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1- INTRODUCAO

O presente trabalho visa a análise dos princípios contratuais existentes na história do


Direito Civil, dos mais clássicos aos mais modernos, todos essenciais para as
relações jurídicas por estabelecerem equilíbrio e justiça entre as partes que se
obrigam através de um contrato.

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2- Conceito de Contratos

Contratos, em Direito Civil, são acordos realizados entre duas ou mais partes na
conformidade da ordem jurídica. Eles são considerados um instrumento através do qual
os indivíduos podem expressar suas vontades. Assim, um contrato estabelece
juridicamente a expressão vontade de todas as partes envolvidas em seu acordo.
Na ideia canônica: “contractus est duorum vel plurium um idem placitum consensus”,
ou seja, contrato é o consentimento de dois ou mais no mesmo lugar; são vontades que
se encontram.
Orlando Gomes , jurista brasileiro, resume da seguinte forma:
“Contrato é, assim , o negócio jurídico bilateral, ou plurilateral, que sujeita às partes
a observância de conduta idónea à satisfação dos interesses que regulam”. (Orlando
Gomes. Contratos. Editora Forense).
Como negócio jurídico, o contrato, para ser considerado válido, deve atender aos
requisitos elencados no Código Civil, quais são: agente capaz (requisito subjetivo),
objeto lícito, possível, determinado ou determinável (requisito objetivo) e forma
prescrita e não defesa em lei (requisito formal).
Por ser o resultado da vontade de duas ou mais partes, o contrato pode ser classificado
como bilateral (quando temos duas partes contratantes) ou plurilateral (quando temos
mais de duas partes contratantes). Não há, pois, em relação ao número de partes, um
contrato unilateral, já que o contrato pressupõe ao menos duas partes manifestando suas
vontades por um interesse em comum.
Além disso, o contrato gera obrigações, mas não necessariamente para todos os
contratantes. Nesse sentido, o contrato pode ser unilateral (quando só uma das partes
possui obrigações, como a doação pura, por exemplo), ou bilateral (quando todas as
partes têm obrigações, como na compra e venda, por exemplo).
3- Princípios básicos

Os princípios jurídicos podem ser entendidos como o fundamento, a base das leis.
Eles orientam e direcionam todo o seu entendimento.
Com o Direito Civil não seria diferente. Portanto, existe princípios básicos sobre os
quais os contratos devem ser fundamentados, tais como:
1. Princípio da autonomia da vontade
2. Princípio do consensualismo
3. Princípio da obrigatoriedade da convenção
4. Princípio da relatividade dos efeitos do contrato
5. Princípio da boa-fé.
6. Princípio da função social.

1-Princípio da autonomia da vontade

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Todos os lados, interessados devem ser capazes de decidir de livre e espontânea
vontade pelo contrato.
Por esse princípio, deve haver autonomia para efetivar a decisão de participar do
acordo.
Derivada do grego, a palavra “autonomia” refere-se a capacidade que o indivíduo, por si
próprio em se regrar:
Autonomia=auto(próprio) + nomos (norma/regra)=autorregulação
No livro O Contrato, Enzo Roppo assim define:
“Com base nesta, afirmava-se que a conclusão dos contratos, de qualquer contrato,
devia ser uma operação absolutamente livre para os contraentes interessados: deviam
ser estes, na sua soberania individual de juízo e de escolha, a decidir se estipular um
certo contrato, a estabelecer se concluí-lo com esta ou aquela contraparte, a
determinar com plena autonomia seu conteúdo , inserindo lhe estás ou aquelas
cláusulas , convencionando este ou aquele preço”.
Desse modo o princípio da autonomia da vontade prevê que o contratante e contratado
possam decidir livremente pelo acordo ou não.
Ainda, o contrato deve ser resultado da livre e consciente manifestação de vontade das
partes contratantes, não sendo admitidos aqueles provenientes de erro, dolo, coação ou
outros vícios, podendo ser anulados.
Fábio Ulhoa Coelho condiciona o princípio da autonomia da vontade à existência de
equilíbrio entre os contratantes.
O princípio da liberdade das partes encontra limites voltados à defesa da parte
economicamente mais fraca do contrato, objetivando igualar os contratantes no que diz
respeito ao acesso às informações necessárias para a realização do negócio jurídico.
Liberdade contratual artigo 405 do código Civil.
2- Princípio do consensualíssimo
Para formar um contrato, basta as vontades de ambas partes. Estando duas ou mais
pessoas em comum acordo, o consenso está definido e, portanto, o contrato pode ser
firmado.
“Não é preciso haver qualquer início de execução da prestação, forma, sinal, ou causa
para que o contrato seja eficaz entre as partes: é suficiente o acordo de vontades
despido , o chamado nudum pactun”. (Renato José de Moraes – Cláusula Rebus Si
Stantibus).
Assim, o princípio do consensualíssimo fundamenta que basta haver o consentimento
das partes para que o contrato possa ser acordado. Artigo 406 do código Civil.
No código Civil Art. 874. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á
obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.
Observando o artigo 874, entende -se que tanto o pagamento quanto a entrega do
objeto constituem outra fase, qual seja, a do cumprimento das obrigações

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assumidas pelas partes. Art. 874. Pelo contrato de compra e venda, um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe
certo preço em dinheiro. Dentre os tipos de contratos, existem algumas poucas
exceções no que se refere a sua consolidação, que só ocorre quando da entrega
da coisa ou objeto, logo após o acordo de vontades. Nestes casos, o acordo por
si só, embora necessário, não é suficiente. O contrato de mútuo é um exemplo.
Outro caso é o contrato de depósito em que só se conclui com a entrega da
coisa ao depositário. Também nesta linha enquadra-se o contrato de comodato.

3- Princípio da obrigatoriedade da convenção


Como vimos, é necessário haver vontade e consenso entre as partes interessadas para se
firmar o contrato.
Ou seja, todos os que selaram o acordo o fizeram plenamente capazes para optar pelo
sim ou pelo não, havendo, para isso, desejo de ambas as partes.
Por consequência, contratante e contratados devem cumprir o que foi acordado.
Novamente Enzo Roppo dá mais detalhes sobre o ponto em questão:
“Cada um é absolutamente livre de comprometer-se ou não, mas, uma vez que se
comprometa, fixa ligado de modo irrevogável à palavra dada: 'pacta sunt servanda'.
Um princípio que, além da indiscutível substância ética, apresenta também um
relevante significado econômico: o respeito rigoroso pelos compromissos assumidos é,
de facto, condição para que as trocas e as outras operações de circulação da riqueza
se desenvolvam de modo correto e eficiente segundo a lógica que lhes é própria, para
que não se frustrem as previsões e os cálculos dos operadores”.
Logo, o princípio da obrigatoriedade da convenção determina que o contrato precisa ser
celebrado por aqueles que dele fazem parte.
o princípio da força obrigatória dos contratos traz ao contrato a vinculação das partes,
ou seja, as partes estão obrigadas ao cumprimento do contrato (pacta sunt servanda - os
pactos devem ser cumpridos).

4- Princípio da relatividade dos efeitos do contrato


No Direito Civil, os contratos firmados entre uma ou mais pessoas especificam um
compromisso que precisa ser assumido por todas partes .
A relação contratual firmada estipula que o acordo seja plenamente cumprido, podendo
haver penalidades caso não o seja celebrado.
Mas as obrigações determinadas em contrato são de cumprimento exclusivo daqueles
que fazem parte do acordo.
Dessa forma, pode-se dizer que terceiros não envolvidos na relação contratual não estão
submetidos ao efeito deste (rés inter alios acta negue prodest).

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O contrato, em regra, por força da obrigatoriedade dos contratos, vincula
exclusivamente as partes contratantes, não aproveitando nem prejudicando terceiros à
relação jurídica. Assim, os direitos e obrigações assumidos em um contrato se limitam
apenas aos contratantes.
Dessa forma, o princípio da relatividade dos efeitos contratuais dispõe que as
estipulações do contrato só têm efeitos entre as partes contratantes, não atingindo
terceiros estranhos ao negócio jurídico.
Dentro dessa perspetiva, terceiro é aquele que não é parte contratante, sendo totalmente
estranho ao contrato ou à relação sobre a qual ele estende seus efeitos
Para Maria Helena Diniz, entretanto, o acto negocial deriva de acordo de vontades das
partes, sendo lógico que apenas as vincule, não tendo eficácia em relação a terceiros.
Assim, ninguém se submeterá a uma relação contratual, a não ser que a lei o imponha
ou a própria pessoa queira.
Assim, o princípio da relatividade dos efeitos contratuais tem algumas exceções, como,
por exemplo, nos casos: (i) dos herdeiros universais (artigo 2.157 do Código Civil) de
um contratante que, embora não tenha participado da celebração do contrato, sofrem
seus efeitos (princípio geral do direito ubi commoda ibi incommoda); porém, a
obrigação assumida pelo de cujus não lhes será transmitida além da herança; e (ii) da
estipulação em favor de terceiros, do contrato por terceiro e do contrato com pessoa a
declarar, que podem estender seus efeitos a outras pessoas alheias à celebração do
contrato, constituindo a elas direitos ou deveres (como é o caso do seguro de vida).
A concepção de que as estipulações do contrato só tem efeito entre os contratantes é
coerente com o modelo clássico de contrato, uma vez que gera a satisfação de
necessidades exclusivamente individuais das partes.
5- princípio da boa-fé
Este princípio pode ser descrito como um padrão ético de conduta para todas as partes
nas relações contratuais.
O código Civil prevê a boa-fé em três artigos que sejam:
1- Sobre o exercício do Direito;
2- Sobre a interpretação jurídica;
3- Boa-fé contratual.

É necessário destacar que a boa-fé pode ser considerada objetiva ou subjetiva, sendo:
 Boa-fé objetiva: é baseada em comportamentos morais , éticos e legais, de
acordo com o que descreve o próprio Código Civil.
 Boa-fé subjetiva: está se refere ao próprio sujeito, está, portanto,ligada à
moralidade dos actos pessoais do indivíduo.

A boa-fé dos contratantes deve existir em todas as fases do contrato (na tratativa
negocial, na formação, na execução e na extinção), devendo as partes esclarecerem os

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fatos e o conteúdo das cláusulas, objetivando o equilíbrio das prestações, o respeito
mútuo e a cooperação entre os contratantes.
6- princípio da função social dos contratos
Para Humberto Theodoro Júnior, “a função social do contrato consiste em abordar a
liberdade contratual em seus reflexos sobre a sociedade (terceiros) e não apenas no
campo das relações entre as partes que o estipulam (contratantes)”.
Os contratantes, embora sejam livres para ajustar os termos do contrato, deverão agir
sempre dentro dos limites que se fazem necessários para evitar que o seu negócio
prejudique injustamente terceiros alheios ao contrato.
Fábio Ulhoa Coelho entende que a consequência para a inobservância do princípio da
função social dos contratos é a nulidade do negócio jurídico, responsabilizando os
contratantes pela indenização dos prejuízos provocados.
O princípio da função social dos contratos, então, é de suma importância para que os
interesses individuais não ultrapassem os interesses coletivos e sociais, levando para as
relações contratuais mais justiça e iguald

4- Conclusão

Procurou-se demonstrar, ao longo do trabalho, a variedade de princípios a que o direito


contratual está intimamente ligado e sua importância para as relações contratuais.
As relações contratuais devem ser regidas pelos princípios da boa-fé objetiva, do
equilíbrio econômico entre os contratantes e da função social do contrato.
Os princípios contratuais, portanto, ao regularem as relações contratuais, embora
confiram a liberdade de contratar, a obrigatoriedade no cumprimento das obrigações e a
relatividade de seus efeitos, limitam os interesses individuais dos contratantes às noções

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de boa-fé, de equilíbrio contratual e de função social, imprescindíveis para a justiça e
igualdade.

5- Referencias Bibliográficas

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 3: teoria das obrigações
contratuais e extracontratuais. 32 ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, 3: contratos. 5. Ed. São Paulo: Saraiva,
2012.
Passei direto, princípios fundamentais dos contratos.

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Código Civil, 5 edição., plural editores.

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