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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS

NAMPULA

2023
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE DIREITO

APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS

Trabalho em grupo de carácter avaliativo,


referente à cadeira de Direito Penal I, ministrada
na Faculdade de Direito da UCM, Licenciatura
em Direito, 2o Ano, 1º Semestre, elaborado pelo
4º Grupo. A ser entregue no dia 28 de Fevereiro
de 2023.

Docente: Dra. Tehssin M. Ikbal

NAMPULA

2023

i
LISTA DE ABREVIATURAS

CRM – Constituição da República de Moçambique

CP – Código Penal

ONU – Organização das Nações Unidas

Art.º – Artigo

Pp – Páginas

P - Página

Nº - Número

S/ed – Sem Edição

Ed - Edição

Ob. cit. - Obra citada

Idem – O mesmo autor ou mesma obra

Ss – Seguintes

Vol.-Volume

ii
ÍNDICE
INTRODUÇÃO......................................................................................................................1

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS...........................................................................................2

1. Designação do Direito Penal ou Direito criminal............................................................2

1.1. Definição do Direito Penal...........................................................................................2

1.2. A Tutela do Direito Penal.............................................................................................3

2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS.............................................4

3. PRINCÍPIO DA IGUALDADE.......................................................................................5

4. IMUNIDADES OU EXCEPÇOES A APLICAÇAO DA LEI PENAL QUANTO AS


PESSOAS................................................................................................................................5

4.1. Imunidades de Direito Público Interno e Internacional...............................................6

4.2. Imunidades ou Excepções Diplomáticas ou Consulares..............................................7

4.2.1. Extensões da Imunidade Diplomática......................................................................8

4.3. Imunidades dos Representantes Membros da ONU.....................................................9

4.4. Imunidades ou Excepções Processuais......................................................................10

4.4.1. Espécies das Imunidades Diplomáticas..................................................................10

4.5. Prerrogativas do Presidente da República..................................................................11

4.5.1. Deputados da Assembleia a República...................................................................11

4.5.2. Membros do Governo.............................................................................................12

5. Imputabilidade e Inimputabilidade................................................................................13

5.1. Responsabilidade Penal..............................................................................................13

5.2. A Responsabilidade por factos próprios e proibição da Responsabilidade por factos


de outrem...............................................................................................................................14

5.3. A Responsabilidade das Pessoas Colectivas..............................................................14

CONCLUSÃO......................................................................................................................16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................17

iii
INTRODUÇÃO
O Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas, que visam ditar as infracções
penais e as suas devidas sanções. Neste contexto, o Direito, dentre seus diversos ramos, existe
desde os primórdios da humanidade, tendo como fim regular a vida em sociedade. A
finalidade do Direito Penal é tutelar determinados bens jurídicos considerados importantes
para a sociedade. Dessa forma, o Estado visa proteger os bens jurídicos mais importantes,
intervindo apenas nos casos de lesão àqueles fundamentais para a vida em sociedade,
exercendo aquele que é o seu poder punitivo.

Entretanto, essa aplicação da lei penal do Estado pode encontrar certos


condicionamentos, em relação a certas pessoas, ou a pessoas que ocupam certos cargos, em
relação a actos praticados por essas pessoas. É neste contexto, que o presente trabalho tem o
objectivo de discutir sobre a aplicação da lei penal quanto as pessoas, para perceber como
funcionam certos privilégios, prerrogativas e imunidades concedidas a certas pessoas, em
razão dos cargos que ocupam e das funções que exercem no direito interno e internacional,
para permitir o exercício livre e eficaz das suas funções.

No entanto, partindo do pressuposto de que todas as pessoas são iguais perante


a lei, o trabalho procurará analisar, porque a Constituição da República de Moçambique, o
Direito internacional e concretamente o código Penal, permitem este tratamento diferenciado
na aplicação da lei penal em relação as pessoas, onde sem dúvidas perceber-se-á que essas
diferenciações não são atribuídas as pessoas em si, mas aos cargos e funções que exercem.
Nos mesmos moldes, falaremos das imunidades na aplicação da lei penal concretamente, as
imunidades no direito interno e internacional, imunidades dos membros do governo, dos
deputados, dos diplomatas, dos representantes membros da ONU, das prerrogativas do
Presidente da República, bem como da imputabilidade, inimputabilidade, da responsabilidade
penal, da intransmissibilidade das penas e por fim das responsabilidades das pessoas
colectivas.

Este trabalho é de extrema importância, pois, como estudantes de Direito é


impréscindível que estejamos dotados de conhecimentos, sobre a aplicação da lei penal
quanto as pessoas, no direito interno e internacional. O trabalho esta organizado seguindo as
normas de produção académica, adoptadas pela faculdade de Direito da Universidade Católica
de Moçambique e com a estrutura exigida pelo Docente.

1
1.1. Noção de Direito Penal

O Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que visam ditar as infracções


penais e as devidas sanções. O direito penal em sentido objectivo é entendido como o
conjunto de normas que ditam as sanções, que entende-se em termo latim por ius Puenale.
Enquanto em sentido subjectivo, é o ius Puniendi, que é o poder punitivo do Estado resultante
da sua soberania e competência para considerar como crime certos comportamentos humanos
e ligar-lhes sanções específicas.

Portanto, o Direito Penal designa a parte do ordenamento jurídico que


determina os pressupostos da punibilidade, bem como os caracteres específicos da conduta
punível, cominando determinadas penas e prevendo, a par de outras consequências jurídicas,
especialmente medidas de tratamento e segurança. 1 Assim, o Direito Penal é o conjunto das
prescrições emanadas do Estado que ligam ao crime como facto e a pena como consequência. 2
Ou seja, o Direito Penal é antes um ramo de Direito Público constituído por um conjunto de
normas e princípios jurídicos que ligam ao crime ou delito, como facto, a pena e medidas de
segurança, como consequências jurídicas.

Nesse sentido, chama-se direito penal ao conjunto das normas jurídicas que
ligam a certos comportamentos humanos, os crimes, determinadas consequências jurídicas
privativas deste ramo de direito. A mais importante destas consequências, tanto do ponto de
vista quantitativo, como qualitativo (social) é a pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do
crime que tenha actuado com culpa. Ao lado da pena prevê, porém, o direito penal outro
género de consequências jurídicas, são as medidas de segurança, as quais não supõem a culpa
do agente, mas a sua perigosidade. 3 Pode-se ainda conceituá-lo, como o conjunto de normas
jurídicas que materializando o poder punitivo do Estado, define as infracções penais (crimes e
contraversões) e comina as sanções correspondentes (penas, medidas de segurança ou
consequência legal), estabelecendo ainda os princípios e garantias em face do exercício deste
poder, ao mesmo tempo em que cria os pressupostos de punibilidade.4

In fine, o Direito Penal ou Criminal é um conjunto de normas jurídicas que tem


um certo tipo de estrutura, que normalmente fazem corresponder a uma certa situação de

1
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
2
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
3
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
4
QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008, p.3.
2
facto, a que se chama crime, uma certa sanção a que se chama pena, no seu sentido mais
rigoroso, mais característico.

2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL QUANTO AS PESSOAS

O problema da aplicação da lei penal quanto às pessoas é um dos aspectos que


diz respeito a Teoria da lei penal, tanto quanto o problema relativo a aplicação da lei penal no
tempo e o relativo a aplicação da lei penal no espaço. Isto porque, o nosso direito e
concretamente à Constituição da República têm algumas regras especiais em relação a certas
pessoas, ou a pessoas que ocupam certos cargos, quanto ao funcionamento da lei penal, em
relação a actos praticados por essas pessoas.5

Contudo, pode parecer, e de certo modo acaba por funcionar como tal, uma
violação do princípio da igualdade, só que essas eventuais excepções são feitas pela própria
constituição e portanto não se levanta o problema de inconstitucionalidade, a não ser por
quem admita, de forma mais ou menos metafísica, que é possível haver normas
constitucionais feridas de inconstitucionalidade. 6

Entretanto, apesar da lei penal através do princípio da igualdade ditar que


deverá a lei penal, ser aplicada para todos, não concedendo privilégios para pessoas que
limitem a aplicabilidade da mesma. Há, no entanto, pessoas que por virtude das suas funções
na estrutura orgânica do Estado ou em razão de regras de Direito Internacional gozam de
imunidades.7 Ou seja, trata-se de situações em relação às quais se verifica um
condicionamento na instauração ou prossecução do procedimento penal. 8 Nesses termos não é
propriamente uma limitação da aplicabilidade da lei penal substantiva, mas uma limitação da
competência jurisdicional dos tribunais. Assim, é preciso, todavia, distinguir as excepções de
carácter substantivo das excepções de carácter adjectivo ou processual.9

3. PRINCÍPIO DA IGUALDADE

Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão
sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou

5
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I, 2ª edição, aafdl editora, 1984. P.505.
6
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984. p.505.
7
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 318
8
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.190
9
FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição, Verbo editora 1982,
p.157.
3
opção política, como se estabelece no art.º 35º da CRM. 10 Portanto, dizer que todas as pessoas
são iguais perante a lei, quer dizer que a lei criminal moçambicana aplica-se a todos os
cidadãos que se encontrem a ela vinculados. Isto é, os cidadãos encontram-se em paridade
jurídica na atribuição de direitos e deveres ou obrigações (paridade de tratamento jurídico,
desde que as condições, a capacidade e as atitudes sejam idênticas).11

Esta é uma regra geral, contudo, em certos sectores, sofre desvios, concedendo-
se algumas prerrogativas a certas pessoas em razão das funções que ocupam, ou de
compromissos decorrentes do direito internacional. Portanto, são regras do direito público
interno e do direito internacional público que impõem tratamento peculiar a certas pessoas em
função dos cargos que exercem, com o objectivo de que tais funções serão exercidas sem
perturbações. Portanto, as prerrogativas em causa não constituem privilégios pessoais, mas às
funções exercidas.12

Existem, assim, prerrogativas do direito penal substantivo e prerrogativas do


direito penal processual ou de carácter adjectivo. As substantivas subtraem as pessoas que
delas desfrutam da aplicação da lei penal, como que apagassem o crime, as segundas, as
processuais, criam condições especiais em sede processual, fazendo o procedimento penal
depender de certas condições.13

4. IMUNIDADES OU EXCEPÇOES A APLICAÇAO DA LEI PENAL QUANTO


AS PESSOAS

As imunidades constituem privilégios por força dos quais as pessoas a quem


são atribuídos não ficam sujeitas à jurisdição do Estado ou não lhe são aplicáveis as sanções
nas leis penais.14 Discute-se na doutrina a natureza destes privilégios, se são de natureza
substantiva ou simplesmente adjectiva, isto é, se gozam de uma isenção quanto à
inaplicabilidade das penas previstas nas leis penais para os factos por eles praticados e aos
quais, segundo os princípios gerais, seria aplicável a lei penal moçambicana, o que poderia
qualificar-se como causa de não punibilidade, ou simplesmente se gozam de, se não
submeterem à jurisdição penal moçambicana.15 Assim, a natureza substantiva ou processual

10
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
11
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
12
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
13
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.195
14
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editora Verbo, 2001, pág. 321
15
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 321
4
das imunidades só pode determinar-se em razão de cada imunidade concreta, em função dos
termos que a lei atribui.

As imunidades costumam classificar-se em absolutas e relativas. São absolutas


as que exime de responsabilidade ou isentam de submissão à jurisdição por qualquer crime.
São relativas as que resultam do exercício de determinadas funções. Contudo, o fundamento
das imunidades, internas e internacionais, é sempre a natureza política, interna ou
internacional.16

4.1. Imunidades de Direito Público Interno e Internacional

As imunidades diplomáticas encontram fundamentos na Convenção de Viena,


assinada em 18 de Abril de 1961.17 No entanto, estas imunidades foram criadas para que
houvesse extremo respeito ao Estado representado, e para que as pessoas que exerçam essas
funções possam exercê-las de forma eficaz. Assim, essa imunidade não deve ser vista como
benefício ou privilégio pessoal, e sim como uma prerrogativa funcional, pois estas só são de
alcance a pessoas como certas funções ou atividade que exercem.18

As imunidades absolutas são reservadas aos chefes de Estado estrageiros, são


pois, imunidades de direito público internacional geral. As imunidades podem ser relativas ou
funcionais tanto podem ser de direito publico interno e de direito público internacional.
Assim, são as imunidades de direito publico interno, as que gozam os deputados da
assembleia da república,19 Nos termos do artigo 173 n.°1, 2 e 3 da Constituição da República
de Moçambique.20

Entretanto, são imunidades de direito público internacional as que gozam os


diplomatas e agentes internacionais equiparados aos agentes diplomáticos 21, trata-se das
imunidades diplomáticas decorrentes do Direito Internacional Público, a qual leva em
consideração a função exercida pelo autor do crime.22

16
MIRABET, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição,
2007, p.60.
17
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961
18
OLIVEIRA, Laís Alves de; e PRADO, Florestan Rodrigo do, Lei Penal em relação às pessoas, disponível
em: https://laisalves526.jusbrasil.com.br/artigos/359790178/lei-penal-em-relacao-as-pessoas acesso: 26/02/2023
19
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 322.
20
Cfr art.º 173 da Lei n° 1/2018 de 12 de Junho: Aprova a Constituição da República de Moçambique, in
Boletim da República.
21
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 322.
22
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
2019 p.46
5
4.2. Imunidades ou Excepções Diplomáticas ou Consulares

A concessão de privilégios a representantes, relativamente aos actos ilícitos por


eles praticados, é antiga praxe no direito das gentes, fundando-se no respeito e consideração
ao Estado que representam, e na necessidade de cercar sua actividade de garantia para
desempenho de sua missão diplomática ou consular. 23 Assim, estas poderiam também
enquadrar-se num princípio de extraterritorialidade.

As imunidades diplomáticas provêm do direito internacional, e são aplicáveis


aos chefes de Estado e de Governos estrangeiros e representantes desses governos no
território nacional. Portanto, essas entidades estão, graças ao direito internacional, excluídos
da jurisdição penal moçambicana.24

Neste contexto, é costume e prática internacional que os Chefes de Estado


estrangeiros, quando não viajem incógnitos, e pratiquem factos criminais, não possam ser
punidos, devendo apenas ser convidados a retirarem-se ou serem expulsos, pedindo-se depois
reparações por via diplomática.25 É o caso típico das prerrogativas penais substantivas, pois
embora sujeitos aos preceitos penais primários das normas penais, escapar ao preceito
secundário que é a pena. Mas seja como for, eles devem, por estarem sujeitos ao preceito
primário, evitar a prática da infracção.26

Entende-se com isto, que os chefes de Estado e os representantes de governos


estrageiros estão excluídos da jurisdição criminal, ou seja, da jurisdição penal em países em
que estes exercem as suas funções. É possível, porém, a renúncia à imunidade da jurisdição
penal que, entretanto, é da competência do Estado Anfitrião, e não do agente diplomático,
pela própria natureza do instituto. Assim, a imunidade não afasta, porém, a possibilidade de
ser o agente diplomático processado em seu Estado de origem.27

Neste contexto, a imunidade tem início com a entrada do agente diplomático


no território do Estado Anfitrião para assumir o seu posto e perdura enquanto permanecer no
exercício de suas funções até que venha a sair do país ou transcorra o prazo fixado para fazê-
lo. Cobre também a imunidade o chefe de Estado estrangeiro que visita o país, bem como os

23
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição,
2007, p.65.
24
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
25
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.191
26
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
27
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, ob. cit. p.65.
6
membros de sua comitiva. É costume retirar o agrément aos diplomatas que praticarem delitos
no país, fazendo-os assim sair do território e permitindo que os respectivos países os julguem.
O mesmo, em regra, se aplica aos agentes internacionais equiparados aos agentes
diplomáticos, ao pessoal oficial das missões diplomáticas, bem como à família destes e em
certa medida aos cônsules.28

As sedes diplomáticas (embaixadas, sedes de organismos internacionais) são


consideradas extensão de território estrangeiro, embora sejam invioláveis como garantia aos
representantes. Na Convenção de Viena, determina-se que os locais das missões diplomáticas
são invioláveis, não podendo ser objecto de busca, requisição, embargo ou medida de
execução. Fica assegurada a protecção a seus arquivos, documentos, correspondência etc.
Todavia, os delitos cometidos nas representações diplomáticas serão alcançados pela lei
moçambicana se praticados por pessoas que não gozem de imunidade.29

4.2.1. Extensões da Imunidade Diplomática

Vale destacar, preambularmente, que a imunidade não se restringe ao agente


diplomático e sua família. Conforme a disciplina da Convenção de Viena sobre Relações
Diplomáticas de 1961, essa imunidade também se estende às seguintes pessoas:

 Aos membros do pessoal administrativo e técnico da missão, além dos familiares que
com eles vivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele
tenham residência permanente, nos termos do art.º 37, n. o 2º, da Convenção de Viena
de 1961;
 Aos membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do Estado
acreditador nem nele tenham residência permanente, quanto aos actos praticados no
exercício de suas funções, nos termos do art.º 37, n. 3º, da Convenção de Viena de
1961;30
 Funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc), quando em serviço.
Não se aplica, contudo, aos criados particulares dos membros da missão.
4.3. Imunidades dos Representantes Membros da ONU

A Convenção das Nações Unidas sobre Privilégios e Imunidades, de 13 de


Fevereiro de 1946, é um instrumento jurídico internacional destinado a conceder privilégios e
28
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.191
29
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, ob. cit. p.65.
30
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961.
7
imunidades às Nações Unidas, nos territórios dos Estados Membros da Organização, bem
como aos seus funcionários no exercício de funções relacionadas com a Organização.31

Assim, o art.º 11 da Resolução n.o 21/2000, estabelece que os representantes


dos membros junto dos órgãos principais e subsidiários das Nações Unidas e nas conferências
convocadas pelas Nações Unidas gozam, durante o exercício das suas funções e no decurso de
viagens com destino ao local da reunião ou no regresso dessa reunião, dos privilégios e
imunidades, que são entre outras, imunidade de prisão ou de detenção da sua pessoa e de
apreensão da sua bagagem pessoal, bem como, no que respeita aos actos por eles praticados
na sua qualidade de representantes (incluindo as suas palavras e escritos), imunidade de
qualquer procedimento judicial.

Portanto, Organização das Nações Unidas, os seus bens e património, onde


quer que estejam situados e independentemente do seu detentor, gozam de imunidade de
qualquer procedimento judicial, salvo na medida em que a Organização a ela tenha
renunciado expressamente num determinado caso, nos termos do art.º 2 da mesma resolução.32

4.4. Imunidades ou Excepções Processuais

Há, porém, por outro lado, excepções adjectivas ou de direito processual e


então a acção penal pode ser intentada contra outras pessoas que não gozam delas e que
tenham participado no crime.33 Como é o caso do furto entre cônjuges e o furto de
descendente a ascendente não dão lugar à acção criminal de furto nos termos do art.º 278 nas
alíneas a), b) e c) do Código Penal 34. Mas isso não quer dizer que se não proceda
criminalmente contra os respectivos co-participantes.

Outras excepções processuais são aquelas que exigem autorização da


Assembleia da República para processar o Presidente e os deputados da Assembleia da
República, segundo os art.º 153 n.°3 e 173° da Constituição da República de Moçambique 35.

31
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção
sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
32
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção
sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
33
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.192
34
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
35
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
8
Os membros do Governo também só podem ser julgados nos termos do art.º 210 da
Constituição da República de Moçambique.36

4.4.1. Espécies das Imunidades Diplomáticas

A sistemática da prerrogativa diplomática induz ao reconhecimento das


seguintes dimensões ou espécies:

 Imunidade Material ou Inviolabilidade: Significa que o diplomata e sua família,


bem como os imunes por extensão, não estão sujeitos a qualquer forma de prisão em
Moçambique.
 Imunidade Processual ou Imunidade Formal ou Imunidade de Jurisdição: Todas
as pessoas revestidas de imunidade diplomática não estão subordinadas à jurisdição
penal brasileira (jurisdição do Estado acreditador), mas sim à jurisdição penal do
Estado ao qual pertencem (jurisdição do Estado acreditante), não são obrigadas, por
exemplo, a prestar depoimento como testemunha.37
4.5. Prerrogativas do Presidente da República

Como se disse anteriormente, nos termos do art.º 35° da CRM se estabelece


que todos os cidadãos são iguais perante a lei e gozam dos mesmos direitos. Portanto, a lei
penal será igual para todos, mas apesar disso, o artigo 152.° da CRM sobre a responsabilidade
do Presidente da República, impõe algumas especialidades em relação as infracções
praticadas pela pessoa que ocupa o cargo. 38 É o caso de, por exemplo, ao contrário do comum
dos mortais, o Presidente da República responder perante o Tribunal Supremo em primeira
instância (não passa pelas instâncias inferiores dos tribunais criminais) que é julgado por um
crime praticado no exercício das suas funções.39.

Por outro lado, segundo o n.°3, é à Assembleia da República que cabe a


iniciativa do processo (não é ao Ministério Público) e para que esse processo possa iniciar-se
é necessário que a Assembleia da República aprove por maioria de 2/3, uma proposta de um
quinto dos deputados. Por maioria de 2/3, uma proposta de um quinto dos deputados.
Portanto, a própria instauração quanto à iniciativa de acção processual, e quanto à
36
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
37
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
2019 pp.46-47
38
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
39
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. aafdl editora, 2ª edição, 1984. p.5056.
9
possibilidade de ela prosseguir, quanto à instância do tribunal que a julga, há especialidade
em relação ao presidente.

Para além disso, o n°2 deste artigo, também implica uma especialização
importante em relação ao Presidente da República, pois diz que por crimes estranhos ao
exercício das suas funções, o Presidente da República responde depois de findo o mandato
(perante os Tribunais comuns). Assim, a Constituição estabelece somente prerrogativas
processuais, de que depende procedibilidade da acção penal contra o Presidente da
República.40 Isto são resumidamente as especialidades da responsabilidade criminal (ou
especialidade da aplicação da lei penal quanto às pessoas) do Presidente da República.

4.5.1. Deputados da Assembleia a República

Estabelece o artigo 173, n.º 1 da CRM41, que nenhum Deputado pode ser detido
ou preso, salvo em caso de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem o consentimento
da Assembleia da República.42 Estamos em sede de uma prerrogativa adjectiva, da qual
depende o seguimento da acção penal. Neste caso, a acção penal pode ser instaurada, contudo,
para que o deputado seja ouvido ou submetido a julgamento é preciso que a Assembleia da
República, através da sua Comissão Permanente, quebre a imunidade parlamentar de que
goza. Sendo detido em flagrante delito, na mesma, não poderá ser validada a prisão sem
consentimento da Assembleia da República.43

No entanto, o art.º 173° é claramente o reflexo da aplicação da lei penal quanto


as pessoas, em função dos cargos que ocupam, portanto, este artigo refere-se aos deputados da
Assembleia da República e tratando das suas imunidades tem também reflexos quanto à
responsabilidade criminal.44 Portanto, nos termos do n° 1 do art.º 174 da CRM, se estabelece
que que não há responsabilidade criminal (além de outras) por opiniões que emitirem durante
o exercício das suas funções. Ou seja, por exemplo, um deputado que interpele outro de uma
maneira insultuosa em princípio não pode ser objecto de um processo por injúria, e poderia se

40
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
41
Cfr art.º. 174 da Lei n° 1/2018 de 12 de Junho, que aprova a Constituição da República de Moçambique, in
Boletim da República.
42
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
43
Idem.
44
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984 p.506.
10
isso acontecesse no meio da rua, sem estar em uma sessão da Assembleia da República, nos
termos do n.o 2 do art.º 174 da CRM.45-46

Por outro lado o n ° 1 do artigo 173.°47 dispõe que para um deputado ser preso,
ou detido, ou submetido a julgamento é necessária autorização da Assembleia da República,
salvo se isso se passar em flagrante delito. Nos demais números, se estabelece que se o
deputado for constituído arguido em um processo penal pendente é ouvido o deputado, por
um juiz conselheiro, gozando este de foro especial, sendo julgado pelo Tribunal Supremo.48

4.5.2. Membros do Governo

Quanto aos membros do Governo o art.º 210 n. o 1 da CRM, dispõe em relação


à sua eventual responsabilidade criminal, e a especialidade que aqui é significativa é que, nos
tempos deste artigo, é necessário, para que um processo-crime siga contra um membro do
Governo, que ele seja suspenso do exercício das suas funções por deliberação da Assembleia
da República, excepto se ao facto corresponder pena maior.

Os membros do Governo não podem ser detidos ou presos sem autorização do


Presidente da República, salvo em flagrante delito e por crime doloso a que corresponda pena
de prisão maior nos termos do n.º 1 do artigo 210 da Constituição da Republica de
Moçambique.49 Trata-se, igualmente, de uma prerrogativa de natureza processual, da qual
depende o procedimento penal.50

5. Imputabilidade e Inimputabilidade

No direito penal para se punir um individuo é preciso que tenha uma


maturidade mental suficiente. Assim, para ser imputável, é preciso que seja maior de 16 anos
e ter maturidade mental suficiente, para então se aplicar a lei penal a determinada pessoa.

No que concerne a inimputabilidade, há que dizer que esta comporta duas


modalidades, que são inimputabilidade absoluta, onde se estabelece que não são susceptíveis

45
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984 p.506.
46
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
47
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
48
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
49
Cfr art.º 210 da Lei n° 1/2018 de 12 de Junho, que aprova a Constituição da República de Moçambique, in
Boletim da República.
50
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
11
de imputação: os menores que não tiverem completado 16 anos e os que sofrem de anomalia
psíquica sem intervalos lúcidos. E inimputabilidade relativa, onde se estabelece que são
relativamente inimputáveis: os menores que, tendo mais de 16 anos e menos de 21, tiverem
procedido sem discernimento; os que sofrem de anomalia psíquica que, embora tenham
intervalos lúcidos, praticarem o facto naquele estado; e os que, por qualquer outro motivo
independentemente da sua vontade, estiverem acidentalmente privados do exercício das suas
faculdades intelectuais no momento de cometerem o facto punível, nos termos do art.º 48 e 49
do CP, respectivamente.51

5.1. Responsabilidade Penal

A responsabilidade penal consiste na obrigação de reparar o dano causado na


ordem jurídica da sociedade, cumprindo a pena ou a medida estabelecida na lei. No entanto,
salvo o disposto no artigo 50 do CP e nos casos especialmente previstos na lei, só as pessoas
singulares são susceptíveis de responsabilidade penal, nos termos do 28 e 29 do CP. Assim, o
procedimento criminal, as penas e as medidas de segurança extinguem-se, não só nos casos
previstos no artigo 3, mas também, pela morte do agente do crime; pela prescrição do
procedimento criminal, embora não seja alegada pelo réu ou este retenha qualquer objecto por
efeito do crime; pela amnistia, e nos demais casos previstos no art.º 155 do Código Penal,
bem como, pelo seu cumprimento; pelo indulto; pela prescrição e pela reabilitação, nos
termos do art.º 156 do Código Penal.52

5.2. A Responsabilidade por factos próprios e proibição da Responsabilidade


por factos de outrem

As penas são insusceptíveis de transmissão, e daqui resulta que a


responsabilidade penal é responsabilidade por facto próprio, sendo proibida a
responsabilidade por facto de outrem.53 A doutrina e jurisprudência de diversos países
discutem muitas hipóteses de fronteira, aparentemente de responsabilidade por facto de
outrem, mas hoje é princípio adquirido pela doutrina, assumido como princípio fundamental
do direito penal moderno, o da exclusiva responsabilidade da pessoa por facto próprio.54

51
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
52
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
53
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 323
54
Idem. p. 323
12
Assim, entende-se, que ninguém é delinquente, no sistema penal democrático,
por ter certas qualidades ou defeitos segundo os critérios sociais dominantes. Pois, o homem é
delinquente por haver agido, violado o dever de não agir, ou omitido o cumprimento de um
dever jurídico de agir, por própria opção, com consciência e vontade de desobedecer à lei,
sendo excluída a responsabilização colectiva por facto de outrem.55

5.3. A Responsabilidade das Pessoas Colectivas

Este é o outros aspecto que merece atenção relativamente a aplicação da lei


penal quanto as pessoas. Pois à admissibilidade da responsabilidade penal das pessoas
colectivas e aos intricados problemas que este aspecto suscita. Assim, então que embora a
pessoa jurídica não possa delinquir nem ser castigada como tal, não devem, numa
perspectivas político criminal, ficar impunes os factos que lhe são atribuíveis, tendo em
consideração de que a vontade formal que decide uma dada conduta não seja a vontade de
indivíduos concretos, mas antes a vontade social.56

Tendo atenção que as pessoas jurídicas são sempre associações de pessoas


físicas com peculiares relações de poder ou dependência entre si e com muita frequência essas
associações potencializam a prática de crimes de certos géneros, como sucede mais
frequentemente com os crimes económicos. 57 Assim, se estabelece no art.º 85 que pelos
crimes praticados pelas pessoas colectivas e entidades equiparadas aplicam-se as penas
principais de dissolução ou de multa.

55
Idem. p. 323
56
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 323
57
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 324

13
CONCLUSÃO
Após a elaboração deste trabalho, que teve como escopo central a problemática
referente aplicação da lei penal quanto as pessoas, conclui-se que o esta temática parte do
princípio da igualdade formal, que a posterior encontra seus desvios referentes a aplicação da
lei penal, ou da jurisdição penal por diversos factores. Assim, o princípio da igualdade da
aplicação da lei penal sofre desvios, concedendo-se algumas prerrogativas a certas pessoas em
razão das funções que ocupam, ou de compromissos decorrentes do direito internacional.
Portanto, são regras do direito público interno e do direito internacional público que impõem
tratamento peculiar a certas pessoas em função dos cargos que exercem, com o objectivo de
que tais funções serão exercidas sem perturbações. Portanto, as prerrogativas em causa não
constituem privilégios pessoais, mas às funções exercidas.

O que pode parecer, e de certo modo acaba por funcionar como tal, ser uma
violação do princípio da igualdade estabelecido no artigo 35 da Constituição da República de
Moçambique, só que essas eventuais excepções são feitas pela própria constituição e portanto
não se levanta o problema de inconstitucionalidade, a não ser por quem admita, de forma mais
ou menos metafísica, que é possível haver normas constitucionais feridas de
inconstitucionalidade

Contudo, discute-se na doutrina a natureza destes privilégios, se são de


natureza substantiva ou simplesmente adjectiva, isto é, se gozam de uma isenção quanto à
inaplicabilidade das penas previstas nas leis penais para os factos por eles praticados e aos
quais, segundo os princípios gerais, seria aplicável a lei penal moçambicana, o que poderia
qualificar-se como causa de não punibilidade, ou simplesmente se gozam de se não
submeterem à jurisdição penal moçambicana. Assim, a natureza substantiva ou processual das
imunidades só pode determinar-se em razão de cada imunidade concreta, em função dos
termos que a lei atribui.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Legislação

 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho,


Constituição da República de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115
de 12 de Junho.
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova
o novo Código Penal, in Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
 NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena
em 18 de Abril de 1961.
 REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que
ratifica a Convenção sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de
Fevereiro de 1946.

Doutrina
 BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984.
 CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora.
 DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora,
2007.
 DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, 2019.
 FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição,
Verbo editora 1982.
 MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica Editora, Maputo, 2018.
 MAUS, Victor. A Aplicabilidade da Lei das Contravenções Penais no Ordenamento
Jurídico Contemporâneo, Santa Cruz do Sul, 2017. P.19
 MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora
atlas S.A, 27ª edição, 2007.
 QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008.
 SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo,
2001.
 OLIVEIRA, Laís Alves de; e PRADO, Florestan Rodrigo do, Lei Penal em relação às
pessoas, disponível em: https://laisalves526.jusbrasil.com.br/artigos/359790178/lei-
penal-em-relacao-as-pessoas acesso: 26/02/2023
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