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FACULDADE DE DIREITO
NAMPULA
2023
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
NAMPULA
2023
i
LISTA DE ABREVIATURAS
CP – Código Penal
Art.º – Artigo
Pp – Páginas
P - Página
Nº - Número
Ed - Edição
Ss – Seguintes
Vol.-Volume
ii
ÍNDICE
INTRODUÇÃO......................................................................................................................1
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS...........................................................................................2
3. PRINCÍPIO DA IGUALDADE.......................................................................................5
5. Imputabilidade e Inimputabilidade................................................................................13
CONCLUSÃO......................................................................................................................16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................17
iii
INTRODUÇÃO
O Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas, que visam ditar as infracções
penais e as suas devidas sanções. Neste contexto, o Direito, dentre seus diversos ramos, existe
desde os primórdios da humanidade, tendo como fim regular a vida em sociedade. A
finalidade do Direito Penal é tutelar determinados bens jurídicos considerados importantes
para a sociedade. Dessa forma, o Estado visa proteger os bens jurídicos mais importantes,
intervindo apenas nos casos de lesão àqueles fundamentais para a vida em sociedade,
exercendo aquele que é o seu poder punitivo.
1
1.1. Noção de Direito Penal
Nesse sentido, chama-se direito penal ao conjunto das normas jurídicas que
ligam a certos comportamentos humanos, os crimes, determinadas consequências jurídicas
privativas deste ramo de direito. A mais importante destas consequências, tanto do ponto de
vista quantitativo, como qualitativo (social) é a pena, a qual só pode ser aplicada ao agente do
crime que tenha actuado com culpa. Ao lado da pena prevê, porém, o direito penal outro
género de consequências jurídicas, são as medidas de segurança, as quais não supõem a culpa
do agente, mas a sua perigosidade. 3 Pode-se ainda conceituá-lo, como o conjunto de normas
jurídicas que materializando o poder punitivo do Estado, define as infracções penais (crimes e
contraversões) e comina as sanções correspondentes (penas, medidas de segurança ou
consequência legal), estabelecendo ainda os princípios e garantias em face do exercício deste
poder, ao mesmo tempo em que cria os pressupostos de punibilidade.4
1
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
2
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
3
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora, 2007, p.3.
4
QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008, p.3.
2
facto, a que se chama crime, uma certa sanção a que se chama pena, no seu sentido mais
rigoroso, mais característico.
Contudo, pode parecer, e de certo modo acaba por funcionar como tal, uma
violação do princípio da igualdade, só que essas eventuais excepções são feitas pela própria
constituição e portanto não se levanta o problema de inconstitucionalidade, a não ser por
quem admita, de forma mais ou menos metafísica, que é possível haver normas
constitucionais feridas de inconstitucionalidade. 6
3. PRINCÍPIO DA IGUALDADE
Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão
sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica, lugar de
nascimento, religião, grau de instrução, posição social, estado civil dos pais, profissão ou
5
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I, 2ª edição, aafdl editora, 1984. P.505.
6
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984. p.505.
7
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 318
8
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.190
9
FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição, Verbo editora 1982,
p.157.
3
opção política, como se estabelece no art.º 35º da CRM. 10 Portanto, dizer que todas as pessoas
são iguais perante a lei, quer dizer que a lei criminal moçambicana aplica-se a todos os
cidadãos que se encontrem a ela vinculados. Isto é, os cidadãos encontram-se em paridade
jurídica na atribuição de direitos e deveres ou obrigações (paridade de tratamento jurídico,
desde que as condições, a capacidade e as atitudes sejam idênticas).11
Esta é uma regra geral, contudo, em certos sectores, sofre desvios, concedendo-
se algumas prerrogativas a certas pessoas em razão das funções que ocupam, ou de
compromissos decorrentes do direito internacional. Portanto, são regras do direito público
interno e do direito internacional público que impõem tratamento peculiar a certas pessoas em
função dos cargos que exercem, com o objectivo de que tais funções serão exercidas sem
perturbações. Portanto, as prerrogativas em causa não constituem privilégios pessoais, mas às
funções exercidas.12
10
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
11
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
12
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018, p.95.
13
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.195
14
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editora Verbo, 2001, pág. 321
15
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 321
4
das imunidades só pode determinar-se em razão de cada imunidade concreta, em função dos
termos que a lei atribui.
16
MIRABET, Júlio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição,
2007, p.60.
17
NAÇÕES UNIDAS, Convenção sobre Relações Diplomáticas, celebrada em Viena em 18 de Abril de 1961
18
OLIVEIRA, Laís Alves de; e PRADO, Florestan Rodrigo do, Lei Penal em relação às pessoas, disponível
em: https://laisalves526.jusbrasil.com.br/artigos/359790178/lei-penal-em-relacao-as-pessoas acesso: 26/02/2023
19
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 322.
20
Cfr art.º 173 da Lei n° 1/2018 de 12 de Junho: Aprova a Constituição da República de Moçambique, in
Boletim da República.
21
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, pág. 322.
22
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
2019 p.46
5
4.2. Imunidades ou Excepções Diplomáticas ou Consulares
23
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora atlas S.A, 27ª edição,
2007, p.65.
24
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
25
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.191
26
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
27
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, ob. cit. p.65.
6
membros de sua comitiva. É costume retirar o agrément aos diplomatas que praticarem delitos
no país, fazendo-os assim sair do território e permitindo que os respectivos países os julguem.
O mesmo, em regra, se aplica aos agentes internacionais equiparados aos agentes
diplomáticos, ao pessoal oficial das missões diplomáticas, bem como à família destes e em
certa medida aos cônsules.28
Aos membros do pessoal administrativo e técnico da missão, além dos familiares que
com eles vivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditador nem nele
tenham residência permanente, nos termos do art.º 37, n. o 2º, da Convenção de Viena
de 1961;
Aos membros do pessoal de serviço da missão que não sejam nacionais do Estado
acreditador nem nele tenham residência permanente, quanto aos actos praticados no
exercício de suas funções, nos termos do art.º 37, n. 3º, da Convenção de Viena de
1961;30
Funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc), quando em serviço.
Não se aplica, contudo, aos criados particulares dos membros da missão.
4.3. Imunidades dos Representantes Membros da ONU
31
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção
sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
32
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Resolução n.o 21/2000 de 19 de Setembro, que ratifica a Convenção
sobre os Privilégios e Imunidades das Nações Unidas, de 13 de Fevereiro de 1946.
33
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora, pag.192
34
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
35
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
8
Os membros do Governo também só podem ser julgados nos termos do art.º 210 da
Constituição da República de Moçambique.36
Para além disso, o n°2 deste artigo, também implica uma especialização
importante em relação ao Presidente da República, pois diz que por crimes estranhos ao
exercício das suas funções, o Presidente da República responde depois de findo o mandato
(perante os Tribunais comuns). Assim, a Constituição estabelece somente prerrogativas
processuais, de que depende procedibilidade da acção penal contra o Presidente da
República.40 Isto são resumidamente as especialidades da responsabilidade criminal (ou
especialidade da aplicação da lei penal quanto às pessoas) do Presidente da República.
Estabelece o artigo 173, n.º 1 da CRM41, que nenhum Deputado pode ser detido
ou preso, salvo em caso de flagrante delito, ou submetido a julgamento sem o consentimento
da Assembleia da República.42 Estamos em sede de uma prerrogativa adjectiva, da qual
depende o seguimento da acção penal. Neste caso, a acção penal pode ser instaurada, contudo,
para que o deputado seja ouvido ou submetido a julgamento é preciso que a Assembleia da
República, através da sua Comissão Permanente, quebre a imunidade parlamentar de que
goza. Sendo detido em flagrante delito, na mesma, não poderá ser validada a prisão sem
consentimento da Assembleia da República.43
40
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
41
Cfr art.º. 174 da Lei n° 1/2018 de 12 de Junho, que aprova a Constituição da República de Moçambique, in
Boletim da República.
42
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
43
Idem.
44
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984 p.506.
10
isso acontecesse no meio da rua, sem estar em uma sessão da Assembleia da República, nos
termos do n.o 2 do art.º 174 da CRM.45-46
Por outro lado o n ° 1 do artigo 173.°47 dispõe que para um deputado ser preso,
ou detido, ou submetido a julgamento é necessária autorização da Assembleia da República,
salvo se isso se passar em flagrante delito. Nos demais números, se estabelece que se o
deputado for constituído arguido em um processo penal pendente é ouvido o deputado, por
um juiz conselheiro, gozando este de foro especial, sendo julgado pelo Tribunal Supremo.48
5. Imputabilidade e Inimputabilidade
45
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984 p.506.
46
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
47
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
48
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n.º 1 da revisão de 2018, de 12 de Junho, Constituição da República
de Moçambique, in Boletim da República, I série n. 115 de 12 de Junho.
49
Cfr art.º 210 da Lei n° 1/2018 de 12 de Junho, que aprova a Constituição da República de Moçambique, in
Boletim da República.
50
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica, Maputo, 2018
11
de imputação: os menores que não tiverem completado 16 anos e os que sofrem de anomalia
psíquica sem intervalos lúcidos. E inimputabilidade relativa, onde se estabelece que são
relativamente inimputáveis: os menores que, tendo mais de 16 anos e menos de 21, tiverem
procedido sem discernimento; os que sofrem de anomalia psíquica que, embora tenham
intervalos lúcidos, praticarem o facto naquele estado; e os que, por qualquer outro motivo
independentemente da sua vontade, estiverem acidentalmente privados do exercício das suas
faculdades intelectuais no momento de cometerem o facto punível, nos termos do art.º 48 e 49
do CP, respectivamente.51
51
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
52
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei n° 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o novo Código Penal, in
Boletim da República, I Série, No 248 de 24 de Dezembro.
53
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 323
54
Idem. p. 323
12
Assim, entende-se, que ninguém é delinquente, no sistema penal democrático,
por ter certas qualidades ou defeitos segundo os critérios sociais dominantes. Pois, o homem é
delinquente por haver agido, violado o dever de não agir, ou omitido o cumprimento de um
dever jurídico de agir, por própria opção, com consciência e vontade de desobedecer à lei,
sendo excluída a responsabilização colectiva por facto de outrem.55
55
Idem. p. 323
56
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 323
57
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo, 2001, p. 324
13
CONCLUSÃO
Após a elaboração deste trabalho, que teve como escopo central a problemática
referente aplicação da lei penal quanto as pessoas, conclui-se que o esta temática parte do
princípio da igualdade formal, que a posterior encontra seus desvios referentes a aplicação da
lei penal, ou da jurisdição penal por diversos factores. Assim, o princípio da igualdade da
aplicação da lei penal sofre desvios, concedendo-se algumas prerrogativas a certas pessoas em
razão das funções que ocupam, ou de compromissos decorrentes do direito internacional.
Portanto, são regras do direito público interno e do direito internacional público que impõem
tratamento peculiar a certas pessoas em função dos cargos que exercem, com o objectivo de
que tais funções serão exercidas sem perturbações. Portanto, as prerrogativas em causa não
constituem privilégios pessoais, mas às funções exercidas.
O que pode parecer, e de certo modo acaba por funcionar como tal, ser uma
violação do princípio da igualdade estabelecido no artigo 35 da Constituição da República de
Moçambique, só que essas eventuais excepções são feitas pela própria constituição e portanto
não se levanta o problema de inconstitucionalidade, a não ser por quem admita, de forma mais
ou menos metafísica, que é possível haver normas constitucionais feridas de
inconstitucionalidade
14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Legislação
Doutrina
BELEZA, Teresa Pizarro, Direito penal, Vol I. 2ª edição, aafdl editora, 1984.
CORREIA, Eduardo, Direito Criminal, Vol. I, Almedina editora.
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito penal: parte geral, 2ª edição, Coimbra Editora,
2007.
DUARTE, Ana Maria, Apostila de Direito Penal I, apresentada na Pontifícia
Universidade Católica de Goiás, 2019.
FERREIRA, Manuel Cavaleiro de, Direito Penal Português: partes geral, 2ª edição,
Verbo editora 1982.
MACIE, Albano, Direito Penal I, Topográfica Editora, Maputo, 2018.
MAUS, Victor. A Aplicabilidade da Lei das Contravenções Penais no Ordenamento
Jurídico Contemporâneo, Santa Cruz do Sul, 2017. P.19
MIRABET, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N., manual de direito penal, editora
atlas S.A, 27ª edição, 2007.
QUEIROZ, Paulo, Direito penal, 4ª edição, Lumen Juris Editora, 2008.
SILVA, Germano Marques Da, Direito Penal Português, 2ª edição, Editoral Verbo,
2001.
OLIVEIRA, Laís Alves de; e PRADO, Florestan Rodrigo do, Lei Penal em relação às
pessoas, disponível em: https://laisalves526.jusbrasil.com.br/artigos/359790178/lei-
penal-em-relacao-as-pessoas acesso: 26/02/2023
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