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Princípio da boa-fé objetiva -

Direito Civil III


Aluno: Diego Marques
Barros
A boa-fé:
 Segundo DELGADO GONZÁLEZ (1950 apud DIEZ-PICAZO, 1963
p. 135) a "Boa-fé significa retidão, honradez e confiança, a
confiança com que uma das partes espera uma conduta leal
da outra.“

 Tradicionalmente é apontada como elemento dos estudos


jurídicos quando se precisa investigar se o indivíduo possui ou
não ciência de uma determinada condição (Boa-fé subjetiva).
Princípio da boa-fé objetiva:
 Existe, todavia, uma forma de atuação da boa-fé no Direito
Processual Civil brasileiro, denominada boa-fé objetiva,
entendida como uma regra padrão de comportamento probo,
leal e correto, ou seja, uma norma ética de conduta, a ser
observada por todos de forma objetiva (independente do
estado de espírito do agente). Sendo um princípio norteador
do direito civil, desse comportamento, decorrem outros
deveres anexos, como transparência e colaboração, a serem
observados em todas as fases do contrato.
Princípio da boa-fé objetiva:
A boa-fé objetiva:
 A boa fé objetiva está positivada no art. 14, inciso II, do
Código de Processo Civil, in verbis:
"Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de
qualquer forma participam do processo:
(...)
II - proceder com lealdade e boa-fé;"

 Trata-se de disposição normativa que contribui para


superação de dogmas processuais e para o estabelecimento
de uma nova ordem a reger o desenvolvimento do processo.
A boa-fé objetiva:
 A boa-fé objetiva nos domínios do Direito Processual Civil
estabelece as balizas do agir permitindo a harmonização do
desenvolvimento das garantias constitucionais processuais.
Trata-se de "reler os princípios e as garantias constitucionais"
sob a ótica da boa-fé objetiva.
A boa-fé objetiva:
 Diez-Picazo (1963) afirmava que “o conceito de boa-fé é um
dos mais difíceis de apreender dentro do Direito Civil e, é um
dos conceitos que tem dado a mais apaixonada polêmica.”

 Para Cachón Cadenas (2006) apesar de todo o esforço da


doutrina e da jurisprudência para circunscrever a noção da
boa-fé processual, não tem sido possível “suprimir a
indeterminação do conceito e a inevitável vagueza que a
consubstancia.
A boa-fé objetiva:
 Nesse contexto, a boa-fé objetiva apresenta-se como vetor
das condutas de todos os que participam da relação jurídica
processual, como valor que anima as garantias
constitucionais processuais com especial relevo para a
definição dos contornos do devido processo legal, bem como
os corolários do contraditório e da ampla defesa.
As três funções da boa-fé objetiva:
 A tentativa de visualizar a formação de modelos jurídicos que
possam ser construídos embasados em decisões
jurisprudenciais na seara do direito obrigacional, e com foco
nas funções para as quais a boa-fé objetiva é invocada a
operar, nos permite delimitar em três as funções típicas
desempenhadas pela boa-fé objetiva no direito brasileiro.
Sendo assim, pode-se definir a função tríplice da boá-fé
objetiva da seguinte forma:

1. Função interpretativa;
2. Função de controle ou limitadora; e
3. Função integrativa.
As três funções da boa-fé objetiva:
1. Função interpretativa: A boa-fé objetiva desempenha
inicialmente um papel de critério para a interpretação da
declaração da vontade nos negócios jurídicos

• Conforme determina o texto do caput do art. 113 do Código


Civil:
"Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-
fé e os usos do lugar da celebração".
As três funções da boa-fé objetiva:
• Pode-se observar que o referido artigo indica a primeira função
da boa-fé objetiva que é dirigir a interpretação do juiz ou
árbitro relativamente ao negócio celebrado.

• Impedindo que o Contrato seja Interpretado de forma a atingir


a finalidade oposta àquela que se deveria licitamente esperar.
As três funções da boa-fé objetiva:
2. Função de controle ou limitadora: A boa-fé objetiva atua como
forma de valorar o abuso no exercício dos direitos subjetivos.

• Conforme determina o texto do art. 187 do Código Civil:


"Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes".

• Pode-se observar que o referido artigo restringe e delimita os


direitos subjetivos exigindo que as partes devam agir pautadas
no fim econômico ou social, pela boa-fé e pelos bons costumes.
As três funções da boa-fé objetiva:
3. Função integrativa: A boa-fé objetiva atua como norma de
conduta imposta aos contratantes.

• Conforme determina o texto do art. 422 do Código Civil:


"Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-
fé".

• Pode-se observar que o referido artigo é sem dúvidas a função


desempenhada pela boa-fé objetiva mais comentada na doutrina
e da qual mais se vale a jurisprudência dos tribunais nacionais.
Deveres anexos de conduta:
 Por impor às partes contratantes deveres objetivos de
conduta, é que a terceira função da boa-fé objetiva ganhou
destaque.

 Tais deveres, não necessariamente precisam constar do


instrumento contratual para que sejam cobrados e
cumpridos.

 Tratam-se dos deveres secundários ou anexos, aos quais


todas as partes de um negócio devem manter estrita
observância.
Deveres anexos de conduta:
 Os deveres impostos pelo art. 422 do Código Civil foram
gradativamente construídos pela doutrina e jurisprudência,
entre os quais destacam-se o dever de informação, lealdade,
transparência, colaboração, cooperação e o sigilo. A
inobservância desses deveres gera a violação positiva do
contrato e sua consequente reparação civil, independente de
culpa.
Deveres anexos de conduta:
 O enquadramento legal da boa-fé objetiva sempre se
mostrará atrelada à tutela da confiança, sobretudo no que diz
respeito à aplicação desse princípio nos casos de
responsabilidade pré-contartual.

 Essa caracterização da boa-fé objetiva como a disposição de


deveres de conduta que as partes devem guardar difere
frontalmente da concepção clássica de boa fé subjetiva,
ligada a um estado psicológico do agente.
Qual a diferença?
Considerações Finais
 Não se podem vislumbrar as garantias processuais
constitucionais dissociadas da boa-fé objetiva. Para Córdoba
(2004) “A boa fé é princípio geral do direito e, portanto,
princípio diretor ou vetor de todo o ordenamento jurídico e,
como tal, inamovível.”
 Essa concepção ou formulação do conteúdo
 e da importância da boa-fé objetiva pode parecer, em um
primeiro momento, estarrecedora. No entanto, a
harmonização das garantias constitucionais processuais
conduz, inexoravelmente, ao efetivo acesso à justiça.
Considerações Finais
 Por fim, o negócio jurídico deve ser analisado sob uma
perspectiva tríplice, conhecida como “escada ponteana”,
devendo ser observados os planos da existência, validade e
eficácia. Frise-se que a boa-fé encontra-se na esfera da
validade, mais especificamente na manifestação da vontade,
a qual deve ser livre e de boa-fé, sob pena de invalidade do
negócio jurídico e responsabilização do agente, nos termos
do art. 187 do Código Civil.
Referências bibliográficas:
 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm Acesso em 05
de set. 2021
 BRASIL. Código de Processo Civil (2015). Código de Processo Civil Brasileiro. Brasília,
DF: Senado, 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869impressao.htm Acesso em 08 de set.
2021
 CACHÓN CADENAS, Manuel. La buena fe en el proceso civil. in El abuso del proceso:
mala fe y fraude de ley procesal. GUTIÉRREZ-ALVIZ CONRADI, Faustino (Org.). Madri:
Consejo General del poder judicial. Centro de documentación judicial. 2006, p. 217
 CÓRDOBA, Marcos. Palabras iniciales in Tratado de la buena fe en el derecho. Tomo I.
CÓRDOBA, Marcos (Dir.). 1. ed. Buenos Aires: La Ley, 2004, p. VII.
 DIEZ-PICAZO, Luis. La doctrina de los propios actos. Barcelona: Bosch. 1963.

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