetos de Lei Complementar já
tramitaram pela Câmara dos Deputados: PLP nº 162 de 18 de outubro de 1989; PLP
nº 202 de 12 de dezembro de 1989; PLP nº 268 de 11 dezembro de 1990; PLP nº
277 de 26 de março de 2008; PLP nº 26 de 11 de março de 2011; PLP nº 130 de 07
de fevereiro de 2012; PLP nº 6 de 04 de fevereiro de 2015; PLP nº 11 de 10 de
fevereiro de 2015, também o projeto de Lei do Senado nº 128 de 09 de abril de 2008
e projeto de Lei do Senado nº 139, de 09 de maio de 2017. Como projeto mais
relevante em tramitação temos a PLP nº 11 de 2015, que tem em seu texto,
adequações feitas com base a projetos anteriores que foram rejeitados, como por
exemplo, a PLP nº 268 de 1990 que foi rejeitada por não definir adequadamente
quanto seria uma “grande fortuna” e também a PLC 128 de 2008 que segundo a
Comissão de Finanças e Tributação (CFT), foi rejeitada pelo alto custo de instituição,
fiscalização e baixa arrecadação. A PLP nº 11 de 2015 traz por exemplo isenção de
valores abaixo de R$ 5.000.000 e também uma tabela com faixa de classificação e
suas alíquotas, essa PLP encontra-se no momento sujeita à apreciação do Plenário
A FUNÇÃO SOCIAL DO TRIBUTO, O COMBATE À CONCENTRAÇÃO DE
RENDA NO BRASIL E A JUSTIÇA SOCIAL

Ao se analisar a possibilidade de implantação de um novo tributo com o


intuito de buscar uma melhora na justiça social, minimizando os efeitos da grande
concentração de renda no Brasil, é interessante notar como se chega a conclusões
que facilmente podem e devem ser aplicadas ao país. Isso se deve ao fato que,
nosso país, conforme é sabido, é um dos Estados mais desiguais do mundo. A
parcela mais rica da sociedade detém infinitamente mais recursos do que a parcela
mais pobre, conforme estudo publicado pela Receita Federal em 2016. Nesse
contexto, ao se analisar o ritmo de crescimento do PIB nos últimos anos, fica claro
que, os períodos de baixo crescimento aliados à alta remuneração do capital, a
desigualdade do país tende a aumentar cada vez mais.

Por se tratar de objetivo fundamental da República o combate às


desigualdades sociais, conforme disposto no art. 3º, inciso III da CF, imperativo se
faz a adoção de políticas públicas que minimizem o impacto das forças de
divergência da desigualdade. Uma vez que se falou em adoção de políticas públicas,
imediatamente nos remete à adoção de impostos progressivos sobre o capital como
forma de arrefecer as ditas forças de divergência da desigualdade.

Dito isso, parece que o imposto sobre grandes fortunas aparece como
uma solução para auxiliar o Brasil na busca pela diminuição da desigualdade social.
A questão que resta é: pode-se considerar a tributação de apenas parte da
sociedade como justa?

Evidentemente que sim. O sistema tributário brasileiro é regido de acordo


com o Princípio da Capacidade Contributiva, isto é:

Conforme Fernando Aurélio Zilveti,

“é o princípio segundo o qual cada cidadão deve


contribuir para as despesas públicas na exata proporção de
sua capacidade econômica. Isto significa que os custos
públicos devem ser rateados proporcionalmente entre os
cidadãos, na medida em que estes tenham usufruído da
riqueza garantida pelo Estado. Também aceita como
capacidade contributiva a divisão equitativa das despesas na
medida da capacidade individual de suportar o encargo fiscal”

Além disso, um tributo apenas pode ser cobrado quando da realização de


seu fato gerador pelo contribuinte especificado na legislação. Portanto, assim como,
por exemplo, no Imposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA), apenas
proprietários de automóveis são contribuintes, no caso do IGF, apenas detentores
de grandes fortunas o seriam.

Dessa forma, ao se considerar como uma tese de justiça, o debate acerca


do IGF fica ainda mais interessante. Partindo-se da premissa hipotética segundo a
qual, um das conclusões sobre a justiça a que se chegaria seria a necessidade da
instituição de benefícios compensatórios para a parcela da sociedade menos
favorecida em razão de desigualdades iniciais econômicas e sociais.

Nesse sentido, ao analisar o atual projeto de lei que trata do Imposto


sobre Grandes Fortunas, acredito que, em uma deliberação sobre os princípios que
seriam aceitos no grupo, a conclusão a que se chegaria é a de que as alíquotas do
imposto são baixas.

Logo, se a remuneração sobre a renda do capital for, de fato, fator


determinante no aumento da desigualdade, o imposto sobre grandes fortunas
deveria taxar de forma mais intensa os detentores de grandes fortunas para romper
com o ciclo de ampliação das desigualdades sociais em razão das condições e
vantagens impostas pelo mercado aos detentores do capital.

O Imposto sobre grandes fortunas, tributo progressivo, que atinge apenas


a parcela mais rica da sociedade, reacende os debates sobre redistribuição de
renda, desigualdade e justiça social. Conforme exposto na Constituição Federal, o
Brasil tem como objetivo a redução das desigualdades sociais, portanto a discussão
sobre o IGF deve figurar no plano da efetividade ou não do tributo para esse fim.
Esse processo é exatamente o momento pelo qual o Brasil tem passado nos últimos
anos. As taxas de juros estão elevadas, gerando alta taxa de remuneração do
capital investido, e o crescimento do país está baixíssimo.
Sendo assim, a possibilidade de regulamentar um tributo que possibilite
ajustar as forças do mercado para impedir que a desigualdade aumente sem algum
motivo que a justifique parece uma excelente solução.

A desigualdade não atinge apenas os mais pobres. A desigualdade,


quando ocorre sem motivo, apenas pelas condições de mercado, vai de encontro ao
princípio básico do capitalismo, a meritocracia. Não se pode falar em meritocracia
quando a situação inicial de uma pessoa determina as possibilidades dela no futuro.
A igualdade de oportunidades é condição indispensável à realização democrática
objetivada pela Constituição Federal de 1988.

Entretanto, defende-se que o Estado, ao atuar como gestor das riquezas


nacionais e como ente político responsável pela concretização dos direitos e
garantias constitucionais, deve usar o poder de tributar como meio para alcançar
uma maior justiça no meio social, impulsionado por seu objetivo institucional de
erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e
regionais

O artigo 3º da Constituição da República estabelece como escopo do


Estado brasileiro a concretização do desenvolvimento econômico, a justiça e a
mitigação da desigualdade social. A tributação tem papel proeminente na promoção
da justiça, uma vez que é o mecanismo utilizado para financiar os gastos públicos e
redistribuir riquezas. Para ser justo, o tributo deve cumprir a função social de
promover o bem-estar da população.

Para que não haja distorção na tributação e na função social do tributo,


há, na Constituição brasileira, um catálogo de direitos e garantias dos contribuintes,
veiculador de princípios e imunidades tributárias, entre eles os princípios da
isonomia, da capacidade contributiva e o da estrita legalidade tributária, que
asseguram que a tributação não seja um mecanismo incrementador da
desigualdade social.

Nesse contexto, o presente estudo teve como questionamento e objetivo


central apresentar os desafios e as delimitações constitucionais da utilização da
finalidade extrafiscal tributária na condição de mecanismo de realização da justiça
social por meio da tributação contemporânea na exata definição de política pública
de inclusão social. Ao possibilitar a criação de mecanismos específicos de
enfrentamento a discrepância social, especialmente na sociedade brasileira,
proporciona ao mesmo tempo o atendimento, com base na adaptação de políticas
econômicas e fiscais, um novo modelo voltado para o desenvolvimento mais
igualitário do país.

Os desafios à criação de uma cultura tributária baseada na


extrafiscalidade ao promover a justiça social devem ser compreendidos e
enfrentados levando em consideração toda a diversidade cultural da sociedade, a
globalização e as relações sociais individualistas. Assim, há a necessidade essencial
de se alterar o cenário mundial da globalização que perpassa efetivamente pela
alteração da convivência entre os sujeitos, isto é, para que essa alteração seja
efetiva, deve-se iniciar na comunidade, no local mais próximo ao cidadão, pois
somente o indivíduo é capaz de fomentar e promover a mudança que as sociedades
necessitam para continuar se desenvolvendo.

No que tange à justiça social, ela refere-se à possibilidade de ser


garantido a todos o mínimo para que satisfaçam às suas necessidades essenciais,
sejam elas morais, espirituais ou artísticas. Destarte, ela consiste na busca, através
da redistribuição de rendas, de uma vida mais justa e digna a todos, onde se garanta
uma vida com o mínimo existencial ao ser humano.

Logo, a justiça social está intrinsecamente atrelada à garantia


constitucional do mínimo existencial, o qual emana diretamente do postulado do
direito fundamental à dignidade humana.  Assim, respeitando-se a dignidade de
cada indivíduo e a intangibilidade do mínimo existencial, será feita a justiça social.

Por isso, a realidade social vivida em nosso país, com uma das maiores
cargas tributárias, um dos piores índices de desenvolvimento humano e de
redistribuição de renda, exige que sejam tomadas medidas visando proteger as
necessidades vitais dos indivíduos para que sejam tratados como seres humanos e
não apenas como contribuintes, a fim de atender aos dispositivos constitucionais.
Mas, será que há observância do princípio da dignidade humana e busca da justiça
social na tributação pátria?
Pelo que podemos observar, há muitos anos, o Brasil é considerado um
dos países mais desiguais do mundo. É inconteste a necessidade de redistribuição
de renda no país. O direito, como instrumento de realização de justiça e
aperfeiçoamento da sociedade, possui papel vital para que os objetivos
fundamentais esculpidos no art. 3o da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) se
tornem realidade. A legislação tributária tem papel primordial para se construir uma
sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a
pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; bem
como promover o bem de todos, sem qualquer tipo de discriminação.

CONCLUSÃO

Podemos concluir que com a regulamentação do IGF no Brasil será


introduzido mais um imposto direto, que proporcionará, não a reforma tributária
almejada, mas trará uma carga maior a “balança” deste tipo de impostos. Em nosso
estudo observamos desigualdade social é nítida desde a questão tributária, onde a
capacidade econômica individual não é proporcional a obrigacão tributária junto ao
Estado. Nosso sistema aumenta ainda mais a iniquidade. Preliminarmente, cabe
destacar que a função primordial do IGF é extrafiscal: reduzir a desigualdade
econômica. Neste sentido, é de se prever maior potencial arrecadatório em países
com maiores disparidades de riqueza e arrecadação menor nos países mais
igualitários. Quando a riqueza da sociedade for distribuída de forma mais
homogênea, o imposto terá menor potencial arrecadatório e reduzida importância
extrafiscal.

Nada mais justo que a introdução deste imposto em nosso sistema


tributário.

É absoluta a vantagem dos impostos indiretos e a reforma tributária já se


faz necessária desde a data que foi confeccionada como estudo. Ou seja, afirmar
que é necessária uma reforma é protelar a questão da disparidade de impostos
diretos x impostos indiretos.
Ainda assim, com base nos dados agregados dos declarantes do Imposto
de Renda da Pessoa Física, é possível estimar uma arrecadação entre R$ 30 e 60
bilhões, a depender da configuração do imposto (maior ou menor campo de
incidência, calibragem das alíquotas progressivas e limite acima do qual incide o
tributo). Aqui, também, o campo de batalha é a política

Com base no exposto, o IGF potencializa o princípio da capacidade


contributiva. Além disso devemos lembrar que a Carta Magna também tem por
objetivo a redução das desigualdades sócio-regionais conforme disciplinado no
Artigo 3º, III.

CRFB: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa


do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as


desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,


sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

O Brasil é reconhecido internacionalmente como um dos países mais


desiguais do mundo. A instituição do IGF faria com que as pessoas das classes
mais favorecidas da população ajudassem a bancar a máquina pública. Esse
imposto poderia ser usado para diminuir as desigualdades sociais e melhorar a
redistribuição de riquezas.

 Brasil é um país notadamente marcado pelas suas desigualdades sócio-


regionais e um tributo de caráter progressivo que atinja as camadas mais
favorecidas da população parece ser uma solução interessante para amenizar o
déficit fiscal e promover uma mais justiça social.

O alcance da justiça fiscal deve ser objetivo a ser buscado pelo Estado
Democrático de Direito. Outrossim, a instituição do IGF figura como um possível
instrumento capaz de atingir a justa tributação. A regulamentação desta figura
tributária seria tão somente dar efetividade aos desejos referentes à justiça fiscal
Portanto, vê-se que a redução das desigualdades históricas que marcam
o Brasil está atrelada à busca pelo alcance da justiça fiscal e esta engloba variadas
questões, entre elas a instituição do IGF. Dessa forma, a regulamentação do IGF
figura como um importante vetor na busca pela justiça fiscal.

Assim, instituir o IGF significaria cobrar imposto sobre todo o estoque de


ativos acumulados por indivíduos super-ricos. À primeira vista, parece fazer sentido,
mas esse é um assunto controverso há muito tempo e no mundo todo. Há
defensores e detratores desse tipo de tributo. Aqueles que defendem o imposto
sobre a fortuna argumentam, resumidamente, que o IGF fornece uma solução para
amenizar os contínuos déficits orçamentários e alavancar o crescimento do PIB dos
países, ainda contribuindo para atenuar o abismo da desigualdade econômica com a
distribuição de renda.

Do lado oposto, há argumentos que apontam para os riscos envolvidos


com a adoção do IGF, como o de fuga de capital e o de aumento da evasão fiscal.
Além disso, alega-se que essa arrecadação não é significativa em relação ao total
de receitas tributárias e há custos administrativos para a sua fiscalização.

A tributação segundo a capacidade econômica do contribuinte está


prevista na Carta Magna de 1988 em uma seção dedicada à tributação e ao
orçamento, nos princípios gerais do sistema tributário. Sobretudo pode-se notar que
desde a Constituição de 1988 a tributação brasileira pouco foi alterada. O sistema
tributário permanece incidindo sobre o consumo de bens e serviços, acarretando um
ônus maior sobre aqueles com menor poder aquisitivo.

Famílias com até dois salários mínimos no ano de 2020 arcaram com um
ônus de 53,9% de sua renda total, enquanto que famílias que recebem acima de 30
salários mínimos foram oneradas em 29% de sua renda total. A tributação
progressiva do patrimônio apresenta-se como um instrumento de reforma e
regulação da desigualdade no capitalismo. No caso brasileiro, a tributação sobre as
grandes fortunas aparece como uma possibilidade de reforma fiscal aberta pela
Constituição de 1988, contrapondo-se a um sistema tributário calcado na tributação
indireta e regressiva, que onera a população de menor poder aquisitivo em um dos
países com maior concentração de renda do mundo. Em termos efetivos, os projetos
em torno do Imposto sobre Grandes Fortunas representam ainda um momento
embrionário para a melhoria da progressividade da tributação brasileira.

Por fim, poder concluir que apesar da dificuldade de aprovação de lei


complementar instituindo o Imposto sobre Grandes Fortunas e as propostas que
tramitam no Congresso possuírem diversas falhas, a regulamentação do IGF se
mostra de extrema importância para diminuir a desigualdade e concentração de
renda nas classes mais altas, e assim diminuir também a regressividade do sistema
tributário, amenizando a prevalência pelos tributos indiretos e respeitando os
objetivos e princípios trazidos pela Constituição Federal de 1988. A tributação das
grandes fortunas além de permitir o alcance da justiça tributária também
permite o alcance da justiça social por garantir uma maior distribuição de renda e
riqueza entre as pessoas e as regiões. A discussão deve ser sobre uma maneira
justa da carga tributária no Brasil ser distribuída entre a população, cabendo ao
Estado cumprir os valores elencados na Constituição Federal para alcançar o
bem comum

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Justiça social e progressividade da tributação O sistema tributário vigente, além de


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https://jus.com.br/artigos/33401/imposto-sobre-grandes-fortunas-igf-um-olhar-para-
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