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BOA-FÉ NOS CONTRATOS

Januário Madala1

Resumo: A obrigação como um negócio jurídico é uma relação jurídica estabelecida entre
devedor e credor e cujo objecto consiste em prestação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa,
ou seja, o direito das obrigações regula directamente relações sociais, na perspectiva das
relações estabelecidas directamente ente indivíduos. E sendo o contrato é um negócio jurídico
por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa-fé
objectiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia
das suas próprias vontades, Em sede dos contratos a boa-fé é indispensável, pois é que garante a
eticidade das relações contratais, por isso que nos termos art.º 227º cc, quem negoceia com
outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele,
proceder segundo as regras da boa-fé, sob pena de responder pelos danos que culposamente
causar à outra parte.

Palavras-chave: negócio jurídico; contrato; boa-fé.

Abstract: The juridical business is essentially a tool of regulating interests that come through
stipulation of the parts or the proper law that integrate the business. The civil code in the
art.280, it sees the requirements of the business, consecrate that the juridical business is null
whereby the object is physical or legally impossible, contrarily the law or undeterminable,
therefore, the juridical business is considered null when it goes in contrast to the public order, or
even offensive to good habits, if the juridical business finality is contrary from the public law,
or even, offensive to good habits, the juridical. business is only null when the purpose is
common for both sides, that can just be accomplished through the production of effects that was
needed by both sides, defects may come up in juridical business when imperfections come up
from anomalies in the will formation or in the declaration. Just to make sure that our law gives
more emphasis in the intention of both sides than exactly their declaration of will, thus, the
language that it is covered.

Keywords: juridical business, requirements of the business object.

Introdução

A vontade é a mola propulsora dos actos e dos negócios jurídicos. Essa vontade deve
ser manifesta ou declarada de forma idónea para que o ato tenha vida normal na
actividade jurídica e no universo negocial. Se essa vontade não corresponder ao desejo
do agente, o negócio jurídico torna-se susceptível de nulidade ou anulabilidade. Quando
a vontade em ao menos se manifesta, quando é totalmente tolhida, não se pode nem
mesmo se falar em existência do negócio jurídico.

1
Graduando em Direito pela Universidade Rovuma
Portanto o estudo do negócio jurídico é um dos pontos nodais do Direito Civil, já que
consubstancia a essência da relação entre indivíduos em um sistema jurídico. Na
classificação dos fatos jurídicos, o negócio jurídico situa-se na categoria dos actos
jurídicos lícitos, ao lado do ato jurídico stricto sensu.

Um dos aspectos mais relevantes do estudo do negócio jurídico, são os contratos


previsto no Código Civil. No presente trabalho, abordar-se-á a boa-fé nos contratos,
cujo objectivou-se á:

Analisar os corolários de boa-fé nos contratos a luz da lei e a Doutrina

E para consolidar essa análise, elencou-se como objectivos específicos:

Identificar os tipos de contratos típicos no código civil;


Descrever a manifestação do princípio de boa-fé nos contratos

Quanto aos procedimentos técnicos, foi aplicada a pesquisa Bibliográfica pelo facto de
ser uma das mais comuns. Com base neste tipo de pesquisa, recolhemos informações a
partir de textos, livros, artigos e demais materiais de carácter científico, como se pode
observar nas referências bibliográfica ao longo do nosso texto e segundo a lista
bibliográfica.

1. Conceito de negócio jurídico

A doutrina não é unânime quando ao conceito do negócio jurídico mas na essência o


Negócio jurídico é o fato jurídico, com elemento volitivo qualificado, cujo conteúdo
seja lícito, visando a regular direitos e deveres específicos de acordo com os interesses
das partes envolvidas.

Na perspectiva de António Junqueira de Azevedo2

O negócio jurídico como “todo fato jurídico consistente na


declaração de vontade, a que o ordenamento jurídico atribui os
efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos
de existência, validade e eficácia impostos pela norma jurídica
que sobre ele incide.

2
AZEVEDO, António Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade, op. cit., p. 16
Orlando Gomes3., por sua vez, dispara ser o negócio jurídico “toda declaração de
vontade destinada à produção de efeitos jurídicos correspondentes ao intento prático do
declarante se reconhecido e garantido pela lei”.

1.1 Requisitos do objecto Negocial

O negócio jurídico é essencialmente um instrumento de regulação de interesses que se


obtém através da estipulação das partes ou da própria lei que integra o negócio. A
regulação dos interesses usada pelas partes, alcança-se através da produção de efeitos
que foram queridos pelas partes. A produção desses efeitos corresponde ao fim do
negócio e está em correspondência com o próprio dos negócios, e com a sua eficácia.
Não basta apenas existir para que o negócio jurídico produza os efeitos para os quais foi
celebrado. é preciso ainda que se observe algumas exigências legais para que seja valido

Segundo Júlio césar4 para tal efeito a validade do negócio jurídico requer:

a) Agente Capaz - isto é, todos os sujeitos de direitos tem


capacidade de gozo, mas nem todos possuem capacidade de
exercício, assim para o que o negócio jurídico seja valido, é
imprescindível que no momento de sua celebração o agente
tenha capacidade de facto; b) Objecto Lícito, possível,
determinado ou determinável – ou seja, é lícito objecto que
não atenta a lei, a moral ou aos bons costumes. c) Formas
prescrita e não defesa em Lei.

Por esse imperativo o código civil ao abrigo do artigo 280 prevê Requisitos do objecto
negocial, consagra que É nulo o negócio jurídico cujo objecto seja física ou legalmente
impossível, contrário à Lei ou indeterminável. Grosso modo que É nulo o negócio
contrário à ordem pública, ou ofensivo dos bons costumes. Nos termos do Art.º 281 do
mesmo diploma, os negócios jurídicos com Finalidade contrário à lei ou à ordem
pública ou ofensivo dos bons costumes 5 Se apenas o fim do negócio jurídico for
contrário à lei ou à ordem pública, ou ofensivo dos bons costumes, o negócio só é nulo
quando o fim for comum a ambas as partes.

3
GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil, op. cit., p. 269
4
Júlio césar. Direito Civil parte geral. 2 edição, revista ampliada. 2015
5
No mesmo panorama o Art.º 282 do cc, estipula que o artigo negócios usurários é anulável, por
usura, o negócio jurídico, quando alguém, explorando a situação de necessidade, inexperiência,
ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de carácter de outrem, obtiver deste, para si
ou para terceiro, a promessa ou a concessão de benefícios excessivos ou injustificados.
1.2 Obrigações como negócios jurídicos

Obrigação é a relação jurídica estabelecida entre devedor e credor e cujo objecto


consiste em prestação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa. O direito das obrigações
regula directamente relações sociais, na perspectiva das relações estabelecidas
directamente ente indivíduos.

A forma de cooperação a que diz respeito o direito das obrigações pressupõe uma
relação entre sujeitos autónomos, independentes, e tem por objecto já não directamente
uma coisa, mas uma “prestação”, isto é, um comportamento de um dos sujeitos (o
devedor) no interesse ou para satisfação de um interesse do outro sujeito (o credor). Em
consonância, com o previsto art.º 397º do CC, Obrigação é o vínculo jurídico por
virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com outra à realização de uma prestação.

2. Conceito e tipologias de Contrato

Contrato é um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos
princípios da função social e da boa-fé objectiva, autodisciplinam os efeitos
patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades 6.
Os contratos podem ser: a) Bilaterais e b) Unilaterais.

2.1 Contratos Bilaterais

Esse tipo de contrato é o mais comum nas relações jurídicas, que é a convenção pela
qual duas pessoas se convencionam a celebrar um dado negócio jurídico, por forca da
liberdade contratual estipulado no artigo 405 do cc, e este esta sujeito a liberdade de
forma em consonância com o revisto no artigo art.º 219º que dispõe que a validade da
declaração negocial não depende da observância de forma especial, salvo quando a lei a
exigir. São exemplos de contratos bilaterais: a) contrato de compra e venda, que nos
termos do art.º 874º a é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou
outro direito, mediante um preço. B) Comodato, nos termos do art.º 1129º que é o
contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega à outra certa coisa, móvel ou imóvel,
para que se sirva dela, com a obrigação de a restituir. C) Mútuo em conformidade com
o art.º 1142º - Noção Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra
dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do
mesmo género e qualidade.
6
Gagliano e Filho, Novo curso de direito civil - Obrigações, vol. IV, 2005, pág. 12.
Outro exemplo é o Contrato de trabalho previsto no art.º 1152º do cc, que é aquele
pelo qual uma pessoa se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade
intelectual ou manual a outra pessoa, sob a autoridade e direcção desta. E por ultimo o
contrato de prestação de serviço que nos termos do art.º 1154º do cc, é aquele em que
uma das partes se obriga a proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho
intelectual ou manual, com ou sem retribuição.

2.2 Contratos unilaterais

Trata-se de negocio em que apenas uma parte convenciona-se a celebrar um contrato,


como é o caso de doação que ao brigo do art.º 940º é o contrato pelo qual uma pessoa,
por espírito de liberalidade e à custa do seu património, dispõe gratuitamente de uma
coisa ou de um direito, ou assume uma obrigação, em benefício do outro contraente.,
Promessa unilateral previsto no art.º 411º do CC, se o contrato-promessa vincular
apenas uma das partes e não se fixar o prazo dentro do qual o vínculo é eficaz, pode o
tribunal, a requerimento do promitente, fixar à outra parte um prazo para o exercício do
direito, findo o qual este caducará.

Enquadra-se nesse tipo de contrato o pacto de preferência consagrado no art.º 414º que
consiste na convenção pela qual alguém assume a obrigação de dar preferência a outrem
na venda de determinada coisa. Outro exemplo é a locação nos termos do art.º 1022º do
cc, que é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar à outra o gozo
temporário de uma coisa, mediante retribuição.

3. Princípios norteadores dos contratos


3.1 Autonomia Privada

Segundo Noronha (1994), “o contrato nasce de uma liberdade de contratar, liberdade


esta que é denominada autonomia de vontade, ou autonomia privada.”7 É no princípio
da autonomia da vontade que se funda o princípio da liberdade contratual, e este
consiste no poder de estipular livremente mediante acordo de vontades, a disciplina de
seus interesses, suscitando efeitos tutelados pela ordem jurídica8. A autonomia de
vontade e consequente liberdade contratual devem ser vistas sob dois aspectos, o da
liberdade de contratar propriamente dita, onde as partes de comum acordo estabelecem
7
Noronha, O direito do contrato e seus princípios fundamentais, 1994, pág. 113.
8
Diniz, Curso de direito civil brasileiro. Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais,
vol. III, 2002, pág 32
o conteúdo do contrato e a liberdade de contratar, que é a faculdade de realizar ou não
determinado contrato, esta, mais utilizada ao se referir aos contratos de adesão.

Do ponto de vista legal, em conformidade com o previsto no artigo 405 do cc, dentro
dos limites da lei, as partes tem a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos
contratos, celebrar contratos diferentes dos previstos neste código ou incluir nestes as
cláusulas que lhes aprouver. 2. As partes podem ainda reunir no mesmo contrato regras
de dois ou mais negócios, total ou parcialmente regulados na lei.

3.2 Obrigatoriedade da convenção

O princípio da obrigatoriedade da convenção ou do contrato consagra a ideia de que o


contrato, uma vez cumpridos os requisitos legais, torna-se obrigatório entre as partes,
que dele não se podem desligar senão por outro acordo. O contrato constitui uma
espécie de lei entre as partes, pacta sunt servanda.9 Este princípio não é, porém,
absoluto, podendo o tribunal modificar as cláusulas contratuais em certas circunstâncias,
por forma a equilibrar situações de manifesto desequilíbrio da posição contratual das
partes (princípio da equivalência das prestações).

Esse principio tem assento legal nos termos do artigo art.º 817º do cc, que prevê que
não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, tem o credor o direito de exigir
judicialmente o seu cumprimento e de executar o património do devedor, nos termos
declarados neste código e nas leis de processo.

3.3 Relatividade dos efeitos do contrato

O contrato vincula apenas as partes que o celebram, não podendo ser oposto a pessoa
que nele não teve participação. Pelo princípio da relatividade dos efeitos do negócio
jurídico, o contrato não prejudica e nem aproveita a terceiros, vinculando
exclusivamente as partes que nele intervieram, pois o ato negocial deriva do acordo de
vontade das partes, sendo lógico que apenas as vincule, não tendo normalmente eficácia
em relação a terceiros10.

9
Rodrigues, Direito civil, Dos contratos e das declarações unilaterais da vontade, vol. 3, 2002,
pág. 15
10
Diniz, Curso de direito civil brasileiro. Teoria das obrigações contratuais e extracontratuais,
vol. III, 2002, pág 39
Nos termos o artigo 406 do cc, o contrato deve ser pontualmente cumprido, e só pode
modificar-se ou extinguir-se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos
admitidos na lei. Em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos
especialmente previstos na lei.

3.4 Ordem pública

A ordem pública e os bons costumes, prevalece sobre o princípio da liberdade


contratual, cedendo esta quando as cláusulas contratuais contrariem aqueles princípios.
A ideia de ordem publica e constituída por aquele conjunto de interesses jurídicos e
morais que incumbe a sociedade preservar, os quais não podem ser alterados por
convenção entre particulares. Por isso que nos termos do art.º 280º cc é nulo o negócio
jurídico cujo objecto seja física ou legalmente impossível, contrário à lei ou
indeterminável. 2. É nulo o negócio contrário à ordem pública ou ofensivo dos bons
costumes.

Grosso modo o artigo art.º 281º do mesmo diploma legal, dispõe que se apenas o fim
do negócio jurídico for contrário à lei ou à ordem pública, ou ofensivo dos bons
costumes, o negócio só é nulo quando o fim for comum a ambas as partes.

4. Contexto histórico de Boa-fé

Associa-se a génese da boa-fé ao direito romano. O sistema romano se caracterizava


como um sistema de acções, e não de direitos, sobremaneira no período clássico, em
que surgem os iudida bonoe fidei. Judith Martins-Costa referenda-os como
procedimentos perante o juiz, nos quais se sentenciava, com arrimo na boa-fé, no campo
dos negócios jurídicos, nas hipóteses em que não havia texto expresso em lei,
conferindo-se ao magistrado um especial mandato para decidir o caso de acordo com as
circunstâncias concretas11.

O Ministro José Carlos Moreira Alve12 assevera que a bona fides no direito romano
das obrigações significava a fidelidade à palavra dada com o dever de cumprimento da
promessa. A sua função consistia em exigir que os contratantes actuassem sem dolo e
segundo o critério de relações leais, exigindo comportamento honesto positivo.

11
MARTINS-COSTA, Judith. A boa-fé no direito privado, op. dt., p. 122.
12
ALVES, José Carlos Moreira. A parte geral do projecto de Código Civil brasileiro, op. cit., p.
120-121.
Avançando no tempo," a boa-fé também se tornou uma presença no pensamento
jurídico da Igreja. A boa-fé canónica se traduziria na ausência do pecado, na linha de
valores do cristianismo.

Na perspectiva Marcelo13

Ao contrário do direito civil romano - no qual a boa-fé se aplicava à posse e


às obrigações, o direito canónico estendeu a boa-fé aos nuda pacta, ou seja, os
acordos meramente consensuais por ela também seriam abrangidos, em virtude
da transcendência do respeito pela palavra dada. A boa-fé, adquire uma
dimensão ética e axiológica por se situar em uma escala que traduz a
concretização da lei divina. Com efeito, é na Alemanha da Idade Média que
nasce a formulação da boa-fé que perduraria até a codificação de 1900 e,
posteriormente, migraria para as outras codificações romanísticas.

Explica Menezes Cordeiro que Treu und glauben exprime, em linguagem comum
escrita, as correspectivas noções de lealdade e crença/confiança que devem presidir as
relações negociais. O emprego jurídico dos termos é documentado desde o século XIV,
separadamente, e não muito adiante, de forma conjunta em uma fórmula par.

4.1 Conceito e subtipos de Boa-fé

Há-de salientar que existem duas acepções de boa-fé: a) subjectiva e b) outra


objectiva. A boa-fé subjectiva não é um princípio, e sim um estado psicológico em I que
a pessoa possui a crença de ser titular de um direito que em verdade só existe 1 na
aparência. O indivíduo se encontra em escusável situação de ignorância sobre a
realidade dos fatos e da lesão a direito alheio.

A boa-fé objectiva pressupõe: (a) uma relação jurídica que Ligue duas pessoas,
impondo-Lhes especiais deveres mútuos de conduta; (b) padrões de comportamento
exigíveis do profissional competente, naquilo que se traduz como bonus pater famiLias;
(c) reunião de condições suficiente para ensejar na outra parte um estado de confiança
no negócio celebrado.

Na perspectiva14

De forma concisa e objectiva, Fernando Noronha alude à distinção


entre a boa-fé subjectiva e a objectiva: "A primeira diz respeito a

13
Marcelo G. M. (2000), Lesão Contratual no Direito Brasileiro, op. São Paulo: RT;

14
NORONHA, Fernando. O direito dos contratos e seus princípios fundamentais, op. cit., p.
132
dados internos, fundamentalmente psicológicos, atinentes
directamente ao sujeito; a segunda a elementos externos, a normas de
conduta que determinam como ele deve agir. Num caso está de boa-fé
quem ignora a real situação jurídica; no outro, está de boa-fé quem
tem motivos para confiar na contraparte. Uma é boa-fé estado, a outra,
boa-fé princípio."

Conforme pondera Cláudio Godoy, "alguém pode perfeitamente ignorar o indevido de


sua conduta, portanto obrando de boa-fé (subjectiva) e, ainda assim, ostentar
comportamento despido da boa-fé objectiva, que significa um padrão de conduta Leal,
pressuposto da tutela da Legítima expectativa daquele com quem se contrata.

Daí dizer-se que pode alguém estar agindo de boa-fé (subjectiva), mas não segundo a
boa-fé (objectiva).

4.2 Boa-fé como princípio estruturante dos contratos

Em sentido objectivo, que é aquele que aqui interessa, a boa-fé constitui um princípio
geral de direito, um princípio normativo que implica a valoração da conduta das partes
como honesta, correcta e leal; é um princípio norteador de conduta, um padrão objectivo
de comportamento, um critério normativo de valoração 15. A boa-fé objectiva é o dever
de agir de acordo com determinados padrões em função da situação das contrapartes,
uma vez que é necessário ponderar, casuisticamente, se estão reunidas as condições
suficientes para criar na contraparte um estado de confiança no negócio celebrado, para
poder a expectativa ser tutelada16.

Em prol coma previsão do artigo 762º do cc, o devedor cumpre a obrigação quando
realiza a prestação a que está vinculado. No cumprimento da obrigação, assim como no
exercício do direito correspondente, devem as partes proceder de boa-fé.

5. Boa-fé nos contratos

Com grande senso de oportunidade, esclarece judith Martins-Costa que "a boa-fé
produz deveres instrumentais que são empregos para indicar que não derivam
necessariamente do exercício da autonomia privada nem de punctura explicitação
legislativa: sua fonte reside justamente no princípio, incidindo em relação a ambos os
participantes da relação obrigacional. O reconhecimento da existência dos deveres de

15
Stela Marcos de Almeida Neves Barbas, Colectânea de Jurisprudência – Acórdãos do STJ,
ano II, tomo 2º, Casa do Juiz, Coimbra, 1994, pág. 13
16
Noronha, O direito do contrato e seus princípios fundamentais, 1994, pág. 138.
conduta como forma de manifestação da boa-fé propícia um alargamento do conteúdo
contratual, "o qual não se reporta a uma vontade tácita das partes, mas resulta de uma
directa intervenção heterônoma, legitimada pela assunção de que o contrato atende, ou
deva atender, a finalidades sociais17.

Em sede dos contratos a boa-fé é indispensável, pois é que garante a eticidade das
relações contratais, por isso que nos termos art.º 227º cc, quem negoceia com outrem
para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele,
proceder segundo as regras da boa-fé, sob pena de responder pelos danos que
culposamente causar à outra parte. A responsabilidade prescreve nos termos do artigo
498º do cc18. Mesmo em negócios simulados nos termos do artigo 243 do cc, a boa-fé
consiste na ignorância da simulação ao tempo em que foram constituídos os respectivos
direitos. Considera-se sempre de má-fé o terceiro que adquiriu o direito posteriormente
ao registo da acção de simulação, quando a este haja lugar.

Um exemplo muito sobre aplicabilidade de boa-fé em contratos, é o que se vislumbra


no contrato de compra e venda previsto no art.º 892º do CC, que só é nula a venda de
bens alheios sempre que o vendedor careça de legitimidade para a realizar; mas o
vendedor não pode opor a nulidade ao comprador de boa-fé, como não pode opô-la ao
vendedor de boa-fé o comprador doloso. Em sede celebração ou comprimento das
cláusulas de um determinado contrato tendo uma das partes litigado de má-fé, a outra
parte nos termos Art.º 817º do cc, o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e
de executar o património do devedor, nos termos declarados neste código e nas leis de
processo.

E do ponto de vista processual ao abrigo do artigo 456 do CPC, dispõe que tendo
litigado de má-fé a parte será condenada em multa e numa indeminização a parte
contraria, se esta a pedir, e nos termos do n o. 2 do mesmo dispositivo legal, diz-se
litigante de má-fé não só oque tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de
fundamento não ignorava como também o que tiver conscientemente alterado a verdade
dos factos ou omitido factos essenciais e o que tiver feito do processo ou dos meios

17
. MARTINS-COSTA, Judith. Diretrizes teóricas do novo Código Civil brasileiro, p. 199.
18
Que prevê que não responde pelas consequências do facto danoso quem, no momento em que
o facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou querer, salvo se o
agente se colocou culposamente nesse estado, sendo este transitório.
processuais em uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo
ilegal ou de entorpecer a acção da justiça ou de impedir a descoberta da verdade.

Conclusão

Chegado a este ponto conclui-se que a manifestação de vontade é essencial para que o
negócio exista. Porem, para que produza os efeitos pretendidos, é preciso que seja
também valido e, pra tanto, exige-se que a manifestação de vontade ocorra de forma
livre, guarde correspondência com a intenção do agente e não contrarie a lei. Caso
contrário, a vontade será defeituosa inapta a conceber um negócio jurídico valido,
sujeitando-o á nulidade ou á anulação.

Em sede dos contratos a boa-fé é indispensável, pois é que garante a eticidade das
relações contratais, por isso que nos termos art.º 227º cc, quem negoceia com outrem
para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares como na formação dele,
proceder segundo as regras da boa-fé, sob pena de responder pelos danos que
culposamente causar à outra parte. A responsabilidade prescreve nos termos do artigo
498º do cc19. Mesmo em negócios simulados nos termos do artigo 243 do cc, a boa-fé
consiste na ignorância da simulação ao tempo em que foram constituídos os respectivos
direitos. 3. Considera-se sempre de má-fé o terceiro que adquiriu o direito
posteriormente ao registo da acção de simulação, quando a este haja lugar.

Referências Bibliográfica

Azevedo, A. J. (1999), Negócio jurídico: existência, validade e eficácia revista


ampliada;

Delgado, L. J. F. (2007), Questões controvertidas no novo Código Civil. São Paulo:


Método, v. 6;
19
Que prevê que não responde pelas consequências do facto danoso quem, no momento em que
o facto ocorreu, estava, por qualquer causa, incapacitado de entender ou querer, salvo se o
agente se colocou culposamente nesse estado, sendo este transitório.
Diniz, M. H. (2003), Curso de Direito Civil Brasileiro, São Paulo: RT;

Gomes, O. (2003), Introdução ao Direito Civil, Revista dos Tribunais;

Júlio C. (2015), Direito Civil parte geral. 2 Edição, revista ampliada;

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Rodrigues, S. (2002), Direito Civil. 32 ed. São Paulo: Saraiva.

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