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Resumo
Tem-se como pretensão evidenciar neste artigo, o modo em que o Princípio da boa-fé
objetiva foi utilizado no decorrer do tempo e, ao mesmo passo, constatar sua inserção
progressiva no ordenamento jurídico brasileiro. Para tanto, faz-se mister, demonstrar o
aperfeiçoamento desse princípio, que detinha apenas a interpretação subjetiva e passou a ter
um aspecto objetivo. Nesse ínterim, serão ressaltadas as alterações e ganhos ocasionadas por
tal mudança, com ênfase nos contratos.
SUMÁRIO
1- Introdução...........................................................................................................................
6- Conclusão.........................................................................................................................
1- INTRODUÇÃO
Dessa maneira, quando se remete à boa-fé, não se restringe apenas ao caráter objetivo,
mas também, seu caráter subjetivo. Aliás, algo primordial a ser salientado, é que o
surgimento da boa-fé objetiva não extinguiu a boa-fé subjetiva. A última, por sua vez,
também está positivada no Código Civil e é utilizada no ordenamento jurídico. Para
esclarecer o seu uso, será mostrado, no decorrer do artigo, o caso do credor putativo,
estabelecido no artigo 309 do Código Civil de 2002.
Não obstante, além do princípio da boa-fé objetiva, existe outro princípio regulador
das relações contratuais e obrigacionais. Tal princípio é o da autonomia da vontade. Esse
princípio tem suas raízes no Direito Romano, no qual a individualidade era uma das
características que permeavam a sociedade. Todavia, com a evolução das sociedades,
percebeu-se que quem detinha um poderio econômico controlava os efeitos dos negócios
jurídicos, sua vontade era imposta sobre a outra parte. Sendo assim, o princípio da boa-fé
objetiva foi desenvolvido com o escopo de criar limites de cunho moral, baseado na lealdade
e cooperação, que promovem um maior equilíbrio entre as partes e maior igualdade entre as
mesmas.
Nesse ínterim, tem-se como exemplo o Código Civil Francês e o Código Civil
Alemão. Tratando-se do último, foi na jurisprudência comercial que a boa-fé objetiva se
firmou como um princípio. Posteriormente, o BGB reservou dois parágrafos consagrando-o:
o § 242, que ordena ao devedor e ao credor que ajam de acordo com os costumes do tráfego e
consoante aos ditames da boa-fé objetiva .Sendo assim de modo a resguardar os legítimos
interesses das partes a partir do contato negocial. E o § 157 regula a interpretação dos
contratos determinando que seja realizada de acordo com a confiança e a boa-fé. A partir dos
parágrafos supramencionados, os juristas alemães começaram a identificar a existência de
deveres acessórios ou obrigações anexas decorrentes da própria natureza do vínculo
assumido, ainda que não expressas nos contratos, prescindindo, assim, da vontade dos
contratantes.
Dentre as mudanças realizadas pelo Novo Código Civil de 2002, está a positivação do
Princípio da boa-fé objetiva. Todavia, não seria ocioso lembrar que, a boa-fé já existia e em
certa medida era empregada pelos operadores do direito na efetivação de contratos e solução
de conflitos. Entretanto o Código Civil atual traz em seu texto referência explícita do
conteúdo que abarca o princípio da boa-fé objetiva, sendo assegurado pelo artigo 113 do
Código Civil Brasileiro expresso da seguinte maneira, “os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”.
Foi também assegurado pelo Código de forma inerente que a boa-fé objetiva transite
durante todo o processo contratual, desde o pré-contratual ao pós contratual. E, esse trânsito
entre as fases contratuais faz com que o princípio estejam presentes entre as partes de forma
contínua. De acordo com o artigo 422 do CC “os contratantes são obrigados a guardar, assim
na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé." Além
do mais, esse artigo elucida a obrigatoriedade de ambas as partes que se proponham a ter
uma conduta norteada pelo princípio de boa-fé objetiva.
Aliás, a boa-fé objetiva detém princípios inerentes a sua aplicação, como princípio da
eticidade que fala sobre a valorização da ética nos negócios jurídicos. Já o princípio da
socialidade diz respeito a interpretação dos contratos de forma compatível ao contexto social.
"A boa-fé, no sentido objetivo, é um dever das partes, dentro de uma relação jurídica, se
comportar tomando por fundamento a confiança que deve existir, de maneira correta e leal;
mais especificamente, caracteriza-se como retidão e honradez, dos sujeitos de direito que
participam de um relação jurídica, pressupondo o fiel cumprimento do estabelecido".
(MARTINS, 2000, p.73). Por último, tem-se a operacionalidade que fala sobre ao conceito
aberto que deve ser preenchido pelo aplicador do direito na proporcionalidade de cada caso.
Tudo isso tem como intuito promover negociações mais dinâmicas e práticas.
Caberia lembrar ainda a existência de funções que demonstram a aplicação da boa-fé
objetiva. São essas, a função criadora de deveres jurídicos e anexos ou de proteção, que tem
como finalidade tornar as situações pragmáticas. Criando assim, deveres colaterais que sejam
passíveis de aplicabilidade. Por outro lado, têm se a função interpretativa, considerada uma
das mais nobres funções devido a possibilidade do magistrado utilizar da função integradora.
Portanto, caso haja lacunas em relação à interpretação e o magistrado faça uso da função
integradora deve, sem hesitar, contemplar a conduta leal e a ética, por exemplo. Por fim, tem-
se a função delimitadora de direitos subjetivos que reporta o preceito constitucional em
relação à dignidade humana. Desse modo, confere aos negócios jurídicos um aspecto mais
social, coibindo assim, a predominância de interesses subjetivos ao almejar constituir
isonomia entre as partes contratantes. “(... função de limite ao exercício de direitos subjetivos
coibindo abusos e corrigindo distorções contratuais que poderão decorrer tanto da vontade
das partes ( em desacordo com a norma posta) quanto de fatores externos alheios a vontade
de contratantes (mas que também poderão causar situações de quebra de reciprocidade entre
os benefícios esperados e sacrifícios exigíveis dos mesmos)”. REVISTA DE DIREITO DO
CONSUMIDOR RDC, ano 25. 106 julho,agosto,2016.
O novo Código Civil estabelece três funções à boa-fé objetiva. Segundo Sylvio
Capanema, a priori, tem-se a função hermenêutica, disposta no artigo 113 do CC, segundo a
qual, os negócios jurídicos deverão ser interpretados de acordo com a boa-fé e os costumes
do local de celebração do contrato. A segunda é a contratual, essa por sua vez, determina
quais condutas devem ser tomadas pelas partes mediante um contrato. E por último, tem-se a
função de equilibradora da equação econômica do contrato, essa se objetiva a promover uma
paridade entre as partes para que a questão financeira não seja um fator influenciador na
realização do negócio jurídico. (CAPANEMA, 2013)
4- A CONCEPÇÃO DA BOA-FÉ SUBJETIVA
Um exemplo em que o Código civil protege o sujeito que age de boa-fé subjetiva é o
artigo 309, que aclara da seguinte maneira: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é
válido, ainda provado depois que não era credor.” A boa-fé tratada neste artigo é a subjetiva.
A falta de conhecimento sobre o real credor sobre o com que o indivíduo fosse protegido pelo
ordenamento, mesmo que ele não tenha feito o pagamento de forma adequada. Dessa forma,
de acordo com Marco Antonio Zanelatto, o erro ou ignorância do agente leva-lhe a crer que
está agindo em conformidade com o Direito, por isso ela também é conhecida como boa-fé
crença (ZANELATTO, 2015). Logo, a boa-fé subjetiva mostra-se também tutelada pelo
Estado. O artigo 1201 do CC demonstra em seu texto que: “É de boa-fé a posse, se o
possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O
possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou
quando a lei expressamente não admite esta presunção.”
APELAÇÃO IMPROVIDA.
Reconhecer a boa- fé através do comportamento do indivíduo não era tarefa fácil para
os magistrados. Nesse sentido, um contrato justo e livre de influências externas depende da
intenção individual. Esse fato gerava insegurança jurídica, uma vez que a vontade humana é
algo volátil não podendo, portanto, ser utilizada como garantia de contrato, pois é algo
instável, passível de mudança que poderiam ocorrer em qualquer uma das fases contratuais.
Sendo assim, ao contar com critérios pré-determinados no Código Civil, a boa-fé sai
da subjetividade do sujeito, que só seria identificada com a manifestação das partes em fazer
um contrato ético. Nesse contexto, é um mecanismo que pode ser alegado nas
jurisprudências, como um modo que o ordenamento tem para assegurar a ambas as partes
uma conduta adequada. Este aparato deve ser vislumbrados em todos os tipos relações de
contratuais.
Segundo a autora Alessandra Mattos, a boa-fé objetiva nos contratos atribui efeitos
que anteriormente não estavam pré determinados, mas que precisam dele derivar. E também
trouxe uma função de tornar mais completo as lacunas daquilo que previamente não foi
celebrado.
Para entender melhor como atua a boa-fé nos contratos de compra e venda, temos que
ter a ideia de que nos contratos temos uma relação obrigacional. No caso da compra e venda
de um bem, por exemplo, a relação entre o credor e o devedor está baseada no direito de
requerer do indivíduo que deve a prestação, enquanto o credor tem o dever de efetuá-la, e
posteriormente receber o bem. “A boa-fé objetiva relaciona-se com as características
objetivas da manifestação de vontade e independe da intenção do contratante. É a conduta
que dele se espera. Do comprador, espera-se que pague o preço da coisa adquirida; do
vendedor, espera-se que entregue a coisa vendida e garanta a venda como boa, firme e
valiosa.” (NERY JUNIOR; ABBOUD, 2015)
O conceito de regra obrigacional seria o primordial no negócio jurídico, pois sem ele
o contrato não viria a existir. Porém apenas a relação obrigacional não é capaz de abarcar, no
plano fático, todas as necessidades de um contrato, uma vez que um contrato não é algo
linear, mas sim sistemático.
6- CONCLUSÃO
Seria importante salientar ainda, que acima de tudo a inserção do princípio da boa-fé
objetiva no direito brasileiro demonstra a preocupação do legislador em resguardar os direitos
das pessoas mais vulneráveis do país. Isso é pertinente ao se constatar o contexto histórico
social do Brasil em relação a concentração de renda que, tem como um de seus
desdobramentos a desigualdade social reduzindo assim, as chances de acesso à aparatos
financeiros ou informacionais. Essa parcela social estaria desprotegida judicialmente havendo
espaço para abuso de direitos por aqueles que tivessem melhores condições.
REFERÊNCIAS
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