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contratos
Apresentação
Os negócios jurídicos não se formam sem a vontade das pessoas. Essa vontade, inicialmente
interna, subjetiva, é a propulsora do contratar. Todavia, essa vontade não tem, em geral, como ser
apreendida e adequadamente tutelada pelo Direito. Assim, o mundo jurídico, normalmente,
preocupa-se com a vontade declarada, aquela objetiva, externada pelas partes de modo a chegar
em um consenso e concluir o negócio desejado. Por outro lado, mesmo que externalizem a sua
vontade, raramente as partes conseguirão exprimir, por meio dos contratos, todas as
eventualidades que poderão fazer parte do seu processo negocial. Além disso, não raro, será
necessário que se valham de ferramentas para interpretar ou complementar as disposições
contratuais por elas firmadas.
Nesta Unidade de Aprendizagem, você estudará sobre a formação dos contratos e as ferramentas
capazes de auxiliar as partes e os juízes na interpretação e integração contratual.
Bons estudos.
Dias depois, José bate à porta de Clara com todo o seu material, informando-lhe que começaria o
serviço no ato:
Você, como advogado de Clara, como poderia auxiliá-la nessa questão? A proposta de José foi
séria, concreta, a ponto de vinculá-lo? Foi celebrado contrato entre os vizinhos?
Infográfico
Os contratos são firmados muito rapidamente, dessa forma, nem sempre é possível perceber o seu
processo de formação. Todavia, faz-se importante compreender que até a celebração do contrato,
muitos atos podem ser praticados e, mesmo que não configurem a conclusão deste, podem
repercutir na relação entre as partes, inclusive em situações excepcionais, gerando o dever de
reparar.
Entretanto, nem todos os contratos apresentarão essas fases tão bem delimitadas. Para comprovar
isso, você pode refletir acerca de um contrato de compra e venda de um livro pela internet, por
exemplo, em que um clique já configura sua aceitação e o vincula ao pagamento do preço pelo bem
desejado.
Já nos contratos mais complexos, principalmente naqueles cujo objeto são bens de maior valor,
dificilmente as partes se obrigam sem antes negociar, tirar suas dúvidas e comparar preços com
mais atenção e cuidado. Nesse tipo de contrato, calha compreender quando as partes efetivamente
estarão vinculadas, de modo a evitar conflitos e problemas futuros.
Para evitar controvérsias, faz-se necessário que o conteúdo do contrato expresse o interesse real
das partes, que seja claro e que não induza os contratantes ao erro, pois, do contrário, será preciso
um esforço de interpretação do conteúdo contratual ou de integração de lacunas contratuais.
No capítulo Formação, interpretação e integração, da obra Direito Civil III: teoria geral dos contratos,
base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai examinar a formação, a interpretação e a
integração dos contratos.
Boa leitura.
DIREITO CIVIL
III: TEORIA
GERAL DOS
CONTRATOS
Introdução
Os negócios jurídicos não se formam sem a vontade das pessoas. Essa
vontade, inicialmente interna, subjetiva, é a propulsora do contratar.
Todavia, essa vontade não tem, em geral, como ser apreendida e adequa-
damente tutelada pelo Direito. Assim, o mundo jurídico, normalmente,
preocupa-se com a vontade declarada, aquela objetiva, externada pelas
partes de modo a chegar em um consenso e concluir o negócio desejado.
Por outro lado, mesmo que externalizem a sua vontade, raramente as
partes conseguirão exprimir, por meio dos contratos, todas as vicissitudes
ou eventualidades que poderão fazer parte do seu processo negocial.
Além disso, não raro, será necessário que se valham de ferramentas para
interpretar ou complementar as disposições contratuais por elas firmadas.
Neste capítulo, você vai ler sobre a formação dos contratos e as fer-
ramentas capazes de auxiliar as partes e os juízes na interpretação e
integração contratual.
O professor Clóvis do Couto e Silva (2007), na obra A obrigação como processo, assevera
que a obrigação não pode ser compreendida apenas como um vínculo jurídico que
une credor e devedor por meio de prestações de dar, fazer ou não fazer, mas que a
relação obrigacional é algo que se encadeia, que se desdobra em direção à satisfação
dos interesses do credor, logo, em direção ao adimplemento. Considerando que os
contratos são a fonte mais notória das obrigações, nada mais coerente do que examiná-
-los por esse prisma, isto é, compreendê-los como um processo.
A fase de negociações preliminares não vincula as partes a uma relação jurídica — ainda
não há nem a proposta, nem a conclusão do contrato.
A pessoa presente é aquela que mantém contato direto e simultâneo com a outra — caso
em que o aceitante toma ciência da oferta quase instantaneamente — como a comuni-
cação realizada por um chat (sala virtual de comunicação), Skype, telefone, entre outros.
A pessoa ausente é aquela que não mantém contato direto nem imediato com a outra
— há, assim, um decurso de tempo, um lapso, entre a proposta, a ciência e a resposta do
aceitante — como a comunicação realizada por cartas, telegrama, e-mail, entre outros.
Aceitação e oblação
É a fase de formação ou de conclusão do contrato, ou seja, quando se dá a
celebração do contrato. Em razão da sua relevância, a fase da aceitação será
analisada em tópico específico.
Aceitação
Como o próprio nome indica, a aceitação é a fase em que o oblato, aceitante
ou policitado responde afirmativamente à proposta de contratar.
No momento em que o oblato aceitar a proposta, o contrato é perfectibili-
zado. A aceitação poderá se dar de forma expressa ou tácita, como dispõe o
art. 432 do Código Civil: “Art. 432 Se o negócio for daqueles em que não seja
costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-
-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Será expressa, assim como na proposta, quando declarada pelo aceitante
por meio de gestos, palavra escrita ou sinais. Será tácita quando da conduta
do aceitante se puder concluir pela aceitação. Por exemplo, quando, embora
não tenha expressamente se manifestado, o aceitante envia o bem objeto da
compra e venda.
A aceitação, quando realizada fora do prazo ou com alterações na pro-
posta, configurará contraproposta, que necessitará de aceitação, agora, da
outra parte. Nesse sentido: “Art. 431 A aceitação fora do prazo, com adições,
restrições, ou modificações, importará nova proposta” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Outrossim, para que o aceitante consiga voltar atrás em sua aceita-
ção, deverá fazê-lo antes ou concomitantemente à aceitação, sob pena
de vincular-se ao negócio jurídico, como expressa o art. 433 do Código
Civil: “Art. 433 Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou
com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante” (BRASIL, 2002,
documento on-line).
Ainda, a boa-fé objetiva deverá pautar a conduta das partes em todas as
fases da formação do contrato (bem como após sua conclusão). O art. 430 do
Código Civil corrobora essa afirmação (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO,
2008), impondo o dever de informar ao proponente, como segue: “Art. 430
Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento
do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante, sob pena de
responder por perdas e danos” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Significa que, caso a aceitação, por motivos alheios à vontade das partes,
venha a ser recebida fora do prazo, é dever do proponente comunicar o aceitante
para não ser responsabilizado.
Tempo da aceitação
Quando presentes as partes, não há dificuldades de determinar o momento da
aceitação, pois ela se dará no momento da resposta do aceitante. Entretanto,
estando ausentes as partes, não é tarefa tão singela determinar esse momento.
O art. 434 do Código Civil dispõe sobre o momento da aceitação, isto é,
pode-se considerar concluído o contrato quando as partes não se encontram
presentes. Segue transcrição:
Art. 434 Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação
é expedida, exceto:
I — no caso do artigo antecedente;
II — se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III — se ela não chegar no prazo convencionado. (BRASIL, 2002, documento
on-line).
Lugar da aceitação
Sobre o lugar da formação dos contratos, o Código Civil, de modo mais
simplificado, dispõe que: “Art. 435 Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar
em que foi proposto” (BRASIL, 2002, documento on-line).
Diante disso, o contrato entre presentes é considerado formado no local em
que as partes se encontram (policitante e policitado). Por sua vez, o contrato
entre ausentes ou no qual as partes estejam distantes fisicamente (chat, por
exemplo) é considerado formado no local da realização da proposta — segundo
a regra do art. 435 do Código Civil — considerando não haver disposição
expressa das partes em outro sentido (PEREIRA, 2017).
O local de formação do contrato tem relevância para a determinação da
jurisdição competente e até mesmo para a fixação da lei aplicável, no caso
dos contratos internacionais. Nesse sentido, determina o § 2º do art. 9º da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB): “Art. 9º [...] § 2º A
obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir
o proponente” (BRASIL, 1942, documento on-line).
Integração
Integrar um contrato é preencher as suas lacunas e os pontos omissos (GON-
ÇALVES, 2010). Para tanto, serão utilizadas normas supletivas, aquelas que
terão lugar na ausência de deliberação das partes acerca de determinado tema
(lugar da contratação, o momento da conclusão do contrato entre ausentes,
entre outros). As normas supletivas podem ser tanto as regras contidas nas leis
(Código Civil, CDC, entre outros) quanto os princípios que regem os negócios
jurídicos, como a boa-fé objetiva, a função social, os usos e costumes. Segundo
Carlos Roberto Gonçalves (2010, p. 62), a integração:
Interpretação
Interpretar um negócio jurídico é “[...] precisar o sentido e alcance do conteúdo
da declaração de vontade” (GONÇALVES, 2010, p. 62). A interpretação tem
como escopo apurar a real vontade das partes, “[...] não a verdade psicológica,
mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas que nascem da sua declaração”
(GONÇALVES, 2010, p. 62).
[...] o que tem de procurar o hermeneuta é a vontade das partes. Mas como
exprime pela declaração, viajará através dela, até atingir aquela [...] A segurança
social aconselha que o intérprete não despreze a manifestação de vontade ou
vontade declarada, e procure, já que o contrato resulta do consentimento,
qual terá sido a intenção comum dos contratantes, trabalho que nem por ser
difícil pode ser olvidado (PEREIRA, 2017, p. 45).
Com relação à interpretação, ainda sobre o art. 112 do Código Civil, im-
portante mencionar que esse dispositivo exprime o que se entende por regra
de caráter subjetivo ou regra relativa à manifestação de vontade, posto que
busca a compreensão adequada do que aparenta ser a vontade dos contra-
Na Dica do Professor a seguir, você vai examinar em que situações a fase das tratativas pode gerar
o dever de reparar os danos.
Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.
Exercícios
D) trata-se da fase de tratativas negociais, nas quais as partes trocam minutas, refletem e
pesquisam, sem que tenham celebrado o negócio jurídico contratual.
A) A fase da puntuação é a fase em que o policitante recebe a resposta do oblato que aceita
contratar.
B) A fase da puntuação, em geral, não vincula as partes, mas, excepcionalmente, poderá dar
origem à responsabilidade civil pelos danos oriundos da quebra de expectativas legítimas.
B) considera-se ausente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação
semelhante.
C) não vinculará o proponente à proposta se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a
resposta dentro do prazo dado.
E) pessoa presente é aquela que contrata por e-mail, telegrama, carta e outros meios
semelhantes.
4) A fase da aceitação é a última fase de formação dos contratos. Sobre a aceitação, é correto
afirmar que:
B) O artigo 114 do Código Civil é considerado como uma regra de interpretação subjetiva.
C) A integração serve para o hermeneuta tentar alcançar a intenção das partes contratantes.
E) A integração é o método que visa suprir as lacunas contratuais por meio das leis, da analogia,
dos costumes, dos princípios gerais de direito e, até mesmo, da equidade, criando uma norma
supletiva para completar o contrato.
Na prática
Todas as fases da formação do contrato dependem da manifestação das vontades das partes, assim
como do instrumento, por meio do qual essa vontade será declarada.
Nem sempre é possível expressar a legítima vontade das partes pelo vernáculo, o qual pode dar
margem a dúvidas e acabar gerando conflito entre os contratantes. Igualmente, será impossível,
pelas partes, prever todos os eventos que poderão repercutir na sua intenção de celebrar o
contrato, bem como na forma de sua conclusão e execução.
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